sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Jornalistas escrevem livro com histórias curiosas sobre as primeiras-damas do Brasil


ENTREVISTA > PRESENÇA FEMININA

Jornalistas escrevem livro com histórias curiosas sobre as primeiras-damas do Brasil

Por Equipe do Observatório da Imprensa em 18/12/2019 na edição 1068
(Foto – Reprodução – Capa do livro Todas as Mulheres dos Presidentes)
Há uma infinidade de biografias, perfis, ensaios e trabalhos acadêmicos sobre os presidentes do Brasil. Em 130 anos de República, porém, pouco se pesquisou sobre as primeiras-damas. O livro Todas as mulheres dos presidentes joga luz sobre o assunto, revela a presença decisiva de muitas delas nos rumos do país e apresenta um retrato da República a partir de uma perspectiva inédita.
Os autores são Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo, jornalistas com passagens por algumas das principais redações do país. Apaixonados pela história do Brasil e por pesquisa, eles consultaram centenas de livros e reportagens desde o fim do século XIX, vasculharam documentos e cruzaram informações para reconstruir a trajetória das primeiras-damas.
Nesta entrevista, os autores falam sobre o livro, que reúne perfis das primeiras-damas do país a partir de Mariana, mulher de Deodoro da Fonseca, até Michelle Bolsonaro.
Quando se olha para a representação política das mulheres no Brasil, fica claro que há muito a avançar. Tivemos, na história da República, apenas uma presidenta e, ainda assim, ela não cumpriu o mandato. Qual a representação desse lugar simbólico da primeira-dama na história da República?
Um dos pontos que mais nos chamou a atenção foi o quase absoluto silêncio da historiografia em relação a essas mulheres. Uma imagem muito simbólica, e que resume esse desprezo, está no quadro do espanhol Gustavo Hastoy, atualmente exposto no Museu do Senado, em Brasília. A obra retrata o marechal Deodoro da Fonseca em uma mesa, rodeado por seus ministros, recebendo da mão do sobrinho Hermes da Fonseca a caneta usada para assinar o projeto de lei da primeira Constituição republicana, de 1891. É possível identificar todas as dezenove pessoas da imagem, menos uma: Mariana Cecília de Sousa Meireles, mulher de Deodoro. Ela é a única personagem que está de costas para aqueles que veem o quadro. É impossível ver seu rosto. Até hoje, só existe uma imagem conhecida – em preto e branco – da pioneira mulher a ocupar o cargo de primeira-dama. Mariana está enterrada no mausoléu erguido em homenagem a seu marido, no Rio de Janeiro, mas não há uma única identificação de que ali também estão seus restos mortais. A história de Mariana é a síntese das mulheres que ocuparam o cargo de primeira-dama em 130 anos de República. Com raras exceções, elas passaram à História como meras citações nas biografias dos maridos.
Se compararmos, então, com o regime derrubado pelos republicanos, o contraste é ainda mais brutal. Nos estertores da monarquia, uma mulher se sobressaiu: a princesa Isabel. Ela era ridicularizada pelos jornais republicanos, que a viam como carola e sem apetite para a política. No entanto, das três vezes em que liderou o país, como princesa regente, em duas ela ousou: assinou a Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871, e a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Perdeu a coroa por bater de frente com os conservadores, liderados pelos cafeicultores paulistas, mas seu rosto foi fartamente retratado por fotógrafos como Marc Ferrez, Alberto Henschel e Augusto Stahl.
O livro mostra que algumas dessas mulheres que ocuparam os palácios presidenciais não ultrapassaram o domínio do lar, mas outras romperam com esse papel e, sim, podemos dizer que ajudaram na construção política e social do país, para o bem ou para o mal.
A pesquisa revela que são raros os casos de autonomia das primeiras-damas. Só três fizeram curso superior e apenas Ruth Cardoso teve uma carreira independente. O papel social legado a elas é, de fato, o de “belas, recatadas e do lar”, como ficou conhecida a esposa do presidente Temer, Marcela?
Tivemos, sim, algumas mulheres que foram “do lar”, até por conta do rígido código de costumes da sociedade em que viveram. Outras primeiras-damas, porém, enfrentaram preconceitos e apoiaram bandeiras avançadas. Hermes da Fonseca, que governou o Brasil entre 1910 e 1914, por exemplo, entrou para a História como um presidente azarado e autoritário. Tinha fama também de ser desprovido de inteligência. Em que pesem os adjetivos, foi casado com duas mulheres brilhantes, que se sucederam no cargo de primeira-dama: Orsina Francione da Fonseca e Nair de Teffé. Orsina apoiou o nascente movimento feminino e a luta das mulheres. Nair era caricaturista e abriu o Palácio do Catete para o maxixe de Chiquinha Gonzaga, algo como o funk atual, chocando políticos como o jurista Rui Barbosa, que a atacou da tribuna do Senado.
