sábado, 7 de janeiro de 2023

Texto de despedida, mas também de recomeço

 

PARA NÃO ESQUECER – 01 DE JANEIRO DE 1959 * VITÓRIA DA REVOLUÇÃO CUBANA

PARA NÃO ESQUECER – 01 DE JANEIRO DE 1959
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VITÓRIA DA REVOLUÇÃO CUBANA
(Ernesto Germano Parés)
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Cuba havia sido uma colônia espanhola até o final do século XIX. Conquistou sua independência, em 1898, com uma intervenção dos EUA. Mas não se imagine que os estadunidenses eram “bonzinhos” e queriam que Cuba fosse livre. O que os fez entrar em guerra com a Espanha foi uma teoria do “alto comando” militar estadunidense que considerava o domínio do Caribe fundamental para a defesa nacional.
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Mas, ao contrário de se tornar independente, Cuba virou um quintal dos EUA e as grandes empresas do Tio Sam mandavam e desmandavam no país. Data dessa época a tal da Emenda Platt, tratado em que Cuba aceitava que os EUA interviessem no país sempre que considerassem necessário. A mesma Emenda criava as bases navais estadunidenses em território cubano.
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Na época da Revolução Cubana o país caribenho era governado por Fulgêncio Batista, um ditador que mantinha um governo extremamente corrupto. Fulgêncio assumiu o poder em Cuba com um golpe realizado em 10 de março de 1952 contra o então presidente, Carlos Prío Socarrás.
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Fulgêncio Batista manteve uma ditadura militar perseguindo seus opositores, implantando a censura e governando para atender aos interesses dos EUA. A corrupção, as perseguições políticas e a situação de penúria em que o povo havia sido lançado criaram as condições para o surgimento de um movimento revolucionário de oposição.
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E é nesse momento que surge a figura de Fidel Castro. Mas, devemos destacar, que o movimento que surgia então ainda não tinha um caráter socialista ou comunista. Tratava-se de um movimento estritamente nacionalista para derrubar Fulgêncio Batista e acabar com a dependência de Cuba em relação.
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O “ponto de partida” para a Revolução, em 1953, foi quando Fidel Castro e cerca de 160 companheiros do movimento tentaram o Assalto ao Quartel Moncada, um quartel do exército cubano que era um arsenal de armamentos. Foram derrotados e Fidel foi condenado a cerca de 20 anos de prisão. O movimento se desfez durante esse período, com a exceção do seu irmão Raul Castro que continuou fiel aos princípios de tirar Fulgêncio Batista e libertar o povo.
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Em 1954, Batista foi reeleito como presidente e, posteriormente, em um ato de reconciliação, Fidel Castro foi libertado. Fidel foi viver um tempo no México. Em novembro de 1956, com um plano revolucionário, formou o “Exército Rebelde” e o conhecido “Movimento 26 de Julho”, para lembrar o ataque à Moncada. Um de seus comandantes era um médico argentino, Ernesto “Che” Guevara. Os guerrilheiros foram gradualmente se tornando populares, com dois novos líderes, Raúl Castro e Juan Almeida. E eles receberam treinamento militar de Alberto Bayo, líder da brigadas internacionais na Guerra Civil Espanhola.
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Os revolucionários cubanos retornaram para Cuba em um iate, mas foram recebidos pelo exército cubano com um duro ataque. Derrotados nesse ataque, esconderam-se na região de Sierra Maestra. Lá conseguiram reorganizar a guerrilha com o objetivo de derrubar Fulgêncio Batista.
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Entre 1956 e 1959, os revolucionários cubanos lutaram contra os exércitos de Fulgêncio Batista. Pouco a pouco foram impondo derrotas ao governo e conquistando o apoio tanto da população rural quanto da população urbana. A derrota de Fulgêncio, no entanto, foi súbita, uma vez que só em 1958 os guerrilheiros conseguiram conquistar uma cidade de mais de mil habitantes.
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Eric Hobsbawm explica a vitória dos guerrilheiros da seguinte maneira: “Fidel venceu porque o regime de Batista era frágil, não tinha apoio real, a não ser o motivado pela conveniência e o interesse próprio, e era liderado por um homem tornado indolente por longa corrupção. Desmoronou assim que a oposição de todas as classes políticas, da burguesia democrática aos comunistas, se uniu contra ele, e os próprios agentes, soldados, policiais e torturadores do ditador concluíram que o tempo dele se esgotara (Em “A Era dos Extremos”, pag. 426).
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Naquele ano foi instalado um novo governo em Cuba, tendo à frente Manuel Urrutia, na presidência, e Fidel Castro como primeiro-ministro. Imediatamente se iniciaram as primeiras reformas no país. As mudanças promovidas no campo da economia desagradaram profundamente aos EUA e causaram o rompimento das relações. Cuba iniciava um processo ainda pequeno de industrialização, promoveu a reforma agrária e nacionalizou a exploração dos recursos e as empresas instaladas no país.
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Isso atraiu toda a raiva do Império que passa a organizar medidas para sabotar o novo governo cubano. Uma das ações mais conhecidas foi a Invasão da Baía dos Porcos, em 1961, da qual já falamos.
