sexta-feira, 27 de abril de 2018

Os donos da mídia no Brasil pós-golpe

SÁBADO, 21 DE ABRIL DE 2018

Os donos da mídia no Brasil pós-golpe

Por André Pasti e Luciano Gallas, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Uma mídia com elevada concentração de propriedade e de audiência, sob crescente controle religioso, com influentes afiliações políticas e guiada por interesses econômicos de grandes grupos. Gravíssima falta de transparência na propriedade e na distribuição da publicidade governamental, concentrada, sobretudo a partir do governo de Michel Temer, nos meios simpáticos à agenda de reformas do governo. Tudo isso possibilitado por um marco regulatório antigo, permissivo e ineficaz. Esses são alguns dos apontamentos deste especial, que traz resultados do Monitoramento da Propriedade da Mídia (Media Ownership Monitor, ou “MOM”) no Brasil.
O estudo internacional, realizado em 2017 no Brasil pelas organizações Intervozes e Repórteres Sem Fronteiras, analisou os cinquenta veículos de comunicação brasileiros de maior audiência, investigando os grupos e pessoas por trás desses meios. A partir do estudo, foi publicado o site quemcontrolaamidia.org.br, que permite a navegação pelo banco de dados construído ao longo da pesquisa. Ali, podem ser consultadas informações sobre os veículos de comunicação, os grupos econômicos e as pessoas que os controlam, além de análises sobre a mídia brasileira.

Nos próximos meses, publicaremos algumas análises desses dados neste especial do Le Monde Diplomatique Brasil. O cenário apontado pelo estudo é alarmante e se tornou ainda pior depois do golpe parlamentar de 2016.

Ameaças de longo prazo à democracia

A existência de uma mídia plural, com diversidade de informações e de narrativas em circulação, é condição indispensável para o funcionamento de um sistema político democrático. A concentração de propriedade e de audiência nos meios de comunicação, ao contrário, equivale a uma menor diversidade de conteúdo e a uma maior possibilidade de restrições à livre manifestação do pensamento. A concentração, portanto, coloca em risco os próprios fundamentos da democracia representativa liberal.

Infelizmente, entre todos os países já analisados pelo estudo Media Ownership Monitor, o quadro de indicadores de riscos à pluralidade na mídia produzido no Brasil é o pior. No país, destacam-se negativamente a elevada concentração de audiência – mais de 70% do mercado de televisão aberta está concentrada nos quatro principais grupos –, a grave propriedade cruzada dos meios – com os mesmos grupos concentrando mídias de diferentes tipos, como rádios, TVs aberta e paga, portais de internet, jornais e revistas –, e a ausência de proteções legais contra os monopólios formados por estes grandes grupos econômicos.

A concentração de audiência nos meios de comunicação é ainda mais significativa quando se considera a população do país, a dimensão continental do seu território e a grande diversidade regional. Em um país com tamanha pluralidade cultural e diversidade social, os efeitos de uma mídia concentrada nas mãos de poucos grupos econômicos são ainda mais terríveis, porque repercutem no subaproveitamento do potencial humano e no desrespeito às diferenças e costumes regionais.

A concentração de audiência também se mostra elevadíssima nos mercados impresso e online, se mostrando menos presente apenas no veículo rádio, dadas as características de identidade local deste tipo de mídia. Contudo, a organização de redes nacionais também no rádio, com a produção de grande parte do conteúdo centralizada nas cabeças-de-rede e distribuído pelas afiliadas, é um dado importante a ser avaliado.

Assim, entre as doze redes de rádio de maior abrangência no país, duas pertencem ao Grupo Globo e três ao Grupo Bandeirantes, o que é uma demonstração do fenômeno da propriedade cruzada de meios presente no país. Quando se leva em conta que há a formação de redes também a partir das emissoras afiliadas a estes grupos econômicos, a situação de concentração de propriedade e de audiência se torna ainda mais contundente e nociva à pluralidade.

A propriedade cruzada é uma dimensão central no fenômeno da concentração de mídia no Brasil. O Grupo Globo, especialmente, é proprietário de veículos e redes nos mercados de TV aberta (Rede Globo, líder de audiência), TV fechada (com conteúdos gerenciados pela subsidiária Globosat, incluindo o canal de notícias GloboNews), internet (Globo.com, maior portal de notícias do país) e rádio (redes Globo AM/FM e CBN, que estão entre as dez maiores). Além disso, o Grupo Globo mantém atividades nos mercados fonográfico e editorial, entre outros. Uma campanha institucional do grupo lançada em outubro de 2017 afirmava que seus veículos de comunicação alcançam 100 milhões de brasileiros a cada dia, o que representa metade da população brasileira.

