quarta-feira, 3 de abril de 2019

Memória Do Golpe de 1964 à ditadura

Memória

Do Golpe de 1964 à ditadura

Regime cometeu crimes contra a humanidade

 
01/04/2019 12:08
(Mídia Ninja)
Créditos da foto: (Mídia Ninja)
 
O golpe militar de 1964 que depôs o presidente João Goulart, foi violação deliberada e ilegal das regras constitucionais, apoderando-se dos órgãos e do poder político.

Apesar de se revestir de discurso dissimulador em defesa da democracia, o regime que emergiu do golpe de estado foi seu maior violador.

O novo poder nem esperou sua formalização pelo Congresso Nacional para iniciar onda repressiva depuradora. Eliminadas as garantias constitucionais, mandatos políticos foram cassados, direitos políticos foram suspensos.

Logo no dia 1º de abril, os diversos comandos militares procederam a centenas de prisões. Perseguição violenta se abateu sobre indivíduos e organizações identificados com o governo anterior. Sete em cada dez confederações de trabalhadores e sindicatos tiveram suas diretorias depostas. Nos dias seguintes ao golpe, prenderam-se milhares de cidadãos, e a ocorrência de brutalidades e torturas foi comum.

Durante 21 anos os brasileiros estiveram submetidos a governos militares autoritários, sob cinco presidentes generais escolhidos pelo Alto Comando das Forças Armadas. Em seguida indiretamente “eleitos” por um Congresso manietado por cassações e obrigado sempre a escolher o general de Exército indicado. Nunca na República o país tivera tanto poder discricionário concentrado nas mãos de um chefe no vértice do Estado.

Criou-se um ordenamento legal que permitia o controle da atividade política tolerada. Aperfeiçoou-se um sistema repressor complexo, que permeava as estruturas administrativas do poder público e exercia uma vigilância permanente sobre sindicatos, organizações profissionais, igrejas, partidos. Burocratas censuravam, intimidavam ou proibiam manifestações de opiniões e expressões culturais percebidas como hostis ao governo.

A repressão, eliminação de opositores políticos e graves violações de direitos humanos perpetradas durante 21 anos pelo regime instaurado pelo golpe de 1964 foram resultado de uma ação generalizada e sistemática do Estado brasileiro.

Converteram-se em política de Estado, concebida e implementada a partir de decisões emanadas da Presidência da República e dos ministérios militares. Operacionalizada através de cadeias de comando, mobilizou agentes públicos em um contexto generalizado e sistemático de ataque do Estado contra a população civil. A tortura, sistematicamente empregada pelo Estado brasileiro desde o golpe de 1964, constituía peça fundamental do aparelho de repressão montado pelo regime. Tornou-se instrumento de poder e de preservação do governo, com destinação de recursos, ocupação de espaços e uso de pessoal próprio.

É fato documentado que entre o golpe de 1964 e 1985 prevaleceu no Brasil regime de exceção que torturou, matou e “fez desaparecer” milhares de pessoas —dentre elas, estudantes, militantes políticos e sindicalistas. Embora o número não seja definitivo, foram plenamente identificados 434 casos de mortes e desaparecimentos sob responsabilidade do Estado brasileiro, reconhecida por lei em 1985.

Essa prática sistemática de detenções ilegais e arbitrárias e tortura, desaparecimentos forçados, execuções e ocultação de cadáveres que se abateu sobre milhares de brasileiros caracterizam o cometimento de crimes contra a humanidade.

Por essas razões, exaustivamente documentadas pela Comissão Nacional da Verdade, instituída por lei e cujo relatório é a versão oficial do Estado brasileiro sobre o regime militar, o golpe de estado de 1964 e o regime que instaurou, são incompatíveis com os princípios da Constituição de 1988 que regem hoje o Estado democrático de direito.

Comemorar o golpe de 1964 significa celebrar as graves violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade a partir deles perpetrados, e até hoje impunes, implicando intolerável apologia da violência.

