sexta-feira, 14 de abril de 2017

A FARSA ACABOU. É HORA DA POLÍTICA

A farsa acabou. É hora da política

Paulo Moreira Leite


Num país que desde 2005, data das primeiras denúncias da AP 470, assiste à criminalização da política e dos políticos, a lista de Edson Fachin – 8 ministros, 24 senadores, 39 deputados federais , 3 governadores – confirma aquilo que sempre se soube ou pelo menos sempre se imaginou.

As denúncias de desvios de recursos, abusos e corrupção pura e simples atingem (quase) tudo e (quase) todos, em especial aqueles que assumiram o poder de Estado a partir do impeachment de Dilma Rousseff.

Não se pode deixar de registrar que até agora nenhuma denúncia criminal chegou a  Dilma, afastada por um condomínio de conspiradores – apanhados em flagrante na lista de Fachin – reunidos para derrubar seu governo entre abril-agosto de 2016.

É uma lição vergonhosa – e um alerta precioso – a todos aqueles que, sem apoio no voto popular, se utilizaram da judicialização como instrumento político e, pela mentira ao povo e pela traição à democracia, ganharam acesso aos gabinetes que operam o poder do Estado brasileiro.

O melancólico destino do mensalão PSDB-MG, que até agora não apurou nem condenou nenhum acusado de boa plumagem, embora seja mais antigo do que a versão do mesmo esquema que levou à prisão o antigo núcleo dirigente do Partido dos Trabalhadores, sempre será uma advertência antiga, didática e indispensável. Confirma que, chamada a funcionar em ambiente de grande espetáculo, por trás das cortinas, a Justiça costuma ser aplicada  para proteger amigos e perseguir inimigos.

No mesmo caminho, no momento em que se aproximava do governo Temer, o TSE foi colocado em férias coletivas.

Com oito ministros e uma porção luminosa de sua base parlamentar na lista, inclusive os presidentes da Câmara e do Senado, a permanência de Michel Temer à frente do Estado brasileiro ameaça tornar-se uma impossibilidade prática.

Desde o aliado principal, Eduardo Cunha, poupado até o momento em que cumpriu a tarefa de encaminhar o impeachment contra Dilma Rousseff, os pilares de sustentação estão desmoronando, um a um.

Incapaz de aceitar o caráter de seu governo, nascido para ser transitório, Temer apenas agrava a própria situação quando multiplica iniciativas destrutivas, do ponto de vista das conquistas da população brasileira, e temerárias, do ponto de vista da democracia, imaginando que irá salvar-se em seminários entre Washington e Nova York.

Numa hora em que as máscaras caem e a farsa se desfaz, a prioridade absoluta é retornar à política, a partir da compreensão de que não há saída fora do respeito a soberania popular.  Não custa lembrar sempre. Com todos os seus defeitos a democracia é preferível às ditaduras, de qualquer tipo – inclusive um estado de exceção judicial.

Nos próximos dias, a lista de Fachin deve animar o debate em torno de ideias para tirar o país de uma crise cada vez mais grave. Não há muito para inovar nem é preciso distribuir prêmios de originalidade. Basta permitir ao povo escolher, em urna, quem irá governar o país em futuro breve.

Os brasileiros e brasileiros manifestam essa vontade com clareza e veemência sempre que são perguntados.

É hora de discutir como devem ser atendidos.


Coreia do Norte diz estar 'pronta para reagir' em caso de ataques dos EUA


Coreia do Norte diz estar 'pronta para reagir' em caso de ataques dos EUA


Washington enviou porta-aviões e navios militares para costa da península coreana; Pyongyang diz que 'imprudentes movimentos norte-americanos para invadir a Coreia do Norte chegaram a uma fase séria'
A elevada tensão entre os governos dos Estados Unidos e da Coreia do Norte teve um novo capítulo nesta terça-feira (11/04) com uma ameaça do presidente norte-americano, Donald Trump, e a resposta de Pyongyang.

