segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Ayotzinapa: suposto autor do massacre é detido

20/09/2015 - Copyleft

Ayotzinapa:

suposto autor do massacre é detido

O chefe da Comissão Nacional de Segurança confirmou a prisão de um dos líderes do grupo supostamente relacionado com a desaparição de 43 estudantes


Diário La Jornada, do México

reprodução
O chefe da Comissão Nacional de Segurança, Renato Sales, confirmou a prisão de Gildardo López Astudillo, um dos líderes do grupo criminoso Guerreros Unidos, supostamente relacionado com a desaparição dos 43 estudantes de Ayotzinapa, em setembro de 2014.

“Diversos acusados apontaram López como o principal executor da operação que levou à desaparição dos estudantes. As declarações se referem a ele como alguém de participação preponderante nos acontecimentos”, explicou Sales, em coletiva para a imprensa.

Segundo o funcionário federal, o trabalho de investigação até a captura de López durou 11 meses, tempo em que se mudou três vezes de residência – finalmente, tentou se ocultar em um apartamento na cidade de Taxco de Alarcón, no Estado de Guerrero.

Sales contou que López atuava como suposto chefe de uma quadrilha dedicada à extorsão e distribuição de droga em Iguala e Cocula, municípios do Estado de Guerrero. Além disso, o acusado já possuía uma sentença por sequestro qualificado. Gildardo López foi levado ao Distrito Federal do México, e colocado à disposição da SEIDO (sigla em espanhol da Secretaria Especializada na Investigação da Delinquência Organizada).

Renato Sales disse também que, até o momento, já foram presos 111 suspeitos de estarem vinculados ao crime contra os estudantes de Ayotzinapa.

De acordo com a declaração de outro dos suspeitos do caso, identificado como Felipe Rodríguez Salgado, López falou com ele por telefone na noite de 26 de setembro de 2014, e pediu para que ele “acionasse o seu pessoal” e os colocasse na entrada da cidade de Iguala, junto com os comandos das polícias municipais de Iguala e de Cocula, que levava cinco patrulhas e uma caminhonete branca para deter um grupo de jovens.

Rodríguez contou que ao chegar ao local, colocaram os estudantes na caminhonete e os levaram ao depósito de lixo de Cocula, mas que, “mais ou menos uns 25 morreram no caminho, por asfixia, e ficaram uns 15 vivos”, e que, então, “López e seu pessoal terminaram de executar o serviço”, primeiro com tiros, depois queimando os jovens, para depois regressar a Iguala, apesar de que ele sabia que todos eram estudantes.

Sidronio Casarrubias Salgado, líder principal do grupo Guerreros Unidos, que também já foi preso, declarou que Gildardo López Astudillo contou a ele sobre os estudantes, mas assegurou que eles pertenciam ao cartel rival, afirmando que “as ações foram para defender o território”.

A detenção de Gildardo López Astudillo foi confirmada um dia depois de que a Procuradora Geral da República, Arely Gómez González, informou sobre a identificação dos restos de outro dos estudantes de Ayotzinapa.

Embora se trate da identificação de um fragmento do osso, e que se baseia em resultados que não são 100% conclusivos, a Universidade de Innsbruck determinou que o resultado é positivo, devido a que existem 72 possibilidades de que esse fragmento analisado realmente pertença ao estudante Jhosivani Guerrero, e apenas uma possibilidade de que não seja.

Em novembro do ano passado, o então procurador Jesús Murillo Karam divulgou pela primeira vez a foto de Gildardo López Astudillo.

Animal Político

Por sua parte, a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), que atua como coadjuvante da defesa dos pais dos estudantes de Ayotzinapa, assegurou que o resultado obtido pelo Instituto de Medicina Legal de Innsbruck, que identificou o ADN mitocondrial de um fragmento ósseo encontrado no rio San Juan, como pertencente a Jhosivani Guerrero de la Cruz, “só pode ser considerada uma possibilidade”. Os profissionais argentinos defendem – como já haviam feito no dia 7 de fevereiro – que existem “muitas dúvidas a respeito da origem das mostras analisadas”.

O comunicado da EAAF, em resposta ao que foi divulgado durante a noite pela titular da Procuradoria Geral da República (PGR), Arely Gómez, só começou a circular depois que os peritos se reuniram com Martina de la Cruz e Margarito Guerrero Tecoapa, pais do desaparecido Jhosivani Guerrero, ambos camponeses da cidade de Omeapa, na região de Tixtla.

O indício genético, segundo a EAAF, é “questionável e não definitivo”. Além disso, disseram que faltam evidências seguras de que os resíduos encontrados pelos mergulhadores da Marinha, e entregues aos agentes da PGR, são efetivamente procedentes do depósito de lixo de Cocula.

“Os dois lugares onde se encontraram os restos (o rio San Juan e o depósito de lixo de Cocula) são incertos e problemáticos’’, afirmaram os legistas.

O comunicado também comenta que a diligência de “recuperação dos restos”, realizada no dia 28 de outubro do ano passado, foi feita sem a participação dos peritos coadjuvantes, apesar de que havia um acordo de trabalhar em todos os passos da investigação de maneira conjunta.

Até o momento, a PGR tampouco lhes entregou os históricos que certificam cada passo na custódia de cada uma das evidências recolhidas pela investigação até o momento, com as devidas assinaturas que confirmem essas informações.

A equipe argentina reiterou aquilo que sustenta desde o dia 7 de fevereiro, uma semana depois de que o procurador Jesús Murillo Karam anunciou suas conclusões sobre o caso Iguala. Nessa ocasião, os peritos independentes puseram em dúvida que o fragmento ósseo que foi identificado como pertencente ao estudante Alexander Mora Venancio tivesse sido efetivamente incinerado em Cocula e jogado ao rio. Hoje, levantam a mesma dúvida a respeito da segunda identificação.

Afirmam eles: “o EAAF não esteve presente no momento em que os mergulhadores e os peritos da PGR mencionam ter recuperado os restos, no dia 29 de outubro de 2014, numa das bolsas encontradas no rio San Juan. Tampouco participou na descoberta do fragmento de osso que a Procuradoria indicou ter recolhido da mesma bolsa”. As mesmas dúvidas prevalecem no caso de Jhosivani. Por tudo isso, concluem que o caso de Iguala “é um caso aberto, não um caso encerrado”.

O tratamento às famílias

Os especialistas do grupo forense, um dos mais reconhecidos do mundo em sua especialidade, questionou, novamente, o tratamento que a PGR deu aos familiares dos estudantes desaparecidos, sobretudo quando a procuradora Arely Gómez anunciou publicamente a possível identificação de um dos jovens sem ter falado antes com os seus pais.

Um grupo de pais das famílias de Ayotzinapa, entre os quais se encontrava Margarito Guerrero, foram notificados ao meio-dia que deveriam viajar ao Distrito Federal porque receberiam informações da Procuradoria. O Centro de Direitos Humanos Miguel Agustín Pro pediu à procuradora que esperasse os progenitores dos garotos desaparecidos, mas ela não atendeu o apelo da entidade, e se apresentou aos meios de comunicação sem informar anteriormente as famílias.

