quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Os destaques da noite no 247

 

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Defesa de Lula
vai à Suíça
questionar cooperação com
a Lava Jato após conversas de procuradores

Bolsonaro lista projetos prioritários para o Congresso: reformas, privatização da Eletrobras e mineração em
terras indígenas

No dia da
condução coercitiva, procuradores da
Lava Jato zombaram de Lula e receberam elogios de
Raquel Dodge

Escândalo do leite
condensado:
STF encaminha

à PGR notícia-crime contra Bolsonaro
por gastos alimentícios

Pesquisadores descobrem eficácia 'altíssima'
de medicamento já existente no
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Após sobreviver à covid, ogan mais velho do Brasil, de 101 anos, é vacinado

 

Após sobreviver à covid, ogan mais velho do Brasil, de 101 anos, é vacinado

Publicado em 2 fevereiro, 2021 4:51 pm
Bangbala. Foto: Reprodução/YouTube

De Citina Cruz no Globo.

Dois meses após sobreviver à Covid-19, o ogan Luiz Ângelo da Silva, o Bangbala, foi imunizado contra a doença. Aos 101 anos, Bangbala é o ogan (na umbanda, médium considerado de sustentação e firmeza durante os rituais, tocando os instrumentos musicais atabaque e agogô) vivo mais antigo do Brasil. Ele recebeu a dose da CoronaVac na manha desta segunda-feira, no Centro Olímpico de Nova Iguaçu, no Centro. Casada com Bangbala há quase duas décadas, Maria Eni Souza Moreira, de 57 anos, ficou emocionada ao ver o marido sendo imunizado.

— Pegamos Covid no fim de novembro. Ele teve 50% do pulmão tomado. Eu dizia para ele que era só resfriado.  Foram seis dias de febre. No quarto dia de febre alta, ele não abria nem os olhos. Chamei o Samu.  Queriam removê-lo, mas ele me pediu com os olhos cheios de lágrimas para não ficar internado. Eu nao autorizei a internação. Exclamei muito a Xangô, que é o orixá da Justiça, e ele me ouviu. Ficamos sendo medicados em casa — afirmou, emocionada, Maria Eni.

Após ser vacinado, Bangbala disse que já está se preparando para a segunda dose:

— Foi ótimo. Se tiver que tomar outra, vou tomar. Depois da doença, eu já estava mais aliviado. Já sinto até o paladar.

Em Nova Iguaçu, a vacinação de idosos com mais de 80 anos começou nesta segunda-feira. Cada grupo será atendido em uma semana. Até sexta-feira, serão imunizadas pessoas com 95 anos ou mais. Na semana seguinte, de 8 a 12 de fevereiro, será a vez dos idosos com idade de 90 a 94 anos. Na terceira semana, do dia 15 ao 19, serão vacinados os que têm de 85 e 89 anos. A última semana de fevereiro será para quem tem idade de 80 a 84 anos. O atendimento será das 8h30 às 16h, e o idoso deverá apresentar carteira de identidade, CPF e cartão SUS.

(…)

Carta Maior

 








 

Agradecimentos e um apelo

(Arte/Carta Maior)
(Arte/Carta Maior)

Primeiramente, meus sinceros agradecimentos pelas palavras de cada um de vocês durante as comemorações desses vinte anos de Carta Maior, completados em 25 de janeiro. Declarações que aqui chegaram como sopro de alegria, em meio a minha recuperação da Covid-19, uma pandemia criminosamente agravada pela incompetência do atual governo, e por sua política de desinformação.

Foi revigorante ler os depoimentos no especial Carta Maior 20 anos, generosamente organizado pelo amigo Flávio Aguiar. Faço questão de agradecer nominalmente a André BarrocalAram AharonianBernardo KucinskiBia BarbosaBoaventura de Sousa SantosEduardo CarvalhoEmir SaderGilberto MaringoniJosé Luiz Del RoioLaurindo Lalo Leal FilhoLéa Maria Aarão ReisLeonardo SakamotoMarcel GomesMarco WeissheimerMaria Rita KehlMaurício HashizumeMiguel RossettoNelson BreveNajla PassosOlívio DutraSaul LeblonTarso GenroVenício A. de Lima e Verena Glass.

