quinta-feira, 6 de julho de 2017

O janelão estilhaçado da Rede Globo

TERÇA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 2017

O janelão estilhaçado da Rede Globo

Enquanto a Mídia Alternativa luta pela sobrevivência, garantindo o contraditório ao discurso hegemônico, a Globo inauguram a nova sede do seu jornalismo

Tatiana Carlotti


Em tempos de golpe, a fragilidade das nossas instituições democráticas se escancara. Na seara da comunicação, enquanto a Mídia Alternativa luta pela sobrevivência, garantindo o mínimo do contraditório ao discurso hegemônico; as Organizações Globo, promotoras deste discurso, inauguram a nova sede do seu jornalismo.

A discrepância de forças ficou evidente na última segunda-feira (16.06.2017). Durante cinco minutos, o Jornal Nacional vendeu o aparato jornalístico a seus telespectadores, detalhando a metragem do novo espaço, o dobro do anterior, e suas 18 novas ilhas de edição.

A cobertura da “cerimônia macabra”, assim qualificada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim (assista ao vídeo “O que o filho do Roberto Marinho não disse”), incensou a parafernália tecnológica, destacando os imensos telões e as ilustrações em três dimensões do Jornal Nacional.

Segundo o script, “isso é possível porque o novo cenário é formado por duas camadas de imagens. Primeiro um vidro de 15 metros em curva, que varia do fosco para o transparente. E, ao fundo, um telão gigante, o de três metros de altura a por 16 de largura. Uma janela para o mundo”.

Uma embalagem bonita para um escasso conteúdo. A tentativa do Grupo Globo de compensar a baixíssima qualidade de seu jornalismo. Não será um vidro de 15 metros que devolverá a credibilidade perdida às Organizações Globo. Ela foi estilhaçada pela politicagem rasteira que o Grupo realiza há 92 anos.

É brutal a asfixia ao contraditório, ao debate de ideias e propostas perpetrado pela empresa, vide a cobertura da PEC do Teto de Gastos, a defesa aguerrida das reformas trabalhistas. É criminosa a perseguição promovida contra desafetos da emissora, bem como sua atuação política, interferindo diretamente nos rumos do país, vide os episódios que antecederam e sucederam o golpe – os dois, aliás.

E o que dizer da seletividade de suas pautas? O silêncio diante de questões de extrema importância, como o genocídio da população jovem, negra e pobre nas periferias, assassinada pela Polícia Militar, em vários estados do país. Como isso não é pauta na principal emissora brasileira?

O Brasil e o mundo passam longe do janelão da família Marinho.

Jornalismo independente?

Prova disso foi o discurso do presidente do Grupo Globo, Roberto Irineu Marinho que falou sobre “futuro”, “compromisso da emissora com o país” e, pasmem, “jornalismo independente”. Mandatário de uma organização que faz política diuturnamente, ele disse ser “significativo que, no auge de um período crítico da vida nacional”, o Grupo Globo esteja “inaugurando um moderno estúdio de jornalismo”.

Muito significativo, aliás, dado o protagonismo das Organizações Globo no afastamento de uma presidenta democraticamente eleita do poder, sem crime de responsabilidade. Roberto Irineu mencionou também os 92 anos da emissora salientando que ela pretende continuar “sendo uma empresa familiar que olha para o longo prazo” e que “investe hoje para construir o futuro onde queremos viver”.

Queremos? Uma tarde assistindo à Globonews nos permite compreender de que futuro se trata: aquele desenhado pela agenda da austeridade. O futuro de um país garroteado pelo estado mínimo, onde a criminalização da política é lei e a destruição da imagem de partidos, lideranças e movimentos de esquerda, uma prática corrente.

Um futuro, diga-se de passagem, recusado quatro vezes nas urnas pela maioria da população brasileira. Daí o terceiro turno forjado pelas Organizações Globo, com seu candidato o senador afastado Aécio Neves, incensado como a saída para o país; as manifestações pró-impeachment convocadas explicitamente pela emissora; o golpe de 31 de Agosto, cujas consequências recaem sobre o povo brasileiro, via crise institucional, política e econômica que se prolonga.

Nada disso, obviamente, foi mencionado pelo presidente da maior empresa de comunicação do país. Na pele de CEO, Roberto Irineu esqueceu de mencionar o desemprego acirrado pela turbulência política, preferiu citar os 19 mil empregos diretos e os 15.800 indiretos criados pela empresa da sua família.

Tampouco falou das denúncias de sonegação fiscal, mais de R$ 600 milhões devidos aos cofres públicos decorrentes da compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002. Preferiu mencionar o pagamento de R$ 14,5 bilhões em impostos nos últimos cinco anos, “com muito orgulho”, destacou.

E afirmou ainda: “só com uma empresa que permanece e se sustenta conseguimos produzir jornalismo independente”, como se as Organizações Globo não recebessem financiamento das estatais, não se fizessem política, nem defendessem os interesses corporativos e financeiros que defendem descaradamente nos seus noticiários.

Nesta semana aliás a Globosat assinou um acordo com a Vice Media, maior companhia de mídia e produção de conteúdo para o público jovem do mundo, ela inclusive tem como sócia a Disney, para criar uma joint-venture. Pelo acordo, em torno de US$ 450 milhões, a Globo terá participação minoritária na Vice Brasil.

