segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Cai ou não cai?

27/11/2016 14:25 - Copyleft

Cai ou não cai?

Assim que virar o ano, a escolha do próximo presidente será uma questão do TSE. Ele deverá ser eleito pelo Congresso, por meio de eleições indiretas.


Tatiana Carlotti
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“A política tem dessas coisas, esse tipo de pressão”.
 
Sintomática a frase de Michel Temer ao corroborar as falcatruas de Geddel Vieira Lima (ex-secretário geral da Presidência), conforme depoimento de Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura. Ela revela como os golpistas enxergam a prática política.
 
Em meio à crise que atingiu seu governo, Temer, Rodrigo Maia (DEM) e Renan Calheiros (PMDB) darão uma coletiva neste domingo, defendendo o desmonte do país que estão promovendo. E, claro, tentando mostrar força e governabilidade.
 
Vale ler o depoimento de Calero à Polícia Federal e ao Grupo de Inquérito do STF para compreender a corrupção sistêmica e o episódio que, dessa vez, envolve não apenas Geddel, mas o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o próprio decorativo mor da Nação.





 
Calero garante: foi enquadrado por Temer para achar uma “saída” à questão do IPHAN, favorecendo Geddel que desde junho o pressionava para interferir em uma decisão técnica do IPHAN, autorizando a construção do “La Vue Ladeira da Barra”, um empreendimento imobiliário luxuoso, de 24 andares (um por andar), em uma área tombada em Salvador.
 
Daí a necessidade de autorização do IPHAN que acabou aprovando o empreendimento desde que a construção se limitasse 13 andares. Um absurdo para o então poderoso secretário-geral da Presidência, 13 foi pouco para Geddel: “e eu que comprei em andar alto como fico?”, questionou, segundo Calero.
 
O episódio capaz de provocar um “terremoto” no governo, conforme anunciava o jornalista Chico Pinheiro, no Bom Dia Brasil, culminou na demissão de Geddel e na expectativa da gravação da conversa entre Temer e Calero. A PF já pediu abertura de inquérito ao STF que, por sua vez, já encaminhou o pedido à Procuradoria Geral da República.
 
Temer cai ou não cai?
 
Primeiramente...
 
Em cinco atos, a Opera protagonizada pelos golpistas no Planalto:
 
Ato I: As pressões de Geddel para obter autorização do IPHAN começaram em junho deste ano. Em outubro, incisivo, ele pediu que fosse homologada a decisão autorizativa da obra; em novembro, contundente, mandou Calero enquadrar o IPHAN, ameaçando pedir a cabeça da titular do órgão público e falar com o presidente da República.
 
Ato II: Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, telefona a Calero, ciente do assunto, apontando que a questão estava judicializada, portanto, não deveria haver decisão administrativa definitiva a respeito. Ele solicita a Calero que construa uma saída junto à Advocacia Geral da União (AGU). Dias depois, Gustavo Rocha, Secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, pergunta ao ministro (que garante não ter movido uma palha) se a AGU já o havia procurado.
 
Ato III: O procurador-chefe do IPHAN, Heliomar Alencar de Oliveira e um dos procuradores do MINC são chamados na AGU para prestar informações a respeito do processo. Caleiro afirma no depoimento que o órgão tinha por certo que ele havia se manifestado nos autos do processo, com despacho encaminhado a AGU, “o processo para resolução”, que ele sustenta não ter acontecido. Resultado: o IPHAN mantém a redução da quantidade de andares para a construção do empreendimento.
 
Ato IV: Em jantar no Alvorada, Calero conta a Temer e é tranquilizado pelo decorativo. Dias depois, ele é chamado no gabinete presidencial: Temer diz que a decisão do IPHAN havia lhe criado “dificuldades operacionais” e que Geddel estava bastante irritado. Aproveita e pede a Caleiro que construa “uma saída” para que o processo fosse encaminhado à AGU, onde “a ministra Grace Mendonça teria uma solução”. É quando afirma que “a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão”.
 
Ato V: No dia seguinte, Gustavo Rocha comunica a Calero que havia ingressado com recurso da decisão administrativa junto ao MINC e ao IPHAN. O secretário de assuntos jurídicos da Casa Civil pede a Calero que encaminhe os autos do processo à AGU. Ao responder que havia conversado com Temer, ouve de Rocha que este também conversou com o presidente e que seu intuito era que Calero encaminhasse os autos para a AGU. Frente à “insistência do Presidente” em fazer com que ele “interferisse indevidamente no andamento do processo”, Calero pede demissão do cargo, mas com uma carta na manga: afirma ter gravado sua conversa com o decorativo.
 
Se confirmadas nessa gravação as denúncias de Calero, em seis meses e com seis ministros demitidos, Temer poderá ser enquadrado em crime de responsabilidade.
 
Apenas a tentativa de conciliação entre Geddel e Calero, sem nenhuma represália ao ministro da Secretaria Geral que usava o cargo em defesa de seus próprios interesses já é um delito. O que dirá se forem confirmadas as denúncias de Calero.
 
