segunda-feira, 11 de março de 2013

Jimmy Carter falando de Hugo Chávez

Para os analfabetos políticos que "vomitam" suas ignorâncias sobre o que acontece no mundo, especialmente aquelas pessoas que atacam o Presidente Hugo Chávez Frias sem conhecê-lo.

O texto a seguir é de um ex-presidente estadunidense:


Do The Carter Center, nesta terça, 05:
http://www.cartercenter.org/news/pr/hugo-chavez-030513.html

“Rosalynn e eu estendemos nossas condolências à família de Hugo Chávez Frías. Nós conhecemos Hugo Chávez quando ele estava em campanha para presidente em 1998 e o “Centro Carter” foi convidado para observar as eleições pela primeira vez na Venezuela. Voltamos várias vezes, para as eleições de 2000, e depois para facilitar o diálogo durante o conflito político de 2002-2004. Nós viemos a conhecer um homem que expressavs uma visão de mudanças profundas em seu país, para beneficiar principalmente as pessoas que se sentiam abandonadas e marginalizadas. Apesar de não ter concordado com todos os métodos seguidos por seu governo, nunca se duvidou do compromisso de Hugo Chávez em melhorar as vidas de milhões de compatriotas, seus companheiros.

O presidente Chávez será lembrado por sua afirmação ousada de autonomia e independência pelos demais governos da América Latina e por suas habilidades formidáveis de comunicação e interação pessoal com simpatizantes em seu país e no estrangeiro, aos todos os quais deu esperança e capacitação. Durante seu mandato de 14 anos, Chávez estimulou outros líderes da América Latina e do Caribe para criarem novas formas de integração. Taxas de pobreza venezuelan
as foram cortadas ao meio, e os milhões documentos de identificação recebidos para a primeira vez que lhes permite participar mais eficazmente na vida econômica e política do seu país.

Ao mesmo tempo, reconhecemos as divisões criadas na unidade para a mudança na Venezuela e a necessidade de reconciliação nacional. Como os venezuelanos, lamentamos o falecimento do presidente Chávez e recordamos seus legados positivos – especialmente os ganhos obtidos para os pobres e vulneráveis. Esperamos que os líderes políticos do país avancem na construção de um novo consenso que garanta a igualdade de oportunidades, para os venezuelanos participarem de todos os aspectos da vida nacional. Com pesar, Jimmy Carter.

OBESIDADE INFANTIL

OBESIDADE INFANTIL

A conexão criminosa entre indústria, publicidade e mídia

Por Marco Aurélio Weissheimer em 26/02/2013 na edição 735
Reproduzido da Agência Carta Maior, 19/2/2013; intertítulo do OI
Tomei conhecimento do documentário Muito Além do Peso pelo ótimo blog do médico José Carlos Souto, urologista gaúcho que trabalha na Santa Casa, em Porto Alegre, e que vem se dedicando a estudar as relações entre nutrição e saúde. Na opinião de Souto, um dos documentários mais importantes já produzidos no Brasil. “É um documentário assustador. Trata da obesidade infantil no Brasil, de uma forma que você nunca viu. O filme produziu em mim uma mistura de sentimentos, que incluíram tristeza, raiva, incredulidade e surpresa”, comenta o doutor Souto em um post que publicou, recomendando vivamente que o documentário fosse assistido. E, de fato, Muito Além do Peso é tudo isso e muito mais. Deveria virar instrumento de política pública e ser exibido em todas as escolas do país, na presença de pais, professores e crianças.
Dirigido por Estela Renner, produzido pela Maria Farinha Filmes e com o patrocínio do Instituto Alana, Muito Além do Peso mostra e discute o fenômeno da obesidade infantil no Brasil e no mundo. “Pela primeira vez na história da raça humana, crianças apresentam sintomas de doenças de adultos. Problemas de coração, respiração, depressão e diabetes tipo 2” – é disso que se trata. Os fatores causadores dessa epidemia têm nome e sobrenome bem definidos: indústria alimentícia, cadeias de fast-food, governos omissos, pais desinformados e agências de publicidade e meios de comunicação que faturam milhões vendendo drogas diariamente para crianças.
A conexão entre a indústria alimentícia e a plataforma das indústrias midiática-publicitária-entretenimento é particularmente mortífera e poderosa. A maioria das iniciativas de alguns corajosos médicos e promotores no sentido de regulamentar e proibir determinado tipo de propaganda vem sendo sistemática e criminosamente boicotado pelos proprietários dessas empresas que não hesitam em levantar a bandeira da “liberdade de expressão” e da “liberdade de escolha” para defender a propaganda de seus produtos que vem envenenando milhões de crianças em todo o mundo.
Médicos já definem como uma epidemia
Acha que é um exagero? Veja o documentário, ouça a opinião de pais, crianças, professores, médicos e promotores e tire suas próprias conclusões. Uma mãe, que trabalhou como gerente em uma cadeia de fast-food, diz lá pelas tantas que sentia como uma traficante vendendo crack para crianças. “O problema afeta crianças em todo o país e em todas as classes sociais. As crianças não sabem mais identificar a comida de verdade: confundem pimentão com abacate, cebola com batata, etc. Afinal, só comem coisas que vem dentro de embalagem”, observa José Carlos Souto, comentando o que viu no documentário.
“Uma das maiores tragédias de se permitir que publicitários tenham acesso irrestrito às crianças é que a publicidade, na verdade, enfraquece o brincar criativo. Os brinquedos mais vendidos são normalmente ligados à mídia ou são brinquedos com chip de computador em que basta apertar um botão. E os brinquedos gritam, pulam, cantam, fazem tudo sozinhos, enquanto as crianças ficam sentadas apertando um botão. Isso é interessante para os vendedores, pois os brinquedos não são muito interessantes e as crianças logo vão querer outro”, diz a psicóloga Susan Linn, diretora da Campaign for a Comercial-Free Childhood (Campanha por uma infância livre de propaganda), entrevistada no documentário que dá atenção especial às técnicas publicitárias e de marketing dos fabricantes de refrigerantes e fast-food e sua associação com a indústria de brinquedos.
No início deste ano, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vetou o Projeto de Lei 193/2008, que propõe a restrição da publicidade de alimentos não saudáveis dirigida às crianças entre às 6h e 21h nas rádios e TVS e a qualquer horário nas escolas. Após assistir Muito Além do Peso, fica difícil fugir da sensação de que o governador está, na verdade, incorrendo em uma prática criminosa. Ou que nome devemos dar a decisões que contribuem direta ou indiretamente com o que autoridades médicas já definem como uma epidemia que está afetando milhões de crianças em todo o mundo? Veja e decida você mesmo.
***
[Marco Aurélio Weissheimeré editor-chefe da Carta Maior]