A equipe de legistas argentinos advertiu que “a urgência na comunicação pública” de resultados delicados, como o desta quarta-feira (16/9), “leva ao risco de acabar com o direito das famílias das vítimas, de conhecer os resultados relativos a seus entes queridos com o devido tiempo e a assistência necessária. Em se tratando de notícias tão delicadas, nenhuma família deveria ser informada dessa forma, através da imprensa”.

Esta semana, um grupo da equipe argentina viajou a Tixtla, no Estado de Guerrero, acompanhado pelo diretor do Centro Pro, Mario Patrón, e por Ximena Antillón, psicóloga que trabalha no acompanhamento psicossocial dos familiares dos 43. Juntos, tiveram uma longa conversa com os pais e com os irmãos de Jhosivani, na Escola Normal Raúl Isidro Burgos, de Ayotzinapa. Lá, eles explicaram os detalhes das implicações técnicas e legais da informação divulgada pela PGR. O estudante era o caçula de uma numerosa família de camponeses. Também é um dos mais jovens do grupo de desaparecidos, com 20 anos. Em seu povoado, que tem menos de 500 habitantes, a metade da população é analfabeta.

Os resultados

A equipe recordou que, em novembro de 2014, eles e a Procuradoria Geral da República enviaram ao laboratório austríaco – por recomendação do próprio EAAF – 17 fragmentos ósseos. O Centro de Innsbruck é considerado um dos melhores do mundo em identificação genética de restos, e capazes de resolver casos particularmente difíceis. Inicialmente, os forenses austríacos tentaram obter o DNA nuclear (do pai, da mãe ou dos irmãos de sangue) das amostras. Não tiveram sucesso nos primeiros 16 fragmentos analisados. Na 17ª amostra, obtiveram um perfil completo, que coincidiu com o DNA da família de Alexander Mora.

Posteriormente, tentaram realizar uma análise ainda mais específica, conhecida como “sequenciamento massivo paralelo”. Em sete das amostras, a conclusão foi que os restos supostamente recolhidos no el rio San Juan e procedentes da hipotética fogueira de Cocula, não são ‘‘de origem especificamente humano’’. Finalmente, tentaram a via da análise mitocondrial (procedente da mãe). Fortaleceram, assim, a demostração obtida nos restos de Alexander Mora – com um osso da base do crânio – e logo obtiveram indícios parecidos nas análises sobre as amostras que seriam pertencentes a Jhosivani.

Porém, a EAAF adverte que “as duas amostras provêm da bolsa que, segundo a PGR, foi recuperada no rio San Juan, nos arredores de Cocula” e não diretamente do depósito de lixo.

A possibilidade de haver coincidência entre o DNA de Martina de la Cruz e os restos ósseos analisados é “baixa, em termos estatísticos”, dizem os especialistas austríacos.

Ainda assim, a equipe de legistas argentinos insiste em questionar o problema do local de procedência dos restos, que impediria, segundo eles, uma conclusão a respeito da descoberta. “O valor do resultado, sobre a amostra que poderia pertencer ao jovem Jhosivani, perde muito em consistência, e impede que se defina o que realmente aconteceu naquele dia”, afirma o comunicado da equipe forense.

Inconsistências

O novo texto da EAAF, referente ao seu trabalho no caso de Iguala, recorda as inconsistências e irregularidades apresentadas no recolhimento das evidências desde o começo das investigações. Sobre os restos coletados pelos peritos das duas entidades – a equipe argentina e a PGR –, se encontraram fragmentos que não pertenciam aos estudantes. Por exemplo, um dos fragmentos de mandíbula humana possuía dentes e prótese dental. Nenhum dos jovens desaparecidos usava prótese.

A EAAF concorda com uma das teses que o Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes da CIDH divulgou recentemente, no dia 6 de setembro, ‘‘através de uma perícia sobre os incêndios e a dinâmica do fogo, com a que se descarta a versão apresentada pela Procuradoria Geral da República, que teria somente editado as declarações dos suspeitos detidos até o momento, e levou à hipótese de que os 43 cadáveres foram incinerados no depósito de lixo de Cocula”.

Tradução: Victor Farinelli



Créditos da foto: reprodução

Papa Francisco: é preciso impedir a Terceira Guerra Mundial

20/09/2015 - Copyleft

Papa Francisco: é preciso impedir a Terceira Guerra Mundial

O papa adverte sobre Terceira Guerra Mundial e pede para que os EUA aprofundem relações com Cuba. Frei Betto quer Prêmio Nobel da Paz para Francisco.


Darío Pignotti, enviado especial a Havana
Eduardo Santillán / Presidencia de la República
Batinas ao vento. O papa Francisco perde seu solidéu por alguns segundos, ontem, às 16h04 hora de Havana, enquanto descia as escadas do avião, já em Cuba, no Aeroporto José Martí, em pleno início da temporada de chuvas e furacões.

Francisco falou com o presidente Raúl Castro medindo cada palavra, com parcimônia: ele tem consciência de que esta é uma viagem histórica. É possível que essa turnê por Cuba e Estados Unidos marque o fim da Guerra Fria norte-americana contra Cuba, um país castigado por sua obstinação em ser soberano.

O chefe de Estado do Vaticano renovou suas intenções de aprofundar a aproximação entre Havana e Washington, iniciada em dezembro do ano passado, quando Raúl e Barack Obama anunciaram o reinício dos vínculos diplomáticos.

O papa pediu a Raúl e Obama que sejam capazes de dar “um exemplo de reconciliação para o mundo inteiro, um mundo que precisa de reconciliação em meio a esta Terceira Guerra Mundial”.

A referência à Terceira Guerra Mundial não constava no texto original, foi incluída pelo papa após reflexão durante o voo que saiu de Roma.

Sem dúvidas esta é a viagem mais importante de Francisco desde o começo do seu papado, iniciado no dia 13 de março de 2013 – uma semana depois da morte de Hugo Chávez, o mais vigoroso líder latino-americano surgido no Século XXI.

Por sua parte, Raúl Castro agradeceu a colaboração de Francisco para melhorar as relações com os Estados Unidos, mas foi direto ao falar do bloqueio, o assunto principal da agenda cubana.

O bloqueio “é cruel, imoral e ilegal, precisa terminar o quanto antes”, afirmou o mandatário, avisando que só haverá relações com a Casa Branca quando o território de Guantánamo, onde atualmente há uma base militar e um presídio onde se violam os direitos humanos, seja devolvido.

O líder cubano também reivindicou a autodeterminação dos povos e exigiu respeito às decisões de cada nação latino-americana, e também a imposição externa de modelos de governo. Uma referência clara à prepotência norte-americana ao querer exportar sua democracia de mercado como único sistema político global.