Com público alvo de jovens entre 18 e 34 anos, a joint-venture irá oferecer entretenimento com foco em comportamento pela Globosat que conta com 33 canais e mais de 18 milhões de telespectadores diários.

Concentração da mídia

Um discurso vazio em meio a um cenário megalomaníaco, a síntese do jornalismo Globo que não teria consequência alguma, não fosse o imenso poder que detém, graças à concessão pública, das quais as Organizações Globo abusam, sem qualquer regulação ou controle do poder público.

Concentrada nas mãos de meia dúzia de famílias, a comunicação no Brasil segue engessada ante qualquer possibilidade de concorrência. E o mais grave: o discurso hegemônico impera impedindo à população de ter acesso a vários pontos de vistas e opiniões; engessando múltiplas pautas; impedindo ao Brasil, diverso e múltiplo que somos se reconhecer naquilo que é veiculado na TV, nas rádios e jornais.

Daí o esforço da Mídia Alternativa em assegurar o mínimo de contraditório à narrativa autoritária e hegemônica que comanda a pauta nacional. E sem financiamento, diga-se de passagem, já que uma das primeiras medidas de Michel Temer, assim que entrou no governo (saiba mais), foi promover a asfixia econômica de sites e blogs progressistas e independentes no Brasil.

O ônus da ausência de uma efetiva Lei de Mídia – uma das principais reivindicações da Mídia Alternativa ao longo dos últimos anos – é a própria democracia e a quebra da ordem constitucional que vivemos.

Aliás, os graves problemas desta concentração e seus danos à democracia são tema de um estudo recente e imperdível divulgado pela UNESCO, sob o título “Concentração da Propriedade de Mídia e Liberdade de Expressão: Padrões e Implicações Globais para as Américas”.

Com base no direito internacional, o documento (em espanhol e em inglês) aponta quais ações precisam ser promovidas para se regular o mercado de mídia, destacando cinco ameaças à democracia resultantes da concentração da mídia. São eles:

"1. Influência excessiva dos proprietários de meios ou de seus anunciantes sobre os responsáveis políticos e os poderes públicos, e manipulação encoberta das decisões políticas para favorecer interesses econômicos ocultos;

2. Concentração da propriedade dos meios comerciais e sua possível influência sobre a esfera política, seja a concentração da propriedade nas mãos dos governantes, de todos os meios de comunicação de um país nas mãos de um único proprietário, ou (situação especialmente perigosa nos países pequenos) de todos os meios de comunicação nas mãos de proprietários estrangeiros;

3. Efeito nefasto da concentração dos meios de comunicação e da evolução dos modelos econômicos sobre a qualidade do jornalismo (de investigação e de outros tipos), traduzido na diminuição da margem de liberdade editorial, degradação das condições de trabalho e precarização do trabalho dos jornalistas;

4. Falta de transparência sobre a propriedade dos meios e as fontes de financiamento;

5. Potenciais conflitos de interesses que resultam na proximidade entre os jornalistas e os interesses econômicos.”

Como você pode notar, tratam-se de riscos de primeira grandeza, sobretudo em um Brasil dominado por “mini-Berlusconis”, conforme cunhou The Economist, ao avaliar a oligarquia das empresas familiares de comunicação que mandam e desmandam no Brasil.

No caso da Globo, há 92 anos.

Até quando?

Texto original: CARTA MAIOR

A natureza ameaçada

Além DAS ABELHAS OUTROS POLINIZADORES NATURAIS ESTAO DESAPARECENDO
TODA A NATUREZA ESTA AMEAçADA
9%  das especies selvagens estao em via de extinção
e 5% mais o estarão brevemente 
CULPADO PRINCIPAL: 
  A AGROQUIMICA, OS INSETICIDAS, OS AGRO TOXICOS O LOBBY DO DINHEIRO em pmrimeiro lugar QUE PASSA POR CIMA DA VIDA HUMANA E ANIMAL