Nilo Peçanha, nosso primeiro – e, até agora, único – presidente negro, que assumiu o comando da República em 1909, exatos 100 anos antes de Barack Obama nos EUA, chegou lá muito por conta da ação de sua mulher, Anita. Filha, neta e bisneta de nobres de Campos, ela sofreu por ter se apaixonado por um negro, ainda que fosse um político de destaque. A mãe de Anita, Raquel, não foi ao casamento, em 1895, e não se reaproximou da filha até morrer.
Vale também lembrar de Darcy, mulher de Getúlio Vargas, que fez com que a atuação da primeira-dama fosse além da mera posição de mulher do chefe da nação e anfitriã dos palácios. Ela criou e apoiou uma série de projetos e entidades de ajuda à população mais carente, como a Casa do Pequeno Jornaleiro e a Legião Brasileira de Assistência (LBA). Com Darcy, a assistência social passou a ser uma função do Estado. Antes, esse papel cabia a entidades filantrópicas, como as Santas Casas. A partir dali, as primeiras-damas passaram a ser vistas como as responsáveis pela política social dentro do governo dos maridos nos municípios, nos estados e na União. Somente em 1993, com a regulamentação da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), prevista na Constituição de 1988, foi que a assistência social tornou-se uma política pública, deixando de ser – pelo menos na letra da lei – um apêndice à mercê dos interesses do chefe do Executivo. O papel de primeira-dama e da própria assistência social só seria reescrito pela antropóloga Ruth Cardoso, que pôs fim à LBA e criou, de fato, políticas públicas voltadas para a segurança alimentar e a alfabetização de jovens e adultos. Hoje, vivemos um retrocesso nessa área e a primeira-dama voltou a ter papel de mera coordenadora de projetos assistencialistas.
É possível apontar alguns exemplos de reviravoltas políticas envolvendo as primeiras-damas?
Sem dúvida, a gestão de Rosane Malta, então Rosane Collor, à frente da LBA, com as denúncias de corrupção se acumulando dia a dia, contribuiu para criar o clima que acabou levando ao impeachment de Fernando Collor. Mas tivemos também a atuação de Ruth Cardoso com o Comunidade Solidária, que representou uma reviravolta na questão do assistencialismo, contribuindo efetivamente para o movimento que resultou na diminuição da desigualdade em nosso país. E essa reviravolta comandada por Ruth começou com a extinção da LBA.
É interessante notar que uma amante mudou o destino da nação. Hoje, podemos, dizer que a República nasceu de uma dor de cotovelo. Deodoro da Fonseca era um homem extremamente vaidoso e foi durante toda a vida, até mesmo na hora de sua morte, um conquistador, louco por um rabo de saia. Mariana, claro, sabia das traições do marido, mas fazia vista grossa. E foi um amor não correspondido a fagulha que o levou a proclamar a República: Maria Adelaide Andrade Neves, a baronesa do Triunfo, uma bela gaúcha que se tornou um de seus casos mais famosos. O marechal ficou possesso quando soube que Dom Pedro II nomeara o senador Silveira Martins para chefiar o gabinete deposto por ele na manhã do dia 15 de novembro de 1889. Anos antes, Deodoro havia perdido a disputa pelo coração da bela baronesa para o senador e nunca o perdoou por isso. Tornaram-se inimigos políticos. Mesmo sabendo que o imperador voltara atrás na nomeação de Silveira Martins, o marechal, que era monarquista, levou à frente o projeto republicano.
Podemos dizer, no entanto, que muitas decisões presidenciais foram tomadas por influência das primeiras-damas. Mariana convenceu Deodoro a revogar a pena de deportação que pesava contra três oposicionistas. Paulo Maluf deve o seu primeiro cargo público a Yolanda, que pediu a Costa e Silva que o nomeasse presidente da Caixa; e Silvio Santos só conseguiu a concessão de TV graças ao apoio de Dulce Figueiredo. Santinha, esposa de Dutra, também teve papel decisivo na proibição dos cassinos no país.
Todas as mulheres dos presidentes – A história pouco conhecida das primeiras-damas desde o início da República
Editora: Máquina de Livros
Autores: Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo
Preço: R$ 54,90 (impresso) e R$ 29,90 (e-book)
Páginas: 336

