sábado, 21 de dezembro de 2013

Ele, também, se intitulava SOCIALISTA


Líderes europeus rejeitam apoio a missões militares francesas na África

20/12/2013 14:40
Por Redação, com DW - de Brasília

Os líderes da UE rejeitaram a ajuda financeira pedida por Hollande para apoiar as missões militares francesas no continente africano
Os líderes da UE rejeitaram a ajuda financeira pedida por Hollande para apoiar as missões militares francesas no continente africano
O presidente da França, François Hollande, sofreu uma derrota no primeiro dia do encontro de cúpula da União Europeia (UE), em Bruxelas. Os líderes da UE rejeitaram a ajuda financeira pedida por Hollande para apoiar as missões militares francesas no continente africano.
Na reunião, os 28 países-membros da UE aprovaram somente uma avaliação das regras que preveem o financiamento conjunto de missões militares realizadas por um ou mais parceiros do bloco europeu.
- Não podemos financiar nenhuma missão em que não estivemos envolvidos no processo de decisão – declarou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, no final do primeiro dia do encontro. Merkel declarou ainda que a Alemanha e outros países-membros da UE esperam, no futuro, uma mudança de comportamento da França.
Segundo Merkel, uma decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas não é suficiente para que um país-membro da UE empreenda uma missão militar. É necessário também que a missão seja coordenada e aprovada pelos parceiros da UE caso se almeje uma corresponsabilidade europeia. Merkel afirmou que já teria dito isso a Hollande, em encontro bilateral na quarta-feira em Paris.
Solidariedade europeia em estruturas europeias
No ano passado, Hollande mandou tropas francesas para o Mali e, recentemente, enviou 1.600 soldados para a República Centro-Africana, com o objetivo de reprimir revoltas e pacificar países que se localizam em tradicional zona de influência francesa na África Ocidental. A França está, portanto, agindo em interesse próprio. Mas, devido ao alto custo das missões militares, Hollande sugeriu um fundo europeu permanente para o financiamento de tais missões.
O presidente francês, por sua vez, afirmou no primeiro dia de reuniões que a Polônia se dispôs a apoiar, com 50 técnicos da Força Aérea, a missão militar francesa na República Centro-Africana. Antes do encontro, Hollande havia dito que tanto a ONU quanto a União Europeia teriam apoiado a intervenção no Mali e na República Centro-Africana. “E ao financiamento deve seguir o apoio político”, exigira Hollande.
O presidente, no entanto, parece ter se enganado. Além de Merkel, também o primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, afirmou que, “quando se pede a solidariedade europeia, então a tomada de decisão deve se encontrar dentro de estruturas europeias”.
Cameron, Rasmussen e a Otan
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que considera sensata uma cooperação militar entre os europeus. “Mas não é correto que a União Europeia possua tais capacidades – um Exército próprio, Força Aérea etc.” Cameron não quer de maneira alguma estruturas paralelas à Otan.
Isso não somente seria um desperdício de dinheiro, argumenta, mas também poderia vir a enfraquecer a Otan. Nesse ponto, no entanto, Cameron contradisse ninguém menos que o próprio secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, que também foi convidado para as negociações em Bruxelas.
Rasmussen não disse ver nenhuma contradição entre um aumento da capacidade de defesa da Europa e uma Otan forte. “Se nós, europeus, não pudermos mais cuidar da nossa segurança, corremos o risco de que os EUA se afastem de nós.”
Para acalmar os ânimos de Cameron, defensor das relações com os EUA e com a Otan, Rasmussen acresceu que não se trata de criar um Exército europeu. As Forças Armadas continuam a pertencer aos diversos países.
Cooperação em tempos de crise
De qualquer forma, em tempos de “vacas magras”, os chefes de Estado e governo aprovaram em Bruxelas uma cooperação europeia mais estreita na política de segurança e armamentos. Em 2014, a UE pretende aprovar ao menos uma estratégia de segurança marítima comum e pretende chegar a um acordo sobre um enquadramento legal para a defesa contra ataques cibernéticos.
Além disso, entre 2020 e 2025, os países-membros da UE pretendem desenvolver um drone europeu. Isso poderia ajudar a encontrar uma solução para o problema da partida e aterrissagem de aviões militares não tripulados em espaço aéreo civil, o que foi um dos motivos para o fracasso na Alemanha do desenvolvimento do drone Euro Hawk.

