segunda-feira, 7 de março de 2016

Lula desmonta tese dos procuradores sobre palestras



Lula desmonta com provas tese dos procuradores sobre palestras

Diferentemente dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do Instituto Lula, divulgou nota na qual rebate as suspeitas lançadas sobre as palestras proferidas.

Sem apresentar provas, os procuradores afirmam que Lula seria o principal beneficiado do esquema, porque 60% das empresas que contrataram suas palestras são investigadas na Lava Jato. O instituto afirma que as palestras foram realizadas, os valores, declarados, e os impostos, pagos.

Os procuradores apontam como “suspeita” – isso mesmo, suspeita e não prova – uma palestra em Santiago (Chile) marcada para 27 de novembro de 2013, que custou US$ 200 mil à OAS. A base da “suspeita” se dá pelo fato de que e-mails de executivos da empreiteira indicam que o arquivo do contrato foi criado depois do evento, em 7 de janeiro de 2014.

O Instituto Lula aponta um link de um site chileno que informa que, na semana de 27 de novembro de 2013, o petista reuniu-se com empresários locais para tratar do setor elétrico.

O Portal Vermelho fez uma simples pesquisa em um site de busca na internet também encontrou várias publicações sobre o assunto. A primeira que aparece é a do jornal El Pais, do Chile.

Outra publicação pode ser encontrada no site do próprio instituto sob o título: “Ex-presidente participa do seminário ‘Desenvolvimento e Integração da América Latina’, em Santiago do Chile”.

O Vermelho também publicou matéria sobre a viagem, citando encontro do ex-presidente com Michelle Bachelet, presidenta do Chile.

A nota também enfatiza que a LILS, empresa responsável pelas palestras, foi contratada por 40 empresas do Brasil e do exterior, e não apenas pelas investigadas na Operação Lava Jato.

Além disso, a nota informa ainda que as doações da empresa ao instituto foram para garantir a manutenção das atividades da própria entidade. “O instituto não transfere recursos ao ex-presidente”, enfatiza.

A nota também comentou as ilações de que a empreiteira OAS pagou, quando o ex-presidente deixou Brasília, R$ 1,3 milhão à empresa Granero para a “armazenagem de bens do ex-presidente”. O instituto informa que não se tratavam de “objetos pessoais”, mas do acervo presidencial que, por lei, deve ser cuidado por ele.

Segundo a nota, a mudança do Palácio do Alvorada, “como ocorre com todos os ex-presidentes, foi providenciada pela Presidência da República”, e não por empresa privada.

O Instituto Lula também rebate o factoide criado sobre o sítio em Atibaia e o apartamento no Guarujá. “É de pleno conhecimento, não só dos investigadores da Lava Jato, mas da imprensa e da sociedade, que nem o apartamento do Condomínio Solaris [em Guarujá] nem o Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, pertencem ou pertenceram, direta ou veladamente, ao ex-presidente Lula. A persistência nessa tese, desmontada pelos documentos e pelos fatos, é um atestado da parcialidade que orienta a investigação.”

Opera Mundi

VW

Os projetos entreguistas que dividem o Senado

17/02/2016 - Copyleft

Os projetos entreguistas que dividem o Senado

Gestados em ninho tucano, um propõe a privatização das estatais brasileiras e o outro quer entregar à exploração do pré-sal às multinacionais.


Najla Passos
EBC
Dois projetos de lei gestados em ninho tucano para entregar ao mercado parte do patrimônio público do povo brasileiro podem entrar na pauta de votação do Senado a qualquer momento, conforme o presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), deixou claro na reunião de líderes desta terça (16).

O primeiro é o PL 555/2015, do senador Tarso Jereissati, que prevê a transformação de todas as estatais brasileiras em sociedades anônimas com ações ordinárias a serem disponibilizadas nas bolsas de valores. O outro é o PL 131/2015, do senador José Serra, que retira da Petrobrás a prerrogativa de ser a operadora única do pré-sal, abrindo às demais multinacionais a oportunidade de explorar o tesouro brasileiro.

Ambos os PLs fazem parte da Agenda Brasil, o conjunto de propostas para a dita retomada do crescimento do país que Calheiros apresentou no ano passado. Por constarem no pacote, os dois projetos tiveram tramitação em tempo recorde, o que comprometeu a qualidade do debate público. O PL-555 estava pronto para ser votado em apenas três meses, em regime de urgência. O Pl 131 também foi construído a toque de caixa, mas perdeu o caráter de urgência devido a mobilização dos próprios senadores e dos servidores da Petrobrás.