Raúl destacou que, desde o triunfo da Revolução, Cuba vem enfrentando uma batalha pela igualdade e a defesa dos direitos do povo. “O capitalismo aliena os cidadãos com reflexos e padrões de conduta que só servem aos interesses de seus donos”, afirmou.

Cerca de cem mil pessoas saudaram o sumo pontífice em seu passeio com o papamóvel, desde o aeroporto até a Nunciatura, segundo o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.

A Rádio Rebelde de Havana realizou uma cobertura especial da visita de “Sua Santidade”, assim como outros dos meios importantes do país.

Em seus boletins informativos de ontem, a emissora fundada por Ernesto Che Guevara – em Sierra Maestra, em 1958 – considerou “limitadas” as medidas anunciadas na semana passada pelos Estados Unidos, para atenuar o bloqueio. Em sua seção internacional, a rádio dedicou bastante espaço à presença de Cristina Kirchner em Cuba, e também ao “alerta” da mandatária argentina sobre um “plano desestabilizador” em seu país.

Durante seu discurso de boas-vindas a Francisco, o presidente Raúl Castro também expressou sua preocupação com respeito às ofensivas contra mandatários progressistas da região.

Jorge Mario Bergoglio celebrará uma missa neste domingo, em plena Praça da Revolução da capital cubana, e depois viajará para a cidade de Holguín, na segunda-feira (21/9). Na terça, encerrará sua visita ao país em Santiago de Cuba, onde embarcará rumo aos Estados Unidos.

Duas horas antes da aterrissagem de Francisco, no centro histórico da cidade de Havana, o sol ainda brilhava e se sentia uma suave brisa – “rica”, como dizem aqui.

Havana é uma Babel de jornalistas internacionais, peregrinos vindos de toda a América Latina e dos Estados Unidos, mesclados aos turistas brancos como o papel da Bíblia, passeando de sandálias e meias pelo Malecón, nas proximidades do Monumento ao Maine, o navio norte-americano afundado em 1898, quando estava ancorado em frente à costa cubana. Um dos visitantes gringos fotografa as duas colunas que recordam aquele incidente militar, que serviu de pretexto para o assédio norte-americano contra a ilha. Outros turistas ignoram o monumento erguido a poucas quadras da embaixada estadunidense, reaberta em julho passado.

Esses turistas, menos atentos ao patrimônio arquitetônico, preferem observar umas morenas esplendidamente desinibidas, tomando sol na orla da praia.

“É bom que o papa argentino venha nos visitar”, responde uma das garotas, quando pergunto a ela sobre o tema que está na boca de todos. Consultada sobre sua religião, ela somente diz: “não sou católica, mas me dou bem com os católicos”, e não tocou mais no assunto.

Bergoglio foi recebido pelos cubanos com o afeto e a hospitalidade típica da ilha, mas sem o mesmo fervor que certamente teria se estivesse no México ou em outros países latino-americanos, mais fanaticamente católicos.

Na sexta-feira, na catedral onde o sumo pontífice estará hoje, dezenas de jovens oraram e cantaram até quase meia-noite – eles sim, com um entusiasmo místico.

Os cubanos católicos representam menos de 30 % de uma população que é muito religiosa, mas que, em sua maioria, cultiva as divindades trazidas pelos escravos africanos, “como acontece no Brasil, no Estado da Bahia”, comparou ontem o teólogo dominicano Frei Betto, que completou mudando de assunto: “Francisco merece receber o Prêmio Nobel da Paz. por tudo o que já fez (para reaproximar os governos de Cuba e dos Estados Unidos)”.

“O fato de o papa ir a Cuba antes de passar pelos Estados Unidos é um reconhecimento à soberania deste país. Alguém se perguntou por que ele decidiu passar por Holguín? Porque é a cidade mais próxima à base de Guantánamo”, comentou o intelectual brasileiro.

Autor do livro “Fidel e a Religião”, publicado em 1985, Frei Betto recordou alguns momentos das relações entre o líder revolucionário e a Igreja.

Lembrou que, no começo dos Anos 60, o recém iniciado governo dos “barbudos” enfrentou a sedição católica, alinhada com a contrarrevolução.

Os templos eram redutos da conspiração, de grupos extremistas, entre os quais chegou a haver “um padre louco que levou 14 mil crianças” aos Estados Unidos, alegando que o comunismo os distanciaria de seus pais.

Finalmente, segundo Frei Betto, Fidel estabeleceu um diálogo frutífero com o catolicismo, especialmente com a Teologia da Libertação, e nunca rompeu esses laços criados com o Vaticano.

Antes de terminar esta crônica, ouço o porta-voz Lombardi mencionar que Cuba e a Santa Sé cumpriram 80 anos de relações ininterrompidas, e comunicou que o papa e Fidel poderiam se reunir ainda neste domingo.

Ramón Labañino Salazar é um dos cinco “heróis nacionais” de Cuba, preso durante 17 anos na Flórida, até que recuperou a liberdade, em dezembro do ano passado, quando Obama e Raúl Castro restabeleceram os vínculos rompidos havia mais de meio século.

Símbolo desse descongelamento, Labañino Salazar declarou que “todos os cubanos esperamos essa conversa entre Fidel e o papa, este é o terceiro papa que o comandante vai receber, depois de João Paulo II (em 98) e Bento XVI (há 3 anos)”.

“Será um momento histórico singular, de futuro, de amor e de otimismo. Porque demonstra que os tempos estão sempre a favor da revolução. Fidel sempre esteve certo, não é só o líder da revolução cubana, mas sim um líder para o mundo. E o papa também simboliza esses valores universais. É a unidade de dois homens que se aliaram na luta em favor dos pobres” respondeu Labañino Salazar, em conversa com a Carta Maior.

Tradução: Victor Farinelli



Créditos da foto: Eduardo Santillán / Presidencia de la República

Laurindo Lalo Leal Filho: Os jornais e o ódio fabricado

13 de setembro de 2015 - 13h59

Laurindo Lalo Leal Filho: Os jornais e o ódio fabricado 

Houve época no Brasil em que a oferta diária de jornais passava de uma dezena. Embora a maioria­ estivesse alinhada com interesses conservadores, existiam alternativas. Basta lembrar o Última Hora, de Samuel Wainer, comprometido com a defesa de causas populares.

Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil


  
Hoje os jornais são poucos e quase sempre iguais. É comum vermos em determinados dias fotos e manchetes idênticas estampando suas capas. Mesmice que acompanha os conteúdos, unificados em linhas editoriais voltadas para fustigar diariamente o governo federal.

Mas evitam ultrapassar certa linha de ataques que os levaria ao ridículo. Afinal, têm uma aura de seriedade que precisa ser preservada. Para escapar dessa encruzilhada, abrem espaço para que terceiros digam o que eles gostariam de dizer.

