sábado, 31 de agosto de 2013

OMS diz que medicina de Cuba é exemplo

http://globotv.globo.com/globo-news/globonews-em-pauta/v/programa-de-medicina-de-cuba-e-considerado-modelo-pela-organizacao-mundial-da-saude/2790412/

Mais sobre os medicos cubanos

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Explicação: os médicos cubanos são funcionários do Estado e vão continuar recebendo seus salários. Quando terminar o tempo de permanência no Brasil, eles voltarão para Cuba.


Vamos recebe-los como eles merecem: com toda a dignidade. Eles estão vindo, altruisticamente, para atender às populações pobres que não interessam a uma minoritária falsa elite médica preconceituosa, desinformada e acima de tudo corporativista, cujo objetivo é apenas o enriquecimento rápido.
O ocorrido em Fortaleza envergonha todos os brasileiros. A ignorância é a raiz de todos os males.
Ainda bem que a classe médica é composta, em sua quase totalidade, por profissionais dedicados e competentes. Assim como os médicos cubanos.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Racismo. preconceito, ignorância, podridão moral...

Re: Médicos cearenses cometem suícidio de imagem

EUA e seus lacaios estão brincando, IRRESPONSAVELMENTE, com fogo.

Rússia poderá atacar a Arábia Saudita caso Ocidente inicie bombardeio à Síria

28/8/2013 15:41
Por Redação, com agências internacionais - de Moscou, Washington e Londres


Flotilha russa aproxima-se do litoral sírio, em apoio às forças de Bashar Al Assad
Flotilha russa aproxima-se do litoral sírio, em apoio às forças de Bashar Al Assad
Um memorando classificado como urgente, segundo fontes militares russas, foi expedido pelo escritório do presidente Vladmir Putin, nesta quarta-feira, e ordena um ataque massivo da Rússia contra a Arábia Saudita caso as forças da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan, na sigla em inglês) ataquem a Síria. A informação, não foi confirmada oficialmente pelo governo russo, conteria instruções semelhantes a uma ordem de guerra, expedida há cerca de um mês por Riad, na qual o governo muçulmano teria declarado que, caso a Rússia não aceitasse a derrota de Bashar Al Assad, os sauditas iriam arregimentar militantes na Chechênia para “aterrorizar” os XXII Jogos Olímpicos de Inverno que a Rússia realizará na cidade de Sóchi.
Fontes militares russas também informaram, nesta manhã, que uma flotilha, liderada pelo contra-torpedeiro Almirante Chabanenko, aproxima-se do porto sírio de Tartús. Segundo informes lidos pela rádio militar israelense Debka, desde o último sábado o exército russo está em estado de alerta frente a um possível ataque dos EUA, Grã-Bretanha e França contra a Síria. Segundo a agência russa de notícias RNA, além da Rússia, outros países aliados dos sírios recusam-se a colaborar com os planos bélicos do Ocidente.
Em Nova York, nesta tarde, ocorria uma reunião fechada dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia, Reino Unido, China, França e EUA) sobre a situação na Síria. A reunião foi convocada por iniciativa dos Estados Unidos. Sabe-se também que a lista de participantes ainda poderá ser expandida nas próximas horas e o centro da discussão é um projeto de resolução britânico sobre o possível uso da força contra Damasco. Mais cedo, o vice-ministro do Exterior russo, Guennadi Gatilov, declarou que, se qualquer país usar a força contra a Síria, contornando o Conselho de Segurança da ONU, isso poderá ser considerado como uma flagrante violação do direito internacional.
‘Passeio no inferno’
Mas o possível bombardeio dos EUA e demais potências ocidentais, que poderá ocorrer dentro de mais algumas horas, não será uma atividade turística no Oriente Médio. Ao contrário do que ocorreu com Gaddafi, na Líbia, o governo de Damasco não está isolado. Potências nucleares como Rússia e China podem transformar a ação bélica norte-americana em “um passeio no inferno”, segundo aquelas fontes militares russas. Na ONU, ambas as nações asiáticas já vetaram qualquer ataque ou manobra militar contra os sírios. Depois, o Irã, maior potência militar do Oriente Médio, com um exército regular de dois milhões de militares efetivos e mais um milhão de guerreiros muçulmanos mobilizados, fundamenta sua sobrevivência regional na existência do regime de Damasco.
Em terceiro lugar, ainda segundo a RNA, Israel, o terceiro braço da Otan na região, encontra-se cercado por forças do Hezbolah, aliados de Síria e Irã, por um lado, e por mísseis e forças em terra do Hamas, na Faixa de Gaza; além do exército sírio, com aviões e mísseis de médio alcance. Mesmo o Iraque, com um governo xiita, é aliado preferencial do Irã e já negou seu espaço aéreo a qualquer incursão militar contra a Síria.
“Em quarto lugar, qualquer intervenção militar estrangeira na Síria desataria uma ação dos curdos contra a Turquia, aliado das forças ocidentais”, segue a agência russa de notícias, em análise divulgada nesta quarta-feira. E, por último, o Egito, hoje controlado por militares aliados dos EUA e Israel, poderá mergulhar em uma divisão anárquica, protagonizada por diferentes grupos islâmicos fundamentalistas, ainda dispersos por uma coalizão de forças que mantém o país unificado. Ao menor sinal de distúrbios na Síria, o Irã também poderá bloquear o Estreito de Ormuz, por onde escoam cerca de 40% de todo o petróleo consumido nos EUA e Europa.
Provas em contrário
Ao contrário do que afirmam a Casa Branca, em Washington, e o número 10 da Downing Street, em Londres, não há provas contundentes de que a ordem para o ataque com armas químicas à região ocupada por rebeldes, na Síria, tenha partido de Damasco. Nesta quarta-feira, segundo o especialista militar Joseph Watson, do Infowar, um sítio na internet especializado em estratégias militares, o panorama ficou ainda mais embaçado com o vazamento de um telefonema interceptado pela inteligência israelense. Segundo o serviço de inteligência de Jerusalém, a ordem para um ataque com armamento químico não teria partido do Ministério da Defesa de Assad, pois o ministro Moshe Ya’alon, em pessoa, teria telefonado, em pânico, para a unidade de armas químicas do exército sírio em busca de notícias sobre o uso de gás de nervos, em uma ação que teria matado cerca de mil pessoas, apenas uma hora depois de veiculada a notícia pelas agências internacionais.
“Por que o ministro sírio da Defesa faria um telefonema desesperado, no qual ‘exigia respostas imediatas’ para o ataque com armas químicas se fosse ele quem o ordenou”, questiona o informe da inteligência de Israel, publicado no Infowar. “O fato de que o alto comando do governo sírio aparentemente não sabia do ataque sugere, fortemente, que eles não deram a ordem para tanto, em um cenário no qual a liberação do agente químico teria sido realizado pelos próprios rebeldes ou por ‘oficiais sírios que agiram por conta própria, acima das ordens de seus superiores”, acrescentou o especialista do site Foreign Policy Noah Shachtman.
Um oficial de inteligência dos Estados Unidos também disse ao Foreign Policy que todos no Pentágono estão querendo, até agora, entender exatamente o que houve mas, seja lá quem ordenou o ataque, “fez uma coisa realmente estúpida”. Se, mesmo sem saber exatamente o que houve de verdade, porque o ataque aconteceu e quem o ordenou, sem que os técnicos das Nações Unidas investiguem o incidente, os EUA lançarem um ataque de mísseis contra a Síria, “potencialmente inflamará toda a região”, acrescenta Shachtman.
Para deixar a situação ainda mais confusa, há evidência prévias que sugerem a participação de rebeldes, com o apoio norte-americano, no preparo e uso de armas químicas em numerosas ocasiões, completamente esquecidas devido ao rumo dos acontecimentos. Na última vez que a ONU investigou evidências de uso de armas químicas na Síria, os inspetores concluíram que parecia obra dos rebeldes e não das forças regulares do regime de Assad.
“Em adendo, conversas telefônicas vazadas entre integrantes do (exército rebelde) Free Syrian Army revelaram detalhes de um plano para a liberação de armas químicas em um ataque capaz de impactar uma área de cerca de um quilômetro”, acrescenta o Infowar.
O vice-chanceler sírio, Faisal Maqdad, também disse, nesta quarta-feira, que Estados Unidos, Grã-Bretanha e França ajudaram “terroristas” a usar armas químicas na Síria, e que os mesmos grupos vão em breve atacar a Europa com essas armas. Falando a repórteres do lado de fora do hotel Four Seasons em Damasco, Maqdad disse que apresentou provas aos inspetores de armas químicas da ONU de que “grupos terroristas armados” usaram gás sarin em todos os locais dos supostos ataques.
– Nós repetimos que grupos terroristas são aqueles que usaram (armas químicas) com a ajuda dos Estados Unidos, Reino Unido e França, e isso tem que parar. Isso significa que essas armas químicas serão usadas em breve pelos mesmos grupos contra o povo da Europa – acrescentou.
Ainda assim, os navios da Marinha de Guerra dos EUA e da Frota Real do Reino Unido que estão no leste do Mediterrâneo, possivelmente, efetuarão um ataque aéreo contra alvos na Síria já na noite de quinta para sexta-feira, logo depois da votação no parlamento britânico em apoio da operação militar contra o regime sírio, informa a imprensa e televisão norte-americanas. Pressupõe-se que o ataque pode durar várias horas, entre objetivos principais citam unidades do Exército da Síria que podem potencialmente usar armas químicas, bem como os Estados-Maiores, centros de comunicação e complexos de lançamento de mísseis, afirma a mídia, se referindo a uma fonte anônima no Pentágono.