Daí a importância dessas gravações que só podem ser matéria de investigação com a abertura de inquérito sobre o imbróglio.
 
Os desdobramentos agora estão nas mãos da Procuradoria Geral da República que já recebeu o pedido de abertura de inquérito do STF. Enquanto se aguarda a decisão, algumas perguntas:
 
Quem é Calero?
 
Aos 34 anos, Calero foi um ministro impopular de um ministério rebaixado à condição de secretaria. Reagiu mal contra à manifestação dos atores de Aquarius, em Cannes; bateu boca com o público ao ser chamado de golpista. Sua saída triunfal do governo lhe garantiu mídia e aplausos.
 
Próxima liderança ascendente? Diplomata e afilhado político de Eduardo Paes, Calero disputou pelo PSDB uma vaga no Congresso Federal em 2010 e foi secretário de cultura do Rio de Janeiro. Há menos de um ano, ele havia se filiado ao PMDB.
 
Após ser criticado por ter gravado a conversa com Temer, ele divulgou uma nota dizendo não ter pedido a audiência com essa intenção:
 
"Esclareço que isso não ocorreu. Durante minha trajetória na carreira diplomática e política, nunca agi de má fé ou de maneira ardilosa. No episódio que agora se torna público, cumpri minha obrigação como cidadão brasileiro que não compactua com o ilícito e que age respeitando e valorizando as instituições”.
 
O governo Temer, por sua vez, vem tentando tratar o escândalo como um conflito entre ministros. Seu porta-voz, Alexandre Parola afirma que o decorativo “jamais induziu algum deles – Calero e Geddel - a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções”.
 
Sobre a AGU, que Temer buscou resolver o conflito “sugerindo a avaliação jurídica da AGU, que tem competência legal para solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública”.
 
Temer estaria “surpreso” com “boatos” de “supostas gravações”.
 
Como, até agora, só existem a palavra de um depoente, é preciso aguardar a gravação que, curiosamente, ainda não veio à tona. Impossível não comparar episódio com o vazamento da conversa telefônica, autorizada pelo juiz Sérgio Moro, entre os ex-presidentes Lula e Dilma, em março deste ano.
 
Considerando que não houve nenhum crime de responsabilidade atribuído a Dilma, o carnaval realizado com aquele vazamento - incensado nos onlines durante dias, semanas - dá a dimensão da violência e do arbítrio.
 
Reportagem do HuffPost Brasil recorda o episódio: “Aécio quer investigar gravação contra Temer. Mas não foi assim com Dilma e Lula”. O vídeo de Aécio convocando população para o impeachment fala por si: “Vamos juntos, rápido, para o impeachment, é isso o que o Brasil preciso, é isso o que nós vamos fazer”.
 
Desta vez, porém, os tucanos preferiram outra estratégia. Fora da mídia nos últimos dias, os golpistas tucanos que mandam nas decisões econômicas do governo – aliás, o desmonte do país avança - foram almoçar com Temer na última sexta-feira.
 
Publicamente, Aécio afirmou que Calero deveria ser investigado: 
 
“Não acho que seja algo elogiável - se é que isso ocorreu - que um assessor do presidente da República, um ministro de estado, grave uma conversa com um presidente da República porque essa conversa poderia derivar para outros assuntos de Estado. Isso não é usual. Não é adequado."
 
FHC também defendeu o decorativo:
 
“Não há nada pior para um presidente do que ter que dispensar um amigo, mas às vezes não tem jeito”.
 
Aproveitou para bradar a importância das reformas do governo:
 
“Diante da circunstância brasileira, depois do impeachment, o que temos de fazer é atravessar o rio. Isso é uma ponte. Pode ser uma ponte frágil, uma pinguela? Tudo bem. Mas é o que tem. Se você não tiver uma ponte, você cai no rio”.
 
Gilmar Mendes, ministro do STF, também minimizou as acusações de Calero. Disse que as acusações contra Geddel “estão sendo magnificadas”, que “há uma grande confusão” e que a gravação, se for verdadeira, “é um fato que vai para o Guiness”.
 
Achou, inclusive, “inusitado a história de que o ministro teria gravado o presidente da República”. Uma avaliação distinta da que teve em março quando considerou como “correta” a divulgação entre Dilma e Lula em março deste ano. Dois pesos, duas medidas.
 
Outros tucanos também se manifestaram.
 
Geraldo Alckmin e Doria reafirmaram o apoio do PSDB ao presidente Temer. Quanto ao chanceler José Serra, nenhum pio... É sabido, porém, que ele permitiu ao diplomata Calero passar uma temporada no Rio de Janeiro. O jovem, pelo visto, pretende voltar à secretaria de Cultura da capital fluminense.
 
O que há de jogo de cena entre os tucanos será revelado no andar da carruagem. Do acordo com Temer que fizeram na última sexta-feira, apenas a certeza: Temer vai assumir que foi gravado.
 
 
 
 
 
Cai
 
Nem há como fazer o contrário. Marcelo Calero confirmou que tem as gravações. À frente de mais capítulo do golpe, a Rede Globo divulga no Fantástico deste domingo, entrevista com o ex-ministro da Cultura confirmando suas denúncias.
 