Nos editoriais, em que se expressa a “voz do dono”, surgem por vezes argumentos ponderados em defesa das instituições democráticas e de respeito aos resultados eleitorais. É a seriedade oferecida como álibi para dar a leitores radicalizados e personagens opacos os espaços necessários para as suas diatribes contra o governo, os movimentos populares e mesmo as instituições republicanas.

As seções de cartas dos leitores são um espaço muito mais nítido que os editoriais para conhecermos o que pensam os donos do jornal sobre determinado assunto. Alguns só publicam cartas que dizem o que lhes interessa, outros tentam disfarçar com mensagens divergentes, sempre em número e contundência menor que as outras.

Nas reportagens, a escolha das fontes é primorosa. Da noite para o dia surgem “líderes” de movimentos cujas origens e sobrevivência são obscuras. Ganham espaços generosos no noticiário porque dizem o que os jornais querem falar, mas não têm coragem. Não voltariam, por exemplo, a acenar com o “fantasma do comunismo”, mas deixam que seus entrevistados o ­façam à vontade.

Nem fazem a apologia escancarada do impeachment da presidenta, sabedores da sua inconsistência jurídica, mas colocam essa palavra na boca dos seus personagens e fazem questão de destacá-la nas fotos das manifestações conservadoras. Para não falar dos defensores da “intervenção militar”, igualmente abrigados nos jornais por textos e imagens. O crime contido na mensagem raramente é mencionado.

Não vale relativizar tudo isso dizendo que pouca gente lê jornais. É verdade que as tiragens no Brasil são baixíssimas, mas as mensagens impressas vão muito além da leitura do jornal. Elas reverberam pela internet, onde os sites de notícias que as reproduzem são os mais acessados.

Espalham-se pelas emissoras de rádio, tanto nas noticiosas como nas de entretenimento. As primeiras usando as notícias para a elaboração de suas pautas, indo atrás dos personagens dos jornais, para pôr no ar vozes até então desconhecidas. As outras, encaixando entre músicas, receitas e aconselhamentos pessoais a leitura do noticiário impresso, feita de forma sedutora, quase sempre coloquial. São os chamados comunicadores populares falando para milhões de ouvintes diariamente através do rádio.

Na televisão, esse aparelho que mesmo que não queiramos somos obrigados a ver em salas de espera, bares, restaurantes e outros lugares públicos, estão os telejornais e seus comentaristas repercutindo aquilo que está estampado nos jornais.

Para não falar das bancas nas ruas, onde transeuntes se juntam para ler e, às vezes, comentar as manchetes. Assim como dos outdoors e dos painéis nos pontos de ônibus e nas TVs dentro deles e dos vagões dos metrôs, mostrando as capas de revistas transformadas em peças de propaganda política fora do período eleitoral.

Resultado de tudo isso: a grande maioria da sociedade, mesmo passando longe dos jornais impressos, é por eles impactada absor­vendo o ódio que destilam contra governos, partidos e causas populares, vociferado em manifestações de rua e nas redes sociais.

A linha editorial desses jornais é responsável também pela­ exacerbação da crise econômica, fazendo com que muitas pessoas, mesmo imunes a ela, sintam-se atingidas. Os agentes econômicos se retraem, a crise se acentua e o país todo sofre as consequências.
      

A nova direita brasileira odeia a América Latina


A nova direita brasileira odeia a América Latina

Bruno Lima Rocha | Instituto Humanitas de Ensino - 12/09/2015 - 12h15
Como o Brasil é o fiel da balança no continente, afastá-lo da América Latina é objetivo estratégico e finalista de qualquer política reacionária
Em tempos de avançada da nova direita ideológica brasileira, nota-se o retorno de uma velha prática política latino-americana. Na metade do século XX vivíamos na América Latina um paradoxo. Por um lado, havia alguns governos com cortes nacionalistas e apelos populares (e populistas, por mais que se reconheça a controvérsia em torno deste termo). O exemplo acabado era o governo de Juan Domingo Perón na Argentina (ao menos no período 1946-1955), mas poderíamos reparar o mesmo no Brasil de Getúlio Vargas, em especial no seu segundo governo para o qual fora eleito em 1950 e derrubado por um golpe que o levara ao suicídio em 24 de agosto de 1954.
Vale observar um detalhe nas trajetórias. Por mais que Getúlio tenha influenciado líderes semelhantes no Continente, é preciso constatar que o apelo populista implica mobilização das massas organizáveis e em disponibilidade, e Vargas só usara este recurso no período de 1930 a 1945 quando do final da ditadura do Estado Novo (período de 1937 a 1945), quando estabelecera uma aliança com o Partido Comunista do Brasil (então PCB) e conclamara o trabalhismo para exigir o Queremos Vargas. Assim, não seria equivocado considerar o auge do populismo varguista justamente com o período mais tenso de sua trajetória, antes de seu suicídio. As coincidências não param por aí. Juan Domingo Perón também foi derrubado por um golpe militar, conhecido como Revolução Libertadora, em 16 de novembro de 1955. Este paradoxo se reproduzia em maior ou menor medida, fazendo da emancipação nacional o fator a agregar as massas, infelizmente superando a luta de classes e popular, ao menos em sua forma direta.
Assim, o nacionalismo latino-americano, de raízes anti-coloniais e antiimperialistas, fora revivido em período de Guerra Fria, trazendo à tona o conflito entre “gorilas” x “populistas”. No Brasil, esta versão ganhara o contorno do conflito entre “nacionalistas” x “entreguistas”, cujo termo equivalente em castelhano é o de “vende pátria”. Dentro das Forças Armadas (FFAA) o conflito se dera entre as alas Nacionalistas (mais vinculadas ao varguismo ou ao PCB) e tendo em contra primeiro a chamada Cruzada Democrática, mas cujo embrião pariu o ovo da serpente, com o partido militar e os conspiradores que resultaram no golpe militar de 1964 e o regime ditatorial instalado pelos altos mandos castrenses (1964-1985).
Como caracterização poderíamos afirmar a prática do gorilismo como sendo essencialmente uma ação política com identidade anti latino-americana, como uma espécie de ódio auto-proclamado a si mesmo (nós mesmos) e com evidentes contornos racistas. O contraponto ao gorilismo seria o ideal de progresso e desenvolvimento inclusivo, refletido desde o pensamento cepalino (inspirado nas teses da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe,CEPAL, órgão permanente das Nações Unidas), passando pelas diversas correntes do estruturalismo e também manifestado na Teoria da Dependência, ou nas teorias da dependência e do subdesenvolvimento. Os latino-americanos integral ou parcialmente alinhados com o “Ocidente” querem uma integração de nossos países de forma subordinada e submissa, e este marco tem uma história pregressa que vem de muito antes das relações carnais com os EUA (manifesta pelo ex-presidente argentino, o mafioso Carlos Saúl Menem) ou asneiras semelhantes. 
Infelizmente, este alinhamento submisso se mantém como expectativa da boa política através da restauração imperialista. As práticas gorilas, como as manifestadas nas ruas do Brasil quando a direita ideológica e neoliberal sai às ruas aos domingos, após a missa e antes do futebol com direito a transmissão dos “protestos” em rede nacional de TV, estão justamente expressas no afastamento do Brasil para com a América Latina. Quando muito, esta “nova” direita, uma espécie de versão pós-moderna dos mesmos Chicago Boys de sempre, faz o elogio da linha chilena, cujo país fora laboratório de sociopatas, alunos de Milton Friedman na Universidade de Chicago, e onde a ditadura militar de Augusto Pinochet foi acompanhada do pior do neoliberalismo.
Orlando kissner/ Fotos Públicas