Cavalos de Tróia


Cavalos de tróia

20/12/2013 14:16
Por Jeferson Miola - de Porto Alegre

A cantilena é por demais conhecida
A cantilena é por demais conhecida
A cantilena é por demais conhecida.
Independentemente da realidade objetiva e da situação concreta da economia, os ventríloquos do capital financeiro repetem sempre a mesma receita que, a juízo deles, o governo deveria seguir: cuidar mais da inflação do que do desenvolvimento, (ii) ampliar o superávit fiscal e (iii) aumentar os juros.
Faça chuva, faça sol, a receita é sempre a mesma. E exatamente nessa ordem: [1º] compensar o aumento dos preços via contenção dos salários, para aumentar a concentração da renda e a lucratividade do capital; [2º] reduzir investimentos estatais, dilapidar a máquina pública e desfinanciar as políticas públicas para “economizar” e, assim, ampliar o “dinheiro livre” para alimentar o apetite insaciável do capital financeiro; e [3º] aumentar a taxa de juros para canalizar maior parcela da renda pública ao capital financeiro especulativo – nacional e internacional.
Esses postulados econômicos neoliberais são defendidos como leis férreas que deveriam ser adotados cegamente pelo governo. Caso contrário – conforme reza a chantagem dos especuladores – o país seria atingido pela maldição do rebaixamento do grau de investimento. E, dessa maneira, perderia atratividade, confirmando a profecia do caos econômico, com o capital financeiro “abandonando” o país.
Para os ventríloquos do capital financeiro, o Brasil está permanentemente no fio da navalha, com a economia sempre à beira dum abismo. Junto com a mídia conservadora, aludem dificuldades terríveis da economia; muito superiores às reais. E abstraem a conjuntura internacional, da gravíssima crise gerada na Europa e nos EUA. Com isso, ocultam o contexto de excepcionalidade da economia mundial, para também ocultarem a capacidade que o país vem tendo – com a escolha de políticas heterodoxas -, de transitar com relativo êxito, a despeito dessa complexa realidade.
O governo vinha numa trajetória de declínio dos juros a patamares históricos. Essa trajetória, entretanto, foi interrompida pelo terrorismo da orgia financeira, com o governo sucumbindo outra vez às suas chantagens.
A aparência de uma ciência econômica sofisticada não consegue esconder a verdadeira picaretagem por trás dos movimentos especulativos. Não existe nenhuma racionalidade econômica e menos ainda razão ética na postulação dos financistas – mas sim o objetivo predador da multiplicação financeira através da usura.
O provável fracasso eleitoral das candidaturas conservadoras em 2014 obrigou o capital financeiro a antecipar sua estratégia para assegurar seus interesses. No último período, o discurso conservador brada por duas exigências: maior superávit fiscal, apesar da absurda desoneração de setores do grande capital que faz o governo; e independência do Banco Central, como sinônimo de garantia de aumento de juros.
Na realidade, são duas vertentes para a reprodução exponencial do capital financeiro: maior superávit significa [1] menos direitos sociais e mais dinheiro público para o pagamento dos títulos dos rentistas, e [2] aumento da remuneração do capital financeiro [e de sua força reprodutiva] com o maior sacrifício do povo através da maior “poupança fiscal”.
Quando se entrega a cabeça do Ministro da Economia e se pede a cabeça do Secretário do Tesouro Nacional para “tranquilizar o mercado”, se está sendo no mínimo “magnânimo” com o rentismo, cedendo-lhe terreno no “território” do poder econômico que disputa com o governo.
Nessa disputa, não faltam os cavalos de Tróia. Como o ex-Ministro da Fazenda [que também foi Chefe da Casa Civil com mandato atalhado por um escândalo] e o ex-Presidente do Banco Central, que defendem abertamente políticas contrárias à trajetória tentada pelo governo. Publicam artigos, na maior das vezes falam em off, concedem entrevistas e dissertam suas certezas sobre juros ascendentes, superávit primário idem, contenção de “gastos” públicos e proposição ao “Congresso a independência legal do Banco Central” [FSP, 15/12/2013, página A2, artigo “Rumo ao grau de potência”, de Henrique Meirelles.
Aliás, não faltam cavalos de Tróia na vida, na economia e na política. Quando a Presidenta Dilma, depois de perscrutar as ruas de junho propôs corretamente o plebiscito para reformar o corrupto sistema político e eleitoral, teve como contrapartida a afronta desleal de um deputado que já não deveria estar no PT, apesar de já ter sido líder do Partido e do governo no Congresso.
Jeferson Miola,  é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

Conheça 10 fatos chocantes sobre os EUA

Conheça 10 fatos chocantes sobre os EUA

Os EUA costumam se revelar ao mundo como os grandes defensores das liberdades, como a nação com a melhor qualidade de vida do planeta e que nada é melhor do que o “american way of life” (o modo de vida americano). A realidade, no entanto, é outra. Os EUA também têm telhado de vidro como a maioria dos países, a diferença é que as informações são constantemente camufladas. Confira abaixo 10 fatos pouco abordados pela mídia ocidental.

Carlo Allegri

1. Maior população prisional do mundo
Elevando-se desde os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controle social: à medida que o negócio das prisões privadas alastra-se como uma gangrena, uma nova categoria de milionários consolida seu poder político. Os donos destas carcerárias são também, na prática, donos de escravos, que trabalham nas fábricas do interior das prisões por salários inferiores a 50 cents por hora. Este trabalho escravo é tão competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente graças às suas próprias prisões, aprovando simultaneamente leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes menores como roubar chicletes. O alvo destas leis draconianas são os mais pobres, mas, sobretudo, os negros, que representando apenas 13% da população norte-americana, compõem 40% da população prisional do país.

2. 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.
Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças norte-americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade econômica para satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.

3. Entre 1890 e 2012, os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.
O número de países nos quais os EUA intervieram militarmente é maior do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de oito milhões de mortes causadas pelo país só no século XX. Por trás desta lista, escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA conduzem neste momente mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo. O mesmo presidente criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, superando de longe George W. Bush.

4. Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.
Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos por cada empresa, é prática corrente que as mulheres norte-americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes ou depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia.

5. 125 norte-americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde.
Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de norte-americanos não têm), então há boas razões para temes ainda mais a ambulância e os cuidados de saúde que o governo presta. Viagens de ambulância custam em média o equivalente a 1300 reais e a estadia num hospital público mais de 500 reais por noite. Para a maioria das operações cirúrgicas (que chegam à casa das dezenas de milhar), é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e, como o nome indica, terá a oportunidade de se endividar e também a oportunidade de ficar em casa, torcendo para não morrer.


6. Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos.
Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo norte-americano. Esqueçam a história do Dia de Ação de Graças com índios e colonos partilhando placidamente o mesmo peru em torno da mesma mesa. A História dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições atuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmos imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados. Em pleno século XX, os EUA iniciaram um plano de esterilização forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num formulário escrito em idioma que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente, recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se espante, os EUA foram o primeiro país do mundo oficializar esterilizações forçadas como parte de um programa de eugenia, inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e, mais tarde, contra negros e índios.

7. Todos os imigrantes são obrigados a jurarem não ser comunistas para poder viver nos EUA.
Além de ter que jurar não ser um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do Partido Comunista, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada terrorista. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, será automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.

8. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 mil dólares.
O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente, todos os estudantes têm dívidas astronômicas, que, acrescidas de juros, levarão, em média, 15 anos para pagar. Durante esse período, os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e assim sobreviver. O sistema de servidão completa-se com a liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel prazer, sem o consentimento ou sequer o conhecimento do devedor. Num dia, deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juros e, no dia seguinte, pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes norte-americanos cresceu à marca dos 1,5 trilhões de dólares, elevando-se assustadores 500%.

9. Os EUA são o país do mundo com mais armas
Para cada dez norte-americanos, há nove armas de fogo.
Não é de se espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior coleção de armas. O que surpreende é a comparação com outras partes do mundo: no restante do planeta, há uma arma para cada dez pessoas. Nos Estados Unidos, nove para cada dez. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, algo em torno de 275 milhões. Esta estatística tende a se elevar, já que os norte-americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.

10. Há mais norte-americanos que acreditam no Diabo do que os que acreditam em Darwin.
A maioria dos norte-americanos são céticos. Pelo menos no que toca à teoria da evolução, já que apenas 40% dos norte-americanos acreditam nela. Já a existência de Satanás e do inferno soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos norte-americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-pré-candidato republicano Rick Santorum, que acusou acadêmicos norte-americanos de serem controlados por Satã.


Fonte: Pragmatismo Político

Sen. Capiberibe denuncia perseguição da Abin a militante dos direitos humanos

    Terça, 17 Dezembro 2013 17:01

Capiberibe denuncia perseguição da Abin a militante dos direitos humanos

Da Agência Senado  -
O senador João Capiberibe (PSB-AP) anunciou ao Plenário, na noite desta terça-feira (17), que está providenciando requerimentos de informação para o Ministério da  Justiça, o Ministério Público e autoridades envolvidas, para obter esclarecimentos sobre o que considera uma denúncia gravíssima. Ele contou que, pela manhã, durante audiência da Subcomissão  Permanente da Memória, Verdade e Justiça, o convidado Paulo Fontelles  Filho, que é membro do Comitê Paraense pela Memória, Verdade e Justiça, prestou um longo depoimento dando conta de que está sofrendo  ameaças de agentes da Agência Brasileira de Informação (Abin).
- Ele relatou vários fatos que colocam em risco sua integridade física e apontou violações dos direitos humanos por parte da Abin – disse Capiberibe, que é presidente da subcomissão, criada no âmbito da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).
Capiberibe explicou que, após participar da audiência, Fontelles chegou a Belém (PA), no final desta tarde, e percebeu que o carro em que estava sendo perseguido por outro carro, supostamente da Abin. Ele tirou foto do carro e enviou ao celular do senador Capiberibe. O Fontelles ainda relatou que entrou em um restaurante, acompanhado de outra pessoa, e os agentes também entraram, atitude que, conforme observou o parlamentar, “cerceia o direito de ir vir dessas pessoas, de forma ameaçadora”.
- Eu acho isso um absurdo e um abuso. Uma pessoa é convocada pelo Senado e em seguida essa pessoa é ameaçada – lamentou o senador.
Pedido de proteção
Capiberibe pediu que o Senado encaminhe a denúncia, por meio da Mesa Diretora, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e convoque o presidente da Abin para “explicar o que está acontecendo”. O senador ainda pediu que o Senado solicite proteção da Polícia Federal a Fontelles.
– Qualquer acontecimento que ameace a integridade de Fonteles Filho, nós vamos responsabilizar a Abin – advertiu.
A senadora Ana Rita (PT-ES) manifestou apoio aos pedidos de Capiberibe e disse que Fontelles fez importantes denúncias na subcomissão. Ela também defendeu a convocação de diretores da Abin, para esclarecer os fatos que, para a senadora, merecem um acompanhamento por parte do Senado. O presidente Renan Calheiros lamentou o ocorrido e disse que vai aguardar o requerimento para poder convocar representantes da Abin para prestar informações ao Senado. Renan disse que apoiará a aprovação do requerimento.



