segunda-feira, 10 de outubro de 2016

“PEC 241 é condenação de morte para milhares de brasileiros” CANALHAS! CANALHAS! CANALHAS! A "PEC da MORTE" foi aprovada, em primeiro turno, hoje!

Entrevista – José Gomes Temporão

“PEC 241 é condenação de morte para milhares de brasileiros”

por Rodrigo Martins — publicado 10/10/2016 03h53
Em vez de sacrificar a saúde e a educação no ajuste fiscal, o ex-ministro propõe o enfrentamento à injusta estrutura tributária do País
Adriana Lorete
Temporão
'Haverá uma perda real de recursos para saúde, enquanto a demanda só aumenta', diz Temporão


Subfinanciado desde a sua criação, o Sistema Único de Saúde já tinha a sua sustentabilidade ameaçada pelas transformações que o País passa: um acelerado envelhecimento da população, acompanhado do aumento da prevalência de doenças crônicas, a demandar tratamentos prolongados e dispendiosos. APEC 241, que congela os gastos públicos por 20 anos, apenas agrava o problema, com a perspectiva de perda real de recursos, avalia o médico José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde do governo Lula.
Aprovada por uma comissão especial da Câmara, a proposta deve ir a votação no plenário nesta semana. Para diminuir resistências parlamentares à aprovação, o relator Darcísio Perondi (PMDB-RS) combinou com o governo uma mudança no projeto. O congelamento dos recursos de saúde e educação começaria não em 2017, como previa a proposta original do governo, mas em 2018. Além disso, o novo relatório estabelece que a base de cálculo do piso da saúde em 2017 será de 15% da receita líquida, e não de 13,7%, como previsto inicialmente. 
Mesmo com o alívio no primeiro ano, é prevista uma perda acumulada de centenas de bilhões de reais ao longo dos 20 anos de vigência. “Essa decisão do Congresso é uma condenação de morte para milhares de brasileiros que terão a saúde impactada por essa medida irresponsável”, diz Temporão, em entrevista a CartaCapital. “Estamos falando de fechamento de leitos hospitalares, de encerramento de serviços de saúde, de demissões de profissionais, de redução do acesso, de aumento da demora no atendimento.”
Para o ex-ministro, o País renuncia ao seu futuro ao sacrificar a saúde e a educação no ajuste fiscal. “Se existe um problema macroeconômico a ser enfrentado, do ponto de vista dos gastos públicos, há outros caminhos. Mas este governo não parece disposto a enfrentar a questão da reforma tributária”, afirma. “Temos uma estrutura tributária regressiva no Brasil, que penaliza os trabalhadores assalariados e a classe média, enquanto os ricos permanecem com os seus privilégios intocados”.
CartaCapital: O que representa a PEC 241 para a saúde pública?José Gomes Temporão: Todos nós, especialistas em saúde pública que militam pela reforma sanitária há décadas, estamos estarrecidos com essa proposta. De um lado, ela denota a ignorância do governo sobre a dinâmica do setor de saúde. Bastaria fazer uma consulta ao portal Saúde Amanhã, da Fiocruz, que abriga uma série de estudos prospectivos dos impactos das transformações econômicas, políticas e sociais no campo da saúde para as próximas décadas, para que a PEC 241 fosse repensada.  
Estamos vivendo um período de aceleradas transformações no Brasil do ponto de vista demográfico, epidemiológico, tecnológico e organizacional. Essas mudanças vão pressionar substancialmente o Sistema Único de Saúde, ameaçando, inclusive, a sua sustentabilidade econômica.
CC: Um desses fatores de pressão é o envelhecimento da população brasileira, pois os idosos demandam maior atenção médica.JGT: Sim, esse é um dos aspectos: a transição demográfica. O Brasil está passando por um processo de envelhecimento populacional muito rápido, praticamente na metade do tempo que a França levou para concluir essa mesma transição. Também há uma mudança no padrão das enfermidades.
As doenças infectocontagiosas estão perdendo espaço relativo, enquanto avançam as doenças crônicas, que representam um custo mais alto, não apenas no diagnóstico, mas em virtude do tratamento prolongado, que pode se estender por toda a vida. A Organização Mundial da Saúde projeta que, em 2030, as principais causas de mortalidade no mundo não serão mais as doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares, e sim o câncer, que tem um custo de tratamento altíssimo.
CC: Ou seja, os gastos com saúde só tendem a aumentar.JGT: Na verdade, acho equivocado tratar saúde como gasto. Do conjunto de políticas sociais, ela tem uma dinâmica própria que pode, inclusive, fazer parte da solução macroeconômica para sair da crise. Ao contrário de outras áreas, nas quais a tecnologia costuma substituir o trabalho humano, na saúde ocorre justamente o contrário. Quanto mais tecnologia você incorpora, maior será a demanda de mão-de-obra qualificada.
Envelhecimento
'O Brasil está passando por um processo de envelhecimento populacional muito rápido' (Emerson Bressan/SMCS)
Gostaria, porém, de destacar uma profunda injustiça do ponto de vista político: os que estão patrocinando a PEC 241, esse crime contra a saúde pública, estarão protegidos por seus planos e seguros-saúde, inclusive subsidiados pelos contribuintes. Os funcionários públicos dos três poderes têm planos financiados, em parte, pelos impostos pagos por todos os brasileiros. Os legisladores fazem parte dos 20% da população que dispõem de planos de saúde, mas essa decisão afetará profundamente os 80% que só podem contar com o sistema público.