Protesto realizado em Curitiba em 15 de março
A demência da nova direita brasileira está realmente abusando. Alguns cartazes e gritos de guerra trazidos a público no Brasil em 16 de agosto de 2015 lembram a operação anterior ao golpe contra o governo Salvador Allende, derrubado em 11 de setembro de 1973. No Brasil do terceiro turno, temos o desprazer de ler frases como “Foda-se a Venezuela”, o clássico “Vai para Cuba”, ou então coro político cantando: “Pé na bunda dela, isso aqui não é a Venezuela!”. E, obviamente, lado a lado com os neoliberais marcham saudosos da ditadura brasileira, incluindo faixas em inglês pedindo intervenção do Comando Sul dos EUA no Brasil.
Assim, embora o ministro da Fazenda de Dilma Rousseff em seu segundo mandato, o executivo do sistema financeiro Joaquim Levy, seja ele próprio um autêntico Chicago Boy, isso não basta para aliviar a pressão sobre um governo de centro-direita. Mesmo com Levy tendo obtido seu Ph.D. em economia pela Universidade de Chicago, título obtido em 1993 com a tese “Two empirical tests of exchange rate target zones”, cuja área de concentração é economia internacional , e logo após trabalhado para o FMI de 1992 a 1999, a sanha continua.
 

'Extermínio de opositores foi essencial para instalar modelo neoliberal em ditadura chilena', diz jornalista

'Ainda estou aqui', de Marcelo Rubens Paiva: estamos condenados a esquecer?

Manifestantes lotam as ruas de Barcelona para reivindicar independência da Catalunha


A oposição ideológica é tão anti-latinoamericana que identifica as agendas sociais do pacto de classes do lulismo (tímidos investimentos, cujo montante não se compara com os mais de 40% do orçamento brasileiro alocado para rolagem da dívida pública, garantindo a farra dos bancos e agiotas) com as práticas de assistência e paternalismo promovidas por lideranças de estilo populista e de corte latino-americano.
Nada poderia ser mais falso e, ao mesmo tempo, trata-se da desinformação perfeita. Como o anti-latinoamericanismo brasileiro é parte da formação do país e o absurdo pacto de independência, onde os patriarcas do novo Império aceitaram manter a escravidão em troca da integridade territorial do país, é fácil atingir qualquer governo de centro-esquerda (por mais que este seja tímido, policlassista e subordinado aos interesses dos agentes econômicos nacionais) taxando-o de pró América Latina. Logo, em sendo a favor do Sul, por oposição evidente, estaríamos em contra o “grande irmão do norte”, a matriz do Ocidente contemporâneo localizado no Império dos Estados Unidos.
Não surpreende observar que todas as posições oligárquicas a combater os governos de centro-esquerda na América Latina da virada democrática pós-1998 (primeira eleição de Hugo Chávez) reproduzam a mesma linha dos atuais opositores neoliberais. Particularmente nunca acreditei em etapismo, como se o desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo nos levasse rumo a uma sociedade justa e soberana. Longe disso. Mas, ao mesmo tempo, seria absurdo não reconhecer a urgente necessidade de, ainda dentro das condições concretas do capitalismo periférico e semi-periférico que se pratica na América Latina, é urgente deixarmos de ancorar as balanças comerciais em venda de produtos primários e na exploração de recursos minerais e hidrocarbonetos.
Apenas esta constatação já nos coloca em oposição aos desígnios da superpotência – o império dos EUA – para nossos destinos. No caso brasileiro não é diferente. Como o Brasil - em função de sua envergadura e peso relativo - termina sendo o fiel da balança no continente, afastar o país da América Latina colocando-o de costas para os países hermanos é objetivo estratégico e finalista de qualquer política reacionária promovida por oligarcas latino-americanos e que odeiam suas/nossas próprias raízes.
*  Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e relações internacionais
** Artigo publicado originalmente pelo IHU

