sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Para entender o "mensalão"


PARA ENTENDER O JULGAMENTO DO “MENSALÃO”

Ao se encerrar o processo penal de maior repercussão pública dos últimos anos, é preciso dele tirar as necessárias conclusões ético-políticas.

Comecemos por focalizar aquilo que representa o nervo central da vida humana em sociedade, ou seja, o poder.

No Brasil, a esfera do poder sempre se apresentou dividida em dois níveis, um oficial e outro não-oficial, sendo o último encoberto pelo primeiro.

O nível oficial de poder aparece com destaque, e é exibido a todos como prova de nosso avanço político.

A Constituição, por exemplo, declara solenemente que todo poder emana do povo.

Quem meditar, porém, nem que seja um instante, sobre a realidade brasileira, percebe claramente que o povo é, e sempre foi, mero figurante no teatro político.

Ainda no escalão oficial, e com grande visibilidade, atuam os órgãos clássicos do Estado: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e outros órgãos auxiliares.

Finalmente, completando esse nível oficial de poder e com a mesma visibilidade, há o conjunto de todos aqueles que militam nos partidos políticos.

Para a opinião pública e os observadores menos atentos, todo o poder político concentra-se aí.

É preciso uma boa acuidade visual para enxergar, por trás dessa fachada brilhante, um segundo nível de poder, que na realidade quase sempre suplanta o primeiro.

É o grupo formado pelo grande empresariado: financeiro, industrial, comercial, de serviços e do agronegócio.

No exercício desse poder dominante (embora sempre oculto), o grande empresariado conta com alguns aliados históricos, como a corporação militar e a classe média superior.

Esta, aliás, tem cada vez mais sua visão de mundo moldada pela televisão, o rádio e a grande imprensa, os quais estão, desde há muito, sob o controle de um oligopólio empresarial.

Ora, a opinião – autêntica ou fabricada – da classe média conservadora sempre influenciou poderosamente a mentalidade da grande maioria dos membros do nosso Poder Judiciário.

Tentemos, agora, compreender o rumoroso caso do “mensalão”.

Ele nasceu, alimentou-se e chegou ao auge exclusivamente no nível do poder político oficial.
 A maioria absoluta dos réus integrava o mesmo partido político; por sinal, aquele que está no poder federal há quase dez anos.

Esse partido surgiu, e permaneceu durante alguns poucos anos, como uma agremiação política de defesa dos trabalhadores contra o empresariado.

Depois, em grande parte por iniciativa e sob a direção de José Dirceu, foi aos poucos procurando amancebar-se com os homens de negócio.

Os grandes empresários permaneceram aparentemente alheios ao debate do “mensalão”, embora fazendo força nos bastidores para uma condenação exemplar de todos os acusados.

Essa manobra tática, como em tantas outras ocasiões, teve por objetivo desviar a atenção geral sobre a Grande Corrupção da máquina estatal, por eles, empresários, mantida constantemente em atividade magistralmente desde Pedro Álvares Cabral.

Quanto à classe média conservadora, cujas opiniões influenciam grandemente os magistrados, não foi preciso grande esforço dos meios de comunicação de massa para nela suscitar a fúria punitiva dos políticos corruptos, e para saudar o relator do processo do “mensalão” como herói nacional.

É que os integrantes dessa classe, muito embora nem sempre procedam de modo honesto em suas relações com as autoridades – bastando citar a compra de facilidades na obtenção de licenças de toda sorte, com ou sem despachante; ou a não-declaração de rendimentos ao Fisco –, sempre esteve convencida de que a desonestidade pecuniária dos políticos é muito pior para o povo do que a exploração empresarial dos trabalhadores e dos consumidores.

E o Judiciário nisso tudo?

Sabe-se, tradicionalmente, que nesta terra somente são condenados os três Ps: pretos, pobres e prostitutas.

Agora, ao que parece, estas últimas (sobretudo na high society) passaram a ser substituídas pelos políticos, de modo a conservar o mesmo sistema de letra inicial.

