domingo, 19 de agosto de 2018

RETROCESSOS Assentamentos: Temer leva um ano para fazer o que Lula e Dilma fizeram em 10 dias


RETROCESSOS

Assentamentos: Temer leva um ano para fazer o que Lula e Dilma fizeram em 10 dias

As medidas de austeridade fiscal promovidas pelo governo ilegítimo têm afetado de forma cruel os trabalhadores do campo

A média do atual governo é de apenas 23 assentamentos semanais, contra 1.119 dos governos que o antecederam / Ricardo Stuckert
Dois anos depois de ter chegado ao poder pelo golpe o governo de Michel Temer registra cerca de 2.800 famílias assentadas desde que assumiu. As ações para democratizar a posse da terra executadas pelo atual presidente equivalem a apenas 2,4% da média anual dos governos Lula e Dilma, de 57,5 mil assentamentos por ano. Os dados são do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), consultados pelo Instituto Lula por meio da Lei de Acesso à Informação.
Segundo os números, o que Temer fez em um ano, equivale ao que Lula e Dilma realizavam em apenas 10 dias de governo. A média do atual governo é de apenas 23 assentamentos semanais, contra 1.119 dos governos que o antecederam.
Em 2017, o governo golpista assentou somente 1.205 famílias, o menor número desde 1995, quando os assentamentos passaram a ser contabilizados pelo Incra.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Gilmar Mauro, afirmou que a falta de compromisso de Temer com as famílias de trabalhadores do campo aumentou a pobreza nas regiões rurais do país. "De acordo com os cortes do governo Temer, é evidente que a situação do campo se agrava. Além do desemprego no interior, estamos vivendo fome, miséria e falta de reforma agrária", lamenta.
Ao longo do ano passado, com Temer no comando do país durante os 12 meses, nenhuma família foi assentada em Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraná e Tocantins. Fato inédito desde 2003. Nos governos Lula e Dilma esses mesmos estados sempre tiveram famílias assentadas, com médias anuais de 1.417 em Pernambuco, de 271 no Rio, 894 no Paraná e, no Tocantins, de 1.667.
"A política de reforma agrária acabou com o novo comando do Incra. Mesmo nos estados onde houveram os assentamentos, é pouquíssimo para resolver o problema", diz Gilmar.
Com os cortes federais, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foi um dos prejudicados. Segundo dados do governo federal, os investimentos com o programa em 2016, foram por volta de R$ 540 milhões. Em 2017 caiu aproximadamente R$ 330 milhões e, neste ano, a previsão é de cerca de R$ 4 milhões – uma redução total a quase 1% do orçamento anterior.
"Os assentamentos sofreram com os cortes que estimulavam a produção. A crise no campo não é tão aguda como na cidade, porque os assentamentos, mesmo sem fontes de financiamento, ainda conseguem produzir comida. Porém, essa falta de investimento reflete numa produção menor", explica Gilmar Mauro.
No Brasil pós-golpe, as políticas destinadas ao financiamento e crédito da agricultura familiar também foram afetadas. Criado no primeiro ano do governo Lula, o Plano Safra da Agricultura Familiar terá estagnação orçamentária pela primeira vez em 2018/2019. O crédito rural do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) apresenta queda de 21% em relação à safra 2016/2017 e de 37%, em comparação à safra 2017/2018.
Os resultados dos desmontes praticados pelo governo de Temer se refletem ainda nas estatísticas das mortes provocadas por conflitos pela posse da terra. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, o Brasil registrou 71 assassinatos dese tipo no passado, consolidando-se como o mais violento dos últimos 14 anos.
Edição: Redação

Provas para condenar modelo negra são nulas e questionáveis, dizem advogados


SELETIVIDADE PENAL

Provas para condenar modelo negra são nulas e questionáveis, dizem advogados

Barbara Quirino apresentou álibi com testemunhas que foi desconsiderado pelo juiz