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares, nº 617



20% 



Uma boa alternativa!
O site do jornal Brasil Popular (www.brpopular.com.br) entrou no ar no sábado (29) à noite durante um jantar com a presença de mais cem jornalistas que se uniram para resistir ao atraso midiático no Brasil. Por enquanto, o jornal é eletrônico (pela internet), mas deve ser lançada a versão impressa em breve, com distribuição gratuita.
Com notícias, reportagens e análises do quadro nacional e internacional, o Brasil Popular pretende, a exemplo da antiga Última Hora, jornal fundado em 12 de junho de 1951 por Getúlio Vargas e Samuel Wainer, “defender as conquistas populares, a democracia e fortalecer a consciência nacional em torno de um projeto de nação soberana e independente, desafiando o golpismo midiático. Estamos seguros de que as forças sociais que foram capazes de eleger por quatro vezes governos progressistas, têm capacidade, e também o dever, de organizar um jornal de grande circulação popular”.
“Nos últimos 12 anos e meio”, diz o editorial do BP, “o Brasil registrou uma mudança importante em seus indicadores econômicos e sociais, conquistas reconhecidas por organismos internacionais. A ONU reconheceu que o Brasil saiu do Mapa da Fome, a OIT registrou queda do trabalho infantil, a OMS marcou o declínio da mortalidade infantil, a CEPAL afirma que reduzimos a pobreza e a miséria, e até mesmo o Banco Mundial reconhece a redução das desigualdades sociais”.
“O curioso é que dentre tantas mudanças havidas no Brasil, não houve o surgimento de uma mídia popular com capacidade para fazer a narrativa destas relevantes conquistas. Afinal, o Brasil ter saído do Mapa da Fome já é uma notícia retumbante, justificando ampla informação e reflexão pelos brasileiros.  No entanto, predomina na mídia brasileira um noticiário negativo, fraudulento, como se o Brasil estivesse em retrocesso, o que afronta a realidade”.
Seus fundadores, reunidos na Associação de Jornalistas do Brasil Popular, definem-se como “uma iniciativa cooperativa, que está estruturando apoios e sustentação entre os segmentos sociais que participaram ativamente destas mudanças, independentes de sua filiação partidária: Para isto estamos criando um grande mutirão. Começamos por Brasília, mas queremos nos estruturar em todas as capitais. Quem tiver interessado em colaborar, busque neste site as formas de associação a este projeto”.
Os fundadores do jornal se proclamam como “cidadãos e cidadãs progressistas, inquietos com a falta de um jornal que se diferencie da ditadura midiática brasileira, reunidos para propor a criação de um jornal impresso popular para defender os valores democráticos e uma sociedade cada vez mais igualitária”. Inicialmente terá a sustentação da Associação do Jornal Brasil Popular, mas a ideia é a futura formação de uma cooperativa para continuar o projeto.
Quem manda ($$$$$$) na mídia brasileira! A revista Forbes-Brasil divulgou na sexta-feira (28) a lista dos bilionários brasileiros de 2015. Uma verdadeira aberração num país com tanta disparidade social. O novo ranking conta com 160 ricaços. Juntos, eles somam um patrimônio de R$ 806,66 bilhões - o equivalente a quase 15% do PIB do país.
Como já era de se esperar, a revista Veja correu para “paparicar” os bilionários tupiniquins e divulgou matéria sobre a vida dos muitos ricos, enaltecendo o “trabalho” que tiveram para chegar a tal posto. Em particular, muitos elogios a Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, que praticamente duplicaram suas fortunas desde o ano passado. Mas nada fala sobre os “barões da mídia”, também citados na lista da Forbes.
Apenas através de “Meios&Mensagens”, uma página na internet especializada em mídia, podemos tomar conhecimento da verdade: “O setor de mídia brasileiro é o oitavo mais representativo em um ranking de 13 setores liderado por indústria, bancos e alimentos, divulgado anualmente pela revista Forbes”.
“No setor de comunicação são oito empresários de quatro companhias distintas. Na quinta posição geral está a família Marinho, das Organizações Globo, representada por João Roberto Marinho, José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho que, individualmente, possuem R$ 23,8 bilhões. Da família Marinho para o próximo da lista a diferença é considerável: Edir Macedo, da Record, está na 74º posição com patrimônio de R$ 3,02 bilhões seguido pela família Civita, do Grupo Abril, e de Sílvio Santos, do SBT”.
Eis os “barões” da mídia: João Roberto Marinho - Patrimônio: R$ 23,80 bilhões; José Roberto Marinho - Patrimônio: R$ 23,80 bilhões; Roberto Irineu Marinho - Patrimônio: R$ 23,80 bilhões; Edir Macedo (Record) - Patrimônio: R$ 3,02 bilhões; Giancarlo Civita (Grupo Abril) - Patrimônio: R$ 2,18 bilhões; Roberta Anamaria Civita (Grupo Abril) - Patrimônio: R$ 2,18 bilhões; Victor Civita Neto (Grupo Abril) - Patrimônio: R$ 2,18 bilhões; Silvio Santos - Patrimônio: R$ 2,01 bilhões.
Criada a Frente Brasil Popular. Organizações sociais de todo o país decidiram se juntar em uma mesma articulação, denominada Frente Brasil Popular. A conferência nacional formalizar a criação do novo grupo aconteceu ontem (5), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Milhares de militantes de movimentos populares, sindicais, pastorais, LGBT, organizações de juventude, do movimento negro, ativistas digitais, veículos de mídia alternativa, partidos políticos, intelectuais, religiosos, entre outros, reuniram-se para debater as propostas da Frente e aprovar um modelo de organização do grupo, que terá atuação em todo o território nacional.
“Está claro que as organizações e movimentos sociais sozinhos já não conseguem mais pressionar com a mesma força por suas demandas e as demandas do povo. Por isso, a iniciativa de construir uma frente foi justamente pensando na capacidade de articular consensos, definir pautas convergentes e fortalecer as lutas nas ruas”, avalia Beatriz Cerqueira, presidenta do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) e dirigente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
A Frente Brasil Popular vai atuar em seis eixos: direitos dos trabalhadores, direitos sociais, defesa da democracia, soberania nacional, reformas estruturais e integração latino-americana. A Frente deverá criar instâncias deliberativas e de organização, explica Frederico Santana Rick, da Consulta Popular. Para o secretário-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE), Thiago Pará, o lançamento da Frente ocorre em um momento crucial da conjuntura do país, que assiste ao acirramento das lutas sociais e a tentativa de setores mais conservadores de pautar em pautar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Não podemos aceitar nenhuma tentativa de golpe contra o voto popular, mas a discussão pela democracia não passa só por isso. Precisamos de reformas mais profundas, como a mudança do atual sistema político do país e a democratização dos meios de comunicação”, aponta.
Ele é “pobrezinho”! Coisas dessa nossa “justiça” corrupta e desavergonhadamente de direita. O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Roberto Nalini, aquele que deu uma declaração famosa defendendo que os juízes precisavam do auxílio-moradia porque não dava para ir a Miami toda hora comprar ternos, acaba de dar mais uma demonstração de que não dá qualquer importância ao povo.
Na época, ele disse que “hoje, aparentemente o juiz brasileiro ganha bem, mas ele tem 27% de desconto de Imposto de Renda, ele tem que pagar plano de saúde, ele tem que comprar terno, não dá para ir toda hora a Miami comprar terno, que cada dia da semana ele tem que usar um terno diferente, ele tem que usar uma camisa razoável, um sapato decente, ele tem que ter um carro”.