Subcomissão quer explicações da Abin sobre ossadas achadas em Belém
Da Agência Senado  -
A Subcomissão Permanente de Memória, Verdade e Justiça deve enviar à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) um pedido de informações sobre a localização de ossadas que podem pertencer a desaparecidos políticos. A decisão foi tomada nesta terça-feira (17) pelo senador João Capiberibe (PSB-PA), que preside a subcomissão, vinculada à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).
Capiberibe reclamou da ausência injustificada da Abin, que havia sido convidada para a audiência pública. Segundo Paulo Fontelles Filho, do Comitê Paraense pela Memória, Verdade e Justiça, a agência comandou o recolhimento das ossadas encontradas em 2001, no Forte do Castelo, uma região histórica de Belém do Pará, e não divulgou nenhuma informação a respeito.
Conforme Fontelles, os operários das obras de requalificação da região confirmaram que as ossadas foram encontradas. Eles contam que os restos mortais foram recolhidos por um homem, chamado Leo, que trabalharia na Secretaria de Cultura do estado.
– Depois nós soubemos que esse suposto Leo era um policial militar aqui do DF recrutado pela Abin do Pará. E os organizadores dessa ação foram Magno José Borges e Armando Souza Dias – disse Fontelles.
Fontelles acrescentou que Magno e Armando pertenceram ao Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) durante o período de ditadura militar, estiveram no Araguaia, foram agentes do Serviço Nacional de Informações, e trabalham atualmente na Abin do Pará. O DOI-CODI era um órgão de inteligência e repressão subordinado ao Exército.
Para Fontelles, existe um Estado de repressão clandestino, composto de agentes que atuaram na época da ditadura e ocupam cargos no serviço público até hoje. O senador Capiberibe se mostrou preocupado com as informações e disse que é o momento de desmontar esse Estado clandestino, que teve, no seu entender, sua existência provada pelo recente desaparecimento do pedreiro Amarildo no Rio de Janeiro (o operário foi detido e assassinado por integrantes da PM daquele estado).
– Nós temos que nos preocupar e temos de buscar desmontar esse Estado clandestino para que não se repita o que nós vimos estarrecidos: o desaparecimento, na frente das câmeras, do pedreiro Amarildo. Essa é uma prova concreta da existência de um Estado clandestino que não tem nenhuma obediência à lei – disse o senador.
Para o senador, a Lei da Anistia (Lei 6.683/1979), que anistiou as vítimas de tortura e também os torturadores, permite que essa situação de repressão se perpetue. Paulo Fontelles, que teve o pai assassinado por pistoleiros da União Democrática Ruralista, disse que tem sido vigiado por parte de agentes da Abin.
A senadora Ana Rita (PT-ES), presidente da CDH, sugeriu que a subcomissão encaminhe as informações prestadas por Fontelles ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que ele peça uma investigação à Polícia Federal sobre o assunto. Capiberibe acolheu a sugestão de Ana Rita, e disse que também irá enviar um ofício à Abin, responsabilizando-a pelas pressões contra Paulo Fontelles Filho e Marco Antonio Moreira Antas, que estariam sendo seguidos e assediados.
– Vamos responsabilizar a Abin caso ocorra qualquer constrangimento físico, qualquer novo assédio. Peço que você nos comunique para podermos tomar a iniciativa – afirmou o senador, dirigindo-se a Fontelles.
A Guerrilha do Araguaia
Ficou conhecido como Guerrilha do Araguaia um movimento guerrilheiro criado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na região amazônica, ao longo do rio Araguaia, entre os fins da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970.  O movimento, que tinha o objetivo de fomentar uma revolução socialista, foi combatido pelas Forças Armadas a partir de 1972 e teve cerca de 60 militantes assassinados. Mais de 50 deles são considerados ainda hoje como desaparecidos políticos.
Segundo Maria Rita Kehl, membro da Comissão Nacional da Verdade, não houve de fato uma guerrilha, pois os militantes não morreram em combate. Na época, o Exército teria conseguido pistas para localizar os guerrilheiros com camponeses e indígenas que viviam na região. Os camponeses e indígenas teriam sido torturados para delatarem o paradeiro dos militantes.
– Eles ainda estavam se organizando e na terceira expedição o Exército conseguiu encontrá-los, e conseguiu encontrá-los porque torturou índios e camponeses – afirmou.
Kehl conversou com índios e camponeses da região. Segundo ela, o Exército, erradamente, dizia que os guerrilheiros eram terroristas. E os camponeses, mesmo sob tortura, quando os soldados lhes perguntavam onde estariam os terroristas, diziam que os terroristas eram os soldados.
– Eles diziam:” a gente não conhece aqui nenhum terrorista, conhece umas pessoas que eram legais com a gente, que faziam coisas boas. Quem está fazendo terror aqui são vocês”. E com aquela bravura característica do camponês, eles apanhavam ainda mais – relatou.
Segundo Kehl, os índios Suruí naquela época viviam muito isolados e não entendiam o que estava acontecendo na região. Ouvindo relatos dos próprios índios, Kehl contou que eles foram obrigados a cortar e a carregar cabeças dos guerrilheiros, o que foi muito traumatizante.
– Alguns índios disseram que, durante muito tempo, sonhavam e tinham a sensação horrível do sangue quente escorrendo nas costas deles – disse.
Resquícios da ditadura
Maria Rita Kehl apresentou as atuais dificuldades enfrentadas pelos índios Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, como resquícios da ditadura militar. De acordo com o seu relato, após a ditadura, foi criada no Maranhão, no Pará e em outros estados, a União Democrática Ruralista (UDR), uma milícia armada formada por grandes proprietários de terra para matar camponeses ou pessoas que resistam à tomada de suas terras.
Ela contou que, há 15 dias, proprietários de terra fizeram um leilão de gado para arrecadar dinheiro a fim de pagar milícias armadas que estão cercando os índios Guarani-Kaiowá.
– E o Estado brasileiro, aparentemente, não intervém – afirmou ela.
Presente na audiência, o juiz José Barroso Filho disse que é urgente que o Estado promova espaços de convivência entre os donos de terras e os Kaiowá, o que tiraria a tensão do conflito. Barroso afirmou que os índios estão isolados, sem nenhum atendimento por parte do Estado e que precisam de serviços básicos de educação e saúde. A falta da assistência necessária, completou ela, tem estimulado a prática de suicídio, já comum entre eles.
Maria Rita Kehl também citou o caso dos desaparecidos mortos pela Polícia Militar em São Paulo durante conflitos com o Primeiro Comando da Capital (PCC), em 2006. Na ocasião, disse ela, foram mortos mais de 500 jovens, o que é mais do que todos os militantes de esquerda que morreram na ditadura.
– Não só há um número enorme de jovens assassinado pela polícia, como de desaparecidos. Os pais e mães desses jovens não conseguem encontrar os corpos de seus filhos, porque eles também são ameaçados – ressaltou.
As mães desses jovens ficaram conhecidas como Mães de Maio. Capiberibe também vai encaminhar esses casos para o ministro da Justiça e agendar audiências públicas para o início de 2014 sobre o caso dos Kaiowá e para ouvir as Mães de Maio.
Agência Senado

