sábado, 10 de março de 2018

Para a esquerda, só há solução na democracia

Para a esquerda, só há solução na democracia

A história recente do Brasil mostra que, por aqui, a arma da direita sempre foi o golpe de Estado
Ato por eleições diretas em setembro de 2016, pouco depois do impeachment. A esquerda deve lutar para aprofundar a democracia
                                                                                              

Não foi por acaso, e sem consequências para nosso futuro presente, que tenhamos conquistado a Independência sem a luta pela independência, negociando-a junto aos bancos ingleses e aos embaixadores do império britânico, do qual Portugal era um protetorado pouco levado a sério.Uma das características mais distintivas da história brasileira é seu caráter recorrente, uma sequência de farsas e tragédias, um perverso processo circular que retarda o desenvolvimento em seus diversos patamares, seja econômico, seja político, seja social.
Não terá sido por mero acaso – muito menos por capricho dos deuses – que tenhamos sido o único império do continente e a última nação a livrar-se da escravidão. Em seguida, instalou-se a República sem povo, sem voto, valhacouto da preeminência dos militares e da oligarquia rural que, com os olhos voltados para as bolsas de mercadoria de Londres, comandaria o País, emperrando seu desenvolvimento, até a “revolução” de 1930.
Coube a este movimento civil-militar fraturar a aliança entre paulistas e mineiros, produtores de café e de gado, defensores da economia agroexportadora, desapartada dos interesses do País e, principalmente, do seu povo. E ainda hoje, o bancário que chefia a Fazenda sonha com o retorno a uma economia fundada na exportação de commodities, in natura.
Na raiz dos problemas sociais e estruturais que acompanham a história do país desde a colônia está o caráter alienado de sua classe dominante, cujos interesses e ganhos jamais estiveram dependentes ou vinculados ao desenvolvimento nacional.
Nas primeiras décadas do século passado nossa população era predominantemente rural, e nossa economia subordinada aos preços internacionais do café, avessas as “elites” econômicas e políticas à industrialização, e resistentes a qualquer proposta de desenvolvimento que pudesse ameaçar as estruturas econômico-políticas que asseguravam seu mando.
É sobre esse cenário que começa a se configurar o que se poderia chamar de classe-média urbana (os funcionários públicos, os pequenos e médios comerciantes, a intelectualidade emergente, etc.) e os jovens militares. No ano da Semana de Arte Moderna (1922), se encontram os sentimentos moralistas da classe-média com a inquietação da jovem oficialidade simbolizada no Levante do Forte de Copacabana (naquele mesmo ano), a primeira de uma série de irrupções militares que se disseminam ao longo das décadas seguintes, até o golpe de 1º de abril de 1964, o vestibular da ditadura militar que só conhecerá termo em 1985. Com o levante, surge o “tenentismo”, de que são filhos a Coluna Prestes (1924) e mesmo a “revolução” de 1930, que se desdobra (1937) no Estado Novo, a ditadura que vai até 1945.
A preeminência dos militares, avalizadores dos governos oligárquicos, vem de longe. Ela se estabelece, institucionalmente, a partir do golpe de 15 de novembro de 1889 – um acontecimento dos militares, só deles, isto é, sem povo e sem republicanos, que, ao derrubar a monarquia, instaurou a República dos grandes proprietários de terra. A República curatelada, arrimada em um processo eleitoral censitário e corrupto, buscava legitimidade em um alistamento que não abarcava nem as camadas médias da população. Em 1894, na primeira eleição direta para presidente da República, o candidato vitorioso, Prudente de Morais, elegeu-se com cerca de 270 mil votos, o que representava menos de 2% da população brasileira.
Essa democracia sem povo e sem voto sobreviverá até 1930, ano da revolução varguista que se transformará em ditadura em 1937 e se estenderá até 1945, quando Getúlio Vargas, o ditador, é deposto por um golpe militar arquitetado e executado pelos mesmos generais que o haviam levado ao poder discricionário.
Essa introdução tem o propósito de pôr de manifesto o encontro do combate despolitizado à corrupção com os golpes de Estado, de base militar ou não, como o de 2016. Um dos temas centrais do levante de 1922 era a denúncia da corrupção eleitoral e o pleito de um sistema eleitoral “justo”, ou seja, sem fraude. Estabelece-se entre os militares, majoritariamente, a crença de que os males do País residiam na corrupção, tema que logo foi absorvido pelas correntes políticas de direita, que dominariam o debate politico, e passam a frequentar os quartéis.
Assim, o combate à corrupção se transforma em instrumento político de apelo à ruptura constitucional, invocada como necessária a sua erradicação, quando seu objetivo tem sido o de impedir o ascenso de governos chamados de “populistas” por ensejarem  a emergência das massas.