A liberdade em Cuba




Cuba e a realidade inconveniente: Raúl Castro é o verdadeiro dissidente

Postado em: 22 jan 2013 às 17:43

Raúl Castro, o verdadeiro dissidente. Contrariamente a uma ideia amplamente difundida, particularmente no Ocidente, o debate crítico está presente na sociedade cubana

Por Salim Lamrani
No Ocidente, Cuba é representada como uma sociedade fechada em si mesma, na qual o debate crítico é inexistente e a pluralidade das ideias é proibida por quem está no poder. Na realidade, Cuba está longe de ser uma sociedade monolítica que compartilharia um pensamento único. Com efeito, a cultura do debate se desenvolve mais a cada dia e é simbolizada pelo Presidente cubano Raúl Castro, que se converteu no primeiro a falar dos reveses, das contradições, aberrações e injustiças presentes na sociedade cubana.

A necessidade de mudança e do debate crítico

Em dezembro de 2010, em uma intervenção diante do Parlamento cubano, Raúl Castro fez um discurso mais alarmista e colocou o governo e os cidadãos frente às suas responsabilidades: “Ou retificamos ou já acabou o tempo de seguir à beira do precipício, nos afundamos, e afundaremos”1. Também acrescentou pouco tempo depois: “É imprescindível romper com a barreira psicológica colossal que resulta de uma mentalidade arraigada em hábitos e conceitos do passado”2.
raúl castro cuba
Raúl Castro, atual presidente de Cuba, é o verdadeiro dissidente. (Foto: Arquivo)
Raúl Castro também reprovou duramente a debilidade do debate crítico em cuba. Também reprovou os silêncios, a complacência e a mediocridade. Lançou um chamado para maior franqueza: “Não é preciso temer a discrepância de critérios […], as diferenças de opiniões, que […] sempre serão mais desejáveis do que a falsa unanimidade baseada na simulação e no oportunismo. Trata-se de um direito do qual ninguém deve ser privado”. Castro denunciou “o excesso de secretismo a que nos habituamos por mais de 50 anos” para ocultar erros, falhas e equívocos. “É necessário mudar a mentalidade dos quatros e de todos os compatriotas, acrescentou3.
Sobre os meios de comunicação, disse o seguinte:
Nossa imprensa fala bastante disso, das conquistas da Revolução, e nos discursos também falamos muito; mas é preciso ir à medula dos problemas […]. Sou um defensor da luta contra o secretismo porque é debaixo desse tapete onde se ocultam as falhas que temos, bem como os interessados de que isso seja assim e de que tudo siga assim. E eu me lembro de algumas críticas; “sim, tirem do jornal tal crítica”, orientei eu mesmo […]. Imediatamente, a grande burocracia começou a se mover: “Essas coisas não ajudam, demoralizam os trabalhadores”. Quais trabalhadores vão desmoralizar? Como ocorreu em uma ocasião, na grande empresa estatal de leite El Triángulo. Levou semanas, porque um dos caminhões dessa vacaria4, que estava lá em Camagüey, estava quebrado, e então todo o leite que se produzia nas vacarias dessa zona, desse lugar, eram jogados a uns porcos que estavam criando. Foi então que eu disse a um secretário do Comitê Central para atender a agricultura nessa etapa, coloque no Granma, conte tudo isso que está acontecendo, faça uma crítica. Alguns vieram mim e até que: “Essas coisas não ajudam porque desmoralizam os trabalhadores”. O que não sabiam era que eu o havia orientado5.
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No dia 1º de agosto de 2011, durante seu discurso de fechamento da VII Legislatura do Parlamento Cubano, Raúl Castro reiterou a necessidade do debate crítico e da controvérsia na sociedade. “Todas as opiniões devem ser analisadas, e quando não se alcançar o consenso, as discrepâncias serão levadas às instâncias superiores facultadas para decidir e, além disso, ninguém está autorizado para impedi-lo6. Convidou para acabar com “o hábito do triunfalismo, a estridência e o formalismo ao abordar a atualidade nacional e a gerar materiais escritos e programas de televisão e rádio, que, por seu conteúdo e estilo, chamem a atenção e estimulem o debate na opinião pública” para evitar “materiais entediantes, improvisados e superficiais” nos meios de comunicação7.