SE VOCE NAO REAGIR  NAO SE SURPREENDA SE COMER PLASTICO: DA GOSTO RUIM NA BOCA E AJUDA O CANCER ALEM DE OUTRAS DOENçAS
QUANDO FOR AVO, O QUE DIRA A SEUS NETOS,,,,,,,,,,,,???????????????? e antes de ser avô, ja estão derdtruindo o que podem para ter o cifrao HOJE. o AMANHã NÃO LHES INTERESSA
o TEXTO DIZ:
oS APICULTORES,  no ano passado ja deram o grito de alarme...;e isso nos EEUU, na França, em outros paises da Europa, e alhures....
   Denuncie, acuse, grite, peça a seus politicos covardes ou nao, QUE VOCE E SUA FAMILIA, SEUS AMIGOS, enfim, TODA A HUMANIDADE QUER VIVER PORQUE ELA NÃO PODE VIVER SEM NATUREZA; QUEM POLINIZA  as frutas, os vegetais? Você? Nao, elas as abelhas e as espécies aparentadas. Dificil de entender que sem elas não havera escolha outra que produtos industrializados que,  além de inchar ( engordar é pouco), matam você a pequenas doses, ou de uma dose so: ataque cardiaco fulminante, diabete, e por ai vai. E so ler o que dizem os médicos - os que nao se vendem aos laboratorios e às fabricas de destruidores lentos (ex. a Cocacola que retira pelo menos 5 litros de agua para fazer um litro daquela coisa suja com sabor a purgante adocicado "_uma delicia" dira o viciado - pompando as fontes de aguas naturais). No México ja ha povoados quase sem agua, mas com uma "fabrica" de cocacola ao lado, e a populaçao, altamente diabética e obesa, da cocacola aos bebês. Crianças ja com obesidade...
   Procure os documentarios que falam das perversidades que você põe na boca. E que, claro, vão passear propagando seus maleficios por todo o seu corpo. Por que deu "a vaca louca" aqui ,na Europa? O frango contaminado? Para ganhar mais dinheiro esses capitalistas de penico cheio, alimentando seus animais com farinha de animais mortos e   outras farinhas desconhecidas, a  CARNE deles ficou contaminada . Pelo menos aqui na França, ja afetou a tal ponto crianças, que todas que a comeram ficaram doentes, e um menino mais fragil ficou sem poder andar, todo mole, paralizado!
   ADORO ABELHAS. ELAS PRODUZEM O UNICO ALIMENTO QUE NUNCA APODRECE/ O MEL (e seus mil beneficios); foi encontrado no tumulo do farao egipcio Tutankamon. Cristalizado mas bom para ser consumido. Ha quantos séculos? Milênios?
 PENSE NISSO!  

Fonte: Roselis Batista, com  base em um texto publicado na França

As várias faces de Getúlio Vargas: historiografia e memória

As várias faces de Getúlio Vargas: historiografia e memória

É preciso evitar o personalismo político e compreender que os trabalhadores brasileiros são os protagonistas de suas lutas.