Ao longo de toda a semana, o caso Geddel ficou em destaque no Jornal Nacional que cobrou explicitamente a saída do amigo de Temer do governo. Na quinta-feira, deram seis minutos às declarações de Calero contra Temer. No dia seguinte (25.11.2016), a denúncia era incensada já pela manhã, no Bom dia Brasil. No Jornal Nacional daquela noite, foi incluída a forte repercussão internacional do episódio.
 
A reportagem começa afirmando:
 
“Geddel foi o sexto ministro a cair em pouco mais de seis meses de governo, e a saída dele não acaba com o problema criado pelas acusações do ex-ministro da Cultura. Marcelo Calero disse que o presidente Michel Temer e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, sabiam de tudo e que também o pressionaram para encontrar uma solução para o caso”.
 
Vale destacar que em toda a imprensa internacional Temer esteve no centro do escândalo, apontando como acusado de corrupção:
 
Na rede britânica BBC News, a manchete: Brazil presidente Michel Temer accused of corruption (leia a tradução aqui).
 
No New York Times, a manchete: Brazil’s President, Michel Temer, Embroiled in New Corruption Scandal(confira a tradução aqui), apontando o envolvimento de Temer no caso.
 
No Le Monde, Brésil: nouvelle démission d´un ministre, apontando que o escândalo enfraquece o governo Temer e pode levar a um inquérito contra o presidente.
 
No espanhol El País, uma reportagem sobre como o escândalo respinga em Temer: Un caso de tráfico de influencias en Brasil salpica al presidente Temer y fuerza la dimisión de un ministro.
 
No El Clarín argentino: Escándalo en Brasil: acusan a Temer de tráfico de influencias y pedirán un “impeachment”
 
É compreensível por que Donald Trump ainda não telefonou para o presidente Temer. Estarão seus dias contados?
 
Pelo visto, o prazo de validade do decorativo começa a expirar. Assim que virar o ano, a escolha do próximo presidente será uma questão do Tribunal Superior Eleitoral. Ele deverá ser eleito pelo Congresso, por meio de eleições indiretas.
 
Sim, eleições indiretas.
 
Qual a última vez que você ouviu falar sobre isso?


Créditos da foto: .

Fidel Castro, a revolução cubana e a América Latina

26/11/2016 15:01 - Copyleft

Fidel Castro, a revolução cubana e a América Latina

A Revolução Cubana triunfou. O Império Americano tudo tentou. Porém jamais conseguiu destrui-la. E Fidel Castro, ainda que morrendo, continua vivo.