José Carlos Dias, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro, Pedro Dallari e Rosa Cardoso, ex-integrantes da Comissão Nacional da Verdade (CNV)

*Publicado na Folha de S.Paulo, em 31 de março de 2019

Os impactos negativos da Reforma da Previdência - Pec 06/2019

Seguridade

Os impactos negativos da Reforma da Previdência - Pec 06/2019

É evidente que quanto maior for o empobrecimento econômico da força de trabalho, menor será o consumo de bens e serviços

 
01/04/2019 12:23
(Pixabay)
Créditos da foto: (Pixabay)
 
Em linhas gerais, o PIB – Produto interno bruto é um indicador utilizado para medir a atividade econômica de um país, que contempla tudo o que foi produzido, além dos bens e serviços que foram consumidos pela população e pelo governo. O PIB pode ser calculado de duas formas: pela soma das riquezas produzidas e pela demanda, ou seja, por quem compra essas riquezas. Na soma das riquezas produzidas o cálculo inclui os resultados da indústria no percentual de 30%, os serviços em 65% e a agropecuária em 5%. Na demanda, a base de cálculo é constituída pelo consumo das famílias em 60% e pelo governo 20%, pelos investimentos governamentais e privados na razão de 18% e pela soma das exportações e importações que respondem por 2%. E ambos os cálculos devem ser iguais.

A sustentação de uma nação reside na sua força de trabalho, conforme preconiza o Art. 193 da CF/88:

“Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.”

Para que esses indivíduos tenham uma contrapartida que lhes assegure “bem-estar e a justiça social” em face do trabalho desenvolvido devem ser considerados dois elementos: o risco de eventos futuros, que podem ser certos ou incertos e a arrecadação de recursos que os sustentem. Esses recursos serão financiados e constituídos sob a forma de contribuições do trabalhador e do empregador dentre outras que comporão o “fundo”, na forma do art. 195, da CF/88: 

“Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais (...)”

A previdência é uma espécie de seguro, de sistema de proteção social, de filiação obrigatória (Art. 201, da CF/88), que assegura o sustento do trabalhador e de sua família em casos de doença, acidente, gravidez, prisão, morte ou idade avançada. 

Uma vez criado o sistema da previdência, que pode ser público ou privado, ele deve funcionar na forma convencionada, sem que haja excedentes ou carência de recursos, sendo necessários cálculos de alguma complexidade, denominados cálculos atuariais. A elaboração desses cálculos é composta por elementos matemáticos, estatísticos, econômicos, legislativos, levando em consideração a expectativa de vida dos segurados dentre outros fatores. 

No caso da previdência pública, prevista constitucionalmente e objeto da PEC 06/2019, para que atenda aos fins a que se destina, deve ser levada em conta a natureza social do instituto, que além de sustentável deve ser justo. O cálculo atuarial servirá então para determinar o equilíbrio entre as contribuições ou reservas de seus integrantes, para atender as futuras realizações dos eventos dos segurados e os riscos previstos. 

Portanto, sendo um sistema solidário, quem trabalha hoje contribui para quem trabalhou ontem e assim por diante, de modo que a base dos recursos será sempre suficiente para os eventos que ocorrerão. 

A Constituição da República do Brasil, no Título VIII, Capítulo I e II, Seção I a IV, do Art. 193 ao 204, dispõe as bases da Ordem Social, o que é seguridade social, quais são seus três pilares de sustentação (os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social), de que forma será financiada, organizada e que eventos cobrirá. É de se observar que a previdência social não é algo estanque, ela é parte integrante da seguridade pública.

A Proposta de Emenda à Constituição - PEC nº 6/2019, que trata da Reforma da Previdência, do modo como apresentada pelo Executivo, aniquila os direitos sociais, na medida que estabelece idades mínimas para a aposentadoria em 62 anos para as mulheres e 65 para os homens, com tempo mínimo de contribuição em 20 anos. 

O resultado dessa política resultará em maior dificuldade de acesso ao sistema e remeterá a população a patamares de pobreza ainda mais aviltantes que os atuais, quando milhões de pessoas vivem na informalidade ou vivendo de expedientes. 

Partindo dessas afirmações é evidente que quanto maior for o empobrecimento econômico da força de trabalho, menor será o consumo de bens e serviços. E de consequência, haverá outro reflexo negativo devastador, o desaquecimento ou recessão da economia que atingirá todos os cidadãos brasileiros e não somente os segurados. 

Os impactos negativos serão sentidos sobretudo pelo trabalhador da iniciativa privada, pelo trabalhador rural e servidores públicos. Mas, em especial forma, pela força de trabalho das mulheres, uma vez que a regra da média das 80% maiores contribuições desde 1994 atual, será alterada pela média de todas as contribuições, o que vai puxar o cálculo dos benefícios para baixo. 

