sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Chico Mendes e a utopia socialista na Amazônia

MEMÓRIA

Chico Mendes e a utopia socialista na Amazônia

O sonho de Chico Mendes não era morrer por uma causa. Era viver e ajudar os povos da floresta a viverem na Amazônia

Brasil de Fato | Rio Brando (AC)
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Chico Mendes e sua esposa Ilsamar Mendes / Miranda Smith, Miranda Productions, Inc.


Atenção jovem do futuro, 6 de Setembro do ano de 2120, aniversário ou centenário da Revolução Socialista Mundial, que unificou todos os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade. Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte. Desculpem… Eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos; que eu mesmo não verei mas tenho o prazer de ter sonhado.


Bilhete de Chico Mendes, escrito em 1988, ano de seu assassinato.


Esse sonho de Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, não era um sonho solitário. Nascido no município de Xapuri (AC), em 15 de dezembro de 1944, Chico Mendes aos 10 anos já sustentava a família por causa de um acidente de trabalho que o pai sofreu. Conheceu cedo as injustiças e exploração submetidas aos seringueiros.


No entanto, na sua juventude, Chico Mendes aprendeu a ler as palavras e o mundo com Euclides Fernando Távora, exilado político que vivia clandestino na Amazônia. Em 1975, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia e, em 1977, do STR de Xapuri, do qual se tornou presidente em 1981. Na década de 1980, tornou-se dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).


Muitos de seus companheiros também perderam a vida na luta pela preservação da Amazônia e dos povos da floresta, entre eles, Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia/AC, em 1980.


O sonho de Chico Mendes não era morrer por uma causa. Era viver e ajudar que os povos da floresta (seringueiros, indígenas e ribeirinhos) pudessem viver na Amazônia sem desmatá-la, como há mais de 100 anos faziam — no caso dos indígenas, há milênios. Mas esse sonho era barrado pela exploração dos patrões seringalistas e, em meados da década de 1970, pelos fazendeiros vindo do sul do país que compraram seringais para transformar a floresta em pasto.


Nessa época, os seringueiros começaram a organizar os empates, forma de resistência pacífica em que homens, mulheres e crianças faziam um cerco humano para “empatar”, isto é, impedir o desmatamento. Dos 45 empates realizados, 15 foram vitoriosos, pressionando o governo federal a criar reservas extrativistas, desapropriando alguns seringais.


Darci Alves Pereira, a mando de seu pai Darly Alves da Silva, fazendeiro que teve seu seringal desapropriado, mata Chico Mendes no dia 22 de dezembro de 1988 quando este abria a porta dos fundos de sua casa para se banhar ao final do dia.


Ao invés de fragilizar a luta dos povos da floresta, a morte de Chico Mendes deu-lhe novo fôlego. Isso aconteceu, em grande parte, devido à pressão internacional, pois Chico Mendes já era conhecido internacionalmente, tendo ganhado, em 1987, o prêmio Global 500, concedido pela ONU (Organização das Nações Unidas) por seu destaque na defesa pelo meio ambiente.
Edição: Texto publicado originalmente em 2010 no Brasil de Fato

Sócrates Brasileiro: o jogador de futebol que ousou sonhar com um mundo sem misérias

HOMENAGEM

Sócrates Brasileiro: o jogador de futebol que ousou sonhar com um mundo sem misérias

No sábado, o MST inaugura campo de futebol batizado em homenagem a Magrão, que levou a política para dentro dos campos

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Ouça a matéria:
Um dos maiores líderes do futebol brasileiro, Sócrates Brasileiro, será homenageado no próximo sábado, pelo MST / Arquivo Placar