Tal concentração de propriedade cruzada também ocorre em outros grupos, como nos casos da Record, igualmente de alcance nacional, e da RBS, de abrangência regional. O primeiro tem veículos e redes na TV aberta (RecordTV e RecordNews); no meio impresso (jornal Correio do Povo) e no meio online (portal R7, entre os mais acessados do país). A Rede Brasil Sul (RBS), por sua vez, com atuação no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, possui emissoras de TV aberta, afiliadas à Rede Globo; dois jornais, Zero Hora e Diário Gaúcho, entre os de maior circulação do país, além de outros títulos impressos de circulação local; duas redes de rádio, a nacional Gaúcha Sat e a regional Atlântida; o portal ClicRBS, entre diversos outros investimentos em mídias digitais e na produção de eventos.

A esse quadro constatado de alta concentração de propriedade e de audiência somam-se outros fatores igualmente prejudiciais à pluralidade de vozes em circulação na sociedade e à própria democracia. Entre eles, a concentração geográfica dos veículos e grupos de comunicação – sediados majoritariamente na cidade de São Paulo –, a falta de transparência na divulgação de informações sobre a propriedade dos veículos e dos grupos e a interferência de interesses econômicos, políticos e religiosos mantidos pelas empresas proprietárias sobre o conteúdo editorial exibido.

O levantamento realizado pelo MOM no Brasil evidencia que os cinquenta veículos de maior audiência nas mídias televisão, rádio, impressa e online são controlados por 26 grupos e empresas. E que, entre esses 26 grupos e empresas, 19 (o que representa 73% do total) possuem sede na Região Metropolitana de São Paulo, a grande maioria delas localizadas na cidade de São Paulo. Por outro lado, o maior conglomerado de comunicação do país, o Grupo Globo, está localizado na cidade do Rio de Janeiro, enquanto a capital política do país, Brasília, é sede de três outros grupos.

A chamada “Região Concentrada”, que correspondente às regiões Sul e Sudeste, concentra 80% das sedes dos grupos e empresas controladores dos cinquenta veículos de mídia de maior audiência nacional. Já entre os cinquenta veículos, 62% estão sediados na cidade de São Paulo; 12%, no Rio de Janeiro; 10%, em Porto Alegre; 6%, em Belo Horizonte; e 4%, em Brasília.

Cenário pós-golpe aponta para redução ainda maior da pluralidade

As medidas tomadas pelo governo Temer em relação à comunicação apontam para um aprofundamento dessa concentração midiática e, consequentemente, para uma redução da já limitada pluralidade existente nos meios de comunicação privados no Brasil.

O governo elaborou medidas que retiraram obrigações do empresariado da mídia, tem atacado sistematicamente a comunicação pública – em especial a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) – e ampliado os usos seletivos da verba de publicidade estatal para inviabilizar financeiramente meios alternativos e comprar o apoio editorial da grande mídia às ações governamentais. Esse tema será explorado no texto sobre as afiliações políticas da mídia brasileira (ver relação abaixo).

Esse quadro de grave concentração de propriedade e de audiência existente na mídia brasileira acompanha um alinhamento das linhas editoriais dos grupos de mídia aos discursos hegemônicos em circulação. Tais discursos se pautam pela construção de consenso a partir da sustentação de interesses econômicos e políticos de forças que historicamente concentraram o poder no país.

Esse cenário aponta para ameaças à acanhada e ainda recente democracia representativa brasileira no que se refere ao médio e longo prazos. Isso porque há uma interdição, por parte dos grandes meios de comunicação, de diversos e importantes temas e perspectivas em prol do efetivo desenvolvimento da sociedade brasileira sobre bases mais justas e igualitárias. Analisamos várias dimensões desse problema neste especial.

*André Pasti é mestre em Geografia, professor do Cotuca/Unicamp, integrante do Conselho Diretor do Intervozes e coordenador da pesquisa MOM-Brasil; e Luciano Gallas é pesquisador do MOM-Brasil, jornalista, mestre comunicação e integrante do Intervozes.
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1- Investigando os donos da mídia no Brasil pós-golpe




5- Afiliações políticas na mídia brasileira (abril)

6- Mídia antipetista: quem controla O Antagonista? (maio)

7- A expressão regional do monopólio midiático (junho)

8- Monopólios da mídia: o que mudou e o que não mudou com a internet? (julho)

9- Antigo, permissivo e ineficaz: o marco regulatório das comunicações no Brasil (agosto).

