sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

As principais notícias desta noite no Brasil 247

 

PARA NÃO ESQUECER – 13 DE JANEIRO, J’ACCUSE!

 PARA NÃO ESQUECER – 13 DE JANEIRO, J’ACCUSE!

(Ernesto Germano)
*
Muitos já esqueceram e outros nem conhecem o caso. Mas é muito importante para conhecer melhor o que deveria ser um jornalismo independente, investigativo e sem estar aliado ao poder.
*
No dia 13 de janeiro de 1898 a França é sacudida por um artigo publicado na primeira página do jornal L’Aurore e redigido por Émile Zola denunciando a armação dos generais franceses para condenar injustamente o então oficial Alfred Drayfyus.
*
O documento de Zola tem a forma de uma carta dirigida ao então presidente francês, Félix Faure. Sem temer repressão, cumprindo o princípio da verdade no jornalismo, ele ataca nominalmente os generais e outros oficiais responsáveis do erro judicial que levou ao processo e à condenação, os especialistas em grafologia culpados de “relatórios mentirosos e fraudulentos”. Ele ainda acusa o exército, culpado de uma campanha de imprensa mentirosa, bem como os dois Conselhos de Guerra: um tendo condenado Dreyfus baseado em uma peça mantida em segredo, enquanto o segundo inocentou sabidamente um culpado. Mas, acima de tudo, ele proclama desde o início a inocência de Dreyfus:
*
“Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. Mes nuits seraient hantées par le spectre de l'innocent qui expie là-bas, dans la plus affreuse des tortures, un crime qu'il n'a pas commis”. (“Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu”.
*
Mas, o que foi o ‘caso Drayfus’?
*
As acusações começam, em primeiro lugar, porque a França já amargava uma derrota e os generais precisavam de um “bode expiatório”. E conseguiram através da interceptação de uma (suposta) carta, em setembro de 1894, cujo conteúdo teria segredos estratégicos. Começou a busca por um culpado e chegaram ao capitão Alfred Dreyfus.
*
Pronto, ele foi acusado de espionagem em favor da Alemanha através de “evidências grafológicas” incorretas e falsificadas. De todo o volumoso dossiê da acusação, somente foi exibido o chamado bordereau, carta supostamente escrita por Dreyfus, endereçada ao adido militar alemão, Schwartzkoppen.
*
Mas, em junho de 1895, o tenente-coronel Picquard tornou-se chefe da Seção de Estatística do Estado-Maior, na realidade encarregada de informações e contraespionagem. Sendo certo que o caso começou a ter uma reviravolta quando “em maio de 1896, Picquard disse ao chefe do Estado-Maior, Boisdeffre, que estava convencido da inocência de Dreyfus e da culpabilidade de um outro oficial, major Walsin-Esterhazy. Seis meses mais tarde, Picquard foi curiosamente removido para um perigoso posto na Tunísia”.
*
Mais tarde o próprio Walsin-Esterhazy foi reformado por crime de peculato e contou a um jornalista inglês, que ele – e não Dreyfus – era o autor da tal carta, tendo forjado a letra de Dreyfus por ordem do coronel Sandherr, seu superior e antigo chefe da Seção de Estatística.
*
Émile Zola faleceu em 29 de setembro de 1902, sem ver o resultado de sua acusação. Apenas em 1906 o Exército francês acabou, admitindo o grande e irreparável erro, reintegrando Alfred Dreyfus, que chegou a receber uma medalha da Legião de Honra. Dreyfus morreu em 1935.
*
Particularmente, sou um apaixonado por Émile Zola e já li quase todos os seus livros (preferência por “Trabalho”, “A besta humana” e “Germinal”), mas nada se compara com a coragem dele ao escrever “J’Accuse!
*
Na primeira imagem, a capa do jornal com o artigo “J’Accuse”. Na segunda, Zola.
6
5 compartilhamentos
Curtir
Comentar
Compartilhar

0 comentários