terça-feira, 17 de outubro de 2017

Hackearam seu cérebro para te viciar no seu smartphone! Veja 10 dicas simples para contra-hackear

Hackearam seu cérebro para te viciar no seu smartphone! Veja 10 dicas simples para contra-hackear

Marco Gomes

Marco Gomes 

Data Science: estrategista de implantação. Palantir Technologies.

26 artigos
Desenvolvedores de aplicativos utilizam técnicas de psicologia para nos fazer usar o celular de forma mais frequente, conheça as táticas que uso para evitar estas armadilhas e contra-hackear meu cérebro, tomando de volta o controle de quando e como uso o smartphone.
Ao fundar um sistema de publicidade que chegou a alcançar 80 milhões de pessoas por mês no Brasil, e um aplicativo de saúde e exercícios físicos que chegou a 500 mil usuários com zero investimento em propaganda, estudei e apliquei inúmeras técnicas de aquisição e engajamento de usuários. Por conhecer tantas formas para aumentar o engajamento, imaginei que seria imune aos tais métodos. Mas estudando psicologia e refletindo sobre meu próprio comportamento, entendi que nosso cérebro responde aos estímulos de maneira muito padronizada, independente de estarmos cientes das técnicas usadas para nos fisgar.
Se um aplicativo tem uma bolinha vermelha com um número de avisos importantes ainda não verificados, o fato de eu saber que isso é um truque para chamar minha atenção não faz com que eu seja imune à vontade de clicar, para descobrir quais são os avisos. Arrastar a timeline do Instagram para baixo – ativando a animação de “carregando” e depois mostrando posts surpresa inéditos –, é um truque de engajamento também, possivelmente com os mesmos efeitos do vício em caça-níqueis, e mesmo sabendo disso, arrastar o dedo pra baixo no instagram tem em mim o mesmo efeito viciante que numa pessoa que não está ciente de tal armadinha. Citando Kahneman (Thinking, Fast and Slow)o meu Sistema 1 responde de forma padrão aos estímulos que funcionam para tantas outras pessoas.
O fato de eu conhecer técnicas para aumento de enjagamento em apps e redes sociais não me faz imune aos efeitos viciantes de tais métodos. Para retomar o controle de como eu uso o smartphone, resolvi aplicar meu conhecimento para contra-hackear meu cérebro e neutralizar, ou pelo menos amenizar, as estratégias usadas por designers e programadores para me manter viciado em seus apps.

O principal modelo de negócios para aplicativos e redes sociais é baseado em engajamento dos usuários; com uso frequente do serviço, de preferência várias vezes por dia e por muitas horas, as empresas de tecnologia conseguem coletar dados sobre cada indivíduo, segmentar anúncios, ofertas de produtos e serviços, além de vender esta análise de comportamento para anunciantes usarem em outros canais, como TV e correspondências físicas. Este novo mercado é chamado de “Economia da Atenção”, que trata a atenção humana como uma commodity escassa, como café ou petróleo; uma busca por “attention economy” vai revelar muito conteúdo sobre o assunto.
Na Economia da Atenção há um incentivo aos designers e programadores para que usem técnicas com o objetivo de aumentar o engajamento dos usuários com seus apps, e como em todo incentivo de mercado, às vezes boas intenções iniciais podem desandar para resultados questionáveis.
Normalmente, os executivos e CEOs de empresas de tecnologia, como Google, Twitter, Facebook, estão devidamente engajados no discurso criado por eles mesmos que propõe “melhorar o mundo”, a ponto de não tomar atitudes práticas para usar eticamente os recursos de retenção das pessoas em seus ambientes virtuais. Os designers e programadores, alguns níveis abaixo dos executivos, no entanto, são bem menos sensíveis ao discurso corporativo, e mais críticos aos efeitos práticos das técnicas de retenção empregadas. Este cenário tem feito com que cada vez mais profissionais de tecnologia adotem uma postura crítica em relação às armadilhas cognitivas usadas para melhorar os indicadores de apps e redes sociais na economia da atenção; alguns destes profissionais inclusive abandonam redes sociais, limitam seu próprio uso de internet e educam seus filhos em escolas sem gadgets (smartphones, tablets, laptop) mesmo no coração do Vale do Silício.
Estes profissionais que agora estão resistindo ao vício em smartphones e redes sociais, como Tristan HarrisLoren Brichter e Justin Rosenstein, trabalharam no Google, Facebook, Twitter, implementando algumas das estratégias de captura de atenção, como a atualização de conteúdo ao deslizar a tela para baixo, o ícone vermelho de notificações, o botão de curtir (like).
O recurso de deslizar a tela para baixo para atualizar o conteúdo é especialmente interessante de ser analisado: este gesto funciona de maneira muito similar à máquinas caça-níqueis de cassinos – onde você aposta uma pequena quantidade de dinheiro, puxa uma alavanca para baixo e aguarda o resultado surpresa –, no caso dos smartphones, a surpresa é a aleatoriedade dos novos posts, que podem ser o prêmio de uma foto muito interessante de um fotógrafo muito talentoso, uma imagem desagradável de um amigo na balada, com a lente suja de digitais e em baixa luminosidade, ou mais um anúncio segmentado de acordo com seus dados e comportamento, tentando te vender um par de tênis que você já comprou semana passada, mas a oferta continua te perseguindo. No caso dos cassinos, esta armadilha é tão viciante que há programas para auxílio de jogadores compulsivos.