O azimute que unifica as forças conservadoras (auto nomeadas como “liberais”) é a “moralização dos costumes políticos” (cortina de fumaça para o golpismo) que, a partir principalmente dos anos 50 do século passado, passa a contar com a ação da grande mídia. Seu papel, de sempre, mas que se acentua principalmente após a redemocratização de 1946, é a construção do discurso ideológico unificador do pensamento conservador-reacionário, fundado no combate à corrupção, na manipulação dos conceitos de ética, liberdade e democracia, na renúncia ao projeto de construção de um país independente economicamente e soberano politicamente.
Cumpre-lhe (1) criar as condições subjetivas para o golpe (de que a direita lança mão sempre que se vê ameaçada em seus interesses) e, (2) na sequência, legitimá-lo, mediante a construção autônoma da narrativa: em 2016 (contra o lulismo), como em 1954 (contra Vargas, o homem e o que ele representava), como contra Juscelino Kubitschek nos idos do desenvolvimentismo (1956-1961), como na preparação de 1964, contra o homem João Goulart e o que ele representava de promessa de desenvolvimento nacional autônomo, distribuição de renda e de emergência das massas, o eterno fantasma a povoar os pesadelos das classes dominantes.
Não há nada de novo sob o céu.
A partir do governo constitucional e democrático de Vargas (1951-1954) e até a derrocada do lulismo (2003-2016) registra-se o avanço do pensamento de centro-esquerda, caracterizado pela emergência das massas associada ao projeto de desenvolvimento nacional autônomo, teses inaceitáveis para a direita brasileira, sobretudo pelas chamadas “elites” econômicas, rentistas, encasteladas na Avenida Paulista, de onde comandam a sonegação de impostos, a corrupção e o suborno. Seguem-se os golpes e a mesma justificativa: o combate à corrupção.
A vitoriosa campanha contra Vargas (1954) centrava-se na denúncia de um “mar de lama” que correria nos inexistentes “porões” do Palácio do Catete, sede do governo.
O quinquênio de Juscelino foi anatematizado como reino da corrupção, desde o primeiro dia, e voltou a ser alvo de inquéritos na ditadura militar. Nada, porém, como no caso de Vargas, seria comprovado, mas o presidente, cuja posse fôra contestada pelos militares em uma tentativa de golpe (novembro de 1955), teve de enfrentar dois levantes militares e cerca de 10 pedidos de impeachment. Seu sucessor, o candidato da direita, Jânio Quadros, o efêmero, carregava como símbolo de campanha uma vassoura e como mote “acabar com a roubalheira”.
João Goulart já era combatido, como “corrupto” e chefe de “pelegos” desde seu tempo de ministro do Trabalho (1953-1954) e desde sempre acusado de “populista” pois seu grande “crime”, insusceptível de sursis, era ser “o herdeiro de Vargas”, o cadáver que resistia à morte política. Em seu governo avançaram os esforços visando à emergência das massas e à efetivação de uma politica externa independente, herdada,  alias,  de seu antecessor, e exatamente por essa razão incompatibilizado com as correntes mais reacionárias de seu bloco de apoio. A longa campanha contra Jango (iniciada mesmo contra sua posse, que os militares tentaram impedir em 1961) acusava seu governo de subversivo e corrupto.
A denúncia da corrupção é o aríete sempre usado, até aqui com sucesso, pela direita brasileira, para inviabilizar os governos progressistas.
Em 1963, assim como Lula em 2017, Juscelino Kubitscheck aparecia com 43,7% das intenções de voto para as eleições presidenciais de 1965. Tem  início, então, uma grande campanha dos grandes jornais da época (já lá estavam O Globo e o Estadão) acusando o ex-presidente de corrupção. A denúncia, sem provas, mas cheios de “convicção” seus detratores, era um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro, de propriedade do empresário Sebastião Paes de Almeida, alugado por JK. Mas, diziam os detratores, o proprietário real era JK, e o milionário Paes de Almeida um mero ‘laranja’.
Provas? Dona Sara, esposa de JK, havia sido vista no apartamento durante as obras e presidira a decoração. Implantado o golpe de 1964, JK foi humilhado em inumeráveis inquéritos dirigidos por coronéis sem história, e foi cassado. E as eleições diretas de 1965 se transformaram nas indiretas de 1985.
A campanha contra JK nos ajuda a compreender a onda de ódio e intolerância, de ódio de toda sorte, de ódios vítreos e de ódios hepáticos, de ódio mesmo, puro ódio, como aquele que se alimenta no preconceito e na irracionalidade, o ódio de classe e o ódio que simplesmente não se explica, mas sempre um ódio mortal, violento e virulento, que procura destruir com, o político, o símbolo, o líder, o grande eleitor, e, se necessário, o homem.
Se a arma da direita é, sempre foi, o golpe de Estado e a ditadura, não há, porém, para o povo, para os trabalhadores, para o país, para a política e para a economia, alternativa fora da democracia representativa. Não há saída fora das eleições, que, ao invés de esvaziar ou pôr em questão,  devemos defender com unhas e dentes, com a consciência de que estaremos defendendo a única saída de que dispomos.
Roberto Amaral