Por Thiago Cavaliere Mourelle
Embora todos os povos tenham seus heróis e seu panteão cívico, há no Brasil uma cultura histórica personalista bastante forte. Hebe Mattos, por exemplo, ao estudar a memória dos descendentes de escravos, relata que parte significativa dos entrevistados enxergava uma associação entre a princesa Isabel e Getúlio Vargas, “com a primeira sendo responsável pela libertação e o segundo pela consolidação dos direitos civis”. Todo político é um herói em potencial. E em cima desse herói são colocadas expectativas pela solução de séculos de problemas de ordem política, social e econômica. A questão é: por detrás da delegação do papel de salvador a uma única pessoa, está a falta de percepção de que, para alcançar soluções, a mobilização coletiva é o fator essencial e não a “varinha mágica” de um político qualquer.
Wanderley Guilherme dos Santos escreveu sobre a dificuldade da sociedade brasileira em compreender o significado do que é ser cidadão e sobre a “falha” do brasileiro em ver-se como parte de uma sociedade que deve, através de suas escolhas, não apenas se fazer representar, mas também participar cotidianamente da política. Esse é um debate que não será aqui aprofundado, mas que nos auxilia no ponto em que queremos chegar: o déficit coletivo do entendimento da cidadania se dá em razão de uma herança histórica de não-participação e de personalismo em torno de líderes que foram mitificados.
Getulio-Vargas-e-o-povo
Vargas em campanha com o povo: a face política e popular. Foto: Arquivo Nacional.
Neste artigo, analisarei talvez o maior personagem mitificado da História do Brasil: Getúlio Vargas. Nos anos 1920, quando era deputado federal, Vargas foi peça importante para chancelar mais uma das várias vitórias eleitorais do governador do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, marcante caudilho da Primeira República. Mais tarde, foi Ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, o mesmo que deporia poucos anos depois. Vargas era homem da elite, peça participante da Primeira República à qual chamaria de “Velha” assim que chegou à presidência, em 1930. Não se trata aqui de ignorar todas as mudanças do Governo Vargas, mas de lembrar que ele fez parte do “velho” do qual buscou, depois, se desvincular.
Lembranças e esquecimentos
Os 15 primeiros anos do Governo Vargas (1930-1945), assim como os quase quatro seguintes (1951-1954) foram profundamente marcantes para o Brasil. Para entender esses governos, contamos com trabalhos de fôlego de vários pesquisadores que detalharam fatos marcantes como a guerra civil de São Paulo (1932), as revoltas da Aliança Nacional Libertadora (1935), a tentativa dos integralistas de tomar o poder (1938) e a entrada do país na Segunda Guerra Mundial (1942), dentre outros temas, tais como o incremento da indústria nacional, a oficialização do samba, a extensão do direito de voto às mulheres e a invenção do trabalhismo. [1]
Porém, um ponto que não pode ser esquecido é que Getúlio Vargas governou o país durante oito anos sob o jugo de uma violenta ditadura. Aliás, esse período poderia ser ampliado se os historiadores atentassem para o fato de que o Governo Provisório (1930-1934) também foi um momento ditatorial e igualmente violento. Afinal, Vargas governou quase quatro anos sem obedecer a uma Constituição, já que a de 1891 foi suspensa tão logo o novo governo ascendeu ao poder. O próprio Vargas, em seu diário, se refere ao período 1930-1934 como ditadura.
Outra situação histórica algumas vezes deixada de lado é a condição vivida pelo movimento operário quando ocorrem os eventos que alçam Vargas ao poder em 1930. A greve geral de 1917, em São Paulo, e a insurreição anarquista de 1918, no Rio de Janeiro, são marcas importantes da mobilização dos trabalhadores, que desde o final do século XIX vinham em um crescente. Sabemos que, nos anos 1920, a criação do PCB deu ao proletariado a esperança de uma revolução nos moldes da que ocorrera na Rússia, em 1917. Não por acaso a Liga das Nações enviou uma comitiva ao Brasil, em 1926, justamente para tratar da necessidade da criação de uma legislação social que abrandasse as condições de exploração vigentes no país e evitasse o chamado “caos social”, combustível para greves e insurreições.
Getúlio Vargas certamente compreendeu os problemas que se apresentavam e a conjuntura histórica de seu tempo. Ele encampou as necessidades não percebidas ou não possíveis de serem resolvidas na conjuntura política da Primeira República. Porém, a relação de violência e a “política dos cassetetes” utilizada nas primeiras décadas republicanas, como resposta à “questão social”, terá continuidade durante seu governo. O movimento operário independente continuou sendo reprimido violentamente. Em pleno “governo constitucional” (1934-1935), inúmeras foram as críticas sobre a interferência do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) – criado em 1930 e apelidado de “Ministério da Revolução”, dada sua importância ao projeto político que ora se iniciava – nas eleições para líderes sindicais, além das denúncias de excesso de violência contra as manifestações dos trabalhadores que contestavam o MTIC e exigiam a pluralidade sindical e critérios mais democráticos de representatividade. O contexto não era benéfico aos trabalhadores, pelo contrário: milhares de presos, feridos, expulsos do país, sindicatos cassados, jornais proletários proibidos de circular. A isso se juntava o anticomunismo, combustível utilizado nas perseguições ao longo de 1936 e 1937 – Luís Carlos Prestes, por exemplo, ficou preso quase nove anos, entre 1936 e 1945 – e que culminou com a invenção do conhecido Plano Cohen como justificativa para o golpe de novembro de 1937.
Por fim, outro fator importante dos anos 1930 foi a ascensão de novas lideranças políticas nacionais. Flores da Cunha, Benedito Valadares, Pedro Ernesto Batista, Oswaldo Aranha, entre tantos outros, deram o apoio necessário à estabilidade do presidente. Mas esse grupo de aliados, ao longo dos quase 20 anos do protagonismo político de Vargas, mudou radicalmente quase de ano a ano, com o presidente variando entre alianças com novos nomes e a busca de laços com antigos coronéis, dependendo da conjuntura política que se apresentava. Nesse contexto, alguns desses nomes foram ora aliados, ora inimigos – caso, por exemplo, de Flores da Cunha, que fora importante aliado de Vargas, sendo indicado interventor e depois eleito governador do Rio Grande do Sul. Contra os planos continuístas do presidente, Flores se tornou feroz adversário de 1935 até 1937, fugindo do país quando decretado o Estado Novo.