Texto original: BLOG DO MIRO

Em Curitiba, um foco de resistência por Lula

https://carmattos.com/2018/04/23/em-curitiba-um-foco-de-resistencia-por-lula/

Em Curitiba, um foco de resistência por Lula


Publico aqui esse texto escrito originalmente para a Carta Maior. As fotos são do meu celular.
Todos os homens e mulheres que há duas semanas perseveram na vigília diante da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, sabem que sua persistência não será bastante para tirar o ex-presidente daquele prédio sinistro. No entanto, diante da garra e da fé com que todos se lançam nesse ato de resistência popular, a gente quase acredita que vai ver Lula, a qualquer momento, descer aquela ladeira rumo à liberdade e aos braços do povo.
A vigília tem dois momentos diários de especial emoção. É quando todas as vozes se unem para gritar o “Bom dia, Presidente Lula!”, às 9h da manhã, e o “Boa noite, Presidente Lula!”, por volta das 19h. Ultimamente tem tido também um “Boa tarde, Presidente Lula!” para animar a galera vespertina. Foi confirmado que Lula ouve os sons amplificados pelo microfone ou pela massa de vozes. Cada um que grita o faz com a esperança de ser ouvido nessa voz coletiva que Lula sempre apreciou tanto.
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A rotina da vigília mudou um pouco desde o último dia 17, quando uma negociação com a PF fez o dormitório e a cozinha se deslocarem para outro local, a cerca de 1 km do ponto de concentração. A esquina das ruas Professora Sandália Monzon e João Gbur, onde acontece a vigília diurna, foi batizada de Praça Olga Benario. Os acampados e demais amantes da democracia começam a chegar um pouco antes das 9h para a primeira mensagem do dia ao ex-presidente. Seguem-se falas de políticos e lideranças presentes, informes e atrações culturais.
No intervalo para o almoço, todos se dirigem para uma casa alugada a uma quadra dali, onde é preparada e servida a refeição. Uma grande fila se forma sob o sol – e logo será sob o frio intenso do inverno curitibano, se Lula permanecer preso. Dois pequenos foodtrucks oferecem alternativas sanduicheiras, além de uma moradora local que apregoa pastéis caprichados a 5 reais e corte de cabelo a 15.
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Zeca Dirceu
Na parte da tarde, há nova rodada de falas políticas e atrações culturais. Nas últimas quinta, sexta e sábado, lá estiveram o ex-Ministro Aluizio Mercadante, os deputados Arlindo Chinaglia e Zeca Dirceu. O violeiro Leonel Costa entoou paródias encaixando nas letras as palavras Lula e Livre. A filósofa Marcia Tiburi lançou seu livro Feminismo em Comum. Um frade capuchinho rezou para “a companheira Maria de Nazaré” interceder a favor de Lula. O Bloco Lula Livre tocou um pequeno carnaval com marchinhas do tipo “Ó abre alas que eu quero passar / sou Lula Livre, não posso negar”.  A programação, bastante informal mas organizada como nas ocupações, pode incluir oficinas, saraus poéticos e minitorneios de duplas de futebol de rua. À parte da programação “oficial”, há sempre espaço para improvisos de música, poesia, rap e conclamações pela ordem democrática. As rodas se formam em regime de tribuna livre e ganham imediata adesão dos presentes.
A área, no tranquilo bairro de Santa Cândida, não tem edifícios, mas somente (boas) casas residenciais. Os moradores se comportam de maneiras diversificadas em relação à presença de tanta movimentação. Uns encontraram uma forma de prestar serviços em troca de alguma pequena renda. Outros apenas assistem, indiferentes. Na manhã de sábado, um casal chamou a polícia para expulsar uma roda de viola instalada na rua, à sombra de uma árvore, em frente a sua casa decorada com a bandeira do Brasil. Na mesma hora, o dono da casa ao lado, todo simpático, convidou o pessoal a se postar em frente à dele. E passou a cantar junto.
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As atividades sonoras se encerram às 19h30, em obediência às normas de silêncio. O povo então se dispersa. Uns vão para suas casas ou casas de amigos. Os acampados rumam para suas tendas noturnas. Por questão de segurança, cerca de dez pessoas têm pernoitado nas quatro tendas que permaneceram na área da vigília.
Nessas quatro tendas ficam a coordenação geral, a comunicação, um posto de saúde do MST e o recolhimento de doações. A postos, ainda, uma ambulância com serviços de massagem e oito banheiros químicos. Pequenos estandes vendem livros, buttons, camisetas e outros gadgetshumildes da esquerda, além de papel e redator para quem quiser enviar uma carta para Lula.
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Apesar de uma certa fragmentação causada pela remoção do acampamento, a representatividade dos “vigilantes” continua significativa. Estão lá, além do PT, da Juventude do PT e da CUT,  também PCdoB, PCO, PSOL, PDT; movimentos socias como MST, MLST, Frente Brasil Popular, Frente de Luta por Moradia; entidades sindicais como a Contag, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, a Federação Única dos Petroleiros e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.
Apesar da sopa de siglas, seria um erro classificar o movimento como coisa “de militantes”, a exemplo do que dizem a mídia golpista e os teleguiados por ela. Lá estão também professores, alunos universitários, jornalistas, intelectuais, donas de casa conscientes, profissionais liberais, famílias inteiras. Muitos simpatizantes chegam timidamente, sem saber direito como se portar, e logo se integram aos coros de “Lula Livre”. Outros tiram selfies orgulhosos, compram algum gadgete logo desaparecem.
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O modelo de organização popular, aperfeiçoado no dia a dia dos movimentos sociais e das ocupações, dá mostras de eficiência, capacidade de invenção, solidariedade e abnegação. As equipes se dividem e se revezam em tarefas como cozinha, lixo, varreção de rua, segurança, técnica, acolhimento das caravanas que não cessam de chegar de todo o país. A cobertura jornalística é permanente por parte da mídia independente: Jornalistas Livres, Mídia Ninja, Rede Brasil Atual, Brasil de Fato e canais do YouTube como o Nova Militância Brasil.. Ricardo Stuckert, impossibilitado de fotografar seu principal personagem, segue colhendo suas imagens épicas para alimentar as redes do Lula
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Ricardo Stuckert em ação
A movimentação deve aumentar nos próximos dias rumo ao Primeiro de Maio, que os partidos de esquerda pretendem celebrar ali em frente ao cativeiro de Luís Inácio Lula da Silva. Curitiba, conhecida como a Reaçolândia, está abrigando, um tanto a contragosto, esse foco de resistência ao retrocesso. Até quando os dois lados suportarão esse contraste é coisa que não se sabe.
Para contribuir com as despesas do acampamento Lula Livre, entre neste site.
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Política 'Hoje a forma de controle autoritário é mais dissimulada e, portanto, mais assustadora'

