terça-feira, 30 de julho de 2019

Lula escreve a Felipe Santa Cruz: o Brasil não merece o ódio de Bolsonaro

Lula escreve a Felipe Santa Cruz: o Brasil não merece o ódio de Bolsonaro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escreveu, de sua cela em Curitiba, uma carta ao presidente ds OAB, Felipe Santa Cruz, um carta, na manhã desta terça-feira; "Nada poderá reparar o sacrifício de seu pai, meu caro Felipe, nem a ofensa brutal que o vitimou mais uma vez"; no texto, Lula afirma que "o Brasil não merece ouvir as palavras de ódio" de Bolsonaro
(Foto: Ricardo Stuckert e divulgação)
247 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escreveu, de sua cela em Curitiba, uma carta ao presidente ds OAB, Felipe Santa Cruz, um carta, na manhã desta terça-feira; "Nada poderá reparar o sacrifício de seu pai, meu caro Felipe, nem a ofensa brutal que o vitimou mais uma vez"; no texto, Lula afirma que "o Brasil não merece ouvir as palavras de ódio" de Bolsonaro.
Felipe Santa Cruz é filho de Fernando Santa Cruz, miitante do grupo Ação Popular (AP) desaparecido durante a ditadura militar e assassinado pelas Forças Armadas em 1974, conforme  atestado num documento secreto da Aeronáutica (aqui). Pai e filho têm sido alvo de ataques brutais de Bolsonaro.
A carta de Lula, em tom emocionado, sai em defesa de Felipe, Fernando e todas as pessoas perseguidas pela ditadura: "É como se violentassem seu pai mais uma vez, e junto com ele todas as vítimas da ditadura".
Leia a íntegra da carta:
Carta de Lula a Felipe Santa Cruz, presidente da OAB

Amelinha Teles e Crimeia de Almeida falam sobre o caso Fernando Santa Cruz

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Ministério de Damares desmente Bolsonaro: Santa Cruz foi assassinado pela ditadura

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Na semana passada, Ministério dos Direitos Humanos emitiu uma certidão de óbito do pai do presidente da OAB

REDAÇÃO
São Paulo (Brasil)
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, por meio da Comissão de Mortos e Desaparecidos, emitiu, na semana passada, uma certidão de óbito para Fernando Souza Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
No documento, a pasta comandada pela ministra Damares Alves informa que a morte do militante foi “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro”. 
A data da morte informada é dia 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro (RJ), “no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.
A certidão emitida pelo ministério desmente Bolsonaro, que na tarde desta segunda-feira (29), durante transmissão ao vivo em suas redes sociais, disse que Santa Cruz teria sido assassinado por integrantes da Ação Popular do Rio de Janeiro, organização que o militante integrava.
Valter Campanato/Agência Brasil
Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
O caso seria, segundo o presidente, uma traição dos companheiros ao pai do presidente da OAB.
Mais cedo, Bolsonaro aproveitou uma entrevista coletiva para atacar pessoalmente o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, cujo pai desapareceu durante a ditadura militar. “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, afirmou.
Prisão confirmada
A Aeronáutica, em um documento de 8 de setembro de 1978, informa que Fernando Souza Cruz, confirma que Santa Cruz teria sido preso em 22 de fevereiro de 1974. Confirmada a detenção, a tese de Bolsonaro fica menos crível, já que o presidente afirmou que o pai do presidente da OAB teria sido capturado pelos integrantes da Ação Popular quando chegou ao Rio de Janeiro e, em seguida, teria sido assassinado.
Atestado diz que morte foi violenta e causada pelo Estado brasileiro (Reprodução)

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Boa leitura!Manuela CartaPublisher de CartaCapital

Por que Sergio Moro ainda não caiu nem foi preso?


Redação Pragmatismo
OPINIÃO30/JUL/2019 ÀS 21:34COMENTÁRIOS

Por que Sergio Moro ainda não caiu nem foi preso?

Bastariam os delitos que o próprio Sergio Moro relatou para tirá-lo do governo – talvez, rumo à prisão. Sua persistência, e as ações explícitas dos EUA para protegê-lo, confirmam: ele é um nó central da guerra híbrida na qual o Brasil foi mergulhado

