quarta-feira, 4 de julho de 2018

Gilmar sempre arquiva acusações contra Aécio em Furnas

A transformação de uma cadelinha abandonada após ser bem cuidada. Fonte: Reprodução/Facebook Rico Soegiarto

Brasil tem 8,3 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco

MORADIA

Brasil tem 8,3 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco

Para MTST, número ilustra precariedade da política habitacional no país

Brasil de Fato | Brasília (DF)
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Deslizamento de terra em Salvador (BA), em 2015; cidade tem maior contingente de pessoas em área de risco, com / Arquivo/Divulgação/Manu Dias/Governo da Bahia
Um estudo inédito publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quinta (28) identificou que o Brasil tem cerca de 8,3 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco em 872 municípios espalhados pelo país.
Tendo como referência dados do Censo de 2010, a pesquisa traz ainda outros dados alarmantes: em Salvador (BA), por exemplo, o percentual de moradores nessa situação chega a 45,5% do total de habitantes da cidade.
São ao todo 1,2 milhão de pessoas, que se somam ainda a outras cerca de 674 mil em São Paulo (SP), 444 mil no Rio de Janeiro (RJ), 389 mil em Belo Horizonte (BH) e 206 mil em Recife (PE), compondo o ranking das cinco cidades com maior contingente em área de risco.
No panorama nacional, o estudo identificou, por exemplo, que, entre os municípios monitorados, 26,1% da população que vive sob essas condições não têm esgotamento sanitário adequado.
O coordenador da pesquisa, Cláudio Stenner, destaca que o levantamento pode subsidiar o delineamento de ações estatais que visem à administração do problema.
“Esse estudo dá visibilidade à população brasileira que está exposta aos riscos de desastres naturais. É um primeiro grande balizador de onde estão essas pessoas e quantas são, pra que, a partir daí, se tracem estratégias de políticas públicas para mitigar esses riscos. As estratégias podem ir desde obras de engenharia até a remoção da população”, exemplifica.
O estudo abrange os municípios listados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – parceiro da pesquisa – como locais que têm histórico de desastres, por isso não inclui todos os 5.561 municípios do país.
Um dos destaques da pesquisa são as desigualdades regionais. Para se ter uma ideia, a média nacional de pessoas em áreas de risco com abastecimento inadequado de água é de 6,54%, mas, na região Norte, o índice alcança os 26,35%. No que se refere ao esgotamento sanitário inadequado, a média da região chega a 70,75% – bem acima dos 26,1% da média nacional.
Crianças e idosos
Também é destaque no estudo o percentual de crianças com menos de cinco anos ou idosos (pessoas com 60 anos ou mais) vivendo em áreas de risco: os dois grupos representam, juntos, 17,8% da população-alvo da pesquisa no país. Acre (19,8%), Pará (19,2%) e Amazonas (19,2%) são os estados com maior destaque nesse índice.
Tais segmentos são apontados como os mais vulneráveis aos diferentes problemas que marcam a vida da população que mora nessas condições, como, por exemplo, alagamentos e desabamentos. A empregada doméstica Euda de Andrade, que vive em Altamira (PA), conhece bem o problema. Ela e o filho moram em uma casa compartilhada com outras três famílias num terreno próximo à usina de Belo Monte.
Crianças e idosos estão entre os moradores, que há três anos sofrem com constantes alagamentos provocados pela usina. Ela conta que o problema compromete a saúde e a qualidade de vida das famílias.
“A gente passa semanas dentro d´água. A gente fica sem saber o que fazer. É uma situação bem difícil mesmo”, desabafa.
Estado
Para o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), a pesquisa do IBGE evidencia o caráter ainda precário das políticas públicas de habitação no país.
O dirigente Rud Rafael destaca que, apesar de não corresponder ao raio X de todo o território nacional, o número de 8,3 milhões de pessoas em situação de área de risco é considerado preocupante.
“É a falta de uma política urbana que garanta o direito à cidade, o direito à moradia. Acho que um dado como esse mostra qual deveria ser a prioridade do Estado em relação à intervenção da política urbana”, finaliza.
Edição: Juca Guimarães

Organizações fazem abaixo-assinado pela liberdade do ex-presidente Lula LULA LIVRE!

