sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Centenário de João Cabral de Melo Neto é marcado por descoberta de obras inéditas

LITERATURA

Centenário de João Cabral de Melo Neto é marcado por descoberta de obras inéditas

Um dos mais importantes poetas da literatura brasileira, o pernambucano segue mais atual que nunca

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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O escritor completaria cem anos em janeiro de 2020 / Foto: Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã
A própria ideia de homenagem ao centenário de João Cabral de Melo Neto pareceria estranha ao escritor ou, pelo menos, à imagem construída em torno da figura de um dos grandes ícones da cultura brasileira. Avesso à fama e ao culto à personalidade, João Cabral dizia que preferia não ser popular e que o fato de não precisar viver da escrita o permitia dar pouca atenção ao assunto. 
Nascido no Recife, em 1920, ele se mudou para o Rio de Janeiro junto com a família, aos 22 anos, quando publicou seu primeiro livro de poemas, Pedra do Sono. Aos 25 anos ingressou no serviço diplomático e lançou a obra O engenho. Ao longo da carreira no Itamaraty, passou por países como Senegal, Portugal, Espanha, Inglaterra e Suíça, mas nunca deixou de escrever. 
Em 1950, João Cabral publicou O Cão Sem Plumas, obra que viria a ser considerada a consolidação de um estilo criterioso, objetivo e rigoroso, completamente avesso a inspirações subjetivas, sentimentais e oníricas. Essas características o levaram ainda mais a um caminho de crítica ao culto à individualidade. Em entrevista ao jornalista e escritor Geneton Moraes Neto, o poeta é taxativo quanto a essa postura:

“Não gosto de carta. (…)  Ninguém é tão interessante para falar de si mesmo o tempo todo.”
Não sem motivo, é de Cão sem Plumas que saem alguns dos poemas que hoje inspiram artistas muito conectados a uma linguagem extremamente atual das artes. Em 2017, a coreografa Deborah Colker criou um espetáculo que leva o mesmo nome do livro e de um dos poemas da obra. A banda Cordel do  Fogo Encantado incluiu no disco O Palhaço do Circo sem Futuro versos do poema Os Três Mal Amados, que também está no livro. A declamação visceral do vocalista Lirinha ficou famosa durante a turnê da banda e era gritada em coro pelo público sempre emocionado.

“O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.


O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos 


(…)


O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.”
O Meu nome é Severino
Se Cão sem Plumas deu início à linguagem que marcou a identidade literária objetiva de João Cabral, foi anos depois, com Morte e Vida Severina (1955), que o autor experimentou sua maior popularidade. Com o subtítulo Auto de Natal Pernambucano, o texto conta a trajetória de um imigrante que foge da seca no sertão e busca a sobrevivência na capital Recife. 
Severino é um personagem que nada tem de individual, representa a saga de uma vida em condições quase sub-humanas e, já no início da obra, se apresenta como tantos outros. Por ser tão igual a muitos com a mesma história e o mesmo nome, o personagem finaliza sua introdução avisando ao público que será “o severino que em vossa presença emigra”. Um retrato de um povo, de um país e de uma história que não tiveram fim nas palavras de João Cabral e seguem atuais para o Brasil e os brasileiros, 65 anos após seu lançamento.

“E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia.”
Morte e Vida Severina não era a obra preferida de João Cabral, que chegou a dizer que não relia o texto, porque sentia vontade de mudar boa parte do original. Apesar disso, é o tom objetivo característico do poeta que levou o auto à fama, encenado para o cinema, a TV e em inúmeras peças de teatro. O autor, no entanto, não considerava que conseguia atingir a simplicidade que almejava. 
“A coisa simples que quero não é fazer uma coisa boboca. O simples que almejo é chegar a uma forma que os outros entendam. Consigo raramente. Minha luta é esta: tentar botar uma coisa mais complexa numa linguagem mais simples possível. Confesso que geralmente eu fracasso”, afirmou.
Em entrevista concedida ao programa Os Mágicos, da TVE do Rio de Janeiro, no ano de 1977, João Cabral relata a busca quase obsessiva pela simplicidade.
“Minha preocupação é definir as coisas. Não vamos dizer descrever, porque descrever dá mais uma ideia de prosa. Eu diria que seria definir as coisas. Eu gostaria que meus poemas, em vez de serem pregação, de recomendar, de dar conselho, que eles apenas dessem a ver. Eu me considero muito mais visual do que auditivo, de forma que se eu não fosse escritor eu gostaria de ser pintor. Minha preocupação sobretudo é definir as coisas e dar a ver as coisas. Ser o menos subjetivo possível e dar a ver as coisas”, sentenciou.
Obras inéditas
Foi a paixão por Morte e Vida Severina que levou Edneia Rodrigues Ribeiro, pesquisadora e professora do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, a estudar a obra de João Cabral de Melo Neto. O auto foi a primeira obra do autor com a qual a pesquisadora teve contato. Natural do município de Capitão Enéas, ela encontrou na história do personagem Severino não só a inspiração para sua pesquisa, mas um paralelo pessoal com a própria condição de sujeito que migra.