Luiz Alberto Moniz Bandeira*
Quando o ditador Fulgêncio Batista, sem mais condições de manter-se no poder, renunciou durante o reveillon de 1959 e, secretamente, fugiu de Cuba para a República Dominicana, não foi só o seu governo que caiu. Todo o Estado cubano se havia desintegrado e 1959 tornou-se um ano realmente novo. Dias depois, centenas de guerrilheiros barbudos, grande parte de guajiros (trabalhadores do campo), sujos, uniformes rasgados, entraram em Havana, sob o comando de Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Era o clímax de uma jornada, iniciada por apenas 16 sobreviventes, dos 82 revolucionários que desembarcaram do iate Granma, no litoral Cuba, em 2 de dezembro de 1956. Fidel Castro tinha então 30 anos e, durante dois anos, comandou a guerra de guerrilhas, juntamente com seu irmão Raúl Castro, Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos, organizando o Exército Rebelde, que destruiu a ditadura do sargento Fulgencio Batista, respaldada pelos Estados Unidos.
A revolução cubana foi o fato político mais poderoso e o que maior impacto causou na América Latina, ao longo da segunda metade do século XX, não por causa do seu caráter heróico e romântico ou porque o regime implantado por Fidel Castro evoluiu posteriormente para o comunismo, mas porque ela exprimiu dramaticamente as contradições não resolvidas entre os Estados Unidos e os demais países da região. Não foram os comunistas que promoveram a revolução cubana, no contexto da na Guerra Fria. Conquanto alguns de seus líderes, como Ernesto Che Guevara e o próprio Fidel Castro, em pequena medida, acolhessem idéias marxistas, eles não pertenciam a nenhum partido comunista e não era inevitável que a revolução cubana se desenvolvesse a tal ponto de identificar-se com a doutrina comunista e instituísse a sua forma de governo. Com razão, o historiador Thomas Skidmore, da Brown University, apontou Cuba como “um estudo clássico do fenômeno nacionalista”, acrescentando que o povo podia ver o caráter autoritário do regime, mas “o real apelo do regime de Castro era o nacionalismo”. Com efeito, a revolução cubana foi autóctone, teve um caráter nacional e democrático, e a implantação de um regime segundo o modelo dos países do Leste Europeu resultou de uma contingência histórica, não de uma política empreendida pela União Soviética, ma, sim, empreendida pelos Estados Unidos que, sem respeitar os princípios da soberania nacional e autodeterminação dos povos, não aceitaram os atos da revolução, como a reforma agrária, e transformaram contradições de interesses nacionais em um problema do conflito Leste-Oeste.
Em abril de 1959, quatro meses após a tomada do poder em Havana, Fidel Castro esteve em Buenos Aires, a fim de participar conferência do Comitê dos 21, organismo encarregado de estruturar a Operação Pan-Americana, e seu discurso, segundo o então presidente Juscelino Kubitschek, refletiu “melhor do que os demais a tragédia da América Latina”, dada a crueza que ressaltava de suas palavras. Causou “verdadeiro impacto” ao reclamar dos Estados Unidos uma ajuda financeira à América Latina, no valor de US$ 30 milhões. Kubitschek, após conversar com Fidel Castro em Brasília e ter “a oportunidade de conhecer, em profundidade, seu pensamento”, concluiu que ele era “um idealista amargurado, que sofrera na carne as conseqüências do apoio dado pelos Estados Unidos às ditaduras na América Latina”, uma vez que Cuba fora marcada por “longa tradição de tirania” e seu povo, havendo suportado “o garrote do regime de Batista, não conseguia separar a trágica realidade da situação interna do apoio irrestrito de Washington ao opressor do país”.
Ao regressar de Buenos Aires, Fidel Castro passou pelo Rio de Janeiro e fez um discurso na Praça Barão Rio Branco, organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e no qual repetiu basicamente o que dissera em Buenos Aires: “Ni pan sin liberdad ni libertad sin pan”. Lembro-me bem destas suas palavras, pois estava ao seu lado no palanque, na Esplanada do Castelo. E, em Havana, Fidel Castro voltou a reiterar que “la ideología de nuestra revolución es bien clara; no solo ofrecemos a los hombres libertades sino que le ofrecemos pan. No solo le ofrecemos a los hombres pan, sino que le ofrecemos también libertades”. Ao longo do discurso, durante o qual tratou de definir a ideologia da revolução, Castro, após salientar que no mundo se discutiam duas concepções, a que oferecia aos povos democracia e matava-os de fome e a que oferecia pão, mas lhes suprimia as liberdades, afirmou:
Nosotros nos vamos poner a la derecha, no nos vamos poner a la izquierda, ni nos vamos poner en el centro, que nuestra Revolución no es centrista. Nosotros no vamos poner un poco más adelante que la derecha y que la izquierda. Ni a la derecha ni a la izquierda, un paso más allá de la derecha y de la izquierda”.
Em abril de 1960, quando estive em Havana, acompanhando Jânio Quadros, então candidato à presidência do Brasil, vi Fidel Castro mostrar-lhe um crucifixo que trazia pendurado no pescoço, indicando que não era comunista e que respeitava a Igreja. Mas, um ano depois, em 16 de abril de 1961, após o bombardeio dos aeroportos de San Antonio de los Baños, Santiago e Havana pelos aviões da CIA, Fidel Castro, após compará-lo, com justo motivo, ao ataque pérfido e traiçoeiro do Japão a Pearl Harbor, em 1941, declarou que os Estados Unidos não perdoavam Cuba porque “esta es la revolución socialista y democrática de los humildes, con los humildes y para los humildes”.
Ao fazer essa declaração, Fidel Castro buscou comprometer a União Soviética na defesa de Cuba. Ele jogou com o conflito político e ideológico que então eclodira entre Moscou e Pequim e dividira o Bloco Socialista, pois temia que Nikita Kruchiov, na linha coexistência pacífica e em entendimento com John Kennedy, trocasse Cuba por Berlim Ocidental, em prol de melhores relações com os Estados Unidos. A proclamação do caráter socialista da revolução cubana, porém, representou igualmente duro golpe nos dogmas cristalizados por Joseph Stalin e outros líderes comunistas, sob o rótulo de marxismo-leninismo, uma vez que ela fora realizada não por um partido supostamente operário, constituído sob as normas do chamado centralismo-democrático e rotulado de comunista, mas pelo Movimento 26 de Julho, uma organização composta, sobretudo, por elementos das classes médias, que, no curso da guerra de guerrilhas, passaram a incorporar camponeses e trabalhadores rurais, os guajiros, ao Exército Rebelde, em benefício dos quais realizaram a reforma agrária.