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP): instrumento para reescrever a história
Em 1937 entrou em jogo um fator fundamental para a criação do mito Vargas. Seguindo o expediente em voga na conjuntura internacional, o seu governo, que já era bastante centralizador e intervencionista, empreendeu a censura e um eficaz aparelho de propaganda. Além disso, o fenômeno do trabalhismo,analisado por pesquisadores como Ângela de Castro Gomes, Jorge Ferreira, entre outros, se tornou uma força política nas décadas seguintes, em grande parte graças à combinação de realizações sociais e a propaganda de exaltação do líder. De acordo com Maria Helena Capelato, o Estado brasileiro usou a propaganda e a censura de uma forma nunca antes vista na história brasileira.
Vargas e o pai
Vargas e o pai: a face familiar. Foto: Arquivo Nacional
Vargas soube ainda usar muito bem o aparato cultural que montou durante seus anos no Palácio do Catete. Suas ações no campo da cultura desvalorizaram seus adversários e o passado na mesma proporção em que exaltaram o seu governo e o tempo presente. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), entre 1937 e 1945, lembrado em geral por seus métodos repressivos, deve ser considerado também, e principalmente, por sua força de convencimento. Suas publicações atingiram os brasileiros de todas as idades. Para a intelectualidade, por exemplo, foi criada a “Revista Cultura Política”, de viés acadêmico. Já a pré-escola foi contemplada com a revista “Getúlio Vargas, amigo das crianças”, produzida para criar um laço dos brasileiros com seu governante desde a infância.
Certa vez, Walter Benjamin afirmou: quem está no poder é o vitorioso da História e, como vencedor, obtém não só o poder político e econômico, como também os despojos culturais de seu triunfo. Há de se destacar que, não à toa, as expressões “Revolução de 1930”, “Era Vargas”, “República Velha” e “Intentona Comunista” ficaram marcadas na historiografia.
Desta forma, é perceptível que Getúlio Vargas entrou para a História não só pelos seus feitos, mas também pela possibilidade que teve de, em uma ditadura, forjar seu discurso sem vozes dissonantes. Sua obra mais importante, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é uma vitória do trabalhador brasileiro. É inegável o mérito do governo. Porém, várias pessoas importantes para sua concretização, como o ex-prefeito carioca Pedro Ernesto e o ex-ministro do Trabalho Lindolfo Collor, foram excluídos do recebimento de quaisquer louros pelo feito. Isso porque, afinal de contas, na década de 1940, já não eram aliados do ditador e também porque não era interessante dividir o “mérito da glória”. Só poderia existir, se cultuar e se exaltar um único “pai dos pobres”.
CLT: vitória da luta operária ou dádiva do líder ao “pacífico” povo brasileiro?
Não se pode esquecer que a CLT foi criada em um contexto de crise do capitalismo e de avanço das reivindicações dos trabalhadores. As leis do trabalho devem ser vistas como realizações do governo Vargas, certamente, mas também como estratégia de controle, através do sindicato único para cada profissão e do registro do operariado no Ministério do Trabalho – o que facilitou a identificação e prisão de quem criticasse a obra do governo, especialmente de líderes populares não afinados com o poder federal.
Soma-se a isso o fato de que a criação das leis trabalhistas foi o resultado do acúmulo de pressões populares ao longo de décadas de greves, revoltas, prisões e repressão, seja na Primeira República, seja no governo Vargas. Porém, ao formalizá-las, nunca o governo fez qualquer tipo de referência às lutas populares do passado. Muito pelo contrário: o povo brasileiro sempre foi apresentado pelo DIP como um povo não dado a conflitos e que Getúlio Vargas se antecipou aos anseios populares ao criar a legislação social, esvaziando o significado histórico das lutas populares do passado. O heroísmo, atribuído a Vargas, foi assimilado por parte da população, conforme demonstrado pelo trabalho com entrevistas realizado por Hebe Mattos.
Vargas em recuperação
Getúlio Vargas é cercado de crianças durante convalescência: a face “amigo das crianças”. Foto: Arquivo Nacional.
Portanto, a ideia do brasileiro como um povo ordeiro, avesso a manifestações e esquecido de suas lutas não foi criada nos dias atuais. Ela faz parte de um projeto de nação, construído há tempos, no qual Vargas teve importante participação. Ao refletir sobre o tema, José Murilo de Carvalho lembrou a construção do mito de Tiradentes no início da República: um herói branco, do centro-sul do país e que não havia pegado em armas ou derramado sangue. Pois bem: este foi o mesmo estereótipo de “brasileiro ideal” adotado pelo Estado Novo.
Vargas morreu, entrou para a História e seu legado permaneceu: João Goulart, considerado uma das principais lideranças varguistas, sofreu o Golpe Civil-Militar em 1964; Leonel Brizola, figura central nos anos 1960, retornou do exílio no final dos anos 1970 reivindicando a herança de Getúlio; em 1995, ao tomar posse, Fernando Henrique Cardoso disse sobre sua intenção em “acabar com a Era Vargas”. Seu sucessor, Luís Inácio Lula da Silva, por vezes comparado a Getúlio, incentivou tal comparação quando, em 2006, sujou as mãos de petróleo e posou para os fotógrafos, em um gesto muito semelhante ao feito por Vargas em 1952. Esses são apenas alguns exemplos da permanência de Vargas no imaginário, na memória e na história brasileira.
Considerações finais
Este texto não tem o intuito de tornar a figura de Getúlio Vargas “herói” ou “vilão”, mas de oferecer ao leitor uma mensagem crítica sobre um governante que talvez seja o mais importante da História do Brasil. Em “A História Continua”, Georges Duby nos lembra de que a imparcialidade, embora impossível na prática, deve guiar o historiador como a linha do horizonte que guia nossos passos adiante. Portanto, cabe ao historiador analisar um projeto político como o de Getúlio Vargas tentando compreendê-lo de forma abrangente, em toda a sua complexidade, e apresentar isso ao público sem o desejo de exaltá-lo ou detratá-lo. Ao se estudar o “período Vargas” (ou períodos), devemos deixar de lado a criação de mitos, messianismos e qualquer crença que dê a entender que o futuro de um país está nas mãos de um único homem, pois tal postura ataca a necessária percepção de que é a sociedade ou a coletividade que constrói a nação. O historiador não pode contribuir para a demonização ou santificação de um personagem histórico. O amor e o ódio são inimigos da compreensão.

