sábado, 3 de maio de 2014

Governando para os ricos

Rubens Nóbrega























A coluna é basicamente uma crônica política, que se diferencia da análise política clássica por não se prender ao factual nem à ordem ou pauta do dia. Contato com o colunista: rubensnobrega@uol.com.br























‘Governando para os ricos’

Deixou-me estarrecido uma coisa que li no mais recente Fisco em Dia, boletim do Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado da Paraíba (SindifiscoPB) publicado aos domingos neste jornal. Na edição válida para a semana de 17 a 23 deste fevereiro, sob o título que dá título à coluna de hoje, a entidade denuncia que “para agraciar grandes empresas, o governador Ricardo Coutinho (PSB) abriu mão de arrecadar, através de renúncia fiscal, aproximadamente R$ 5 bilhões”.
A denúncia é grave, muito grave, gravíssima. Tanto pela montanha de dinheiro envolvido quanto pela credibilidade do denunciante: nada menos que o sindicato representativo de uma categoria de servidor que tem como missão principal justamente, precisamente, a arrecadação de impostos que formam a principal fonte de receita do Estado da Paraíba. Para ter uma ideia mais abrangente do que essa renúncia fiscal representa para os cofres públicos, fundamental reproduzir o complemento do texto do SindifiscoPB. Confiram:
- Enquanto prioriza benesses e regalias aos grandes empresários, para o pequeno empreendedor, através do programa Empreender-PB, o governo investiu menos de R$ 50 milhões, equivalente a cerca de 1% do prejuízo ocasionado com a renúncia fiscal. Esse é o governo voltado para os ricos e de costas para a Paraíba e para as classes menos favorecidas. Por essas e outras, a Paraíba vive hoje um completo atraso.

Motivos de sobra para romper
Se o senador Cássio ainda estiver procurando motivos para justificar o rompimento da aliança com o governador, vai uma dica: eles são facilmente encontráveis no embate da realidade da Paraíba com a milionária propaganda bancada pelo erário para vender a imagem do chefe como o governante mais operoso e realizador da história. Basta ver o que aconteceu nos últimos três anos com a educação, a saúde, a segurança pública... Que obras, programas ou ações de governo resultaram em melhoria efetiva, palpável, mensurável da qualidade de vida do povo paraibano ou da própria qualidade dos serviços públicos de responsabilidade do Estado?

Até se o comércio vende mais...
Como se não bastasse divulgar como suas inúmeras obras que recebeu projetadas, com recursos assegurados e em caixa, outras já iniciadas, em andamento, licitadas e até concluídas por antecessores, o nosso governador não se peja de assumir como seus resultados alheios ao próprio poder público. Outro dia, por exemplo, Sua Majestade referiu-se a crescimento sazonal do comércio varejista ou do nível de emprego como se fosse realização de seu governo, como se nada disso tivesse a ver com a iniciativa privada paraibana e a fatores conjunturais de alcance nacional que por óbvio respondem pelo crescimento, mesmo pouco ou insuficiente, do Brasil como um todo.

A conta dos R$ 6 bi não fecha

Não admira que o nosso soberano insista em convencer a população de que ele, a excelsa pessoa dele, e não o Estado, com o dinheiro do contribuinte, estaria investindo R$ 6 bilhões na Paraíba. Já mostrei mais a de uma vez que a soma não bate com informações fornecidas pelo próprio governo. Ao Sagres, por exemplo, que é a ferramenta do Tribunal de Contas do Estado (TCE) onde estão armazenados os números de receitas, despesas e aplicações do dinheiro público confiado ao governador e aos prefeitos. E agora, corroborando dados e argumentos do colunista, temos “a palavra mais certa pra doutor não reclamar”, da fonte mais gabaritada para cuidar do assunto. Trata-se mais uma vez do SindifiscoPB, que no seu último Fisco em Dia publicou também a nota a seguir reproduzida.

‘Mentindo com dinheiro público’

“Desde o início da atual gestão, em 2011, o governo Ricardo Coutinho (PSB) gastou mais de R$ 100 milhões do dinheiro público divulgando mentiras, na tentativa de enganar a população sobre investimentos na Paraíba. O governador Ricardo Coutinho insiste em propagandear que investiu R$ 6 bilhões em sua gestão, quando a verdade é que de acordo com o Sistema Sagres do Tribunal de Contas da Paraíba, o investimento com recursos do Estado foi da ordem de R$ 1,34 bilhão, ou seja, pouco mais de R$ 440 milhões por ano, muitíssimo abaixo das necessidades do Estado e do alardeado pelo governador. Quem investiu algo parecido com o que diz a propaganda do Governo do Estado foi o Governo Federal, com recursos da ordem de R$ 6,4 bilhões, não aplicando mais na Paraíba devido à incompetência da gestão estadual em apresentar projetos”. (Do Fisco em Dia nº 8, Ano XVII, disponível em sindifiscopb.org.br).