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No livro já citado, o mestre Eric Hobsbawm afirma que: “Embora radicais, nem Fidel Castro, nem qualquer de seus camaradas eram comunistas, nem (com duas exceções) jamais disseram ter simpatias marxistas de qualquer tipo. Na verdade, o Partido Comunista cubano, […], era notadamente não simpático a Fidel, até que algumas de suas partes juntaram-se a ele, meio tardiamente, em sua campanha […]. (Pag. 426)
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O iate Granma chegou a Cuba em 2 de dezembro de 1956, com dois dias de atraso de acordo com o previsto porque o barco estava carregado demais. Depois de chegar e sair do iate, o grupo de rebeldes começaram a fazer o seu caminho para Sierra Maestra, uma série no sudeste de Cuba.
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Três dias depois do início da caminhada eles foram atacados pelo exército de Batista. A maior parte dos guerrilheiros originais do Granma foi morta nesse ataque, mas um pequeno número (há controvérsias sobre isso) escapou. O que se sabe é que dos 82 homens que iniciaram a viagem apenas cerca de 20 sobreviveram ao primeiro embate. Entre os sobreviventes estavam Fidel Castro, Che Guevara, Raúl Castro e Camilo Cienfuegos.
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Imediatamente se separaram em pequenos grupos que “vagavam” pelas montanhas ainda sem um plano. Mas receberam ajuda dos camponeses que orientavam para o encontro dos demais e voltaram a formar um grupo de liderança. Foi nessa época que duas das maiores revolucionárias se uniram ao movimento guerrilheiro: Celia Sanchez e Haydee Santamaria, a irmã de Abel Santamaria. Elas conheciam a região e ajudaram Fidel Castro nas montanhas.
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Em 13 de março de 1957, outro grupo de revolucionários - o Diretório Revolucionário (DR; Diretório Revolucionário) - invadiu o Palácio Presidencial, na tentativa de assassinar Batista. Foi um ataque suicida e o líder, o estudante José Antonio Echeverría, morreu em um tiroteio com as forças de Batista.
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Mas nas montanhas de Sierra Maestra, Fidel, auxiliado por Frank Pais, Ramos Latour, Huber Matos, e muitos outros, encenaram ataques bem-sucedidos em pequenas guarnições. Che Guevara e Raúl Castro eram incansáveis no apoio a Fidel e, finalmente, as montanhas ficaram sob o controle dos revolucionários.
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Em fevereiro de 1958 surge uma estação de rádio pirata, a “Rádio Rebelde”. Fidel e os guerrilheiros transmitiam sua mensagem para todos a partir do território inimigo. Durante este tempo, as forças de Castro eram muito pequenas, às vezes menor que 200 homens, enquanto o exército cubano e uma força policial contados entre 30 mil e 40 mil em força. No entanto, quase toda vez que o exército lutou contra os revolucionários, o exército foi forçado a recuar.
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Poderíamos encher páginas e páginas com detalhes dessa grande vitória! Mas vamos caminhar para o final do texto, antes que fique longo.
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Em 21 de agosto de 1958, após derrotar mais uma vez as tropas de Batista que atacavam os rebeldes, os guerrilheiros iniciam a própria ofensiva. Eram quatro “frentes” de luta na “província de Oriente” (hoje região de Santiago de Cuba, Granma, Guantánamo e Holguín). Os rebeldes descem das montanhas com novas armas capturadas durante a ofensiva e as vitórias são sucessivas.
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Enquanto isso, três colunas, sob o comando de Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Jaime Vega passaram para o oeste em direção à capital da província de Santa Clara. A coluna de Jaime Vega foi emboscada e destruída. As outras duas colunas voltaram a se unir. Sabemos que a coluna de Che Guevara passou pela província de Las Villas, especificamente através das montanhas de Escambray.
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No dia 31 de dezembro, a Batalha de Santa Clara era uma cena de grande confusão. A cidade de Santa Clara foi capturada pelas forças combinadas de Che Guevara, Cienfuegos, Diretório Revolucionário (DR), os rebeldes liderados por comandantes Rolando Cubela, Juan ("El Mejicano") Abrahantes, e William Alexander Morgan.
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Sabedor da queda de Santa Clara para os rebeldes, Batista fugiu de Cuba para a República Dominicana.
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No dia 1 de janeiro de 1959 a vitória dos guerrilheiros estava consolidada. No dia 2 de janeiro, apenas horas depois de 1 de janeiro de 1959. Em 2 de janeiro as colunas de Che Guevara e Cienfuegos entraram em Havana aproximadamente o mesmo tempo. Eles se encontraram nenhuma oposição a sua viagem de Santa Clara a capital de Cuba. Castro chegou à Havana, em 8 de janeiro depois de uma longa marcha da vitória!
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VIVA A REVOLUÇÃO CUBANA!
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TODO O NOSSO APOIO E AMOR AOS POVOS QUE LUTAM!
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Nas fotografias: 01) Mapa com o trajeto dos guerrilheiros desde o desembarque do Granma; 02) Che e Fidel Castro; 03) Raúl Castro e Che; 04) Célia Sánchez e Che; 05) Haydée Santamaria
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