ossadas

Folha mente para seus leitores, garante professor da Unicamp

Folha mente para seus leitores, garante professor da Unicamp
 
Para Eduardo Fagnani, é uma pena que o debate sobre temas nacionais como o sistema público de saúde seja interditado pela desinformação movida pelo antagonismo das posições políticas
 
 
 
 
O professor Eduardo Fagnani, da Instituto de Economia da Unicamp, ao ver a manchete da primeira página da Folha (9/12/13), ficou intrigado, resolveu pesquisar o assunto e constatou a manipulação da informação publicada pelo jornal. Suas observações viraram um texto do site GGN.
 
 
http://revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2013/12/eduardo-fagnani_350x230_.jpg
Eduardo Fagnani
 
 
Para o professor, a manchete não deixou margem à dúvida: “Ineficiência marca gestão do SUS, diz Banco Mundial”. A matéria destaca que essa é “uma das conclusões de relatório inédito obtido com exclusividade pela Folha”, aos desavisados a mensagem subliminar é clara: o SUS é um fracasso e o Ministro da Saúde, incompetente.
 
 
Veja o texto completo do professor:
 
A curta matéria da suposta avaliação do Banco Mundial sobre vinte anos do SUS é atravessada de “informações” sobre desorganização crônica, financiamento insuficiente, deficiências estruturais, falta de racionalidade do gasto, baixa eficiência da rede hospitalar, subutilização de leitos e salas cirúrgicas, taxa média de ocupação reduzida, superlotação de hospitais de referência, internações que poderiam ser feitas em ambulatórios, falta de investimentos em capacitação, criação de protocolos e regulação de demanda, entre outras.
 
 
Desconfiado, entrei no site do Banco Mundial e consegui acesso ao “inédito” documento “exclusivo”**. Para meu espanto, consultando as conclusões da síntese (Overview), deparei-me com a seguinte passagem que sintetiza as conclusões do documento (página 10):
 
“Nos últimos 20 anos, o Brasil tem obtido melhorias impressionantes nas condições de saúde, com reduções dramáticas mortalidade infantil e o aumento na expectativa de vida. Igualmente importante, as disparidades geográficas e socioeconômicas tornaram-se muito menos pronunciadas. Existem boas razões para se acreditar que o SUS teve importante papel nessas mudanças. A rápida expansão da atenção básica contribuiu para a mudança nos padrões de utilização dos serviços de saúde com uma participação crescente de atendimentos que ocorrem nos centros de saúde e em outras instalações de cuidados primários. Houve também um crescimento global na utilização de serviços de saúde e uma redução na proporção de famílias que tinham problemas de acesso aos cuidados de saúde por razões financeiras. Em suma, as reformas do SUS têm alcançado pelo menos parcialmente as metas de acesso universal e equitativo aos cuidados de saúde (tradução rápida do autor).
 
 
Após ler essa passagem tive dúvidas se havia lido o mesmo documento obtido pela jornalista. Fiz novos testes e cheguei à conclusão que sim. Constatado que estava no rumo certo continuei a ler a avaliação do Banco Mundial e percebí que as críticas são apontadas como “desafios a serem enfrentados no futuro”, visando o aperfeiçoamento do SUS.
 
 
Nesse caso, o órgão privilegia cinco pontos, a saber: ampliar o acesso aos cuidados de saúde; melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços de saúde; redefinir os papéis e relações entre os diferentes níveis de governo; elevar o nível e a eficácia dos gastos do governo; e, melhorar os mecanismos de informações e monitoramento para o “apoio contínuo da reforma do sistema de saúde” brasileiro.
 
 
O Banco Mundial tem razão sobre os desafios futuros, mas acrescenta pouco ao que os especialistas brasileiros têm dito nas últimas décadas. Não obstante, é paradoxal que esses pontos críticos ainda são, de fato, críticos, em grande medida, pela ferrenha oposição que o Banco Mundial sempre fez ao SUS, desde a sua criação em 1988: o sistema universal brasileiro estava na contramão do “Consenso de Washington” e do modelo dos “três pilares” recomendado pelo órgão aos países subdesenvolvidos.*** É preciso advertir aos leitores jovens que, desde o final dos anos de 1980, Banco Mundial sempre foi prejudicial à saúde brasileira.
 