Técnicas que tenho usado para contra-hackear meu cérebro e controlar o uso de smartphone e redes sociais

Tela em preto e branco

Colocar a tela em tons de cinza foi a principal e mais eficaz mudança que fiz para controlar meu uso do smartphone e redes sociais. O uso de cores é um dos principais recursos aplicados para nos chamar atenção e elevar o engajamento com os dispositivos. A bolinha vermelha ao lado do app, a exclamação amarela com um aviso muito importante (não tão importante assim), o ícone verde ou azul clamando por um tap. Ao colocar a tela em preto e branco, contra-hackeei uma poderosa armadilha das empresas de tecnologia que frequentemente me prendia por horas.

3 cliques para reativar as cores facilmente

Eu gosto muito de fotografia, frequentemente preciso ter as cores de volta para avaliar as fotos que tiro com o celular. Retornar para as configurações só para reativar as cores acabaria jogando contra mim, eu deixaria as cores sempre ativas com a desculpa de precisar delas para avaliar fotos. No entanto, o iOS tem um atalho de acessibilidade, 3 cliques no botão home, que você pode definir para ativar/reativar as cores (veja instruções exatas a partir de 5 minutos deste meu vídeo). Com este atalho fica fácil ativar as cores apenas quando preciso avaliar uma foto, ou assistir um vídeo, e retornar para o modo “livre de distrações” (sem cores) antes mesmo de voltar para a tela inicial com todas as suas cores e alertas chamativos.

Usar o celular em modo silencioso

Meu celular fica em silêncio a maior parte do tempo, assim não me interrompe caso eu esteja fazendo algo importante, e também não apita a cada nova notificação.

Desativar a maioria das notificações

Os alertas de novas curtidas ou e-mail, frequentemente nos tiram de uma tarefa ou conversa presencial importante. Ao desativar a maioria das notificações, consigo controlar melhor meu tempo; sou eu que abro cada app para ver as novidades, não é o app que decide quando vou interagir com ele, eu decido.

Configure notificações apenas de pessoas, não de máquinas e sistemas

Uma boa linha-guia para controle de notificações é desativar alertas de máquinas e sistemas (redes sociais, email, player de música, lojas online) e deixar ativos apenas os avisos enviados por pessoas em canais prioritários, como mensagens e telefone.

Apagar apps de redes sociais que você quer reduzir o uso

Recentemente apaguei os apps de Twitter (Tweetbot) e LinkedIn, app do Facebook eu já não tinha há tempos. Quando quero conferir estas redes sociais, eu uso pelo navegador. Sem o app instalado, forneço menos dados para estas redes sociais, que terão menos informação para me persuadir com publicidade; além de aumentar meu próprio esforço para interagir com tais serviços, reduzindo minha motivação para usar essas redes muitas vezes ao dia. Aumentar o seu “custo” é um importante recurso psicológico para controlar um hábito indesejado.

Desativar ou apagar a conta no Facebook

O Facebook absorve uma enorme quantidade de dados sobre mim, podendo sugerir opiniões, manipular meu consumo de conteúdo, induzir compras e até alterar meu crédito e preços de produtos e serviços que quero adquirir; além de me fazer perder muito tempo com conversas pouco produtivas e interações destrutivas com trolls. Estes foram alguns dos motivos que me levaram a desativar minha conta em junho de 2017. Veja o vídeo e entenda mais detalhes sobre esta decisão.

Acordar e não usar o celular imediatamente

Acordar e pegar o celular imediatamente parece ser um hábito muito comum. Com tal atitude, normalmente entramos em discussões improdutivas, somos expostos à notícias negativas e muitas vezes perdemos dezenas de minutos ou até horas antes de fazer qualquer coisa produtiva no dia.
Eu procuro fazer uma longa rotina matinal antes de desbloquear a tela do meu celular: tomo banho, organizo a casa, saio para passear com minhas cachorras e procuro checar o celular apenas enquanto estou com elas no parque. Muitas vezes, tento ouvir audiobooks ou podcasts em vez de abrir redes sociais logo no início da manhã.
Algumas pessoas preferem carregar o celular em outro cômodo da casa, como a cozinha, em vez do quarto, para evitar o hábito de acordar e pegar o smartphone.