Paulo Pimenta e Wadih Damous X Duplo Expresso - E nosso país não seria mais importante?

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Requião, estarrecido: Traidores no congresso entregam até nosso espaço aéreo aos Estados Unidos

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STF deu 1º passo para dar habeas corpus a Lula

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Ex-ministra do STJ diz que juízes acham “inconstitucional” serem investigado OS NOVOS DEUSES!

Ex-ministra do STJ diz que juízes acham “inconstitucional” serem investigado

A ministra Eliana Calmon , ex-ministra do  Superior Tribunal de Justiça e ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça, disse ontem que os advogados dos réus da corporação dos juízes da Lava Jato não denunciam abusos cometidos sobre seus clientes, para não sofrer retaliações e que juiz acha “inconstitucional” ser investigado por aumento do patrimônio.
Assista ao vídeo gravado pelo site jurídico Migalhas.com onde ela fala de como os advogados dos réus não denunciam abusos para não ficarem “queimados”com o juízes e de como existe uma blindagem ao controle da evolução patrimonial dos magistrados.

Esquerda limitada, extrema direita avançando: um mundo à deriva



Esquerda limitada, extrema direita avançando: um mundo
à deriva. Por Marcos Nunes

 
Entre outros, o filósofo esloveno Slavoj Žižek afirmou algo que muitos percebem, por óbvio: no mundo democrático ocidental, quando um partido de esquerda vence eleições, sua missão, posta pelo mundo corporativo financeiro, passa a ser a mesma de qualquer partido de direita, isto é, administrar as crises do capitalismo, sendo mais fácil à esquerda implementar programas antipopulares justamente por… contar com o apoio popular.
Obviamente, por executar um programa quase inteiramente ao avesso (se não inteiramente) ao seu programa, e principalmente às promessas eleitorais, o partido de esquerda (ou que se diz à esquerda) cai em descrédito. Um caso notável, e recente, é o de François Hollande que, no governo, desempenhou o mesmo papel que a direita desempenharia no governo, submetendo-se aos imperativos do capital.
Isso abre a perspectiva da extrema-direita, fundada em um pretenso nacionalismo, e mais pretensa ainda proteção dos “legítimos” integrantes da nação contra a razia do mercado financeiro e, principalmente, contra os imigrantes. De um lado, uma política dita “racial” de caráter xenófobo; do outro, uma hipócrita denúncia dos males do capitalismo financeiro, que nada faz, na verdade, para mitigar.
A citação de Hollande não foi gratuita. Este texto se inspira no filme de 2017, À la derive, dirigido por Philippe Venault, diretamente para a televisão.
Trata-se de obra engajada, que tem a força de um manifesto, de um panfleto, contra o avanço da extrema-direita na França, que se deu nos últimos 15 anos (recordemos que Jacques Chirac só se elegeu para o período 2002/2007 depois de contar com o apoio da esquerda, diante do mal maior que seria a eleição de Jean-Marie Le Pen, do partido Frente Nacional, de extrema-direita), a partir de um olhar local: a pequena cidade (fictícia) de Villefrance, obviamente denominada para exemplificar um fenômeno que se estende por todo o país: primeiro, o fracasso da esquerda representada por Hollande; depois, o avanço da extrema-esquerda, hoje capitaneada por Marine Le Pen, presenteada por Hollande com vastos setores da classe média-média e baixa francesa, em razão das más políticas, ou ausência de boas políticas, tocadas pela esquerda representada pelo Partido Socialista francês (há o partido Comunista mas, como no Brasil suas chances de êxito são sempre diminutas; lá, como aqui, a população é rançosamente conservadora).
Não esqueçamos que, nas últimas eleições presidenciais francesas, mais uma vez a extrema-direita foi ao segundo turno, sofrendo derrota com a repetição do apoio da esquerda para Emmanuel Macron, conservador e de direita, não por acaso ministro do malfadado François Hollande, e a bordo de um “partido novo” – lá como aqui, mais uma vez, uma sigla é lançada para representar a renovação da política, mas traz os mesmos velhos programas sob a roupagem de uma juventude que não apenas nasceu velha, como é o caso de Emmanuel Macron, que, menos por acaso ainda, tem fixação amorosa por mulheres mais maduras, tendo por esposa Brigitte Macron, 24 anos mais velha que ele.
Voltemos ao filme: nele, um operário, que começa liderando uma greve contrária ao fechamento de uma empresa local, que fabrica bolsas e malas, visando manter dezenas de empregos, protegendo a economia da cidade, apoia, para o governo da municipalidade, um candidato de esquerda, que vence as eleições, prometendo amparo à causa e continuidade da empresa, à revelia das intenções patronais de transferir a fábrica para a China – isto para produzir os mesmos itens com um custo reduzido em apenas 50 centavos por peça.