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"A Coreia do Norte está procurando por problemas. Se a China decidir ajudar, será ótimo. Se não, nós resolveremos o problema sem eles! EUA", escreveu Trump em sua conta no Twitter. O posicionamento adotado foi o mesmo da última semana, quando o mandatário recebeu o presidente chinês, Xi Jinping, e exigiu uma postura de controle maior dos chineses sobre os norte-coreanos.

Por sua vez, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pyongyang afirmou à KCNA, emissora oficial do país, que a Coreia do Norte está pronta para responder às "ações ofensivas" feitas pelo governo Trump.

A fala foi uma resposta sobre o posicionamento do porta-aviões Carl Vinson, de propulsão nuclear, e os destroyers Aegis na costa da península coreana, ordenada por Washington no fim de semana.

Segundo a entrevista dada à KCNA, o deslocamento dos navios comprova "que os imprudentes movimentos norte-americanos para invadir a Coreia do Norte chegaram a uma fase séria".
Agência Efe / Arquivo

O presidente norte-coreano, Kim Jong-un; Pyongyang se diz 'pronta para reagir' a ataques dos EUA

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"Se os EUA optarem por uma ação miltar, como um 'ataque preventivo' e a 'remoção do quartel general', a Coreia do Norte estará pronta para reagir a qualquer tipo de guerra desejada pelos EUA", concluiu.

Porta-aviões

O Carl Vinson e os destroyers estavam em Cingapura e deveriam seguir caminho para a Austrália. Eles estão na região para fazer uma série de treinamentos, segundo o Pentágono, desde fevereiro.

No entanto, no fim do sábado (08/04), sob ordens de Washington, eles alteraram suas rotas e estão se encaminhando para a costa da península coreana como uma resposta aos constantes testes de mísseis feitos sob as ordens de Kim Jong-un, presidente da Coreia do Norte.

No domingo (09/04), a emissora KCNA divulgou uma nota do governo norte-coreano que afirmava que o recente ataque dos EUA na Síria era a prova de que eles estavam corretos em "ter, desenvolver e aumentar seu arsenal atômico".

Terroristas planejam usar armas químicas na Síria para poder culpar Assad de novo, diz Putin

Terroristas planejam usar armas químicas na Síria para poder culpar Assad de novo, diz Putin

"Temos informações de diferentes fontes de que similares provocações, e não as posso chamar de outra forma, são preparadas em outras regiões da Síria, incluído arredores de Damasco", disse
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta terça-feira (11/04) que Moscou tem informações de que estão sendo preparadas novas "provocações" relacionadas aos supostos ataques químicos na Síria para culpar o governo de Bashar al-Assad, usando substâncias tóxicas.
"Temos informações de diferentes fontes de que similares provocações, e não as posso chamar de outra forma, são preparadas em outras regiões da Síria, incluído os arredores ao sul de Damasco", disse, após se reunir com o presidente italiano, Sergio Mattarella. "Eles querem fazer uso de algum tipo de substância e culpar as autoridades sírias.”
O chefe da Direção Principal de Operações do Estado-Maior russo, coronel-general Sergei Rudskoy, complementou as informações de Putin e afirmou que o serviço de inteligência do país monitora grupos terroristas envolvidos no conflito da Síria. Eles estariam transportando substâncias tóxicas às regiões de Khan Shaykhun (local do suposto ataque com armas químicas na última semana), Jirah, Ghouta oriental e para o oeste de Aleppo.
Agência Efe

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Putin manifestou a vontade de que as Nações Unidas se envolvam na apuração do suposto ataque, dizendo todos os incidentes com uso de armas químicas devem ser investigados e, só a partir do resultado da investigação, tomar-se uma ação. "Temos intenção de nos dirigirmos oficialmente às correspondentes estruturas da ONU em Haia e pedir que a comunidade internacional investigue minuciosamente esses casos", disse.