Vítima diz não ter convicção do reconhecimento que fez, mas apontou Bárbara por causa do 'cabelo familiar' / Reprodução/Arquivo Pessoal
Para advogados ouvidos pela RBA, a condenação da modelo Bárbara Quirino é injusta e baseada em uma prova nula e contaminada, enquanto a jovem negra apresentou um álibi "muito consistente". No último dia 10, ela foi condenada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), a cinco anos e quatro meses, por assalto, mesmo tendo provado inocência e que não estava na capital paulista quando o crime foi cometido. 
A prisão de Bárbara é baseada em dois testemunhos. De acordo com a defesa, a jovem foi fotografada pelos policiais durante uma abordagem e, em seguida, sua foto foi repassada para grupos de WhatsApp pedindo às vítimas se reportarem à delegacia. 
Segundo o advogado criminal e professor Direito Penal da Universidade Federal Fluminense (UFF) Taiguara Líbano Souza, a obtenção desta prova é questionável, e aponta uma contaminação do reconhecimento. "Essa veiculação da foto, feita de maneira parcial para obter um resultado no processo penal, contamina esse reconhecimento. É possível questionar essa decisão do juiz, pois há uma nulidade dessa prova pelo vício de origem", critica ele.
Já o advogado Guilherme Perisse, dos Advogados Ativistas, aponta para outras irregularidades. Além do processo não ter seguido os trâmites legais, ele lembra que a vítima, ao fazer o reconhecimento fotográfico, inviabiliza o reconhecimento por outras formas, pois se cria na testemunha uma tendência para confirmar a identificação anterior – a afirmação é feita com base na obra do jurista Nelson Hungria. 
"Esse modo informal, via Whatsapp, acaba influenciando a vítima a reconhecer. No trâmite legal seria num livro com diversas fotos, na qual a pessoa teria diversas opções. Porém, você estimula a pessoa com uma foto anterior", questiona Guilherme.
Durante a audiência, a vítima diz que ficou com a cabeça virada para o asfalto, sem conseguir ter "convicção do reconhecimento que fez". Ele afirma que apontou Bárbara por causa do "cabelo familiar". 
"Ao dizer isso, você pode dizer que a testemunha só reconheceu o cabelo de quem cometeu o crime, não que é a pessoa certa. O cabelo não identifica ninguém", alerta Guilherme. Para Taiguara, a prova é totalmente refutável. "É muito grave o magistrado condenar uma pessoa com base nisso".
Álibi
A defesa da jovem apresentou provas de que Bárbara não estava na capital paulista quando os crimes foram cometidos. Segundo fotos e o testemunho de três pessoas, ela estava no Guarujá a trabalho. Em sua decisão, o juiz Klaus Marouelli Arroyo diz há imprecisão quanto às datas e horários nos quais Bárbara estaria no litoral. 
Os especialistas afirmam que houve a desconsideração da presunção de inocência por parte do magistrado. "É um desrespeito a presunção de inocência. É preciso de robustos indícios para prender alguém. Causa muita estranheza o resultado dessa sentença", diz o professor da UFF.
Guilherme também levanta outro aspecto. Segundo ele, não é comum que um acuso tenha tanto álibi a favor. "Essa prova dela deve ser considerada ao máximo. Para desconsiderar um álibi, você tem que ter muita prova contrária", explica.
O docente diz que a sentença da jovem é nula e precisa ser corrigida na segunda instância. Ele aponta que o caso é mais um do racismo institucional presente no Judiciário. "Nós temos uma expressiva seletiva racial do sistema de justiça. Ele contamina o modus operandi dos órgãos do sistema penal, passando pelos policias até a magistratura", lamenta.
"Me causa estranheza, numa visão penal, por outro lado, conhecendo o Poder Judiciário não me surpreende. Esse caso é uma injustiça", finaliza o advogado Perisse. 
Edição: Redação

