domingo, 11 de setembro de 2016

O Chile nas ruas contra o legado de Pinochet

11/09/2016 17:24 - Copyleft

O Chile nas ruas contra o legado de Pinochet

São centenas de milhares de chilenos nas ruas, 300 mil somente em Santiago e quase um milhão em todo o país. Desde 1990, nenhuma marcha foi tão massiva.


Victor Farinelli
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São centenas de milhares de chilenos nas ruas, 300 mil somente em Santiago e quase um milhão em todo o país – em eventos que aconteceram até mesmo em pequenas cidades, não somente nas capitais de províncias. Desde o retorno da democracia, em 1990, nenhuma marcha foi tão massiva, nem mesmo as muitas primaveras estudantis ou as manifestações após a prisão do ditador Pinochet em Londres (em 1998).

Isso está acontecendo agora, é o grande tema político do Chile atual, as marchas do Movimento No AFP, que reúnem famílias inteiras, principalmente idosos, e coloca em xeque todo o modelo econômico legado pela ditadura – o mesmo que há anos vem sendo alabado pelos neoliberais de toda a América Latina, especialmente do Brasil, mas que esconde, por trás de um aparente sucesso econômico que, na verdade, se trata somente de um falso sucesso empresarial financiado pelo sacrifício dos trabalhadores e seus direitos.

Mas o que é AFP e porque os chilenos estão tão insatisfeitos com isso? A resposta simples explica também porque os grandes meios de comunicação de fora do Chile, especialmente do Brasil, têm evitado tocar no tema – embora mesmo alguns meios privados chilenos também estejam em clara campanha ideológica, tentando distorcer o debate em favor dos interesses de seus patrocinadores.
 
Cassino previdenciário





AFP é a sigla que denomina as Administradoras de Fundos de Pensão. Nos Anos 80, a ditadura realizou diversas reformas no modelo econômico do país, todas elas idealizadas pelos chamados Chicago Boys – economistas chilenos que se pós-graduaram na Universidade de Chicago, sob a tutela do professor Milton Friedman, um dos gurus do neoliberalismo. O mais proeminente desses reformistas neoliberais foi José Piñera, ex-ministro do Trabalho da ditadura, criador das novas leis trabalhistas – vigentes até hoje, e consideradas as mais antissindicais do mundo pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) – e do novo sistema previdenciário, que substituiu a antiga seguridade social estatal pelo sistema de capitalização individual, que é administrado por empresas privadas, as tais AFP´s.

Do dia para a noite, surgiram no Chile uma dezena de grupos empresariais dedicados ao serviço de capitalização individual das pensões dos chilenos. Prometiam aos trabalhadores o paraíso capitalista. As primeiras campanhas publicitárias falavam que todo trabalhador se aposentaria até os 60 anos com 100% do seu último salário como benefício mensal vitalício, ou até mais.

Na prática, o sistema das AFP´s transformou todos os associados em investidores da bolsa. Quando o trabalhador coloca sua contribuição mensal em sua conta de AFP, ele é destinado para um de quatro tipos de fundos disponíveis: A, B, C e D, sendo o fundo A o de maior risco e o D o de menor risco – também existe a opção do fundo E, que não é mais que uma caderneta de poupança comum. O contribuinte escolhe que tipo de fundo prefere, mas depois é a empresa que usará esse dinheiro para comprar ações no mercado financeiro, supostamente buscando aumentar os rendimentos através dos altos e baixos da bolsa. Uma das partes mais convincentes do discuso das AFP´s, nos Anos 80 e 90, era que graças ao sistema todo chileno era um pouco dono da Coca-Cola, ou da IBM, ou de alguma grande empresa multinacional de capital aberto.

Porém, a promessa de altos rendimentos começou a ser desmentida em 2008, quando a grande crise financeira levou a que as contas individuais registrassem perdas gigantescas. Quando isso aconteceu, os chilenos descobriram que, embora as AFP´s administrem os fundos e decidam onde eles serão investidos, é o contribuinte que arca com os prejuízos quando este traz rendimentos negativos, inclusive quando os efeitos sobre as aposentadorias são enormes, como foi o caso.