Como citar esse artigo
MOURELLE, Thiago Cavaliere. As várias faces de Getúlio Vargas: historiografia e memória (Artigo). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: http://www.cafehistoria.com.br/as-varias-faces-de-vargas. Publicado em: 26 Jul 2017. Acesso: [informar data].

Notas
[1] Trabalhismo é um conceito que passou a ser aceito academicamente como forma mais adequada para definir a relação entre líder político e trabalhadores. Enquanto “populismo” pressupõe que o líder político manipula e engana os trabalhadores, colocando estes como sujeitos passivos na história, o “trabalhismo” os empodera e coloca como sujeitos ativos. Mesmo em condições adversas, há o entendimento de que o trabalhador possui demandas e o apoio político só se concretiza como retribuição após o atendimento de necessidades concretas. Logo, é estabelecida uma relação de troca, mesmo que desigual.

Referências Bibliográficas:
BARROS, Orlando. Os intelectuais de esquerda e o ministério Lindolfo Collor. In: FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão (org.). As esquerdas no Brasil – A formação das tradições (1889-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política – ensaios sobre Literatura e História da Cultura. Obras recolhidas. Vol. 1. 7ª Ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994, pp. 224 e 225.
CAPELATO, Maria H. R. Multidões em cena. Propaganda política no varguismo e no peronismo. Campinas: Papirus, 1998.
CARVALHO, José Murilo. A formação das almas: o imaginário da república do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
GOMES, Ângela de Castro. A Invenção do Trabalhismo. São Paulo: Vértice, 1988.
Mattos, Hebe. Memórias do cativeiro: narrativa e identidade negra no antigo sudeste cafeeiro. In: RIOS, Ana Lugão; e MATTOS, Hebe. Memórias do Cativeiro, família, trabalho e cidadania no pós-abolição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 55.
MOURELLE, Thiago Cavaliere. “A Crescente mobilização dos trabalhadores e o autoritário Estado brasileiro: diálogo, repressão e resistência”. In: PESSANHA, Elina; MEDEIROS, Leonilde Servolo de (Org.). Resistência dos trabalhadores na cidade e no campo. 1ª ed. São Paulo / Rio de Janeiro: CUT / Arquivo Nacional, 2015, v. 3, pp. 111-122.
SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Cidadania e Justiça: a política social na ordem brasileira. Rio de Janeiro, Ed . Campus, 1979.
VARGAS, Getúlio. Diário. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 1995. Vol. 1.
VISCARDI, Claudia Maria Ribeiro. O Teatro das Oligarquias – uma revisão da “política do café com leite”. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012, pp. 315-321.

Thiago Mourelle –  Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Possui Mestrado em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Trabalha como Historiador no Arquivo Nacional, concursado de nível superior, desde 2006, tendo trabalhado na mesma instituição, como estagiário, desde 2002. Editor-científico da Revista Acervo desde 2016. Professor da Educafro, onde faz trabalho voluntário desde 2003, coordenando a equipe de História do Pré-vestbular Comunitário João Cândido, com o objetivo de ajudar na conscientização política dos cidadãos, além de ajudá-los no acesso à universidade. Foi Professor Substituto na área de Brasil Republicano no Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2015-2016. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Republicano, História do Rio de Janeiro, Período Vargas, Proclamação da República, Primeira República (1889-1930), Período Liberal Democrático (1945-1964), Redemocratização.

Fonte: Café História


Lula afirma que golpistas plantaram vento e estão colhendo tempestade




https://democracianoarsp.com/2017/07/06/lula-afirma-que-golpistas-plantaram-vento-e-estao-colhendo-tempestade/

Pesquisa Oxford-Reuters: 70% reconhecem influência política e comercial na mídia brasileira

05/07/2017 18:41 - Copyleft

Pesquisa Oxford-Reuters: 70% reconhecem influência política e comercial na mídia brasileira

O Brasil perde apenas para a Finlândia em termos de confiança do público nos meios de comunicação. Mas, muita calma nesta hora


Tatiana Carlotti
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Com direito à bandeirinha esvoaçante em 3D - da Inglaterra não do Brasil, of course - o Jornal Nacional (JN) bombou os dados do Digital News Report 2017 (Relatório de Jornalismo Digital 2017), do Instituto Reuters para a Universidade de Oxford, na última quinta-feira (29.06). Não à toa: o levantamento, realizado com 70 mil pessoas em 36 países, mostra que 60% dos brasileiros confiam nas notícias veiculadas pela mídia.

Sim, é isso mesmo. O Brasil perde apenas para a Finlândia em termos de confiança do público nos meios de comunicação. Mas, muita calma nesta hora. Os dados do estudo silenciados pelo JN são muito mais interessantes. Inclusive, o não-dito sobre a pesquisa diz muito sobre a manipulação da emissora.

Com mapa mundi e locução de Willian Bonner, o JN festejou a proximidade do índice brasileiro com o finlandês, primeiro no ranking com 62% de confiança nas notícias em geral e 69% nas notícias que eles usam. Porém, esqueceu de explicar que a imprensa finlandesa é muito diferente da nossa, embora isso fique claro no estudo.

Ao acessar a integra da pesquisa disponível aqui e clicar em “2017 Report”, selecionando “Analysis by Country”, é possível descobrir que o ambiente de mídia por lá é caracterizado por uma forte imprensa regional e transmissora pública (YLE), um importante jornal nacional (Helsingin Sanomat) e dois tabloides populares que alcançam metade da população online.

O estudo destaca que o país manteve sua posição de público forte e confiável offline e on-line, afirmando que o idioma finlandês e o pequeno mercado vêm protegendo as marcas de notícias nacionais contra a concorrência internacional.