O presidente russo disse que a situação criada após o suposto ataque químico na Síria lembra a invasão do Iraque em 2003, "quando os representantes dos EUA no Conselho de Segurança mostraram as supostas armas nucleares achadas no Iraque". "Depois disso, começou a campanha no Iraque, a militar, o que terminou com a destruição do país, um aumento da ameaça terrorista e o surgimento do Estado Islâmico na cena internacional", apontou.

Putin, que qualificou na sexta-feira de "agressão" o ataque perpetrado pelos EUA contra um aeroporto sírio na província de Homs, não deve se reunir hoje com o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, segundo o Kremlin. O responsável pela diplomacia dos EUA deve se encontrar somente com seu homólogo russo, Sergei Lavrov, como inicialmente previsto.

Tillerson, que se propõe pressionar o Kremlin para que retire seu apoio a Damasco, acusou a Rússia de ser responsável "moral" pela morte de perto de cem pessoas. Na opinião de Washington, a Rússia descumpriu sua parte no acordo de eliminação de armas químicas na Síria, que evitou em 2013 uma invasão norte-americana e que foi fixado por Putin e Assad.
(*) Com Efe e Sputnik

PENTÁGONO TREINOU TERRORISTAS NA UTILIZAÇÃO DE ARMAS QUÍMICAS

Pentágono treinou TERRORISTAS NA utilização de armas químicas

 Michel Chossudovsky


A mídia ocidental refuta as suas próprias mentiras. Eles não só confirmam que o Pentágono tem estado treinando terroristas na utilização de armas químicas como também reconhecem a existência de um não muito secreto “plano apoiado pelos EUA para lançar um ataque com armas químicas na Síria e culpar o regime de Assad”.

O Daily Mail de Londres, num artigo de 2013, confirmou a existência de um projeto anglo-americano endossado pela Casa Branca (com a assistência do Qatar) para efetuar um ataque com armas químicas na Síria e atribuir a culpa a Bashar Al Assad.

O artigo seguinte no Mail Online foi publicado e a seguir removido. Note-se o discurso contraditório: “Obama emitiu advertência ao presidente sírio Bashar al Assad”, “Casa Branca dá sinal verde a ataque com armas químicas”.

Esta reportagem no Mail Online publicada em Janeiro de 2013 foi removida a seguir.
A CNN acusa Bashar Al Assad de matar seu próprio povo enquanto reconhece também que os “rebeldes” não só estão na posse de armas químicas como ainda que estes “terroristas moderados” filiados à Al Nusra são treinados na utilização de armas químicas por especialistas contratados pelo Pentágono.

Numa lógica enviesada, o mandato do Pentágono era assegurar que os rebeldes alinhados com a Al Qaeda não adquiririam ou utilizariam ADM, ao realmente treiná-los na utilização de armas químicas (soa contraditório):

“O treino com armas químicas, a realizar-se na Jordânia e na Turquia, envolve como monitorar e proteger estoques de matérias-primas e manusear sítios e materiais com armas, de acordo com as fontes. Alguns dos empreiteiros estão no terreno na Síria trabalhando com os rebeldes para monitorar alguns dos sítios, segundo um dos responsáveis.

A nacionalidade dos treinadores não foi revelada, embora os responsáveis previnam contra a hipótese de serem todos americanos. (CNN , 09/Dezembro/2012).

A reportagem acima, da jornalista premiada Elise Labott, da CNN (relegada para o status de um blog da CNN), refuta numerosas acusações da CNN contra Bashar Al Assad.

E estes são os mesmos terroristas (treinados pelo Pentágono) que são os alegados alvos da campanha de bombardeamento antiterrorista de Washington iniciada por Obama em Agosto de 2014:

“O esquema estabelecido pelo Pentágono em 2012 consistiu em equipar e treinar rebeldes da Al Qaeda na utilização de armas químicas, com o apoio de empreiteiros militares contratados pelo Pentágono – e a seguir sustentar que o governo sírio era responsável por utilizar as ADM contra o povo sírio.”