INCONSTITUCIONAL

Organizações fazem abaixo-assinado pela liberdade do ex-presidente Lula

Assinaturas serão dirigidas às presidentes do STF, Cármen Lúcia, e do STJ, Laurita Vaz

Brasil de Fato | São Paulo
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Ex-presidente Lula segue preso, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, desde o dia 7 de abril / Ricardo Stuckert
O Comitê Nacional Lula Livre, que organiza ações pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde o dia 7 de abril, lançou um abaixo-assinado nesta semana, 2 de junho, que será dirigido às presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Laurita Vaz. 
O documento destaca a ‘flagrante inconstitucionalidade’ da prisão ‘açodada’ [apressada] e da condenação do ex-presidente no âmbito da Operação Lava Jato. “O cárcere açodado do ex-presidente fere de morte a Constituição Brasileira que prevê ser qualquer pessoa considerada inocente até transitada em julgado a sentença condenatória”, diz o texto, em referência à polêmica decisão de uma escassa maioria de 6 a 5 no STF de autorizar o cumprimento da pena após condenação em segunda instância. 
João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), uma das organizações que encabeçam o abaixo-assinado, explica que a iniciativa faz parte de uma série de ações definidas para o próximo mês, em torno da liberdade do ex-presidente. 
“O Comitê desenhou várias iniciativas, entre elas, esse abaixo-assinado, além do Festival Lula Livre, que será realizado no dia 28 de julho. Com o abaixo-assinado, pretendemos recolher milhares de assinaturas durante o mês de julho e entregar ao STF e ao STJ na primeira semana de agosto. Decidimos ainda apoiar a greve de fome de 11 companheiros e companheiras que se inicia no dia 31 de julho. E os movimentos do campo farão uma marcha a Brasília na primeira semana de agosto para contribuir com a paralisação nacional do dia 10 de agosto, proposta pelas centrais sindicais”, anunciou. 
O cabeçalho do abaixo-assinado reafirma a determinação do Partido dos Trabalhadores (PT) e do próprio ex-mandatário de ser o candidato da legenda nas eleições presidenciais de outubro. “Cabe ao STF e ao STJ, como guardiões da ordem jurídica, garantir a igualdade de condições para que possa disputar o mandato de forma limpa e democrática”. 
Finalmente, o documento afirma que “a liberdade e a absolvição no tempo devido de Luiz Inácio Lula da Silva é o que a cidadania espera da cúpula do poder judiciário nacional neste difícil momento da nossa vida política”. E conclui chamando as ministras à responsabilidade: “O empenho para realizar esse imperativo histórico é dever de Vs. Exas. que a sociedade saberá cobrar”. 
Os comitês Lula Livre fazem parte da estratégia de resistência das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, no sentido de promover ações que ampliem a mobilização em torno da defesa da democracia, da liberdade e do direito do ex-presidente Lula ser candidato à presidente da República. 
O Comitê Nacional é formado por 48 organizações políticas, movimentos sociais e sindicais do campo democrático, além de intelectuais, artistas, personalidades políticas e religiosas.
O abaixo-assinado pode ser baixado pelo site do PT, e as assinaturas devem ser encaminhadas ao Comitê Nacional Lula Livre em Brasília, através do endereço: Sede do PT Nacional | SHCSQ 1 – Brasília (DF) – 70 302-000. 
Edição: Juca Guimarães

AGROECOLOGIA Guardiões de sementes resistem ao monopólio das multinacionais

AGROECOLOGIA

Guardiões de sementes resistem ao monopólio das multinacionais

Controle dos grãos por conglomerados internacionais colocam em risco o direito à alimentação saudável