Inbox Zero

Ao melhorar a produtividade de minhas comunicações profissionais, consigo ter mais tranquilidade para não checar o celular como um hábito. Há mais de 10 anos eu adotei o método Inbox Zero para deixar a caixa de entrada dos emails sempre vazia, sabendo assim que todas as comunicações urgentes e importantes estão endereçadas, reduzindo ansiedade.

SaneBox

O SaneBox prioriza automaticamente os meus emails, deixando na caixa de entrada apenas as mensagens potencialmente mais importantes, e colocando em caixas secundárias as comunicações menos urgentes ou desconhecidas, que podem ser endereçadas posteriormente; e o serviço pode ser facilmente treinado para priorizar/ignorar certos tipos de mensagens, se adaptando ao meu uso. Uso o SaneBox desde 2013 e recomendo para todos que estão se afogando em emails. Se cadastre por este link e ganhe $5 em créditos.

O smartphone não é o inimigo, as redes sociais não são armadilhas, os designers e programadores não são os vilões

Não tenho dúvidas que o smartphone é uma ferramenta revolucionária, e que aumentar o engajamento das pessoas com apps pode melhorar a vida de muitos. Nos conectar com família e amigos que estão fisicamente distantes pode aumentar nosso bom humor e bem estar, nos ajudar a fazer atividades físicas pode melhorar nossa saúde física e mental e nos ajudar a economizar dinheiro. Otimizar o engajamento dos usuários com os apps é o trabalho dos designers e programadores, executar o modelo de negócios gerando lucro para as empresas de tecnologia é o próprio objetivo do capitalismo, que gerou estas empresas em primeiro lugar. Nada disso é uma surpresa.
Em minha opinião, smartphones e redes sociais são ferramentas, e, como tais, a ética e moral não estão nelas, mas no uso que fazemos delas, em como tais plataformas e produtos são projetados por designers e programadores. Nós, usuários, precisamos ter o controle sobre como e quando usamos o smartphone, não podemos ficar sujeitos aos comandos e armadilhas cognitivas de quem desenvolve tais tecnologias.
O objetivo deste artigo é te ajudar a retomar o controle sobre o uso do smartphone e redes sociais, espero ter sido claro neste ponto.
Você já usa alguma destas técnicas? Ficou interessado em testar alguma das dicas aqui apresentadas? Deixe seu comentário abaixo. Além disso, compartilhe este artigo em redes sociais para ajudar outras pessoas a retomar o controle de seu tempo e me motivar a continuar produzindo este tipo de conteúdo.

Sobre o autor

Marco Gomes trabalha com Estratégia de Implantação de Data Science em New York, USA. Profissional reconhecido em 2014 pela revista Forbes como um dos 30 jovens com menos 30 anos mais promissores do país; premiado como O Melhor Profissional de Tecnologias de Marketing do Mundo pela World Technology Network; fundador da boo-box, apontada como uma das empresas de publicidade mais inovadoras do mundo pelas revistas Fast Company e Forbes, vendida em 2015 para a FTPI Digital; e co-fundador do Heartbit / Mova Mais, app de saúde listado pela revista Consumidor Moderno como uma das 100 empresas mais inovadoras do Brasil. Marco fez educação executiva em Gerenciamento de Marketing Estratégico na Universidade de Stanford, Califórnia, e já palestrou na sede da ONU, em Nova York, sobre Economia Criativa e Liberdade de Expressão na Internet.