O que está acontecendo é um cenário diabólico – que é uma parte integrante do planejamento militar – nomeadamente uma situação em que terroristas da oposição aconselhados pelos empreiteiros ocidentais da defesa estão realmente na posse de armas químicas.

Isto não é um exercício de treinamento de rebeldes em não-proliferação. Enquanto o presidente Obama declara que “você será responsabilizado” se “você” (referindo-se ao governo sírio) utilizar armas químicas, o que é contemplado como parte desta operação encoberta é a posse de armas químicas pelos terroristas patrocinados pelos EUA-OTAN, nomeadamente “pelos nossos” operacionais filiados à Al Qaeda, incluindo a Frente Al Nusra, a qual constitui o mais eficaz grupo combatente financiado e treinado pelo ocidente, em grande parte integrado por mercenários estrangeiros. Numa distorção amarga, Jabhat al-Nusra, um “ativo de inteligência” patrocinado pelos EUA, foi colocado recentemente na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado.

O ocidente afirma que vem para resgatar o povo sírio, cujas vidas estão alegadamente ameaçadas por Bashar Al Assad. A verdade é que a aliança militar ocidental não só está apoiando os terroristas, incluindo a Frente Al Nusra, como também disponibilizando armas químicas para a sua “oposição” de forças rebeldes.

A fase seguinte deste cenário diabólico é que as armas químicas nas mãos de operacionais da Al Qaeda serão utilizadas contra civis, o que poderia potencialmente levar toda uma nação a um desastre humanitário.

A questão mais ampla é: quem é uma ameaça para o povo sírio? O governo sírio de Bashar al Assad ou a aliança militar EUA-OTAN-Israel, que está recrutando forças terroristas de “oposição”, as quais estão agora sendo treinadas na utilização de armas químicas.


www.odiario.info 12/04/2017

O GRANDE EMBUSTE REVELADO

O grande embuste revelado

Christopher Black*


Em 2003, com alguns advogados americanos, membros da Associação Nacional de Advogados, tive a oportunidade de viajar à Coreia do Norte, isto é, à República Popular Democrática da Coreia (RPDC), a fim de ter uma experiência em primeira mão desse país, do seu governo socialista e do seu povo.

Este artigo intitulado "O grande embuste revelado" foi publicado ao nosso retorno. O título foi escolhido porque descobrimos que o mito pejorativo da propaganda ocidental sobre a Coreia do Norte é um enorme embuste concebido para esconder as realizações dos norte-coreanos, que conseguiram criar suas próprias condições de desenvolvimento, o seu próprio sistema socioeconômico independente, baseado nos princípios do socialismo, livre do domínio das potências ocidentais.

Durante um dos nossos primeiros jantares em Pyongyang, o nosso anfitrião, Ri Myong Kuk, um advogado, disse em termos apaixonados, em nome do governo, que a força de dissuasão nuclear da RPDC é necessária dadas as ações e ameaças dos EUA e aliados contra o seu país. Isto que ele disse foi reiterado  mais tarde em uma reunião de alto nível com representantes do governo da RPDC, onde foi asseverado que se os americanos assinassem um tratado de paz e um acordo de não-agressão com a RPDC, isso tornaria a ocupação ilegítima e levaria à reunificação da Coreia. Assim, não haveria mais necessidade de armas nucleares.

Encerrou suas palavras afirmando: "é importante que os advogados se reúnam para falar sobre isto, porque os advogados regulam as interações sociais no seio da sociedade e do mundo", e acrescentou que de boa-fé, "o caminho para a paz requer a abertura do coração".

Pareceu-nos então, e é agora evidente, que, em absoluta contradição com o que dizem os meios de comunicação ocidentais, o povo da RPDC quer paz mais do que qualquer outra coisa. Ele quer continuar com as suas vidas e ocupações sem a ameaça constante de ser exterminado pelas armas atômicas dos EUA. Mas, na verdade, por que são ameaçados de serem exterminados e de quem é a culpa? Não é a sua.

