segunda-feira, 23 de julho de 2018

10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO EM MASSA UTILIZADAS DIARIAMENTE CONTRA VOCÊ

10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO EM MASSA UTILIZADAS DIARIAMENTE CONTRA VOCÊ

 Tales Luciano Duarte

 
 Saia da Caixinha

Noam Chomsky é um linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como “o pai da linguística moderna“, também é uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica. (Fonte)

“Em um estado totalitário não se importa com o que as pessoas pensam, desde que o governo possa controlá-la pela força usando cassetetes.

Mas quando você não pode controlar as pessoas pela força, você tem que controlar o que as pessoas pensam, e a maneira típica de fazer isso é através da propaganda (fabricação de consentimento, criação de ilusões necessárias), marginalizando o público em geral ou reduzindo-a a alguma forma de apatia” (Chomsky, N., 1993)

Inspirado nas idéias de Noam Chomsky, o francês Sylvain Timsit elaborou a lista das “10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos meios de comunicação de massa“

Sylvain Timsit elenca estratégias utilizadas diariamente há dezenas de anos paramanobrar massas, criar um senso comum e conseguir fazer a população agir conforme interesses de uma pequena elite mundial.

Qualquer semelhança com a situação atual do Brasil não é mera coincidência, os grandes meios de comunicação sempre estiveram alinhados com essas elites e praticam incansavelmente várias dessas estratégias para manipular diariamente as massas, até chegar um momento que você realmente crê que o pensamento é seu.

1. A Estratégia da Distração

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes.

A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética.

Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real.

Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais.

2. Criar problemas e depois oferecer soluções

Este método também é chamado “problema-reação-solução“. Se cria um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja aceitar.

Por exemplo: Deixar que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas desfavoráveis à liberdade.

Ou também: Criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. (qualquer semelhança com a atual situação do Brasil não é mera coincidência).

Este post PORQUE A GRANDE MÍDIA ESCONDE DE VOCÊ AS NOTÍCIAS BOAS? retrata bem porque focar nos problemas é interessante para grande mídia.

3. A estratégia da gradualidade

Para fazer que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Foi dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas, neoliberalismo por exemplo, foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990.

Estratégia também utilizada por Hitler e por vários líderes comunistas.  E comumente utilizada pelas grandes meios de comunicação.

4. A estratégia de diferir

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária“, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura.

É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente.

Depois, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “amanhã tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5. Dirigir-se ao público como crianças

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criança de pouca idade ou um deficiente mental.

Quanto mais se tenta enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante.

Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como as de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade.”

6. Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico dos indivíduos.

Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos.

7. Manter o público na ignorância e na mediocridade

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão.

“A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser revertida por estas classes mais baixas.

8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade

Promover ao público a crer que é moda o ato de ser estúpido, vulgar e inculto. Introduzir a idéia de que quem argumenta demais e pensa demais é chato e mau humorado, que lhe falta humor de sorrir das mazelas da vida.. 

Assim as pessoas vivem superficialmente, sem se aprofundar em nada e sempre ter uma piadinha para se safar do aprofundamento necessário a questões maiores.

A idéia é tornar qualquer aprofundamento como sendo desnecessário. Pois qualquer aprofundamento sério e lúcido sobre um assunto pode derrubar sistemas criados para enganar a multidão. 

9. Reforçar a auto-culpabilidade

Fazer com que o indivíduo acredite que somente ele é culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, suas capacidades, ou de seus esforços.

Assim, no lugar de se rebelar contra o sistema econômico, o indivíduo se auto desvaloriza e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de sua ação. E, sem ação, não há questionamento!

10. Conhecer aos indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem

No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dominantes.

Graças à biologia, a neurobiologia a psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado sobre a psique do ser humano, tanto em sua forma física como psicologicamente.

O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que dos indivíduos sobre si mesmos.

Nós do Yogui.co acreditamos que para se manter desperto e apto a tomar decisões sem sermos massa de manobra devemos nos auto-conhecer, o caminho mais profundo de auto-conhecimento é a meditação (ao nosso ver).