CC: O governo argumenta que não está retirando dinheiro da saúde.JGT: Isso é retórica. Eles também dizem que, para 2017, colocaram recursos a mais. No entanto, a partir de 2018 a saúde estará submetida à mesma regra, de ter o orçamento reajustado pela inflação acumulada no ano anterior. Ora, isso é desconhecer completamente que a inflação e a dinâmica da saúde seguem uma trajetória absolutamente distinta. Todos sabem disso, há toneladas de estudos que comprovam esse descompasso. Uma medida como essa, que vigorará por 20 anos, levará a um profundo desfinanciamento da saúde, que a partir do terceiro ou quarto ano terá uma perda real de recursos, enquanto a demanda só aumenta.
Se existe um problema macroeconômico a ser enfrentado, do ponto de vista dos gastos públicos, há outros caminhos. Mas este governo não parece disposto a enfrentar a questão da reforma tributária. Por que não taxar melhor os 71 mil brasileiros mais ricos? Eles ganharam, em média, 4,1 milhões de reais no ano de 2013 e estão submetidos a uma carga tributária efetiva inferior a 7% (Confira um artigo a respeito, publicado pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo, vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Temos uma estrutura tributária regressiva no Brasil, que penaliza os trabalhadores assalariados e a classe média, enquanto os ricos permanecem com os seus privilégios intocados. Deveriam ficar de fora do ajuste fiscal as áreas de saúde, educação, ciência e tecnologia, pois delas dependem o futuro do País, o nosso projeto de desenvolvimento.
CC: Mas quem vai enfrentar os patos da Fiesp? Aquilo parecia ser um recado claro de que os ricos não estão dispostos a pagar mais impostos.JGT: É verdade. Existe uma casta de brasileiros que detém uma fatia muito grande da renda nacional e pagam, proporcionalmente, muito pouco. O Brasil é um dos raros países do mundo que isentam empresários de pagar impostos sobre lucros e dividendos (dos 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, apenas México, Eslováquia e Estônia seguem essa tendência). Ou seja, a empresa paga o seu imposto, mas a pessoa física, quando declara essa renda, não é tributada.
Poderíamos fazer uma profunda discussão sobre essas disparidades, mas isso não entra na agenda política, até porque esse governo expressa justamente os interesses dessa casta de privilegiados.
CC: A bem da verdade, nenhum governo enfrentou com seriedade a questão da regressividade da estrutura tributária no Brasil...JGT: Sim. Infelizmente, isso permaneceu intocado mesmo nos governos petistas, de Lula e Dilma Rousseff. Até hoje estamos nessa encruzilhada, com a necessidade de uma reforma política, de uma reforma tributária, com a saúde e a educação como grandes desafios.
CC: Qual é a estimativa de perda de recursos para a saúde pública?JGT: O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada fez uma projeção, antes dessa última mexida no texto da PEC 241, que demonstra um impacto brutal, de centenas de bilhões de reais (em um cenário de crescimento do PIB de 2% ao ano, a perda acumulada em 20 anos seria de 654 bilhões de reais, segundo uma nota técnica divulgada pelo Ipea no fim de setembro. De acordo com uma projeção feita por uma Consultoria da Câmara, somente no ano de 2025, a perda seria de 63 bilhões de reais – no acumulado de dez anos, chega a 331 bilhões).
SUS
'Desde que nasceu, no final dos anos 1980, o SUS está subfinanciado', diz o ex-ministro (Foto: Fernando Frazão/ABr)
Na verdade, não se trata de números. Estamos falando de mortes. Essa decisão do Congresso é uma condenação de morte para milhares de brasileiros que terão a saúde impactada por essa medida irresponsável. Estamos falando de fechamento de leitos hospitalares, de encerramento de serviços de saúde, de demissões de profissionais, de redução do acesso, de aumento da demora no atendimento.