Material de apoio

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






A "ficha" ainda não caiu?
Lamentavelmente, pelas muitas conversas que mantemos com pessoas comuns, nas ruas, e com companheiros sindicalistas, parece que a “ficha ainda não caiu” para os problemas que enfrentaremos a partir do dia 11 de novembro com a entrada em vigor da reforma trabalhista de Temer já aprovada no Congresso e publicada no Diário Oficial.
Pela nova Lei, os Acordos Coletivos assinados pelos sindicatos passam a ter “força de lei”. Ou seja, esses Acordos assinados entre a empresa e o sindicato representantes poderão se sobrepor às leis trabalhistas descritas na CLT. Apenas alguns poucos pontos não podem ser alterados pelos acordos: normas de saúde, segurança e higiene do trabalho, além do pagamento do FGTS, 13º salário, etc.
A jornada de trabalho pode ser negociada! Também o intervalo para refeição. As férias poderão ser divididas em até três períodos de descanso. Nenhum deles pode ser menor do que cinco dias corridos, e um deve ser maior do que 14 dias corridos. Os acordos coletivos também poderão determinar a troca do dia de feriado. Um feriado na quinta-feira poderia ser mudado para sexta-feira, por exemplo, impedindo a folga na quinta e na sexta-feira (dia enforcado).
A reforma cria o trabalho intermitente, que permite a contratação de funcionários sem horários fixos de trabalho, ganhando de acordo com o tempo que trabalharem. Nesse caso, o funcionário não tem a garantia de uma jornada mínima, férias, 13º e outras.
A reforma trabalhista prevê a possibilidade de grávidas trabalharem em condições insalubres, ou seja, que podem fazer mal à saúde, como barulho, calor, frio ou radiação em excesso, desde que a insalubridade seja de grau mínimo.
MBL (1). Em junho de 2013, no auge das manifestações contra Dilma, ouvimos falar do MBL (Movimento Brasil Livre). Apesar de todo o estardalhaço e do total apoio de toda a mídia, não conseguiram um grande resultado em 2014 e Dilma conquistou o segundo mandato.
Alguns analistas tentaram “explicar” o rápido crescimento do MBL dizendo que veio ocupar um lugar vago na política brasileira e estava atraindo a atenção de jovens da classe média-alta para a política. Bandeiras contra a “corrupção”, por mais “democracia” e contra a esquerda foram as principais armas para atingirem uma parte do público mais jovem que demonstrava afastamento da vida política brasileira (mesmo fenômeno que vemos na Europa há anos).
Esta explicação não resiste a uma pesquisa mais séria. Não se trata de um movimento espontâneo que atraiu esses setores, mas de um projeto bem elaborado e muito bem financiado pela direita dos EUA com objetivo claro. Muito antes de junho de 2013, desde o mandato de FHC, já acompanhávamos as ações da direita liberal no país através de sites dirigidos a esse público. Dois ou três deles chegavam a oferecer “cursos de formação de lideranças” para jovens.
Na verdade, o MBL nasceu de um projeto traçado e financiado pelo “Students for Liberty”, uma ONG estadunidense que financia grupos de direita no mundo e tem como principal objetivo defender as ideias liberais. Alguns achavam que logo se transformaria em um partido político, mas essa não era a ideia deles. O objetivo é influenciar os partidos de direita para uma agenda mais liberal onde eles tenham influência.
Kim Kataguiri, o mais conhecido representante do grupo, não nasceu por acaso. Foi um rosto escolhido cuidadosamente para representar a proposta. Fez um curso de liderança política nos EUA, financiado pela Fundação Atlas. E o próprio, em uma entrevista na época, admitiu ter feito o curso nos EUA e passou a defender um Estado mínimo, o papel da meritocracia e a desregulamentação da economia.
MBL (2). Qualquer um que acompanhe diariamente as notícias sobre a política brasileira já entendeu o projeto do MBL: levar, sob sua influência, João Doria ao Palácio do Planalto. Segundo a revista Piauí, em matéria publicada na terça-feira (03/10), o movimento articula uma “aliança” entre o PMDB e o DEM, contando com o apoio de evangélicos e ruralistas. E não vão esperar por um posicionamento mais claro do próprio PSDB (partido do Dória).
Renan Santos, um dos líderes do movimento, disse que espera “de coração, que a tese que a gente defende (aliança entre setores modernos da economia + agro + evangélicos) seja aplicada. É a melhor forma de termos um pacto político de centro-direita, que a dialoga com o campo e com a classe C”.
Para quem não conhece (e não está perdendo grande coisa) o pessoal do MBL criou um grupo no WhatsApp e serve como relacionamento com executivos de médio e alto escalão nas empresas. Fazem campanha aberta contra Aécio Neves e José Serra, além do próprio Alckmin. Curiosamente, nesse grupo do WhatsApp os executivos do mercado financeiro declaram abertamente os valores das doações para o MBL. Em apenas duas semanas o volume total de doações atingiu 50 mil.
MBL (3). A informação está em matéria publicada pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar): o MBL se autodenomina uma entidade sem fins lucrativos, mas há um lado nebuloso sobre como se organiza e se mantém financeiramente. Sabemos que conta com 2,5 milhões de fãs em seu perfil nas redes sociais. Mas todos os recursos que recebe por meio de doações, vendas de produtos e filiações são destinados a uma “associação privada” — como consta no site da Receita Federal —, chamada Movimento Renovação Liberal (MRL), entidade “sem fins econômicos e lucrativos”, registrada em cartório em julho de 2014 em nome de quatro pessoas, sendo três deles irmãos de uma mesma família: Alexandre, Stephanie e Renan Santos. Este último é um dos coordenadores nacionais do MBL e um dos rostos mais conhecidos do grupo.
“Pequeno” detalhe: a família Santos responde atualmente a 125 processos na Justiça, relativos a negócios que tiveram antes da criação do MRL. O jornal espanhol El País teve acesso a estes processos. A maioria é relativa à falta de pagamento de dívidas líquidas e certas, débitos fiscais, fraudes em execuções processuais e reclamações trabalhistas. Juntos, acumulam uma cobrança da ordem de 20 milhões de reais, valor que cresce a cada dia em virtude de juros, multas e cobranças de pagamentos atrasados.