Política

'Hoje a forma de controle autoritário é mais dissimulada e, portanto, mais assustadora'

"Sem a mídia não teria isso o que está acontecendo. Mas eu acho que essa narrativa está em disputa, apesar do poder dos meios tradicionais", diz Venício Lima em entrevista




24/04/2018 10:51
 
‘’Há um crescimento, para mim assustador, de uma direita extremada e fascista que não dialoga politicamente; que acha que o adversário tem que ser eliminado. ’’ Quem o diz é o professor, sociólogo, cientista político e jornalista Venício Artur de Lima acaba de receber o título de Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB) da qual se aposentou após mais de 30 anos de trabalho. Inicialmente, como professor da Faculdade de Comunicação e, depois, no Departamento de Ciência Política. Um dos mais respeitados estudiosos do país em Comunicação e sua relação com a política, Venício de Lima recebeu Carta Maior no seu apartamento, em Brasília, para uma conversa sobre sua brilhante trajetória acadêmica e falou sobre a situação política atual. Falou também dos tempos da ditadura civil-militar na UnB e sobre a relação com as desastradas intervenções do governo golpista atual, no ensino das universidades brasileiras. Relembrou os tempos difíceis para a universidade, na década dos anos 60, os quais se repetem agora, e em especial em Brasília.

Carta Maior: A sua história na UnB se confunde um pouco com a história dessa universidade. O que significa para o senhor o título de Professor Emérito?Venício Lima: É uma grande honra. Na verdade, eu fui surpreendido com esse título. Dez anos atrás, o professor Clodomir Ferreira apresentou a proposta com meu nome, mas o tempo passou e o assunto não avançou. No fim de 2016 o professor Fernando Paulino me consultou sobre minha aprovação à apresentação, novamente, do meu nome à disposição para Professor Emérito e, a partir de então eu não soube mais nada sobre o tema. Quando o atual chefe de gabinete da Reitora, o professor Paulo César Marques, me ligou e me deu a notícia eu achei que era gozação do meu amigo.

CM: Em que fase da UnB o senhor entrou na Comunicação?

VL: Faço parte de um grupo que veio para a UnB no período de sua reorganização, depois da crise de 68, liderado pelo Dr. Caio Benjamim Dias. Vim em um momento de reconstrução e num contexto social e político bastante difícil porque era um momento agudo da experiência autoritária. Depois, tive dificuldades com a orientação que prevaleceu na universidade até a democratização do país. A UnB era uma instituição que merecia uma atenção especial dos órgãos de segurança. Na universidade havia um representante especifico inicialmente vice-reitor e em seguida reitor, que atuou influenciando a vida de todos nós que estávamos ali naquele período.

CM: O interventor era um coronel?VL: Não. Ele entrou na universidade na qualidade de professor de Física. Era da Marinha, um capitão de mar -e- guerra  (NR: José Carlos Azevedo), doutor em Física pelo MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Hoje há provas documentais de que era ligado ao que se chamou naquela época de “linha dura do regime”.

CM: O reitor pertencia à comunidade de informações?VL: Sim, era e sabemos que exerceu um controle rígido da vida na universidade. Foi um período de lutas constantes até que os órgãos colegiados foram implantados e começaram a funcionar. Muitas pessoas, professores, alunos e funcionários que pensavam a política de forma diversa da que era a dele e do grupo que representava, e tinham ideologia diferente sofreram retaliações. Meu contrato foi suspenso e foi um ano extremamente difícil para mim. Certa vez, eu estava em casa, bateram à minha porta e era um oficial de justiça notificando que meu contrato estava suspenso. Eu tinha sido convidado pelo Conselho Britânico e estava viajando para uma visita dirigida na qual você escolhe os lugares e as pessoas com quem quer conversar. Era agosto de 1982. Tinha acabado de nascer minha filha que teve uma icterícia e precisou permanecer no hospital por um tempo, e em seguida o meu pai faleceu. Foi um ano extremamente difícil. Eu fiquei durante três anos e pouco com o meu contrato suspenso.