CC: E os dados da OMS revelam que investimento público em saúde no Brasil é inferior à média mundial, quando se analisa o gasto per capita.JGT: É verdade, e a estrutura de gastos do setor é absolutamente distorcida. Apenas 48% das despesas totais com saúde no Brasil são públicas, o restante, 52%, são gastos privados, das famílias e das empresas. Os mais pobres também investem recursos próprios, toda vez que precisam comprar um medicamento ou ter acesso a algum serviço que não encontram na rede pública. No Brasil, o governo gasta pouco e o ônus do financiamento recai sobre as famílias.
A PEC 241 só agrava essa situação. Para ter um parâmetro de comparação, na Inglaterra, que também tem um sistema de saúde universal, 85% do gasto total é público. Essa é a grande diferença. Desde que nasceu, no final dos anos 1980, o SUS está subfinanciado. E, agora, corre o risco de passar por um processo de desfinanciamento, de retirada de recursos.
CC: O cardiologista e ex-ministro da Saúde Adib Jatene, falecido em 2014, costumava fazer comparações com a situação anterior ao SUS, quando apenas os trabalhadores formais, com carteira assinada, tinham acesso aos hospitais mantidos pelo extinto Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Os demais dependiam da filantropia. O SUS incluiu milhões de brasileiros, mas jamais teve os recursos necessários para contemplar o aumento da demanda.JGT: O que está se defendendo aqui? Que não retornemos à situação pré-SUS, quando havia três categorias de brasileiros: os ricos e muito ricos, que pagavam diretamente pela atenção à sua saúde, a massa de trabalhadores formalmente inserida no mercado de trabalho, que eram garantidos pelo Inamps (e agora beneficiam-se de planos de saúde das empresas), e os demais, que dependiam da caridade.
A PEC 241 ameaça uma cláusula pétrea da Constituição de 1988, que é o direito à saúde. E a responsabilidade intransferível do que vier a acontecer é deste governo e dos congressistas que aprovarem este disparate.
Fonte: Carta Capital

URGENTE! Ditadura Temer: Está proibida entrada no congresso nacional

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

URGENTE! Ditadura Temer: Está proibida entrada no congresso nacional

Congresso neste momento
      Michel Temer e aliados vão avançando em seu plano de aprovar com urgência a PEC 241, neste momento assessores parlamentares e sociedade em geral estão proibidos de entrar no plenário do congresso nacional. Estaríamos vivendo em uma ditadura? 