A simples tarefa de olharmos internamente para cada nuance de nosso ser equestionar cada célula, cada pensamento é o caminho básico para quem deseja despertar de toda essa manipulação que foi pensada e estrategiada para nos manter dispersos. 

Quanto mais disperso o ratinho. Mais facilmente cai na ratoeira.

Paulo Lindesay -Diretor da Assibge-sn/Coordenador do Núcleo da Auditoria Cidadã RJ

Ressurreição da esquerda na ditadura. A vida ensina. A gente aprende?


Ressurreição da esquerda na ditadura. A vida ensina. A gente aprende?

Ao longo dos últimos 30 anos, refluiu o ativismo de esquerda, aquele que conectava local de trabalho e local de moradia - e se realizava em paróquias, associações ou subsedes sindicais. Em seu lugar, cresceu um outro organizador de rotinas, aspirações e desejos - as igrejas evangélicas, que se multiplicaram, precisamente, depois de 1980. Uma escola de política se esvaziava, uma outra se erguia

 
22/07/2018 12:04
 
 
Reginaldo Moraes
 
Há exatos 30 anos, o sociólogo e militante Eder Sader publicou um livro de obrigatória referência para quem busca analisar os movimentos sociais da Grande São Paulo, na década de 1970. E útil, também, para compreender outros contextos, nas outras regiões metropolitanas do país.
O título era mais do que sugestivo – Quando Novos personagens entraram em Cena – experiências e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo 1970-1980. (Paz & Terra, S. Paulo, 1988).  O livro procurava entender “a experiência da condição proletária”, o modo de vida das classes populares e, também, a dinâmica dos novos movimentos sociais. Enfatizava a importância de dois “lugares” dessas lutas – a moradia (os bairros periféricos) e o trabalho (fábricas e sindicatos). O estudo – originalmente uma tese de doutorado em sociologia – dava bastante importância às “matrizes discursivas” que animavam os personagens e ajudavam a compor a sua visão de mundo. Aí, o autor identificava “três centros de elaboração”: a igreja católica, o novo sindicalismo e os grupos de esquerda em reconstrução, depois da derrota sob o governo Médici. 
Olhando em retrospectiva, parece-me que seria prudente reavaliar o peso dessas “agências”. Quanto aos grupos de esquerda em reconstrução, por exemplo, embora tenham tido importância crucial em certos momentos e lugares, a memória me convence que só sobreviveram e vicejaram, durante algum tempo, precisamente na medida em que cultivaram algum tipo de simbiose – criativa, muitas vezes - com as outras duas matrizes, a Igreja e os movimentos sindicais de novo tipo.
Passaram-se três décadas desse estudo, com grandes transformações operando sobre a cena e sobre os personagens retratados. As mudanças foram de tal porte que quase se pode dizer que aqueles novos personagens saíram da cena, trocaram de identidade ou se enquadraram em um novo enredo.
Voltarei aos outros personagens em outra ocasião. Por enquanto, registro as peculiaridades de um deles, que me parece ganhar importância quando tomamos distância. Refiro-me à “matriz discursiva” da Igreja Católica – ou, pelo menos, de uma parte então relevante daquela igreja. Até porque foi bem mais do que discursiva, como se pode ver nos episódios que comento.