Estatais S.A.

O PL 555/2015, que tramita em regime de urgência a pedido do líder do PMDB, Leonardo Picciani,  estava previsto para entrar em votação nesta terça (16) desde a semana que antecedeu o carnaval, mas no último momento o presidente Renan Calheiros o excluiu da ordem do dia. Segundo ele, alguns pontos polêmicos ainda precisam ser equalizados para garantir o sucesso da votação.

É que o grupo de senadores mais progressista da casa, liderado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), apresentou nesta segunda (15) uma proposta alternativa com o objetivo de minimizar os danos previstos pela proposta tucana. A proposta foi construída com o apoio das centrais sindicais e representantes dos servidores das estatais brasileiras.

Pelo projeto de Jereissati, todas as estatais brasileiras terão que disponibilizar pelo menos 25% de suas ações ao mercado.  No âmbito federal, isso significar abrir ao capital privado 131 estatais com capital 100% público e de vital importância para o desenvolvimento do país, como a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Empresa Brasileira e Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O PL também visa aprofundar a privatização das nove estatais federais brasileiras que já disponibilizam ações em bolsas: Petrobrás, BB, BB Seguridade, Basa, Bndespar, Eletrobrás, Eletropar, BNB e Telebrás. Em outras palavras, retira do Executivo brasileiro, eleito pelo povo como seu representante, a responsabilidade de administrar 140 empresas federais que têm ativos avaliados pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) em R$ 4,5 trilhões.

O projeto tucano prevê ainda que apenas executivos de alta patente, com pelo menos 10 anos de experiência em cargos de chefia do mercado, possa ocupar assentos nos conselhos das estatais. Ou seja, reserva aos homens do mercado os principais cargos das estatais, criminalizando ocupantes de cargos públicos, cidadãos com filiação partidária, sindicalistas e até professores universitários e pesquisadores, que ficam impedidos de participarem do controle social dessas empresas.

A proposta alternativa apresentada pelo grupo de senadores propõe que apenas as empresas públicas que exerçam atividades econômicas tenham ações disponíveis para o mercado, assegura que a função social das estatais – 100% públicas ou não – seja atender prioritariamente aos interesses do povo brasileiro, e não aos do mercado, e abre a participação nos conselhos das empresas a representantes de setores diferentes da sociedade.

Pré-sal em mãos estrangeiras


O PL 131/2015 de Serra deixou de tramitar em regime de urgência em julho do ano passado, quando 49 dos 81 senadores assinaram um abaixo-assinado solicitando que o assunto fosse melhor discutido com a sociedade. Serra e Calheiros, entretanto, continuaram trabalhando para que a pauta fosse vista como prioritária para a retomada do crescimento do país.

Em socorro deles, entraram em campo as multinacionais do setor do Petróleo, como a Shell, que anunciou em coletiva, nesta segunda (15), sua disposição de explorar o tesouro brasileiro, caso o regime de partilha seja alterado. O presidente da Shell, Ben van Beurden, ainda ressaltou a importância da aprovação da proposta de Serra. “Não vejo como isso não traria vantagem para o Brasil, traria mais capacidade de investimentos”, afirmou ao jornal Valor Econômico.

O maior jornal de economia do país, inclusive, vem fazendo campanha aberta pela abertura da exploração do pré-sal às multinacionais. Só nesta segunda (15), foram três matérias na capa da site explorando as supostas vantagens da mudança. Seu parceiro O Globo chegou a defender o tema em editorial, demonstrando a tendência geral da imprensa monopolista brasileira em abraçar a bandeira neoliberal tucana.

A visão que une mercado, mídia monopolista e PSDB, entretanto, não é geral. Em entrevista à Carta Maior em 17/7/2015, o consultor legislativo da Câmara, Paulo César Ribeiro Lima, especialista em petróleo, defendeu a manutenção da Petrobrás como operadora única do regime de partilha do pré-sal. Segundo ele, a mudança permitirá que as multinacionais se apropriem de uma renda que pertence ao povo brasileiro, em especial à saúde e educação.

“Com este projeto, perde é o povo brasileiro, a receita social do país, a educação e a saúde. Quem ganha são as multinacionais que irão se apropriar dessa renda que o estado perde, e ainda com alto risco operacional”, afirmou. Leia mais em: Projeto de Serra transfere lucros do pré-sal dos brasileiros para multinacionais

Os trabalhadores da Petrobrás também rechaçam a proposta. Coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, disse à Carta Maior, em 9/7/2015, que a categoria permanecerá mobilizada contra o projeto.