Candidato do Partido Novo incita violência contra sem-terra em redes sociais

VIOLÊNCIA

Candidato do Partido Novo incita violência contra sem-terra em redes sociais

O ex-secretário pessoal de Alckmin é investigado pelo MP por improbidade e preside o Movimento Endireita Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Ricardo Salles é pré-candidato à deputado federal pelo Partido NOVO / Divulgação Facebook
Em postagem recente em sua página pessoal do Twitter, o candidato pelo Partido Novo a deputado federal, Ricardo Salles, deixou claro seu desejo de morte a pessoas de ideologias de esquerda, principalmente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 
Na postagem, o candidato divulga seu número acompanhado da justificativa para a escolha, alusão a um calibre de bala utilizada em armamento pesado de caça. Salles justifica na postagem divulgada que a munição teria como alguns dos alvos: a esquerda, o MST e a “bandidagem do campo”. 
Ricardo Salles se apresenta como representante da "segurança no campo". Em sua página oficial na internet, as pautas se restringem a "legítima defesa" e "tolerância zero". No currículo, publicado na página do partido, elenca itens como segurança pública, privatizações e combate à corrupção, sem apresentar propostas. 
Perfil
Seu nome ganhou destaque em 2006 quando encabeçou o Movimento Endireita Brasil. Foi secretário particular do ex-governador Geraldo Alckmin, entre 2013 e 2014, cuja gestão é conhecida por comandar a polícia mais violenta dos últimos anos. De acordo com o 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as intervenções policiais do estado de São Paulo foram responsáveis por 17,4% do total de mortes violentas de 2016. Maior que o dobro da proporção no Brasil, que é de 6,9%.
Em 2016, o advogado assumiu a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e neste período foi investigado pelo Ministério Público Estadual por improbidade administrativa. Ele também é acusado de envolvimento em alterações irregulares no Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê. 
O Partido Novo se manifestou na rede social, afirmando que não compactua com apologia à violência e que, além de desaprovar a postagem do candidato, ele teria sido orientado. Mas, o ex-secretário de Alckmin – candidato à Presidência pelo PSDB – manteve o posicionamento e segue em tom de deboche nas postagens do Twitter. 
A reportagem entrou em contato com o candidato, porém não teve retorno até o fechamento da matéria.
Edição: Cecília Figueiredo

LULA "Se não cumprir decisão da ONU, Brasil pode ter eleição questionada", afirma advogado


LULA

"Se não cumprir decisão da ONU, Brasil pode ter eleição questionada", afirma advogado

Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Lula nos processos da Lava-Jata afirma que Brasil deve ter cautela

"Não se trata de uma mera recomendação", afirma advogado / Reprodução Portal Vermelho
O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Lula nos processos da Lava Jato, afirmou, em entrevista coletiva na tarde desta sexta (17), que a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU em defesa da candidatura de Lula é "uma grande vitória". Para ele, a determinação do órgão é vinculante (deve ser cumprida obrigatoriamente) e se impõe à lei brasileira.
"Não se trata de uma mera recomendação. O STF já reconheceu que tratados internacionais estão acima da lei. Sobretudo os tratados que versam sobre os direitos humanos. Se o Brasil reconheceu a jurisdição, o Brasil tem que respeitá-la e cumpri-la porque ela tem efeitos vinculantes sobre todos os órgãos. Todos têm que seguir: o presidente da República, o presidente do STF, o presidente do STJ e todos juízes e autoridades que estejam de alguma forma envolvidas na prisão do Lula", lembrou Zanin na entrevista concedida junto com os ex-ministros Paulo Sérgio Pinheiro e Celso Amorim, que foi chanceler durante o governo Lula.
"A Procuradoria Geral da República já manifestou ao STF que a jurisdição brasileira submeteu-se às decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos, reconhecendo que o cumprimento de suas decisões é mandatório", destacou Zanin.
“O Comitê determina ao Brasil que não tome decisões irreversíveis, uma vez que a ONU pode reconhecer as violações contra Lula depois das eleições”, explicou.
"Esperamos o cumprimento", completou Zanin. "É importante lembrar que não foi hoje que o Comitê tomou conhecimento, mas desde junho de 2016", destacou ainda o advogado. Segundo ele, se o Brasil "não cumprir" a determinação da ONU, "essas eleições serão questionadas internacionalmente".
O Comitê de Direitos Humanos da ONU acolheu, nesta quinta (17) pedido de liminar formulado pela defesa de Lula contra a possibilidade de o ex-presidente não participar das eleições presidenciais. 
O comitê determinou ao Estado Brasileiro que “tome todas as medidas necessárias para permitir que o autor [Lula] desfrute e exercite seus direitos políticos da prisão como candidato nas eleições presidenciais de 2018, incluindo acesso apropriado à imprensa e a membros de seu partido politico.”
A liminar pede “que o autor [Lula] concorra nas eleições presidenciais de 2018 até que todos os recursos pendentes de revisão contra sua condenação sejam completados em um procedimento justo e que a condenação seja final.”
Edição: Redação