CM: Mas por quê? Qual o motivo apresentado?
VL: 
O reitor da UnB, o capitão Azevedo, havia conseguido fazer passar uma lei apelidada de
Lei Azevedo, permitindo que os dirigentes das fundações universitárias fossem reconduzidos diretamente pelo presidente da República quantas vezes o presidente julgasse necessário. Figueiredo, com essa lei, reconduziu o professor e reitor Capitão Azevedo. Essa lei tramitou no Congresso. Eu chegara do doutorado e meu sogro da época era líder do MDB no Senado e líder da oposição - o senador Humberto Lucena. Eu chegava do exterior e era muito próximo a ele que me pediu para ajudá-lo em artigos para jornal e nos seus discursos. Comecei a fazer isso antes que surgisse no Senado uma carreira fora do quadro, a de assessor técnico. Como eu já fazia isso ele me colocou como assessor técnico dele. Eu era professor de dedicação exclusiva na UnB. Hoje, olhando retrospectivamente, confesso que deveria ter consultado um advogado e averiguado se isso significava um risco de violação da natureza do meu contrato com a UnB. O contrato foi suspenso sem o conhecimento do meu departamento que se opôs à demissão e se manifestou pública e dentro da universidade contrário a ela. Houve uma inversão do processo. Porque quem inicia um processo de demissão por justa causa é a empresa, a instituição, o órgão onde a pessoa trabalha. No meu caso seria o meu departamento. Mas o processo partiu da reitoria.

CM: Como conseguiu reverter a situação?
VL: 
Foi mais de três anos até o próprio governo Figueiredo tramitar no Congresso um projeto de lei aprovado segundo o qual a escolha dos dirigentes das fundações universitárias voltava a ser efetivada segundo o critério da antiga Lei de Diretrizes e Bases. O vice-reitor assumiu a reitoria - professor Luiz Otávio de Souza Carmo - e me telefonou dizendo que desejava resolver a minha situação. Foi quando voltei para a universidade.

CM: E depois?

VL:
 Depois eu mudei de área, fui para a Ciência Política e havia uma disciplina de Comunicação e Política que não tinha quem ministrasse. Fui convidado para ir para lá, aceitei, e passei os meus últimos dez anos na universidade na Ciência Política.

CM: Qual a relação que o senhor faz daqueles tempos de ditadura, de perseguições a professores e do estrangulamento das universidades, com o momento que vivemos hoje? Como o senhor compara aquele golpe de 64 com esse golpe de agora que também está atingindo a autonomia e até a existência da universidade pública brasileira?AL: Talvez a idade e o peso dos anos tenham me feito mais medroso. Embora eu já não esteja mais, há muitos anos, no dia--a- dia acadêmico, eu continuo ligado à universidade. Hoje, ligado à UFMG, a Universidade Federal de Minas Gerais, onde participo do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros, o Cerbras. Como temos projetos de pesquisa em andamento eu vou até lá com frequência. Talvez tenha a ver com a idade, mas naquela época, no início da década de 70, acho que éramos mais voluntariosos, desafiávamos mais o sistema, enfrentávamos mais as condições adversas e conseguimos fazer algumas coisas importantes dentro da universidade. Hoje, não estando dentro do cotidiano na vida universitária, eu sinto que a forma de controle autoritário é mais dissimulada, mais difusa e, portanto ela me assusta mais do que naquela época. Aos poucos,
direitos individuais vão sendo dilapidados. Aqui, uma medida, ali, outra. Uma questão de primeira instância, uma decisão de segunda instância. Decisões no Supremo. Aos poucos eu sinto - e acho que talvez a imensa maioria da população não perceba isso - que vai se dilapidando aos poucos os direitos individuais e cresce uma forma de controle autoritário da vida civil e da vida pública. Vejo e sinto isso com certo assombro. Fico assustado quando, por exemplo, não vejo punição para ações que estão obviamente em contradição com a lei. Quando um juiz de primeira instância diz: “O momento exige ações de exceção”. Isso dito em um tribunal de recurso de segunda instância, em votação que ficou só com um juiz.

CM: Qual a comparação que senhor faz?

VL:
 Do ponto de vista da experiência daquela época com a experiência de hoje, naquele tempo – em que eu nunca fiz a opção de vários amigos e colegas fizeram, tanto de ensino secundarista como de universidade, os que foram para a resistência armada, que morreram, que desapareceram -, mesmo com tudo aquilo, a resistência à ditadura era aberta, quer dizer, havia uma ditadura.