"Com destino e elegância dançarino pensador 


Sócio da filosofia da cerveja e do suor 


Ao tocar de calcanhar o nosso fraco a nossa dor  


Viu um lance no vazio herói civilizador 


O Doutor! "  
O trecho acima é da música "Sócrates Brasileiro", de José Miguel Wisnik, e reflete bem o espírito do jogador Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Dr. Sócrates, ou Magro, como era conhecido.
Considerado um dos maiores jogadores brasileiros, Sócrates iniciou sua carreira no futebol aos 17 anos, passando por times como o Botafogo de Ribeirão Preto, Corinthians, Seleção Brasileira, entre outros.  
Famoso pelo "chute de calcanhar" que demonstrava toda a sua genialidade em campo, Sócrates atuou pra além do futebol, como relembra o jornalista e amigo Juca Kfouri. 
“Eu acho que é um legado de um jogador de futebol que foi muito mais do que um jogador de futebol. Um jogador de futebol que soube fazer da prática, do ofício dele, da missão dele como atleta muito mais do que isso. Como ser político, como alguém participante da vida pública brasileira. Como alguém que queria um Brasil mais justo, um Brasil menos desigual, um país mais democrático, um Brasil sem fome, sem racismo, sem homofobia, mais tolerante, tudo aquilo que ele sempre encarnou”.  
Confira o teaser de inauguração do campo:
O MST construiu coletivamente um campo de futebol em homenagem ao legado de Sócrates Brasileiro. O campo, localizado em Guararema, a 80 km de São Paulo, fica dentro da Escola Nacional Florestan Fernandes, espaço de formação política do movimento.  
O jornalista José Trajano fala sobre a homenagem a Sócrates, com o campo de futebol do MST e a influência dele para jogadores e toda população brasileira: “Só lembrar dele já é um incentivo que as pessoas pensem e reflitam a importância de um jogador de futebol sendo coerente, preocupado com a política, com a sociedade.  Então toda vez que o Sócrates é lembrado e homenageado, é uma maneira de dar uma cutucada nos jogadores, para que se inspirem, se espelhem no Sócrates”, comenta, Trajano.
Ouça a música feita pelos músicos Lira e Dan Maia para homenagear a inauguração do Campo:
Já o jornalista Kfouri caracteriza a homenagem do MST muito mais importante do que qualquer outra, porque define a ideologia de Sócrates, do que ele acreditava. Juca lamenta que o amigo não esteja presente para ver algo tão significativo. 
“Tenho absoluta certeza de que uma homenagem como essa é muito mais coerente com o que o Magro sempre foi e o deixaria muito mais feliz do que se, por exemplo, resolvessem dar o nome do Maracanã ao nome dele, ou se resolvessem mudar o nome do Pacaembu pro nome dele, ou o estádio do Corinthians, em Itaquera com o nome dele”, diz Kfouri. 
Magrão nasceu em Belém e, além de artilheiro, foi médico. Nos campos e fora dele defendia seu futebol e sua ideologia. 
No ano de 1978 entrou no Corinthians, seu time de coração, onde emplacou 172 gols. Lá foi um dos responsáveis pela chamada "Democracia Corinthiana", que estabelecia equidade entre as decisões tomadas dentro do time. 

No ano seguinte, estreou com a camisa da Seleção Brasileira, a canarinho. Em 1982 jogou a copa da Espanha, que tinha grandes nomes do futebol como Zico, Toninho Cerezo, Serginho Chulapa e Paulo Roberto Falcão, comandados por Telê Santana. A seleção brasileira foi eliminada pela Itália.
O jornalista Juca Kfouri, que na época trabalhava na revista Placar fala sobre a desolação do capitão Sócrates frente à derrota: “No embarque dele de volta, em Barcelona, ele me pergunta: 'O que eu vou dizer quando chegar no Brasil?', mas no dia anterior, quando terminou o jogo contra a Itália, eu perguntei pra ele: 'Magrão, o que eu escrevo? O que eu coloco na capa de Placar?' Ele virou-se pra mim e disse, bota só isso Juca: 'Que pena, Brasil!' Se você olhar a coleção de Placar você verá que é exatamente essa a chamada de capa da revista. Com uma foto rasgada da comemoração da seleção italiana ao fim do jogo”, declara. 
Dr. Sócrates faleceu em decorrência de uma infecção generalizada, no dia em que seu time do coração, o Corinthians, conquistava o pentacampeonato brasileiro, em 2011. 
Este grande ídolo do futebol nacional e internacional será homenageado no próximo sábado, na inauguração do campo Dr. Sócrates Brasileiro, que terá diversas partidas de futebol e a presença de familiares de Sócrates, da militância e lideranças do MST. O cantor Chico Buarque e o ex-presidente Lula também estarão presentes e jogarão uma das partidas de estréia do campo.
Edição: Anelize Moreira