Pouco se indaga, porém, sobre a razão pela qual um “mensalão” anterior ao do PT, e que serviu de inspiração para este, orquestrado em outro partido político (por coincidência, seu atual opositor ferrenho), ainda não tenha sido julgado, nem parece que irá sê-lo às vésperas das próximas eleições.

Da mesma forma, não causou comoção, à época, o fato de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tivesse sido publicamente acusado de haver comprado a aprovação da sua reeleição no Congresso por emenda constitucional, e a digna Procuradoria-Geral da República permanecesse muda e queda.

Tampouco houve o menor esboço de revolta popular diante da criminosa façanha de privatização de empresas estatais, sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso.

As poucas ações intentadas contra esse gravíssimo atentado ao patrimônio nacional, em particular a ação popular visando a anular a venda da Vale do Rio Doce na bacia das almas, jamais chegaram a ser julgadas definitivamente pelo Poder Judiciário.

Mas aí vem a pergunta indiscreta: – E os grandes empresários? Bem, estes parecem merecer especial desvelo por parte dos magistrados.

Ainda recentemente, a condenação em primeira instância por vários crimes econômicos de um desses privilegiados, provocou o imediato afastamento do Chefe da Polícia Federal, e a concessão de habeas-corpus diretamente pelo presidente do Supremo Tribunal, saltando por cima de todas as instâncias intermediárias.

Estranho também, para dizer o mínimo, o caso do ex-presidente Fernando Collor.
Seu impeachment foi decidido por “atentado à dignidade do cargo” (entenda-se, a organização de uma empresa de corrupção pelo seu fac-totum, Paulo Cezar Farias).

Alguns “contribuintes” para a caixinha presidencial, entrevistados na televisão, declararam candidamente terem sido constrangidos a pagar, para obter decisões governamentais que estimavam lícitas, em seu favor.

E o Supremo Tribunal Federal, aí sim, chamado a decidir, não vislumbrou crime algum no episódio.

Vou mais além.

Alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal, ao votarem no processo do “mensalão”, declararam que os crimes aí denunciados eram “gravíssimos”.

Ora, os mesmos Ministros que assim se pronunciaram, chamados a votar no processo da lei de anistia, não consideraram como dotados da mesma gravidade os crimes de terrorismo praticados pelos agentes da repressão, durante o regime empresarial-militar: a saber, a sistemática tortura de presos políticos, muitas vezes até à morte, ou a execução sumária de opositores ao regime, com o esquartejamento e a ocultação dos cadáveres.

Com efeito, ao julgar em abril de 2010 a ação intentada pelo Conselho Federal da OAB, para que fosse reinterpretada, à luz da nova Constituição e do sistema internacional de direitos humanos, a lei de anistia de 1979, o mesmo Supremo Tribunal, por ampla maioria, decidiu que fora válido aquele apagamento dos crimes de terrorismo de Estado, estabelecido como condição para que a corporação militar abrisse mão do poder supremo.

O severíssimo relator do “mensalão”, alegando doença, não compareceu às duas sessões de julgamento.

Pois bem, foi preciso, para vergonha nossa, que alguns meses depois a Corte Interamericana de Direitos Humanos reabrisse a discussão sobre a matéria, e julgasse insustentável essa decisão do nosso mais alto tribunal.

Na verdade, o que poucos entendem – mesmo no meio jurídico – é que o julgamento de casos com importante componente político ou religioso não se faz por meio do puro silogismo jurídico tradicional: a interpretação das normas jurídicas pertinentes ao caso, como premissa maior; o exame dos fatos, como premissa menor, seguindo logicamente a conclusão.

O procedimento mental costuma ser bem outro.

De imediato, em casos que tais, salvo raras e honrosas exceções, os juízes fazem interiormente um pré-julgamento, em função de sua mentalidade própria ou visão de mundo; vale dizer, de suas preferências valorativas, crenças, opiniões, ou até mesmo preconceitos.

É só num segundo momento, por razões de protocolo, que entra em jogo o raciocínio jurídico-formal.

E aí, quando se trata de um colegiado julgador, a discussão do caso pelos seus integrantes costuma assumir toda a confusão de um diálogo de surdos.