Ora, seguindo essa lógica flagrantemente constatável, o Brasil é estruturado socialmente em relações hierárquicas e solidárias entre os homens, o que possibilita controlar as mulheres. É um país ainda dominado pela crença profunda e arraigada, também entre as mulheres, de que os homens são superiores a elas, em todos os sentidos menos no biológico de gerar a vida, por evidentes razões de diversidade física.

A corroborar essa conclusão a circunstância de que os salários percebidos pelas mulheres são notadamente mais baixos do que os dos homens. Não obstante 51% da população seja feminina, a jornada de trabalho não se encerra quando ela saí da fábrica, das casas de família, do canteiro de obras ou do escritório. 

A mulher, ao contrário do homem, enfrenta mais uma jornada monótona, repetitiva e extenuante de trabalho quando chega em casa. R tal se dá porque além de trazer renda para casa, na maioria dos lares brasileiros não existe a divisão das tarefas domésticas, o cuidado com os filhos e os idosos, atividades e ônus considerados, eminentemente femininos.

A solução para a questão do desemprego e do alegado déficit na Previdência não está absolutamente ligada à supressão de direitos como quer fazer parecer o Executivo. Há medidas mais efetivas, transparentes e eficientes a serem tomadas do que a cruel opção de levar os brasileiros à miséria. A extinção da DRU é uma delas, pois a forma legal de desviar receitas para outros fins que não à Seguridade Nacional deve ser estancada de uma vez por todas. 

A “DRU é a sigla de Desvinculação de Receitas da União. Ela foi criada em 1994 e permite ao governo federal usar livremente parte de todos os tributos federais vinculados por lei a fundos ou despesas. O valor inicial era de 20%, mas passou a ser de 30% no governo de Michel Temer (MDB). Em outras palavras, quando o dinheiro entra nos cofres da União, o governo pega 30% do total e usa como bem entender, no que bem quiser”.https://www.anfip.org.br/artigo-clipping-e-imprensa/precisamos-falar-sobre-a-dru/

Dito isso, não é crível, que a “melhor” decisão politica do Executivo para angariar recursos objetivando saldar a dívida pública seja a de penalizar os indivíduos já menos favorecidos como as mulheres brasileiras, parcela dos cidadãos que mais contribuem para a entrada de receitas e para o consumo no país, tenham que pagar essa conta.

Fontes:
www.planalto.gov.br
www.senado.leg.br 
www.camara.leg.br 
www.anfip.org.br 

Denise Argemi é advogada, especialista em Direito Internacional Público, Privado e da Integração

Chilenos exigem ajuste de 20% nas aposentadorias e fim do sistema de capitalização

Pelo Mundo

Chilenos exigem ajuste de 20% nas aposentadorias e fim do sistema de capitalização

 

 
01/04/2019 14:12
Chilenos foram às ruas de Santiago e outras cidades no domingo (31) por ''Pensões dignas'' e pelo fim da previdência privada imposta por Pinochet. (AFP)
Créditos da foto: Chilenos foram às ruas de Santiago e outras cidades no domingo (31) por ''Pensões dignas'' e pelo fim da previdência privada imposta por Pinochet. (AFP)
 
Com faixas, cartazes e camisetas condenando o sistema de capitalização implantado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e identificando as Administradoras de Fundos de Pensão (AFPs) com “Abuso, Fraude e Pobreza”, uma multidão tomou as ruas de Santiago e das principais cidades do Chile neste domingo para exigir o aumento imediato de 20% nas aposentadorias e um “novo modelo previdenciário digno, com redistribuição solidária”.

“Não quero que o meu futuro seja igual ao presente da minha avó”, denunciou uma jovem, erguendo bem alto sua cartolina. “Parem de nos roubar, acabem com as AFP”, reforçou uma outra. Como elas, milhares de manifestantes disseram um sonoro não à reforma que o presidente Sebastián Piñera quer implementar, mantendo o figurino neoliberal ditado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial.

“Piñera pretende continuar incorporando medidas que não fazem nada além de manter o respirador artificial deste sistema que está em colapso, o que parece ser uma provocação”, declarou Luis Mesina, porta-voz do movimento No AFP, organizador da mobilização, para quem “é hora de vincular, pouco a pouco, passo a passo as lutas dos movimentos sociais”. Entre as pautas que merecem destaque, indicou, está a luta contra o Tratado Integral e Progressivo da Parceria Transpacífico (TPP 11), celebrado recentemente no Chile, que entrega plenas garantias ao capital estrangeiro. Até sua assinatura, o documento permaneceu em segredo, passando por cima do Congresso e da cidadania. “Se aceitarmos que se consume esse TPP”, alertou, “perderemos parte importante da nossa soberania e, consequentemente, nossa reivindicação para retomar a Seguridade Social ficará muito mais complexa”.