Curitiba (PR)
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Hans Rinklin é coordenador da Casa de Sementes de Mandirituba (PR) e destaca que a iniciativa resgata o controle do cultivo pelo agricultor / Giorgia Prates
A Bayer se converteu nesta quinta-feira (7) em líder mundial de sementes, fertilizantes e pesticidas. O grupo farmacêutico e agroquímico alemão anunciou a compra da americana Monsanto. A fusão deve criar uma empresa com o controle de mais de um quarto do mercado mundial de sementes e pesticidas.
No ano passado, a empresa norte-americana Dow Chemical fundiu-se com sua compatriota DuPont, e houve a compra da suíça Syngenta pela  chinesa ChemChina.
“É revelador o grau de  de dependência que a humanidade começa a ter de algumas empresas que controlam a vida. Vira uma centralização que eles controlam tudo. A compra é um absurdo”, afirmou o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, João Pedro Stédile, em entrevista durante a 17ª Jornada de Agroecologia, realizada em Curitiba. Stédile destaca que a Bayer passa a controlar o mercado de adubos, insumos, fertilizantes, venenos agrícolas e sementes.
Casa de sementes
Na outra ponta estão iniciativas como as casas de sementes. Unidades de beneficiamento de sementes orgânicas, que fazem uma ponte entre agricultores.
O coordenador da Casa de Sementes de Mandirituba, no Paraná, Hans Rinklin, destaca que este tipo de iniciativa resgata o controle do cultivo pelo agricultor. “São quatro ou cinco firmas que produzem quase 90% das sementes. É importante a agricultura familiar ter a autonomia sobre elas”, afirma. Hans Rinklin  enfatiza que as grandes empresas sementeiras do agronegócio exercem forte influência sobre governos e legisladores. “Há uma dependência muito grande, inclusive, dos governos. Não me diga que essas firmas não usam o poder que hoje já tem.  Quem hoje prepara as leis não são os políticos e seus assessores. São os Lobbies dessas firmas”, diz.
Segundo Rinklin, os governos criam condições políticas e legais  que favorecem e ampliam  o controle dessas empresas sobre os mercados. O coordenador conta que a maior parte das sementes comerciais desenvolvidas por essas grandes corporações fazem parte de um sistema agroquímico que modifica as sementes “para que haja a necessidade de uma maior dosagem de adubo e de venenos agrícolas”. 
Pesquisas realizadas em Cruz Alta (RS) pela Fundacep revelam que a produtividade de todas as variedades de soja transgênica se revelou 13% menor do que as recomendadas.
Sementes crioulas
Outro problema trazidos pelas multinacionais é a cobrança de royalties para o plantio de sementes transgênicas. Ou seja, o agricultor que planta essas sementes fica vinculado, através de um contrato, à empresa dona da patente da semente.
Na resistência a esse tipo de produção estão Guardiões de Sementes, como o agricultor João Dantas, do município de Mandirituba. 

“Para quem não sabe, o guardião de sementes é aquela pessoa que mantém as sementes crioula e preserva a diversidade que o mundo precisa”, conta. Dantas trabalha com semente crioula. Ele explica: “é uma semente que vai fazendo sua mutação naturalmente”. Diferente da transgenia, que é um processo caro e que só pode ser feito em laboratório, o melhoramento feito pelos agricultores que trabalham com sementes crioulas envolve cruzamentos naturais.
A cada safra, o guardião escolhe as melhores plantas e guarda as sementes para usar no ano seguinte. O processo é repetido várias vezes. Dantas explica que essa é uma forma de adaptar as sementes ao sistema orgânico. 
A agricultora Eulália Fátima também é uma guardiã. Ela ressalta a importância do controle das sementes pelos agricultores, mas conta que “nem tudo são flores”. Ela lembra que hoje existem restrições à comercialização desses materiais pelos agricultores.
Atualmente a lei permite que agricultores familiares multipliquem sementes ou mudas para distribuição, troca ou comercialização entre si, sem a necessidade do registro no Ministério da Agricultura. No entanto,  a guardiã conta que a legislação criou um problema para o comércio de sementes e mudas na agricultura familiar ao dizer que essa permissão não é válida para organizações como cooperativa, associação ou sindicato, por exemplo, que só podem distribuir, e não podem vender, mesmo só para os agricultores que sejam associados àquela organização. 
Edição: Júlia Rohden

RETROCESSOS Caravana vai percorrer país para descrever cenário de volta da fome


RETROCESSOS

Caravana vai percorrer país para descrever cenário de volta da fome

Organizações alertam que o número de pessoas em insegurança alimentar grave cresceu nos últimos anos