Em 20º dia de greve de fome, manifestantes recebem delegação da Contag

GREVE DE FOME

Em 20º dia de greve de fome, manifestantes recebem delegação da Contag

Em ato realizado neste domingo (19), grevistas receberam solidariedade de parlamentares e outros apoiadores

Brasil de Fato | Brasília (DF)
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Grevistas e apoiadores durante ato realizado neste domingo (19), em Brasília (DF) / César Ramos/Contag
Os sete militantes de movimentos populares que estão em greve de fome desde o dia 31 de julho em Brasília (DF) continuam recebendo, diariamente, visitas e manifestações de apoio.
Neste domingo (19), foi a vez de os grevistas contarem com a presença de cerca de 120 representantes da Escola Nacional de Formação da Contag (Enfoc), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura.
Dirigentes e estudantes da instituição estão em viagem a Brasília para a realização de um curso e aproveitaram a oportunidade para manifestar solidariedade ao grupo.
A estudante Flaviana Almeida, do Maranhão, considera que a iniciativa dos grevistas representa um exemplo para a militância política e popular. Para ela, a visita da delegação ao grupo fortalece as ações de quem atua nas fronteiras pela garantia de direitos. “É uma renovação das energias pra continuar na luta”, afirma.
O exemplo de solidariedade também transpõe as fronteiras nacionais. Além de reunir estudantes de diferentes estados, a delegação da Contag levou militantes de outros países para prestarem apoio aos grevistas.
É o caso da estudante Marta Lopes, do Paraguai. Em entrevistas ao Brasil de Fato, ela destacou que o ponto principal da pauta da greve, a soltura do ex-presidente Lula (PT), exige uma articulação conjunta de diferentes forças nacionais e internacionais. “Consideramos que é uma causa internacional. O Brasil é grande e é um expediente de luta pra nós. Isso significa muito”, afirma.
Durante a visita dos militantes, foi realizado um ato político no local onde os grevistas estão alojados, no Centro Cultural de Brasília (CCB), do qual participaram também parlamentares, juristas e outros apoiadores.  “Nós estamos aqui apenas retribuindo o alimento que eles nos fornecem todo dia pra saciar a nossa fome de justiça. Estamos dizendo que estamos numa grande corrente para que possamos trazer a justiça de volta a este país”, destacou a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).  
Durante a celebração, os grevistas foram convidados a abençoar uma caixa de sementes de jatobá destinadas a assentamentos de movimentos populares no Distrito Federal. O pedido veio do voluntário José Ivan Maia de Aquino, da “Ação Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, campanha criada pelo sociólogo brasileiro Herbert de Sousa, o Betinho.  
Aquino destacou que as sementes representam a ligação com a terra e a multiplicação dos alimentos como símbolo do combate à fome. “As coisas imateriais têm uma força, uma potência, e a simbologia da bênção é como se fossem energias positivas”, complementa.  
Ao final do ato, os militantes em greve agradeceram a solidariedade e reforçaram que o protesto segue por tempo indeterminado. Neste domingo, 19 de agosto, os grevista completam vinte dias sem comer. 
“No fundo, o que alimenta o ser humano não é o que sustenta o corpo. Sem dúvida, a gente passa a ter uma capacidade de resistência maior do que o que a gente imagina”, afirmou a grevista Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).  
A greve de fome é articulada por movimentos da Via Campesina, pelo Levante Popular da Juventude e pela Central de Movimentos Populares (CMP).
O foco dos militantes que entraram em greve em defesa da liberdade  de Lula é conseguir que o Supremo Tribunal Federal (STF) coloque em votação as ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) que questionam a prisão após julgamento de segunda instância.
Colocar as ADCs na pauta do plenário depende da presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia.