Assim, o chileno descobriu que sua previdência dependia da lógica do cassino, que a possibilidade de ter um futuro ao menos perto do prometido dependia da bolinha cair no número certo, e a grande crise internacional, que naquele então recém-começava, era a promessa de anos de bolinhas negativas para todos os trabalhadores.

Marchas das bengalas
As reações no Chile quando se descobriram os primeiros escândalos pelos prejuízos das AFP´s foram de desagrado, mas não houve marchas massivas como as de agora – diferente do que aconteceu na Argentina, que mantinha sistema semelhante adotado pelo governo de Carlos Menem, as AFJP, até que ele sucumbiu pela mesma crise, sendo derrubado por decreto da presidenta Cristina Kirchner que restabeleceu a previdência estatal.

A explicação para a passividade chilena talvez esteja no fato de que o sistema, lançado nos Anos 80, até então não tinha mostrado a verdadeira realidade, já que nenhum trabalhador havia se aposentado por ele. Tanto é assim que essa situação começou a mudar à medida que a década atual trazia os primeiros casos de aposentadoria pelo sistema. Desde 2013, o Chile começou a conviver com casos que beiram o absurdo: trabalhadores que ganham aposentadorias que chegam até ser de menos de mil pesos chilenos (cerca de cinco reais) por mês. A média das aposentadorias entregues pelo sistema é de 160 mil pesos (cerca de 700 reais), bastante menos que um salário mínimo no país, que é de 257 mil pesos, e enormemente menos que o prometido há 30 anos.

As primeiras marchas contra as AFP´s reuniam somente uma parte desses primeiros aposentados do sistema, e eram jocosamente chamadas pela imprensa de “marchas das bengalas” pela imprensa local. Porém, a cada ano, com mais aposentados se sentido enganados, e com mais filhos e netos dos mesmos se conscientizando de que aquele também será o seu destino, elas foram crescendo, e neste 2016 elas começaram a ser massivas, e o movimento social No AFP (“Não mais AFP”) passou a ditar a pauta do tema mais importante da agenda pública do país. E a demanda é bem clara: nada de reformismo, acabar com o sistema e voltar ao modelo estatal.

O falso e o verdadeiro legado do neoliberalismo
A reação dos meios de comunicação, das associações empresariais e até das coalizões políticas tradicionais desnudou a defesa do sistema – especialmente o caso dos políticos, dos quais nasceu uma estranha aliança entre direita e centro-esquerda para dizer que o sistema não é ruim, apenas necessita reformas.

Um dos argumentos utilizados, principalmente pelo empresariado, diz que o fim do sistema pode levar todo o modelo econômico chileno ao colapso. Lendo com mais atenção, ele dá a entender que todo o sistema financeiro chileno tem sido patrocinado pelas contribuições previdenciárias dos trabalhadores chilenos desde a instalação do sistema. O milagre econômico chileno, tão celebrado pelo neoliberalismo em toda a América Latina, foi, na verdade, financiado pelo sacrifício dos trabalhadores, que receberam em troca o resultado de um estelionato, um serviço que não entregou aquilo que prometeu, longe disso.

As marchas contra as AFP´s não é o primeiro levante massivo contra os pilares do neoliberalismo chileno. Os mais conhecidos internacionalmente são as revoluções estudantis, que vêm se sucedendo desde o ano 2000, cada vez mais numerosas, e que conseguiram instalar o anseio do retorno da gratuidade, derrubando um sistema educacional que era quase todo financiado pelos trabalhadores – mesmo escolas ou universidades de propriedade pública são administradas por grupos privados, e até 2015 cobravam mensalidades, sendo que algumas ainda cobram.

Também houve mobilizações questionando o sistema de saúde, que também é dominado pelos interesses privados: as chamadas “marchas dos doentes” – que conseguiram, como resultado prático, maior compromisso do Estado no financiamento e disponibilização de medicações patentadas para doenças crônicas ou de alto risco mortal.