 
É uma pena que o debate sobre temas nacionais relevantes – como o sistema público de saúde, por exemplo – seja interditado pela desinformação movida pelo antagonismo das posições políticas, muitas vezes travestido de ódio, que perpassa a sociedade, incluindo a mídia.
 
 
Que o espírito reconciliador Mandela ilumine os brasileiros – e o pobre debate nacional.
 
 
BAIXO O DOCUMENTO DO BANCO MUNDIAL AQUI
 
*Professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (CESIT/IE-UNICAMP) e coordenador da rede Plataforma Política Social – Agenda para o Desenvolvimento (http://www.politicasocial.net.br/).
 
**Twenty Years of Health System Reform in Brazil – An Assessment of the Sistema Único de Saúde. Michele Gragnolati, Magnus Lindelow, and Bernard Couttolenc. Human Development. 2013 International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank 1818 H Street NW, Washington DC.
 
***Consultar, especialmente: BANCO MUNDIAL (1990). World Development Report: Poverty. Washington, D.C; BANCO MUNDIAL (1991). Brasil: novo desafio à saúde do adulto. Washington, D.C. 1991; BANCO MUNDIAL (1993). World Development Report: Investing in Health. Washington, D.C; BANCO MUNDIAL (1994). Envejecimiento sin crisis: Políticas para la protección de los ancianos y la promoción del crecimiento. Washington, D.C; e BANCO MUNDIAL (1995). A Organização, Prestação e Financiamento da Saúde no Brasil: uma agenda para os anos 90. Washington, D.C.
 
 

Mandela morreu. Por que ocultar a verdade sobre o apartheid?


Mandela morreu. Por que ocultar a verdade sobre o apartheid?