CM: Ela veio escancarada, sabia-se com o que estávamos lidando. Era um inimigo visível, não?
VL: 
Era exatamente isso. Hoje, acho que a coisa está mais dissimulada e você vê que não acontece só no Brasil, esse movimento das forças conservadoras e de interesse do capital financeiro. É o neoliberalismo a nível global. Isso está acontecendo em países da América Latina e há um
crescimento também, para mim assustador, de uma direita extremada e fascista que não dialoga politicamente, que acha que o adversário tem que ser eliminado. Isso me assusta. Naquela época, apesar de tudo eu não experimentei essa sensação. Talvez tenha a ver com a idade. Naquela época você era mais peito aberto e tal. Hoje eu fico mais medroso e penso muito nas gerações que virão. Eu já tenho filho de 40 e tantos anos, e eu penso nos meus netos, no mundo que eles terão que viver.

CM: Qual é o papel da mídia no processo atual de estímulo às forças fascistas, do ódio que vem sendo disseminado?
VL: 
Sem a participação da mídia não haveria isso tudo que está acontecendo. Há um artigo anterior ao início da Lava Jato, de autoria do juiz Sérgio Moro, em que ele compara a Operação Mãos Limpas, na Itália, à Lava Jato. Eu escrevi sobre isso tempos atrás. Ele fala abertamente da necessidade do que chama de opinião pública através do comprometimento da grande mídia, ou seja, a grande mídia faz parte do processo. E o que me incomoda mais é que ela faz parte do processo com a aparência de que está trabalhando na defesa da democracia e dos direitos humanos, do interesse coletivo e do bem público. O comprometimento da grande mídia brasileira me assusta e é escancarado; é evidente. Mas, hoje você conta com o que não existia naquela época: as novas tecnologias digitais que permitem um acompanhamento muito mais rápido e tecnicamente mais apurado do posicionamento majoritário desses grandes grupos de mídia a favor de determinadas causas e contra outras nas quais eles estão empenhados. Qualquer pessoa interessada pode acessar esses dados, que são públicos, em um grupo da UERJ liderado pelo professor João Feres Júnior - o Manchetômetro. Ele acompanha a grande mídia impressa e a dos grandes telejornais e publica, periodicamente, as avaliações tecnicamente realizadas as quais indicam, com toda clareza, não só a não neutralidade da mídia, mas o seu posicionamento. Então, é absolutamente evidente que sem a participação da mídia não teria havido esse movimento de opinião pública   avassalador no Brasil, que se autodenomina “movimento contra a corrupção”. Está claro que ele é seletivo. Manipula a suspeita de corrupção e a suspeita de corruptos que se encontram apenas de um lado. Eu acho que a participação da mídia nesse processo é absolutamente central.

CM: Talvez até pela construção a conta-gotas desse autoritarismo, as pessoas não estão percebendo, por exemplo, os estragos que estão sendo feitos em seus direitos imediatos - o trabalhista, por exemplo. A mídia estaria tendo o papel de manter essa letargia?
VL: Essa questão da letargia é central e muito complexa porque eu acho que é preciso fazer uma diferença, por exemplo, entre opinião pública, movimento de opinião pública e eleitorado. O Fábio Wanderley Reis, Professor Emérito da UFMG, professor de
Ciências Políticas,  há pouco tempo escreveu um texto sobre isso, publicado em um livro organizado pelo Luiz Felipe Miguel, da UnB. Ele chama atenção sobre isso. Quero dizer o seguinte: o que aparece publicamente como sendo a opinião pública não é igual às intenções de voto do eleitorado.
Melhor exemplo disso é que, apesar de tudo, do massacre que tem acontecido e da suspeita que, eu acho, pode ser levantada genuinamente com relação a certas pesquisas de opinião, você vê que o Lula continua crescendo eleitoralmente. Podemos citar, por exemplo, a pesquisa recente do Datafolha segundo a qual ele continua com mais de 30% da preferência do eleitorado. Quer dizer, isso mostra essa diferença entre opinião pública e eleitorado. Então você vê que a letargia não se expressa na posição do eleitor. Isso é inegável.

CM: Mas há os movimentos efetivos da direita.

VL: Sim; por outro lado há uma organização muito efetiva de movimentos de direita financiados inclusive com recursos de fora do país, o que também não é mistério. Esse financiamento é público também. Grupos americanos que financiam ONGs e financiam movimentos para influenciar a opinião pública. Eu participei há pouco tempo de um debate e escrevi inclusive o capítulo de um livro que foi publicado pela Fundação Perseu Abramo sobre a direita no Brasil, e tem vários, dois ou três capítulos deste livro que mostram esse movimento do financiamento externo de grupos conservadores atuando no mundo inteiro e no Brasil. Então, com isso uma parcela da classe média passou a ser muito ativa nas manifestações públicas em relação àquilo que as camadas de classe média consideram de seu interesse.