Se analisamos todas essas expressões de insatisfação social, podemos perceber que existe um elemento em comum: a demanda por maior participação do Estado. O legado da ditadura chilena, usado como propaganda do neoliberalismo, é falso. Houve crescimento econômico, mas ele esteve longe de se traduzir em qualidade de vida. O verdadeiro legado da ditadura está em índices como o coeficiente de gini, que mede a desigualdade social, e que mostra como o abismo social chileno é comparável com o de países como Guatemala, Senegal e Filipinas, sendo os mais pobres do Chile proporcionalmente tão indigentes quanto os dos países mais miseráveis da América Latina.

Claro que este resultado é ainda mais lamentável se lembramos que ele é fruto de um sistema imposto a fogo e sangue por uma das mais brutais ditaduras da história da Humanidade – talvez, a mais sanguinária da América Latina –, e que mantém vigentes seus pilares através de uma constituição também instalado pelo regime de Pinochet, a qual impõe barreiras quase intransponíveis para qualquer tipo de reforma política ou econômica mais profunda.

Tanto é assim que um dos grupos sociais que disputa as ruas é o Movimento AC, que quer a realização de uma Assembleia Constituinte – a que seria a primeira da história de um país acostumado com cartas magnas impostas por tiranos. Uma luta que tende a tardar muito mais para obter resultados, mas que não deve ser abandonada por uma sociedade que já descobriu que o oásis neoliberal era só areia.

As duas faces de Moro PARA RECORDAR

As duas faces de Moro
Juiz da Operação Lava Jato tira a máscara e toma decisões de marcada influência político-partidária
por Mauricio Dias — publicado 21/02/2015 05h47, última modificação 21/02/2015 07h33
Gil Ferreira/Agência CNJ
Imparcial e isento são verbetes fáceis de ser encontrados em qualquer dicionário da língua portuguesa. Impossível é encontrar qualquer ser humano capaz de alcançar tais virtudes. Ela foi, todavia, usada às escâncaras nos últimos meses para brindar o juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara Criminal de Curitiba, no Paraná, comandante da Operação Lava Jato, deflagrada em março de 2014 pela Polícia e Ministério Público federais.
Moro promoveu um fato inédito no País ao mandar para a cadeia, em grande quantidade, gente influente e de dinheiro. Todos supostamente corruptos ou corruptores, enriquecidos com ilícitos em torno da Petrobras. Uma decisão elogiável. Em torno da decisão do magistrado, à semelhança do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, durante o julgamento do chamado “mensalão”, a ingenuidade e a malícia política fizeram brotar a esperança de ter sido resgatada a moralidade no Brasil. Aparentemente, surgira um magistrado preocupado unicamente em fazer justiça.
Doa a quem doer, era o que se podia traduzir de suas ações iniciais. Esse é um lado da moeda. Há o outro.
Não há mesmo neutralidade em nenhum ato humano. Assim, aos poucos, o jovem magistrado, 43 anos, já famoso, saiu da trilha judicial. Moro tem direito a pensar politicamente como quiser. Está impedido, porém, de contaminar as decisões profissionais com cores partidárias. Tirada a máscara, despontou um militante antipetista. A militância interferiu em várias decisões judiciais dele.
A mais recente foi o ataque ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Recebeu alguns advogados dos acusados da Operação Lava Jato. Para Moro, houve tentativa indevida das empreiteiras “de obter uma interferência política em seu favor no processo judicial”. Embora o ministro tenha feito uma trapalhada, ao esconder da agenda de trabalho a audiência aos advogados, fica claro que o juiz Sergio Moro fez outra.
Antes disso, o juiz fechou os olhos para um fato relevante. Um dos acusados, Pedro Barusco, no papel de delator, contou no depoimento que, como gerente-executivo da Petrobras, tinha recebido a primeira propina em 1997. Portanto, durante o governo de FHC. Isso foi sepultado pelos agentes policiais, pelos promotores e, por fim, pelo magistrado.
Eles, curiosamente, esqueceram. Da primeira propina, porém, os corruptos nunca esquecem. Não há espaço para falar dos vazamentos seletivos do processo, liberados em Curitiba. A mídia se esbalda. Há um grande painel dessas irregularidades que transformam suposições em fatos consumados e dão à delação premiada o caráter de fé pública. Curiosamente Moro deixou escapar um alerta. Ele próprio avisa: “As delações ainda carecem de provas”, mas contemporizou: “Elas estão parcialmente amparadas”. Uma contradição? Talvez “mea-culpa?” Qual o valor de provas “parcialmente amparadas”?
Do STF foi lançada a primeira indicação sobre os descuidos do magistrado. Tomou posição pública o irrequieto ministro Marco Aurélio Mello, após dizer que acompanhava “com incredulidade” as notícias da Operação Lava Jato. “No Brasil, exceção virou regra: prende-se para depois apurar.” Mello destacou a “condução coercitiva” de João Vaccari, tesoureiro do PT, que resistiu à convocação, mas não se recusou a depor. Contra isso, invocou a ironia: “A criatividade humana é incrível... eu nunca tinha visto nada parecido. E as regras continuam as mesmas”.