Agora, segundo a Folha de S.Paulo, Nalini entrou com uma ação na Justiça, mas pediu para não pagar as custas imediatamente porque não tinha como arcar com o valor, de R$ 5 mil. Advogados ouvidos pelo jornal dizem que normalmente esse benefício, de adiar o pagamento, é concedido apenas a quem ganha até três salários mínimos, ou R$ 2,3 mil. Curiosidade: em junho, os rendimentos de Nalini foram de R$ 96 mil.
O safado ganha R$ 96 mil por mês e não pode pagar custas de um processo? Então... tá. Acho que vou enviar uns “caraminguás” para ajudar o coitadinho.
Mais uma neta é resgatada na Argentina. Jovem, cuja identidade foi preservada, nasceu em cativeiro em março de 1978 e ainda não conheceu a avó e a família de seus pais biológicos
“Ainda não a conhecemos, mas tomara que se sinta bem entre nós, somos uma família muito grande”. Assim, María Dominguez, integrante das Avós da Praça de Maio, deu as boas-vindas à neta de número 117, cuja recuperação foi anunciada na segunda-feira (31) na Argentina. A jovem, filha de desaparecidos políticos da ditadura argentina, teve sua identidade preservada.
“Nossos filhos sabiam do perigo que corriam, mesmo assim lutavam por um país melhor e isso lhes custou a vida”, afirmou a avó durante entrevista coletiva de imprensa realizada hoje. “Nunca mais em nosso país haverá uma ditadura militar”, afirmou Domínguez.
A neta 117 é filha de Gladys Castro e Walter Domínguez e nasceu em cativeiro em março de 1978. “Os militares podem se defender com advogados, nossos filhos não tiveram essa oportunidade”, disse a mãe de Walter ao lembrar o desaparecimento do filho.
Ignacio Montoya Carlotto, neto de Estela Carlotto, recuperado em agosto de 2014, por sua vez, celebrou a notícia: “Estou muito contente, a notícia me deixa muito feliz. Cada encontro é o prêmio ao trabalho de um montão de gente. Espero que isso sirva para seguir encontrando os que faltam”, disse em declarações à rádio Del Plata.
As Avós da Praça de Maio buscam os filhos de suas filhas ou noras — presas grávidas e desaparecidas forçadamente pela ditadura militar do país e cujas crianças foram entregues a outras famílias. Por meio de sensibilização, as integrantes da organização pedem que jovens que tenham dúvida sobre sua identidade, façam teste de DNA para verificar a possibilidade de ser um dos netos desaparecidos.
De acordo com estimativas das Avós da Praça de Maio, durante o regime militar, as autoridades se apropriaram de pelo menos 500 bebês, muitos deles nascidos em centros de torturas, hospitais militares e delegacias.
Bolívia investe mais em saúde pública. O Governo da Bolívia anunciou que estará investindo 1 bilhão e 624 milhões de dólares no setor de saúde pública para o próximo ano.
Segundo o presidente Evo Morales, os valores serão usados para a construção de 31 novos hospitais de nível dois, 11 estabelecimentos de nível três e quatro institutos especializados. As obras serão entregues até 2017.
Segundo Evo, esses hospitais estão distribuídos em todo o país. Entre os centros especializados, ele destacou que o novo Instituto Oncológico será construído em Cochabamba, pelo valor de 131 milhões de dólares, e o Instituto de Gastrenterologia será construído em La Paz, um investimento de 242 milhões de dólares.
50 anos da morte de “Che”. O Ministério de Cultura e Turismo da Bolívia já está trabalhando na programação para recordar os 50 anos da morte de Ernesto Che Guevara. O centro das comemorações, em outubro de 2017, será a cidade de Vallegrande, no departamento de Santa Cruz de la Sierra.
“Estamos elaborando uma agenda de trabalho que é negociada com autoridades locais e nacionais, além de outras instituições que sempre estiveram ligadas à imagem do Che”, disse o representante do Ministério, Edson Hurtado.
Vallegrande está situada a 244 quilômetros da cidade de Santa Cruz de la Sierra e se tornou conhecida porque para lá foi levado o corpo do Che, depois de sua execução em La Higuera. Lá o corpo foi identificado e fotografado. Os restos de Che Guevara e de alguns de seus companheiros ficou enterrado sob a pista de pouso de um aeroporto local durante 30 anos e foi encontrado por uma equipe forense de Cuba que exumou os restos e fez o reconhecimento. No local, hoje, existe um mausoléu em homenagem aos guerrilheiros. Seus restos mortais foram levados para Cuba!
A humanidade está mais doente. É realmente preocupante... A população mundial tem hoje uma vida mais longa, mas muitos estão mais doentes. Ou seja, mais anos de vida com mais doenças, segundo estudos realizados por importantes instituições em 188 países.
Segundo o levantamento, houve progressos significativos na última década com referência a doenças infecciosas como a AIDS ou a malária, além de importantes avanços no controle de doenças maternas ou na infância. Porém as pessoas não vivem com saúde tantos anos assim, ou seja, adoecem mais. É o que mostra a matéria da revista The Lancet, publicada durante a semana.
“O mundo fez grandes avanços na questão da saúde, mas agora o desafio é inverter os cuidados para encontrar meios eficazes de combater algumas formas de doenças”, disse Theo Vos, professor no Instituto de Avaliação Médica na Universidade de Washington.
Simplificando: a expectativa de vida, para ambos os sexos, subiu 6,2 anos, entre 1990 e 2013. Porém há um grande crescimento de doenças cardíacas, diabetes e outras que reduzem a qualidade dessa vida.
Não pode falar mal do Rei. A TV pública da Espanha está bloqueando a divulgação um documentário sobre o Rei Juan Carlos preparado pela televisão pública francesa e gravado na época da sua abdicação em favor do filho.
O documentário foi preparado pelo diretor Miguel Courtois e pela jornalista e escritora francesa Laurence Debrau, que já publicou um livro sobre o Rei. São 150 minutos de vídeo e foi gravado no final de 2013 até meados de 2014. Estava pronto e programado para ser apresentado em junho passado, mas a TV espanhola negou o direito de divulgação alegando que “já não é atual”.
Milhões de europeus perto da pobreza. Os dados foram divulgados pelo Instituto Europeu de Estatísticas (Eurostat) e dizem que cerca de 123 milhões de europeus estão sob o risco de cair na pobreza ou na exclusão social. O mesmo documento afirma que cerca de 30% dos jovens, entre 18 e 24 anos, encontram-se em situação de pobreza e que 50% das pessoas solteiras já estão em situação de pobreza ou próximas da linha.
O mesmo relatório mostra também que entre as pessoas mais vulneráveis estão os de baixo nível educacional e que 34% já vive em situação de pobreza. Por fim, o documento mostra que houve poucos avanços na saúde pública da região.
Obama quer impedir Putin de falar na ONU! As novas medidas de Washington contra a Rússia estão sendo anunciadas e há um programa para interferir no 70º período de sessões da Assembleia Geral da ONU. Segundo notícias agora divulgadas, o governo dos EUA está se movimentando para impedir que o presidente russo, Vladimir Putin, fale durante o encontro.
Segundo nota oficial, o 70º período de sessões da ONU terá início em 15 de setembro e Putin deverá falar pela primeira vez, desde 2005.
Quanto gasta a OTAN para promover guerras? Os gastos dos países membros da OTAN superam 227 bilhões de dólares, no primeiro semestre de 2015, segundo informa a página “Alianza”, na internet.
A mesma página informa ainda que, em 2014, os gastos superaram 270 bilhões de dólares, sendo que os EUA foram responsáveis por 70% desse valor. Letônia, Lituânia, Países Baixos, Noruega, Polônia e Romênia comprometeram-se a aumentar os investimentos em 2015.
Canadá está oficialmente em recessão. A economia canadense entra oficialmente em recessão depois de uma queda de 0,5% em seu PIB durante o segundo trimestre de 2015.
A recessão, segundo analistas locais, se deve a uma forte queda nos gastos e investimentos das empresas no setor de petróleo, gás e mineração, além de uma grande contração no setor manufatureiro, construção e serviços públicos.