A preocupação procede. Neste momento, as AFPs são controladas por companhias transnacionais que especulam com um patrimônio coletivo de US$ 220 bilhões dos chilenos, dinheiro equivalente a 2/3 do seu Produto Interno Bruto (PIB). Dois terços destes recursos, US$ 151,9 bilhões, se encontram, segundo a Fundação Sol, sob o controle de três empresas norte-americanas: Habitat, US$ 57,76 bilhões (27,4%); Provida, US$ 53,03 bilhões (25,2%) e Cuprum, US$ 41,14 (19,5%).

APITOS E TAMBORES

De forma uníssona, apitos e tambores fizeram ressoar o repúdio ao sistema que o governo Piñera quer perpetuar, através da redobrada chantagem aos parlamentares – já que não tem maioria nem na Câmara nem no Senado.

A privatização da Previdência chilena foi implementada em 1981 via capitalização individual, num processo que contou com a participação de José Piñera, irmão de Sebastián, então ministro do Trabalho e Previdência Social de Pinochet.

O fato é que embora tenham prometido taxas de retorno de 70% e inclusive de 100% da remuneração quando chegasse o ano de 2020, hoje as pessoas ficam pobres ao se aposentar. A própria Superintendência de Pensões reconhece que quem se aposentava com US$ 700 tem atualmente uma taxa de retorno de apenas 33% se é trabalhador e de tão somente 25% se é trabalhadora, o que equivale a míseros US$ 231 e US$ 175, respectivamente.

“O grande problema é que esta realidade é invisibilizada pelos grandes meios de comunicação, pelos canais de rádio e televisão, que manipulam grosseiramente a realidade, divulgando mentiras e escondendo verdades”, apontou Luis Mesina. O coordenador do movimento NO AFP citou como exemplo um recente estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que “desmente de forma contundente que o sistema de Seguridade Social, complementar e solidário como o que defendemos, está quebrado nos países onde foi implementado”. “Os sistemas privados são os únicos que geram desigualdade social, aumento do gasto fiscal e deterioração das aposentadorias, entre os quais o chileno está entre os mais brutais”, assinalou.

“Milhares de chilenos voltaram a marchar e exigir de forma clara e contundente que se ponha fim a esta grande fraude e que seja criado um sistema que garanta benefícios justos e deixe de ser um negócio para os grandes grupos econômicos, para banqueiros e companhias estrangeiras”, declarou Luis Mesina, frisando que “nossa estratégia não é seguir marchando, mas vigiar como votam os parlamentares que se dizem de oposição”. “Os parlamentares não podem se deixar pressionar pela chantagem e devem passar a exigir uma transformação estrutural da Previdência”, frisou.

Para a presidenta da Central Unitária de Trabalhadores (CUT-Chile), Bárbara Figueroa, os parlamentares precisam levar em conta a proposta que foi entregue recentemente pelo movimento popular, “pois foi a única reivindicação feita a partir de uma consulta, de um amplo debate e que tem o peso específico da cidadania e o respaldo das massivas mobilizações”. “Um sistema de pensão justo precisa agora ser incorporado na agenda”, asseverou.

CONSOLIDAÇÃO DA FRAUDE

“Se uma professora tem uma renda de 150 mil pesos e tem que comprar um remédio de 80 mil não lhe sobra nada, sequer para comer. Estas são as aposentadorias pagas por esse sistema. E o projeto levado pelo governo ao Congresso não corrige, bem pelo contrário: consolida este modelo, consolida a fraude, e por isso queremos que seja rechaçado”, explicou o presidente do Sindicato dos Professores do Chile, Mario Aguilar. Na verdade, sustentou, “precisamos construir um sistema previdenciário de verdade, de distribuição solidária”.

Marchando ao lado das lideranças sindicais, estudantis e comunitárias, o deputado Boris Barrera destacou que “somos milhares contra um sistema que empobrece os trabalhadores”.

“Me parece vergonhoso que não tenhamos um sistema que garanta uma aposentadoria digna, que as pessoas terminem vivendo em condições miseráveis”, acrescentou o deputado Tomás Hirsch.