A corrupção

Raúl Castro tampouco se esquivou do problema da corrupção: “Diante das violações da Constituição e da legalidade estabelecida, não resta outra alternativa senão recorrer à Fiscalização e aos Tribunais, como já começamos a fazer, para exigir a responsabilidade dos infratores, sejam quem forem, porque todos os cubanos, sem exceção, somos iguais perante a lei”8. Raúl Castro, consciente de que a corrupção também afeta os funcionários do alto escalão, mandou uma mensagem clara aos responsáveis por todos os setores: “É preciso lugar para acabar definitivamente com a mentira e o engano na conduta dos quadros de qualquer nível”. De modo mais insólito, apoiou-se em dois dos dez mandamentos bíblicos para ilustrar seus pontos. “Não roubarás” e “não mentirás”. Do mesmo modo, evocou os três princípios éticos e morais da civilização inca: “não mentir, não roubar, não ser folgado”, os quais devem guiar a conduta de todos os responsáveis da nação9.

A liberdade religiosa

Da mesma forma, Raúl Castro condenou veementemente as derivas sectárias. Assim, denunciou publicamente por televisão alguns atentados à liberdade religiosa devidos à intolerância “enraizad[a] na mentalidade de não poucos dirigentes em todos os níveis”10. Citou o caso de uma mulher, quadro do Partido Comunista com trajetória exemplar, que foi afastada de suas funções em fevereiro de 2011 por sua fé cristã e cujo salário foi reduzido em 40% por violar o artigo 43 da Constituição de 1976, que proíbe todo tipo de discriminação. O Presidente da República denunciou assim “o dano ocasionado a uma família cubana por atitudes baseadas em uma mentalidade arcaica, alimentada pela simulação e o oportunismo”. Ao lembrar que a pessoa vítima dessa discriminação havia nascido em 1953, data do ataque ao quartel Moncada pelos partidários de Fidel Castro contra a ditadura de Fulgencio Batista, Raúl Castro disse o seguinte:
Eu não fui ao Moncada para isso […]. Da mesma forma, recordávamos que o dia 30 de julho, dia da reunião mencionada, eram completados 54 anos do assassinato de Frank País e de seu fiel companheiro Raúl Pujol. Eu conheci Frank no México, voltei a vê-lo na Sierra, não me lembro de ter conhecido uma alma tão pura como essa, tão valente, tão revolucionária, tão nobre e modesta, e dirigindo-me a um dos responsáveis por essa injustiça que cometeram, eu lhe disse: Frank acreditava em Deus e praticava sua religião. Que eu saiba, nunca deixou de fazê-lo. “O que vocês teriam feito com Frank País?”11.

A produtividade, o salário mensal e a libreta de abastecimento

Quanto à produtividade e à política econômica, Raúl Castro admite “uma ausência de cultura econômica na população”, assim como os erros do passado. “Não pensamos em voltar a copiar ninguém. Tivemos muitos problemas ao fazê-lo e porque, além disso, muitas vezes copiamos mal”12. O governo cubano dá prova de lucidez quanto às carências em matéria econômica. Reconhece que “a espontaneidade, a improvisação, a superficialidade, o não cumprimento das metas, a falta de profundidade nos estudos de viabilidade e a carência de completude ao empreender uma inversão” atentam gravemente contra a nação13.
Quanto à renda mensal dos cubanos, Raúl Castro dá provas de ludidez: “O salário ainda é claramente insuficiente para satisfazer a todas as necessidades, pois praticamente deixou de cumprir com seu papel de assegurar o princípio socialista de que cada qual ganhe segundo sua capacidade e receba segundo seu trabalho. Ele favoreceu manifestações de indisciplina social”14.
raúl Castro che Guevara
Raúl Castro e Che Guevara durante a revolução cubana. (Imagem: Arquivo)
Do mesmo modo, o presidente cubano não vacilou ao salientar os efeitos negativos da libreta de abastecimento em vigor desde 1960 – particularmente, “seu nocivo caráter igualitarista”, que se converteu em “um peso insuportável para a economia e em um desestímulo ao trabalho, além de gerar ilegalidades diversas na sociedade”. Também apontou as seguintes contradições: “Como a libreta está projetada para cobrir os mais de 11 milhões de cubanos por igual, não faltam exemplos absurdos, como o café que abastece até os recém-nascidos. O mesmo acontecia com os cigarros até setembro de 2010, quando era fornecido sem distinguir fumantes e não fumantes, propiciando o crescimento desse hábito nocivo na população. Segundo ele, a libreta “contradiz, em sua essência, o princípio da distribuição que deve caracterizar o socialismo, ou seja, “de cada qual segundo sua capacidade, cada qual segundo seu trabalho”. Por isso, “será imprescindível agir para erradicar as profunda distorções existentes no funcionamento da economia e da sociedade em seu conjunto”15.