Igualmente revigorante foi assistir à atividade “Resistência democrática, comunicação, desigualdades e violência” no Fórum Social Mundial (FSM), promovida por Carta Maior e pelo Fórum 21, rede que agrega mais de 150 intelectuais brasileiros e estrangeiros, de várias áreas do conhecimento e tendências políticas no campo da esquerda. Além de apreciar a qualidade dos debates, pude rememorar as várias bandeiras pelas quais lutamos naquele 2001. Muitas delas se transformariam em plataformas e políticas públicas que defenderíamos ao longo dessas décadas. Outras ainda acenam como a utopia a ser construída, conforme a imagem eternizada por Eduardo Galeano, um dos grandes colaboradores de Carta Maior.

As comemorações também me fizeram refletir sobre o que vivemos nessas duas décadas de história. Em 2001, precisamente em 11 de setembro, a inviolabilidade do território norte-americano seria derrubada por meio de um ataque aéreo, assumido pela Al Qaeda, nas torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, e parte do Pentágono próximo a Washington. Ironias da história, 28 anos antes, em 11 de setembro de 1973, dois jatos Hawker Hunter das Forças Armadas chilenas surgiram sobre La Moneda, em Santiago, lançando várias bombas de 50 quilos sobre o palácio presidencial, durante o golpe militar que derrubaria o governo democrático de Salvador Allende (confira o especial “Os dois 11 de setembro”).

Em 2002, teríamos a tentativa de golpe contra Chávez na Venezuela, não apenas fracassada, mas seguida de sucessivas vitórias do líder bolivariano nas urnas. Em 2003, Lula assumiria o governo, convocando o Congresso Nacional a abraçar o combate à fome como agenda prioritária do país. Dois anos depois, sofreríamos a primeira tentativa de golpe, o chamado “mensalão”, com campanha diária e agressiva dos veículos de comunicação – Organizações Globo à frente – contra o governo. Reeleito com 60,83% dos votos válidos, Lula anunciaria em 2006, a descoberta do pré-sal pela Petrobrás (dez anos depois entregue ao capital privado, em uma das mais espúrias jogadas da direita brasileira, PSDB à frente).

Em 2008, mais precisamente em 15 de setembro com o colapso do Lehman Brothers, estourariam as bolhas financeiras de Wall Street mergulhando o mundo em uma crise de dimensões proporcionais à de 1929. Em vários cantos do globo, o que se viu foram governos financiando banqueiros, e a população em desespero nas ruas, tentando defender direitos básicos ante as draconianas políticas de austeridade, em ondas de protestos na Grécia, Itália, Espanha, Portugal... No Brasil, porém, seguíamos de vento e popa, com o mercado interno se expandindo devido ao aumento real da renda das famílias e de toda sorte de políticas públicas de inclusão social. E assim, em 2010, Dilma Rousseff seria eleita a primeira presidenta deste país, com 56% dos votos válidos. O Brasil despontava em um mundo em ebulição.

Na Tunísia, naquele mesmo ano, teria início a Primavera Árabe, com grandes manifestações organizadas pelas redes sociais no Egito, Líbia, Síria, Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã e Iémen, entre outros países. Ainda em 2010, Julian Assange publicaria documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos revelando uma série de violações aos direitos humanos no Iraque e Afeganistão. Três anos depois, seria a vez de Edward Snowden, ex-funcionário da NSA, a agência de segurança nacional dos Estados Unidos, denunciar o esquema de espionagem do governo norte-americano, alertando sobre o acesso detalhado da agência a dados de governos de outros países e suas instituições, como Dilma Rousseff e a Petrobrás, por exemplo; e até mesmo dados detalhados da população civil norte-americana e de outros países.

Em meados de 2013, os protestos que incendiavam o mundo chegariam ao Brasil e a partir deles, o ovo da serpente seria gestado. Instrumentalizadas pela direita, e pelo espectro reunido em torno do antipetismo, as manifestações de 2013 adentrariam o ano eleitoral de 2014, revigoradas por intensa e diária campanha política-midiática em torno da Lava Jato que, sem qualquer pudor, ostentaria o conluio entre parte do Judiciário e as Organizações Globo, que seguiria após a reeleição de Dilma nas urnas, com 51,64% dos votos válidos.

Dois anos depois, consumado o golpe em 2016, veríamos a Petrobrás e o pré-sal brasileiro entregues ao capital internacional, ou seja, às corporações até então concorrentes da estatal brasileira. E o ciclo de 13 anos de governos petistas abruptamente interrompido, evidenciando a fragilidade das nossas instituições em sua missão de garantir a democracia e a legalidade dos processos políticos.