sergio moro eua cai demitido prisão
Antonio Martins, Outros Quinhentos — Do alto de décadas de experiência, o jornalista Jânio de Freitas chamou-a de operação virada de mesa. Seu fulcro ocorreu na quinta-feira (25/7). O ministro Sérgio Morto tentou, num movimento de ousadia extrema, destruir os sinais cada vez mais abundantes de que, quando juiz, agiu com parcialidade flagrante, visando interferir na disputa pela Presidência e favorecer uma coalizão de forças que o levaria ao governo.
Jânio reconstrói os fatos, utilizando-se das próprias declarações (ou tuítes) do ministro. Em evidente abuso de poder, ele apoderou-se dos registros de uma investigação que corria em sigilo de justiça. Passou a disparar, para altas autoridades da República, telefonemas nas quais as “alertava” para o fato de suas comunicações terem sido supostamente vazadas por hackers. É muito duvidoso que se referisse apenas aos autos do processo. Tudo indica que se apoiou, principalmente, em informações (e violações) produzidas nos EUA. Seus objetivos eram claros: a) construir rapidamente um consenso em favor da destruição do material; b) ainda mais importante, estigmatizar – e tornar politicamente inócuas – as revelações feitas por The Intercept sobre sua conduta. O plano era óbvio: tudo recairia na vala comum dos vazamentos produzidos por criminosos e, portanto, de efeito nulo e divulgação condenável.
Mas a tentativa de Sérgio Moro fracassou.
Primeiro porque, já pela manhã, o jornalista Glenn Greenwald revelou a Veja diálogos que manteve com o hacker que o abastece de informações. Ficou claro, então, que há em curso dois vazamentos: o de The Intercept, que teve como foco os diálogos do procurador Deltan Dallagnol no Telegram; e um outro, incomparavelmente mais vasto, que é atribuído a pequenos estelionatários paulistas – mas só pode ser obra de agentes muito mais poderosos. O segundo motivo do fracasso é a dignidade que ainda resta no STF. Na tarde da quinta, o ministro Marco Aurélio Mello frisou, em entrevista à jornalista Monica Bergamo, que Moro não tinha nem a mínima autoridade para destruir o conteúdo das gravações, nem mesmo direito de acesso a elas.
A operação virada de mesa foi, em sua primeira tentativa, abortada. Pior, para Moro: começaram a surgir sinais de que o feitiço poderia virar contra seu inábil urdidor. No fim de semana, a Folha de S.Paulo lembrou que, de acordo com o princípio constitucional de “ampla defesa” e segundo a jurisprudência do STF , os réus têm direito a obter e invocar, em seu favor, mesmo as provas produzidas de maneira ilícita. Ou seja, os registros das “centenas de violações de sigilo na internet” além de não serem destruídos, teriam de aparecer. Talvez por isso, veio nova reviravolta acrobática. Nas últimas horas, a hipótese de “cerca de mil” vazamentos, afirmada com tanta certeza e alarde há poucos dias, começou a ser relativizada. Agora seriam “algumas dezenas”, “talvez trinta”, dizem fontes da PF – e surge uma nova explicação para o milhar antes propagado. Seriam 976 os números de telefone existentes na agenda dos hackers-estelionatários (imagine quantos você possui…) – e não a quantidade de autoridades invadidas…
Seja como for, o malogro da operação virada de mesa deixou totalmente a nu as ilegalidades praticadas por Moro. Não são mais suposições a serem investigadas. São informações de malfeitos que o ministro postou para que fossem difundidas – crente no sucesso da pressão produzida. Falta-lhe, agora, toda autoridade moral para permanecer ministro; e talvez o caso seja, como aventou Ciro Gomes, de prisão preventiva – já que o ministro tentou claramente destruir provas de um caso em que é o provável transgressor.
Mas então, por que Moro se mantém? Aqui, é melhor evitar as afirmações altissonantes e genéricas, como “O Estado de direito há muito tempo foi rompido”. Sim, foi – mas constatá-lo de muito pouco serve. É preciso identificar claramente as forças e interesses que se articulam para nos manter em estado de exceção.
A chave parece estar num artigo desbravador de José Luís Fiori e William Nozaki, publicado em Outras Palavras. O Brasil tornou-se há alguns anos, mostra o texto, alvo pioneiro da mudança de orientação estratégica operada pelos EUA, visando a conservação de sua supremacia ameaçada. Esta estratégia supõe declaradamente a “guerra híbrida”, as intervenções externas, as formas “constitucionais” de golpes de Estado. A “luta contra a corrupção” é o pretexto principal da cruzada. E Sérgio Moro, até há alguns anos um obscuro juiz de primeira instância, ganhou destaque porque ligou-se aos planos norte-americanos desde 2009, quanto o Bridge Project estabeleceu a “colaboração” entre certas varas do Judiciário brasileiro e o Departamento de Justiça dos EUA. A proteção que Washington procura lhe oferecer chega a detalhes: como o esforço do consulado norte-americano, esta semana, para dificultar viagem internacional dos filhos de Glenn Greenwald, o jornalista cujas revelações incomodam o ministro.
Significa que ele e Bolsonaro são imbatíveis? Certamente não. Em outro texto, escrito há dois meses, o mesmo Fiori mostra que a virada estratégica de Washington fracassou em diversos países onde foi adotada, sendo a “operação Bolsonaro” seu êxito mais significativo. Em meio a uma coleção de derrotas, uma vitória rara, que pode ser revertida.
Mas o enorme esforço que necessário para tanto surge num ensaio dos sociólogos franceses Pierre Dardot e Fraçois Laval, que também estampamos hoje. Moro e Bolsonaro não cairão nem por sua indigência intelectual e moral, por suas suas patetadas, ou por seus atentados à Constituição ou às leis, sugere o texto. Eles expressam um neoliberalismo transformado, que visa impor a qualquer custo a lógica do capital em todas as esferas da vida humana e já despreza a democracia e o direito. Este projeto não recua diante de suas próprias derrotas – ao contrário, transforma-as em novas exigências. “Se a austeridade gera déficit orçamentário, é preciso acrescentar uma dose suplementar. Se a concorrência destrói o tecido industrial ou desertifica regiões, é preciso aguçá-la ainda mais entre as empresas, entre os territórios, entre as cidades. (…) Se a diminuição de impostos para os ricos ou empresas não dá os resultados esperados, é preciso aprofundar ainda mais nisto”.
Para vencer esta ameaça – expressa no espetáculo de horrores que parece se renovar a cada dia no Brasil – talvez já não baste uma esquerda que se limite aos programas, estratégias e táticas que marcaram os séculos XIX e XX.