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Em 2017, o número de pessoas que estavam em extrema pobreza chegou aos mesmos parâmetros de 2004 / Marcelo Cruz
Movimentos populares, sindicatos e entidades da sociedade civil vão fazer uma caravana pelo interior do país para descrever um cenário de alerta: a fome voltou a assombrar a nação. O número de brasileiros que passam fome cresceu.
A iniciativa de apurar, com uma caravana, o crescimento do número de pessoas que passam fome no país foi idealizada pela Articulação do Semiárido (ASA) e começa no interior de Pernambuco, em Caetés, no dia 26 de julho.
A caravana vai colher relatos para ilustrar este processo, que vai na contramão de compromissos que o país assumiu com a Organização das Nações Unidas (ONU) — entre eles, a segurança alimentar, uma das metas da Agenda 2030, e a redução da fome e da pobreza, um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que o país atingiu em 2015.
Este ano, o governo brasileiro, novamente, não vai apresentar o relatório de acompanhamento das metas de desenvolvimento sustentável para 2030. A publicação dos dados é voluntária. Mas o grupo de trabalho de organizações sociedade civil que investiga o cumprimento destes objetivos vai divulgar um novo relatório no final de julho.
De acordo com o pesquisador Francisco Menezes, integrante da ActionAid e do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o relatório deve indicar o agravamento do que as entidades já haviam constatado em 2017: de que haviam indícios que o país pode voltar ao Mapa da Fome da ONU.
O país saiu da lista da fome em 2014, quando foram divulgados os índices mais recentes da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), pesquisa realizada a cada cinco anos. Os dados mostravam que, em 2013, cerca de 3,2% da população, aproximadamente 3 milhões de domicílios, viviam em situação de insegurança alimentar grave — índice mais baixo que o Brasil o país atingiu. 
A queda representou 28,8% em relação a 2009, quando 5% da população brasileira vivia em situação de intensa privação de alimentos. 
Embora a previsão de divulgação da próxima pesquisa seja em dezembro deste ano, Menezes afirma que já há indícios de que a situação do país se agravou e que o país se distancia das metas assumidas internacionalmente. 
Desemprego 
O pesquisador pontua que cortes nos programas sociais, a adoção de políticas neoliberais e, sobretudo, o desemprego e a precarização do trabalho levaram a este cenário.
Nos últimos três anos, a tendência de queda da pobreza no país se reverteu. Em 2017, o número de pessoas que estavam em extrema pobreza chegou aos mesmos parâmetros de 2005.
"É uma velocidade muito rápida desse empobrecimento ao extremo. E, nestes mesmos três anos, voltamos a oito anos atrás no número de pessoas abaixo da linha da pobreza", afirma.
As organizações se baseiam nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para fazer o alerta.
"Quando aplicamos um critério de verificar as pessoas que estão em situação de pobreza e as pessoas que estão em situação de extrema pobreza, nós vemos que os índices de desemprego gerais do país, que já são muitos elevados, se multiplicam para a população mais pobre", explica o pesquisador.
"Há uma grande correlação entre a extrema pobreza e a situação de fome. Ou seja, aqueles que estão em extrema pobreza estão, geralmente, vivendo a situação de fome. Então, quando se tem um quadro em que voltou 12 anos atrás, considerando os dados de 2017 sobre a extrema pobreza, tudo leva a crer que um contingente grande de pessoas voltou a essa situação de insegurança alimentar grave porque não tem condição de garantir a alimentação."
Mapa
A nutricionista Patrícia Jaime, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), analisa que a saída do Brasil do Mapa da Fome também está relacionada processo ao fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e à redução da mortalidade infantil. 
Mas, após 13 anos de queda consecutiva, a taxa de mortes de crianças antes de completar um ano de vida cresceu 11% entre 2016 e 2017. Já o percentual de crianças menores de cinco anos desnutridas aumentou de 12,6% para 13,1% no período. Segundo ela, este é um alerta vermelho.
"Quando a gente falava da agenda do objetivo do milênio, a gente estava ainda falando em mortalidade, fome e parecia que a gente iria qualificar essa agenda em uma perspectiva mais qualitativa, da qualidade do alimento, do alimento seguro, saudável, sustentável, com fomento à agricultura familiar de base agroecológica. Ou seja, uma agenda mais avançada. E a inflexão dos programas colocam em risco questões estruturais básicas de acesso e disponibilidade de alimentos e renda", pondera Patrícia.
Já o coordenador da ASA na Bahia, Naidison Baptista, destaca o desestímulo à agricultura familiar e circuitos de comercialização e compras públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
"De um lado, o governo não paga os serviços prestados pelas organizações sociais, então há um déficit muito grande em relação aos serviços prestados pelas organizações sociais. E, de outro, não abre novas chamadas de assistência técnica. Então, o acompanhamento às famílias no processo de produção de alimentos e de geração de renda fica prejudicado", diz.
Segundo Baptista, a caravana pelo interior do país, organizada pela ASA e outras entidades que compõem a Frente Brasil Popular, é um processo de mobilização social para apontar perspectivas de solução destes problemas. 
"O interessante neste processo da caravana é que ele está sendo encabeçado pelos próprios agricultores. Em Feira de Santana [Bahia], por exemplo, os agricultores vão tirar alimentos da sua produção para a alimentação da caravana, quando ela passar por aqui; a universidade está disposta a ceder o auditório para receber um ato público. Então, estamos construindo o ato envolvendo diversos atores sociais", afirma o integrante da ASA. 
Além de Pernambuco, a previsão é que o grupo passe pelos estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. 
Edição: Juca Guimarães