Começo pela memória de um evento casual. No início de 1972, eu era militante de um grupo clandestino que se opunha à ditadura. Estava envolvido numa campanha, a da chapa de oposição no sindicato dos metalúrgicos de S. Paulo-Capital.  Depois de uma jornada de panfletagens nas fábricas de Santo Amaro, acompanhei meu amigo Vito Giannotti, operário vinculado à esquerda católica, à casa de Plinio de Arruda Sampaio, no bairro dos Jardins. Na nossa provável ingenuidade juvenil (Vito tinha 28 anos, eu tinha 21), íamos pedir a Plinio, membro importante da Comissão de Justiça e Paz, para que recomendassem aos padres da periferia uma atitude de cooperação com os movimentos operários e populares. Basicamente, que abrissem as paroquias periféricas para nossas reuniões e campanhas de difusão.  Anos depois, bem depois, entendi que não era apenas isso. Não íamos pedir algo que não estivesse já deliberado em certa agenda. Sabíamos que em outras regiões, outros trabalhadores católicos faziam algo parecido com outros membros progressistas da Comissão. O que não sabíamos era que nossa “demanda” era a contrapartida (talvez induzida) de uma estratégia bem mais ampla e organizada do saudoso cardeal Paulo Evaristo Arns. A chamada Operação Periferia. Segundo minha avaliação atual, Arns precisava dessa pressão “pelas bases” para ajudar a legitimar sua decisão corajosa e estratégica. Hoje tenho convicção de que jamais conseguiremos exagerar a importância de sua Operação Periferia para a reconstrução do movimento operário e popular, nas duras condições dos anos 1970.
Por isso vale a pena recompor a estória dessa operação de Arns, que não tinha apenas a dedicação de um franciscano, era um pastor intelectualmente sofisticado e um “comandante” dotado de notável visão estratégica.
Desde logo, quando se tornou arcebispo de São Paulo (1970), Arns planejava reorientar a ação da igreja na região (incluía capital e Osasco, a cidade “vermelha”).  Era uma mudança clara com relação ao antigo gestor, Agnelo Rossi, que tinha declarada simpatia pelo regime militar. Durante a campanha da Fraternidade de 1972, Dom Paulo lançou sua Operação Periferia, num programa de rádio da Diocese.
Organizar a igreja na periferia tinha mais do que um sentido geográfico – eram periféricos os pobres, morando em favelas, bairros precários da periferia ou cortiços e casas de cômodos do centro deteriorado da cidade.
O objetivo básico da Operação era formar comunidades. Para isso, era necessário descobrir e treinar lideranças para animá-las, montar centros comunitários nos bairros, para nuclear atividades religiosas ou não. Formular projetos que envolvessem necessidades dos moradores, que os envolvessem. A Operação projetava uma organização através de colegiados em diferentes níveis, da base (as comunidades) ao topo (a coordenação). E incorporando militantes leigos. Construir comunidades implicava construir essa liderança organizada.
A operação teve lances de enorme simbolismo. D. Paulo vendeu a majestosa residência episcopal, um palacete rodeado de jardins em região nobre. E investiu o recurso na compra de uma centena de terrenos em bairros periféricos, para a construção de centros comunitários. Não seriam apenas igrejas, destinadas a celebrar missas. Seriam centros com salas e salões destinados a atividades como reuniões dos clubes de mães, dos grupos de catequese, dos núcleos da pastoral operária, creches, cursos, grupos de jovens para fazer música ou teatro. E também, claro, para as celebrações dominicais.
 