A troca geracional

Por outro lado, Raúl Castro também salientou a presença de um problema crucial em Cuba: a troca geracional e a falta de diversidade. Denunciou “a insuficiente sistematicidade e vontade política para assegurar a promoção de mulheres, negros, mestiços e jovens a cargos decisórios, sobre a base do mérito e das condições pessoais. Expressou seu despeito sem se esquivar de sua própria responsabilidade: “Não ter resolvido este último problema em mais de meio século é uma verdadeira vergonha que carregaremos em nossas consciências durante muitos anos”. Portanto, Cuba sofre “as consequência de não contar com uma reserva de substitutos devidamente preparados, com experiência suficiente e maturidade para assumir as novas e complexas tarefas de direção no Partido, no Estado e no Governo”16.
Todas essas declarações foram feitas ao vivo na televisão cubana em horário nobre. Permitem ilustrar a presença do debate crítico em Cuba no mais lato nível do Estado. Assim, Raúl Castro não é apenas o presidente da nação, mas também – segundo parece – o primeiro dissidente do país e o mais feroz crítico das derivas e imperfeições do sistema.
Notas
1 – Raúl Castro Ruz, «Discurso feito pelo General do Exército Raúl Castro Ruz, Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no encerramento do Sexto Período Ordinário de Sessões da Sétima Legislatura da Asambleia Nacional do Poder Popular», República de Cuba, 18 de dezembro de 2010. (site acessado em 2 de abril de 2011).
2 – Raúl Castro Ruz, «Intervenção do General do Exército Raúl Castro Ruz, Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no encerramento do X Período de Sessões da Sétima Legislatura da Asambleia Nacional do Poder Popular», 13 de dezembro de 2012. (site acessado em 2 de janeiro de 2013).
3 – Raúl Castro, «Discurso…», 18 de dezembro de 2010, op.cit. N. do T.: estábulo ou local onde vacas são tratadas e seu leite é ordenhado à vista dos compradores. Original: “vaquería”.
4 – Ibid.
5 – Raúl Castro, «Toda resistência burocrática ao estrito cumprimeiro dos acordos do Congreso, respaldados massivamente pelo povo, será inútil», Cubadebate, 1º de agosto de 2011.
6 – Raúl Castro, «Texto integral do Informe Central ao VI Congreso del PCC», 16 de abril de 2011. (site acessado em 20 de abril de 2011).
7 – Raúl Castro, «Toda resistência…», op. cit.
8 – Raúl Castro, «Discurso…», 18 de dezembdo de 2010, op.cit.
9 – Raúl Castro, «Toda resistência…», op. cit.
10 – Ibid.
11 – Raúl Castro, « Discurso… », 18 de dezembro de 2010, op.cit.
12 – Partido Comunista de Cuba, «Resolução sobre os alinhamentos da política econômica e social do partido e a Revolução», op. cit.
13 – Raúl Castro Ruz, « Discurso… », 18 de dezembdo de 2010, op. cit.
14 – Raúl Castro, «Informe central ao VI Congreso del Partido Comunista de Cuba», 16 de abril de 2011. (site acessao em 2 de janeiro de 2013).
15 – Ibid.

O que Hugo Chávez ensinou ao mundo e ao Brasil?

Postado em www.pragmatismopolitico.com.br

O que Hugo Chávez ensinou ao mundo e ao Brasil?

Postado em: 18 jan 2013 às 13:46

Liberdade de imprensa na Venezuela? Jornalista brasileira relata: “Pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele apontou para toda a sua banca e disse-me. Minha filha, isso aí tudo é contra o governo, pode escolher à vontade”

Desde que foi eleito em 1998, o presidente Hugo Chávez vem estimulando uma série de debates, seja em razão das amplas transformações sociais que promove na Venezuela, seja em razão do medo pânico que causa nos governos imperiais e nas oligarquias de cada país, vassalas e zeladoras dos interesses deste imperialismo em cada país. Certamente, sobre cada um destes aspectos é possível retirar profundas lições.
No caso brasileiro, a mídia do capital que jamais se preocupou em oferecer um mínimo de informação objetiva sobre as mudanças em curso na Venezuela, agora, em razão do infortúnio da enfermidade de Chávez, esta mídia supera-se. Promove uma comunicação necrológica, havendo inclusive comentarista de veículos das Organizações Globo, que chega mesmo ao grotesco de torcer pela desaparição do mandatário venezuelano.
hugo chávez venezuela brasil
As notas que a mídia brasileira divulgam sobre Chávez atentam contra a prática basilar do jornalismo. Críticas e discordâncias são absolutamente normais e devem ser praticadas. Mas, desinformação, distorção e inverdades grotescas são atributos rigorosamente alheios ao jornalismo
Sobre isto devemos tirar lições, seja aquelas amargas , a partir do comportamento medieval da mídia empresarial sobre a trágica enfermidade de Chávez, enfermidade que, óbvio, pode alcançar a qualquer um de nós, mas também sobre o que este mandatário já realizou mudando a face de seu país e ajudando a mudar a face da América Latina. Por um lado, fica claro que para aqueles comentaristas globais, a ideologia está por cima de qualquer conceito básico de humanidade ou solidariedade, que sustentariam desejos de restabelecimento e de superação deste azar pessoal.
Mas, o que se observa é ainda mais grave: para além do desejo pessoal da morte alheia, as concessões de serviço público de radiodifusão estão a ser utilizadas para a propagação destes desejos mórbidos em grande escala de difusão, violando a Constituição Brasileira, que, em seu artigo 221, estabelece como princípio a ser observado, “o respeito aos valores éticos e sociais, da pessoa e da família”, sem qualquer manifestação da autoridade responsável.
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É como se fosse autorizado aos concessionários de serviços públicos de abastecimento de água, distribuir água contaminada e suja à sociedade.