“O Severino do João Cabral emigrou para trabalhar. Eu também sou uma emigrante.”
“Duas coisas me motivaram no João Cabral. A primeira delas é essa questão do homem. O João Cabral pode não ter tido um alinhamento político do ponto de vista partidário, mas tanto a trilogia da década de 1950, que começa com o Cão sem Plumas, passa por O Rio e termina em Morte e Vida Severina, quanto as obras mais elaboradas, aparece uma preocupação com o homem e sobretudo com esse homem à margem da sociedade. Que é o trabalhador dos engenhos de Pernambuco, o sujeito que emigra em busca de condições melhores, mas que representa qualquer sujeito que vive à margem de uma sociedade, tanto na zona rural quanto urbana”, explica. 
De admiradora da obra, a estudiosa do assunto – inspirada pelo processo de emigração de um dos personagens mais marcantes do autor – Edneia relata que o seu trabalho leva muito do rigor, da disciplina e da objetividade, características de João Cabral.
“O segundo ponto é o perfeccionismo. É um trabalho, um primor. Uma coisa que me faz pensar em como alguém conseguiu criar algo com tanta dedicação, tanta perfeição e tanta coerência ao projeto que ele mesmo traçou. Concilia aspectos estéticos com conteúdo. Eu fui movida por uma paixão e continuo movida por essa paixão pela criação poética dele.”
Egressa do doutorado em estudos literários da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com orientação do poeta e professor Sérgio Alcides, Edneia chegou a uma descoberta histórica por meio de sua pesquisa. Durante a busca de material para o mestrado, em que analisava poemas do livro Museu de Tudo, ela encontrou 40 poemas inéditos, um texto de 30 laudas sobre o panorama da literatura brasileira da década de 1950.
 Além do achado acadêmico surpreendente, o material traz um simbolismo emocional para a pesquisadora.

“Talvez o próprio Cabral se sentisse bem em ter uma descoberta dessas vinculada a uma pesquisadora Severina.”
A descoberta de Edneia estará no projeto de reedição das obras completas do autor de Morte e Vida Severina, que comemora os cem anos de nascimento de João Cabral de Melo Neto. As duas obras  reúnem poesia e prosa e estão sendo organizadas por Antonio Carlos Secchin e Sérgio Martagão Gesteira.
O projeto é mais um elemento na busca por traduzir e perpetuar um trabalho que o próprio poeta evitava explicar e classificar. Ao responder como fazia um retrato de si mesmo, João Cabral de Melo Neto se colocava em um lugar que o aproxima e o insere: um homem como outro qualquer:
“Essa é pergunta mais difícil que você poderia me fazer. Em primeiro lugar, porque você conhece minha poesia e você sabe que eu nunca falo de mim mesmo. Wellington dizia que a poesia não é uma expressão da personalidade, mas uma fuga da personalidade. Eu tenho a impressão de que isso acontece comigo. Eu tenho a consciência de mim mesmo como um homem. Eu sou um homem como outro qualquer.”
Edição: Vivian Fernandes

Bisneta de Gandhi critica visita de Bolsonaro a memorial: “Distorção do legado”

DIRETO DA ÍNDIA

Bisneta de Gandhi critica visita de Bolsonaro a memorial: “Distorção do legado”

Professora de estudos religiosos na Universidade de Yale, nos EUA, Supriya Gandhi concedeu entrevista ao Brasil de Fato