Cabestany, o candidato da esquerda, vence as eleições, mas a greve fracassa, bem como qualquer gestão do prefeito a favor da manutenção da fábrica, segundo ele, por impossível vencer as ordens que partem de Bruxelas, isto é, do governo central da Comunidade Econômica Europeia. Resta a resignação diante da derrota para o prefeito, derrota essa menos trágico pois, afinal, ele vencera as eleições.
Ao líder operário, Jêrome, restará o desemprego, o casamento com Audrey em risco (incialmente por questões apenas econômicas, que se desdobram em crise existencial e depressão), e a amizade com Driss, argelino que partilhou com ele os estudos, e que agora é desenhista talentoso, que ilustra livros infantis e charges políticas.
Com o casamento desfeito depois de reagir com violência a uma brincadeira desastrada do filho (a esposa Audrey tem no passado más lembranças de violência doméstica pelo pai, um homem conservador que, mais adiante, se aliará à extrema-direita, depois de ter apenas votado a favor dela nas últimas eleições), Jêrome vai morar, provisoriamente, com Driss, que, anteriormente, abandonara junto com ele um emprego de segurança de supermercado, depois que um gerente racista admoestou o argelino por suas características étnicas.
Desiludido com a esquerda local, Jêrome é seduzido pela extrema-direita, que lhe conseguir um emprego de operário da construção civil, permitindo-lhe pagar dívidas e alugar imóvel próprio. Apoia a candidatura do político de extrema-direita local nas eleições seguintes, vencida por ele, subindo, então, à condição de conselheiro municipal.
Defende o partido por ele ter, supostamente, abandonado a plataforma racista, com foco em segurança e gestão econômica (mais uma vez a exemplo do Brasil, a extrema-direita francesa avulta a insegurança pública causada pelo desemprego, este sob a responsabilidade principal do universo das finanças, seduzindo a população contra os inimigos mais visíveis, enquanto, por outro lado, aproveita-se do Estado para obter vantagens pessoais, incluídas as propinas destinadas a paraísos fiscais, tudo sob o álibi de um nacionalismo tão extremado quanto mentiroso, mais uma vez, o nacionalismo como último refúgio do canalha).
O caminho trilhado por Jêrome, de operário engajado e simpatizante da esquerda (sem atuação partidária, contudo), para militante e inocente útil para uma extrema-direita que usa o lumpemproletariado como massa de manobra para atingir seus fins de poder, também repete o de muitos brasileiros desencantados com a esquerda, e que rumaram para a absurdidade que é a figura pública, política e individual de algo canhestro como Jair Bolsonaro, cujos objetivos são os mesmos desde que ingressou no universo da política institucional: adquirir privilégios e renda além de suas possibilidades intelectuais (pois trata-se de um tosco, sem qualquer qualificação).
Por fim, trilhando o caminho inverso de sua própria existência, ainda que acidentalmente, Jêrome mata seu velho amigo Driss que, também, nesse meio tempo, havia encetado relação amorosa com Audrey (o casal, também em meio ao caminho de Jêrome da esquerda para a direita, havia se divorciado).
A lição explícita do filme, ao final, se dá quando Jêrome, aguardando, preso, seu julgamento, recebe visita do filho (que há pouco havia também sido manipulado pelo prefeito de extrema-direita, forjando uma falsa acusação de tráfico de drogas pelo assassinado Driss, reforçando o preconceito contra árabes, por ingressos, fatidicamente, no universo da criminalidade), incitando-o a estudar. “Aprenda!”, repete ele ao filho, obviamente para que ele não repetisse seus próprios erros e não caísse na sedução da extrema-direita.
Aprender com a história, reconhecer a verdade encoberta pelas aparências, não se deixar enganar e seduzir tão facilmente por um canto que parece ser de um sabiá, mas, quando se chega perto, vê-se uma ave de rapina.
Nisso estamos, não apenas no Brasil (vivo repetindo isso), mas no mundo inteiro: populações que não encontram, na esquerda, força e representatividade o bastante para continuar a apoiando e dela fazendo parte cedendo aos argumentos xenófobos da extrema-esquerda, ao anticomunismo feroz, ao anticapitalismo de fachada, sem perceber que os objetivos dessa linha política em nada coadunam com os interesses dessas populações, e que, na verdade, tem por aliados verdadeiros o próprio universo das finanças, dos proprietários dos meios de produção, que pagam por suas campanhas políticas e garantem sua existência em alto padrão burguês.
Ratificando o quadro semelhante ao francês, no Brasil corre-se o risco de, em havendo eleições para presidente em 2018, nos vermos diante de um candidato de extrema-esquerda ter, no segundo turno, um candidato de direita. Ao menos isso é que, embevecidos, projetam os líderes da direita brasileira (isto é, o PSDB, que de social-democrata não tem sequer o verniz), segundo o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Que esse quadro não chegue à parede, pois nos trará muito mais do que apenas dor.