Edit: Foto recebida 14:47

Entenda como funciona esquema fraudulento da PEC 241: 

A DEGRADAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

a degradação das instituições

Sob vários pretextos, simulando uma ação moralizadora, membros de instituições jurídicas da mais alta relevância na organização pública brasileira vêm aparecendo com muita frequência na imprensa, não pela realização de trabalho sério na defesa do interesse público, mas, bem longe disso, aparecem porque adotam atitudes exibicionistas ou fazem acusações sem qualquer fundamento numa linha que sabem ser do agrado da imprensa sensacionalista.
Dalmo Dallari*

O resultado disso é o desprestígio das instituições a que pertencem e em cujo nome se exibem, já tendo sido apontados graves desvios no âmbito da Justiça Federal e do Ministério Público Federal. E como já tem sido também observado, comportamentos reprováveis envolvendo essas instituições têm várias motivações, estando entre elas a busca de ganhar evidência na grande imprensa e também motivações políticas, havendo registros em que essas duas motivações se conjugam.

Como é público e notório, existe hoje no Brasil verdadeira obsessão anti-Lula, sabendo-se de antemão que uma afirmação ou denúncia que contenha uma acusação ao ex-Presidente, ainda que não tenha qualquer fundamentação em fatos conhecidos e comprovados tem toda a possibilidade de ganhar grande evidência na imprensa. A partir, sobretudo, da instalação da chamada Operação Lava-Jato e do envolvimento da Justiça Federal da 4ª. Região, especialmente da Vara Federal que tem como titular o Juiz Sérgio Moro, o verdadeiro circo jurídico, com exibicionismo que chega às vezes ao ridículo, foi instalado. E isso tem sido expressamente reconhecido e reprovado por autoridades do Judiciário. Com efeito, teve início em Curitiba uma verdadeira cruzada anti-Lula e anti-PT, o que já ficou mais do que evidente por inúmeras peculiaridades, às vezes muito óbvias e outras vezes cuidadosamente ocultadas pela grande imprensa, mas realçadas por algumas publicações da imprensa e por pronunciamentos de membros do Ministério Público e da Magistratura.

Denunciando esses desvios o eminente jornalista Jânio de Freitas, da Folha de S. Paulo, referiu-se à “República de Curitiba”, observando que pelos excessos cometidos, muitas vezes com manifesta ilegalidade, pode-se dizer que ali se instalou um verdadeiro “Tribunal de Exceção”. Mas tem especial importância uma revelação, expressa e absolutamente clara, feita por um eminente membro do Tribunal Federal da 4ª. Região. Pronunciando-se recentemente num processo em curso na Corregedoria Regional da Justiça Federal da 4ª. Região, o eminente Desembargador Rogério Favreto manifestou sérias restrições ao comportamento do Juiz Sérgio Moro e observou textualmente o seguinte: “São conhecidas as participações do magistrado em eventos públicos liderados pelo Sr. João Dória Júnior, atual candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB” (esse pronunciamento consta do P.A. Corte Especial nº 0003021-32.2016.4.04.8000/RS).

Na sequência dos exageros, às vezes manifestamente ilegais, cometidos pelo Judiciário, integrantes do Ministério Público Federal, naturalmente comungando da mesma motivação política, mas também ansiosos por publicidade, ofereceram ao público um verdadeiro espetáculo circense. Numa entrevista coletiva usando o PowerPoint o Procurador Deltan Dallagnol, comportando-se como um verdadeiro comediógrafo, denunciou espalhafatosamente o ex-Presidente Lula como o “comandante máximo de uma organização criminosa”. E, no entanto, limitou-se à comédia, não oferecendo denúncia formal contra o ex-Presidente, como seria de seu dever funcional se realmente tivesse algum elemento de prova do que estava afirmando.

Mais recentemente, num processo em curso na 2ª. Turma do Supremo Tribunal Federal, no qual se questiona a competência do Juiz Sérgio Moro, da 13ª. Vara Federal de Curitiba, para um processo contra Lula, preclaro Ministro Teori Zavascki criticou o que chamou de “espetáculo midiático” que se desenvolve em Curitiba. E fez expressa referência à exibição, falsamente jurídica, do Procurador Dallagnol, fazendo a seguinte crítica àquele espetáculo circense: “Essa espetacularização do episódio não é compatível nem com aquilo que foi objeto da denúncia, nem me parece compatível com a seriedade que se exige na apuração desses fatos”. E observou então que naquela coletiva de Curitiba se deu notícia sobre a organização criminosa, colocando Lula como o líder, “dando a impressão, sim, de que se estaria investigando essa organização criminosa. Mas o que foi objeto do recebimento de denúncia, efetivamente não foi nada disso. Realmente, houve esse descompasso”.