Brasil de Fato | Nova Delhi (Índia)
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Em 30 de janeiro de 1948, Gandhi foi assassinado por um hinduísta fanático; o líder lutou, por meios pacíficos, por uma Índia independente / Foto: AFP
Em viagem à Índia, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que fará, no sábado (25), uma visita ao Memorial de Mahatma Gandhi, líder da campanha de independência indiana na primeira metade do século 20. Referência de movimentos por direitos civis e liberdade em todo o mundo, Gandhi propagou a não-violência como método de luta e enfrentamento às opressões econômicas, políticas e sociais.
Apesar das diferenças ideológicas, Bolsonaro deverá colocar flores sobre o túmulo onde estão as cinzas do líder indiano, a exemplo do que fizeram os ex-presidentes brasileiros Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante seus mandatos.
A visita ao memorial ocorre a convite do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, principal representante do nacionalismo hindu e integrante do Bharatiya Janata (BJP). Fundado em 1980, o partido tem, em suas origens, ligação com o grupo paramilitar Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), responsável pelo assassinato de Gandhi em 1948. Hoje, por outro lado, a sigla diz estar alinhada com as ideias do líder independentista.
Assim como Bolsonaro, Modi encabeça um governo de extrema direita, aposta na liberalização da economia e na desregulamentação do mercado e é acusado de perseguir minorias e grupos opositores. Nos últimos meses, ele foi criticado por promover perseguições a muçulmanos por meio de mudanças na Lei de Cidadania do país.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, a professora de estudos religiosos Supriya Gandhi, bisneta do líder da independência indiana, afirma que Bolsonaro se junta ao governo local na tentativa de se apropriar e distorcer o legado de Mahatma Gandhi. “Eles querem um Gandhi despido de seu poder e de sua força radical”, analisa.
Supriya Gandhi é Ph.D. pela Universidade de Harvard e professora sênior na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em estudos religiosos. Na entrevista, às vésperas do 72º aniversário do assassinato de Gandhi, ela também critica a postura repressiva do governo indiano e comenta a relevância dos ensinamentos do bisavô. Confira:
Brasil de Fato: Mahatma Gandhi deixou como legado uma série de críticas e propostas sobre a sociedade indiana na primeira metade do século 20. Qual delas permanece relevante para a Índia hoje?
Supriya Gandhi: Eu acho que todas elas são [relevantes]. De certa maneira, Gandhi foi capaz de enxergar o futuro. Gandhi nos lembra as conexões entre democracia, busca da verdade, pluralismo e administração ambiental.
Hoje, líderes populistas e seus partidários prosperam em um mundo pós-verdade, reprimem a democracia e impulsionam a humanidade ao ecocídio.
A ideia de não-violência continua sendo levada adiante pelos trabalhadores da Índia ou é tratada como algo desatualizado, sete décadas após a independência?
A ideia de não-violência brilha através dos protestos pacíficos que estão surgindo em todo o país contra a emenda à Lei de Cidadania, que é discriminatória. O tempo dirá se esses protestos continuarão e se expandirão, mas eles já estão criando solidariedades entre classe, casta e religião.
O Estado está reprimindo esses protestos com medidas repressivas.
Considerando as reflexões de Gandhi sobre o hinduísmo, não é uma contradição que grupos religiosos fundamentalistas sejam acusados ​​de cometer esses atos de perseguição e repressão contra os muçulmanos hoje? É possível supor que, se ele estivesse vivo, Gandhi estaria condenando esses atos e a posição do BJP nesses conflitos?
Não é uma contradição, pois esses atos de violência são praticados por quem admira a ideologia do assassino de Gandhi.
Essas práticas constantes de violência não são uma exceção. Elas fazem parte de uma estratégia multifacetada para mostrar às minorias seu lugar e garantir conflitos sociais perpétuos.
O legado de Gandhi está em jogo. No Brasil, por exemplo, o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro fará uma homenagem no memorial de Gandhi em sua visita a Nova Delhi. Bolsonaro atua como defensor da indústria de armas e faz um discurso violento contra minorias. Como você vê esse tipo de homenagem e como analisa a apropriação do legado de Gandhi por políticos considerados autoritários?
Bolsonaro tem muito em comum com a liderança que está no poder na Índia, além de seu completo desrespeito às normas democráticas e à urgência da crise ambiental. Não é de surpreender que ele se junte ao governo local na apropriação de Gandhi e na distorção das ideias e do legado de Gandhi.
O governo e os grupos aliados tentam purgar os fatos sobre o assassinato de Gandhi. Eles querem um Gandhi despido de seu poder e força radical.
Edição: Vivian Fernandes

CONSTRUÇÃO DE SAÍDAS Fórum Social das Resistências lança carta de enfrentamento à agenda fascista