Um viveiro de criatividade militante
 
Durante os anos 1970, mesmo sob a ditadura, houve uma difícil mas progressiva recomposição da esquerda política. Um crescimento de seus ativistas e militantes com fundamento em uma base social clara, uma rede de conexões que se propagava. Uma rede meio subterrânea que viria à luz do dia com o declínio da ditadura e a “redemocratização” dos anos 1980. 
Esse crescimento foi muito alimentado pela forja de militantes e ativistas que vinham de sindicatos e igrejas. A base social relevante da esquerda política começou a ser essa: os movimentos do “povo pobre da periferia”, expressão preferida dos católicos e dos maoístas, a corrente política mais “casada” com os religiosos. 
Sim, era daí que saia o grosso da militância e dos filiados do PT, por exemplo. Ou das oposições sindicais. Ou da futura CUT. Porque os sindicatos e esses movimentos populares – tantas vezes nucleados em paróquias perdidas em bairros precários -  eram os “lugares” da semeadura. Era ali que se realizava aquela atividade regular, constante, de formação de identidades e afinidades, de hábitos de pensamento e de comportamento. Hábitos de encontro – a palavra igreja vem de Eclésia, assembléia, encontro, e não é por acaso. 
Quando a base social da esquerda política se fragmenta, desintegra, amolece, a dificuldade para promover enfrentamentos é terrível. Depois de 1980, principalmente, as empresas começam a passar por “reengenharias”. São fragmentadas e terceirizadas. Com essa reforma e com a automação, categorias profissionais inteiras são reduzidas pela metade, são partidas. Depois, com as privatizações, outras categorias definham. Os movimentos sindicais iriam sentir esse baque. E outros viriam.
Outros baques viriam, no movimento dos bairros periféricos, o outro lugar de florescimento de lideranças. Nos anos 1970, a esquerda conseguiu avanços significativos (em parceria com o chamado clero progressista) criando conexões entre movimentos no local de moradia. Havia uma interligação e cooperação viva entre movimentos por transporte, saúde, infraestrutura urbana, e movimentos sindicais, redundando em fortalecimento de campanhas de sindicatos e oposições sindicais. Escolas de solidariedade e de política. Essa atividade foi profundamente abalada por vários fatores, um dos quais, nada desprezível, foi o brutal desmonte da igreja da libertação, uma iniciativa clara e enérgica do papa eleito em 1979. 
Nos bairros populares, a chamada “igreja progressista” foi rapidamente desmantelada por um papa claramente reacionário. Ali, onde elas eram o lugar do encontro, são substituídas por uma profusão de alternativas evangélicas, com práticas de enraizamento bem parecidas, mas, em geral, com um discurso radicalmente oposto. A teologia da libertação – a da salvação coletiva -  dá lugar à teologia da prosperidade, em que Deus é uma caderneta de poupança: você investe e ele dá retorno, aqui mesmo, na vida material, no vale de lágrimas. A salvação individual, através do mérito e do mercado.
A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, nasceu num barracão do subúrbio carioca, no final dos anos 1970. Menos de dez anos depois já possuía templos e salões de culto em centenas de municípios. E adquiria uma das maiores redes de rádio e TV. Muitas concorrentes – ou co-irmãs - seguiram esse rumo.
As chamadas correntes evangélicas mostraram admirável energia militante. Evangélicos são usualmente praticantes – vão ao culto toda semana. Mais do que isso. Muitos vão mais vezes à igreja, enviam os filhos para atividades de jovens, crianças. Participam de círculos bíblicos, grupos de jovens e mulheres, organizam campanhas de proselitismo e venda de publicações, de conquista de adeptos e “associados”. Muitas igrejas dessas igrejas realizam um notável e dedicado serviço social, de apoio aos “irmãos”, de atração de fiéis. Oferecem cursos, grupos de teatro, creches, orientação para emprego, moradia, legalização de documentos, informam sobre o acesso a serviços públicos e assim por diante. Socializam, acolhem, integram. E para ajudar, nos intervalos o fiel ouve seus pastores e cantores no rádio, cadeias enormes de rádio e TV. Nas ruas comerciais das grandes cidades, lojas ou cinemas que fecham são com frequência alugados para alguma igreja desse perfil, não importa sua denominação. Nos bairros periféricos, desde a metade dos anos 1980, vemos a multiplicação de pequenos galpões. Nos anos 1970 era quase impossível ver um sequer. Com o tempo, transformam-se em templos maiores, alguns bastante imponentes – suficientemente amplos para abrigar todas essas atividades.
 
Tem que ser assim?
 