PEC 241: a tragédia e a farsa

PEC 241: a tragédia e a farsa

O "remédio amargo" do ajuste fiscal radical vai agravar ainda mais o desemprego
por Patrus Ananias — publicado 08/09/2016 04h55
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Henrique Meirelles
Henrique Meirelles: ele comanda o ajuste fiscal
Não é a primeira vez que enfrentamos uma crise econômica. Não é a primeira vez que nos ameaçam com um ajuste fiscal radical que sacrifica, principalmente, os mais pobres. Não será, infelizmente, a primeira vez que essa receita, além de não resolver, agravará mais a crise brasileira. 
Em março de 2002, a taxa de desempregoestava em 12,1%, quase um ponto percentual acima da taxa atual de 11,2%. O governo Fernando Henrique realizara então um grande ajuste fiscal, em que a prioridade foi cortar todos os gastos a fim de pagarmos os achacantes juros que o FMI cobrava a cada novo empréstimo. “Desestatizar” era a palavra de ordem. E o resultado foi que, em janeiro de 2003, quando o presidente Lula assumiu, o desemprego subia a terríveis 13%. 
Treze anos depois, vivemos uma crise novamente. E precisamos enfrentá-la. Mas o primeiro passo para um enfrentamento sério que nos leve a lugar melhor é mensurá-la com correção e honestidade.
Em primeiro lugar, essa não é uma crise exclusivamente brasileira. A Espanha, a África do Sul e a Itália têm, hoje, taxas de desemprego maiores do que a nossa, por exemplo. Em segundo lugar, essa não é a pior crise da história brasileira. Na crise do governo FHC o desemprego foi maior, num cenário de IDH bem mais baixo e de ínfimas reservas cambiais – US$ 37 bilhões.
Hoje, podemos reagir à crise em melhores condições, com PIB per capita anual de US$ 11.726,81 (cinco vezes maior do que o de 2002 - US$ 2.805,72), com 42 milhões de cidadãos e cidadãs que saíram da pobreza e com uma reserva cambial dez vezes maior, de US$ 370 bilhões, a sétima maior do mundo, à frente de países como Coreia do Sul, Alemanha, França, Dinamarca, Índia e México.
PEC 241/2016 sintetiza o fundamentalismo econômico da facção política que usurpou o governo: quer congelar os gastos sociais federais pelos próximos 20 anos, ao valor de 2016 – ano recessivo.
Propõe, assim, um rompimento com o núcleo dos direitos sociais previstos na Constituição,revogando os patamares mínimos definidos na Carta para a saúde e a educação. É alarmante pensar que, caso o Brasil tivesse feito durante os governos Lula e Dilma o crescimento vegetativo proposto pela PEC, teríamos aplicado menos R$ 253 bilhões em saúde, menos R$ 437 bilhões na assistência social e menos R$ 454 bilhões em educação.
A única certeza que advém da PEC 241 é que o País terá que trabalhar ainda mais para fortalecer o capital especulativo e rentista que, só nos últimos 12 meses, recebeu do governo federal R$ 454 bilhões – quase meio trilhão de reais – de serviço da dívida.
PEC do desmonte, que cobra investimentos em saúde, educação e assistência social ao povo brasileiro, só não coloca limites para o gasto específico com os juros da dívida. Esse valor já exorbitante irá aumentar astronomicamente nas próximas décadas. E a nação deixará para depois os investimentos na saúde, na educação, na assistência social e, inclusive, no apoio à nossa indústria nacional.
Como uma vez nos disse Karl Marx, a história se repete não só como tragédia, mas como farsa. E o horizonte que temos é que o remédio, de efeito incerto, será aplicado em uma superdosagem que somente um golpe na democracia poderia permitir.
O efeito colateral – este sim indubitável – agravará ainda mais a doença do paciente que, nesse caso, se trata dos empregos dos brasileiros. Um agravamento que poderá ser irrecuperável por atingir em cheio o projeto nacional de bem-viver definido em nossa Carta Constitucional de 1988.
*Patrus Ananias, ex-ministro do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário, é deputado federal pelo PT-MG