Por tudo isso e pelo que tem sido amplamente noticiado ou explorado pela imprensa, a conclusão é que o verdadeiro circo jurídico implantado a partir de Curitiba está muito longe dos padrões de seriedade e responsabilidade que são exigidos dos integrantes dos órgãos do Judiciário e do Ministério Público, que devem agir com serenidade e sobriedade, independência e imparcialidade, para que gozem da confiança, do respeito e da admiração do povo brasileiro, como verdadeiros guardiões do Direito e da Justiça.

*Jurista e professor emérito da USP


SE OS ESTADOS UNIDOS ATACAREM A SÍRIA

Se OS ESTADOS UNIDOS atacarem a Síria

As tensões entre Rússia e EUA alcançaram nível sem precedentes. Concordo integralmente com os participantes dessa edição de CrossTalk -, para os quais a situação e pior e ainda mais perigosa que durante a Crise dos Mísseis Cubanos. Os dois lados estão partindo para o chamado "Plano B" que, dito em termos simples significa, no melhor dos casos, fim das negociações; e, no pior, guerra entre Rússia e EUA.

O dado-chave a compreender na posição dos russos nesse conflito, como em outros conflitos recentes com os EUA é que a Rússia ainda é muito mais fraca que os EUA e, assim sendo, a Rússia não quer guerra. Não implica dizer que o país não esteja preparando-se ativamente para a guerra. Sim, é isso, precisamente, que a Rússia faz muito e muito ativamente. O significado desse dado chave é que, no caso de que chegue a haver conflito, a Rússia se empenhará muito, o mais possível, em mantê-lo o mais limitado possível.

Em teoria, eis, em linhas muito esquemáticas, os possíveis níveis de confronto:

1)      Impasse militar à la Berlim em 1961. Pode-se dizer que é isso que já está acontecendo hoje, embora em maior distância e com menor visibilidade.

2)      Incidente militar único, como aconteceu recentemente quando a Turquia derrubou um jato SU-24 russo e a Rússia optou por não retaliar.

3)      Série de confrontos localizados, semelhante ao que já está realmente acontecendo entre Índia e Paquistão.

4)      Conflito limitado ao teatro de guerra sírio (como, pode-se dizer a guerra entre Reino Unido e Argentina pelas Ilhas Malvinas).

5)      Confronto militar regional ou global entre EUA e Rússia.

6)      Guerra termonuclear total entre EUA e Rússia.

Durante meus anos de estudante de estratégia militar, participei de muitos exercícios de escalada e desescalada e posso atestar que, por mais que seja muito fácil vir com cenários de desescalada, ainda estou por ver cenário crível para desescalada. Possível, isso sim, é a chamada "escalada horizontal", ou "escalada assimétrica", na qual um dos lados escolhe não subir a aposta, ou escalar diretamente, mas escolhe, em vez disso, um alvo diferente contra o qual retaliar, não necessariamente alvo mais valioso, apenas diferente no mesmo nível de importância conceitual (nos EUA Joshua  M. Epstein e Spencer D. Bakich fizeram a maior parte do trabalho de abrir a trilha, nesse tópico).

A principal razão pela qual podemos esperar que o Kremlin tente encontrar opções assimétricas para responder a ataque dos EUA é que no contexto sírio, a Rússia está inapelavelmente inferiorizada, na relação armada contra EUA/OTAN, pelo menos em termos quantitativos. As soluções lógicas para os russos estão em usar a própria vantagem qualitativa, ou visar "alvos horizontais" como opção para retaliação possível. Essa semana, aconteceu algo interessante e absolutamente não característico: o major-general Igor Konashenkov, Diretor da Diretoria do Serviço de Mídia do Ministério da Defesa da Federação Russa mencionou abertamente essa opção. Eis o que Konashenkov disse: "Quanto às ameaças de Kirby sobre possíveis perdas de aeronaves russas, e o envio de soldados russos em sacos de cadáveres, de volta à Rússia, gostaria de dizer que sabemos onde e quantos "especialistas não oficiais" operam na Síria e na província de Aleppo e sabemos que estão envolvidos no planejamento operacional e que supervisionam as operações dos terroristas e militantes. Claro, pode-se continuar a repetir que não conseguem separar terroristas da Frente al-Nusra e as forças "da oposição". Mas se alguém tentar cumprir essas ameaças, absolutamente nada assegura que esses militantes tenham tempo para se escafeder de onde estão."