Miséria, desmonte e desemprego: os 12 meses que abalaram o Brasil

RETROSPECTIVA 2017

Miséria, desmonte e desemprego: os 12 meses que abalaram o Brasil

Ano chega ao fim com saldo de retrocessos sociais e cortes de direitos capitaneados pelo governo golpista de Temer

Brasil de Fato | Brasília (DF)
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Temer tem piores índices de aprovação da história recente do Brasil / Lula Marques/Agência PT
Como numa volta ao seu pior passado, o Brasil termina 2017 com a sensação de ter perdido décadas em um ano. O governo golpista de Michel Temer (MDB), que ostenta uma reprovação de 77% da população, segundo dados do Ibope, vem patrocinando medidas para aprofundar ainda mais as desigualdades sociais e enfraquecer o Brasil no cenário internacional.
A volta da miséria e do desemprego em níveis alarmantes, além da retirada de direitos trabalhistas e, mais recentemente, a tentativa de restringir até a aposentadoria dos mais pobres formam a face mais perversa de um governo que só chegou ao poder depois de um golpe parlamentar que afastou uma presidenta eleita pelo voto direto.
O desmonte também inclui o congelamento de recursos para áreas como saúde e educação pelos próximos 20 anos, o corte de programas sociais de habitação, saneamento básico, ciência e tecnologia, além da entrega das reservas de petróleo para empresas estrangeiras, que inclui isenção de até R$ 1 trilhão em impostos. Como se não bastasse, Michel Temer ainda usou recursos públicos para comprar apoio parlamentar e evitar que fosse investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Brasil de Fato enumerou os principais retrocessos e as tentativas, ainda em curso, de retirada de direitos do conjunto da população. Confira:
Câmara livra Temer de processo criminal
Mesmo após ter sido flagrado em conversas suspeitas com um dos sócios da multinacional JBS e ter sido acusado pela Procuradoria Geral da República (PGR) de crimes como corrupção, formação de quadrilha e obstrução de justiça, Michel Temer conseguiu a proeza de barrar a denúncia criminal na Câmara dos Deputados por duas vezes este ano. Não saiu barato para o bolso da população. Para evitar que a denúncia fosse aberta pelo STF, o presidente golpista abriu os cofres públicos e distribuiu mais de R$ 32 bilhões em emendas parlamentares aos aliados. Com a rejeição das duas denúncias, uma em agosto e outra em outubro, Temer permanece blindado de investigação no mínimo até 2019.
A mesma delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, revelou o pagamento de R$ 2 milhões em propina para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), em mala de dinheiro que teria sido recebida por um primo seu. Apesar das evidências, o plenário do STF decidiu que caberia somente ao Senado decidir se mantinha Aécio afastado do cargo e em recolhimento domiciliar noturno, conforme havia sido determinado pela Justiça. O Senado não apenas aprovou a volta de Aécio ao cargo como paralisou o avanço de processo de cassação de seu mandato.
Orçamento congelado por 20 anos
Em 2017, começou a vigorar a chamada Emenda Constitucional do “teto dos gatos públicos”, também conhecida como “PEC do fim do mundo”. O apelido não é por acaso. A medida limitou o crescimento dos gastos à inflação do ano anterior, mesmo com a inflação de setores específicos, como saúde e educação, ser bem maior do que a média geral. Na prática, os gastos públicos ficarão congelados por 20 anos, mesmo em áreas que demandam aumento contínuo de investimentos, como é o caso da saúde. Ficaram de fora desse limite, no entanto, as chamadas despesas financeiras, que incluem o pagamento de juros da dívida pública — que beneficia diretamente os banqueiros —, além dos gastos com eleições, transferências aos estados e municípios, créditos extraordinários, entre outros.
Reforma Trabalhista
Em julho deste ano, foi aprovada a reforma trabalhista, apresentada pelo governo Temer. Considerada o maior desmonte de direitos e garantias desde a aprovação da CLT, a reforma passou a permitir aumento da jornada diária de trabalho, redução de salários, parcelamento de férias e enfraquecimento dos sindicatos.
O principal ponto da reforma é a possibilidade de que negociações diretas entre trabalhadores e empresas se sobreponham à legislação trabalhista em diversos pontos, o chamado “acordado sobre o legislado”. A lei passou a permitir também uma nova modalidade de contratação: o trabalho intermitente, feito por jornada ou hora de serviço.
Nesse tipo de contrato, o trabalhador fica à disposição do patrão, mas só recebe se e quando for convocado para o serviço, mesmo que ele fique à disposição ao longo de um ou vários dias.  
Reforma da Previdência
O governo Temer está gastando dezenas de milhões de reais em propaganda para tentar a convencer a população a aprovar a reforma da previdência, mas nem mesmo no Congresso Nacional há o apoio necessário para a votação da medida, que ficou para fevereiro de 2018.
Se for aprovada, a reforma vai atingir diretamente mais de 45 milhões de pessoas, especialmente os mais pobres, que terão que contribuir por até 40 anos se quiserem receber o valor integral da aposentadoria. A idade mínima para aposentadoria será fixada em 65 anos para homens e 62 para as mulheres, mesmo em um país onde a expectativa de vida em alguns estados não chega sequer aos 65 anos.
Entrega do pré-sal às multinacionais