Até hoje, o Movimento Renovação Liberal não consta no cadastro nacional de Oscip disponibilizado pelo Ministério da Justiça. Consultando o CNPJ do Renovação Liberal (22779685/0001-59) no site da Receita Federal, o que se encontra é uma associação privada, criada em março de 2015, cuja atividade principal é “serviços de feiras, congressos, exposições e festas”.
O dinheiro doado ou repassado ao MBL é canalizado para o Movimento Renovação Liberal da seguinte maneira: quando alguém doa (e se filia) ao MBL, paga uma taxa por meio de um serviço de internet (PayPal). O dinheiro, então, é direcionado ao CNPJ do Renovação Liberal. Também a venda de artigos vinculados à marca, como bonecos pixulecos, canecas e camisetas, tem os recursos direcionados à entidade de Renan e seus irmãos.
Uma curiosidade final: os interessados em colaborar com o MBL podem se filiar ao movimento de acordo com diversas escalas de valores, que variam de R$ 30 a R$ 10 mil. Pelo valor mais baixo, o doador se registra na categoria chamada Agente da CIA. Segundo informa a página cadastral, este plano dá direito a acesso a fóruns de debates, votações em questões internas e participação em sessões de videoconferências.
O sindicalismo na encruzilhada? (7)
(Ernesto Germano)
Já comentamos sobre a terceirização dos serviços quando tratávamos das inovações criadas pelo MJPI. Mas, o que é terciarização? Como está afetando o mercado de trabalho no mundo neoliberal?
As palavras são parecidas, mas o sentido é bem diferente.
Por ser a mais antiga das atividades econômicas do homem, base de toda a sociedade, a agricultura e a pecuária são conhecidas como “setor primário”. Quando os homens criam as primeiras ferramentas e utensílios (manufaturas) estabelecem também a base para a indústria, chamada de “setor secundário”. Por fim, ao comercializar seus produtos e estabelecer relações comerciais e burocráticas, cria também o chamado “setor terciário” ou “de serviços”.
Se os setores primário e secundário são de fácil identificação, não podemos dizer a mesma coisa do setor terciário. Aí estão incluídas as mais diversas atividades e as mais diferentes categorias profissionais. É um setor que abrange desde a área de educação e saúde até áreas como bancos, corretoras de valores, agências de viagens, diversões e até mesmo o artista que se apresenta no teatro ou o pipoqueiro com sua carrocinha na porta (sem qualquer desmerecimento a estes profissionais).
Historicamente, os economistas demonstram que há uma migração de trabalhadores entre estes setores, de acordo com o desenvolvimento. Assim, quando a indústria florescia - no auge da primeira revolução tecnológica - os trabalhadores que perdiam seus empregos com as primeiras mecanizações no campo eram absorvidos pela indústria que abria vagas em quantidade. Esses trabalhadores dirigiam-se para as cidades, em grandes ondas migratórias, para ocuparem-se na indústria.
Mais tarde, quando a indústria já se aproveita da automação para elevar a produtividade sem abrir novos postos de trabalho, uma parte expressiva desses trabalhadores vai encontrar empregos no setor terciário (serviços). No início dos anos 1990, não foram poucos os ideólogos neoliberais que escreveram artigos ou apareceram na mídia para dizer que os empregos que estavam sendo perdidos com a reengenharia industrial seriam absorvidos pelo setor de serviços.
Mas o sonho durou pouco. A informatização logo alcançou o terceiro setor e também aí os postos de trabalho iam desaparecendo com rapidez. Mais ainda, se olharmos também para as áreas de educação e saúde, por exemplo, vamos perceber que também foram profundamente afetadas pela nova ideologia neoliberal que promoveu uma intensa campanha de privatizações nesses serviços e, como seria de esperar, também reduziu a oportunidade de empregos.
Assim, a terciarização que poderia ter se apresentado como um promissor mercado de trabalho, se imaginássemos um outro modelo de sociedade mais voltado para atender às necessidades do cidadão do que do capital, não passou de uma ilusão momentânea. Os milhões de excluídos dessa possível terciarização pela terceira revolução tecnológica passam a ser, na verdade, mendigos da sociedade para os quais já não há mais futuro algum.
As desventuras do novo mercado parecem estar atingindo até mesmo os setores que eram considerados as novidades intocáveis do modelo.
Durante algum tempo, ouvimos falar que o novo mercado se tornava ainda mais ágil e vigoroso com o incremento da Internet e com as possibilidades da nova via como “loja virtual” onde se poderia comprar de tudo. E não estamos aqui nos referindo aos negócios por atacado, das grandes bolsas de cereais, petróleo ou outros produtos, que já usam este instrumento há muito. Estamos falando do comércio varejista, do cliente individual.
Em seu livro “O Fim do Emprego”, Jeremy Rifkin descreve a potencialidade da Internet como comparável ou superior ao que representaram as grandes lojas do tipo “Mesbla” ou “Sears”, no passado, ou, mais recentemente, os shoppings. Em certo trecho de seu livro, chega a comentar que o domínio das vias eletrônicas de telecomunicações teria o mesmo peso – ou até maior – do que as vias rodoviárias na época da expansão dos grandes shoppings.
É verdade que a “loja virtual” chegou a modificar em muito a vida do cidadão, desde que pertencente a uma certa camada social que lhe permitisse possuir computador conectado à Internet e um cartão de crédito. Não são poucas as propagandas mostrando o paraíso para quem pode usufruir dessas maravilhas modernas, a tal ponto que há uma certa empresa provedora (portal, como falam) que discrimina como “et” a pessoa que ainda usa uma “lojinha” para fazer compras.