Konashenkov parece estar ameaçando só os "militantes", mas faz clara menção a muitos "especialistas não oficiais" entre aqueles militantes e que a Rússia sabe exatamente onde estão e quantos são. Claro, oficialmente Obama declarou que há umas poucas centenas desses conselheiros especiais norte-americanos na Síria. Fonte russa bem informada sugere que sejam cerca de 5.000 'conselheiros' estrangeiros ao lado dos Takfiris incluindo cerca de 4.000 norte-americanos. Suponho que a verdade seja algo entre um e outro número.

Assim sendo, a ameaça russa é simples: ataquem os russos e os russos atacarão as forças dos EUA na Síria. Claro, a Rússia negará veementemente ter alvejado soldados norte-americanos e insistirá que só atacou terroristas, mas os dois lados compreendem o que se passa aqui. Interessante também que ainda na semana passada a agência de notícias iraniana noticiou que esse ataque, pelos russos, já aconteceu:

30 oficiais de inteligência de Israel mortos em ataque com míssil Caliber russo, em Aleppo

“Os navios de guerra russos dispararam três mísseis Caliber contra a sala de coordenação de operações de oficiais estrangeiros na região de Dar Ezza na parte ocidental de Aleppo próximo à montanha Sam'an, matando 30 oficiais israelenses e ocidentais", lia-se na edição em árabe da Agência de Notícias, em Sputnik da Rússia, citando fonte no campo de batalha em Aleppo, na 4ª-feira (5/10). A sala das operações estava localizada na parte ocidental da província de Aleppo, em antigas cavernas, a meia altura das altíssimas montanhas Sam'an. A região está abrigada no fundo do vale de uma cadeia de montanhas. “Vários oficiais dos EUA, sauditas, cataris e britânicos também foram mortos, além de oficiais israelenses. Os oficiais estrangeiros mortos nas operações contra a sala de operações em Aleppo dirigiam dali os ataques dos terroristas contra Aleppo e Idlib.”

Se isso realmente aconteceu, ou se os russos estão vazando essas histórias para indicar que poderia ter acontecido, permanece o fato de que forças dos EUA na Síria podem tornar-se alvo óbvio de retaliação operada pelos russos, seja com mísseis cruzadores, bombas de gravidade ou operação de ação direta pelas forças especiais russas. Os EUA também têm várias instalações militares clandestinas na Síria, incluído pelo menos um campo de pouso com a aeronave tiltirotor V-22 Osprey multimissão.

Outro interessante desenvolvimento recente foi a notícias, distribuída pelo canal Fox News, de que os russos estão estacionando o S-300V (também chamado "sistema antimísseis e antiaéreo SA-23 Gladiator") na Síria. Vejam nesse excelente artigo uma discussão detalhada das capacidades desse sistema de mísseis. Resumo do que lá se lê: O S-300V pode engajar mísseis balísticos, mísseis cruzadores, aeronaves de muito baixa altitude RCS ("invisíveis" a radares, chamados stealth) e aeronaves AWACS (Sistema Aéreo de Alerta e Controle [embarcado].Trata-se de sistema de defesa aérea de nível Exército/Exército, capaz de defender grande parte do espaço aéreo sírio, mas também de alcançar a Turquia, Chipre, o Mediterrâneo ocidental e o Líbano. Os poderosos radares desse sistema não só conseguem detectar e acompanhar aeronaves dos EUA (inclusive as "stealth") em grandes distâncias, mas, também, podem dar grande ajuda aos jatos de combate russos, por que lhes fornecem imagens claras das suas aeronaves e de inimigas, servindo-se de datalinks encriptados. Finalmente, a doutrina aérea dos EUA é extremamente dependente de aeronaves AWACS equipadas para guiar e dar apoio aos jatos dos EUA. O sistema S-300V forçará os AWACS de EUA/OTAN a operar a uma distância muito desconfortável. Entre os radares de mais longo alcance dos Sukhois russos, os radares dos cruzadores russos ao largo da costa síria, e os radares S-300 e S-300V em terra, os russos terão muito melhor clareza informacional da situação que os norte-americanos.