CM: preconceito?

VL:
 Eu estou pessoalmente convencido de que  há um componente muito forte de preconceito de classe social mesmo. É inegável que durante os anos dos governos de Dilma e Lula houve, e isso é um dado público também, uma ascensão de camadas que até então não podiam e não tinham acesso à universidade, ao ensino técnico, ao transporte aéreo, o que incomoda muita gente. Nós somos uma sociedade escravista, como diz o Jessé Souza, com quem eu mantenho várias discordâncias. Mas ele está absolutamente correto sobre isso. Não podemos esquecer o papel fundamental da nossa sociedade que é a matriz escravocrata. Visível ainda ou não ela existe de uma
forma absoluta hoje. Talvez haja menos do que  letargia daqueles que estão sendo prejudicados, que é a imensa população brasileira. Há uma exacerbação, uma presença de setores extremados da classe média que fomentam outros, e sobre todos os setores de classe média que se sentem ameaçados.

CM: E eles conseguem se sobrepor nesse debate político, na narrativa?VL: A disputa da narrativa ainda continua. Eu não tenho dados empíricos, eu não conheço também alguém que tenha estudado isso, mas eu acho que a disputa da narrativa continua sendo feita mesmo com o Jornal Nacional diariamente construindo uma narrativa do que está acontecendo. Tomando ainda como referência a pesquisa Datafolha: eu vi só na matéria da própria Folha; não tive acesso aos dados da pesquisa, não analisei cada dado, mas há um que é muito interessante. Você ver que apesar de toda a narrativa hegemônica liderada e capitaneada pelos grupos de comunicação, e não somente pela Globo, 40% das pessoas acha que a prisão do Lula foi injusta. E, veja só, o massacre diário da grande mídia é para dizer que o Lula é ladrão, que Lula é corrupto apesar de todos os buracos do processo, e com esse especifico do triplex do Guarujá. A ausência de provas, a ausência de contrapartida a uma série enorme de buracos que não são
suficientemente divulgados.

CM: Mas hoje a força das redes sociais...

VL:
 Sim, você tem inclusive a força das redes sociais apesar de todos os problemas que eu pessoalmente tenho em relação às redes sociais. Mas é inegável que ao contrário do que acontecia quando elas não existiam você não tem uma voz única, mesmo que a voz das redes atinja um espaço público menor, ou espaço público que atinja um nicho que já tem
uma opinião previa terminada. Mesmo assim, falando em termos de narrativa, acho que há uma disputa da narrativa, porque caso contrário não haveria como compreender que o Lula, apesar de preso, tenha o dobro de intenções de voto do que o segundo colocado no primeiro turno. Ou não conseguiria entender como é que 40% ou mais dos entrevistados consideram a prisão dele injusta. Acho que essa narrativa está em disputa apesar do poder dos meios tradicionais.

CM: Para finalizar -  tenta-se construir uma narrativa de que manter eleições, agora, seria prejudicial ao país. Ela pode se tornar realidade e prevalecer?
VL: 
A falácia desse argumento é de uma evidência total. O que está em jogo aqui,  desde que o grupo derrotado nas eleições de 2014 não aceitou o resultado delas, o que está em jogo é a soberania popular, é o voto. Quer dizer, na democracia as questões
políticas têm que ser resolvidas chamando o povo para se manifestar. Ele é soberano do poder político. Fora daí você tem outra coisa que não é democracia. Em qualquer situação, o recurso democrático é um chamamento à soberania popular para que se manifeste.

CM: Do contrário, seria outra fase do golpe?
VL: S
eria totalmente inaceitável, não? Eleições não seriam convenientes para quem? Contrariam quais interesses? Quem é que não quer eleições? Certamente não é a soberania popular que precisa se manifestar em nome da democracia. E eu espero não chegarmos a esse ponto.

Igor Fuser: golpismo nicaraguense tira a máscara


Igor Fuser: golpismo nicaraguense tira a máscara


Opositores já deixaram claro que não é a previdência nem qualquer outra questão específica que está em jogo; eles querem derrubar o governo
Os estudantes de direita já estão na rua em Manágua, com a bandeira nacional, pedindo o fim do governo sandinista de Daniel Ortega, um presidente eleito com mais de 70% dos votos. Nas fotos só aparece gente branquinha, num país mestiço e indígena. A CNN está lá, com sua jornalista-âncora, Patricia Janiot, jogando lenha na fogueira. O quartel-general de mais essa "revolução colorida" é a Universidade Politécnica, onde estudam os filhos da elite. Conhecemos bem esse filme e sabemos como termina, quem são os autores e principalmente o diretor, que mora em Washington e fala inglês. Só muda o cenário. A Nicarágua é a bola da vez.


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Sobre os conflitos dos últimos dias, muita desinformação. O que está claro é que não houve "manifestantes pacíficos" e sim grupo de choque muito bem organizados, com elementos treinados em combates urbanos, exímios em coquetel molotov. Máscaras anti-gás aparecem na hora, desde o primeiro dia. Estranho, né?