“O principal argumento do Serra e dos defensores do projeto dele é que a Petrobrás não tem recursos em caixa para arcar com o pré-sal. Para quem não conhece a geopolítica do petróleo, é um discurso que soa bem, principalmente porque a empresa está envolvida em várias denúncias de corrupção. Mas esse discurso não está correto”, esclareceu.



Créditos da foto: EBC


Nota da CUT: Em defesa de Lula, da democracia e contra o golpe

Nota da CUT: Em defesa de Lula, da democracia e contra o golpe

O Brasil vive um momento decisivo em que a democracia está em risco e os direitos fundamentais estão sendo violados



A CUT repudia com veemência as últimas ações da Operação Lava Jato na qual Lula, principal líder popular da história do país, foi constrangido a depor coercitivamente pela Polícia Federal, sem que ele tenha se recusado a prestar as informações solicitadas e sem que haja contra ele prova de que tenha cometido qualquer ato ilícito
O Brasil vive um momento decisivo em que a democracia está em risco e os direitos fundamentais estão sendo violados. Setores conservadores utilizam o Judiciário e os grandes conglomerados de comunicação, controlados por seis famílias, para perseguir o ex-presidente Lula e seus familiares com uma campanha sórdida de mentiras e acusações sem provas.
Trata-se do acirramento da luta de classes no país. De um lado, temos as forças conservadoras que recorrem ao golpe para voltar ao governo com o objetivo de retomar o derrotado projeto neoliberal de privatizações, de entrega do Pré-sal, de terceirização e exclusão social e de criminalização do movimento sindical e popular. De outro lado, temos as forças democrático-populares que nos últimos 13 anos  vem promovendo justiça com  inclusão social e distribuição de renda em nosso país.
Durante os dois governos do Presidente Lula, avançou-se aceleradamente nas melhorias sociais, o PIB brasileiro virou o sétimo do mundo. O aumento real do salário mínimo foi de 77,18%,  foram gerados mais de 15 milhões de novos empregos formais e retirados 40 milhões de brasileiros da miséria. Recentemente, mais de seis milhões de empregadas domésticas – historicamente marginalizadas em nossa sociedade - passaram a ter seus direitos trabalhistas reconhecidos.
Com medo da candidatura de Lula em 2018, a mídia golpista e setores do Judiciário, ecoam desinformação e reproduzem massivamente a manipulação e a distorção dos fatos. Não conseguirão desconstruir a imagem de Lula como o líder que uniu o Brasil e promoveu a maior ascensão social de nossa história.
Essa ação das forças conservadoras, expressa na ação seletiva da Lava-jato, prenuncia ataques sistemáticos aos direitos e conquistas da classe trabalhadora e aos sindicatos, como já está acontecendo no Congresso com uma agenda parlamentar que retira direitos, precariza as relações de trabalho, fere a soberania nacional e compromete as políticas de proteção social.
A violência cometida contra o ex-presidente Lula – injustificável, arbitrária e ilegal - e o espetáculo deprimente promovidos esta manhã serão repudiados por toda nossa base CUTista, por todos os setores comprometidos com a democracia, por todos aqueles que acreditam nas instituições e no estado de direito, no Brasil e no mundo.
Conclamamos a classe trabalhadora a resistir ao golpe. Conclamamos nossas bases a manterem estado permanente de mobilização, promovendo reuniões e assembléias nos sindicatos, estabelecendo relações com os movimentos sociais e construindo as bases da resistência popular a mais esta ofensiva das forças conservadoras.
NÃO AO GOLPE

Bandeira de Mello: Coxinhas têm medo do Lula candidato

Brasil

5 de março de 2016 - 13h30 

Bandeira de Mello: Coxinhas têm medo do Lula candidato

Um dos mais respeitados juristas do país, Celso Antônio Bandeira de Mello afirmou, nesta sexta (4),   que a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para depor foi um “abuso” e, do ponto de vista jurídico, “um disparate”. Para ele, tratou-se de um ato político, uma tentativa de constranger o ex-presidente. “E só se faz isso quando se tem medo. Quer dizer, eles têm medo que o Lula saia candidato e ganhe”, criticou, avaliando que o tiro pode ter saído pela culatra.