Encontro com Temer fragiliza ainda mais Cármen Lúcia no STF

Encontro com Temer fragiliza ainda mais Cármen Lúcia no STF

Cármen Lúcia jamais teve uma liderança real no Supremo Tribunal Federal, antes de cair-lhe ao colo a liderança formal que a presidência da corte lhe dá.
Teve um ou outro momento de brilho – sobretudo no caso da liberação de biografias não-autorizadas – mas foi, em geral, presença discreta e silenciosa nas questões julgadas no STF.
Sua falta de comando evidenciou-se, mais do que em qualquer outro momento, no julgamento sobre a suspensão do exercício do mandato de Aécio Neves, quando proferiu um voto confuso, no qual não teve a coragem de perder com a minoria e foi contestada pelos dois lados: tanto por quem defendia a incompetência do Supremo para impedir o exercício de um mandato parlamentar quanto pelo próprio ministro Luís Edson Fachin, que sustentava o oposto e foi derrotado.
Ao receber Michel Temer em sua casa, na mesma semana em que o ocupante do Planalto encara duas decisões amargas de seus pares (e ambos parte de seu fraco apoio interno: o próprio Fachin, figura diminuta, e Luis Roberto Barroso, uma mariposa jurídica), a presidente do STF se enfraqueceu de uma forma que não poderia ter feito.
É evidente que o encontro privado e domiciliar  com o presidente investigado, ainda que possa ter sido pedido com o argumento de que se trataria da intervenção do Rio de Janeiro, teve outros objetivos, ainda que cerimoniosamente tratados. O que é cerimonioso, porém, precisa de olhos que o observem, sob pena de suspeitar-se nele cumplicidade.
Pode-se argumentar, com razão, que é tema que exige entendimento entre quem ordena a intervenção e quem a legitima juridicamente. Mas, manifesto o desejo de expor as condições em que se realiza a ação excepcional de intervenção, a presidente do STF só se engrandeceria ao atender ao pedido no próprio Supremo e com a presença de seus pares.
Se não o fez, denota um de  dois desejos: ou de se pretender “dona”, que não é, da vontade do Tribunal ou,  o de obter apoio interno da “bancada do Temer” no Supremo. Em qualquer hipótese, um tiro no pé, pois a leitura é a da cooptação.
Porque, a qualquer olho míope que seja, a visita do presidente neste sábado é tão natural quanto as pedaladas que ele deu, para as câmaras de TV, hoje, no Palácio do Jaburu, nas quais só faltaram as “rodinhas”, de tão à vontade que estava.
As cenas de marketing são semelhantes no ridículo e no inócuo.
Mas revelam que ambos, Temer e Cármen, cuidam mais de não cair do que de andar para a frente.