Senado quer aprovar MP das parcerias público-privadas a toque de caixa

08/09/2016 14:07 - Copyleft

Senado quer aprovar MP das parcerias público-privadas a toque de caixa

Nota de entidades da sociedade civil sobre a Medida Provisória 727/2016 que criou o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).


Inesc
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As organizações abaixo-assinadas vêm a público expressar sua preocupação em relação ao Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) instituído pela Medida Provisória (MPV) no. 727 de 12 de maio de 2016, cujo projeto de lei de conversão (PLC no. 23/2016) deverá ser votado pelo plenário do Senado nesta quinta-feira, 8 de setembro.
 
Esta iniciativa, que institui profundas alterações no marco legal sobre as parcerias público-privadas no país, foi apreciada pelo Congresso Nacional em ritmo acelerado, sem a devida transparência e participação da sociedade civil brasileira.
 
Na Comissão Mista e posteriormente no plenário da Câmara dos Deputados, requerimentos de audiências públicas foram ignorados. Destaques fundamentais para o projeto foram desconsiderados, assim como a possibilidade dos mesmos serem votados separadamente e não em bloco.
 





O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) proposto na MPV 727 e agora na forma do PLC 23, se utiliza de um conceito vago, o de “prioridade nacional”, para impor uma disciplina aos projetos de infraestrutura e desestatização despida de garantias efetivas de transparência, participação popular e proteção socioambiental.  A própria criação e tramitação do PPI no Executivo e Legislativo têm comprometido o processo democrático pela falta de envolvimento significativo da sociedade a respeito de seus termos.

 

Experiências em nível doméstico e internacional demonstram que, apesar de as parcerias entre o setor público e empresas privadas serem apresentadas como solução para todos os gargalos do desenvolvimento, seus resultados frequentemente ficam muito aquém do esperado, tanto em termos de eficiência econômica quanto no tocante à contribuição para o desenvolvimento sustentável.  A maioria dos problemas se inicia, no mais das vezes, da falta de diálogo entre os órgãos de formulação e implementação dos projetos com os grupos e populações interessados, bem como pela ausência de mecanismos eficazes de transparência, prestação de contas e salvaguarda de direitos socioambientais.
 
Concretamente, o PPI em análise pelo Congresso apresenta os seguintes problemas graves:
 
1.  Ausência de participação social: A MP 727 (agora PLC 23) cria o Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República, que conta apenas com representantes dos ministérios e de duas instituições financeiras públicas (Caixa Econômica Federal e BNDES). Não há assento para a sociedade civil e outras partes interessadas; sequer há previsão de que estas possam participar das reuniões que tratem de matérias que lhes afetem ou sejam de seu interesse. Não há previsão de envolvimento das comunidades que poderão ser direta ou indiretamente impactadas pelos projetos inseridos no âmbito do programa em nenhuma das fases de estudos prévios, estruturação dos projetos e execução.
 