Mostraram-nos documentos dos EUA apreendidos durante a guerra da Coreia. Trata-se de provas irrefutáveis de que os EUA tinham planejado atacar a Coreia do Norte em 1950. O ataque foi realizado pelas forças armadas dos EUA e da Coreia do Sul, ajudadas por oficiais do exército japonês, que tinham invadido e ocupado a Coreia anteriormente durante décadas. Os EUA pretenderam então que a defesa e o contra-ataque eram uma "agressão", os meios de comunicação foram manipulados para incentivar as Nações Unidas a apoiar uma "operação policial", eufemismo escolhido para descrever a sua guerra de agressão contra a Coreia do Norte. Isso resultou em três anos de guerra e 3,5 milhões de vítimas coreanas.

Desde então, os EUA ameaçam de guerra iminente e aniquilação.

Em 1950, uma vez que a Rússia não estava presente no Conselho de Segurança, a votação das Nações Unidas a favor da "operação policial" foi ela própria ilegal. Ao abrigo dos regulamentos internos, o quórum no Conselho de Segurança exige a presença de todas as delegações membros. Todos os membros devem estar presentes, caso contrário não pode se realizar a sessão. Os americanos aproveitaram a ocasião do boicote dos russos ao Conselho de Segurança, introduzido para defender a posição da República Popular da China, que deveria ter lugar à mesa do Conselho de Segurança e não o governo derrotado do Kuomintang. Como os americanos se recusaram a conceder esse direito, os russos recusaram sentar-se à mesa até que o governo chinês legítimo o pudesse fazer.

Os americanos aproveitaram esta oportunidade para fazer uma espécie de golpe de estado nas Nações Unidas. Tomando o controlo dos seus mecanismos, utilizaram-nos para os seus próprios interesses. Organizaram-se com os britânicos, os franceses e os chineses do Kuomintang, para apoiar a guerra na Coreia, na ausência dos russos. Os aliados, como os americanos tinham pedido, votaram a favor da guerra contra a Coreia, mas a votação foi inválida e a operação da polícia não foi uma operação de manutenção da paz, nem justificada pelo capítulo VII da carta das Nações Unidas, dado que o artigo 51, estipula que as nações têm o direito de se defender contra qualquer ataque armado – justamente o que tinham de fazer os norte-coreanos. Mas os EUA nunca se preocuparam muito com a legalidade. E não se preocuparam em todo o seu projeto, que era conquistar e ocupar a Coreia do Norte, como um passo para invadir a Manchúria e a Sibéria e a legalidade não ia impedi-los de prosseguir esse caminho.

Muitos ocidentais não têm ideia das destruições infligidas pelos americanos e seus aliados na Coreia. Pyongyang encontrou-se sob um tapete de bombas, civis fugindo à carnificina foram metralhados pelos aviões dos EUA em voos rasantes. O New-York Times escreveu na altura que 17 milhões de toneladas de napalm foram lançadas apenas durante os 20 primeiros meses da guerra na Coreia.

Os EUA deixaram cair uma tonelagem de bombas maior do que o Japão fizera durante a Segunda Guerra Mundial.

As forças armadas dos EUA assassinaram não apenas os membros do partido comunista, mas também as suas famílias. Em Sinchon, vimos evidências que soldados dos EUA obrigaram 500 civis a colocar-se numa vala, regaram-nos com gasolina e queimaram-nos vivos. Estivemos num abrigo com paredes ainda enegrecidos com a carne queimada de 900 civis, incluindo mulheres e crianças que procuravam proteger-se durante um ataque dos EUA. Soldados americanos foram vistos despejar gasolina em aberturas de ventilação do abrigo e fazê-los morrer carbonizados.

Esta é a realidade da ocupação dos EUA para os coreanos. É a realidade que eles ainda temem e não querem mais ver repetida. Podemos censurá-los?