Ao concluir o ato, Luis Mesina reiterou que a iniciativa popular de lei entregue pela NO AFP “não provoca destruição da poupança interna, não gera desequilíbrios fiscais, baixa nos primeiros cinco anos de sua implementação o gasto público em mais de 1%, não reduz as economias acumuladas individualmente, mas complementa esta poupança e o mais importante: permite de forma gradual num prazo de cinco anos estabelecer uma aposentadoria base, universal, de um salário mínimo”.

Isso é muito importante, esclareceu a vice-presidenta da CUT Chile, Amália Pereira, pois “após a privatização os trabalhadores se aposentam com tão somente 1/3 do último salário”.

O resultado desta situação tem se refletido no agravamento da depressão e do número de suicídios. Conforme o Estudo Estatísticas Vitais, do Ministério de Saúde e do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), entre 2010 e 2015, 936 adultos maiores de 70 anos tiraram sua própria vida. O levantamento aponta que os maiores de 80 anos apresentam as maiores taxas de suicídio – 17,7 por cada 100 mil habitantes – seguido pelos segmentos de 70 a 79 anos, com uma taxa de 15,4, contra uma taxa média nacional de 10,2. Conforme o Centro de Estudos de Velhice e Envelhecimento são índices mórbidos, que crescem ano e ano, e refletem a “mais alta taxa de suicídios da América Latina”.

*Publicado originalmente em horadopovo.org.br

Um novo golpe midiático?

Um novo golpe midiático?

Sabemos que a era pós-verdade se guia por paixões e afetos, mais que pela razão. Nossa paixão é um Brasil fraterno, amoroso, com inclusão de todos. O silêncio é uma derrota dos bons. É preciso uma voz contraria ao ódio, determinada, lúcida, crítica e informativa

 
01/04/2019 16:18
 
 
O que me leva a escrever esse texto é a sensação muito fundamentada de que estamos correndo sério risco de um novo golpe midiático nesse momento no Brasil. Já adianto que não sou alarmista, nem adiro a teorias conspiratórias. Não sou determinista, acredito na esperança e na consciência crítica das pessoas, e que a história somos nós que a fazemos (não exatamente como gostaríamos), mas podemos influenciá-la.

O porquê de minha suspeita: Passamos um ano (2017) pesquisando a questão das novas mídias, junto com mais 12 pesquisadores/as num seminário do PPG de Psicologia da UFRGS. Enfrentamos o desafio de poder compreender 4 grandes questões diante das quais todo mundo se perguntava admirado: “Mas como? Como foi possível? Não dá para entender!” Essas questões eram: 1. Como foi possível a Trump ganhar a eleição? (Mais de 50 psicólogos e psiquiatras, num livro que publicaram, são praticamente unânimes em afirmar que ele é uma pessoa com sérias perturbações mentais). 2. Como explicar a saída da Inglaterra da Comunidade Européia (o Brexit)? 3. Como foi possível que o acordo de Paz, discutido por mais de 10 anos, entre o Governo da Colômbia e as FARC tenha sido rejeitado sem possíveis  razões? 4. E, finalmente como foi possível um golpe no Brasil, sem nenhum fato e nenhuma culpa comprovados – o que agora já é admitido por todos? (O livro tem 12 ensaios, 4 são dedicados a esses 4 temas). 

Vou ao ponto agora: Entrevejo outro golpe midiático se avizinhando. Nos 4 casos acima, as mídias sociais tiveram papel fundamental, decisivo. No caso do Brexit e Trump a Analytical Cambridge, uma empresa especializada em manipular eleições, comprou algoritmos (perfis psicológicos de pessoas) – no caso Trump foram 80 milhões -, do Facebook e através de mensagens, a maioria delas falsas, “fake news”, estrategicamente elaboradas, dirigidas a grupos segmentados de acordo com suas “crenças” e “convicções”, conhecidas devido às postagens que todos eles (e todos nós!) colocamos nas mídias sociais (Facebook, Whatsapp, cartões de crédito, etc. (Halpern, no The Guardian: “A campanha veiculava 50 mil variantes de propaganda dependendo do desempenho, com/sem sub-títulos, anúncios estáticos ou em vídeo. No último dia foram 175 mil variações, para audiências segmentadas”). Apesar de Zuckerberg, ter afirmado numa entrevista (sem que ninguém lhe perguntasse!) que o Facebook não iria interferir nas eleições brasileiras, está ficando cada vez mais evidente que algo está acontecendo. A invasão de crakers no site das mulheres contra B é um sinal bem claro dessa guerra midiática.  Esse é um caso concreto e exige um posicionamento claro e imediato do STE e o STF para examinar esse crime.