2.  Falta de transparência: A norma contém brechas para que as informações sobre os empreendimentos inseridos no PPI sejam tratadas como sigilosas, dificultando-se o controle social sobre o programa. As exceções vão na contramão da Lei de Acesso à Informação (Lei N° 12.527/2011 – LAI) que trata o sigilo como exceção e a publicidade como regra. Não há obrigação de que qualquer classificação de confidencialidade seja justificada nos termos da LAI.  Além disso, falta clareza sobre os critérios a serem adotados para definir projetos considerados de ‘prioridade nacional’, e como serão garantidos os interesses públicos no planejamento e execução dos mesmos, sobretudo em termos de responsabilidade com o patrimônio público, inclusive nos casos de privatização de ativos de empresas públicas e instituições financeiras federais.
 
3. Modelo de financiamento: Segundo a MPV 727, o PPI será viabilizado por meio do aporte de recursos públicos de um novo fundo, denominado Fundo de Apoio à Estruturação de Projetos (FAEP).  O Fundo, de natureza privada e patrimônio próprio, orientado à estruturação de infraestrutura de projetos de privatização de ativos públicos, será criado e gerido pelo BNDES, banco que também poderá ofertar crédito subsidiado para a execução dos empreendimentos. Cabe lembrar que o BNDES tem controle acionário da Estruturadora Brasileira de Projetos, uma empresa já existente, com a missão exatamente de desenvolvimento de projetos de grande porte e alta complexidade técnica e financeira.  Portanto, por que um novo fundo com essa nova configuração?  Falta esclarecer como o BNDES terá condições de aportar crédito subsidiado na atual conjuntura de crise econômica e austeridade fiscal.  Ademais, o anuncio de vultuosos investimentos chineses em setores estratégicos da economia brasileira, que ocorreu durante a reunião do G-20 na China nos últimos dias, destaca a necessidade de debate público sobre o papel de investidores privados, nacionais e estrangeiros, no PPI, e sua influência sobre a definição e execução de projetos no âmbito do PPI, sobretudo em termos do patrimônio público e dos direitos socioambientais.
 
4. Brechas para a corrupção: Conforme lembrado pelo Senador Edilson Lobão em sessão da Comissão Mista criada para examinar a MPV 7271, o PPI segue essencialmente o mesmo modelo de parceria publico-privada utilizado para a construção de grandes hidrelétricas como Santo Antônio, Jirau e Belo Monte.  Entretanto, conforme demonstrado pelas investigações da Operação Lava Jato, tais empreendimentos têm se caracterizado por esquemas milionários de corrupção, facilitados pela falta de transparência de suas parcerias público-privada, onde tipicamente não se aplica instrumentos básicos como a Lei 8.666/93.2
 
5. Atropelo do licenciamento ambiental e violação de direitos econômicos, sociais e culturais: a Medida Provisória no. 727, em seu artigo 18o, que permaneceu inalterado como o artigo 17o  da PLC no. 23, insta os órgãos administrativos do governo federal, assim como estados e municípios, a procederem à “liberação” dos empreendimentos ‘prioritários’ e institui um dever de que todas as licenças e autorizações socioambientais sejam expedidas de maneira acelerada, criando-se assim um regime novo (e ilegal) para os procedimentos de averiguação da conformidade dos projetos com as leis de proteção aos povos indígenas e ao patrimônio histórico, artístico e cultural.  Emendas que visavam salvaguardar a proteção do meio ambiente e os direitos humanos foram rejeitadas pelo relator da matéria na Comissão Mista. A MPV 727, agora PLC 23, não garante, por exemplo, que os processos de consulta com os povos indígenas sejam realizados de acordo com parâmetros internacionais, a exemplo da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que exigem dos governos a obtenção de consentimento livre, prévio e informado seguindo-se os costumes e tradições dos próprios povos indígenas.
 