Para que serve a mídia?

Será que isto estaria se tornando uma tendência? Há alguns meses, quando cientistas iranianos foram assassinados em atentados que, segundo o noticiário da época, teriam sido organizados por comandos israelenses – os mesmos que assumem agora terem participado na eliminação de Yasser Arafat – num programa televisivo, Manhattan Conexion , também veiculado por empresa das Organizações Globo, comentaristas chegaram a defender que aqueles cientistas iranianos mereciam mesmo ser assassinados. Apologia do homicídio!
Tanto num caso, como em outro, Venezuela e Irã são países com os quais o Brasil possui relações de amizade e cooperação, aliás crescentes, em benefício mútuo notório. Qual seria a reação do Itamaraty, do Governo Federal, caso emissoras de TV da Venezuela ou do Irã passassem a hostilizar autoridades brasileiras, e, chegassem a torcer pela reincidência do câncer em Dilma ou em Lula, e para que eles não resistissem? Ou se estas emissoras defendessem a morte de cientistas brasileiros, pois, como sabemos, o Brasil também possui – de modo soberano – seu próprio programa nuclear, como EUA, Rússia, China, Israel e Irã?
Pra que servem os meios de comunicação social, afinal de contas? Para hostilizar e desejar o pior, de modo incivilizado, embrutecido, desumano e antidemocrático, a personalidades de outros países, com o que se desrespeitam povos com os quais temos relações de cooperação e amizade? Será mesmo admissível que concessões de serviço público sejam utilizadas para insuflar, propagandear e celebrar o desejo de morte de seres humanos, simplesmente por não comungar de suas ideias? Esta prática não seria equiparável àquelas que Goebels denominava de “razões propagandísticas”, e que precederam os ataques nazistas a outros povos?

Estranho “ditador”

As notas que a mídia brasileira divulgam sobre Hugo Chávez atentam contra a prática basilar do jornalismo. Críticas e discordâncias são absolutamente normais e devem ser praticadas. Mas, desinformação, distorção e inverdades grotescas são atributos rigorosamente alheios ao jornalismo.
Um dos aspectos mais utilizados nesta cruzada midiática de anos é a tentativa de rotular Hugo Chávez como ditador. Estranho “ditador” este que chegou ao poder pelas urnas e, em 14 anos, promoveu 16 eleições, referendos e plebiscitos, dos quais venceu 15 pelo voto popular e respeitou, democraticamente, o resultado do único pleito em que não foi vencedor. Estranhíssimo “ditador” esse Chávez que introduziu na Constituição Bolivariana – ela também referendada pelo voto popular – o mecanismo da revogabilidade de mandatos, utilizado pela oposição que, no entanto, não conseguiu a vitória nas urnas.

Auditoria eleitoral

Na Venezuela, para dar ainda mais segurança às eleições, estas não são julgadas pela mesma autoridade que as organiza. Além disso, as urnas possuem mecanismo de impressão do voto, possibilitando ao eleitor conferir se o voto que teclou foi realmente o voto registrado pelo computador. De posse deste voto impresso, o eleitor, no mesmo momento da votação, o deposita em urna anexo. Isto possibilita que haja plena auditoria do voto, o que não ocorre no Brasil, onde, conforme já demonstraram especialistas da UnB, as urnas eletrônicas são vulneráveis a interferência externa sobre seus programas, além do que, na existe a possibilidade do voto material em papel para eventual necessidade de recontagem.
Estranho “ditador” este Chávez, que ampliou a segurança eleitoral dos cidadãos, lembrando que lá na Venezuela o voto não é obrigatório, tendo sido registrada, na eleição de outubro de 2012, uma participação superior a 86 por cento do colégio eleitoral. O revelador aqui é que as Organizações Globo, tão empenhada em rejeitar e criticar a democracia venezuelana, é aquela que apoiou o a supressão do voto popular no Golpe de 1964, apoiou a Proconsult contra a eleição de Brizola em 1982 e foi contra a Campanha Diretas-Já, em 1984, uma das mais belas páginas da consciência democrática do povo Brasil. E, ainda hoje, a Globo insiste em difamar e combater a instituição do voto impresso na urna eletrônica brasileira, cuja vulnerabilidade tem lhe causado a rejeição por mais de 40 países, exceção para o Paraguai, a quem o TSE regalou tais equipamentos……

Povo ignorante?