Se no raiar do século XXI, nós pudemos sonhar com as transformações promovidas pelos governos progressistas na América Latina; a partir dos anos 10, presenciamos o brutal contra-ataque da direita, com a sucessão de golpes no continente, deposição e até mesmo prisão de líderes políticos que ousaram implementar uma política externa soberana e independente na região. Neste cenário turbulento, também acompanharíamos, embasbacados, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Ninguém imaginava que tragédia semelhante poderia acontecer em casa.

E ela aconteceu.

Entre 2016 e 2018, Michel Temer daria início ao desmonte do Estado brasileiro, engessando o país com sua política absurda de Teto de Gastos, aos moldes da cartilha da austeridade. De lá para cá, o que se viu foi o crescimento do desemprego, da pobreza, da insegurança econômica e do desespero capturados pelo discurso e ações violentas dessa direita extremada e antiética que tem em Bolsonaro, o seu modelo e exemplo.

Meus caros, ao longo de todos esses acontecimentos, Carta Maior esteve ativamente presente, produzindo conteúdo ou fomentando a produção de análises pelas melhores cabeças pensantes deste país e do mundo. É neste sentido que Flávio Aguiar destacou, em sua apresentação, o fato de Carta Maior deter um dos mais ricos acervos do pensamento da esquerda brasileira e internacional.



A construção desse repertório analítico, de primeiríssima linha, só foi possível pela solidariedade dos nossos leitores e pela amizade dos nossos colaboradores, com quem divido todos os louros desses nossos vinte anos no ar.

Por fim, não posso me esquivar de pedir aos nossos leitores assíduos, que ainda não contribuem com este projeto, que o façam. Ao longo desses vinte anos, e em particular, os últimos quatro anos, nós dependemos quase que exclusivamente da contribuição de vocês para sobreviver. Daí o apelo, com a promessa de muitas e boas mudanças no site neste ano de aniversário: seja parceiro-doador de Carta Maior (saiba como aqui) e siga conosco.

Um grande abraço a todos os leitores de Carta Maior. Protejam-se. Vacinem-se. Usem máscara. Não saiam às ruas se não precisarem sair. Aguentem firme, sobretudo no atual momento de acumulada exaustão. Todo cuidado é pouco.

E aos amigos de Carta Maior, meus sinceros agradecimentos.

Joaquim Ernesto Palhares
Diretor de Carta Maior

Conheça os voluntários que protegem a Wikipédia do negacionismo climático

 


Você já parou para pensar em quem escreve os verbetes da Wikipédia? E se vândalos decidissem editar essas páginas para incluir mentiras e desinformação? Foi para garantir que o conteúdo sobre mudanças climáticas na Wikipédia permanecesse correto que um grupo de voluntários do mundo todo decidiu unir forças, como contamos nesta reportagem

Na newsletter de hoje, a repórter Laura Scofield detalha como funciona este trabalho colaborativo e explica o que motiva os voluntários a dedicarem tempo, pesquisa e paciência em nome deste propósito. 

O que você achou do trabalho dos "guardiões da Wikipédia"? Mande seu comentário para as "Cartas dos Aliados". É só responder a este email!

Um abraço,

Giulia Afiune
Editora de Audiências
Conheça os voluntários que protegem a Wikipédia do negacionismo climático
por Laura Scofield
 

Ao longo do Ensino Fundamental, e até do Médio, ouvi algumas vezes na sala de aula que a pesquisa para trabalhos escolares não deve ser feita na Wikipédia. Não é confiável, todo mundo pode escrever ali, entre outros argumentos que não deixam de ser verdade — em alguns casos. 

A qualidade dos artigos da Wikipédia varia bastante. Muitas das páginas sobre mudança climática em inglês fogem à ideia que meus antigos professores tinham daquele espaço: são atualizadas, escritas de maneira clara e abordam diversos aspectos dentro do tema, por exemplo, como o aquecimento global se relaciona com gênero. Esse é um objetivo declarado, como me contou o representante da Wikimedia, Alex Stinson. Ele defendeu que o melhor jeito de fazer as pessoas sentirem a urgência da mudança climática é mostrar como ela afeta, na prática, o local onde moramos e as pessoas que amamos. “Mudança climática é sobre experiências vividas por todos”, afirmou. 

A qualidade dos verbetes sobre clima pode ser atribuída ao trabalho do chamado WikiProject Climate Change, um grupo de editores voluntários do mundo todo que se uniu para garantir que as informações sobre o tema na enciclopédia online estejam corretas – e proteger a Wikipédia de quem vandaliza suas páginas espalhando mentiras negacionistas.  