Edição: Juliana Gonçalves

Anistia Internacional pede às autoridades resposta sobre caso Marielle



Anistia Internacional pede às autoridades resposta sobre caso Marielle
Terça-feira, 14 de agosto de 2018

Anistia Internacional pede às autoridades resposta sobre caso Marielle

Imagem: Mídia Ninja / Fonte: Agência Brasil
A Anistia Internacional, no dia em que se completam cinco meses da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, pede respostas às autoridades da área de segurança sobre os mandantes e responsáveis pela execução. Os dois foram executados no bairro do Estácio, na região central do Rio, quando Marielle retornava de um encontro com mulheres negras. Após cinco meses, às vésperas de começar o processo eleitoral, não há respostas sobre os autores, os mandantes e a motivação do assassinato de Marielle, a quinta vereadora mais votada da cidade nas eleições de 2016.
Em nota, a diretora executiva da organização não governamental (Anistia Internacional), Jurema Werneck, diz que cinco meses depois do assassinato de Marielle Franco ainda não se tem respostas sobre quem a matou. “É grave que se inicie um processo eleitoral sem que se descubra quem são os responsáveis pelo assassinato de uma vereadora em pleno exercício de seu mandato e quais foram as motivações. O início do período de campanha eleitoral levanta a preocupação de que o caso seja negligenciado”, afirma.

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Para Jurema, as autoridades e instituições do sistema de Justiça Criminal devem garantir que as investigações sobre o assassinato de Marielle não sejam colocadas de lado durante o período de campanha eleitoral. “Marielle era defensora de direitos humanos e vereadora na segunda maior cidade do país. Sua execução, na vigência do mandato parlamentar, significa não só um ataque aos direitos humanos, mas às instituições democráticas. Seu assassinato não pode ficar sem resposta adequada”.
A Anistia Internacional continua reiterando a urgência do estabelecimento de um mecanismo externo e independente de monitoramento das investigações, formado por especialistas no tema e que não tenham conflito de interesse em relação ao caso. Esse mecanismo deverá acompanhar as investigações, o cumprimento das diligências e verificar se está havendo algum tipo de influência indevida ou negligências.

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A ONG diz também no documento que o fato de uma defensora de direitos humanos e vereadora, com a visibilidade de Marielle, ser executada sem que haja uma resposta contundente do Estado brasileiro é muito preocupante e deixa outros defensores de direitos humanos expostos a maior risco, gerando medo e silenciamento.
De acordo com Jurema Werneck, no Brasil, dezenas de defensores de direitos humanos são assassinados todos os anos. “A grande maioria desses crimes não é investigada. A resolução correta do caso é fundamental para que se rompa um ciclo de impunidade e violência contra defensores de direitos humanos no Brasil”, finalizou.
Ofício às autoridades
Nesta terça-feira, a Anistia Internacional e os familiares de Marielle Franco entregam ofício ao secretário de Segurança Pública, general Richard Nunes, na sede da secretaria, no prédio da Central do Brasil. Cópias do documento serão entregues ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, e ao interventor da segurança no Rio, general Braga Netto, entre outras autoridades.