EXTREMA-DIREITA A mistura de medo, ódio, Lava Jato e antipolítica que desaguou em Bolsonaro


EXTREMA-DIREITA

A mistura de medo, ódio, Lava Jato e antipolítica que desaguou em Bolsonaro

Pesquisadora Esther Solano (Unifesp) explica como discurso intolerante de combate aos avanços sociais conquistados por minorias foi popularizado por meio de memes e vídeos supostamente "divertidos"
por Tiago Pereira, da RBA publicado 04/07/2018 12h25, última modificação 04/07/2018 16h36
GILMAR FELIX/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Bolsonarização
Campo progressista também contribuiu para a "bolsonarização" da política ao relegar o debate da segurança pública
São Paulo – O crescimento da extrema-direita antissistema e anti-globalização é um movimento global que já se materializou na vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, na campanha do Brexit, que culminou com a saída do Reino Unido da União Europeia, ou ainda no crescimento de partidos que impunham a bandeira de combate à imigração em países como França, Alemanha e Itália, além de triunfos em outras partes do continente.
No Brasil, parte da população que se identifica com tais anseios autoritários acredita que a sociedade atual vive numa "bagunça generalizada" na qual imperam a insegurança e a corrupção, e se alinham à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). Hoje, ele é o segundo colocado na preferência do eleitor, atrás apenas da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É, portanto, um fenômeno social que não pode mais ser ignorado, e merece ser entendido e estudado. Essa é a constatação da professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Esther Solano, que tem realizado pesquisas de campo sobre os movimentos políticos de direita que passaram a disputar as ruas e as redes sociais brasileiras nos últimos anos.
Ela diz que esses movimentos de extrema-direita, no Brasil e no mundo, são tratados como "caricaturas", que revelam a dificuldade que o campo progressista, e até mesmo intelectuais, têm para se aproximar desse fenômeno. Trump e Brexit não eram considerados como opções críveis, até de fato ocorrerem.
Para entender o crescimento da "bolsonarização" da política e do avanço dos extremismos no Brasil, ela organizou uma série de "entrevistas em profundidade" com simpatizantes do candidato, que já insinuou estupro a uma deputada e ofendeu negros e homossexuais.