Em novembro, Michel Temer sancionou a lei que praticamente acaba com o sistema de partilha das reservas de petróleo na camada pré-sal, descobertas pela Petrobras. Considerada uma das maiores jazidas de petróleo do planeta, a camada pré-sal tinha uma lei de exploração diferenciada, que dava à Petrobras o comando do consórcio de exploração e estabelecia cotas para compras de equipamentos e serviços no Brasil, como forma de gerar empregos e desenvolver a cadeia produtiva de petróleo no país.
Com a mudança na lei, a Petrobras deixa de ser operadora dos consórcios e as reservas poderão ser exploradas por petroleiras estrangeiras. A medida diminui em muito o lucro do país com os royalties do petróleo, que seriam direcionados diretamente para a educação. Além disso, o governo Temer ainda aprovou uma Medida Provisória que estabelece isenção de impostos para petroleiras estrangeiras que pode chegar à R$ 1 trilhão em 30 anos. 
Desemprego e miséria
Os cortes em programas sociais promovidos pelo governo Temer, a manutenção de desempregos em níveis alarmantes (mais de 12% da população economicamente ativa sem trabalho) e a recessão econômica têm aumentando de forma significativa a miséria no país.
Estimativas do Banco Mundial indicam que, apenas este ano, cerca de 3,6 milhões de novas pessoas ficarão abaixo da linha da pobreza no Brasil. A tendência de queda da pobreza que vinha se verificando nos últimos 14 anos foi drasticamente interrompida e o cenário é de piora para os próximos anos, porque será agravada com a restrição de gastos públicos para programas sociais e as mudanças na legislação trabalhista.
Cortes nos programas sociais
Levantamento realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) em parceria com a Oxfam Brasil e o Centro para os Direitos Econômicos e Sociais revela uma queda de até 83% em políticas públicas voltadas à área social ao longo dos últimos anos, especialmente ao longo de 2017. De acordo com o estudo, a área que mais perdeu recursos desde 2014 foi a de direitos da juventude, com queda de 83% nos investimentos.
Em segundo lugar estão os gastos com programas voltados à segurança alimentar, reduzidos em 76%. A área de moradia sofreu perdas de 62%, assim como a de Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes. No Ensino Superior, o governo Temer acabou com o programa de concessão de bolsas “Ciência Sem Fronteiras” e limitou os gastos de custeio das universidades federais, prejudicando atividades de ensino, pesquisa e extensão. 
Entre os maiores cortes promovidos pelo governo, está a redução de 92% nas verbas do programa de combate à seca no semiárido, o que ameaça inviabilizar a construção de cisternas nas zonas rurais do Nordeste e norte de Minas Gerais. A fila de espera por uma cisterna de primeira água, destinada ao consumo doméstico, segundo a ASA (Articulação do Semiárido), chega a 350 mil famílias. Nos últimos 15 anos, foram construídos mais de 1,2 milhão desses equipamentos.
Ataques contra a população do campo e os povos tradicionais
O ano de 2017 também foi repleto de ataques do governo contra a população camponesa e os povos indígenas. Para obter apoio no Congresso em favor das medidas de cortes de direitos, o governo Temer fez uma aliança estratégica com a bancada ruralista, que reúne mais de 200 parlamentares. Além de acelerar projetos como a autorização de venda de terras para estrangeiros, que pode afetar a soberania nacional e contribuir para a expulsão de famílias de agricultores familiares, a base do governo aprovou uma Medida Provisória que legaliza áreas de quem cometeu desmatamento e grilagem de terras.
Em outra frente, o governo bloqueou a demarcação de terras tradicionais indígenas e quilombolas e a desapropriação de áreas para a reforma agrária. Também houve forte contingenciamento orçamentário da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e lideranças indígenas e camponesas, e até mesmo servidores públicos, foram indiciados pela CPI da Funai e do Incra, numa clara iniciativa de perseguição contra as políticas públicas do setor.
Comunicação Pública e violações à liberdade de expressão
Em 2017, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) denunciou dezenas de episódios de ameaças à liberdade de expressão no país, por meio da campanha Calar Jamais!. “O conjunto das violações comprova que práticas de cerceamento à liberdade de expressão que já ocorriam no Brasil […] encontraram um ambiente propício para se multiplicar após a chegada de Michel Temer ao poder, que resultou na multiplicação de protestos contra as medidas adotadas pelo governo federal e pelo Congresso Nacional”, diz um trecho da apresentação do relatório de um ano da campanha, lançado em outubro. São casos de repressão a protestos de rua, censura privada ou judicial a conteúdo nas redes sociais, violência contra comunicadores, desmonte da comunicação pública e pelo cerceamento de vozes dissonantes dentro das redações.
No caso da comunicação pública, os ataques à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) se intensificaram ao longo do ano. A EBC é a empresa pública que controla agência de notícias, emissoras de rádio e a TV Brasil, responsável pela distribuição de conteúdo informativo gratuito e comprometido com a cidadania. Segundo o coordenador da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom), Jean Wyllys (PSOL-RJ), a EBC tem sofrido com o cancelamento de programas, demissão de comentaristas, censura e ataque aos trabalhadores e, mais recentemente, a aprovação de um manual de conduta que aumenta ainda mais o clima de ameaça à liberdade de expressão e atuação sindical dentro da empresa.
Edição: Vanessa Martina Silva