  
Por Joana Rozowykwiat

Bandeira de Mello conversou com o Portal Vermelho na tarde desta sexta. Ao ser questionado, no início do telefonema, se concederia uma entrevista sobre a 24ª fase da Operação Lava Jato, ele disse, irônico: “24ª fase de exibição, né? Esse é o nome certo”.

De acordo com ele, a ação autorizada pelo juiz Sérgio Moro e levada a cabo pela Polícia Federal não passou de “pirotecnia”, como já tinha afirmado o ex-presidente Lula. “Do ponto de vista jurídico, é um disparate. Ninguém é levado, conduzido à força, se não se recusa a ir. E o Lula nunca se recusou a depor. Então é evidente que este ato é um abuso. Não é o uso de uma competência, é um abuso, ou seja, um uso indevido de uma competência, além do que ela permitiria”, definiu.

O jurista, que é considerado um dos maiores especialistas em Direito Administrativo brasileiro, avaliou ainda que, diante de reiteradas afrontas à Constituição, o país não vive mais uma situação de normalidade institucional. Assim fosse, analisou, atitudes como a de Moro não ocorreriam. “Se nós estivéssemos vivendo em uma situação normal, num Estado de Direito – que nós não temos mais – nenhum juiz na terra ousaria fazer isso. E, se ousasse, seria punido”, afirmou.

Medo do Lula

Para ele, o cerco à casa de Lula e a maneira como ele foi levado para depor, é “uma tentativa de intimidar, constranger e apavorar” o ex-presidente. “E só se faz isso quando se tem muito medo. Quer dizer, eles têm muito medo que o Lula saia candidato e ganhe”, opinou.

Embora tenha feito a ressalva de que falar sobre o futuro é arriscado, Bandeira de Mello avaliou que a investida contra o ex-presidente pode fortalecer ainda mais o petista. “Os coxinhas, que hoje são representados até por autoridades, tentaram obter um resultado, mas obtiveram, ao meu ver, outro. O que eles vão conseguir é que o Lula vai ficar marcado como um homem injustamente perseguido, claro que vai ficar irritado e claro que agora vai arregimentar cada vez mais as forças do PT”.

Na opinião do jurista, diante da ofensiva e da arbitrariedade da ação da PF, o partido e as demais forças à esquerda reagirão, fazendo o feitiço virar contra o feiticeiro. “Acho que isso vai reanimar as forças do PT, que estavam muito escondidas, né? Conseguiram unir novamente o Lula, a Dilma e todos os petistas. O efeito é o contrário do que eles pretendiam. Fortalece o PT e fortalece o Lula candidato”.

“O Estado de Direito acabou”

Já faz tempo que Bandeira de Mello defende que as garantias constitucionais vêm sendo ignoradas. Segundo ele, “o Estado de Direito morreu a partir do momento que foi condenado o José Dirceu sem provas. Quando você tem o Supremo Tribunal Federal (STF) condenando alguém sem provas, isso significa que o Estado de Direito acabou”. O jurista faz sempre questão de reiterar que não é filiado ao PT, nem ao menos vota regularmente no partido. Sua opinião é a de alguém que se ocupa do Direito.

Para ele, os “abusos” cometidos na Operação Lava Jato são mais “uma agressão” às instituições do país. “Nós vivemos esse clima. O fato deste homem do Paraná [Sérgio Moro] não ter sido coibido até agora já é um sinal de que o apreço pelo Estado de Direito foi embora, ninguém mais está ligando para isso”.

Crítico da falta de regulação dos meios de comunicação, ele declarou que as pessoas não se preocupam mais com o Direito, “o que vale é o que os jornais falam”, independentemente de as informações estarem ou não corretas.

“E o PIG cria esse clima, o que se vai fazer? É um horror. Para mim, se houve um erro no governo Lula, foi não ter disciplinado a imprensa. Todos os órgãos e empresas têm uma disciplina, por que a imprensa não tem? Afinal, são empresas que estão aqui para ganhar dinheiro, o que é muito lícito em um Estado capitalista, mas elas têm que ser reguladas”, defendeu.

“Isso se chama golpe”
Questionado a respeito da possibilidade de a instabilidade institucional se agravar, ele respondeu que, na atual situação, tudo é possível. E classificou o quadro atual como “um golpe”. Mas disse que não prevê um cenário de conflagração social.