19/12/2013 20:10
Por Fidel Castro Ruz - de Havana

A luta contra o apartheid foi longa, difícil e dolorosa e Cuba e os comunistas foram importantes aliados durante a Guerra Fria.
A luta contra o apartheid foi longa, difícil e dolorosa e Cuba e os comunistas foram importantes aliados durante a Guerra Fria
Talvez o império tenha acreditado que o nosso povo não honraria sua palavra quando, nos dias incertos do século passado, afirmamos que mesmo que a União Soviética desaparecesse, Cuba seguiria lutando.
A Segunda Guerra Mundial eclodiu quando, no dia 1 de setembro de 1939, o nazi-fascismo invadiu a Polônia e caiu como um raio sobre o povo heroico da União Soviética, que deu 27 milhões de vidas para preservar a humanidade daquela brutal matança que pôs fim à vida de mais de 50 milhões de pessoas.
A guerra é, por outro lado, a única atividade no curso da história que o gênero humano nunca foi capaz de evitar; o que levou Einstein a responder que não sabia como seria a Terceira Guerra Mundial, mas a Quarta seria a paus e pedras.
Somados os meios disponíveis, as duas potências mais poderosas, Estados Unidos e Rússia, dispõem de mais de 20 mil – vinte mil – ogivas nucleares. A humanidade deveria saber bem que, três dias depois de ascensão de John F. Kennedy à presidência de seu país, no dia 20 de janeiro de 1961, um bombardeiro B-52 dos Estados Unidos, em um voo de rotina, que transportava duas bombas atômicas com uma capacidade destrutiva 260 vezes maior que a utilizada em Hiroshima, sofreu um acidente que precipitou o aparato em direção ao chão. Em tais casos, equipamentos automáticos sofisticados aplicam medidas que impedem a explosão das bombas. A primeira atingiu o chão sem risco algum; três dos quatro mecanismos da segunda falharam, e o quarto, em estado crítico, funcionou por pouco; a bomba não explodiu por acaso.
Nenhum acontecimento presente ou passado do qual eu me lembre ou tenha ouvido falar impactou tanto a opinião pública mundial como a morte de Mandela; e não por suas riquezas, mas pela qualidade humana e a nobreza de seus sentimentos e ideias.
Ao longo da história, até apenas um século e meio atrás, e antes que as máquinas e robôs, a um custo mínimo de energia, se ocupassem de nossas tarefas, não existiriam nenhum dos fenômenos que hoje comovem a humanidade e regem inexoravelmente cada uma das pessoas: homens ou mulheres, crianças ou idosos, jovens e adultos, agricultores e trabalhadores fabris, manuais ou intelectuais. A tendência dominante é a de se instalar nas cidades, onde a criação de empregos, transporte a as condições elementares de vida demandam enormes investimentos em detrimento da produção de alimentos e outras formas de vida mais razoáveis.
Três potências fizeram artefatos aterrissarem na Lua do nosso planeta. No mesmo dia em que Nelson Mandela, envolto na bandeira de sua pátria, foi enterrado no pátio da humilde casa onde nasceu 95 anos atrás, um módulo sofisticado da República Popular da China descia em um espaço iluminado da nossa Lua. A coincidência de ambos os acontecimentos foi absolutamente casual.
Milhões de cientistas investigam materiais e radiações na Terra e no espaço; por meio deles sabe-se que Titã, uma das luas de Saturno, acumulou 40 — quarenta — vezes mais petróleo que o existente no nosso planeta quando começou a exploração do mesmo há apenas 125 anos, e, no ritmo atual de consumo, durará apenas mais um século.
Os fraternais sentimentos de irmandade profunda entre o povo cubano e a pátria de Nelson Mandela nasceram de um fato que nem sequer foi mencionado, e do qual não tínhamos dito uma palavra ao longo de muitos anos; Mandela porque era um apóstolo da paz e não desejava ferir ninguém; Cuba porque jamais realizou ação alguma em busca de glória ou prestígio.
Quando a Revolução trinfou em Cuba fomos solidários com as colônias portuguesas na África, desde os primeiros anos; os Movimentos de Libertação desse continente punham em xeque o colonialismo e o imperialismo, depois da Segunda Guerra Mundial e da libertação da República Popular da China — o país mais povoado do mundo —, depois do triunfo glorioso da Revolução Socialista Russa.
As revoluções sociais sacudiam as fundações da velha ordem. Os povoadores do planeta, em 1960, chegavam a 3 bilhões de habitantes. Paralelamente, cresceu o poder das grandes empresas transnacionais, quase todas nas mãos dos Estados Unidos, cuja moeda, apoiada no monopólio do ouro, e a indústria intacta pela distância das frentes de batalha, se fez dona da economia mundial. (O então presidente dos Estados Unidos), Richard Nixon, revogou unilateralmente o respaldo da sua moeda no ouro, e as empresas de seu país se apoderaram dos principais recursos e matérias-primas do planeta, que adquiriram com papéis.
Até aqui nada que não se conheça.
Mas, por que tentam esconder que o regime do apartheid, que tanto fez a África sofrer e indignou a imensa maioria das nações no mundo, era fruto da Europa colonial e foi transformado em potência nuclear pelos Estados Unidos e por Israel, regime que Cuba, um país que apoiava as colônias portuguesas na África que lutavam por sua independência condenou abertamente?
Nosso povo, que tinha sido cedido pela Espanha para os Estados Unidos depois da heroica luta de mais de 30 anos, nunca se resignou ao regime escravocrata que lhe foi imposto durante quase 500 anos.
Da Namíbia, ocupada pela África do Sul, partiram em 1975 as tropas racistas, apoiadas por tanques rápidos com canhões de 90 milímetros, que penetraram mais de mil quilômetros até as proximidades de Luanda, onde um Batalhão de Tropas Especiais cubanas — enviadas pelo ar — e várias tripulações também cubanas em tanques soviéticos que estavam lá sem efetivos, puderam contê-las. Isso aconteceu em novembro de 1975, 13 anos antes da Batalha de Cuito Cuanavale.
Já disse que não fazíamos nada em busca de prestígio ou qualquer benefício. Mas é um fato muito real que Mandela foi um homem íntegro, profundo e radicalmente socialista, que, com grande estoicismo, suportou 27 anos de prisão solitária. Eu sempre admirei sua honra, sua modéstia e seu enorme mérito.
Cuba cumpria com seus deveres internacionais rigorosamente. Defendia pontos-chave e treinava a cada ano milhares de combatentes angolanos no manejo das armas. A União Soviética fornecia as armas. No entanto, naquela época, não compartilhávamos da ideia do assessor principal da parte dos fornecedores de equipamento militar. Milhares de angolanos jovens e saudáveis ingressavam constantemente nas unidades de seu incipiente exército. O assessor principal não era, contudo, um (Georgui) Jukov (comandante-em-chefe das Forças Armadas Soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial), um (Konstantin) Rokossovsky (comandante da União Soviética e posterior ministro de Defesa da Polônia), um (Rodion) Malinosvky (sargento durante a Segunda Guerra Mundial e posterior ministro da Defesa da União Soviética) ou outros muitos que encheram de glória a estratégia militar soviética. Sua ideia obsessiva era enviar brigadas angolanas com as melhores armas ao território onde supostamente residia o governo tribal de (Jonas) Savimbi, um mercenário a serviço dos Estados Unidos e da África do Sul, que era o mesmo que enviar as forças que combatiam em Stalingrado à fronteira da Espanha falangista que tinha enviado mais de 100 mil soldados para lutarem contra União Soviética. Naquele ano estava sendo produzida uma operação desse tipo.