Vitória dos procuradores no TJ
Os procuradores de carreira do Estado venceram ontem mais uma batalha importantíssima na guerra que travam em defesa de suas prerrogativas. Graças a uma ação ajuizada pela Aspas, a associação representativa da categoria, o Tribunal de Justiça da Paraíba reconheceu por unanimidade a inconstitucionalidade de dispositivo de lei complementar que regulamenta a estrutura da Polícia Militar do Estado e permitia atribuir a comissionados competências típicas dos procuradores efetivos. Com isso, além de decretar a extinção da Procuradoria Jurídica da PM, o TJPB desmontou mais um cabide de emprego onde desde 2008 os nossos governadores costumam pendurar afilhados políticos ou cabos eleitorais que tenham diploma de bacharel em Direito. 

A HUMANIDADE NA BEIRA DO ABISMO

A HUMANIDADE NA BEIRA DO ABISMO
Miguel Urbano Rodrigues
A Humanidade está sendo empurrada para a beira do abismo. Desde a chamada crise dos mísseis, em 1962, nunca foi tão transparente o perigo de uma guerra que poderia levar à sua destruição. A responsabilidade cabe ao imperialismo e prioritariamente ao sistema de poder dos Estados Unidos, a potência que o hegemoniza, aspirando à dominação planetária.
O foco da crise localiza-se hoje na Ucrânia. Partidos e organizações neofascistas instalaram-se no poder em Kiev com o apoio e o aplauso de Washington e da maioria dos governos da União Europeia.
Após os acontecimentos da Crimeia, a campanha contra a Rússia intensificou-se, assumindo uma amplitude extraordinária. Sucessivos pacotes de sanções, aprovados pelo presidente Obama e pelos seus aliados europeus, atingiram aquele país, acusado de crimes que não cometeu e de mirabolantes projetos agressivos. São, aliás, sanções inéditas que visam personalidades e empresas, tão absurdas que Putin as qualificou de "repugnantes".
Na ofensiva em curso, Obama e aliados repetem diariamente que é preciso "travar a Rússia" porque ela se prepara para invadir a Ucrânia e anexar as suas províncias do Leste, maioritariamente russófonas, que exigem uma maior autonomia. Mas não apresentam provas dessas supostas intenções.
Um gigantesco coro desinformativo, montado pela grande mídia internacional, funciona como complemento da campanha anti-russa. Cadeias de televisão, jornais e rádios do Ocidente fazem a apologia dos "governantes democratas de Kiev" e apresentam como bandoleiros e terroristas os grupos armados que não lhe reconhecem legitimidade.
Cabe lembrar que o Parlamento de Kiev exibe com despudor a sua simpatia pelo fascismo, debatendo um projeto que suprime o feriado do 9 de Maio, comemorativo do "Dia da Vitória" que assinalou o final da Segunda Guerra Mundial, após a tomada de Berlim pelo exército vermelho.
Neste contexto explosivo, a OTAN já reforçou o seu dispositivo militar na Polônia e enviou para ali aviões de combate.
O atentado contra o presidente da Câmara Municipal de Kharkov, favorável à autonomia das províncias russófonas, inseriu-se na série de ações terroristas promovidas por bandos de arruaceiros, armados e financiados por organizações ocidentais.
Michel Chossudovsky revelou pormenores chocantes da intervenção militar indireta dos EUA no sudeste ucraniano. Segundo ele, uns 150 mercenários norte-americanos da empresa dita de "segurança" Greystone Ltda., com sede em Barbados, semeiam a violência no território, com o objetivo de semear o caos. Sergei Lavrov, o ministro dos Estrangeiros da Rússia, confirmou a informação.
Os governos da Polônia e das repúblicas bálticas lançam achas na fogueira, empenhados em empurrar os EUA para um choque frontal com a Rússia.
Não é de estranhar que a extrema-direita europeia acompanhe com entusiasmo o agravamento da crise. Segundo as últimas sondagens, os partidos neofascistas da França, da Inglaterra, da Holanda, da Áustria, da Suécia, da Itália e da Bélgica serão beneficiados nas próximas eleições para o Parlamento Europeu pela atmosfera de violência que envolve a crise ucraniana. O secretário-geral cessante da OTAN, cão de guarda do imperialismo, aprofundou o seu discurso bélico.
Nunca desde 1962, repito, o perigo de uma guerra, que seria uma tragédia para a Humanidade, foi tão real. A angústia das populações russófonas do sudeste ucraniano é compreensível. Mas os seus apelos à solidariedade da Rússia não ajudam a resolver a crise. Pelo contrário.
Não creio também que seja positivo o alarmismo de prestigiados intelectuais anti-imperialistas - James Petras e Paul Craig são dois exemplos - que admitem já a iminência de uma terceira guerra mundial, com recurso eventual a armas nucleares.
Do imperialismo norte-americano pode-se sempre esperar o pior. O desenvolvimento e o desfecho da explosiva situação criada na Ucrânia são imprevisíveis. Mas a força mais poderosa capaz de impedir uma guerra apocalíptica é a luta dos povos em defesa da Paz.
Somente milhões de homens e mulheres tomando as ruas em dezenas de países para condenar a guerra podem contribuir decisivamente para conter a loucura imperialista.
Tomar consciência dessa realidade é muito difícil. Esbarra com tremendos obstáculos. Mas é uma exigência de defesa da Humanidade.
*Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português, editor de O Diário.info