“Tudo é possível quando o Direito não se aplica mais. (...) Estamos diante de uma situação de golpe. Quando o Direito não é respeitado, isso se chama golpe. Infelizmente, é o que está acontecendo no Brasil. Mas acho que isso vai parar por aí, porque a reação dos lulistas superou o que eles esperavam”.

De acordo com ele, a oposição sabe que seria derrotada nas ruas. “Embora eles anunciem que têm muitos adeptos, não acho que seja verdade. O povo está em número maior. Não vale a pena para os coxinhas um confronto. Seria horrível se tivéssemos aí um conflito social”, colocou, completando que, diante da reação “anti-coxinha” – que teve início ainda ontem, com vários atos em defesa do Lula –, as investidas da oposição deverão ceder. “Eles vão perceber que não é bom esse negócio e vão se conter um pouco mais”, encerrou.


Bercovici: Garantias constitucionais não existem mais no país


Bercovici: Garantias constitucionais não existem mais no país

O jurista e professor titular da Faculdade de Direito da USP, Gilberto Bercovici, disse, nesta sexta (4), que ocorreu claro “abuso” na condução da 24ª fase de Operação Lava Jato. Ao analisar o atual momento do país, ele afirmou que há “um desrespeito pleno, completo e absoluto” a todas as garantias constitucionais. “A Constituição de 1988 não vigora mais”, declarou. E defendeu que apenas a mobilização popular pode barrar um retrocesso em conquistas democráticas e sociais.

Por Joana Rozowykwiat


  
Para o jurista, as irregularidades ocorrem desde a semana passada, quando detalhes da operação vazaram para a imprensa. “Ocorreu claramente um abuso. Primeiro, porque essa fase da operação vazou desde a semana passada. Eles vazaram para órgãos de imprensa e chegou ao conhecimento do [blogueiro] Eduardo Guimarães. Então você faz um vazamento seletivo, para ter impacto na imprensa”, criticou, em entrevista ao Vermelho.

O professor condenou ainda a forma como foi conduzida a ação da Polícia Federal. Segundo ele, não havia “nenhuma necessidade” de o ex-presidente ser conduzido coercitivamente para depor. “O próprio Lula já havia se colocado à disposição para qualquer esclarecimento. Já havia dito que poderia depor sem problema”, destacou, explicando que a condução coercitiva só deve ser usada em casos nos quais a pessoa se recuse a prestar depoimento.

De acordo com Bercovici, o objetivo de levar o ex-presidente a depor desta forma foi gerar um fato político e imagens para a grande mídia. “O objetivo é arranjar foto para a Folha de São Paulo, para a Globo. Ter a ceninha dele saindo do carro da Polícia Federal. E querer pressionar ainda mais um governo que já está acuado, que é o da presidenta Dilma”, opinou.

Além disso, segundo Bercovici, a Lava Jato passou por cima do Supremo Tribunal Federal, uma vez que há uma petição da defesa do ex-presidente Lula no STF, para que a corte defina a quem cabe investigar os fatos em questão, se o Ministério Público de São Paulo ou o Ministério Público Federal. “Isso está com a ministra Rosa Weber, e a Operação Lava Jato atropelou o Supremo.
Simplesmente ignorou a existência do STF”, apontou.

Bercovici disse ainda que as garantias constitucionais não estão mais asseguradas no país. “Esse país não tem mais isso, né? O próprio Supremo, quando decidiu que as pessoas podem ser presas sem trânsito em julgado, ao contrário do que diz a Constituição, já mostrou que as garantias constitucionais não existem mais no Brasil. A Constituição de 1988 não vigora mais no Brasil, não sei o que vigora, mas não é a Constituição de 1988”, disparou.

Segundo ele, o alerta não é por tratar-se do ex-presidente, mas porque todos têm que ter as mesmas garantias e as mesmas liberdades. “E isso obviamente não está acontecendo”. Para Bercovici, está claro que está em curso um processo político, marcado pela perseguição ao PT e suas lideranças. Sobre os interesses por trás da operação, ele declarou: “A Lava Jato não faz nada sozinha, ela é amparada pela mídia, por setores políticos e econômicos do país - o sistema financeiro, os partidos de oposição e uma série de grupos empresariais”.

O professor avaliou que é preciso que todos os partidos que possam ter cometido irregularidades sejam investigados, mas apontou que, atualmente, apenas o PT é alvo das apurações. “O PSDB, o PMDB, o DEM são todos santos? Todo mundo sabe como funciona o financiamento de campanha no Brasil. Porque só um partido é atacado? Tem que atacar todos. Se há desvio e irregularidades, todos têm que ser investigados e, eventualmente, se forem culpados, punidos. Mas o que a gente vê é que só tem um lado”, condenou.