De conformidade com a ortodoxia stalinista, Cuba não tinha condições materiais senão para realizar uma revolução agrária e democrática, mediante a instalação de um “governo patriótico”, de união com a burguesia progressista, que se propusesse a impulsionar o processo de industrialização e, libertando o país do domínio imperialista, promover o desenvolvimento econômico e a emancipação nacional. Os dirigentes comunistas, que visitavam Havana, consideravam a revolução em Cuba estranha ao modelo, por eles reconhecido, dado lá não existir um operariado industrial, e julgavam Fidel Castro e seus companheiros um “grupo inexperiente, com formações ideológicas diversas e pouco definidas”, orientados pelo que qualificaram como “marxismo amador, ou melhor ainda, como cubanismo”. Ouvi quando Luiz Carlos Prestes, então secretário-geral do PCB, qualificou Fidel Castro como “aventureiro”, em entrevista à imprensa do Rio de Janeiro, em 1959.
Mas o nacionalismo representou, ao longo da história de Cuba, importante fator de coesão e permitiu que o governo revolucionário pudesse manter suficiente apoio popular, em meio a todas as vicissitudes. E a presença de Fidel Castro continuasse a projetar sua influência, antes mesmo de delegar, provisoriamente, o poder ao seu irmão Raúl, em 31 de julho de 2006 a fim de submeter-se a uma intervenção cirúrgica no colo intestinal, ele já não era imprescindível ao funcionamento do governo e do regime. A sucessão já havia acontecido e pouca gente percebera. O poder havia passado para uma nova geração de dirigentes, com Raúl Castro no comando das Forças Armadas; Ricardo Alarcón, hábil negociador e perito em relações com os Estados Unidos, na Assembléia Nacional; Carlos Lage, como primeiro-ministro, controlando a economia do país; e Felipe Pérez Roque, na condução da política e das relações exteriores, mantendo extraordinário apoio internacional a Cuba. Era somente o herói nacional, ao lado de José Martí. E não apenas o herói nacional.
Sua renúncia à presidência de Cuba, após longo período de convalescença, não surpreende. Era esperada.   Mas o fato de que permaneceu quase meio século no poder, a enfrentar e resistir ao embargo e a todas as agressões do Império - invasão, sabotagens e, inclusive, dezenas de tentativas de assassinato pela CIA - constituiu a maior derrota política que os Estados Unidos sofreram, não obstante seu imenso poderio econômico e militar, o maior de todos os tempos. Fidel Castro, o mais importante líder da América Latina, no século XX, tornou-se o símbolo de uma era. E o fato de que o presidente Barack Obama reatou as relações diplomática com Cuba, após 53 anos desde que o presidente Dwight Eisenhower as rompeu (janeiro de 1961) constitui mais uma de suas vitórias. A Revolução Cubana triunfou. O Império Americano tudo tentou. Porém jamais conseguiu destrui-la. E Fidel Castro, ainda que morrendo, continua vivo como herói e símbolo da maior epopéia da América Latina no século XX.
 
Luiz Alberto Moniz Bandeira é cientista político, professor emérito da Universiade de Brasília e autor de mais de 20 obras, entre as quais De Marti a Fidel: a Revolução Cubana e a América LatinaFormação do Império Americano e A Segunda Guerra Fria.

Hasta siempre, Fidel!

26/11/2016 14:57 - Copyleft

Hasta siempre, Fidel!

A imprensa comercial, como fez nos últimos 50 anos, tentará apagar tudo o que essa traójetria tem de revolucionária, solidária e amorosa.


Najla Passos
Daqui a dezenas de anos, quando os historiadores decidirem fixar uma data para a passagem da modernidade para a pós-modernidade, 2016 aparecerá como forte candidato, se não o mais forte. %u228
A crise migratória, o esfacelamento da União Europeia, o golpe no Brasil, a eleição de Trump… tudo isso contribui. Mas a morte de Fidel Castro é definitiva.

%u228Esses 500 anos de modernidade foram tempos sombrios. Como diz Frei Betto, o homem conseguiu pisar na lua, mas não conseguiu encher as barrigas de milhões de crianças famintas. “A modernidade trouxe muitos avanços tecnológicos e científicos, mas também trouxe o capitalismo”, ressalta ele. 

Professora da Universidade Federal Rural do Rio de janeiro (UFRRJ), Flávia Braga Vieira, lembra, entretanto, que, se a modernidade produziu o capitalismo, ela gerou também o antagonismo: a esquerda, o sonho de uma sociedade diferente, a luta por um outro mundo possível. 






E é justamente aí que a morte de Fidel torna-se emblemática. Mais do que qualquer outro evento, marca o fim de um ciclo que, até poucos meses atrás, fazia o sul do Equador sonhar com uma realidade mais justa e igualitária, com uma América Latina batendo recordes sobre recordes de redução da pobreza em mãos de governos populares.

Fidel teve uma trajetória controversa à frente da revolução armada que implantou o comunismo no quintal dos ianques. Mas a imprensa comercial, como fez nos últimos 50 anos, tentará apagar tudo o que essa traójetria tem de revolucionária, solidária e amorosa. 

A manchete de a Folha de S. Paulo deste sábado (26) não deixa dúvidas: “Ditador cubano Fidel Castro morre aos 90 anos”. Da mesma Folha de S. Paulo que classifica Michel Temer como “presidente”...

Para a imprensa ideológica, Fidel é o “ditador” de um país parlamentarista em que as eleições são tão periódicas como em qualquer outro dito democrático. De um país no qual qualquer mudança de política econômica envolve pelo menos 80% da população em discussões diretas. De um país em que crianças não passam fome. De um país em que saúde e educação, ao contrário do que ocorre na sede do império, são direitos inalienáveis de todos.

Caberá a cada um de nós que sonha o sonho de um outro mundo possível manter vivo o legado de Fidel, da revolução cubana e da solidariedade entre os povos. Caberá a nós que permanecemos vivos nessa tajetória de mudança de época disputar os valores e significados do que foi a Revolução Cubana e a biografia de Fidel Castro.