Ordem e antipolítica

Dentre os entrevistados, de perfis socioeconômicos bastante heterogêneos, "a questão número um é que as pessoas dizem votar no Bolsonaro porque querem ordem", aponta a professora, que apresentou os resultados da pesquisa Crise da democracia e extremismos de direita nesta terça-feira (3), em São Paulo. 
Segundo ela, a ideia de "ordem" almejada por essa parcela do eleitorado não é apenas a da militarização e do combate à violência, mas uma "ordem existencial", de pessoas que não entendem plenamente as transformações tecnológicas, econômicas e sociais ocorridas nos últimos anos, e se ressentem de um lugar social anterior, e que foi perdido. 
O fortalecimento do discurso de inclusão social e maior organização de grupos que lutam por direitos, como os movimentos negro, feminista e LGBT nas últimas décadas, causaram uma "reorganização no campo cultural e na esfera pública", que faz com que uma pessoa conservadora de direita se sinta perdida. "A pessoa não consegue enxergar esse mundo novo, não sabe muito bem o que fazer, e quer a volta de uma ordem existencial na qual ela se sentia muito mais à vontade", ressalta a professora.
O radicalismo de direita ganha, portanto, ares de "reação virulenta". Esther diz que esse discurso autoritário também cresce na esteira de "vácuos" deixados pelo campo progressista nos temas relativos ao combate à violência e à corrupção. "Refiro-me fundamentalmente a questões como segurança pública,  tradicionalmente deixada de lado pela esquerda brasileira, e a corrupção, que também se deixou monopolizar por uma direita moralista, hiper punitiva e populista. A extrema-direita se fortalece exatamente nesses vácuos políticos que a esquerda não soube ou não quis administrar politicamente", anota Esther.
Além da reação em favor da ordem, da autoridade e do reforço das hierarquias sociais, outro componente importante é a crise de representação e o crescimento da antipolítica. Nesse quesito, Esther diz que a Operação Lava Jato teve fundamental contribuição, por se basear na "espetacularização midiática" e no "Direito Penal do Inimigo". "A ideia que o corrupto é inimigo, e contra o inimigo não tem Direito, mas basicamente perseguição. A Lava Jato é uma operação absolutamente teatralizada. Tudo isso tem como consequência o aumento do sentimento antipolítico."
Ela diz que os movimentos que saíram às ruas para defender o golpe do impeachment também migraram, gradualmente, de uma posição antipetista para uma postura antipolítica. Se no início os grupos se aglutinavam no slogan "Fora PT", aos poucos, a palavra de ordem se tornou "prendam todos", também por influência do punitivismo perseguidor exalado de Curitiba. 

Memes de ódio

O "mérito" dos grupos de extrema-direita foi substituir as formas "duras" dos lemas e discursos de outros tempos por formas mais assimiláveis com memes e vídeos sintonizados com a linguagem de internet, mas que preservam o mesmo conteúdo xenófobo, misógino e de combate ao diferente, contribuindo para a banalização do discurso de ódio, principalmente entre os mais jovens. Outra questão, segundo Esther, que garante a adesão de parcela da juventude é o fato de terem crescido nos anos em que a esquerda estava no poder. 
"Se nos anos 1970 ser rebelde era ser de esquerda, agora, para muitos destes jovens, é votar nesta nova direita, que se apresenta de uma forma cool, disfarçando seu discurso de ódio em formas de memes e de vídeos divertidos", constata a pesquisadora. Quando confrontados com o teor preconceituoso dos discursos de Bolsonaro, alegam que se trata de um exagero, fruto de uma perseguição por parte da imprensa, que estaria alinhada às velhas estruturas de poder.

A meritocracia

Outra ideia comum entre os entrevistados, segundo a professora, é uma concepção absolutamente individualista, de valorização do esforço individual como forma de alcançar o sucesso. Por isso, repudiam políticas sociais como o Bolsa Família e as cotas para negros em universidades, pois, segundo eles, esses mecanismos de inclusão fariam com que outros "furassem a fila" da meritocracia.
Segundo a professora, muitos apoiadores de Bolsonaro dizem ter votado em Lula nas eleições passadas, pois este também era visto como o político "diferente", "carismático" que falava a língua do povo. A ironia é que os que rejeitam Lula o fazem após terem ascendido socialmente, não se identificam mais como pobres, mas como pertencentes à nova classe média. 

MEMÓRIA Te recuerdo, Víctor Jara: Justiça do Chile condena assassinos do cantor E NO BRASIL?