Sobre os médicos cubanos

“O sujeito não estuda medicina para conquistar posição social, acumular patrimônio, isso até pode acontecer. Ele estuda medicina para ajudar as pessoas que estão sofrendo a se sentir melhor. Esse é o objetivo da profissão. É isso que faz a profissão respeitável".
Adib Jatene
 
 
 
 
Precisamos dos cubanos?
Eu aprendi com Enrique Dussel que talvez o único imperativo ético universal seja a vida. Mas. não uma vida qualquer. A vida daquele que é vítima do sistema que o oprime e o envilece. É esse ser que temos de defender com unhas e dentes, para o que vier. Todos os dias, nos deparamos com ele, na televisão, na rua de casa, no mercado, ao virar a esquina. O caído, o desgraçado, o fugitivo, o assustado.
 
Por Elaine Tavares
 
 
A maioria das pessoas faz como aquela linda parábola de Jesus: olha e passa adiante. Poucos são os que se curvam e acolhem o que está no chão. E é bom que se diga que os empobrecidos da terra não são por sua culpa. A maioria está nessa situação porque alguém está lhe sugando a vida. Alguém está enriquecendo a custa do outro. É a máxima do capitalismo. Só,que é mais fácil permanecer com o véu da alienação. Conhecer dói.
 
Noite após noite a televisão – esse olho insone - joga na nossa cara a dor do mundo. Mas, de maneira espetacular, consegue virar o jogo. Os meninos negros, que são assassinados como moscas nas periferias das grandes cidades, não aparecem como vítimas. Eles são os “monstros” que andam por aí a fazer maldade. Ninguém diz o porquê deles ficaram assim, se é que ficaram mesmo. E os bons cristãos fazem o “pelo sinal” e agradecem pela polícia nos livrar dessa “corja”. Também vemos os “terroristas”, que podem ser os palestinos, os sírios, os iraquianos, os afegãos, sempre serão aqueles que estarão vinculados a algum plano do império estadunidense para vivenciar a “plena democracia”. Não importa se para isso for necessário promover farsas macabras como a do 11 de setembro ou o assassinato de crianças inocentes com armas químicas. Tudo vale a pena porque a “democracia” não é pequena. E a classe média, aquecida em seus cobertores, esfrega as mãos e agradece pelo império fazer a defesa de seu castelo de sonhos, “o mundo livre”.
Esses mesmos falsos burgueses, que pensam estar seguros com seus planos de saúde, agora se levantam contra a vinda dos médicos cubanos. Acreditam na revista Veja. Creem firmemente que essa gente solidária nada mais é do que um povo escravizado que teme desobedecer a Fidel. Não sabem nada de Cuba, de sua história, da coragem de seu povo em estar há mais de 60 anos enfrentando o maior império da terra, e vencendo. Não sabem que na ilha socialista qualquer pessoa que queira, pode ser médico, engenheiro ou padeiro. Depende apenas de sua vontade. Não sabem que são esses profissionais que se formam na solidariedade ao caído, ao oprimido, que se deslocam para os mais terríveis lugares da terra unicamente para salvar e acolher. São esses jovens médicos cubanos os que estão no Haiti, curando feridas, enquanto os nossos jovens vão para lá de arma em punho, servir de cão de guarda ao império.

Agora vem essa polêmica por conta da vinda dos cubanos. De novo o véu da alienação. Ninguém se pergunta por que um país como o nosso, tão rico, tão cheio de bênçãos, precisa desses abnegados cidadãos? Se os médicos cubanos são aqueles que partem para os confins do mundo, onde a dor do outro é tão intensa que mais ninguém quer ver, por que precisariam vir para o Brasil? Que porcaria de país é esse que arrota caviar, mas precisa dos médicos cubanos, esses que vão aonde ninguém quer ir?

Pois esse é um país no qual boa parte dos médicos sente nojo dos pobres, sente medo, sente asco. E por conta disso os deixam morrer nas ruas, sem ajuda. Ou olham, sem sequer levantar da cadeira, uma pessoa ter um ataque do coração. Ou são aqueles que sequer levantam os olhos para o doente à sua frente num posto de saúde. Os que não apertam a mão, os que não tocam, não examinam, não reconhecem o enfermo como ser humano precisando de consolo.

Esse é um país aonde os jovens recém-formados se recusam a ir para o interior, para os lugares longínquos, para as selvas, para as favelas, os bairros de periferia. Nem mesmo altos salários os comovem. Deve ser, portanto, um problema de origem. Talvez um problema de classe. Quem é que nesse país pode se formar em medicina? Como pode um jovem da periferia ser médico se o curso exige tempo integral e custa os olhos da cara, mesmo numa escola pública? Pois esse é um país que forma médicos, dentistas, engenheiros, na sua maioria de classe alta. É, portanto, bem diferente de Cuba, que incentiva e garante o ensino dessas profissões, e por ter tantos profissionais pode mandá-los pelo mundo para que ajudem quem nada tem.

Assim que a vinda dos queridos irmãos cubanos para o Brasil, em vez de causar tanta indignação, deveria suscitar um alerta. Se temos tantos médicos como ficou parecendo nas passeatas dos “de branco”, por que não os encontramos onde eles têm de estar? Por que precisamos da ajuda dos cubanos, se eles estão acostumados a atuarem em lugares perdidos de toda a esperança, como os confins do continente africano, ou as aldeias andinas, ou os empobrecidos países do Caribe, como é o caso do Haiti? Em que medida o país do pré-sal, a quinta economia do mundo, se compara a esses tristes lugares onde só a solidariedade cubana é capaz de chegar?

Essas perguntas é que deveriam ser feitas por nós. O que é a medicina num país capitalista? Ela existe para salvar a vida, para dar conforto ou apenas para fazer girar a roda do lucro das farmacêuticas e dos mercadores da saúde? Por que não temos uma medicina preventiva? Por que não há médicos nos postos de saúde? Por que não estão eles nos hospitais, nas emergências, nas pequenas cidades do interior, no campo? Onde se esconde toda essa gente que agora anda a vociferar nas ruas?

Sim, nós não deveríamos precisar dos médicos cubanos. Nossa juventude deveria ter acesso às escolas de medicina, de odontologia, de veterinária. Deveríamos formar milhares e milhares de profissionais da saúde, para que cuidassem das gentes de todo o país. Deveríamos ter universidades de massa, nas quais os filhos do povo pudessem se formar com qualidade. E qualquer guri, mesmo aquele que vive lá no interior do Acre, deveria poder fazer realidade o sonho de ser “doutor”. Mas, não é assim. Os médicos que temos são esses que vemos na televisão dizendo que se vierem os cubanos eles não vão ajudar quando eles errarem. Ou seja, que morra o vivente, apenas para provar que estão certos.

É certo que temos também muitos profissionais médicos que se assemelham aos cubanos, que dedicam suas vidas ao juramento que fizeram de cuidar, acolher, curar. Esses, sabemos reconhecer de apenas uma mirada. Mas, ainda são minoria. Para nossa desgraça, o que aparece são esses que vemos na TV a bradar contra os cubanos, mas não contra o estado de abandono que está a população. E é isso que torna tudo ainda mais sórdido. Porque pessoas há que lhes dão razão, e não são poucas. Essas mesmas pessoas que, portando um plano privado de saúde, acreditam estar a salvo. Não estão. Mas, ainda assim, compactuam dos preconceitos, dos absurdos, da alienação e da mentira.

Eu realmente não queria que os médicos cubanos viessem para cá. Queria ter um país que não precisasse dessa ajuda solidária. Mas, ocorre que, em alguma medida, e em tantos lugares, somos tão desprotegidos como os irmãos do Haiti ou de alguma longínqua aldeia africana. É certo que os médicos cubanos são só pessoas, não fazem milagres. Mas, não há dúvidas de que a medicina que se ensina e pratica na ilha caribenha se difere em muito da nossa. Ela pensa o ser como uma vida integral, alguém que tem nome, sobrenome, sonhos, esperanças. Não é um dado na ficha, um inoportuno, um zé ninguém. E é por conta disso que quero receber essa gente única com todo o amor que há nessa vida. Eles saem de suas casas para fazer o que nossos profissionais deveriam fazer. Rogo a todos os deuses que eles tragam, mais do que essa solidariedade abissal, também o germe da rebeldia, para que nosso povo possa compreender que já é chegada a hora de fazermos a transformação. E que a gente avance para um país que não precise dos cubanos, um país que possa ser ocupado por nós mesmos. Mas, para isso, haveremos de mudar a universidade, mudar o país, e sair desse sistema que mercadeja com a saúde e a vida.

Os cubanos podem até não salvar todas as vidas, mas, não duvido, eles serão capazes de segurar a mão do que padece e dizer: “não tema, eu estou aqui”. Porque são feitos de outro barro. Socialista.

Elaine Tavares é jornalista

"Mais Médicos": eles agem como Bush em Nova Orleans

‘Mais Médicos’: eles agem como Bush em Nova Orleans

Há oito anos, no dia 26 de agosto de 2005, o furacão Katrina chegou aos EUA.

No dia 29 atingiu Nova Orleans. Desencadearia uma espiral de devastação que associou desabamentos, inundações, afogamento, fome, sede e saque.

Pretos, pobres, velhos e crianças foram as principais vítimas do desastre que custou 1.800 vidas.