Ignacio Ramonet: El Fidel que conocí

26/11/2016 12:19 - Copyleft

Ignacio Ramonet: El Fidel que conocí

Ningun obstaculo lo detenía. Su realizacion iba de si. "La intendencia seguirá" decía Napoleón. Fidel igual.


Ignacio Ramonet
Arquivo pessoal / Ignacio Ramonet
Fidel ha muerto, pero es immortal. Pocos hombres  conocieron la gloria de entrar vivos en la leyenda y en la historia. Fidel es uno de ellos. Perteneció a esa generacion de insurgentes miticos – Nelson Mandela, Patrice Lumumba, Amilcar Cabral, Che Guevara, Camilo Torres, Turcios Lima, Ahmed Ben Barka – que, persiguiendo un ideal de justicia, se lanzaron, en los años 1950, a la accion politica con la ambicion y la esperanza de cambiar un mundo de desigualdades y de discriminaciones, marcado por el comienzo de la guerra fria entre la Union Soviética y Estados Unidos. 
En aquella época, en mas de la mitad del planeta, en Vietnam, en Argelia, en Guinea-Bissau, los pueblos oprimidos se sublevaban. La humanidad aún estaba entonces, en gran parte, sometida a la infamia de la colonizacion. Casi toda Africa y buena porcion de Asia se encontraban todavia dominadas, avasalladas por los viejos imperios occidentales. Mientras las naciones de América latina, independientes en teoria desde hacia siglo y medio, seguian explotadas por privilegiadas minorias, sometidas a la discriminación social y étnica, y a menudo marcadas por dictaduras cruentas, amparadas por Washington.
Fidel soportó la embestida de nada menos que diez presidentes estadounidenses (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush padre, Clinton y Bush hijo). Tuvo relaciones con los principales lideres que marcaron el mundo después de la Segunda Guerra mundial (Nehru, Nasser, Tito, Jrushov, Olaf Palme, Ben Bella, Boumedienne, Arafat, Indira Gandhi, Salvador Allende, Brezhnev, Gorbachov, François Mitterrand, Juan Pablo II, el rey Juan Carlos, etc.). Y conoció a algunos de los principales intelectuales y artistas de su tiempo (Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Arthur Miller, Pablo Neruda, Jorge Amado, Rafael Alberti, Guayasamin, Cartier-Bresson, José Saramago, Gabriel Garcia Marquez, Eduardo Galeano, Noam Chomsky, etc.).
Bajo su direccion, su pequeño país (100 000 km2, 11 millones de habitantes) pudo conducir una politica de gran potencia a escala mundial, echando hasta un pulso con Estados Unidos cuyos dirigentes no conseguieron derribarlo, ni eliminarlo, ni siquiera modificar el rumbo de la Revolucion cubana. Y finalmente, en diciembre de 2014, tuvieron que admitir el fracaso de sus políticas anticubanas, su derrota diplómatica e iniciar un proceso de normalización que implicaba el respeto del sistema político cubano.
En octubre de 1962, la Tercera Guerra Mundial estuvo a punto de estallar a causa de la actitud del gobierno de Estados Unidos que protestaba contra la instalacion de misiles nucléares soviéticos en Cuba. Cuya funcion era, sobre todo, impedir otro desembarco militar como el de Playa Giron (bahia de Cochinos) u otro directamente realizado por las fuerzas armadas estadounidenses para derrocar a la revolucion cubana. 
Desde hace mas de 50 años, Washington (a pesar del restablecimiento de relaciones diplomáticas) le impone a Cuba un devastador embargo comercial -reforzado en los años 1990 por las leyes Helms-Burton y Torricelli- que obstaculiza su desarrollo economico normal. Con consecuencias tragicas para sus habitantes. Washington sigue conduciendo además una guerra ideologica y mediatica permanente contra La Habana a través de las potentes Radio “Marti” y TV “Marti”, instaladas en La Florida para inundar a Cuba de propaganda como en los peores tiempos de la guerra fria. 
Por otra parte, varias organizaciones terroristas – Alpha 66 y Omega 7 – hostiles al regimen cubano, tienen su sede en La Florida donde poseen campos de entrenamiento, y desde donde enviaron regularmente, con la complicidad pasiva de las autoridades estadounidenses, comandos armados para cometer atentados. Cuba es uno de los países que mas victimas ha tenido (unos 3 500 muertos) y que más ha sufrido del terrorismo en los ultimos 60 años. 