Celso Amorim: "Venda de Embraer à companhia Boeing seria crime de lesa-pátria"

Celso Amorim: "Venda de Embraer à companhia Boeing seria crime de lesa-pátria"

Negociações que poderiam levar à combinação das empresas estadunidense e brasileira é vista com gravidade

Brasil de Fato| São Paulo (SP)
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Voto do governo é decisivo no processo de negociação da Embraer / Antonio Milena/EBC
A notícia de que a Embraer, a Empresa Brasileira de Aeronáutica e a Boeing estão discutindo uma combinação de seus negócios obrigou o governo brasileiro a dar uma resposta imediata ao assunto.
O Planalto tem poder de veto a uma eventual venda em razão do chamado golden share, um mecanismo que concede maior peso ao voto do governo. Segundo apuração da Folha de São Paulo, o presidente golpista Michel Temer (MDB) seria contrário ao controle acionário da empresa brasileira pelos americanos.
O ex-ministro da Defesa e das Relações Exterior, Celso Amorim se colocou também contra as negociações e afirmou que mesmo com o "furor privatista" do governo Temer, a venda não deveria ser permitida. "Totalmente contrário, acho isso um crime de lesa-pátriaO governo brasileiro tem que usar o golden share que ele dispõe para impedir essa fusão, porque não é fusão é uma incorporação", afirma.
Ele afirma que a Embraer é estratégica demais para o Brasil do ponto de vista comercial, tecnológico e de defesa do país e lembra que os aviões são um dos principais itens de exportação."Não há como passar esse controle para uma empresa estrangeira sem que ela divida o mercado de acordo com seu interesse", considera. 
Darc Costa,  ex-vice-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor de Economia Política Internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a Embraer é o maior êxito que o Brasil tem em termos de tecnologia.
Embora não veja chances reais da empresa brasileira acabar nas mãos dos estadunidense, Costa enxerga esse possível cenário como negativo para o Brasil. "A venda dessa empresa para o exterior representa mais uma perda da soberania nacional. Algo que o governo nacional tem colocado como defensor dessa ideia de que a internacionalização deve ser conduzida para que o progresso do país ocorra", avalia.
O ex-vice-presidentes do BNDES lembra que a Embraer, embora privada hoje, é uma construção do estado nacional e se tornou uma grande empresa graças ao apoio permanente do BNDES.
Edição: Vanessa Martina Silva