Parece que os russos estão empenhados em compensar a própria inferioridade numérica, instalando, na região, sistemas de alta qualidade dos quais os EUA não têm equivalentes, nem contramedidas eficazes.

Há basicamente duas opções de contenção: negação, quando se impede que o inimigo atinja os alvos definidos; e retaliação, quando se tornam os custos de um ataque inimigo inaceitavelmente altos para ele. Os russos parecem estar trabalhando as duas trilhas ao mesmo tempo. Pode-se resumir a abordagem russa, nos seguintes termos:

1)      Adiar o mais possível qualquer confronto (ganhar tempo).

2)      Tentar manter qualquer confronto no nível mais baixo possível de escalada.

3)      Se possível, replicar com escaladas assimétricas/horizontais.

4)      Em vez de "prevalecer" contra EUA/OTAN - tornar altos demais os custos de qualquer ataque.

5)      Tentar pressionar os "aliados" dos EUA, para criar tensões dentro do Império.

6)      Tentar paralisar os EUA, no plano político, tornando altos demais os custos políticos de qualquer ataque.

7)      Tentar criar gradualmente as condições em campo (Aleppo), para tornar fútil qualquer ataque dos EUA.

Para os educados por filmes de Hollywood e que ainda assistem TV, essa estratégia só gera condenações e frustração. Há milhões de estrategistas de poltrona que têm certeza de que eles, sozinhos, fariam melhor trabalho que Putin, na reação contra o Império Norte-americano. Essas pessoas já há anos dizem que Putin "entregou" os sírios e que os russos teriam de fazer X, Y e Z para derrotar o Império Anglo-Sionista. A boa notícia é que nenhum desses estrategistas de poltrona senta no Kremlin e que, ao longo dos anos, os russos nunca se afastaram da estratégia que traçaram, um dia de cada vez, mesmo quando criticados pelos que querem soluções rápidas e fáceis. Mas a principal boa notícia é que a estratégia russa está funcionando. Não só a Ucrânia ocupada por nazistas está literalmente ruindo, caindo aos pedaços, como também os EUA, basicamente, já não têm opções na Síria.

Os únicos passos lógicos que restam para os EUA na Síria são: aceitar os termos que os russos oferecem; ou partir. O problema é que os neoconservadores que governam a Casa Branca, o Congresso e a mídia-empresa norte-americana não são "racionais". Muito pelo contrário. Essa é a razão pela qual os russos empregaram tantas táticas de adiamento e atuaram com tal e tamanho cuidado: estão lidando com ideólogos profissionais incompetentes, que simplesmente não jogam pelas regras não escritas, mas claras, das relações internacionais civilizadas. Eis o que faz a crise atual pior que a Crise dos Mísseis Cubanos: uma superpotência, claramente, enlouqueceu.

Os norte-americanos são doidos o suficiente para correr o risco de mergulhar na 3ª Guerra Mundial por causa de Aleppo? Talvez sim, talvez não.

Mas e se reformularmos a mesma pergunta e perguntarmos: Os norte-americanos são doidos o suficiente para arriscar uma 3ª Guerra Mundial, para manter o próprio status como "única nação indispensável", "líder do mundo livre", "cidade no alto da colina" e todo o resto desse nonsense pró-imperialismo?

Nesses termos, eu diria que sim; e podem até já estar fazendo exatamente isso.