CONSTRUÇÃO DE SAÍDAS

Fórum Social das Resistências lança carta de enfrentamento à agenda fascista

Carta de Porto Alegre será divulgada nesta sexta (24), resumindo os pontos principais pontos compartilhados pelos movimentos sociais que participam do encontro 
  10:47
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TVT/REPRODUÇÃO
Movimentos sociais nacionais e internacionais participam do Fórum desde terça (21). Encontro é uma preparação para o Fórum Social Mundial de 2021
São Paulo – O Fórum Social das Resistências divulga nesta sexta-feira (24) a Carta de Porto Alegre, documento que reúne as principais propostas e alternativas de enfrentamento à agenda neoliberal fascista que avança sobre o Brasil e pelos demais países da América Latina. O lançamento da Carta encerra o encontro com lideranças e movimentos sociais nacionais e internacionais que, desde terça-feira (21), debatem e trocam experiências para o acúmulo de forças diante da ascensão da extrema-direita.
Convidados de diversos países participaram ainda de assembleias e reuniões sob o lema “Democracia, Direitos dos Povos e do Planeta”, em sindicatos, universidades e ocupações na capital gaúcha. O encontro é uma preparação para o Fórum Social Mundial que ocorrerá no próximo ano, no México, e faz contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que ocorre paralelamente nesta semana, em Davos, na Suíça.
No encontro econômico, a apresentação do Brasil vem sendo feita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, do governo de Jair Bolsonaro, que já anunciou uma maior abertura do mercado interno a empresas estrangeiras. Um momento fundamental para organizar a resistência com a confirmação da agenda ultraliberal, como destaca a deputada federal Fernanda Melchiona (Psol-RS).”Em 2020 a agenda será muito pesada”, aponta. “Eles querem entregar para os grandes capitalistas internacionais não só nossas riquezas, mas também a soberania no Brasil. É extremamente grave e esse fórum é fundamental nessa confluência das resistências. É preciso ganhar o povo para a nossa luta”, destaca a deputada.

Assista à reportagem da TVT

DITADURA MPF denuncia ex-comandante do Doi-Codi e legistas por morte de militante do PCB em 1976


DITADURA

MPF denuncia ex-comandante do Doi-Codi e legistas por morte de militante do PCB em 1976

Procurador pede prisão e cancelamento das aposentadorias e condecorações dos envolvidos. Caso é imprescritível e não pode ser anistiado, pois constitui crime contra a humanidade, diz denúncia
  13:42
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ARQUIVO/MEMÓRIAS DA DITADURA
Neide integrava o setor de agitação e propaganda do PCB, quando foi torturada e morta pela ditadura
São Paulo – O Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) denunciou o ex-comandante do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, Audir Santos Maciel e dois médicos legistas pela morte da integrante do PCB Neide Alves dos Santos em 7 de janeiro de 1976. Coronel do Exército, Maciel foi denunciado por homicídio qualificado, por ter participado da operação que resultou no assassinato. Os médicos Harry Shibata e Pérsio Carneiro foram denunciados por falsidade ideológica, acusados de forjarem laudo necroscópico da morte de Neide.
O laudo buscava corroborar versão oficial de que as extensas queimaduras identificadas no corpo da vítima seriam fruto de suicídio por ateamento de fogo. Shibata, então diretor do Instituto Médico Legal (IML), e Pérsio José Ribeiro Carneiro foram os mesmos legistas que falsificaram o laudo que apontava o suicídio do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelos agentes da repressão em 25 de outubro de 1975. Segundo o MPF, o  mesmo método foi utilizado pouco mais de um ano depois para acobertar o assassinato de Neide.
O MPF destaca que não cabe prescrição ou anistia nesse caso, pois a morte de Neide ocorreu em um contexto de ataque generalizado do Estado brasileiro contra a população civil e, por isso, constitui crime contra a humanidade. Além das penas de prisão, o Ministério Público requer que a Justiça Federal ordene o cancelamento de aposentadorias ou outros proventos que os denunciados recebam em decorrência das funções que exerciam durante a ditadura. A Procuradoria pede também que seja determinada a perda de medalhas e condecorações eventualmente entregues a eles pelos serviços que prestaram à repressão política.
Neide integrava o setor de agitação e propaganda do PCB e estava desaparecida desde o dia 30 de dezembro de 1975. Naquele ano, já tinha sido presa três vezes, sempre liberada com sinais de tortura por todo o corpo. Moradora do bairro da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, ela era alvo de constante vigilância, assim como sua irmã e o cunhado, que viviam no Rio de Janeiro e com quem Neide mantinha contato frequente. A militante foi uma das 19 vítimas da chamada Operação Radar, coordenada pelo Doi-Codi do II Exército entre 1973 e 1976 para a eliminação de quadros do PCB em todo o país.
Segundo os dados oficiais, Neide foi levada já na madrugada do dia 31 ao Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste da cidade, devido às queimaduras que havia sofrido. Os familiares só foram comunicados de que a militante estaria na unidade em estado grave no dia 8 de janeiro, quando ela já havia falecido. Ao chegarem ao hospital, a irmã e o cunhado foram submetidos a um longo interrogatório e só então receberam a notícia da morte. O enterro foi realizado no dia seguinte, ainda sob vigilância de agentes da repressão e sem possibilidade de abertura do caixão.
“O laudo é propositadamente sumário e tecnicamente insatisfatório, pois não esclarece como se espalharam as lesões e qual a origem das queimaduras. Não procurou vestígios de vestes queimadas nem fez o exame interior do cadáver”, destacou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça, autor da denúncia. “Em verdade, a versão do suposto suicídio foi forjada para justificar o homicídio da vítima. E mais: o laudo foi propositadamente omisso, visando dificultar as apurações das verdadeiras circunstâncias da morte e seus autores.”