Pelos motivos descritos acima, referentes ao processo atropelado de tramitação e graves problemas de conteúdo, conclamamos aos senadores presentes na sessão plenária do Senado no dia 08 de setembro, a rejeitarem a MPV 727, na forma do PLC no. 23/2016 e, como alternativa, que convoquem um debate democrático, com a participação da sociedade civil, sobre o tema estratégico das parcerias publico-privadas, priorizando os objetivos de resguardar o patrimônio público e o desenvolvimento sustentável, evitando a repetição de graves erros de desperdício de dinheiro público, esquemas de corrupção e violações de direitos socioambientais.


Assinam as seguintes organizações:
1. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
2. Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB
3. Via Campesina
4. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST
5. Movimento Xingu Vivo Para Sempre 
6. Mutirão pela Cidadania (PA)
7. FAOR - Fórum da Amazônia Oriental
8. Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social - FMCJS
9. Associação Floresta Protegida - Mebengôkre/Kayapó 
10. Brigadas Populares - Minas Gerais
11. Campanha Nem um Poço a Mais!
12. Centro de Trabalho Indigenista - CTI
13. CIMI – Conselho Indigenista Missionário 
14. Coletivo de Mulheres de Altamira 
15. Comissão Pró-Índio de São Paulo 
16. Conectas Direitos Humanos
17. Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica 
18. Crescente Fértil
19. Derecho Ambiente y Recursos Naturales - DAR  (Peru)
20. ECOA - Ecologia e Ação
21. FASE – Espirito Santo
22. Greenpeace Brasil 
23. Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável - GPERS 
24. ICV - Instituto Centro de Vida 
25. Ingá - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais
26. Instituto Brasileiro de Educação Integral e Desenvolvimento Social - IBEIDS
27. IEMA - Instituto de Energia e Meio Ambiente – 
28. INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos 
29. IIEB -Instituto Internacional de Educação do Brasil - 
30. Instituto Itiquira, Formosa - GO 
31. Instituto MIRA-SERRA
32. International Rivers – Brasil
33. IPAN - Instituto Panamericano do Ambiente e Sustentabilidade - 
34. ISA - Instituto Socioambiental
35. Movimento pelas Serras e Águas de Minas - MovSAM 
36. Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela
37. Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade - PoEMAS
38. Rede de Pesquisa sobre Barragens na Amazônia - RBA
39. Sociedade Brasileira de Economia Ecológica - Ecoeco
40. SOS Serra da Piedade
41. Xapuri  Socioambiental Ltda., Formosa-GO, 
42. WWF-Brasil




Créditos da foto: reprodução




09/09/2016 - Clipping Internacional

09/09/2016 10:44 - Copyleft

09/09/2016 - Clipping Internacional

Zuckerberg acusado de censura: facebook "cancela" post com foto da menina vietnamita queimada com napalm.


Carta Maior
reprodução
MUNDO
 
La Repubblica, Itália
Zuckerberg acusado de censura: facebook “cancela” post com foto da menina vietnamita queimada com napalm. A denúncia foi feita pelo jornal norueguês Aftenposten: “é um abuso de poder. Estão restringindo a liberdade”
http://www.repubblica.it/esteri/2016/09/09/news/zuckerberg_accusato_di_censura_facebook_cancella_post_con_foto_bimba_vietnamita_bruciata_dal_napalm-147431429/
 
The Guardian, Inglaterra





Mark Zuckerberg acusado de abuso de poder por haver deletado do Facebook o post da “menina do napalm” postado por um jornal da Noruega de grande circulação. O jornal enviou à empresa lembrando-a que está praticando censura.
https://www.theguardian.com/technology/2016/sep/08/facebook-mark-zuckerberg-napalm-girl-photo-vietnam-war
 
Enquanto aqui o assunto desaparece, na Dinamarca o governo vai atrás e dá prêmio em dinheiro por documentos  de fontes anônimas para serem utilizados em investigações de evasão de impostos. É possível que cerca de 600 dinamarqueses estejam sob investigação.