Aliás, essa é uma das artimanhas do mundo globalizado: quem não está nele, quem não se torna um consumidor compulsivo e incansável usuário dos créditos fáceis, não pertence ao seu planeta e é visto como estranho ao mundo atual.
(Este artigo continua)
Catalunha (1). O conselheiro da Presidência da Generalitat da Catalunha, Jordi Turull, apresentou os números finais do referendo realizado no domingo: 2.262.424 votos, dos quais 90% foram a favor do 'sim', pela independência da Catalunha.
Apesar da repressão na votação, o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, anunciou o encaminhamento ao Parlamento os resultados para que aplique o procedimento previsto na lei do referendo para proclamar a independência.
Segundo o artigo 4.4 da lei do referendo, aprovada pelo Parlamento catalão e suspensa pelo Tribunal Constitucional da Espanha, a vitória do “sim” dará aos parlamentares dois dias para realizar uma sessão ordinária para efetuar a declaração formal da independência.
Catalunha (2). O Tribunal Constitucional da Espanha suspendeu na quinta-feira (05) a sessão do Parlamento da Catalunha que estava prevista para a segunda-feira (09)), na qual era esperado que o governo catalão declarasse a independência do território.
Pelo Twitter, a presidente do Parlamento catalão, Carme Forcadell, ironizou a decisão da Justiça. “Suspender uma sessão que não estava convocada é a nova oferta de diálogo”, disse.
Na quinta-feira (05) o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, ameaçou o presidente do governo da Catalunha, Carles Puigdemont, para que ele anulasse seu projeto de independência a fim de “evitar males maiores”.
Puigdemont disse não ter medo de ser preso por organizar um referendo considerado proibido. “Pessoalmente, eu não tenho medo disso”, disse Puigdemont em entrevista ao jornal alemão Bild publicada na quarta-feira (04), quando perguntado sobre uma possível prisão. Para ele, o governo espanhol age como um Estado autoritário. “O governo espanhol age como um Estado autoritário. Veja o que aconteceu no domingo. Foi violência contra pessoas pacíficas que só queriam votar. O governo da Espanha prendeu oponentes políticos; influencia a mídia; bloqueia sites. E você consegue ouvir o helicóptero em cima do prédio do governo? Estamos sendo monitorados dia e noite. O que é isso, se não um Estado autoritário?”, questionou.
Catalunha (3). As muitas cenas divugadas pela Internet da brutalidade policial contra o povo catalão chocaram a Europa e o mundo. Lamentavelmente, mais uma vez nossa imprensa submissa ficou calada e não mostrou o que estava acontecendo.
Diz a nota oficial da Anistia Internacional: “Ficamos estarrecidos com a entrada de policiais mascarados e armados em seções eleitorais. Testemunhamos muitas demonstrações da força de vontade das pessoas que se mostraram determinadas a opinar e deixar outros opinarem através das urnas, inclusive idosos e deficientes físicos. Todos fizeram o melhor possível diante de circunstâncias muito difíceis”. As imagens mostram idosas e idosos sendo jogados fora de colégios eleitorais, às vezes escadas abaixo, alguns sangrando a golpes de cassetete enquanto policiais disparavam com balas de borracha pelas ruas.
O Alto Comissariado da ONU pronunciou-se exigindo uma investigação imparcial sobre a violência da polícia contra a população. Mais de 900 pessoas feridas deram entrada nos hospitais locais.
Outros movimentos separatistas na Europa. Além da Catalunha e do Kurdistão outros movimentos separatistas ganham força pelo mundo. Em um rápido levantamento vamos encontrar alguns que estão “dando dor de cabeça” para os líderes mundiais.
Um dos primeiros sempre lembrados é o do País Basco (Euskadi, no idioma local). Ali vive um dos povos mais misteriosos da Europa, descendentes das primeiras tribos que ocuparam a península ibérica, muito antes dos romanos tomarem a região. O movimento separatista catalão levou mais ânimo para essa região ao norte da Espanha que faz fronteira com a França. Muitos analistas acreditam que a vitória dos separatistas na Catalunha dará novo Fôlego ao movimento.
Outro movimento que preocupa a União Europeia é a luta da Escócia para se separar do Reino Unido. Em 1997 aconteceu um referendo para a separação e 63,5% dos participantes foi favorável. Mas em plebiscito realizado em 2014 foram 55% dos eleitores contrários. Mas o movimento tomou força quando o Reino Unido aprovou a saída da UE.
Ainda na Europa conhecemos alguns outros movimentos: a Galícia (em Portugal); Vêneto, Córsega e Sardenha (na Itália); Irlanda do Norte e País de Gales (Reino Unido); entre outros.
Mas dois movimentos são pouco conhecidos por nós, brasileiros. O Quebec, parte do Canadá colonizada pelos franceses e que ainda usa aquele idioma; os Mapuches, no Chile.
Números para pensar. No início da semana os jornais estampavam alarmados a notícia da morte de quase 60 pessoas que participavam de um show de música country, em Las Vegas (EUA). As primeiras e precipitadas notícias falavam de ação de terroristas, mas logo as informações desmentiam a informação.
Na verdade, o autor dos disparos era Stehpen Paddock, morto pela polícia em um hotel nas proximidades do local. Mas ele não tem nada de “terrorista”, era um multimilionário que ganhava muito dinheiro em investimentos imobiliários, sem filhos ou doenças mentais e religioso.
Mas alguns números recolhidos em páginas da Internet mostram uma dura realidade sobre os EUA. Para começar, ficamos sabendo que quem nasce naquele país tem 11 vezes mais probabilidades de morrer por disparos do que em qualquer outro canto do mundo! Eis alguns números que forçam a informação:
a) lá vamos encontrar a maior taxa de população armada – são 88 armas por cada 100 pessoas;
b) a metade da proporção mundial de civis armados. Com menos de 5% da população do planeta, lá residem quase 50% dos civis proprietários de armas no mundo, segundo o relatório da Small Arms Survey, em 2007;
c) a cada ano, mais de 30.000 pessoas morrem por disparos de arma de fogo;
d) mais de 100.000 pessoas são feridas por armas de fogo anualmente, segundo a revista Health Affairs.