Uma realidade oposta à do Brasil onde:

“As emissoras de televisão comerciais fortes dominam o ambiente de mídia no Brasil. A propriedade da mídia está concentrada nas mãos de alguns grupos domésticos, mas as mídias sociais estão desempenhando um papel cada vez mais importante no consumo de notícias”, aponta o estudo.

Uma informação que contribuiria muito para o debate sobre a comunicação no país, estivesse a Globo interessada em fazer jornalismo e não autopropaganda, utilizando-se da concessão pública que detém para incensar uma pseudo credibilidade que, sejamos sinceros, apenas atesta o sucesso da sua manipulação.

Fake news
Ignorando o alerta do estudo sobre a importância das mídias sociais no Brasil, o JN deu ênfase aos dados globais, afirmando que o foco da pesquisa é a “confiança do público numa época de notícias falsas, as fake news, que são distribuídas sem controle pelas redes sociais”.

A pesquisa realmente incide sobre as fake news (notícias falsas), uma preocupação notória principalmente nos Estados Unidos, onde boa parte da imprensa vem criticando duramente Donald Trump e denunciando várias notícias falsas, muitas disseminadas por apoiadores do multimilionário.






Não citados pela reportagem do JN (daria trabalho explicar as nuances), apenas 38% dos norte-americanos demonstraram confiança nas notícias veiculadas em seus meios de comunicação. O estudo da Oxford-Reuters destaca, inclusive, que na sequência das eleições presidenciais naquele país, a preocupação com a disseminação de informações falsas on-line vem aumentando o valor do jornalismo profissional.

Vale acompanhar esse debate sobre as fake news na imprensa norte-americana. Nesta semana, o comediante britânico John Oliver, apresentador do talk show Last Week Tonight with John Oliver, trouxe uma reportagem sobre o Sinclair Broadcast Group, mostrando como a empresa vem disseminando notícias falsas na mídia local dos Estados Unidos.

O programa cobre, de forma satírica, temas da política e da sociedade norte-americana. É muito interessante como Oliver escracha e informa, ensinando seu público a perceber a manipulação da imprensa. Tratam-se de verdadeiros absurdos. Absurdos similares aos que vemos diariamente na imprensa brasileira.

Outra boa contribuição neste sentido é o talk show do comentador político Bill Maher, Real Time with Bill Maher, que recentemente entrevistou Alex Marlow, editor-chefe do veículo de direita Breitbart News. “Vocês são honestos e dizem ser uma organização direita algo que a Fox News não faz”, provocou Bill em uma conversa franca, com boas farpas e impensável na programação brasileira.

Em polos políticos opostos, ambos concordaram sobre a influência perniciosa das empresas em relação à liberdade de expressão: “defensores da livre expressão na esquerda e na direita devem se unir e dizer: ´corporações não vão definir a Primeira Emenda e a liberdade de expressão neste país’”, afirmou Marlow.

Aliás não podemos deixar de mencionar o trabalho de Gregório Duvivier também na HBO (sextas, às 22h). Concorde-se ou não com Duvivier, ele vem abordando de forma honesta, com muito humor e didática em seu Greg News temas de extrema importância como os privilégios do Judiciário brasileiro, a violência, o projeto “escola sem partido entre outros.

Esses programas estão todos disponíveis no youtube e no site da HBO (com legendas) para assinantes.

Globo sendo a Globo 
Voltemos ao estudo Reuters-Oxford e ao fato de que é neste contexto internacional que a discussão sobre as notícias falsas vem sendo travada. Aqui no Brasil, porém, o contexto é outro.

Pulando a parte da pesquisa que revela que “as mídias sociais estão desempenhando um papel cada vez mais importante no consumo de notícias” no Brasil, o JN preferiu incensar o dado global de que apenas 24% dos entrevistados consideram que as redes sociais fazem um bom trabalho ao separar fatos de ficção.

“Na mídia tradicional este índice é bem maior, 40%”, comemorou o âncora do JN, ao comentar que o G1 e O Globo foram citados pela investigação que fazem em relação à veracidade de notícias publicadas na internet.

O que o estudo não menciona – não é este o seu objetivo, apesar de apontar a alta concentração da mídia no país - é o que ao longo de seus 92 anos, o Grupo Globo se tornou expert em transformar ficção em fato, sobretudo em período eleitoral, vide as propriedades mortíferas da bolinha de papel lançada contra o então candidato tucano José Serra.

Aliás, a bolinha de papel é apenas a ponta do iceberg. É sabida a atuação do Grupo Globo enquanto aparato de propaganda e legitimação do regime militar. Assim como sua interferência em campanhas eleitorais, como o debate Lula X Collor em 1989, a manipulação das eleições do Rio de Janeiro contra Leonel Brizola.

Acabamos de assistir ao deslavado apoio que deram ao golpe, inclusive com chamada em sua vasta rede às manifestações pró-impeachment. E basta acompanhar seu noticiário, Globonews à frente, para ver a defesa explícita da agenda da austeridade, das reformas trabalhistas, sem qualquer opinião contraditória às medidas econômicas impostas hoje no país. Nós sabemos muito bem o que é a Globo.

Avanço da Internet
Importante lembrar que, no Brasil, a pesquisa Oxford-Reuters focou consumidores de mídia que moram em regiões urbanas e que, portanto, têm acesso à internet. Tratam-se de dados relativos ao Brasil urbano onde as plataformas online já são a principal fonte de informação do público.