Apesar de todos estes casos, os coreanos estão dispostos a abrir seus corações para seus antigos inimigos. O major Kim Myong Hwan, que na época era o principal negociador em Panmunjom, na linha da DMZ, revelou que seu sonho era ser escritor, poeta, jornalista, mas contou com ar sombrio, como ele e seus cinco irmãos estavam fazendo rondas na linha da zona desmilitarizada, como os soldados, por causa do que aconteceu à sua família. Ele disse que sua luta não era contra os americanos, mas o seu governo. Manteve-se o único de sua família perdida em Sinchon; seu avô tinha sido pendurado num poste e torturado, a avó dele morreu com uma baioneta no estômago. "Veja, nós temos de fazer o que fazemos. Temos de nos defender. Nós não nos opomos aos norte-americanos. Somos contra a política dos EUA e os seus esforços para controlar totalmente o mundo e infligir calamidades aos povos."

A opinião da nossa delegação foi que devido à instabilidade que mantêm na Ásia, os EUA conservam uma presença militar maciça que dificulta as relações entre a China e a Coreia do Sul, a Coreia do Norte e o Japão. Usam sua presença como moeda de troca contra a China e a Rússia. Com a constante pressão no Japão para eliminar as bases dos EUA em Okinawa, as operações militares na Coreia e as manobras de guerra são um aspecto central dos seus esforços visando dominar a região.

A questão não é saber se a RPDC tem armas nucleares, como tem o direito, mas se os EUA – que têm instalações nucleares na península coreana, e que ali instalam atualmente o seu sistema de defesa antimísseis THADD, um sistema que ameaça a segurança da Rússia e da China – estão dispostos a trabalhar com a Coreia do Norte num tratado de paz. Encontramos norte-coreanos ansiosos pela paz e não fazendo questão de manter armas nucleares se a paz puder ser estabelecida. Mas a posição dos EUA continua mais arrogante, agressiva, ameaçadora e perigosa do que nunca.

Na época das "mudança de regime", das "guerras preventivas" e das tentativas dos EUA para desenvolver armas nucleares miniatura, bem como o seu abandono e a sua manipulação do direito internacional, não é surpreendente que a Coreia do Norte, jogue a carta nuclear. Esta escolha foi feita pelos coreanos do Norte desde que os EUA os ameaçam numa base diária com uma guerra nuclear. A Rússia e a China, dois países que a lógica dita apoiar os norte-coreanos contra a agressão norte-americana, se juntarão aos norte-americanos para responsabilizar os coreanos por se terem armado com a única arma que pode atuar como dissuasor de um ataque.

A razão para isto não está clara, uma vez que os russos e os chineses têm armas nucleares e estão equipados para dissuadir qualquer ataque dos EUA, exatamente como fez a Coreia do Norte. Algumas declarações dos governos russo e chinês indicam que eles temem não ter controle da situação, e que as medidas defensivas da Coreia do Norte atraiam um ataque dos EUA e de serem também atacados.

Essa ansiedade é compreensível. Mas isso levanta a questão de saber por que não podem apoiar o direito da Coreia do Norte à autodefesa e exercer pressão sobre os americanos para concluírem um tratado de paz, um acordo de não-agressão e retirar suas forças armadas e nucleares da Península coreana. Mas a grande tragédia é a óbvia incapacidade dos norte-americanos em pensarem por si próprios perante os embustes incessantes e exigir dos seus líderes que sejam esgotados todos os canais de diálogo e restabelecida a paz antes de encarar uma agressão na península coreana.

A base essencial da política da Coreia do Norte é alcançar um pacto de não-agressão e um tratado de paz com os EUA. Os norte-coreanos afirmaram repetidamente que não querem atacar ninguém, nem ferir ninguém, não estão em guerra contra ninguém. Mas eles viram o que aconteceu com a Iugoslávia, o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria e inúmeros outros países, e não têm intenção de serem os próximos. É óbvio que vão defender-se vigorosamente contra qualquer invasão dos EUA e que a nação poderia suportar uma longa e difícil luta.