Ante tanto y tan permanente ataque, las autoridades cubanas han preconizado, en el ambito interior, la unión a ultranza. Y han aplicado a su manera el viejo lema de San Ignacio de Loyola : “En una fortaleza asediada, toda disidencia es traicion.” Pero nunca hubo, hasta la muerte de Fidel, ningún culto de la personalidad. Ni retrato oficial, ni estatua, ni sello, ni moneda, ni calle, ni edificio, ni monumento con el nombre o la figura de Fidel, ni de ninguno de los lideres vivos de la Revolucion.
Cuba, pequeño pais apegado a su soberania, obtuvo bajo la dirección de Fidel Castro, a pesar del hostigamiento exterior permanente, resultados excepcionales en materia de desarrollo humano : abolicion del racismo, emancipacion de la mujer, erradicacion del analfabetismo, reduccion drastica de la mortalidad infantil, elevacion del nivel cultural general… En cuestion de educacion, de salud, de investigacion médica y de deporte, Cuba ha obtenido niveles que la situan en el grupo de naciones mas eficientes. 
Su diplomacia sigue siendo una de las mas activas del mundo. La Habana, en los años 1960 y 1970, apoyó el combate de las guerrillas en muchos paises de América Central (El Salvador, Guatemala, Nicaragua) y del Sur (Colombia, Venezuela, Bolivia, Argentina). Las fuerzas armadas cubanas han participado en campañas militares de gran envergadura, en particular en las guerras de Etiopia y de Angola. Su intervencion en este ultimo pais se tradujo por la derrota de las divisiones de élite de la Republica de Africa del Sur, lo cual acelero de manera indiscutible la caida del regimen racista del apartheid.
La Revolucion cubana, de la cual Fidel Castro era el inspirador, el teorico y el lider, sigue siendo hoy, gracias a sus éxitos y a pesar de sus carencias, una referencia importante para millones de desheredados del planeta. Aquí o alla, en América latina  y en otras partes del mundo, mujeres y hombres protestan, luchan y a veces mueren para intentar establecer regimenes inspirados por el modelo cubano.
La caida del muro de Berlin en 1989, la desaparicion de la Union soviética en 1991 y el fracaso historico del socialismo de Estado no modificadron el sueño de Fidel Castro de instaurar en Cuba una sociedad de nuevo tipo, mas justa, mas sana, mejor educada, sin privatizaciones ni discriminaciones de ningun tipo, y con una cultura global total. 
Hasta la víspera de su fallecimiento a los 90  años, seguía mobilizado en defensa de la ecologia y del medio ambiente, y contra la globalizacion neoliberal, seguía en la trinchera, en primera linea, conduciendo la batalla por las ideas en las que creía y a las cuales nada ni nadie le hizo renunciar.
En el panteon mundial consagrado a aquellos que con más empeño lucharon por la justica social y que más solidaridad derrocharon en favor de los oprimidos de la Tierra, Fidel Castro - le guste o no a sus detractores -  tiene un lugar reservado.
Lo conocí en 1975 y conversé con él en multiples ocasiones, pero, durante mucho tiempo, en circunstancias siempre muy profesionales y muy precisas, con ocasión de reportajes en la isla o la participacion en algun congreso o algun evento. Cuando decidimos hacer el libro “Fidel Castro. Biografía a dos voces” (o “Cien horas con Fidel”), me invitó a acompañarlo durante dias en diversos recorridos. Tanto por Cuba (Santiago, Holguin, La Habana) como por el extranjero (Ecuador). En coche, en avion, caminando, almorzando o cenando, conversamos largo. Sin grabadora. De todos los temas posibles, de las noticias del dia, de sus experiencias pasadas y de sus preocupaciones presentes. Que yo reconstruia luego, de memoria, en mis cuadernos. Luego, durante tres años, nos vimos muy frecuentemente, al menos varios días, una vez por trimestre.
Descubri asi un Fidel intimo. Casi timido. Muy educado. Escuchando con atencion a cada interlocutor. Siempre atento a los demas, y en particular a sus colaboradores. Nunca le oí una palabra mas alta que la otra. Nunca una orden. Con modales y gestos de una cortesia de antaño. Todo un caballero. Con un alto sentido del pundonor. Que vive, por lo que pude apreciar, de manera espartana. Mobiliario austero, comida sana y frugal. Modo de vida de monje-soldado. 
Su jornada de trabajo se solía terminar a las seis o las siete de la madrugada, cuando despuntaba el dia. Más de una vez interrumpió nuestra conversacion a las dos o las tres de la madrugada porque aún debía participar en unas “reuniones importantes”…Dormía sólo cuatro horas, más, de vez en cuando, una o dos horas en cualquier momento del dia.
Pero era también un gran madrugador. E incansable. Viajes, desplazamientos, reuniones se encadenaban sin tregua. A un ritmo insolito. Sus asistentes – todos jovenes y brillantes de unos 30 años – estaban, al final del dia, exhaustos. Se dormían de pie. Agotados. Incapaces de seguir el ritmo de ese infatigable gigante.
Fidel reclamaba notas, informes, cables, noticias, estadisticas, resumenes de emisiones de television o de radio, llamadas telefonicas... No paraba de pensar, de cavilar. Siempre alerta, siempre en accion, siempre a la cabeza de un pequeño Estado mayor – el que constituían sus asistentes y ayudantes – librando una batalla nueva. Siempre con ideas. Pensando lo impensable. Imaginando lo inimaginable. Con un atrevimiento mental espectacular.
Una vez definido un proyecto. Ningun obstaculo lo detenía. Su realizacion iba de si. “La intendencia seguirá” decía Napoleón. Fidel igual. Su entusiasmo arrastraba la adhesion. Levantaba las voluntades. Como un fenomeno casi de magia, se veían las ideas materializarse, hacerse hechos palpables, cosas, acontecimientos. 
Su capacidad retorica, tantas veces descrita, era prodigiosa. Fenomenal. No hablo de sus discursos publicos, bien conocidos. Sino de una simple conversacion de sobremesa. Fidel era un torrente de palabras. Una avalancha. Que acompañaba la prodigiosa gestualidad de sus finas manos.
La gustaba la precision, la exactitud, la puntualidad. Con él, nada de aproximaciones. Una memoria portentosa, de una precision insolita. Apabullante. Tan rica que hasta parecía a veces impedirle pensar de manera sintética. Su pensamiento era arborescente. Todo se encadenaba. Todo tenía que ver con todo. Digresiones constantes. Parentesis permanentes. El desarrollo de un tema le conducía, por asociacion, por recuerdo de tal detalle, de tal situacion o de tal personaje, a evocar un tema paralelo, y otro, y otro, y otro. Alejandose asi del tema central. A tal punto que el interlocutor temía, un instante, que hubiese perdido el hilo. Pero desandaba luego lo andado, y volvía a retomar, con sorprendente soltura, la idea principal. 
En ningun momento, a lo largo de mas de cien horas de conversaciones, Fidel puso un limite cualquiera a las cuestiones a abordar. Como intelectual que era, y de un calibre considerable, no le temía al debate. Al contrario, lo requería, lo estimulaba. Siempre dispuesto a litigar con quien sea. Con mucho respeto hacia el otro. Con mucho cuidado. Y era un discutidor y un polemista temible. Con argumentos a espuertas. A quien solo repugnaban la mala fe y el odio.