PRIVATIZAR SANEAMENTO É IR NA CONTRAMÃO MUNDIAL

Privatizar saneamento é ir na contramão mundial

Cinthia Ribas

Trabalhadores do Sistema de Água, Esgoto e Meio Ambiente têm travado uma batalha contra a privatização do setor em diversos estados. São Paulo e Rio de Janeiro são exemplos dessa luta.

No Rio de Janeiro, o Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento Básico e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Sintsama-RJ), que representa 5 mil trabalhadores do sistema, tem promovido diversas ações judiciais e de mobilização contra a entrega da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) à iniciativa privada.

O próximo ato está marcado para o dia 23 de outubro, às 10h30h, em frente ao prédio do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). “Vamos ao TRT defender nossa empresa contra os privatistas. Neste dia haverá uma audiência, onde a juíza que concedeu a liminar contra a venda da Cedae vai apreciar o processo de privatização”, afirmou Humberto Lemos, presidente do Sintsama-RJ e secretário de Assuntos Socioeconômicos da CTB.
A última foi uma greve de 24 horas no sistema no dia 3 de outubro, que culminou com uma grande manifestação que tomou as ruas da cidade em defesa de uma empresa pública e de qualidade.

Humberto Lemos avisa que a categoria está alerta e intensificará a resistência contra o processo de privatização do sistema. “Não deixaremos que levem nossa empresa e isso serve também para as outras estatais".