Resumindo o argumento. Ao longo dos últimos 30 anos, refluiu o ativismo de esquerda, aquele que conectava local de trabalho e local de moradia – e se realizava em paróquias, associações ou subsedes sindicais. Em seu lugar, cresceu um outro organizador de rotinas, aspirações e desejos – as igrejas evangélicas, que se multiplicaram, precisamente, depois de 1980. Uma escola de política se esvaziava, uma outra se erguia. 
Descrevi, páginas acima, a Operação Periferia, um construto político de notável envergadura. Nenhuma das organização de esquerda , pequenas e divididas, teria condições de emprendê-la, mesmo que tivesse tal visão. Os sindicatos – mesmo que fossem imbuídos dessa compreensão – não tinham coesão suficiente para isso, ainda que, hipoteticamente, tivessem os recursos. Esse papel coube à Igreja, ou uma parte inovadora e voluntarista da Igreja, equipada com uma nova teologia. A partir do final dos anos 1970, vemos empreendimento similar mas com cortes claramente conservadores. Houve e há uma operação periferia da constelação de igrejas pentecostais conservadoras. Nada garante que continuem a ter essa inclinação doutrinária nem que seja eficientes na tarefa de controle social. Mas... quem saberá construir uma alternativa? Como? Talvez hoje sindicatos, movimentos e partidos à esquerda tenham mais saber e mais coesão para tentar. Talvez. Se não o fazem, acredito, renunciam a seu papel, mergulham na mediocridade e entregam a batalha para o adversário. A história provê a oportunidade, não o resultado.
As condições e os personagens são diferentes, portanto. Para o bem e para o mal. E hoje não precisamos de um empreendimento imobiliário como aquele do cardeal rebelde. Há um grande número de espaços estatais para reconquistar e tornar públicos. Uma escola em cada bairro, centros comunitários como os CEUs de São Paulo. Outros. Talvez o que falte seja a criação de pacientes e dedicadas brigadas juvenis, por exemplo. Que tenham a humildade de aprender e ensinar uma nova lição, para que o “publico alvo” seja mais do que um alvo. Porque, como diziam meus amigos cristãos, quem mastiga sente o gosto. E quem sente o gosto tem mais fome. De poder, porque é do poder que estamos falando.

Luiz Fux, fake news e imprensa independente

Luiz Fux, fake news e imprensa independente

Nelson Jr. /SCO/STF
A grande mídia noticiou com certo espanto que após um mês e meio depois de o ministro Luiz Fux, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), elaborar um acordo com os partidos contra a disseminação de notícias falsas na internet – as chamadas fake news -, o PT é a única grande sigla que ainda não subscreveu o documento. Não subscreveu, nem subscreverá, por razões muito objetivas.
O PT é o partido que mais se empenha no combate às notícias falsas, porque é alvo de mentiras na imprensa desde a sua fundação em 1980 e, depois, de forma sistemática, no submundo das redes.
Diante de notícias falsas, qualquer que seja sua origem, a Constituição e a lei preveem o direito de resposta, que deve ser garantido pelo Judiciário. Mas esse direito tem sido negado ao PT, também de forma sistemática, principalmente quando a mentira e a ofensa partem das Organizações Globo.
Setores do Judiciário brasileiro, no entanto, têm se especializado em censurar e coagir a imprensa independente, como se vê, para citar apenas um exemplo, nas decisões autoritárias contra o Blog do jornalista Marcelo Auler, impedido de divulgar informações sobre desmandos policiais na Lava Jato.
No mesmo sentido, a imprensa dos poderosos vem manipulando o conceito de "fake news", em cumplicidade com os administradores das grandes redes sociais, para calar e constranger a imprensa independente. Foi o que se viu no episódio do rosário entregue por um representante do Papa Francisco ao presidente Lula.
O compromisso do PT é com a verdade e com a livre circulação de informações. Demonstramos isso na prática, sem necessidade de assinar compromissos vazios, que possam, no futuro, vir a validar ações arbitrárias contra quem quer que seja.
Da forma como foi proposto pelo presidente do TSE em final de mandato, Luiz Fux, o compromisso contra fake news não passa de mais uma fake news. E não será endossado pelo PT.
Da Justiça, inclusive da Justiça Eleitoral, o que se espera é que faça cumprir a lei, punindo quem espalha mentiras, com os instrumentos que a lei já dispõe, e garantindo o direito de resposta e a livre circulação da verdade, seja na imprensa tradicional seja nos meios digitais.

Judiciário golpista. CÁRMEN LÚCIA NEGA PEDIDO E MANTÉM LEILÃO DE DISTRIBUIDORAS DA ELETROBRAS