Foi o que sucedeu no julgamento do “mensalão”.


FONTE: www.cartamaior.com.br 14.10.2012 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ESTAMOS DE VOLTA

Estamos de volta

Depois de exatamente dois meses, esperávamos voltar sem que  tanta coisa ruim estivesse acontecendo. Em nossa mensagem anterior (25/8), dizíamos esperar não ter tanto trabalho a incluir no FEAP - Festival de Escândalos que Assola a Paraíba. Nossos desejos não se concretizaram.
Qual o quadro exibido, hoje, pela mídia?
1. Cáos na saúde. Em razão da insistência no descumprimento de leis, o Govêrno Ricardo Coutinho provocou o esvaziamento de médicos nos hospitais do Estado, o que já foi noticiado como razão de processo a ser instaurado pelo Ministério Público.
A situação insustentável, sem precedentes, provocará danos irreparáveis à população, inclusive mortes -como já aconteceu, ontem, com uma criança de apenas dois meses. Tudo por irresponsabilidade e falta de compromisso com o povo e com a Justiça.
2. Dia de protesto do Fisco. O Fisco protesta, vestindo luto, não sómente  pelos quase dois anos de descumprimento da Lei nº 8.438/2007 -Lei do Subsídio-, o que vem causando enormes prejuízos salariais à Categoria e se constitui num desestímulo ao incremento da arrecadação. Diga-se, de passagem, que o espírito da Lei do Subsídio, elaborada após cerca de dois anos de estudos e discussões, é possibilitar o incremento da arrecadação. Ninguém pode entender como um gestor público não deseja maior arrecadação de recursos financeiros. O Fisco protesta pela forma ditatorial como o atual ocupante do Palácio da Redenção vem tratando TODOS OS SERVIDORES PÚBLICOS: não recebe nenhuma categoria e só faz retaliações.
3. Mais humilhação aos servidores. Não satisfeito com o humilhante "reajuste" de 3%, para vigorar a partir de 365 dias após assumir o Governo, bem como muitas outras investidas contra os servidores, vem agora outra humilhação: o anúncio da construção de um restaurante para os servidores, no Centro Administrativo, com refeições ao preço de R$ 2,50.
O que o servidor quer é SALÁRIO DIGNO, de modo que o mesmo tenha a liberdade de escolher onde fazer suas refeições. Governador, o servidor merece e exige RESPEITO.
E quem não trabalha no Centro Administrativo não precisa se alimentar? E aí, vai ter restaurante em todos os locais de trabalho?
Lembrar que no Centro de João Pessoa pode ser encontrada refeição com suco ao mesmo preço de R$2,50.
4. Outro escândalo na mídia nacional. Agora é a vez do SAMU, denunciado por um servidor por diversas ilegalidades: transporte de pessoas para compras, transporte de armas e drogas! É por isso que falta ambulâncias para atender a quem realmente precisa.
5. O "mensalão". Não dá para entender! Sem entrar no mérito da questão, o que não consigo entender é porque há um sensacionalismo tão grande, inclusive ou talvez por isso mesmo, com cobrança diuturna da mídia nacional (com adesão da parte não esclarecida da local), em torno de uma questão que, segundo alguns entendidos, não deveria ir ao STF. O anterior "mensalão" mineiro fica esquecido?
Por que o mesmo zelo com essa questão (que envolve, supostamente, alguns milhões) não foi demonstrado quando o senhor FHC dilapidou o patrimônio do povo brasileiro? Só para dar um exemplo: a CVRD - Companhia Vale do Rio Doce, foi entregue, em 1997, por FHC/Serra, em processo totalmente ILEGAL por míseros 3,3 bilhões de reais, sem considerar os 700 milhões em caixa. O lucro da atual Vale, em 2011, dinheiro que deveria ser investido pelo Governo Federal em obras e projetos de desenvolvimento econômico-social do povo brasileiro, foi de 37,8 bilhões de reais! NÃO DÁ PARA ENTENDER ! NÃO DÁ PARA ACEITAR !
PS Para entender a questão da CVRD, acesse:
glaucogouvea.blogspot.com