Muitas poderiam ter sido poupadas se o socorro tivesse a agilidade requerida nessas horas.

O governo Bush demorou quatro dias para reagir.

O presidente republicano sequer visitou o local logo após a tragédia.

Com uma semana da passagem do Katrina, inúmeras áreas continuavam isoladas.

O abandono cuidou de eliminar muitos dos que sobreviveram à tormenta.

A palavra caos nunca esteve tão associada à ausência de governo como em Nova Orleans.

Tropas para conter saques e violência chegaram logo. Mas continuou faltando suprimentos, médicos, remédios e gente especializada em atuar em situações limite.

A popularidade de Bush vergou sob o peso dos mortos.

Não era uma guerra, não cabiam desculpas patrióticas.

Novas Orleans deixou patente a inadequação social de uma governo que se evocava um anexo dos mercados.

Em meio ao desespero, Fidel Castro ofereceu ajuda. Cuba se propôs a colocar 1.600 médicos experimentados em catástrofes para atuar em Nova Orleans.

‘Em 48 horas’, prontificou-se o governo cubano.

Bush não respondeu.

Fidel insistiu. Cuba providenciaria todo o equipamento necessário e 36 toneladas de medicamentos.

Silêncio.

Dias depois, um porta-voz da Casa Branca dispensou a oferta.

Há um ciclone de abandono e isolamento médico cujo vórtice atinge cerca de 3500 municípios brasileiros.

A demanda para atender à emergência é superior a 15 mil médicos.

As inscrições validadas pelo programa Mais Médicos resolvem 10% dessa defasagem.

Cerca de 4 mil médicos cubanos foram contratados pelo governo brasileiro para mitigar a emergência, em um acordo mediado pela Organização Pan Americana de Saúde.

Os primeiros grupos a desembarcar neste final de semana, em Recife e Salvador, receberam do conservadorismo local o mesmo tratamento seboso e deselegante endereçado por Bush a Fidel, durante o Katrina.

A exemplo do republicano, o conservadorismo brasileiro prefere ver a pobreza morrer doente a ter um médico cubano prestando assistência emergencial nas áreas mais carentes do país.

Se dependesse dos gásparis, elianes, tucanos e assemelhados o Katrina da carência médica continuaria a devastar o Brasil miserável.

Enquanto a hipocrisia conservadora pontifica elevadas razões humanistas para recusar a ajuda emergencial de Cuba.

A verdade, porém, é que o ‘Mais Médicos’ caiu na simpatia da população.

A reação foi oposta ao que pretendia a resistência corporativa ao programa.

Descaradamente elitista, o boicote criou uma referência pedagógica dos interesses em disputa neste caso.

Hoje, o ‘Mais Médicos’ conta com o apoio de 54% da população, no que diz respeito à vinda de profissionais estrangeiros.

Diante do revés, o conservadorismo acionou a sua tropa de elite.

As mesmas gargantas que vociferam contra o ‘Custo Brasil’, o salário mínimo e toda a herança de leis trabalhistas trazida do ciclo Vargas, agora discursam em defesa dos direitos e salários dos cubanos.

Alguns, os mais afoitos, já acalentam uma saia justa diplomática, diante de eventuais ‘desertores...’

Veteranas da crônica conservadora evocam Castro Alves e falam em ‘aviões negreiros’.

O degrau promete não ser o último da desfaçatez.

A má fé ideológica tem gordura para queimar.

Mas não só isso.

Há uma real dificuldade de ir além da lógica plana e rasa, fruto do comodismo cevado na ausência de debate real no jornalismo, ambiente no qual foram adestrados os vulgarizadores mencionados.

Ouvir os cubanos, por exemplo, para quê se a concorrência também não o fará?

Uma reportagem de fôlego em lugares e países onde acordos semelhantes já funcionam?

Desnecessário, pelo mesmo motivo.

Uma visita às escolas de medicina cubanas, para discutir a suspeita de baixa qualificação de que são acusados seus formandos?

Idem, ibidem.

Sonega-se aos protagonistas do acordo brasileiro qualquer possibilidade de motivação solidária, competência profissional e discernimento do seu papel no mundo, distinto dos critérios exclusivamente pecuniários que movem o corporativismo branco aqui e alhures.

Médicos, cu-ba-nos?

É mais fácil desdenha-los, como fez Bush, mesmo que isso tenha custado a chance de sobrevivência de muitas das 1800 vítimas fatais em Nova Orleans.

Fazem o mesmo os nossos ‘bushs’.

A usina plana e rasa da emissão conservadora impede que se discuta em profundidade qualquer tema. Desde problemas na esfera da saúde pública, até impasses e desafios reais da construção do socialismo no século 21, dos quais Cuba é um exemplo.

E não é preciso recorrer a Marx para aquilatar o ônus desse entorpecimento.

O economista Paul Krugman, a quem os nossos ‘bushs’ não podem acusar de ‘petismo’, escreveu, a propósito da visão republicana sobre saúde pública, algumas linhas que caem como uma luva no debate brasileiro sobre o ‘Mais Médicos’. Pergunta: quem, na indigência do nosso colunismo, seria capaz de articular um raciocínio não previsível e nuançado, como esse?

(...) “A relação médico-paciente já foi considerada especial, quase sagrada. Agora, políticos e supostos reformistas tratam o atendimento médico como se ele fosse uma transação comercial igual à compra de um carro (...) A medicina, afinal de contas, é uma área em que decisões cruciais – decisões de vida ou morte – devem ser tomadas. Para que esse arbítrio ocorra de maneira inteligente, requer-se um vasto conhecimento técnico dos profissionais do setor. Como se isso não bastasse, as escolhas dos médicos são frequentemente feitas enquanto o paciente está incapacitado, sob muito estresse ou quando a ação precisa ser imediata, sem tempo para discussões, muito menos para a pesquisa de preços.(...) É por isso que existe a ética médica. É por isso que os médicos são tradicionalmente vistos como uma categoria especial, da qual se espera um comportamento de padrão mais elevado do que a média dos demais trabalhadores. Há um motivo sobre por que assistimos a séries televisivas que retratam médicos – e não gerentes administrativos – como heróis. Sugerir que essa realidade possa ser reduzida a um simples comércio – que os médicos sejam meros “fornecedores” vendendo serviços a “consumidores” de saúde – é, com o perdão do trocadilho, uma ideia doentia. O fato de essa noção equivocada ter se tornado dominante é sinal de que há algo de muito errado não apenas nessa discussão, mas também nos valores da sociedade ... “ (Paul Krugman; NYT 22/04/2011)

Leia também, abaixo, dois textos extraídos do dossiê sobre Cuba, produzido em 2011 pelo Instituto de Estudos avançados da USP (IEA).

Um olhar para a saúde pública cubana’ foi escrito pelo jornalista cubano José A. de la Osa, especializado na área científica. O texto bastante informativo traça um panorama do ensino médico, da pesquisa, das descobertas e avanços técnicos na ilha, de onde provém os profissionais que agora vão trabalhar no Brasil. O preconceito conservador, sugestivamente, dispensa-se de consultar esses dados antes de proferir sentenças nutridas em ignorância e frivolidades.

Cuba: a sociedade após meio século de mudanças, conquistas e contratempos” é outro exemplo de consistência, da qual se ressente o colunismo conservador ao criticar as dificuldades da revolução cubana. O artigo traça um panorama denso e crítico do quadro atual cubano, sem concessões à conveniência ou à visão direitista. O sociólogo Aurelio Alonso, autor do trabalho, é professor adjunto da Universidade de Havana e subdiretor da revista Casa de las Américas.

Postado por Saul Leblon às 04:02

Texto replicado: CARTA MAIOR

Um olhar para a saúde pública cubana

Internacional| 26/08/2013 | Copyleft

Um olhar para a saúde pública cubana

Para uma aproximação das transformações produzidas na saúde pública cubana nos últimos 50 anos, é essencial conhecer, como ponto de partida, o contexto imperante antes do triunfo da Revolução, em 1959. Para isso, bastaria citar as palavras contidas na célebre alegação de Fidel Castro, La historia me absolverá, diante do tribunal militar que o julgou em 1953 pelos sucessos do Moncada. Disse Castro:


A sociedade se comove diante da notícia do sequestro ou o assassinato de uma criatura, mas permanece indiferente diante do assassinato maciço que se comete com tantos milhares e milhares de crianças que morrem todos os anos por falta de recursos, agonizando entre os estertores da dor e cujos olhos inocentes, já neles o brilho da morte, parecem olhar para o infinito como pedindo perdão para o egoísmo humano e para que não caia sobre os homens a maldição de Deus [...]

Essa era a situação prevalecente quando triunfou a Revolução: um quadro sanitário caracterizado por tétano, difteria, sarampo, tosse ferina, poliomielite, tuberculose e outras doenças. As crianças contraíam gastrenterite e doenças respiratórias, que eram as primeiras causas de morte. A taxa de mortalidade infantil, sem registros estatísticos confiáveis, era superior a 60 por cada 1.000 nascimentos, e a expectativa de vida era de apenas 60 anos, para uma população de cerca de seis milhões de habitantes.

Cuba atingiu em 2010 uma taxa de mortalidade infantil de 4,5 por cada 1.000 nascimentos, a mais baixa das Américas.