Ele defendeu ainda que é preciso mobilização popular para frear a investida contra as garantias constitucionais. “Não pode ocorrer uma desmobilização, um sentimento de ‘ah, é isso mesmo, vamos para casa’. Isso significaria que eles podem fazer o que eles querem. E é preciso dar um basta nesta arbitrariedade que o país inteiro está sofrendo”, disse.

O jurista advertiu sobre os riscos à democracia e aos direitos da cidadania. “Se os movimentos sociais não reagirem, vamos ver um retrocesso sobre conquistas básicas da democracia e dos direitos sociais como nunca houve na história desse país. Estão abusando, mostrando que a democracia, as garantias constitucionais e os direitos das pessoas não têm valor”, encerrou.

Comparato condena ação da PF: “Estado de Direito está em frangalhos”

Comparato condena ação da PF: “Estado de Direito está em frangalhos”

“Um abuso manifesto”. Foi assim que o renomado jurista Fábio Konder Comparato classificou a ação da Polícia Federal, nesta 24ª fase da Operação Lava Jato, que tem como principal alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Comparato criticou o mandato de condução coercitiva do ex-presidente e lamentou: “O Estado de Direito está em frangalhos”.


  
Professor emérito da Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), doutor honoris causa da Universidade de Coimbra e doutor em Direito pela Universidade de Paris, o jurista defendeu que não havia razões para que o ex-presidente fosse conduzido coercitivamente para depor. “A detenção de uma pessoa, sobretudo para depor, só pode ocorrer em casos extremos, quando a pessoa foge ou se recusa a depor. Não é o caso do ex-presidente”, declarou, em conversa por telefone com o Portal Vermelho, na tarde desta sexta (04).

Comparato avaliou ainda que os “abusos” da PF na Operação Lava Jato não têm sido combatidos pelo Ministério da Justiça . “É preciso saber se a ordem [de condução coercitiva] veio da Polícia Federal ou do juiz Sérgio Moro, porque são organizações que têm superiores diferentes. No caso de Moro, o Tribunal Federal. A PF é o ministro da Justiça e, até agora, pelo que se saiba, o ministro da Justiça anterior e esse atual não diminuíram ou cercearam os abusos da Polícia Federal”, criticou.

Segundo ele, o episódio convida a refletir sobre “o poder de dominação política” atual. “Nós sempre vivemos uma farsa jurídica. A Constituição diz que todo poder emana do povo, mas o povo nunca teve poder”, apontou.

“E por que isso? O Brasil sempre foi dominado por uma dupla oligárquica: são os potentados econômicos privados de um lado e os grandes agentes estatais do outro. Agora está havendo um conflito no lado político, porque o presidente Lula – certo ou errado – se aproximou de grandes empresários e isso tirou a força do lado conservador, que sempre esteve ligado ao lado empresarial. É isso que estamos vendo aí. A coisa é muito complexa”, avaliou, afirmando que, neste momento, “O Estado de Direito está em frangalhos”.

Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho

"AGORA É BOTAR O RETRATO DO VELHO OUTRA VEZ"

"AGORA É BOTAR O RETRATO DO VELHO OUTRA VEZ"
Fernando Brito
Quem ouviu a fala de Lula na quadra do Sindicato dos Bancários, percebeu: Moro operou um milagre.
Despertou um Lula que andava adormecido.
Mexeu-lhe com os brios.
O ex-presidente, pela primeira vez, há muito tempo, está feliz.
Feliz como pinto no lixo, como dizem os cariocas.
Sem “paz e amor”. Língua solta.
Falando a linguagem do povão, a do botequim.
Mandando chamar “a mãe deles” para depor.
“Hoje, para mim, foi o fim”, disse Lula, “porque me ofenderam”.
Esse Lula é indestrutível, por mais que o governo Dilma vá mal, cercado e manietado.
Sérgio Moro despertou o que não tem ideia da força que tem.
Não é o Lula ofendido e magoado.
É alguém que possa, como no livro de Dostoiewski, despertar os “humilhados e ofendidos”.
Moro, como um Hércules ao inverso, recolocou Anteu em contato com sua mãe, a Terra, sua mãe, que o tornava invencível.
Acabaram as pequenas questões.
Agora é a grande.
É botar o retrato do velho, outra vez, no mesmo lugar.