O Sindicato inclusive já moveu diversas ações judiciais questionando a iniciativa de entrega da empresa à iniciativa privada. “Já entramos com uma ação popular para questionar o valor arbitrado para Cedae; e outra também no STF, solicitando uma perícia técnica. No entanto, até hoje não apresentaram nem uma estimativa. E agora querem contratar a Fundação Getúlio Vargas sem licitação. Não podemos aceitar”, frisou o presidente do sindicato.

O dirigente também chama atenção para o fato de que a privatização das estatais estratégicas para o país prejudica, sobretudo os mais pobres. "É um crime de lesa pátria. Nenhuma nação se desenvolve abrindo mão da soberania da sua riqueza e de suas estatais. As consequências das privatizações para o povo são o aumento de tarifas e precarização na prestação dos serviços à população”, avaliou Lemos.

Modernização do termo

Em São Paulo, em setembro deste ano, a Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) aprovou a criação de uma nova empresa que irá administrar a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). A iniciativa é vista por especialistas como uma privatização da estatal paulista.

É o que aponta Renê Vicente Santos, presidente da CTB-SP e do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema). "É uma privatização amenizada e disfarçada, com cara de holding, de empresa moderna, que vai gerir os interesses da população em relação ao saneamento", alerta.

A justificativa dada pelo Governo do Estado é de que a criação do holding traria mais investimentos para a Sabesp, que não tem conseguido suprir a demanda sozinha. Em 2016, o lucro da Sabesp foi de R$ 2,9 bilhões. O menor período de lucro da empresa foi em 2015, ano da crise hídrica. Ainda assim, a empresa conseguiu lucrar R$ 536 milhões.

Agora com a criação do holding, a Sabesp repassará seus ativos a uma companhia que detém as ações majoritárias de outras empresas e que se encarregará de buscar no mercado investimentos da iniciativa privada.

Renê avalia que não interessa mais ao capital privado o modelo clássico de privatizações, no qual o Estado entrega o controle total da estatal ao mercado. O sindicalista acredita que o governo Alckmin (PSDB) deverá se manter como um agente responsável por fazer investimentos na companhia.



O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou no mês de setembro um estudo no qual sistematiza dados do saneamento básico no país.

A pesquisa aponta uma estratégia do governo de inserção da iniciativa privada no setor, seja por meio da constituição de Parcerias Público-Privadas (PPPs) ou mesmo de tentativas de privatização de empresas estatais.

Para José Silvestre, coordenador técnico do Dieese à frente da pesquisa, a política de ajuste fiscal do governo federal tende a reduzir a disponibilidade de recursos para os investimentos, o que facilitaria a ampliação da participação privada.

"O governo está sinalizando que virá um processo de privatização do setor de saneamento. Como se dará, isso ainda não está claro. Mas dada à conjuntura e a circunstância do ajuste fiscal, isso afetará ainda mais o processo de ampliação da cobertura de áreas que não estejam servidas seja por água potável, seja pelo serviço de esgotamento sanitário de maneira geral", disse o técnico.

Ou seja, a população mais carente, será a mais prejudicada.

Na contramão do avanço

Renê Santos lembra que as privatizações das empresas de saneamento vão na contramão da realidade de outras cidades do mundo, como Berlim, Paris e Buenos Aires, que estão retomando para o Estado as empresas do setor que haviam sido privatizadas.

"A iniciativa privada tomou conta do saneamento. Ela usou a estrutura que tinha, não investiu como deveria, aumentou exponencialmente o valor da tarifa de água e, do outro lado, gerou uma deterioração do serviço prestado", ressalta.

O estudo aponta que Berlin, Buenos Aires, Budapeste, La Paz, Maputo e Paris são exemplos de cidades que passaram o controle novamente à iniciativa pública. De acordo com um estudo realizado por organizações europeias, desde os anos 2000, 267 locais reverteram o processo de privatização de sistemas de água e esgoto. A França, por exemplo, reestatizou o sistema da cidade de Paris e mais 106 municípios, onde o saneamento era privado. O caso comprova que o saneamento tem que ser feito pelo Estado.


José Faggian, vice-presidente do Sintaema, alerta que com a privatização haverá queda de qualidade do serviço e aumento da tarifa. “O empresário não vai querer saber da qualidade da água”, afirma ao completar. “Se a empresa não lucrasse, não haveria tanto interesse de companhias privadas. Embora a Sabesp seja uma empresa que dê lucro, o principal objetivo dela não é lucrar, é levar saneamento de qualidade para a população e cuidar da saúde. No entanto, como uma empresa privada, isso vai desaparecer”.