A taxa de mortalidade infantil, que mede o número de óbitos de crianças durante o primeiro ano de vida - o mais crítico para a sobrevivência de um ser humano -, é expressão da qualidade com a qual o país atende e protege suas crianças, sua saúde, sua segurança material, sua educação e sua socialização. É, por isso, um indicador demográfico internacional que mostra de forma sintética esses avanços.

Entre os fatores que contribuíram para esses resultados favoráveis, está, em primeiro lugar, a vontade política do governo revolucionário de oferecer atendimento sanitário gratuito para todos os cidadãos, com especial esmero para as mães e seus filhos; a existência de um alto grau de escolaridade da população; e um programa nacional de vacinação com uma cobertura de praticamente 100% das crianças.

O porquê das baixas taxas de mortalidade infantil

Atendimento para gestantes e para crianças. Como média, realizam-se 12 controles de saúde para as mulheres grávidas. Na primeira consulta, são indicados exames de laboratório, incluídos os de sorologia (sífilis) e HIV, realizados no casal; 99,99% das mulheres dão à luz em maternidades. As grávidas com risco de ter crianças prematuras são imunizadas, entre a 28ª e a 38ª semanas de gestação, com "maturação pulmonar" para prevenir a doença da membrana hialina que gera dificuldades respiratórias no recém-nascido.

Dependendo da situação social das gestantes, elas ingressam em um Hogar Materno (Maternidade) onde recebem apoio nutricional e um amplo programa de educação para a saúde. As mulheres em idade fértil com risco de ter anemia recebem gratuitamente um suplemento de ferro e ácido fólico e, durante a gravidez, um suplemento vitamínico para prevenir a anemia. As mulheres com diabetes também são atendidas por especialistas em endocrinologia, com a finalidade de que cheguem ao parto com o diabetes controlado. Todas as grávidas, sem exceção, realizam o exame de diagnóstico de malformações congênitas (ultrassom, no primeiro trimestre e, depois, entre as 20ª e 22ª semanas, o de alfafetoproteína), e as grávidas maiores de 37 anos podem realizar a amniocentese para a detenção da síndrome de Down, fundamentalmente. Nas primeiras consultas, as grávidas são avaliadas por um mestre em Assessoramento Genético.

Tudo isso sustenta-se num sistema de saúde acessível a todos, universal e gratuito; um alto desenvolvimento educacional da população e o direito reprodutivo da mulher para escolher livremente o número de filhos que deseja ter.

A atenção com as crianças começa desde o nascimento, com uma amostra de sangue do cordão umbilical e do calcanhar para determinar a possível existência de doenças endocrinometabólicas e genéticas que, diagnosticadas a tempo, podem ser tratadas com sucesso: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, galactosemia, déficit de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita. De forma programada, as crianças sadias são vistas na Consulta de Puericultura em média 12 vezes ao ano. Também são examinadas por um geneticista. Nesse período, são imunizadas contra 13 doenças passíveis de prevenção.

O desenvolvimento de um programa nacional de vacinação permite manter o país livre de 15 doenças transmissíveis, como a poliomielite, difteria, tétanos do recém-nascido, sarampo, rubéola, síndrome pós-parotidite, febre tifoide, tuberculose meníngea, tose ferina, raiva humana, paludismo autóctone, vírus do Nilo Ocidental, febre amarela, chagas e cólera.

Há também o controle de outras 10 doenças, levando em consideração seus baixos níveis de incidência: meningite meningocócica, meningite e pneumonia, heomophilus influenzae tipo b, leptospirose, hepatite B, brucelose, parotidite, tétanos do adulto, Aids infantil e sífilis congênita. Na atualidade, 9 das 15 vacinas administradas à população são produzidas em centros científicos cubanos, e as restantes são adquiridas de empresas farmacêuticas no exterior.

Sobre o sistema assistencial

No começo de 1960, apenas três meses depois de formados, mais de 300 médicos partiram para cumprir o Serviço Rural com uma mochila nas costas, um estetoscópio, alguns poucos instrumentos cirúrgicos e os medicamentos elementares que cada qual conseguiu. Eles respondiam, dessa forma, às solicitações, sugeridas nas assembleias de estudantes de Medicina, de que apresentassem solução para as condições sanitárias adversas da época.

Esses ares dos "novos tempos na Revolução" completaram-se depois com a renúncia expressa do exercício privado da Medicina e, também, com a extensão para dois anos ou mais do Serviço Médico Rural, com a vigência do espírito de superação científica, com o impulso da medicina e da estomatologia preventivas e com o cumprimento dos altos princípios do internacionalismo em saúde, que aumentaram nesses 50 anos de Revolução.

Em Cuba, hoje, para uma população de pouco mais de 11 milhões de habitantes, existem 13 Institutos de Pesquisa que oferecem serviços assistenciais, ensino e pesquisa; 146 Hospitais gerais e especializados; 11.466 Consultórios Médicos de Família; 131 Clínicas Estomatológicas; 122 Asilos para as Terceira Idade; 231 Casas de Avô; e 141 Maternidades, fundamentalmente criadas em zonas distantes para aproximar as grávidas dos serviços com salas de parto.

Educação e saúde

Para elevar os níveis de saúde da população, os esforços da Revolução começaram com a Campanha Nacional de Alfabetização em 1961, que abriu o caminho para a educação sanitária; e a aplicação, desde 1960, de uma política social que permitiu estabelecer a equidade no acesso a serviços, que foram progressivamente ampliados com postos médicos rurais, maternidades e policlínicas que iniciaram o atendimento primário no país, para priorizar a assistência aos grupos mais vulneráveis da sociedade.

Talvez o primeiro grande aporte da Revolução para a saúde pública - que possibilitaria os ambiciosos programas educativos desenvolvidos nas Ciências Médicas - tenha sido a introdução do conceito de universalização da docência médica, ao integrar os estudantes de Medicina e Enfermagem durante seu processo de aprendizagem com as unidades assistenciais docentes, o que permitiu, também, atingir a massificação dos programas de formação dos recursos humanos na esfera sanitária.

No período compreendido entre 1959 e 2010, formaram-se no país mais de 100 mil médicos, dos quais, no final do primeiro trimestre de 2011, encontravam-se em pleno labor 73.025. Desse total, 43.088 são mulheres. São milhares também os formados em Estomatologia, Licenciatura em Medicina, Tecnologia da Saúde. O país conta com 13 Universidades médicas e 17 Faculdades de Medicina.

Foram criados também centros científicos para o atendimento sistemático das atividades da ciência, cujas pesquisas respondessem às necessidades do país, no curto e no longo prazos. Foram traçados os lineamentos gerais e se asseguraram os recursos materiais e humanos para o sucesso dessas tarefas. Lembremos que, no momento em que triunfou a Revolução, o país contava com uns seis mil médicos, 50% dos quais emigraram para os Estados Unidos alentados pelas políticas governamentais desse país.

Nos anos seguintes, determinou-se que era necessário ampliar e aperfeiçoar o sistema nacional de saúde criado, assim como o sistema de atendimento médico e hospitalar; desenvolver a medicina preventiva; continuar a impulsionar a medicina rural; aumentar os estudos de medicina do trabalho e sua aplicação no tratamento de doenças profissionais; elevar o nível da cultural sanitária do povo, e enfatizar a prevenção do meio ambiente e dos bens naturais.

Foram ainda formulados os orçamentos metodológicos que configuraram a Escola Cubana de Medicina, estabelecendo a prevenção como conceito primordial do sistema sanitário no cuidado da saúde, com o fim de eliminar os restos da velha medicina que olhava a doença e não o doente.

Já há muitos anos, a mortalidade geral em Cuba não é consequência das chamadas "doenças da pobreza", mas, como nos países altamente desenvolvidos, das doenças do coração, do câncer e dos acidentes cerebrovasculares. A expectativa de vida dos cubanos atinge hoje quase 80 anos.

Desenvolvimento científico e solidariedade

A estratégia de desenvolvimento em saúde seguida pela Revolução nesses anos contribuiu também, de maneira eficaz, para fomentar uma área científica dedicada à pesquisa e à elaboração de produtos medico-farmacêuticos, obtidos por via da engenharia genética e a biotecnologia, assim como uma moderna indústria de medicamentos.

Em relação aos fármacos que produz e comercializa o Centro de Engenharia Genética e Tecnologia, citaremos, como exemplo, o Heberprot-P, que favorece a cicatrização das úlceras diabéticas; a Heberpenta, vacina pentavalente produzida conjuntamente com o Instituto Finlay, para a imunização ativa de crianças contra a difteria, o tétano, a tosse ferina, a hepatite B e a Haemophilus influenzae tipo b; a Heberbiovac HB, vacina recombinante contra a hepatite B; a Quimi-Hib, vacina contra a Haemophilus influenzae tipo b; o Heberon Alfa R, Interferon-Alfa 2b humano recombinante, para o tratamento de infecções do vírus papiloma humano e outras; a Heberkinase (estreptoquinase recombinante), indicada para o infarto miocárdico agudo.

Também foram produzidos equipamentos médicos avançados como o Sistema Ultramicroanalítico (Suma) do Centro de Imunoensaio, que é utilizado há mais de 25 anos com notáveis resultados para o diagnóstico e a prevenção de malformações congênitas. Só o programa cubano de hipotireoidismo congênito tem facilitado, de 1986 até hoje, o diagnóstico de 788 crianças com esse transtorno, que conduz ao retardo mental profundo, chamado "cretinismo", se não for detectado a tempo. Além disso, por meio do Programa de Alfafetoproteína, ao longo de 28 anos, têm-se estudado mais de 3,6 milhões gestantes com 7.868 malformações graves detectadas, para uma incidência de 2,22 a cada 1.000.