O estudo mostra que embora a penetração da internet continue a crescer rapidamente no país, a TV ainda é muito mais popular: mais de 97% das famílias têm um aparelho de TV, enquanto apenas uma a cada duas casas estava conectada à internet em 2015, diz o estudo.

Outro dado importante: o conteúdo jornalístico na web é mais acessado por meio de smartphones do que por computadores: 91% dos internautas acessam a internet via celular. Porém, “em meio ao crescente desemprego e mudanças no mercado, mais de 36 milhões de linhas móveis foram desconectadas pelos operadores de telecomunicações nos últimos dois anos”, diz o estudo.

Frente ao modelo econômico implementado pelos golpistas, não é difícil prever o que irá acontecer neste sentido. O levantamento, inclusive, menciona que a recessão duradoura no país vem prejudicando a mídia. Em dezembro de 2016, a circulação total dos cinco maiores jornais do país caiu quase 8% em relação ao número médio de cópias vendidas em 2015, levando ao fechamento de vários veículos.

“Tanto a televisão como a mídia impressa perderam sua importância como fontes de notícia no ano passado, de acordo com os entrevistados em nossa pesquisa”. Outra informação, que passou longe da autopropaganda do JN, é o fato de as plataformas on-line serem a principal fonte de notícias no Brasil urbano.

O estudo também mostra que embora as mídias sociais sejam “extremamente importantes no Brasil”, seu uso como fonte de notícias perdeu impulso no ano passado. Quase oito em cada dez brasileiros usam o Facebook para qualquer propósito, mas houve redução no compartilhamento de notícias por esta plataforma social.

O Facebook é utilizado por 57% dos entrevistados como fonte de notícias e vem perdendo espaço para o WhatsApp que é meio de acesso à notícias para 46% dos entrevistados, seguido do Youtube (36%), Instagram (12%) e Twitter (12%).

Confiança nas notícias da imprensa

Agora vejamos a confiança dos brasileiros na imprensa.

Segundo o estudo, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e suas consequências focaram a atenção nas notícias da mídia durante 2016. Como resultado da extremada polarização política, a porcentagem das pessoas que acredita que a mídia é livre de influência política indevida caiu de 36% para 30%, ano a ano, mas a confiança geral nas notícias continuou alta.

Sim, o JN pulou esse dado. Com foco nos 60% dos entrevistados que acreditam nas notícias em geral e nos 60% que confiam nas notícias que eles usam, o JN ocultou que apenas 30% dos entrevistados consideram que a mídia está livre de influência política indevida ou livre de influência comercial indevida.

Em suma: 70% dos entrevistados sabem que há influência política e comercial indevida na mídia brasileira. Mesmo assim “a confiança geral nas notícias continuou alta”.

Em sua análise sobre a pesquisa, Melissa Bell, co-fundadora da Vox Media, aponta que menos da metade da população (43%) confia na mídia em todos os 36 países pesquisados %u20B%u20Be quase um terço (29%) evita ativamente a notícia. “Em vez de enriquecer suas vidas, nosso trabalho as deprime”, destaca, ao atribuir a falência da indústria da mídia à quebra da confiança em sua audiência. (Leia a íntegra da análise aqui)

O estudo, inclusive, aponta que embora a internet e as mídias sociais possam ter agravado a pouca confiança e a circulação de notícias falsas, em vários países, os mecanismos subjacentes da desconfiança são fruto da polarização política e do viés da mídia dominante percebido.

E mais: “as câmaras de eco e as bolhas de filtro são, sem dúvida, reais para alguns, mas também achamos que, em média, os usuários de redes sociais, agregadores e mecanismos de pesquisa experimentam mais diversidade do que os não usuários”.

Em meio à asfixia financeira e às ameaças das chamadas bolhas-filtro (leia também Quem controla o que você na Internet?), fica o alento de sabermos que cresce a percepção da influência política e comercial indevida na mídia brasileira e, obviamente, a consciência de que material não nos falta para tornarmos ainda mais evidentes essa influência.

Afinal, vivemos em um ambiente de forte concentração dos meios de comunicação, onde fake news, manipulação política, omissão dirigida e supressão do contraditório fazem parte do cardápio diário servido ao povo brasileiro.

Há muito trabalho e farto material à disposição, basta ligar a tevê.

Leia também as reportagens:
Quem controla o que você na Internet?

Confira no youtube ou pelo site da HBO (para assinantes) os programas:
Greg News

E aguarde:
Na próxima semana, Carta Maior publicará uma crítica do filme O Informante (The Insider, EUA), dirigido por Michael Mann e lançado em 1999, quando a internet era ainda quase desconhecida. O filme trata justamente do poder das grandes corporações sobre a mídia, mostrando as negociações em torno da entrevista de Jeffrey Wigand, ex-vice-presidente da Brown & Williamson Tobacco Corp ao “60 Minutos” da CBS. Quem quiser se adiantar e assistir ao filme na tevê, ele está disponível na programação da NET-NOW. É possível encontrá-lo na rede também.

Fonte: Carta Maior