Esses comentaristas da Globo tentam passar a imagem de que a Venezuela é um país de atraso cultural, para o que se valem , novamente, do expediente corriqueiro da desinformação massificada, repetida sistematicamente. Vamos aos fatos: enquanto a Venezuela já foi declarada oficialmente, pela UNESCO, como “Território Livre do Analfabetismo”, o Brasil ainda não tem sequer uma meta segura para erradicar esta mazela social, apesar de terem nascido aqui os geniais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire.
Lá, para a erradicação do analfabetismo, além da utilização de um método super-revolucionário elaborado em Cuba, o “Yo Si Puedo”, houve uma tremenda mobilização do governo, das massas, das instituições, mas também dos meios de comunicação públicos, que, existem, informam e possuem uma programação cultural educativa elevada ao contrário daqueles sintonizados com os ditames prepotentes do Consenso de Washington.
Aliás, vale lembrar que foi exatamente por meio deste método que o Deputado Tiririca foi alfabetizado em prazos relâmpagos e foi capaz superar as ameaças elitistas da autoridade eleitoral que queria lhe cassar o mandato. Tiririca aprendeu a ler e escrever em poucas semanas. Com também foram alfabetizados campesinos, índios, povo pobre na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Em breve será a Nicarágua a ser declarada também, oficialmente, pela Unesco, Território Livre do Analfabetismo.
Como contraponto, vale lembrar que o programa Telecurso Segundo Grau, produzido pela Fundação Roberto Marinho, é exibido em horário da madrugada pelas emissoras que empregam esses comentaristas, apesar dos volumosos recursos públicos despendidos para a sua produção e veiculação. A escolha do horário é apenas demonstração da baixa preocupação e vontade dos concessionários de serviços públicos de radiodifusão em contribuir para a elevação do nível educacional e cultural do nosso povo. Contrariando a Constituição.

O que é notícia?

Aqueles comentaristas são incapazes de informar sobre tudo isto, bem como sobre o papel dirigente de Hugo Chávez ao formar com estes países e outros a ALBA – Aliança Bolivariana para o Progresso, numa iniciativa em que colocou o petróleo com instrumento da elevação das condições de vida não apenas dos venezuelanos, mas também do progresso social conjunto destes povos. A isso chamam de ingerência, trocando solidariedade por intromissão. Graças aos recursos do petróleo, milhares de latino-americanos, estão recuperando a plena visão, por meio de cirurgias gratuitas realizadas pela Operación Milagro, um esforço comum entre Cuba e Venezuela.
Esta operação humanitária, jamais divulgada adequada pelas Organizações Globo, nasce quando a OPAS alertou para a possibilidade de que pelo menos 500 mil latino-americanos perdessem a visão à curto prazo, vítimas de catarata, uma tragédia perfeitamente evitável. As cirurgias são feitas tanto em Cuba, como na Venezuela, e agora também na Bolívia, no Equador, seja por médicos cubanos, ou locais. Isto não se informa, mas um dia destes , fiquei tomei conhecimento, pelo Jornal Nacional, da edificante informação de que a esposa do Príncipe Willians, a tal duquesa de Cambridge, está sofrendo muito enjoo na sua gravidez. Cuba e Venezuela decidiram operar 6 milhões de latino-americanos, gratuitamente, em 10 anos. O que é notícia?

Índios leem “Cem anos de solidão”

Aí temos outra lição de Chávez: depois de erradicar o analfabetismo, Chávez criou a Universidade Bolivariana, pública e gratuita, a Universidade das Forças Armadas, e um programa para elevar a taxa de leitura do povo venezuelano. Por meio deste programa foram editados, dando apenas alguns exemplos, a obra “Dom Quixote”, com uma tiragem de 1 milhão de exemplares que foram distribuídos gratuitamente nas praças públicas, e também a obra “Contos”, da Machado de Assis, pelo mesmo programa, com uma tiragem de 300 mil exemplares, tiragem que o genial escritor do Cosme Velho jamais mereceu aqui no Brasil, onde não apenas o analfabetismo persiste , mas a tiragem padrão de nossa indústria editorial arrasta-se na melancólica marca de 3 mil exemplares.
Além disso, algumas tribos indígenas da Amazônia venezuelana, que, até Chávez, ainda desconheciam a escrita, já tiveram seu idioma sistematizado, e, como primeira obra publicada no novo sistema de escritura, tiveram o belíssimo “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez. No entanto, apesar de tudo isto, para estes comentaristas da Globo, que agridem Chávez no leito de um hospital, na Venezuela há um “povo ignorante”, dirigido por um “ditador”…. Como explicar, então, a realização destas mudanças marcantes?
Vale contar um caso: o senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação de Lula, foi à Venezuela para a solenidade de Declaração de Território Livre do Analfabetismo. Escreveu num papelucho um endereço e saiu pelas ruas perguntando ao acaso aos transeuntes, que lhe orientassem como chegar ao destino marcado. “Falei com pessoas indistintamente, camelôs, donas-de-casa, jovens ou não, ninguém me disse que não sabia ler e davam a informação”, contou. São as lições de Chávez que a Globo não possui aptidão para aprender….

Petróleo a preço de água

Antes de Chávez, quando 80 por cento dos venezuelanos viviam na miséria absoluta, o petróleo era regalado aos EUA, enquanto a burguesia local era conhecida por ser a maior consumidora de champanhe do mundo, depois da francesa, e pela elevadíssima importação de caviar para pequenos círculos oligarcas.
Eleito, Chávez cumpriu promessa de campanha de acabar com a farra imperialista com o petróleo venezuelano regalado. Recuperou gradativamente o controle sobre a PDVSA e também fez uma cruzada internacional para acordar a OPEP de seu sonho colonizado. Na época, o preço do petróleo estava em 7 dólares o barril – ou seja, muito mais barato que água mineral ou Coca-Cola – e hoje, avança pela casa dos 100 dólares. Eis a razão do ódio dos EUA a Chávez.