O inimigo avançava sobre as forças de várias brigadas angolanas, atingidas nas proximidades do local para onde eram enviadas, a 1,5 mil quilômetros, aproximadamente, de Luanda. Dali, vinham perseguidas pelas forças da África do Sul em direção a Cuito Cuanavale, antiga base militar da OTAN, a cerca de 100 quilômetros da primeira Brigada de Tanques cubana.
Nesse instante crítico, o presidente de Angola solicitou o apoio das tropas cubanas. O chefe das nossas forças no sul, general Leopoldo Cintra Frías, nos comunicou o pedido, algo que era habitual. Nossa resposta firme foi que prestaríamos esse apoio se todas as forças e equipes angolanos dessa frente se subordinassem às ordens cubanas no sul de Angola. Todo mundo compreendia que nosso pedido era um requisito para transformar a antiga base no campo ideal para atingir as forças racistas da África do Sul.
Em menos de 24 horas, chegou de Angola a resposta positiva.
Decidiu-se pelo envio imediato de uma Brigada de Tanques cubana até esse ponto. Várias outras estavam na mesma linha em sentido oeste. O obstáculo principal foi a lama e a umidade da terra em época de chuva, que deveria ser checada metro a metro para evitar minas terrestres. Foi igualmente enviado a Cuito o efetivo para operar os tanques sem tripulação e os canhões que necessitavam dele.
A base estava separada do território que se situa ao leste pelo caudaloso e rápido rio Cuito, sobre o qual havia uma única ponte. O exército racista a atacava desesperadamente; um avião teleguiado repleto de explosivos conseguiu acertá-la e inutilizá-la. Os tanques angolanos em retirada, que podiam se mover, cruzaram por um ponto mais ao norte. Os que não estavam em condições adequadas foram enterrados, com suas armas apontando para o leste; uma densa faixa de minas terrestres e antitanques transformaram a linha em uma armadilha mortal do outro lado do rio. Quando as forças racistas reiniciaram a investida e se chocaram contra aquela muralha, todas as peças de artilharia e os tanques das brigadas revolucionárias disparavam de seus pontos de localização na região de Cuito.
Um papel especial foi reservado para os caças Mig-23 que, a cerca de mil quilômetros por hora e a 100 — cem — metros de altura, eram capazes de distinguir se os artilheiros eram negros ou brancos, e disparavam incessantemente contra eles.
Quando o inimigo desgastado e imobilizado iniciou a retirada, as forças revolucionárias se prepararam para os combates finais.
Numerosas brigadas angolanas e cubanas se moveram rapidamente numa distância adequada até o oeste, onde estavam as únicas vias amplas por onde sempre os sul-africanos começavam suas ações contra Angola. O aeroporto, entretanto, estava aproximadamente a 300 — trezentos — quilômetros da fronteira com a Namíbia, ocupada tolamente pelo exército do apartheid.
Enquanto as tropas se reorganizavam e se reequipavam, decidiu-se com toda urgência construir uma pista de aterrisagem para os Mig-23. Nossos pilotos estava usando os equipamentos aéreos entregues pela União Soviética para Angola, cujos pilotos não tinham tido o tempo necessário para sua adequada instrução. Vários equipamentos aéreos estavam de fora devido a baixas que, às vezes, eram causadas por nossos próprios artilheiros ou operadores de meios antiaéreos. Os sul-africanos ocupavam ainda uma parte da rodovia principal que leva da borda do planalto de Angola até a Namíbia. Nas pontes sobre o caudaloso rio Cunene, entre o sul de Angola e o norte da Namíbia, começaram nesse momento com o joguinho de disparos de canhões de 14 milímetros que davam a seus projéteis um alcance de cerca de 40 quilômetros. O problema principal estava no fato de que os racistas sul-africanos possuíam, segundo nossos cálculos, de 10 a 12 armas nucleares. Tinham realizado testes inclusive nos mares e nas áreas congeladas do sul. O presidente Ronald Reagan tinha dado sua autorização, e entre os equipamentos entregues por Israel estava o dispositivo necessário pra fazer explodir a carga nuclear. Nossa resposta foi organizar o efetivo em grupos de combate de não mais de 1000 — mil — homens, que tinham de marchar à noite por uma grande extensão de terreno e dotados de carros de combate antiaéreos.
As armas nucleares da África do Sul, de acordo com relatos fidedignos, não podiam ser carregadas por aviões Mirage, requeriam bombardeiros pesados tipo Canberra. Mas, em todo caso, a defesa antiaérea de nossas forças dispunha de numerosos tipos de foguetes que podiam atingir e destruir alvos aéreos a até centenas de quilômetros de nossas tropas.
Adicionalmente, uma represa de 80 milhões de metros cúbicos de água, situada no território angolano, tinha sido ocupada e minada por combatentes cubanos e angolanos. A explosão daquela represa teria sido equivalente a várias armas nucleares.
Não obstante, uma hidrelétrica que usava as fortes correntes do rio Cunene, antes de chegar à fronteira com a Namíbia, estava sendo utilizada por um destacamento do exército sul-africano.
Quando, em seu novo teatro de operações, os racistas começaram a disparar os canhões de 140 milímetros, os Mig-23 atacaram com força aquele destacamento de soldados brancos, e os sobreviventes abandonaram o lugar deixando inclusive algumas posições críticas à revelia de próprio comando. Tal era a situação quando as forças cubanas e angolanas avançavam em direção às linhas inimigas.
Soube que Katiuska Blanco, autora de vários relatos históricos, junto a outros jornalistas e fotojornalistas, estava ali. A situação era tensa, mas ninguém perdeu a calma.
Foi então que chegaram notícias de que o inimigo estava disposto a negociar. Tinha-se conseguido pôr fim à aventura imperialista e racista; em um continente que em 30 anos terá a população superior à da China e da Índia juntas.
O papel da delegação de Cuba, com o falecimento de nosso irmão e amigo Nelson Mandela, será inesquecível.
Felicito o companheiro Raúl (Castro, presidente de Cuba) por seu brilhante desempenho e, em especial, pela firmeza e dignidade quando, com gesto amável, mas firme, cumprimentou o chefe de governo dos Estados Unidos e lhe disse, em inglês: “Senhor presidente, eu sou Castro”.
Quando a minha própria saúde colocou um limite para a minha capacidade física, não vacilei um minuto em expressar minha opinião sobre quem eu acredito que poderia assumir a responsabilidade. Uma vida é um minuto na história dos povos, e penso que quem assume hoje tal responsabilidade requer a experiência e autoridade necessárias para optar entre um número crescente, quase infinito, de variantes.
O imperialismo sempre reservará várias cartas para subjugar nossa ilha ainda que tenha que despovoá-la, privando-a de homens e de mulheres jovens, oferecendo-lhe migalhas dos bens e recursos naturais que saqueia do mundo.
Que falem agora os porta-vozes do império sobre como e porque surgiu o apartheid.
Fidel Castro Ruz é advogado, líder revolucionário, ex-presidente de Cuba e militante do Partido Comunista Cubano.
Publicado, originariamente, no site cubano de notícias Cuba Debate.