Em outro lugar da zona desmilitarizada, conhecemos um coronel que tinha instalado um par de binóculos, através do qual conseguimos ver para além da linha divisória entre o norte e o sul. Podemos ver uma parede de cimento construída no lado do Sul, em violação dos acordos de tréguas. O major Kim Myong Hwan disse que aquela estrutura fixa é uma "vergonha para os coreanos que são um povo homogéneo. Um alto-falante transmitia sem interrupção propaganda e música que vinha de alto-falantes do lado sul. Ele disse que esse barulho irritante dura 22 horas por dia. De repente, outro momento surreal, os alto-falantes do bunker começaram a entoar a Abertura Guilherme Tell de Rossini, mais conhecida nos Estados Unidos como o tema do Lone Ranger .

O coronel pediu-nos para ajudar as pessoas a entender o que realmente está acontecendo na Coreia do Norte, em vez de basearem as suas opiniões na desinformação. Disse: "Nós sabemos que, como nós, as pessoas amantes da paz na América têm crianças, parentes, famílias". Dissemos-lhe que tínhamos a missão de ir para casa com uma mensagem de paz e esperamos voltar um dia e andar com ele livremente nestas belas colinas. Fez uma pausa e disse: "Também creio que é possível".

Assim, enquanto o povo da Coreia do Norte espera a paz e a segurança os EUA e seu fantoche no sul da península coreana farão a guerra ocupando-se durante os próximos três meses nos maiores jogos de guerra até agora organizados, com porta-aviões, submarinos carregados de armas atómicas e bombardeiros furtivos, aviões e um grande número de tropas, artilharia e tanques.

A campanha de propaganda atingiu níveis perigosos nos meios de comunicação, que acusam o Norte de ter assassinado um parente do líder da Coreia do Norte na Malásia, ainda que não haja provas e que o Norte não tivesse nenhum motivo para fazê-lo. Os únicos a beneficiar do assassinato são os EUA e os seus meios de comunicação controlados, que usam isso para atiçar a histeria contra Coreia do Norte, que agora teria armas químicas de destruição em massa.

Sim, meus amigos, eles pensam que todos nós nascemos ontem e que não aprendemos nada sobre a natureza do domínio dos EUA e da sua propaganda. Será assim tão espantoso que os norte-coreanos temam que estes 'jogos' de guerra se transformem um dia em realidade e que estes "jogos" não sejam senão a cobertura para um ataque e para criar ao mesmo tempo um clima de terror na população, coreana?

Haveria muitas coisas a dizer sobre a natureza real da RPDC, seus habitantes, seu sistema socioeconômico e sua cultura. Mas não há espaço para isso agora neste texto. Espero que as pessoas sejam capazes de dar-se conta da experiência do nosso grupo. Termino com o último parágrafo do relatório comum que fizemos no retorno da RPDC, e espero que as pessoas o compreendam bem, reflitam e ajam de forma a apelar à paz.

"Aos povos do mundo tem de ser divulgada a história completa acerca do que se passou na Coreia e o papel do nosso governo fomentando desequilíbrios e conflitos. Devem ser tomadas medidas pelos advogados, grupos comunitários e ativistas pela paz e todos os cidadãos do planeta, para impedir o governo dos EUA de levar a cabo uma campanha de propaganda visando apoiar a agressão contra a Coreia do Norte. Os norte-americanos têm sido alvo de um grande embuste. O que está em jogo é muito importante para nos permitimos ser enganados novamente. Esta delegação de paz aprendeu na Coreia do Norte, um elemento importante da verdade essencial nas relações internacionais. É que só com ampla comunicação e negociação, seguida do respeito pelas promessas e profundo compromisso com a paz, se pode – literalmente – poupar o mundo a um sombrio futuro nuclear. A experiência e a verdade nos libertarão da ameaça de guerra. A nossa viagem à Coreia do Norte, este relatório e nosso projeto atual são esforços para nos libertarmos".

* Advogado especialista em direito penal internacional, com escritório em Toronto.


Cerceamento da liberdade na França