COMUNISTAS E
O REFERENDO BRITÂNICO
A decisão do povo britânico de retirar o país da União
Europeia é acontecimento de enorme significado político, com importantes
repercussões geopolíticas e econômicas, não só para a Europa, como para todo o
mundo.
José
Reinaldo Carvalho*
Os defensores da União Europeia apresentam o fato como
uma ameaça à civilização e à democracia. Nada mais falso. O que não podem
esconder é a enorme crise desse bloco imperialista e o sério abalo que o
pronunciamento da maioria dos britânicos provoca em suas estruturas. Não podem
esconder também a insatisfação que grassa em toda a Europa em decorrência das
políticas antissociais da União Europeia.
Os democratas de fancaria ignoram uma manifestação
soberana, no quadro de uma campanha marcada por acontecimentos trágicos e
politicamente condicionada por uma falsa disjuntiva entre, por um lado,
posições neoliberais, que defendem a permanência na União Europeia e a
integridade do bloco, e, por outro, posições de direita, reacionárias, xenófobas,
racistas, hoje presentes no cenário político da quase totalidade dos países
europeus. A disjuntiva reflete as agudas contradições entre facções da grande
burguesia e do imperialismo. Os falsos democratas nada dizem sobre o fato de os
centros de decisão da União Europeia sediados em Bruxelas serem monstrengos
burocráticos que engendram decisões lesivas à autonomia nacional dos povos e
violadoras dos direitos sociais. Quem não se lembra do modo como chantagearam e
ameaçaram o povo grego, ignorando o resultado do plebiscito promovido pelo
governo do Siryza, quando soberanamente foi dado um contundente NÃO às
políticas da EU?
Os comunistas brasileiros saudamos a decisão soberana
do povo britânico e congratulamo-nos com os comunistas britânicos e outras forças
da esquerda consequente, que votaram pela saída do Reino Unido da União
Europeia. O Partido Comunista Britânico e seus aliados fizeram a campanha pelo
chamado BREXIT levantando as bandeiras da democracia, dos direitos dos
trabalhadores, o internacionalismo e a solidariedade, não se confundindo em
nenhum momento e aspecto com o discurso reacionário da direita, tampouco
capitulando à pressão política e ideológica dos defensores da União Europeia,
nem se abalando com as falsas acusações de que seu voto favoreceria as forças
da extrema direita.
O resultado da consulta popular assinala uma
contundente derrota das políticas antissociais da União Europeia. Esta se
revela cada vez mais como um bloco de caráter monopolista, imperialista,
militarista, que sempre atuou contra os interesses dos povos, a democracia, o
progresso social e a paz mundial. A União Europeia, malgrado suas contradições
com o imperialismo estadunidense, contradições de caráter interimperialista,
foi e é sua principal cúmplice nas agressões a povos e nações, no incremento da
OTAN e na execução de políticas neoliberais e neocolonialistas, inclusive para
com a região da América Latina e o Caribe. A União Europeia, sob a hegemonia de
potências imperialistas, submete os países mais débeis e massacra seus povos
com políticas econômicas, monetárias e financeiras de arrocho, responsáveis
pela recessão, o desemprego, o corte do gasto social e o ataque aos direitos
dos trabalhadores.
A decisão soberana do povo britânico alenta as forças
democráticas e progressistas em sua luta contra esse tipo de integração
capitalista e imperialista, por democracia, justiça, progresso social,
cooperação e paz, pelos direitos humanos e os direitos dos imigrantes, contra o
racismo e toda forma de discriminação.
Os comunistas brasileiros nos somamos a essa luta e
com ela somos solidários. Não nos deixamos levar pela repugnante propaganda dos
meios de comunicação que tentam caracterizar o resultado do plebiscito como
vitória da direita. O que favorece as políticas da extrema direita europeia é a
persistência no caminho ruinoso do neoliberalismo, do
conservadorismo, do militarismo e das intervenções bélicas. É a insidiosa ideia
de que não há caminho alternativo entre as diferentes facções da burguesia e do
imperialismo.
A integração pela qual lutamos e tentamos construir na
América Latina e no Caribe nada tem a ver com o modelo da União Europeia.
Como força independente de classe, cujo inimigo
principal é o imperialismo estadunidense, os comunistas brasileiros,
respeitando todas as posições que se apresentam honestamente no debate político
e na batalha das ideias, não se permitem ilusões nem alianças com o
imperialismo da União Europeia.
*José
Reinaldo Carvalho, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do
PCdoB