Evita Perón e Vargas

Este ódio imperial se expressa como uma ordem, uma sentença de morte, dada pelos falcões norte-americanos para que seja alcançada, por meio do câncer, aquela meta mórbida contra qualquer mandatário que não seja talhado para vassalagem, para submissão. Não é a primeira vez na história que isto ocorre. Quando Evita Perón foi acometida por um câncer, este jornalismo mortífero se expressou sem qualquer escrúpulo. O ódio que os círculos imperiais nutriram por Evita fez com que ele saltasse das páginas da imprensa portenha para os muros de Buenos Aires, nos quais a oligarquia festejava sua podridão moral escrevendo “Viva el Câncer!”.
Os imperialistas jamais perdoaram Evita por ter armado os trabalhadores da CGT para resistir aos golpes que frequentemente se organizavam contra Perón. Chegou mesmo a advertir Perón, que lhe criticou pela distribuição de armas, da qual ela nunca se arrependeu, que ele estava preparando as condições – desmobilizando os trabalhadores – para não ter capacidade de resistir ao golpe, que chegou em 1955, 3 anos depois da morte de Evita. Ela bem que avisou.
Depois foi contra Getúlio Vargas, quando sua saída da vida para entrar na história foi comemorada em círculos manipulados pelo capital externo, que não suportavam a criação da estatal Petrobrás, dos direitos laborais inscritos na CLT e da lei da remessa de lucros ao exterior. Não por acaso, o povo expressou sua tristeza e sua fúria, pranteando Vargas, mas também empastelando os símbolos daquele ódio contra o popular presidente, entre os quais os jornais Tribuna da Imprensa, Globo, e, até mesmo do jornal do PCB, Tribuna Popular, que no dia do suicídio de Vargas trazia desorientada entrevista de Prestes pedindo sua renúncia.
Assustados e envergonhados, os dirigentes comunistas recolhiam os exemplares do jornal que ainda estavam nas bancas. Mas, não tiraram conclusões históricas do porquê também foram alvo da fúria popular contra seus inimigos, sobretudo porque Vargas havia convidado Prestes para ser o chefe militar da Revolução de 30, aquela que em apenas 24 horas alistou mais de 20 mil voluntários para pegar em armas e combater a República Velha. Prestes inicialmente aceitou o convite, mas a ordem stalinista foi para que se afastasse de Vargas, enquanto que, na mesma época, em sentido contrário, Leon Trotsky escrevera que tanto Vargas como o mexicano Cárdenas, eram expressão de um bonapartismo sui generis, com potencial revolucionário, e que deveriam receber o apoio tático dos revolucionários.

O Levante de 4 de Fevereiro de 1992

Processos revolucionários começam sob formas mais inesperadas, normalmente com rupturas da legalidade instituída quando esta acoberta iniquidades, sob a forma de insurreições, armadas ou não. A partir das revoluções outra legalidade é constituída. Assim foi a Revolução de 30. Assim havia sido a Revolução Francesa, Assim foi a revolução em Cuba, na Nicarágua ou na Argélia. A Revolução Iraniana, por exemplo, desde 1979, de quatro em quatro anos promove eleições diretas, o que ainda não foi conquistado pelo povo dos EUA, onde o voto é indireto e apenas os candidatos que podem pagar aparecem na mídia para defenderem suas ideias.
A Revolução Bolivariana começa com um levante insurrecional – o 4 de fevereiro de 1992 – destinado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, cujo objetivo era retirar a Venezuela da condição de colônia petroleira. Evidentemente, os comentaristas que seguem orientação imperial não suportam qualquer forma de rebeldia contra hegemonias colonizadoras. Na prisão, Chávez se transforma no homem mais popular da Venezuela, aquele capaz de traduzir e promover a identidade de seu povo com a sua história, com Bolívar, com a sua identidade cultural, sua mestiçagem negra e índia, como são os venezuelanos.
A Revolução Bolivariana começa com um levante armado e transforma-se em processo institucional por meio da aprovação do voto popular. Mas, diante das constantes ameaças golpistas imperiais e também das provocações desestabilizadoras da oligarquia, Chávez mesmo declarou que “esta é uma revolução pacífica, pero armada” , como a expressar a consciência do golpismo que sempre esmagou processos democráticos de transformação social na América Latina. Não lhe sai da lembrança que Allende morreu de metralhadora na mão…

Jornalismo de desintegração

As lições de Chávez estão aí aos olhos do mundo, mesmo que esta mídia golpista, praticando o mais vulgar jornalismo de desintegração, queira ocultar. A parceria Brasil-Venezuela multiplicou em mais de 500 por cento o comércio bilateral em poucos anos e hoje estão atuando na pátria de Ali Primera a Embrapa, a Caixa Econômica e muitas empresas brasileiras. Realizam obras de infra-estrutura indispensáveis para que o país dê um salto em seu desenvolvimento, o que sempre foi sabotado pelas oligarquias do período pré-Chávez.
Agora Venezuela constrói ferrovias, metrôs, teleféricos, estradas, hidrelétricas, pontes, e a participação brasileira nisto, com financiamento estatal, via BNDES, traduz bem o pensamento de Lula de que integração significa “todos os países crescendo juntos”. Os comentaristas da Globo não informam nada disso, até porque apoiaram quando o Brasil, na era da privataria neoliberal, demoliu um terço de suas ferrovias, além de ter destruído sua indústria naval, que agora, recuperada, tem inclusive 27 encomendas para a construção de navios petroleiros da PDVSA, a serem feitos aqui.