https://www.theguardian.com/news/2016/sep/07/panama-papers-denmark-becomes-first-country-to-buy-leaked-data
 
The Nation, EUA
E empresas agora dominal nossa indústria da inteligência, totalmente privada. A incontável oligarquia de espiões controlam a informação que guiam os líderes civis e militares.
https://www.thenation.com/article/five-corporations-now-dominate-our-privatized-intelligence-industry/
 
The Washington Post, EUA
Um lembrete da guerra permanente: dezenas de ataques aéreos norte-americanos em seis países. No Iraque, na Síria, no Yemen, na Líbia, na Somália e no Afeganistão. Os bombardeios que cobrem a África, a Ásia e o Oriente Médio dão visibilidade à resiliência de ameaças “terroristas” difusas nos últimos momentos da presidência de Obama. https://www.washingtonpost.com/world/national-security/a-reminder-of-the-permanent-wars-dozens-of-us-airstrikes-in-six-countries/2016/09/08/77cde914-7514-11e6-be4f-3f42f2e5a49e_story.html?hpid=hp_hp-top-table-main_airstrikes-815pm%3Ahomepage%2Fstory
 
Le Monde, França
Entrevista com Alexis Tsipras, presidente da Grécia: “Já é tempo de que a Europa dê um sinal para sair da crise”, lembrando a dívida de 328 bilhões de euros que o país tem. Ele organizou um encontro hoje entre países da Europa mediterrânea, Chipre, Espanha, Itália, Malta e Portugal, além da Grécia.
http://www.lemonde.fr/europe/article/2016/09/08/alexis-tsipras-il-est-temps-que-l-europe-donne-un-signal-de-sortie-de-crise_4994238_3214.html
 
BRASIL
 
Pagina 12, Argentina
Artigo de Juan Manuel Karg (Politólogo UBA. Pesquisador do Centro Cultural de la Cooperación.): Padrão duplo. Trata do reconhecimento de Michel Temer por Joe Biden, vice-presidente norte-americano.
http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-308936-2016-09-09.html
 
RFI, França
 
Imprensa europeia destaca rejeição popular a Temer na abertura dos Jogos Paraolímpicos. Ela aconteceu em clima de festa e vaias resume parte da imprensa européia.
http://m.br.rfi.fr/brasil/20160908-vaias-temer-marcam-abertura-dos-jogos-paralimpicos-diz-imprensa-europeia
 
O secretário-geral do Partido dos Trabalhadores (PT), Romênio Pereira, garante: a sigla não vai descansar enquanto o presidente Michel Temer não convocar eleições. Ele afirma que os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva devem realizar viagens ao exterior para “denunciar o golpe que acontece no país”.
http://m.br.rfi.fr/brasil/20160908-pt-promete-pressionar-ate-temer-convocar-eleicoes
 
Huff Post Brasil, EUA
Com Suplicy na linha de frente, manifestantes fazem ato contra Temer. O quinto dia de protesto contra o presidente Michel Temer (PMDB) e por novas eleições, em São Paulo, teve o auge na porta casa do peemedebista. Em ato pacífico,cerca de 15 mil pessoas, incluindo o candidato a vereador Eduardo Suplicy (PT), marcharam do Largo do Batata até Alto de Pinheiros, bairro onde Temer tem uma casa na capital paulista.
http://www.brasilpost.com.br/2016/09/08/suplicy-casa-temer_n_11921080.html?utm_hp_ref=brazil
 
El País Brasil, Espanha
1. Manifestantes vão à casa de Temer em São Paulo no terceiro ato da semana. Protesto pedindo a saída do presidente reúne 15.000 pessoas segundo os organizadores
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/09/politica/1473384799_058378.html
2. Reforma trabalhista de Temer permitirá jornada de trabalho de até 12 horas diárias
http://www.brasilpost.com.br/2016/09/08/reforma-trabalhista-dara-_n_11918772.html?utm_hp_ref=brazil




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