Recentemente, foi realizado um estudo social nacional que incluiu 366.864 pessoas com deficiências maiores: físico-motoras, visuais, auditivas, mentais e deficiências das funções e estruturas dos órgãos (insuficiência renal crônica), fundamentalmente.

Os avanços das técnicas de análise clínica, com o emprego do Suma, possibilitam na atualidade a montagem de uma nova rede de laboratórios, em todos os municípios do país, para realizar o diagnóstico maciço preventivo, em pessoas supostamente sãs, de diversas doenças como o câncer de colo do útero, de cólon e próstata, diabetes, insuficiência renal e várias doenças infecciosas como dengue, lepra e Aids.

Historicamente, desde o triunfo da Revolução, a ação da colaboração médica cubana internacional foi marcada, fruto do magistério de Fidel Castro, pelo atendimento humano e solidário em resposta a necessidades de saúde de países que sofreram catástrofes e desastres naturais, com falta de pessoal de saúde para oferecer atendimento à população, ou por falta de condições de instalações médico-sanitárias para levar a assistência até lugares distantes.

Nessas ocasiões, são mais de 40 mil os trabalhadores da saúde que prestam seu serviço em 68 países do mundo, em praticamente todos os continentes.

Menção especial merecem as ações de colaboração dos médicos cubanos nos programas da Aliança Bolivariana para os povos de nossa América (Alba), particularmente a Operação Milagre para doentes com problemas de visão, que, desde 2004 até hoje, beneficiou mais de dois milhões de pessoas de 34 países de nossa América, considerada por muitos "o maior programa de solidariedade médica da história"; e os estudos para a identificação de doenças genéticas e deficiências, realizados também na Venezuela, na Bolívia, em São Vicente e Granadinas, no Equador e na Nicarágua, que permitem aos governos desses países brindar o atendimento que demandam as pessoas carentes de assistência médica e material.

As transformações e a experiência acumuladas desde o triunfo da Revolução em 1959 no âmbito científico, assistencial, de recursos humanos e materiais não ficam circunscritas ao país. Cuba compartilha o que tem, dentro e fora de suas fronteiras, como expressão da essência humanista da Revolução e exemplo da possibilidade de que prevaleça um mundo mais solidário e justo.

Esse é o motivo pelo qual, apesar da topografia dos lugares onde se encontram as brigadas médicas cubanas, em geral lugares mais inacessíveis, essas mantêm entre si semelhanças e algumas diferenças, sendo o denominador comum do trabalho de médicos, enfermeiras e técnicos nos lugares onde prestam serviço, certamente, visão social e vocação irrenunciável de lutar para aliviar a dor dos mais necessitados, entrega sem limites e disposição de compartilhar, também, o saber científico com os outros, imersos no rosto triste da pobreza num mundo onde prevalece ainda a injustiça.

Referências

ÁLVAREZ, J.; DE LA OSA, J. A. Senderos en el corazón de América: apuntes sobre salud y ciencia en Cuba. Madrid: Sangova, 2002. [ Links ]

CASTRO, F. La historia me absolverá. Havana: Ediciones Políticas, 1967. [ Links ]

CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA DE CUBA. Havana: Editorial Política, 1982. [ Links ]

CUBA. MINSAP. Dirección Nacional de Estadística. Anuario Estadístico, Havana: MINSAP, 2010. [ Links ]

TESES E RESOLUÇÕES do Partido Comunista de Cuba. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1978. [ Links ]
José A. de la Osa é jornalista especializado no campo científico. Foi docente na Faculdade de Comunicação da Universidade de Havana. @ - delaosa@enet.cu


O exemplo de Cuba

Internacional| 26/08/2013 | Copyleft

Cuba: a sociedade após meio século de mudanças, conquistas e contratempos

A revolução que chegou ao poder em janeiro de 1959 significaria uma transformação da sociedade cubana em tal magnitude que teria sido praticamente impossível prefigurar no contorno de um programa político, por mais profundas que fossem, as reformas que esse apresentasse, como foram no programa do Moncada (Fidel Castro, "La historia me absolverá", 1953). Uma magnitude inimaginável até mesmo para o próprio líder que a conduziu desde o início e que deixou uma marca inconfundível para o futuro. Assim ficou registrado numa eloquente expressão de sua autoria: "Fizemos uma revolução maior que nós mesmos".

O programa político nunca pôde ultrapassar o enunciado das propostas. A história real implica muito mais: implica as travas externas, as limitações internas, as frustrações, os acertos, os erros, as opções e alternativas, os atos de heroísmo, a resistência, todos encadeados numa espécie de espiral que modifica os seres humanos que vivemos nela, de geração em geração, de conjuntura em conjuntura. Por meio dela se tece progressivamente todo o complexo das relações sociais, sua dimensão estrutural, sua institucionalização, os padrões morais, as militâncias, a religiosidade, o imaginário popular, a criatividade e todas as redes contidas naquilo que de maneira mais genérica caracterizamos como o social. Nunca seguindo uma lógica linear, senão um devir carregado de contradições.

O contraditório está no próprio cerne, como vislumbraram aqueles que deram ao socialismo um sustento científico e que retornaram sem cessar a essa figuração dialética hegeliana da contradição. O contraditório sempre esteve e sempre estará, de uma forma ou de outra, e não como princípio doutrinal, mas como realidade já descoberta e muitas vezes verificada. É o que demonstra o meio século do processo cubano que nos cabe esboçar, carregado de conquistas e descalabros, de êxitos e fracassos, de regozijos e pesares, da fundação de novos valores e de lastros do mundo ante o qual nos rebelamos.

Em Cuba, a referência marxista foi incorporada depois que o povo descobriu que seus clamores haviam chegado ao poder; que a nação - que o regime republicano nascido à sombra da intervenção do império americano não tinha podido lhe dar - não só era uma possibilidade, como o povo mesmo havia começado a fazê-la real.

Os líderes recorreram às massas desde o início para que suas iniciativas não ficassem na esfera das decisões elitistas. Embora a simplicidade da estrutura de governo se valesse do decreto, a mudança social não era decidida sem recorrer ao consenso popular mais amplo. A sociedade cubana teve rapidamente provas incontestáveis do alcance social do projeto implementado. A reforma agrária, que desapropriava o latifúndio, foi assinada quatro meses após a vitória, e, poucos meses depois, a distribuição de terras seria efetivada. Uma mobilização maciça de camponeses até Havana na primeira celebração do assalto ao Moncada, no dia 26 de julho de 1959, acabaria com as esperanças da oligarquia latifundiária de opor resistência à decisão de repartir a terra entre os camponeses explorados, dedicados a trabalhá-la.

A partir daquele momento, o recurso da mobilização das massas em torno dos dirigentes se converteu no mais persistente para a manifestação do consenso. Dessa forma, um novo tipo de relação social começou a se impor, e a ganhar uma incidência na transformação da estrutura de classe da sociedade cubana. Além da reforma agrária, foram adotadas outras iniciativas orientadas a avançar nos assuntos de justiça social e equidade, na eliminação da pobreza, na redução da desigualdade, no alívio das pressões do hábitat, primeiro por meio da redução do valor dos aluguéis e, depois, da supressão da usura e do mercado imobiliário.

Entre 1959 e 1963, ocorreriam a nacionalização do sistema bancário, da indústria e do comércio, uma mudança de denominação da moeda com limite de acumulação e uma segunda lei agrária, que reduzia também a extensão da propriedade da terra. Ao reformar a estrutura econômica, reformava-se o conjunto das relações sociais. Com a socialização da quase totalidade da economia por via da propriedade estatal, mudava-se totalmente a fisionomia da sociedade. E com ela o tipo de relações com os órgãos de poder político, que já não responderiam a interesses oligárquicos de caráter privado. A transformação estrutural da sociedade cubana se produziu muito rapidamente.

Aquela gigantesca cabeça governamental que supunha a criação de ministérios concebidos para administrar a totalidade do espectro econômico era dirigida por uma estrutura exclusiva e simples: o Conselho de Ministros. Contudo, avançou-se, não sem dificuldades, para a unificação política em um partido que não havia dirigido a luta revolucionária, mas se formava com a vitória, a partir dos movimentos e organizações que o tinham feito. E cuja missão, em relação ao Estado, não seria muito definida até dez anos depois. Surgia, ao mesmo tempo, uma nova institucionalização, a qual se enraizou com a força do consenso na sociedade civil cubana: novas organizações de massas, como os Comitês de Defesa da Revolução, a Federação de Mulheres Cubanas, a Associação Nacional de Pequenos Agricultores, que não substituíram a outra, cuja legitimidade foi revitalizada na mudança social, mas que dariam um novo sentido à participação popular.

O poder revolucionário afrontou o objetivo de eliminar o analfabetismo adulto da população no período reduzido do ano 1961. Nesse mesmo ano, Cuba foi invadida por um exército mercenário armado e treinado nos Estados Unidos, e enfrentava levantamentos contrarrevolucionários que se prolongaram durante muitos anos. Desde 1962, assumiu-se um sistema único de educação, público, laico e gratuito. O mesmo caráter público e gratuito foi acordado para o sistema de saúde em 1965. Não se pensou em esperar que o sistema, que acabava de ser criado sob o assédio econômico, diplomático e até militar dos Estados Unidos, tornasse financiáveis as profundas reformas sociais, e essas foram adotadas e traduzidas num consenso contínuo, que atravessou praticamente sem trégua a escassez de alimentos, de roupas e de outras necessidades básicas que desde os anos 1960 começou a se sentir.

Para os níveis de parametrização hegemônica norte-americana, essa capacidade de resistência de uma sociedade constituída em Estado, insignificante em termos geopolíticos, ante as regras de dominação e subsistência impostas, foi a primeira das três surpresas que o caso cubano faria a Washington. Os cubanos descobriram que a soberania tinha uma natureza tangível, além da Constituição, das instituições do Estado e dos símbolos da pátria, e que havia que defendê-la na prática toda vez que alguém a colocasse em perigo.

Vários fatores iriam erodir, a partir desse momento, o cenário da nova relação social. O efeito migratório - marcado no começo do período ao que nos referimos pelo deslocamento de poder imposto pela revolução - começou a mudar no final da década, por motivações vinculadas às condições e ao estilo de vida que uma austeridade estendida impunha, a despeito dos benefícios em resposta às urgências de equidade e à justiça social e do resgate da soberania nacional. Washington não perdeu tempo em manipular a pressão migratória cubana para alimentar a imagem de uma sociedade dividida. A partir desse momento, a opção de migrar aparecerá como uma mistura de atração (para aqueles que perdiam a esperança) e de ameaça (para a estabilidade da sociedade que se construía na ilha), com uma política preferencial que premiava com privilégios os cubanos que imigravam por via legal, oposta à política aplicada para o resto dos imigrantes latino-americanos.

Resulta, pois, impossível esboçar um quadro completo da sociedade cubana sem levar em consideração a existência de um enclave migratório, especialmente nos Estados Unidos, que em pouco tempo começa a ter incidência econômica, e também como imagem de diferença de bem-estar, pelo dispositivo das remessas familiares (que é semelhante à caracterização genérica da explosão migratória atual, mas que no caso cubano é manipulada). Apesar disso, a comunidade emigrada é um fenômeno que não apresenta hoje uma uniformidade opositora, embora predominem as faixas que exprimem o conflito com o processo cubano; não contamos com espaço para nos deter aqui nas dinâmicas, mas tampouco podemos omitir que essa comunidade emigrada constitui um componente problemático na análise da sociedade cubana de hoje. É sabido que as explosões migratórias vividas não se detiveram depois da primeira década, elas ficaram marcadas com força com a saída maciça no porto de Mariel em 1980, e novamente com a chamada "crise dos balseiros" em 1994. Na atualidade, o sistema cubano está longe de poder consolidar um quadro de incentivo em contrapeso às motivações migratórias.

Tampouco é possível ignorar que na década de 1960 houve um crescimento demográfico que levou a população de Cuba, de pouco mais de seis milhões de habitantes em 1959, a dez milhões, aproximadamente, em 1970. O crescimento nos seguintes quarenta anos foi, contudo, de só mais um milhão. De modo que, se nas décadas de 1970 e 1980 podíamos falar de uma sociedade majoritariamente jovem, o envelhecimento populacional se acentuou entre a década final do século passado e a primeira do presente, graças à combinação de uma queda constante da taxa de natalidade e a um aumento da expectativa de vida.

A entrada na segunda década da experiência socialista cubana deixou a sociedade diante da evidência do fracasso macroeconômico. Mesmo que a errática decisão de acabar com a pequena iniciativa privada (a "ofensiva revolucionária" de 1968) tentasse achar justificativas no imaginário revolucionário da época, o fracasso da safra das dez milhões de toneladas de açúcar (1970) era um signo inconfundível de que as estratégias seguidas na década anterior não podiam ser mantidas, ao menos sob o bloqueio. Este trabalho não tem o intuito de estudar a economia da época, mas seria superficial desconhecer o peso do econômico no conjunto do fenômeno social.

O projeto socialista cubano tinha vivido sua primeira grande frustração: não poderia se articular no sistema-mundo com a independência a que aspirava preservar. Causas exógenas? Devemos reconhecer que (houve) em alguma medida, pois o assédio para evitar a sobrevivência não deu trégua. Porém, faltaram muitas outras coisas: referências de modelos alternativos, capital profissional (esse que agora temos em abundância), imaginação, talvez. Não poderia dizer quantas coisas faltaram. Sobraram, com certeza, outras tantas, como a confusão em torno do alcance do exercício da vontade, por mais bem-intencionada e justa que fosse. A precisão da decisão política, avalizada pelo consenso, nem sempre pode se impor à exigência e aos limites dos mecanismos: aos de mercado, por exemplo.

Devemos precisar aqui que, com a decisão de se incorporar ao Conselho de Ajuda Mútua Econômica (Came) - o chamado "bloco do leste", ou o "sistema soviético" (para usar termos que aludem a diversas arestas da recontextualização social) -, o cubano se vê confrontado com um esquema de valores parcialmente modificado. O seu socialismo continua a significar o domínio da economia pelo Estado, os sócios do além-mar são os que desde a década precedente estenderam a mão e os porta-estandartes do projeto socialista nascido da revolução bolchevique, seus inimigos externos não moderam a hostilidade; a soberania conseguida não se vê ameaçada pela nova forma de dependência, mesmo que essa implique custos, às vezes lacerantes e lamentáveis em mais de um sentido, de uniformização do pensamento. Algo de discriminatório, e às vezes de repressivo, se impôs no plano ideológico.

Precisaríamos analisar muitas nuanças para detalhar o que se perdia e o que se ganhava naquele momento, mas interessa-nos agora ver como ganhos e perdas se converteram em influências nas relações sociais que a aventura revolucionária da década de 1960 havia gerado. Na verdade, a economia socialista cubana conseguiu um espaço de inserção e um projeto de desenvolvimento que levou a melhorias nas condições de vida e, ao mesmo tempo, a um crescimento na escala macro. Certamente com custos muito elevados, que talvez não tenham sido contabilizados totalmente. O Partido Comunista de Cuba iniciou a sequência de congressos no mesmo estilo dos partidos nascidos da tradição marxista e a administração do Estado se institucionalizou com os órgãos de Poder Popular. O socialismo cubano criou finalmente uma Constituição, votada em referendo em 1976, depois de ter sobrevivido sem Constituição própria durante 17 anos.

A sociedade cubana viveu com mais folga que na década anterior, os índices de alimentação melhoraram, o desemprego se tornou insignificante, um mercado varejista de bens de consumo avançou, a ascensão de profissionais da saúde gerou a metáfora da "potência médica" para aludir às potencialidades de garantia assistencial e científica que se abriam e um leque de solidariedade civil para com países afligidos por catástrofes naturais ou simplesmente carentes de assistência, sujeitos a uma política de saúde deficitária. A proporção de médicos e enfermeiras atingida deu lugar ao surgimento, em meados da década de 1980, do "médico da família" como um novo nível assistencial, mais diretamente vinculado à comunidade.

Abstemo-nos aqui, reiteramos, de formular outras valorações sobre o sistema e a inserção econômica que propiciou essa melhoria na satisfação das necessidades básicas da sociedade cubana, pois ultrapassa o propósito do presente trabalho. E de nenhum modo porque acreditemos que tal melhoria se desenvolvia num contexto ideal. Devemos destacar, contudo, que o consumo diário per capita de quilocalorias e de proteínas passou a estar acima da norma de satisfação fixada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na segunda metade da década de 1980; os 20% da população com renda mais alta ganhavam quatro vezes mais do que os 20% da população com a menor renda, e mais de três quartos das rendas provinham de salários do setor estadual, que era praticamente onipresente na economia do país.1

A articulação do Programa Complexo do Came, do amparo da cláusula de "país mais favorecido", junto com o Vietnã e a Mongólia, propiciou um excedente de recursos que funcionou para criar um padrão de desenvolvimento e mudar as condições de vida da sociedade, até o momento do colapso.

A sociedade cubana havia regularizado suas relações e seu estilo de vida naquele contexto. Felizmente, não faltaram circunstâncias para impedir que esse estado de bem-estar, moderado, bastante equilibrado, bem merecido, se convertesse de vez no congestionamento de um modelo pela rotina. O ano de 1975 marcou o começo da operação de solidariedade mais significativa e dispendiosa em termos de esforço e vidas jamais protagonizada pela sociedade cubana. Em aproximadamente 12 anos cerca de 350 mil cubanos passaram por Angola, a maioria como combatentes, todos voluntários. À geração que estava na infância durante o triunfo da revolução coube a oportunidade de participar de uma façanha que acabou com o domínio do regime do apartheid, além de deixar assegurada a independência de Angola e da Namíbia. Aquela resultou ser a missão mais generosa e significativa em que o povo se envolveu entre os anos 1970 e 1980: a de contribuir decisivamente para impedir que a dominação do racismo se perpetuasse no continente africano. Pensamos que, para a experiência daquela geração, a oportunidade do heroísmo numa causa justa serviu também como antídoto ante um modelo que ameaçava gerar burocracia e rotina.

A vitória da revolução sandinista na Nicarágua também contribuiu, em outra escala, para que nós, cubanos, mantivéssemos o ânimo, de que precisávamos para confirmar que nossa resistência, em tão onerosas condições, não só era válida para a sobrevivência própria, como respondia, sobretudo, a um ideal altruísta que não tínhamos por que deixar que se extinguisse.

Cremos que essa deve ter sido a segunda surpresa que Washington recebeu do "caso cubano". Pois, quando ele imaginava vencida a estratégia de solidariedade combativa dos revolucionários de seu quintal, depois de ter controlado as marés revolucionárias na América do Sul e inaugurado uma era de ditaduras militares com o golpe de Estado no Chile (1973), Cuba reapareceria na África Subsaariana com toda a legitimidade que lhe outorgava o fato de responder à solicitação de governos estabelecidos (Angola, Moçambique, Etiópia). E nessa ocasião não havia mais remédio senão reconhecer o êxito de sua participação na missão emancipacionista e compartilhar com os cubanos a mesa de negociação com a qual o regime do apartheid chegava ao fim.

O começo da década de 1990 trouxe consigo a tragédia da desintegração do sistema socialista soviético. E com ela, a desconexão internacional e a queda econômica do subsistema cubano (se podemos chamá-lo assim) que, sem colocar todas na mesa, havia jogado as cartas de seu futuro para sua integração naquele complexo cenário cujo desabamento Ernesto Guevara já havia vaticinado na década de 1960.2 Talvez não tivesse outra opção, mas, além disso, por oposição às suspeitas de "Che" Guevara, até a década de 1980 em Cuba prevalecia uma leitura mais otimista sobre o sistema soviético.3 Leitura que confiava que os erros da economia eram corrigíveis, sem perceber que o fracasso em propiciar a transição política para o poder do povo iria se interpor no caminho da correção.

A dramática perspectiva que a década final do século XX abriu para Cuba, divisada por Fidel Castro quase um ano antes se desencadear, e batizada premonitoriamente como "período especial", traz consigo uma série de situações sucessivas na qual a sociedade padecerá os efeitos superpostos da derrubada e das medidas para enfrentá-la, e reconhecemos que nos colocamos entre os que consideram que os signos intermitentes de reanimação econômica do começo do novo século ainda não indicam uma superação. Isso significa que, das cinco décadas de projetos revolucionários que se passaram, as duas últimas têm sido vividas em crise pela sociedade cubana. A seguir, tentaremos sintetizar esse cenário, que vigora até o presente.

Quando falamos do impacto da derrubada socialista no processo cubano, nos referimos pontualmente a uma queda de 36% do PIB entre 1990 e 1993. A capacidade importadora da economia nacional caiu em 75%, e foi necessário utilizar 65% da disponibilidade monetária na importação de petróleo e de alimentos. A compra de alimentos em 1992 se reduziu à metade da de 1989.4 Sem entrar em outras vertentes da desconexão, focamos nossa atenção nos efeitos sobre as condições de vida: o consumo de quilocalorias diminuiu de 3 mil para 1,9 mil, e o de proteínas, de 80 para 50 gramas.5 Essa contração chegou a criar, nas regiões mais deprimidas do país, uma situação de desnutrição que, aliás, foi a base de transtornos de saúde.

Além disso, os cortes prolongados de energia foram frequentes, o transporte público e outros serviços se reduziram ao mínimo, a construção de moradias sofreu uma interrupção quase total - com o fundo habitacional precisando urgentemente de reparos - e aumentou a precariedade das condições de moradia; a infraestrutura hospitalar sofreu uma deterioração da qual não conseguiu se recuperar vinte anos depois. Isso para citar só os indicadores de deterioração das condições de vida que consideramos mais significativos.

Mas a caracterização dos efeitos sociais ficaria incompleta se não disséssemos que essa crise também teve uma dimensão espiritual para a sociedade cubana: uma crise de paradigma, de incerteza, de poder ou não poder prever o futuro (nem no plano existencial, nem no político), de não saber com certeza se continuaríamos a viver numa sociedade capaz de colocar metas e de se orientar com elas, capaz de cumpri-las ou de não cumpri-las, e de corrigir rumos.6

Com o intuito de enfrentar a crise, foram adotadas reformas que introduziram elementos de mercado logo no início da década de 1990. Algumas dessas reformas foram conjunturais, outras, estruturais. Elas mostraram não formar parte de um plano articulado, embora servissem para conter a queda em meados da década. Mas não era possível falar, a rigor, de recuperação econômica, mesmo quando se iniciou a mudança no cenário regional latino-americano que propiciaria a Cuba uma nova perspectiva de integração. A mudança regional, na qual tampouco nos deteremos em detalhe, aponta um panorama de esperanças para a sociedade cubana, pelo qual esperou desde os anos 1960.

As reformas dos anos 1990 provocaram, contudo, uma ruptura do padrão de equidade que tinha se mantido até a década de 1980, que minimizava as diferenças de rendas familiares. Com a explosão da renda extrassalarial e a entrada de remessas, estima-se que essa proporção chegou a ser, no final da década de 1990, até 15 vezes maior entre os salários mais altos e os mais baixos.7

O panorama atual coloca a sociedade em um ordenamento artificial que ganha forma na dupla circulação monetária, no abastecimento desigual, no desequilíbrio da pirâmide salarial, no subsídio do emprego estatal, na extensão de uma economia informal fora de controle e em muitas outras irregularidades. Essas distorções que vemos hoje no cenário socioeconômico cubano resumem os efeitos caóticos combinados da desconexão e da derrubada da economia, por um lado, e das medidas aplicadas para conter a queda, por outro. Sem deixar de lado os velhos efeitos combinados das limitações impostas pelo bloqueio e as geradas por desacertos administrativos: os velhos efeitos constituem um palco para os novos, e ambos se mantêm determinando contornos.

É evidente que algumas das iniciativas que serão tomadas agora, a partir do ano 2011, trarão a correção desejável, embora seja impossível afirmar a priori quais serão acertadas e quais deverão ser revistas. Da mesma maneira, tampouco podemos assegurar ainda que elas conseguirão se articular num projeto integral, nem como.

Novamente em Cuba nos vemos obrigados a repensar nossa transição socialista, e o desafio imediato e que mais define o socialismo cubano encontra-se, de novo, na economia. O dilema se define agora entre a transição de um socialismo fracassado para um socialismo viável, ou a transição para um capitalismo que amavelmente nos aconselham como realizável com "rosto humano". Sabemos que na agenda cubana prevaleceu e prevalece a primeira opção, mas que não se pense que nunca houve nessa sociedade motivações para o "rosto humano", nem que se trate de uma ideia fora de moda no país. Porque com o socialismo viável acontece o mesmo que com a democracia participativa: carece de referente concreto; de modo que todos, ou quase todos, queremos isso, mas não sabemos como será, nem por onde começar. Até agora temos mais clareza sobre o que faltou na experiência socialista do que sobre as propostas adequadas para refazê-la. Em qualquer caso, com "rosto humano", o futuro só poderá ser socialista, porque a lógica do capital acabará sempre engolindo qualquer empenho contínuo de justiça social, de amparo ante a pobreza, de fórmula social equitativa.

E a sociedade cubana, apesar dos dissabores e da austeridade na qual foi obrigada a subsistir, não perdeu os valores gerados e alimentados pelo horizonte de justiça e equidade. Isso é visível até hoje, de maneira paralela às expressões de deformação, nas sólidas manifestações de solidariedade de nosso povo, como na colaboração médica no Haiti. Poderíamos falar da colaboração médica cubana no mundo (entre as quais a oferta, recusada de maneira inescrupulosa, de enviar uma brigada a New Orleans para atender às vítimas do furacão Katrina em 2007). Ou na Bolívia, no Equador, na Venezuela, onde os agentes de saúde cubanos atendem com desvelo à população mais prejudicada e carente de recursos. Porém, aludimos agora, em 2010, ao Haiti, necessitado após dois anos de desastres (terremoto, furacão, epidemia de cólera), onde a cooperação solidária cubana é decisiva. Em descomunal desproporção sobre qualquer outra, se levarmos em consideração os indicadores macroeconômicos do país que oferece a ajuda. É uma solidariedade indicativa de valores que só uma sociedade que se libera, no sentido da liberdade, que não é o do liberalismo, pode atingir.
Não podemos deixar de pensar, para terminar, que a terceira surpresa que o "caso cubano" significou para Washington é, precisamente, que depois da queda do bloqueio do Leste, do sistema no qual a experiência socialista cubana havia achado sua tábua de salvação econômica, dos enormes efeitos materiais e espirituais da queda cubana e do recrudescimento do bloqueio dos Estados Unidos com a Lei Torricelli (1992) e a Lei Helms-Burton (1996), e suas sequelas orientadas a acelerar a esperada asfixia cubana, depois de tudo isso, a asfixia não ocorreu. Cuba, seu sistema político (carente de iniciativas que abram passo a uma participação mais efetiva), sua economia (mais desordenada e ineficiente que nunca, verdadeiramente necessitada de reformas), sua sociedade (carregada de penúrias, de desalento e incertezas), não perdeu os valores que a distinguem nem manifesta disposição para abandonar a utopia socialista.

A sociedade cubana não está disposta a perder o que conseguiu, começando por um sentido efetivo da soberania: na verdade, quer mais, porque não só aspira hoje à soberania que a resistência à hegemonia império-central colocou em suas mãos, senão àquela que a maturidade política lhe deu o direito de exercer e que ainda sente limitada, embora perceba com acerto que só dentro de uma variante plausível de socialismo poderá atingir.
Havana, 17 de dezembro de 2010

Notas

1 Andrew Zimballist y Claes Brundenius, Cuadernos de Nuestra América, n.13, 1989. [ Links ]

2 Ernesto Che Guevara, El socialismo y el hombre en Cuba, 1966. [ Links ]

3 Carlos Rafael Rodríguez, Cuba Socialista, n. 33, 1988. [ Links ]

4 Cuba en cifras, 1998, Oficina Nacional de Estadísticas.

5 Investigación sobre desarrollo humano y equidad en Cuba 1999, Ciem-Pnud.

6 Aurelio Alonso, La sociedad cubana en los años noventa y los retos del comienzo de un nuevo siglo, 2002. [ Links ]

7 Mayra Espina Prieto, Efectos sociales del reajuste económico: igualdad, desigualdad, procesos de complejización de la sociedad cubana, 2003. [ Links ]

Aurelio Alonso é sociólogo e ensaísta cubano. Professor adjunto da Universidade de Havana e professor visitante da Universidade Central de las Villas. Membro fundador da revista Pensamiento Crítico (1967-1971), e atualmente é subdiretor da revista Casa de las Américas. @ - aurelius@cubarte.cult.cu

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ENTREGUISMO À MODA TUCANA

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) informou que as expectativas para o prospecto de Libra, localizado no pré-sal da Bacia de Santos, é de que tenha de 26 a 42 bilhões de barris na sua totalidade, sendo que o volume de óleo recuperável é de 30% desse valor, ou seja, deve ser entre oito e 12 bilhões de barris. A diretora geral da ANP, Magda Chambriard, disse que esse é um campo pujante. “Libra é um prospecto muito grande e muito diferente de tudo que tínhamos até agora”, afirmou. “Em 30 anos trabalhando no setor de petróleo, nunca vi uma licitação desse tamanho. O leilão do pré-sal (que foi adiantado para outubro) vai chamar a atenção do mundo todo”, completou
 
Metri: A maior entrega de nosso patrimônio desde a Independência?
 
 
publicado em 23 de agosto de 2013 às 11:29
 
Entrega, Getúlio, entrega…
 
Libra: o povo não sabe de nada
 
 
O povo não sabe nada sobre Libra e, se depender da mídia comercial, continuará inocente para sempre. Sugiro uma enquete feita por um instituto de pesquisa confiável, com uma única pergunta à população: “O que você acha do leilão de Libra, que vai ocorrer em 21 de outubro próximo?”.
 
Aposto que, no mínimo, 95% dos entrevistados não saberão o que é Libra.
 
No entanto, o leilão de oito a doze bilhões de barris de petróleo, que se convencionou chamar de campo de Libra, não poderia passar despercebido.
 
Está em jogo a possibilidade de muito mais recursos estarem disponíveis, no futuro, para educação, saúde, habitação, saneamento e outros programas sociais, se este campo for bem aproveitado.
 
Se for leiloado, a maior parte destes recursos irá para as petrolíferas estrangeiras.
 
Este importante fato não é divulgado, simplesmente, porque a mídia comercial existente é subordinada aos interesses do capital e, neste assunto, as petrolíferas estrangeiras determinam que a sociedade deve permanecer em total ignorância.
 
Desta forma, informações confiáveis, hoje, só na mídia alternativa.
 
O que será desviado da sociedade com o leilão de Libra corresponde à maior apropriação de um patrimônio público desde a nossa independência.
 
Só não digo desde a descoberta do país, porque não sei quanto ouro foi levado das nossas terras para Portugal.
 
A totalidade do petróleo de Libra vale, no mínimo, US$ 1 trilhão, mas, provavelmente, chegará a US$ 1,5 trilhão.
 
Nem tudo será desviado, pois existem o Fundo Social e os royalties.
 
Mas poderia retornar mais para a sociedade, se Libra fosse entregue sem licitação à Petrobras, que assinaria um contrato de partilha com a União, satisfazendo o artigo 12 da lei 12.351, e com a máxima contribuição para o Fundo Social.
 
Qualquer valor abaixo deste máximo que a Petrobras pode entregar deve ser considerado como um desvio de patrimônio da nossa sociedade.
 
Assim, o desvio de Libra, se o governo teimar em leiloá-lo para as empresas estrangeiras, será maior que a transferência de todo manganês da Serra do Navio no Amapá para formar uma montanha em outro país.
 
Será maior que o roubo da privatização da Vale, que chegou a US$ 100 bilhões, ou o das teles, que dizem ter sido em torno de US$ 40 bilhões.
 
Se for tomado o desvio ou o caixa 2 dos chamados mensaleiros, da ordem de uma ou duas centenas de milhões de reais, o leilão de Libra significa uma subtração de recursos da ordem de 10.000 vezes maior que o tão divulgado rombo do “mensalão”.
 
Contudo, no caso de Libra, temos o desvio institucionalizado, uma vez que o leilão não é a melhor aplicação da lei 12.351, mas ele também está previsto nesta lei.
 
Se o argumento de que o leilão não traz o melhor impacto para a sociedade for levado a um juiz, ele poderá indeferir o pedido de sustação do leilão, alegando que este é previsto em lei e, se a lei é injusta, não cabe a ele, juiz, modificá-la.
 
Aliás, todas as 11 rodadas de leilões da ANP já ocorridas, seguindo a lei 9.478, excetuando a oitava, tiveram respaldo legal.
 
O Congresso Nacional, tão comprometido com o poder econômico quanto a mídia, só irá reverter esta lei se houver grande pressão popular ou se a população passar a votar melhor, inclusive se deixar de votar contra si própria.
 
Para descrever a apropriação indevida, há uma correspondência clara entre este ciclo do ouro negro com o que aconteceu no ciclo do ouro passado, pois a Coroa são os atuais países-sede das petrolíferas estrangeiras, a Colônia é a mesma; a administração da Coroa na Colônia é, hoje, o atual governo brasileiro; os agentes da usurpação são, ontem e hoje, os estrangeiros; e os usurpados de hoje são os descendentes dos usurpados do ciclo passado.
 
Fatidicamente, ficamos sempre com pouco usufruto sobre a riqueza que nos entrega a natureza ou o Criador.
 
Espoliado desde a invasão européia de 1500, o Brasil está no grupo das nações supridoras de grãos e minérios para os opulentos, que têm tecnologia, indústrias e serviços com alto conteúdo tecnológico e forças armadas persuasivas e opressoras.
 
Não há risco em Libra, pois não há dúvida sobre a existência deste petróleo.
 
Não há pressa, a menos que o governo esteja com dificuldade para fechar suas contas, inclusive, o superávit primário.
Mas, se este for o caso, lembre-se que estão comprometendo realizações futuras durante muitos anos por uma questão conjuntural.
 
Se a Petrobras estiver com sua capacidade de envolvimento em novos negócios esgotada, pode-se esperar, pois o abastecimento do país está garantido graças a ela própria por, no mínimo, uns 40 anos.
 
Aproveito para salientar que nenhuma empresa estrangeira se dispõe a abastecer o país, a construir refinarias, contratar plataformas e outros bens aqui.
 
Querem unicamente o petróleo e seu lucro, em exploração completamente desvinculada da população que habita a região.
 
Minha esperança, hoje, são os sindicalistas, os filiados a entidades de classe, os integrantes de movimentos sociais, os jovens que estão na rua, os internautas do bem, os perceptivos e honestos da mídia alternativa e o ex-presidente Sarney, a quem passo a fazer um pedido de público, já que não tenho canais de interlocução.
 
Vossa Excelência, durante sua vida pública, deu claras demonstrações de compreender a importância de se preservar a soberania do país e que esta posição nacionalista era necessária para se conseguirem avanços progressistas, tendo o seu governo se norteado por estes princípios.
 
De memória, cito algumas medidas soberanas e progressistas do governo de Vossa Excelência: criação do Mercosul; determinação do domínio completo da tecnologia do Ciclo do Combustível Nuclear; decisão da construção do submarino nuclear; acordo com a China para o lançamento conjunto de satélite; moratória da Dívida Externa; lançamento do Plano Cruzado com o controle dos preços; reatamento com Cuba; criação do Ministério da Reforma Agrária; criação do Ministério da Cultura, com a nomeação do economista Celso Furtado para exercer o cargo de ministro; legalização de todos os partidos antes clandestinos e reconhecimento das centrais sindicais; nomeação de um nacionalista como Renato Archer para o Ministério da Ciência e Tecnologia; defesa da Causa Palestina e da Nicarágua Sandinista nos fóruns internacionais; defesa na ONU da autodeterminação e independência do Timor Leste; e reserva de mercado da informática, com a criação da Secretaria Especial de Informática, reserva esta mal interpretada até hoje.
 
Assim, peço a Vossa Excelência, político respeitado e de muitos aliados, que tem a sensibilidade necessária para compreender os argumentos de soberania, que é imprescindível para o progresso social, colocar todo o seu peso político, adquirido em anos de atuação no nosso cenário, para que o leilão de Libra seja suspenso e este campo seja entregue à Petrobras, sem licitação prévia, através de contrato de partilha, como permite a lei 12.351.
 
O povo brasileiro, no dia que ganhar consciência plena, será muito agradecido a Vossa Excelência.
 
*conselheiro do Clube de Engenharia
 
Libra fica na Bacia de Santos a 183 km da costa do Rio de Janeiro; sua área é de 1.458 quilômetros quadrados, em águas com profundidades variando entre 1,7 mil e 2,4 mil metros sob o nível do mar; é conhecido desde 2010. Ali, disse a ANP, foi descoberta uma coluna de óleo de 326,4 metros, mostrando um óleo de 27 graus API, uma medida usada para definir a qualidade do petróleo. Segundo essa medida, o óleo encontrado em Libra é de densidade média sendo de qualidade considerada alta.