Mais estranho ainda é estudantes de Engenharia se insurgirem contra uma reforma da previdência que nem de longe os afeta.
Na realidade, essa reforma, que serviu de pretexto para a rebelião direitista, só entrou na história porque o governo progressista recusou o projeto do FMI e dos empresários nicaraguenses, que queriam aumentar o tempo de contribuição e a idade mínima, entre outras coisas, exatamente no mesmo modelito que o governo Temer tentou aprovar no Brasil.
Reprodução

Opositores já deixaram claro que não é a previdência nem qualquer outra questão específica que está em jogo; eles querem derrubar o governo

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Os grupos opositores tentaram reeditar na Nicarágua as infames "guarimbas" da Venezuela, bloqueando ruas e incendiando edifícios públicos, como dois edifícios universitários que são redutos do sandinismo. Em várias cidades do país motociclistas percorreram os bairros insuflando a população a saquear o comércio -- uma iniciativa claramente planejada.
Militantes civis sandinistas entraram em ação contra os golpistas e houve violência de todo lado, com várias mortes (ao menos um policial morreu). Numa cidade do interior, um grupo opositor tentou tomar de assalto a prefeitura e a polícia disparou, matando onze pessoas. É um episódio que certamente será investigado para que se conheçam os detalhes, mas a verdade é que não se tratam de manifestantes pacíficos.
O governo está tentando manter a paz no país e mostrou flexibilidade ao retirar o projeto de reforma da previdência (que cobrava muito mais dos empresários do que dos trabalhadores) e chamar todos os envolvidos ao diálogo.
Mas os opositores já deixaram claro que o problema não é a previdência nem qualquer outra questão específica que está em jogo. Eles querem derrubar o governo. Nada menos do que isso, e já. É o que fizeram no Brasil e estão tentando fazer na Venezuela, na Bolívia. É a contra-revolução, raivosa e violenta, dirigida a partir de Washington. Não nos deixemos enganar.

'Bella ciao': a música símbolo da resistência antifascista na Itália


'Bella ciao': a música símbolo da resistência antifascista na Itália


Canção virou hino de liberdade no mundo todo; musica foi resgatada nos últimos meses por causa da série espanhola La Casa de Papel
"Una mattina, mi son svegliato/oh bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!/Una mattina, mi son svegliato/ed ho trovato l'invasor." Assim começa a canção que virou símbolo da Resistência Italiana, "Bella ciao", entoada nesta quarta-feira (25/04) a plenos pulmões por todo a Itália por conta do 73º aniversário da libertação do país do nazifascismo.
Curiosamente, a música, resgatada nos últimos meses por causa da série La Casa de Papel, não era muito conhecida durante a Segunda Guerra Mundial e passou a ser associada ao movimento partigiano apenas no fim dos anos 1940, ganhando o mundo ao longo das décadas seguintes e virando um hino de liberdade.
Até hoje sua origem não foi muito bem esclarecida, mas há quem sustente que ela tenha se baseado em uma canção cantada por camponesas da Emília-Romana no início do século 20. No entanto, essa hipótese já foi desacreditada por especialistas no assunto, que acreditam que ela seja um conjunto de influências de músicas populares do norte da Itália.
Wikimedia Commons

Canção passou a ser associada ao movimento partigiano apenas no fim dos anos 1940, ganhando o mundo ao longo das décadas seguintes

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Entoada nesta quarta-feira de Roma a Milão, Bella ciao já foi a trilha sonora de protestos em diversos cantos do planeta. Também embalou campanhas eleitorais do partido de esquerda grego Syriza, do primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Durante os mandatos de Silvio Berlusconi como chefe de governo, a música antifascista era frequentemente cantada em forma de protesto por partidos de esquerda italianos. Entre os que já emprestaram sua voz à canção estão o cantor e compositor Giorgio Gaber, a banda Modena City Ramblers e o francês Yves Montand, alguns dos principais responsáveis por sua disseminação.
Confira abaixo a tradução de Bella ciao:
Uma manhã, eu acordei,
oh bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
Uma manhã, eu acordei
e encontrei o invasor.
Oh partigiano, me leve embora,
oh bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
Oh partigiano, me leve embora,
pois sinto que vou morrer.
E seu eu morrer como partigiano,
oh bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
E se eu morrer como partigiano
você deve me enterrar.
Me enterrar lá em cima na montanha,
oh bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
Me enterrar lá em cima na montanha,
sob a sombra de uma bela flor.
E as pessoas que passarão,
oh bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
E as pessoas que passarão
te dirão: "Que bela flor".
Esta é a flor do partigiano,
oh bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
Está é a flor do partigiano
morto em nome da liberdade. 
Confira o vídeo do Syriza comemorando vitória em eleições da Grécia ao som de Bella Ciao: