quarta-feira, 31 de julho de 2019

Oitocentos advogados pedem afastamento de Moro

Oitocentos advogados pedem afastamento de Moro

Na esteira do derretimento institucional, da crise penitenciária, da verborragia protofascista bolsonariana e da reportagem mais importante em tempos recentes (a Vaza Jato), um abaixo-assinado de advogados e juristas com mais de 800 adesões defendeu a liberdade de imprensa e sugeriu algo de forte impacto na cena política: o afastamento de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça
O futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, fala à imprensa no CCBB, em Brasília.
O futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, fala à imprensa no CCBB, em Brasília. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
247 -  Na esteira do derretimento institucional, da crise penitenciária, da verborragia protofascista bolsonariana e da reportagem mais importante em tempos recentes (a Vaza Jato), um abaixo-assinado de advogados e juristas com mais de 800 adesões defendeu a liberdade de imprensa e sugeriu algo de forte impacto na cena política: o afastamento de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça.
A reportagem do jornal Folha de S. Paulo destaca que "o texto será divulgado no evento que ocorre nesta terça (30), no Rio, em apoio ao jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, que está divulgando diálogos de Moro com procuradores da Operação Lava Jato."
A matéria ainda sublinha que "o documento alega, entre outras coisas, que o ex-juiz está atuando fora dos limites da lei no caso da investigação dos hackers presos na semana passada sob a acusação de grampear o próprio ministro e diversas outras autoridades."
Assinam o documento, entre outros, Geraldo Prado, Celso Antônio Bandeira de Mello, Alberto Toron, Aury Lopes, Marco Aurélio de Carvalho, Carol Proner, Giselle Citadino, Weida Zancaner, Antonio Carlos de Almeida Castro, Kerarik Boujikian e Roberto Podval.

Folha diz em editorial que Bolsonaro é um personagem boçal e infame, que poderá ser derrubado

Ataques verbais de Bolsonaro e do PT ganham força em busca de ‘Ibope’


Ataques verbais de Bolsonaro e do PT ganham força em busca de ‘Ibope’

Eleitor extremista do presidente está frustrado. Isolado, Partido dos Trabalhadores acelera plano de desconstruir governo

Jair Bolsonaro radicalizou suas declarações nas últimas semanas. Disse que quer ter o “direito de contar piada de cearense cabeçudo”, que “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”, que tema ambiental interessa só a “veganos”, que Glenn Greenwald “talvez pegue uma cana aqui no Brasil”, que conta ao presidente da OAB “como é que o pai dele desapareceu no período militar”.
Diante da última declaração, o maior partido de oposição radicalizou também. “Criminoso confesso”, “bandido”, “autoritário”, “despreparado” foram expressões usadas nesta segunda-feira 29 por Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT, em entrevista coletiva em Brasília. “Um homem que é louco, e um louco com método, que quer a destruição do Brasil”, disse. “Ele passou dos limites.”
Bolsonaro é um político de extrema-direita desde que se elegeu vereador em 1988. Acuado pelo antipetismo, o PT fala grosso desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Há novidade na radicalização de parte a parte? Sim: o presidente precisa satisfazer eleitores tão reacionários quanto ele, enquanto os petistas tentam quebrar o isolamento da oposição visto na reforma da Previdência.
No poder, Bolsonaro tem decepcionado eleitores de extrema-direita. Eles esperavam um governo ainda mais linha-dura. São homens de 40 a 45 anos, basicamente. Essas constatações surgiram em pesquisas do tipo qualitativas, aquelas em que pessoas são entrevistadas longamente em pequenos grupos, feitas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a FESPSP.
As conclusões foram relatadas pela coordenadora da pesquisa, Isabela Oliveira Kalil, doutora em Antropologia Social, no Valor de 22 de julho. Os frustrados, disse ela, queriam “o fechamento do Congresso e se queixam muito da questão da posse e porte de armas”. Para eles, “Bolsonaro não está entregando o projeto de extrema direita que prometeu”.
FOTO: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
É parte da explicação para a queda de sua popularidade, segundo Isabela. No Ibope, a aprovação do governo era de 49% em janeiro, 39% em fevereiro, 34% de março a maio e de 32% em junho. Em julho, estava em 33% no Datafolha. Entre os homens, a maioria dos extremistas insatisfeitos, era maior, 38%. Eles também são mais otimistas quanto a um bom governo, 57% (média geral: 51%).
Ao radicalizar no verbo, Bolsonaro acaricia seus eleitores extremistas, já que não tem conseguido converter reacionarismo em medidas concretas. A flexibilização do porte e da posse da armas via decreto foi derrubada pelo Congresso. O relaxamento das regras de trânsito em favor de motoristas aventureiros até aqui é só um projeto de lei. Idem a proteção de policiais que matam em serviço.
A grande vitória do governo até aqui foi a aprovação pelos deputados, que ainda precisam repetir a dose após as férias de julho, da reforma da Previdência. Votação a mostrar a enrascada da oposição progressista. Foram 373 votos a favor e 131 contra, uma surra.
Incapaz de derrotar Bolsonaro nesse tema-chave, o PT apela à radicalização verbal também. Agora começa um processo “mais forte de desconstrução do governo”, disse Gleisi em Brasília.
A intenção é influenciar a percepção sobre o governo por parte daqueles 31% dos brasileiros que por enquanto consideram o governo “regular”. Sem que esse grupo mude de lado e passe a desaprovar o governo, dificilmente o dito “centrão” no Congresso assumirá uma postura mais crítica contra Bolsonaro.
Fazem parte desse plano as palavras duras de Gleisi ao comentar as declarações do ex-capitão sobre o sumiço de Fernando Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. “É um caso grave de banditismo na Presidência”, afirmou Gleisi, para quem Bolsonaro praticamente confessou ser “cúmplice de crimes da ditadura”.
Para Gleisi, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria Geral da República (PGR) estão devendo, a partir de agora, um pronunciamento oficial a respeito do assunto.
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Horas depois da declaração – e de a OAB reagir em defesa de Felipe Santa Cruz -, Bolsonaro voltou ao tema em uma transmissão ao vivo em vídeo na internet. Segundo ele, não foram os militares que sumiram com Fernando, mas os colegas dele de militância da Ação Popular (AP) de Pernambuco. Um grupo que o presidente chamou de “terrorista” e “o mais sanguinário que tinha”.
Frases que devem ter deixado mais um pouco animados seus decepcionados eleitores extremistas.