Solidão do uniforme

Além da integração, Chávez recuperou para o centro do debate o conceito de socialismo, além de propor a organização de uma nova Internacional, indignando-se com a cruzada da morte que o imperialismo organizou contra o Iraque, a Líbia e também contra Síria. Muito longe de resolver o desemprego galopante que assola a França, o governo de Hollande lança-se em mais uma empreitada imperial contra. Só sabem guerrear.
Chávez recupera o debate sobre uma nova função social para os militares, retirando-os da solidão do uniforme, unindo-os ao povo e às causas mais preciosas para viver com dignidade, com soberania e como democracia e justiça social. Recuperou até mesmo a função histórica do General José Ignácio de Abreu e Lima, pernambucano que lutou ao lado de Bolívar e que foi o primeiro a escrever sobre O Socialismo na América Latina, o que, em boa medida era desconhecido até mesmo pelas esquerdas brasileiras. Hoje os militares venezuelanos cumprem função libertadora e resgatam a função das correntes militares progressistas e antiimperialistas na história e seus representantes como Velasco Alvarado, Torres, Torrijos, Perón, Prestes, Nasser, Tito, a Revolução dos Cravos…..São lições de Chávez.
Os comunicadores que ignoram os fatos objetivos alardeiam a existência de desabastecimento alimentar quando a Unicef comprova que a Venezuela teve reduzida drasticamente a desnutrição e sua mortalidade infantil. O que há é boicote da indústria alimentar, o que levou o governo a montar uma rede estatal de mercados, fixos e móveis, que chegam a vender alimentos ao povo a preços até 70 por cento mais baratos, já que supera a especulação dos oligopólios.
Na semana que passou, para as autoridades venezuelanas confiscaram 3 mil toneladas de alimentos que estavam escondidos pelos oligopólios, numa operação casada com a mídia para fazer a campanha de que “falta alimento”, operação da qual participam, vergonhosamente, os comentaristas globais e sua grotesca desinformação. Segundo estatísticas da FAO, o consumo de alimentos na Venezuela aumentou em 96 por cento no período de 2001 a 2011, Era Chávez, enquanto a Cepal atesta que este país é hoje o menos desigual da América Latina, além de pagar o maior salário mínimo do continente, o equivalente a 2440 reais, informação que a Globo jamais noticiará.

MST, sem veneno

Antes de Chávez, a Venezuela não possuía economia agrícola, ou melhor, tinha apenas uma “agricultura de portos”, todo alimento era importado, até alface vinha de avião de Miami. Hoje o país, graças à integração e à cooperação promovidas incansavelmente por Chávez, já tem uma pecuária leiteira, já produz metade do arroz que consome e recebeu até a solidariedade do MST que lhe doou toneladas de sementes criollas de soja não transgênica. Aliás, Chávez organizou convênio com o MST, o então governador Roberto Requião e a Universidade Federal do Paraná para montar escolas de agroecologia aqui no Brasil, abertas à participação de estudantes de toda a América Latina.

Jornais populares e diversidade

Essas são algumas das generosas lições de Chávez, atacado pela Globo daqui, como pela de lá, exatamente porque existe plena liberdade de imprensa na Venezuela. Ou, como disse Lula, “o problema da Venezuela é excesso de democracia”. Vale contar episódio de jornalista brasileira que antes de viajar para lá me perguntou como poderia ter acesso a imprensa não controlada pelo governo, segundo frisou. Eu lhe disse, vá às bancas de jornal. Ela desconfiou, mas foi. E me contou; “pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele apontou para toda a sua banca e disse-me. minha filha, isso aí tudo é contra o governo, que poderia escolher á vontade”, relatou-me surpreendida.
A diferença é que essas grosseiras distorções e manipulações que se lançam aqui contra Chávez, lá têm respostas pois foi constituído um sistema público de comunicação, inclusive com jornais populares distribuídos gratuitamente ao povo nos metrôs e rodoviárias, o que ainda não temos aqui. O povo brasileiro eleva seu padrão de consumo, mas não tem um jornal com o qual possa dialogar e refletir sobre as mudanças sociais em curso aqui. Continua “dialogando” com as xuxas da vida….

Caminhando e cantando e seguindo a lição….

Diante de tantas lições civilizatórias, democráticas, transformadoras e marcadas pelo humanismo que está sendo aplicado pelo governo bolivariano da Venezuela, a conclusão de um comentarista global de que Chávez iria tomar o poder no além, é apenas e tão somente confissão de um desejo golpista macabro e atestado da estatura moral desta mídia teleguiada de Washington. O que desejamos é que Chávez possa se recuperar, concluir a sua obra, na qual está a meta de construir e entregar 380 mil novas moradias em 2013, equipadas com móveis e eletrodomésticos, em terrenos localizados também em bairros nobres, e não numa periferia longínqua ou à beira de precipícios que desmoronam com as chuvas.
Quanto a nós, que aprendamos algumas destas lições, especialmente quanto à necessidade de fortalecer, expandir e qualificar um sistema público de comunicação, para que tenhamos acesso ao que está em nossa Constituição, a pluralidade e a diversidade informativas, e um jornalismo como construção de cidadania e de humanidade.
Texto de Beto Almeida, membro da Junta Diretiva de Telesur