Mas o mais sério vem agora: por trás disso tudo está Paulo Guedes, o ministro anunciado da economia de B. Como mostra Christiane Zalazar (analisando suas próprias entrevistas) Guedes é um dos fundadores do Instituto Millennium, que financiou, desde 2009, a formação de lideranças e grupos que foram para a rua derrubar Dilma. Através de propagandas, artigos, palestras, uma rede de crakers e apoio de  grandes corporações da mídia como Globo, Estadão, Abril, FSP e bancos, o Millennium tem detonado líderes contrários a seu projeto e  tem obtido sucesso com a criação do MBL, Vem pra Rua. blogs, sites e grandes empresários. Junto está o Instituto Mises, liberais de extrema direita, com sede nos EE.UU. (o representante do Mises aqui é o dono dos postos Ipiranga). Atrás de B está Paulo Guedes e uma imensa estrutura que vem sendo preparada há muitos anos para eleger o primeiro presidente de extrema direita com a missão de manter a ordem a qualquer custo. Não quero ser alarmista. Baseio-me prudentemente em dados e estudos sérios feitos dos últimos acontecimentos políticos aqui no Brasil e outras partes do mundo. Os fatos vistos acima já aconteceram! Não adianta depois de tudo feito vir pedir desculpas, ou chorar diante do leite derramado. Sabemos que a era pós-verdade se guia por paixões e afetos, mais que pela razão. Nossa paixão é um Brasil fraterno, amoroso, com inclusão de todos. O silêncio é uma derrota dos bons. É preciso uma voz contraria ao ódio, determinada, lúcida, crítica e informativa. Acima de tudo essa é uma questão ética. Aos que lerem esse texto pediria que não acreditassem simplesmente no que está escrito. Mas pediria também que por amor ao Brasil, que todos dizem defender, se informassem. O livro que organizamos durante um ano de pesquisa e reflexão é “Psicologia, Comunicação e Pós-Verdade”, Editora Abrapso, 2018 (2ª ed), 360pp. Está anunciado em diversos sites. Em Porto Alegre, na Livraria Palmarinca, R. Jerônimo Coelho, 281).   

*Pedrinho Guareschi - UFRGS

**Este artigo foi publicado na Carta Maior originalmente em 19 de setembro de 2018

Diário do Bolso - Os 100 primeiros dias

Diário do Bolso - Os 100 primeiros dias

Os textos do autor José Roberto Torero vão virar livro que será editado por meio de financiamento coletivo. Saiba como participar.

 
02/04/2019 11:24
Créditos da foto: Capa de "Diário do Bolso - Os 100 primeiros dias" (Reprodução)
 
O “Diário do Bolso”, página do Facebook que tem cerca de dez mil inscritos, vai virar livro. Os textos são um falso diário do presidente Bolsonaro, onde ele coloca suas impressões sobre a vida, suas opiniões sobre os acontecimentos políticos, suas dúvidas, suas alegrias e tristezas. Os textos são feitos pelo escritor José Roberto Torero, autor de mais de trinta livros, entre eles “O Chalaça”, vencedor do prêmio Jabuti na categoria romance e Livro do Ano em 1995. Eles também são publicados no site Carta Maior.

O livro não será publicado pela Objetiva ou pela Cia. das Letras, editoras que geralmente publicam José Roberto Torero. “Diário do Bolso” será a primeira publicação da Padaria de Livros, editora do próprio autor e de sua esposa e editora Maria Rita Barbi.

O “Diário do Bolso” junta algumas tendências que já podem ser observadas no mercado editorial: autopublicação, financiamento coletivo, obras de pequenas tiragens, impressão por demanda e vendas diretas ao público interessado.

O livro será editado por meio de financiamento coletivo (https://www.kickante.com.br/campanhas/diario-do-bolso-100-dias) e custará R$ 33,00 (já com o frete incluso para o território nacional). Todos os exemplares serão autografados.

Na primeira semana já foi obtido mais de 200% do valor necessário para a publicação. Ou seja, o livro vai sair. A obra terá 100 páginas e falará sobre os 100 primeiros dias do governo Bolsonaro.

Mais informações: 11 2309-2907, com Maria Rita.