Afinal, os neoconservadores acertam ao sentir que, se a Rússia conseguir safar-se, tendo desafiado abertamente e derrotado os EUA na Síria, ninguém nunca mais levará muito a sério os anglo-sionistas.

Como admitir o conformismo dos neoconservadores às palavras do presidente das Filipinas, que chamou, publicamente, Obama de "filho da puta", acrescentando, em seguida, “a União Europeia que se lasque"?

Claro, os neoconservadores ainda podem encontrar algum consolo na abjeta subserviência das elites políticas europeias. Mesmo assim, eles sabem o que está escrito no muro e que o Império deles está ruindo rapidamente, não só na Síria, na Ucrânia e na Ásia, mas também dentro dos EUA. O maior perigo aqui é que os neoconservadores podem tentar arregimentar a nação, seja encenando mais um ataque imaginário ou provocando uma crise internacional real.

Nesse particular, tudo que o se pode fazer é esperar, contando a resistência suficiente, dentro do governo dos EUA, para impedir um ataque dos EUA à Síria antes da posse do próximo governo.  Por menor que seja a confiança depositada em Trump, deve-se reconhecer que Hillary Clinton e a escória de neoconservadores russofóbicos que a cercam são tão horrendos, que Trump chega a ser uma esperança, pelo menos na comparação com Hillary.

Assim sendo, se Trump vencer, nesse caso, a estratégia dos russos estará basicamente justificada. Uma vez Trump na Casa Branca, há pelo menos a possibilidade de uma redefinição ampla das relações EUA-Rússia, a qual, é claro, começa por uma desescalada na Síria: enquanto Obama/Hillary categoricamente recusam-se a livrar-se do Daech (al-Nusra, al-Qaeda e suas várias denominações), Trump parece determinado a combater seriamente contra eles, ainda que isso signifique que Assad permaneça no poder. Há aqui maior probabilidade uma base para diálogo. Se Hillary for eleita, nesse caso, os russos terão de encarar uma questão absolutamente crucial: a importância que se reveste a Síria no contexto da afirmação soberana da Rússia e de pôr abaixo o Império Anglo-sionista. Outro modo de formular a mesma questão seria: "A Rússia prefere confrontar o Império na Síria ou na Ucrânia?"

Um modo de aferir os humores na Rússia é observar a linguagem de uma recente lei proposta pelo presidente Putin e aprovada na Duma e que trata da questão do Acordo Rússia-EUA para Gestão e Disposição do Plutônio. Nesse caso, mais uma vez, os EUA não cumpriram obrigações geradas por tratado; e a Rússia agora cancelou o acordo. Interessante é a linguagem escolhida pelos russos para listar as condições sob as quais aceitariam voltar a participar nesse acordo e, basicamente, aceitariam retomar qualquer tipo de negociação que envolva armamentos:

·         A redução da infraestrutura militar e do número de soldados dos EUA estacionados no território de estados-membros da OTAN que se uniram à aliança depois de 1º/9/2000, que devem voltar aos níveis em que estavam quando o acordo inicial foi firmado e se tornou vigente.

·         O fim da política hostil dos EUA em relação à Rússia, que deve ser confirmada pela abolição da Lei Magnitsky, de 2012, e das condições da Lei de Apoio à Liberdade da Ucrânia, de 2014, que foram dirigidas contra a Rússia.

·         A abolição de todas as sanções impostas pelos EUA contra pessoas físicas e jurídicas legais da Federação Russa.

·         A compensação por todos os danos sofridos pela Rússia, por efeito da imposição de sanções.

·         E que os EUA apresentem, o mais rapidamente possível, um plano claro para disposição de plutônio, coberto e aprovado pela PMDA.

Ora, os russos não são malucos. Sabem muito bem que os EUA jamais aceitarão tais termos. Assim sendo, do que se trata aqui, realmente? Trata-se de um modo diplomático, mas absolutamente sem ambiguidades, muito claro, de dizer aos EUA exatamente o que disse o presidente filipino Duterte (e que Victoria Nuland disse - ao telefone - à União Europeia).

Melhor os norte-americanos começarem a prestar atenção. Que se cuidem!