Na semana em que escrevo esta newsletter, por exemplo, a página mais editada pelo grupo é sobre a calota de gelo de Quelccaya, no Peru —  que, mesmo sendo a segunda maior área glacial dos trópicos, eu não conhecia. 

Nos últimos sete dias, o verbete sobre a grande calota peruana foi editado 63 vezes por quatro editores, que discutem cada pequena mudança minuciosamente na página onde as edições são registradas. Discutem tão minuciosamente que às vezes se irritam, como me confidenciou David Tetta, um dos editores que entrevistei para a reportagem. "As discussões são muito interessantes, mas também podem ser frustrantes", disse. "Pode ser divertido, mas pode ser desafiador." 

David não está entre os que escarafuncharam a página sobre a calota peruana para melhorá-la nos últimos dias, mas atua na página principal "Climate Change" [Mudança climática], uma das mais acessadas sobre o tema. Ele dialoga pela Wikipédia com outros cinco voluntários e com a também editora Femke Njisse, esta sim envolvida nas recentes edições sobre a enorme massa de gelo. 

Femke pesquisa assuntos relacionados ao clima na Universidade de Exeter, Reino Unido, e se tornou “uma espécie de líder do grupo” editor do verbete "Climate Change". Quando perguntada sobre quanto tempo gasta editando a enciclopédia, riu e respondeu: “Tempo demais”. 

Por que tanta dedicação? Um editor anônimo (que chamei de Marcelo* e depois fiquei em dúvida se devia ter inventado um nome mais americanizado) respondeu sinteticamente: “Trump vai passar, a Wikipédia fica”. 

As pessoas públicas que pregam o negacionismo não inspiram só os falantes da língua inglesa a se voluntariarem para trazer informação de qualidade sobre as mudanças climáticas no planeta. No Brasil, Tetraktys, o responsável pela principal página sobre o tema na Wikipédia em português, "Aquecimento Global", também se tornou um editor por ver com urgência o fato de vários governantes serem “negacionistas do problema climático”.

Em julho de 2019, Carlos Bolsonaro, vereador no Rio e filho do presidente, questionou no Twitter se o fenômeno mundial do aquecimento global – consenso entre os cientistas – realmente existiria, já que o dia estava frio.

Ao longo da apuração para esta matéria, pensei em me tornar uma editora na Wikipédia. Não só por cobrir desinformação e acreditar na ciência, mas principalmente ao me deparar com a quantidade de acessos diários que a enciclopédia colaborativa recebe. A página "Aquecimento Global" foi visitada mais de 810 mil vezes em 2019, ou seja, muita gente continua buscando informação e formando opiniões ali. 

Ao mesmo tempo, depois de ter batalhado para entender como funciona a plataforma, sinceramente me questionei se teria tempo e disposição para me envolver num espaço de regras tão rígidas, meio burocrático até. Os próprios editores definem as regras de convivência, de escrita e as punições para quem vandaliza — o que inclui escrever informações falsas, seja de propósito ou como uma brincadeira de mal gosto. 

Alex me explicou que é por isso que manter um grupo de editores é importante: "A Wikipédia sobrecarrega os novatos. É tudo conhecimento. A cada tópico.” O coletivo se une e ensina os novatos a se incluírem ali, alguns com mais paciência que outros, como notei durante a apuração. 

Me pareceu bonito e interessante imaginar que pessoas que não se conhecem para além dos nomes se unem e escolhem tutelar alguém para aprimorar um trabalho voluntário e de pouco crédito, movidas apenas pelo sentimento de dever e pela possibilidade de agregar esforços para espalhar informações importantes.

No entanto, mesmo que muito se faça, ainda há muito a ser feito. 

Uma estudante que busque informações em português sobre a calota peruana vai encontrar que é a maior área glacial dos trópicos. Meus professores reclamariam que o verbete está desatualizado. Já faz anos que ela está derretendo e encolhendo, infelizmente. 

Laura Scofield é estagiária de redação na Pública.

Rolou na Pública
 

Escreva para a Pública! Se você é ou conhece um bom repórter, não perca tempo: estão abertas até sexta-feira as inscrições para as Microbolsas Acesso à Internet. O concurso é realizado pela Pública em parceria com o Idec, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Vamos distribuir quatro bolsas de R$ 7 mil e proporcionar a mentoria de nossos editores para os repórteres que propuserem as melhores pautas investigativas sobre o acesso à internet no Brasil e suas desigualdades. As inscrições vão até sexta-feira (5) e podem ser feitas neste link.