Enfim, a barbárie! Em nosso Informativo anterior, comentávamos sobre a situação dos refugiados que chegam à Europa e a posição dos países mais ricos sobre receber esses refugiados. Comentamos, em um Informativo anterior, a posição do primeiro-ministro da Grã-Bretanha dizendo que estariam fechados aos refugiados. Mais do que isso tudo, repudiamos a declaração do presidente francês, no dia 26 de agosto passado, dizendo que a França vai continuar “apoiando grupos terroristas na Síria até que o presidente Al Assad, eleito democraticamente, seja derrubado. Poderia ser mais claro?
Agora, o mundo ficou chocado com a imagem de Aylan Kurdi, um garotinho de apenas 3 anos, encontrado em uma praia da Turquia, um pequeno refugiado que, com sua família, tentava escapar da guerra na Síria, promovida pela França, EUA e Alemanha!
A realidade atual é muito clara, mas sempre escondida pela nossa imprensa “tão livre e séria”. A cada dia, dezenas de milhares de refugiados fogem de áreas de conflito no Afeganistão, no Iraque, na Líbia ou na Síria. Curiosamente, todos países invadidos pelos EUA e pelas forças da OTAN em nome da democracia e da “ajuda humanitária”!
Enquanto isto, a Europa “se defende” contra esses refugiados. A Hungria anunciou a construção de uma vala cercada de arames para impedir a chegada dos refugiados; a Eslováquia anunciou oficialmente que apenas aceitaria refugiados “cristãos”. A Bulgária reforçou suas fronteiras para impedir a entrada dos que fogem das guerras em seus países, todas patrocinadas pelas grandes nações europeias. A Alemanha procura mostrar uma face “liberal” e. oficialmente, aceita os refugiados, mas o governo de Angela Merkel nada faz contra os grupos neonazistas que atacam os refugiados.
Segundo a ACNUR (Escritório da ONU para Refugiados) cerca de 3.000 refugiados procuram diariamente a entrada na Europa. Os três países com maiores fronteiras exteriores são Grécia, Hungria e Itália, principais metas dos que buscam fugir e buscar viver em paz.
Guerra, prisões arbitrárias, torturas, violência sexual, repressão... Pelo menos seis em cada dez pessoas que chegaram à Europa pelo mar Mediterrâneo nos primeiros oito meses de 2015 vêm de países em que as violações de direitos humanos são constantes. Na Síria, milhares de pessoas estão presas, sequestradas ou desaparecidas e cerca de 250 mil civis vivem em estado de sítio. O conflito no Afeganistão deixou 4.853 vítimas mortais no primeiro semestre de 2014. Na Eritreia, as liberdades de expressão, associação e religião não são respeitadas.
Este ano, 43% das pessoas que chegaram aos países europeus através do Mediterrâneo vieram da Síria, a maioria delas passando pela Grécia. Outros 12% vêm do Afeganistão, também pela Grécia. Da Eritreia vêm 10% delas, que chegam principalmente à Itália. As seguintes nacionalidades majoritárias são Nigéria (5%) e Somália (3%), que também chegam sobretudo às costas italianas.
A imagem daquele garotinho vai permanecer por muito tempo em nossas lembranças. Mas os responsáveis são bem conhecidos por nós: Obama, Hollande, Merkel, Cameron e alguns outros.
Crianças que buscam asilo na Europa. Mais de 100 mil crianças solicitaram asilo em países europeus no primeiro semestre de 2015, segundo dados da organização Plano Internacional. Ou seja, a quarta parte dos refugiados que procuram a região.
A Plano Internacional lançou nesta semana o relatório para servir de advertência aos líderes dos países ricos, com a esperança de que as imagens do garoto sírio, Aylan, sirvam para dar respostas e garantir a segurança dessas crianças.
O ONG, fundada depois da Guerra Civil Espanhola para dar assistência às crianças que ficaram órfãs, denuncia que mais de 300 mil pessoas se arriscaram, em 2015, tentando cruzar o Mediterrâneo em busca de refúgio. Dessas, mais de 2.600 morreram!
50 milhões de desempregados nos “países desenvolvidos”. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que cerca de 50 milhões de pessoas que vivem nos países chamados “desenvolvidos” (o famoso G-20) estão sem emprego.
Segundo o informe da OIT, a taxa de desemprego nesses 20 países mais ricos alcançou 5,8% da população ativa. Segundo o diretor da entidade, Guy Ryder, “o desafio do trabalho não está relacionado apenas com a questão da quantidade, mas também com a qualidade dos empregos, já que na maioria dos 20 países os postos criados até 2014 foram de tempo parcial, com salários médios inferiores, níveis mais baixos de segurança e muito pouca proteção social”.
Onda de assassinatos nos EUA. Os estadunidenses estão alarmados com o crescimento de assassinatos e outros crimes violentos em várias cidades do país, segundo matéria divulgada na terça-feira (01) pelo jornal The New York Times. Segundo a matéria, pelo menos em 35 grandes cidades um marcante aumento da violência.
O destaque da notícia fica para a cidade de Milwaukee, no estado de Wisconsin, onde foram assassinadas 104 pessoas no primeiro semestre do ano, um grande aumento se comparado com os 86 casos em todo o ano de 2014. Entre as cidades com maior número de assassinatos temos Nova Orleans, Baltimore, Washington e San Luis.
Alienação e agressividade! (Parte 3 - Ernesto Germano)
Em seu livro “Introdução à Sociologia”, o professor T. Bottomore esclarece que a existência da sociedade humana exige certas disposições que ele chama de “pré-requisitos funcionais”. Entre eles, para o tema que estamos tratando, destaco “I – um sistema de comunicação; (...) III) Disposição para socialização das novas gerações (inclusive disposições de família e educação) (...)”.
Bem, é disso que tratávamos na primeira parte do artigo. A cada dia, vemos as novas gerações menos capazes de uma comunicação social, cada um agarrado ao seu aparelhinho com jogos e músicas, alheios ao que se passa ao redor. Pior ainda, prestando atenção nesses jovens vemos que, a cada dia, reduzem seus vocabulários a algumas poucas expressões ou gírias, estão se tornando incapazes de manter uma conversa minimamente estruturada. O que Bottomore chama de “socialização de novas gerações” vai se tornando mais e mais distante.
Daí resulta a alienação que, em outras palavras, pode também ser definida como a diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar ou agir por si próprios. São pessoas que não se dispõem a ouvir opiniões alheias, e apenas se preocupam com o que lhe interessa, daí a alienação.
Na alienação social, os seres humanos não se reconhecem como parte de um Estado, não se sentem como participantes de instituições sociopolíticas (como, por exemplo, a família, o casamento, a propriedade, o mercado, etc.). Em geral, isso vai levar a uma de duas atitudes: a) aceitam passivamente tudo que existe, por ser tido como natural, divino ou racional, ou; b) se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e inteligência, pode mais do que a realidade que os condiciona.
A alienação social leva as pessoas a encontrarem explicações mais simples para as questões que estão diante de seus olhos, buscam explicações mais simples, uma espécie de “senso comum” para não se preocuparam mais com o que estão vendo. Um exemplo claro disso é a “explicação” da pobreza. Para o alienado, o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade – sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, escritores, jornalistas, artistas -, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a classe dominante da sua sociedade, como mostramos no capítulo anterior.
Para Marx (filósofo e sociólogo alemão) alienar-se da sociedade é, em princípio, alienar-se de si mesmo. A alienação refere-se aos obstáculos existentes no crescimento produtivo dos indivíduos e, consequentemente, às barreiras que impedem a transformação adaptada do sistema social.
(Voltaremos ao assunto)