FAKE NEWS Ministro da Educação Abraham Weintraub mente sobre atos do governo


FAKE NEWS

Ministro da Educação Abraham Weintraub mente sobre atos do governo

Em mensagem de Feliz 2020, Abraham Weintraub divulga lista com diversas inverdades. Entre elas, que Bolsonaro criou cinco novas universidades
  18:26
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VALTER CAMPANATO/ABR
Abraham Weintraub atribui ao governo Bolsonaro a criação de unidades feitas no governo de Dilma Rousseff
São Paulo – Célebre pela perseguição às universidades, onde segundo ele só há “balbúrdia” e “extensas plantações de maconha“, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, começou o ano espalhando mais fake news justamente sobre universidades. Desta vez, para fazer propaganda enganosa sobre o governo de Jair Bolsonaro.
Por meio de sua conta no Twitter, o ministro Weintraub divulgou uma apresentação na qual elenca o que chama de “35 vezes que o governo Bolsonaro fez mais pela Educação”. Além de se auto-promover – a terceira vez foi quando o presidente “nomeou como ministro um executivo com experiência na gestão de crises e entrega de resultados” – Weintraub não economiza inverdades em sua lista.
Entre outras coisas, fala do Future-se, “programa que incentiva o empreendedorismo e a captação de recursos para as universidades federais”. Apresentado em forma de anteprojeto, o Future-se foi rechaçado por reitores, professores, estudantes, técnicos e o conjunto dos servidores dessas instituições. E mesmo com a escolha de reitores mais alinhados ao governo, não houve apoio suficiente para a proposta que sequer foi enviada ao Congresso. Não passou de “balão de ensaio”.
Outra: Que “contingenciou recursos por necessidade e, logo após estabilização, liberou 100% dos recursos das universidades federais”. Com o bloqueio de 30% do orçamento para custeio, as universidades que já diminuíam contratos, despesas, suspendiam editais, foram às ruas com toda a comunidade acadêmica em movimento como poucos vistos. Foi o “tsunami da educação”, em maio. E mesmo assim, só em 18 de outubro o MEC anunciou o “descontingenciamento total” do orçamento das universidades. Os repasses, no entanto, chegaram a 97% de empenho e 86% de execução, segundo o portal da transparência.
Mas a mais absoluta das inverdades é dizer que Bolsonaro “criou cinco novas universidades”.
O que o ministro chama de “criar cinco novas universidades” é, na verdade, empossar reitores das universidades federais de Jataí (UFJ), do Agreste de Pernambuco (Ufape), do Delta do Parnaíba (UFDPar), de Rondonópolis (UFR) e de Catalão (UFCat).  Conforme reportagem da Agência Brasil de 12 de dezembro, “a criação se deu com a posse dos reitores das instituições“.
Na prática, as universidades foram criadas por leis sancionadas pelo então presidente Michel Temer, em 2018. A UFJ foi criada em 20 de março de 2018 por desmembramento da Universidade Federal de Goiás, pela Lei 13.635. A Ufape, assim como a UFDPar, pela Lei 13.651. A criação da UFR se deu pela Lei 13.637, e a UFCat, pela Lei 13.634.
Os projetos de lei de criação, porém, são de autoria da presidenta Dilma Rousseff (PT), assinados em 9 de maio de 2016, poucos dias antes de sofrer impeachment mesmo sem ter cometido crime de responsabilidade.
E nenhuma das universidades pode ser chamada de nova. A UFJ e a UFCat foram desmembradas da Universidade de Goiás (UFG). A Ufape foi desmembrada da Unidade Acadêmica de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Da mesma maneira, a UFR resulta de um campus da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

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