MEMÓRIA

Te recuerdo, Víctor Jara: Justiça do Chile condena assassinos do cantor

Ele foi torturado e morto com mais de 40 tiros em 1973, logo depois do golpe que levou Augusto Pinochet ao poder
por Redação RBA publicado 04/07/2018 16h28, última modificação 04/07/2018 17h09
FUNDAÇÃO VÍCTOR JARA
Fundação Víctor Jara
Cantor e militante político esteve prestes a completar 41 anos quando foi preso e assassinado pela ditadura
São Paulo – A Justiça chilena condenou nove oficiais do Exército pelo assassinato do cantor Víctor Jara, morto logo depois do golpe militar deflagrado em 11 de setembro de 1973, que levou Augusto Pinochet ao poder. Um dia depois de sua prisão, no dia 15, a duas semanas de completar 41 anos, ele foi encontrado morto. Em seu corpo, deixado na rua, perto do Cemitério Metropolitano, foram identificados 44 impactos de bala. Segundo relatos, ele foi espancado e teve as mãos quebradas.
O juiz Miguel Vásquez, da Corte de Apelações, condenou oito oficiais a 15 anos e um dia de prisão pelas mortes de Víctor Jara e do advogado e diretor do sistema prisional Littré Abraham Quiroga Carvajal, também preso e torturado, e a mais três anos pelo sequestro das vítimas. Enquanto Jara foi preso na Universidade Técnica do Estado, atual Universidade de Santiago, onde lecionava, Quiroga se entregou voluntariamente. Seus corpos  foram encontrados perto de outros três, do lado de fora do Cemitério Metropolitano. O local é hoje um espaço de memória e tornou-se monumento nacional.
Outro envolvido foi condenado a cinco anos e um dia por encobrir o crime. O Estado do Chile deverá pagar uma indenização de 1,370 bilhão de pesos (aproximadamente US$ 2,1 milhões) a familiares das vítimas. Jornais lembram que o ex-militar Pedro Pablo Barrientos, acusado de torturar e atirar no músico, vive desde 1989 nos Estados Unidos, e há uma campanha por sua extradição.
"Em Víctor não se pode separar o homem do artista. Ambos estão indissoluvelmente unidos, como dois rios que se nutrem e se reinventam de maneira contínua", diz texto na página da Fundação Víctor Jara, criada há 25 anos e presidida por Joan, viúva do cantor, pesquisador, diretor de teatro e professor, militante comunista e ativo defensor do projeto do presidente socialista Salvador Allende, que se suicidou no dia do golpe.
"Sou um homem simples, de origem camponesa. Tive a sorte e o privilégio de realizar estudos universitários, de ser um diretor teatral. Por esta razão é que me sinto muito mais comprometido com o povo. Quero que meu canto faça vibrar a essa gente modesta, porque a eles está dirigida a mensagem de minhas canções", afirma o artista, no mesmo texto, que aponta ainda a "grande influência" de Violeta Parra na obra de Víctor Jara. "Ambos compartilhavam as mesmas ideias sobre o papel que deveria ter o folclore na criação artística." Violeta sugeriu que ele e Ángel, seu filho, tocassem juntos. O projeto não se concretizou, mas os dois se tornaram amigos.
Encontrado na rua, o corpo de Jara foi enterrado em uma cerimônia clandestina em Santiago. Apenas em 2009, seus restos mortais foram exumados, com a perícia constando o brutal assassinato do artista, que só então pôde ter um funeral público e ser homenageado.
A ex-presidenta chilena Michelle Bachelet comentou a notícia em rede social. "Com a condenação de 9 ex-militares responsáveis por seu assassinato há quase 45 anos, Víctor Jara canta com mais força do que nunca e o Chile faz justiça com sua história. Apenas por meio da verdade, da justiça e da reparação se constrói a unidade que os chilenos/as tanto desejamos."
Com 342 páginas, a sentença de Vázquez começa com os nomes dos acusados: tenente-coronel Hugo Hernán Sánchez Marmonti, 91 anos; tenente Edwin Armando Roger Dimter Bianchi, 68 anos; coronel Nelson Edgardo Haase Mazzei, que completará 72 anos nesta sexta (6); tenente-coronel Ernesto Luis Bethke Wulf, 72 anos; tenente-coronel Juan Renán Jara Quintana, 70 anos; brigadeiro Hernán Carlos Chacón Soto, 81 anos; coronel Patricio Manuel Vásquez Donoso, 72 anos; Raúl Aníbal Jofré González, 70 anos; e coronel Rolando Camilo Humberto Melo Silva, 78 anos.