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História Para relembrar a Revolta dos Malês

Diversidade

História

Para relembrar a Revolta dos Malês

por Patrícia Soares — publicado 14/08/2018 17h00, última modificação 14/08/2018 11h39
A sedição organizada por negros muçulmanos agitou a Bahia na primeira metade do século XIX
Reprodução "Navio Negreiro"/Rugendas
Para relembrar a Revolta dos Malês
Parte dos escravos era muçulmana


Esta é uma parte da história do Brasil, pouco conhecida e divulgada.
No século XIX, havia muçulmanos o Brasil. Vieram nos navios negreiros ou tumbeiros, como também eram chamados. Escravos do oeste africano que professavam a fé islâmica.
Em 1835, Salvador tinha 65 mil habitantes, dos quais 22 mil eram africanos oriundos de Cabinda, Benguela, Luanda. Malê em iorubá significa muçulmano.
Após a morte do profeta Mohammad, muçulmanos imigraram ou saíram da península arábica em missões para divulgar o islã. Estabeleceram escolas ou madrassas no Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito.
Em duas gerações, o islamismo tornou-se a religião predominante do Norte da África. Os líderes muçulmanos não impuseram sua língua nem sua cultura aos africanos. O islã tinha então uma natureza sincrética com características regionais mescladas.
Na Bahia, a pobreza era efervescente: 90% da população vivia em condições degradantes. Ideias  libertadoras emergiam do caos social a cada minuto.
Os escravos muçulmanos eram vistos como uma elite entre os outros, por serem alfabetizados em língua árabe e saber ler e escrever. Segundo os registros de um chefe de polícia, os negros que sabiam ler e escrever carregavam um Alcorão e anel de prata. Mesmo integrantes da elite branca eram analfabetos.
Os escravos muçulmanos não trabalhavam na sexta-feira, dia sagrado para a religião, e recolhiam dinheiro entre a comunidade dos libertos para dar aos seus senhores em troca do dia de folga. Também levantavam recursos para alforriar outros escravos. Muitos negros muçulmanos livres exerciam atividades comerciais (alfaites, artesãos e carpinteiros).
Houve muitas revoltas escravas no período, mas a do Malês se destacou. Os líderes foram Pacifico Licutã, Ahuna, Manoel Calafante, Elesbão Dandará e Luis Sanim. Entre eles uma mulher, a heroína Luiza Mahin, que participou de quase todas as revoltas e levantes de escravos, mãe de Luís Gama, advogado e escritor abolicionista. Contavam com um fundo de 80 mil réis, recolhidos entre simpatizantes da causa.
Como em toda jihad, era nescessária a atuação religiosa de um maulana, líder religioso. Quem cumpriu a missão foi Ahuna, de origem nagô, com cerca de 40 anos e quatro marcas étnicas no rosto. Tinha o respeito de todos e era reconhecido como o general da batalha.
O dia chegou: os revoltosos mobilizados para agir no fim do mês sagrado do ramadã, que em 1835 aconteceu em 21 de janeiro, coincidindo com a festa católica de Nossa Senhora da Guia.  
No dia 24, um grupo reunido no porão de uma casa e recebido por Manoel Calafante com saudações em árabe – “salamum aleikom ,aleikom salam” – foi cercado pelas forças oficiais.
Segundo os registros históricos, Guilhermina, negra liberta, traiu a revolta e denunciou seus líderes. A repressão foi terrível. Pegos de surpresa, os rebeldes se dividiram e se espalharam pela cidade. Boa parte se dirigiu a Vitória, bairro de maioria malê, e ao convento das Mercês.
 Alguns tentaram escapar pelo mar, mas se afogaram ou foram atacados por uma fragata à espera. Por muitos dias, as ondas de Salvador despejaram corpos na praia. A revolta envolveu cerca de 1,5 mil participantes. Houve 70 mortes durante os combates nas ruas da cidade.
Os corpos foram enterrados sem nenhum rito religioso, em vala comum no campo de pólvora. Quem foi a julgamento acabou condenado ao açoitamento ou morte, a maioria por enforcamento.
O objetivo da revolta era lutar contra a escravidão e a intolerância religiosa. Os planos estavam escritos em árabe. Por medo de novas revoltas, muitos negros seriam enviados ao degredo nos meses seguintes. Quem sobreviveu e ficou na Bahia viu-se obrigado a professar a fé na clandestinidade.