#BOYCOTTBOLSONARO Bolsonaro enfrenta protestos nas redes e nas ruas da Índia BEM FEITO! FORA BOZO!


#BOYCOTTBOLSONARO

Bolsonaro enfrenta protestos nas redes e nas ruas da Índia

Posição do governo em relação à Amazônia e às mudanças climáticas motiva manifestações desde novembro, quando presidente confirmou visita ao país
  18:50
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FRIDAY FOR FUTURE
Integrantes do movimento de crianças e adolescentes Fridays For Future (Greve das Escolas pelo Clima) já vinham postando imagens de suas atividades nas ruas e praças, que hoje foram reproduzidas
São Paulo – A visita de quatro dias do presidente Jair Bolsonaro à India, que começou hoje (24) em Nova Delhi, enfrenta forte resistência. Os manifestantes utilizam espaços públicos e as redes sociais para repudiar o mandatário, convidado para a principal festividade cívica do país, o Dia da República, comemorado em 26 de janeiro.
E não é de agora. Desde novembro, quando aceitou o convite, Bolsonaro tem sido alvo de ativistas do meio ambiente e dos direitos humanos. Usando as hashtags #BoycottBolsonaro e #AmazonForestDestroyer, eles alertam sobre os prejuízos socioambientais globais trazidos pelas políticas adotadas no Brasil, bem como pelo incentivo do governo brasileiro ao desmatamento e à invasão e mineração em terras indígenas, além do discurso nazi-fascista, homofóbico, racista, machista e misógino.  
Para a organização ambientalista The Clean Project, sediada em Nova Delhi, Bolsonaro quer destruir a Amazônia, colocando em risco a vida de bilhões de espécies. “#BoycottBolsonaro porque ele quer destruir a fonte de 20% de oxigênio, água doce e bilhões de espécies – por suas aspirações corporais irracionais”.
Kailash Anerao está preocupado com projetos que beneficiam grileiros, mineradoras e passam por cima dos direitos dos povos indígenas. “O governo de #Bolsonaro aprovou uma nova lei anistiando terras griladas nas florestas amazônicas – pulmões do mundo e área de grande concentração de biodiversidade. Ele também está propondo um projeto de lei que abrirá terras indígenas para a mineração”, diz o ativista.
Outro cidadão indiano que usou seu perfil no Twitter para chamar atenção foi Shahrukh. “Rejeitamos Bolsonaro, que é um grande negador das mudanças climáticas, homofóbico, sexista e anti-indígena, como nosso convidado do Dia da República”, diz o tuíte abaixo, reproduzindo convite da Fridays for Future da Índia.
Grupos indianos integrantes do movimento de crianças e adolescentes Fridays For Future (Greve das Escolas pelo Clima) – em #GrevePeloClima por um futuro ambientalmente justo e seguro – já vinham postando imagens de suas atividades nas ruas e praças, que hoje foram reproduzidas.
Confira: