quinta-feira, 1 de abril de 2021

Blog do Rovai: Lula X Reinaldo Azevedo: quem ganhou?

 

Blog do Rovai: Lula X Reinaldo Azevedo: quem ganhou?

A entrevista vale mais pelo seu simbolismo do que pelo que possa se extrair dela de novo. Ganharam os dois. Azevedo pela forma respeitosa como tratou o ex-presidente. E Lula, pelas portas que abriu.

 
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O ex-presidente Lula acaba de conceder uma entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, autor de O País dos Petralhas, no programa O É da Coisa, da Band FM. O programa foi transmitido pela internet e atingiu quase 300 mil views simultâneos no seu pico só no Youtube. Uma catarse. Além do rádio e da internet, a Band News, canal a cabo da TV Bandeirantes, também transmitiu o evento.

Sim, foi um evento. Algo que se um marciano que saiu da terra há uns dois anos voltasse hoje imaginaria estar em outro planeta. Ou seja, algo se moveu.

Azevedo se tornou um dos maiores críticos da Lava Jato e defensores da inocência de Lula no processo de lawfare que o ex-presidente foi submetido. A entrevista de hoje sela um movimento de uma parte do centro e da direita liberal que até outro dia criava uma falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro.

E esse movimento pode causar consequências. Tanto para essa direita liberal como para um futuro governo liderado pelo PT.

Lula foi pra cima de Bolsonaro, o chamou de ignorante, disse que ele precisa parar de falar besteiras e passar a ouvir quem entende de economia e medicina, defendeu que o mercado comece a prestar atenção na vida do povo, sinalizou que está disposto a caminhar para o centro se vier a ser candidato, falou que o Estado não precisa ser empresarial, que pode abrir empresas públicas para investimentos privados e só não falou que aceitaria Luiza Trajano como sua vice, porque neste momento, a ansiedade de Azevedo não deixou ele terminar sua frase.

Lula também não perdeu o momento para mandar um sinal claro de paz para os donos de meios de comunicação. Citou um a um os grandes barões da mídia e disse que teve ótima relação com eles quando foi presidente. Fez gestos mais amigáveis ainda ao dono da Band, Jonny Saad. A quem elogiou por defender que a Lava Jato não poderia ter acabado com as empresas.

Em muitos momentos, Lula repetiu o que já disse em entrevistas anteriores como a esta Fórum, mas é importante que tenha dito nisso que ele chamou de “embate entre pessoas que pensam diferente, mas que podem se respeitar da maneira mais democrática do mundo”.

Lula vinha até os últimos tempos conseguindo espaço para falar apenas com a mídia independente profissional e com grandes veículos internacionais, a entrevista de hoje tem o potencial de abrir espaço para que outros meios de comunicação, em especial as TVs que são concessões públicas, passem a ouvir Lula.

É imperial que isso aconteça.

Lula fez bem em ir ao É da Coisa e se mostrou firme e forte para ser o grande candidato de uma parcela maior do que a esquerda tradicional em 2022.

Entre outras frases que marcam este recado de Lula para o empresariado está o de que se o mercado tivesse juízo iria até Aparecida do Norte para fazer promessa para Lula voltar.

A entrevista vale mais pelo seu simbolismo do que pelo que possa se extrair dela de novo. Ganharam os dois. Azevedo pela forma respeitosa como tratou o ex-presidente. E Lula, pelas portas que abriu.

Vale como destaque desse novo ciclo, o fato de Azevedo ter imitado Lula e o de o ex-presidente tê-lo chamado de companheiro Reinaldo Azevedo.

O tal marciano de fato não ia entender nada. Mas isso abre uma nova porta para que os passos democráticos contra Bolsonaro não precisem ficar mais pensando em encontrar um caminho do meio quando se tem uma pessoa tão preparada para construir a transição do Brasil que vai ser entregue para um novo mandatário em 2023.

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Renato Rovai

Jornalista, mestre em Comunicação pela ECA/USP e doutor pela UFABC. Mantém o Blog do Rovai. É editor da Fórum.

O Primeiro de Abril e os “patriotas” de ofício

 

O Primeiro de Abril e os “patriotas” de ofício
 
Roberto Amaral
 
    O general Braga Netto, recém nomeado ministro da Defesa, disse a que veio. Com a Ordem do Dia sobre o 1º de abril de 1964, por si só uma insubordinação em face do Pacto de 1988,  cumpriu a primeira tarefa que lhe terá sido imposta pelo capitão, em busca de narrativa que favoreça seus planos antidemocráticos. Essas maquinações palacianas – as quais, reconheçamos, jamais foram escondidas – podem ter sido postas em repouso tático, mas é certo que até o ultimo dia desse interminável mandato estarão nas cogitações do Bonaparte de hospício que nos governa. Na crise desta semana, preocupa a ligeireza com que militares graduados se apressaram em garantir que “não há risco de golpe”. Em situação normal chefes militares são dispensados dessas garantias. No futebol, que tanto nos ensina, quando o dirigente de clube garante que o técnico “está prestigiado”, é certo que ele estará desempregado em uma semana.
    Portanto, todo cuidado é pouco.
    O capitão é o problema que nos assola, e seguirá assolando enquanto tiver a solidariedade das baionetas ou dispuser da guarda pretoriana que cuida de seus interesses no Congresso. Aliás, ainda se está por conhecer a real inteligência da reforma ministerial levada a cabo no início da semana, depois de o capitão perder o apoio da fatia mais grossa do PIB e sua popularidade despencar, no momento mais grave da pandemia, quando a crise econômica prenuncia o caos social.   
    O general não poderia, pois, escolher momento mais inoportuno para defender o golpe militar de primeiro de abril que os fardados insistem em comemorar no dia 31 de março, que nada fez para merecer tamanha injúria. Aliás, a primeira questão que se impõe é a legitimidade desses pronunciamentos. Por que a retomada das louvações a um monstruoso golpe de Estado que nos roubou 21 anos de democracia? Sua defesa, por uma instituição do Estado, atenta contra a Constituição e a ordem democrática que ela consagra. Ademais, essas “ordens do dia” são, sempre, a repetição monótona e pobre de inverdades e meias verdades, umas e outras desmentidas pela História que a caserna jamais conseguirá reescrever. A primeira aleivosia é chamar de “movimento” um golpe de Estado que se perpetuou como ditadura.
     Num esforço não alcançado de apresentar atenuantes ao golpe, o general ministro da defesa tenta inseri-lo nos feitos da Guerra Fria, que teria chegado ao Brasil, segundo ele, como as chuvas de verão. Ora, foram as forças armadas brasileiras, dependentes ideológicas da geopolítica militar estadunidense, que nos inseriram no conflito entre os EUA e a URSS de então, que em nada nos dizia respeito, como não nos dizem respeito as contendas de hoje entre os EUA e a China, senão na medida da defesa dos nossos interesses, pelos quais não se interessa o capitão. Mas os militares brasileiros já não pensavam com suas próprias cabeças, porque as escolas de formação de nossos oficiais de há muito funcionavam como correias de transmissão ideológica do pensamento estratégico formulado na Escola de Comando e Estado-Maior dos EUA, em Fort Leavenworth, onde se formaram ou estagiaram numerosos oficiais brasileiros das três armas, e na National War College (e suas congêneres), matriz  de nossa Escola Superior de Guerra. Nem o anticomunismo de nossos militares é autêntico.
     Os militares, que tanto se ufanam como “defensores da pátria” (atributo que julgam ser exclusividade deles), se esquecem de que o “movimento” foi ditado por Washington. Além da registrada conversa telefônica entre Lyndon Johnson, presidente dos EUA, e seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, autorizando o golpe, a “Operação Brother Sam”, como os americanos chamaram o ancoramento de petroleiros na costa brasileira, já faz parte da historiografia sobre o golpe (Marcos Sá Corrêa. 1964 visto e comentado pela Casa Branca, L&PM). As ligações com as autoridades dos EUA estão documentadas, e podem mesmo ser revistas nos depoimentos de muitos dos principais conspiradores, como o general Cordeiro de Farias (Diálogo com Cordeiro de Farias,  Nova Fronteira, p. 571). As pesquisas mostram ainda a participação da CIA, as articulações da embaixada norte-americana e do adido militar dos EUA, o Cel. Vernon Walters, interlocutor de nossos generais desde os tempos da FEB, quando conheceu Castelo Branco e Cordeiro de Farias. (A propósito: as bibliotecas de Lyndon Johnson, em Austin, e de John Kennedy, em Boston,  guardam extensa documentação sobre a participação dos EUA na preparação do golpe).  
     A subordinação de nossos interesses aos ditames de uma potência estrangeira foram escandalizados  no primeiro governo do mandarinato militar, ditador o marechal Castelo Branco, quando o general Juraci Magalhães, embaixador brasileiro nos EUA, declararia que “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Em nome desta subalternidade abjeta, tropas  brasileiras invadiram a República Dominicana (1965), um pequeno e pobre país caribenho, para combater os constitucionalistas que lutavam contra uma ditadura de extrema-direita. Voltamos à ilha de São Domingos, 2004, para exercer o policiamento nas ruas do Haiti.  Ficamos 13 anos. A “elite” militar de hoje fez lá seu “pós-doutorado”, adestrando-se para ações internas de “segurança pública”, como a fracassada intervenção federal no Rio de Janeiro (2018), chefiada  pelo general Walter Souza Braga Netto. Outra parte estagiou nos altos cargos do Comitê Olímpico Internacional, e agora habita o terceiro andar do palácio do planalto.  
     Desses militares não podemos nos orgulhar.
      Não sei se esses episódios constam das apostilas (os ‘polígrafos’ dos tempos de Castello Branco) que circulam nos cursos da EsAO. Tampouco sei se, quando estudam a história militar no Império, se referem às invasões da Cisplatina (1825), do Prata (1821), do Uruguai (1864) e do Paraguai (1864-1870), onde, no final da guerra, nossas tropas enfrentaram um exército de meninos, velhos e mulheres. Evento despido de glória.
      Diz o general ministro da defesa, na absurda Ordem do Dia, que “As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”. Essa sandice não se põe de  pé. Como chamar de pacificação uma ditadura de 21 anos, a perseguição a milhares de brasileiros, as cassações de mandatos eletivos, a censura, a invasão de universidades e a perseguição a cientistas e pesquisadores, o confinamento e o exílio de centenas de patriotas, enfim, as prisões, a tortura e os assassinatos, os incontáveis mortos sem sepultura? Reorganizar o país? Ora, isso foi obra da Constituinte de 88, requerida pelo povo contra o veto dos militares. Uma reorganização, aliás, interrompida pelo golpe de 2016 e o governo militar do capitão. Sim, governo militar, e dele não conseguirão se apartar os fardados diante do severo julgamento da História. 
      E como falar em liberdades democráticas, se nossas forças armadas sempre as golpearam, como nas ditaduras dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, ou sustentando por trinta anos os governos autoritários e ilegítimos  da velha república, a serviço do latifúndio e do atraso, como o desastrado governo do quase grotesco marechal Hermes da Fonseca, que governou do primeiro ao último dia sob estado de sítio? Como podem se auto-nomear defensoras das liberdades democráticas as forças armadas que deram o golpe de 1937, contra a democracia e a Constituição liberal de 1934, implantaram a ditadura do Estado Novo, levaram  Getúlio Vargas ao suicídio em 1954, se insurgiram contra a Constituição em 1961 e, finalmente, instauraram a ditadura em 1964, rasgaram a Constituição de 1946 e passaram a legislar mediante atos institucionais protofascistas? Foram generais, liderados pelo comandante do exército, que inventaram Bolsonaro – tenente de carreira reles, reformado como capitão e por quase 30 anos habitante do baixo clero da câmara dos deputados –  e é a caserna (o capitão fala mesmo em “meu exército”) que lhe dá sustentação.
      As instituições, quando perdem a visão histórica, cavam sua própria degradação. As forças armadas brasileiras, sem nenhuma justificativa, insistem na defesa do golpe militar de 1964, quando deveriam pedir desculpas pelos crimes cometidos e acobertados. Na história presente, dão sustentação a um governo corrupto, inepto, antinacional e criminoso, surdas e cegas para os desmandos que estão destruindo o país, sua economia, sua população e sua dignidade. Como já observou o professor Manuel Domingos Neto, da UFF, esse erro clamoroso pode ser as Malvinas de nossas tropas.
     O ministro nos fala  em defesa da ‘Pátria’. Que é, mesmo, a pátria? É nosso território? É nosso povo? É nossa história? É o meio ambiente devastado? São os índios massacrados? Os desempregados? As mais de trezentas mil vítimas da Covid-19 e da incompetência  do general (da ativa) Eduardo Pazuello? São os trabalhadores sem terra? Ou os capitães do agronegócio e as mineradoras, ou os rentistas da Faria Lima? De quem os militares  estão defendendo a pátria? Dos que lutam internamente por uma sociedade distinta desta fundada na desigualdade, sociedade e capitalismo arcaicos que generais fardados e de pijama defendem e impõem pela força das armas que o povo lhes entregou (e os remunera) para defendê-lo?
 

______________

Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia

Os destaques da noite no 247

 

Em entrevista a Reinaldo Azevedo, Lula manda Bolsonaro deixar de ser ignorante

Bolsonaro
'sai do sério'
com declaração
de Mourão
sobre troca nas
Forças Armadas

General Rêgo Barros, Tasso e Merval indicam que militares e elite decidiram-se pelo impeachment
de Bolsonaro

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ex-sócio da Vale e depois foi trabalhar para concorrente

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