Créditos da foto: Arquivo pessoal / Ignacio Ramonet

Aécio quer investigar gravação contra Temer. Mas não foi assim com Dilma e Lula

26/11/2016 01:25 - Copyleft

Aécio quer investigar gravação contra Temer. Mas não foi assim com Dilma e Lula

O senador Aécio Neves (PSDB) afirmou nesta sexta-feira (25) que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero deveria ser investigado por gravação


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O senador Aécio Neves (PSDB) afirmou nesta sexta-feira (25) que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero deveria ser investigado por supostamente gravar uma conversa privada com o presidente Michel Temer.

O tema da conversa seriam as pressões sofridas por Calero por conta da aprovação da aprovação de um prédio irregular em que o ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima tem um apartamento. Temer teria ficado ao lado de Geddel.

Sobre a suposta gravação feita pelo ex-ministro da Marcelo Calero Aécio disse, mais cedo, em Brasília:

"Não vejo nenhum ato incorreto por parte do presidente da República, que não determinou uma solução. Ele faz uma sugestão para que a Advocacia-Geral da União pudesse dirimir o conflito que ali existia. Não acho que seja algo elogiável - se é que isso ocorreu - que um assessor do presidente da República, um ministro de estado, grave uma conversa com um presidente da República porque essa conversa poderia derivar para outros assuntos de Estado. Isso não é usual. Não é adequado."






O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também nesta sexta, foi em linha semelhante nesta sexta:

"Gravar conversa com outro me parece que não é uma coisa certa, tem q ter boa fé quando conversa com o interlocutor, ainda mais quando é o presidente da República".

Em março deste ano, quando tornou-se pública uma gravação entre Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o senador tucano não se manifestou sobre as irregularidades, mas apenas sobre o teor da conversa. Defendeu que a presidente havia perdido as condições de governar e defendeu o impeachment, que ocorreria meses depois.

Na época, Sérgio Moro havia determinado que a Polícia Federal suspendesse a interceptação telefônica do ex-presidente Lula às 11h12 desta quarta-feira.

Na gravação, a ex-presidente Dilma Rousseff diz a Lula que estava encaminhando o termo de posse na Casa Civil, para usar se fosse necessário. A escuta foi realiza mais de duas horas depois, às 13h32.

O áudio de Dilma e Lula foi inserido no inquérito às 15h37m e Moro decidiu liberar o sigilo do inquérito às 16h19. As irregularidades fizeram com que o ministro do STFTeori Zavascki anulasse parte das escutas.

Entenda o caso

O empreendimento de luxo do La Vue Ladeira da Barra, pivô da demissão de Calero, foi embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no último dia 16. Segundo o ex-ministro, assim que assumiu o comando da Cultura passou a ser pressionado por Geddel para elaborar outro parecer.

"Então você me fala, Marcelo, se o assunto está equacionado ou não. Não quero ser surpreendido com uma decisão e ter que pedir a cabeça da presidente do Iphan", afirmou Calero à Folha de S.Paulo.

"Uma situação como essa, de um ministro ligar para outro ministro pedindo interferência em um órgão público para que uma decisão fosse tomada em seu benefício, não é normal e não pode ser vista assim. Não é normal", afirmou ao Estado de S.Paulo.


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