terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Denúncia sem crime contra Glenn é censura

Denúncia sem crime contra Glenn é censura

Hoje pela manhã o Ministério Público Federal apresentou uma denúncia sobre o suposto hackeamento dos celulares de autoridades federais. A redação do Intercept soube, perplexa, que apesar de não ser investigado ou indiciado, Glenn Greenwald, editor cofundador do site, foi incluído na denúncia do MPF. 
A denúncia – feita por um procurador amigo de Sérgio Moro – é mais um exemplo das arbitrariedades e dos métodos autoritários que se tornaram praxe nas ações do Ministério Público. Esses métodos foram expostos de maneira cristalina na #VazaJato. Por isso, não surpreende ver que a denúncia contra Glenn se baseia em um diálogo já amplamente analisado pela Polícia Federal na operação Spoofing. Na ocasião, a PF não imputou qualquer conduta criminosa ao jornalista. 
Diz o relatório da PF: "Não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados". A Polícia destaca, inclusive, sua "postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões".
Isso mesmo. Para a PF, Glenn foi cuidadoso no trato com a fonte. Fez jornalismo como deve ser feito: sem medo de quem tem poder, sem recorrer a expedientes espúrios, sem temer retaliações e preservando a relação com a fonte, direito garantido na Constituição Federal de 1988. 
CONVIDE UM AMIGO PARA O TIB →

Em novembro, quando Glenn foi agredido por Augusto Nunes na rádio Jovem Pan, escreveu que aquele era o exemplo mais vívido das ameaças às quais jornalistas estão submetidos sob o governo Bolsonaro. Infelizmente, ele estava errado. 
Essa denúncia é a mais agressiva tentativa de atacar a imprensa livre em retaliação às revelações da #VazaJato. Eles não admitem o fato de que mostramos os abusos de Moro e do MPF, seus métodos sujos e o total desrespeito às instituições. Não conseguem refutar os fatos, então preferem desacreditar quem insiste em revelá-los.
O que o Intercept tem a dizer ao MPF e àqueles que desejam censurar o jornalismo brasileiro é que não vamos nos intimidar. 
Bolsonaro pediu a prisão de Glenn, seus aliados ameaçaram toda a redação do Intercept e agora querem vê-la investigada por conta do seu trabalho. Nada disso vai nos calar. Continuaremos trabalhando com a certeza de que em tempos sombrios o jornalismo é uma força indispensável. 
Hoje é um dia triste para quem defende a liberdade e acredita na democracia. Mas é também um dia simbólico. Uma linha foi traçada: a sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse. Jornalistas não podem ser alvo de investigação apenas porque exerceram seu direito de denunciar e contaram as verdades que eles desejam esconder. Jamais desistiremos.

Marianna Araujo
Estrategista de Comunicação, The Intercept Brasil

Boletim OperaMundi

Número 2738
LEIA TAMBÉM
#REAPRESENTAÇÃO - 20 Minutos: Como Hitler chegou ao poder?
Senado dos EUA começa a julgar impeachment de Trump
Faça uma assinatura anual de Opera Mundi
Diálogos do Sul
A Lava Jato é uma operação de destruição do país, da democracia e do povo, diz Lula
Nas periferias não há contradição: jovens são evangélicos e funkeiros, diz pesquisadora

Concentração de renda sobe e Bolsonaro aprofunda desigualdade, diz Oxfam

Concentração de renda sobe e Bolsonaro aprofunda desigualdade, diz Oxfam

Getty Images
Imagem: Getty Images
Jamil Chade
Colunista do UOL
20/01/2020 05h36
O número de bilionários do mundo duplicou nos últimos dez anos e essa camada já soma mais recursos que 60% da população mundial. O alerta está sendo publicado nesta segunda-feira pela entidade Oxfam, que denuncia as políticas econômicas de Bolsonaro e alerta que a estratégia do governo aprofundará a desigualdade.
O documento está sendo publicado às vésperas da reunião de Davos, na presença das maiores lideranças internacional e da elite do mundo das finanças.
Para escancarar a incapacidade do sistema em lidar com a desigualdade, a Oxfam traz dados sobre o que representa hoje a concentração de renda.
"Os 22 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que todas as mulheres da África", diz o relatório. No total, 2,1 mil bilionários têm em 2020 uma riqueza acumulada superior aos 4,6 bilhões de pessoas mais pobres do planeta.
A constatação também aponta que, se esse grupo de pouco mais de 2 mil pessoas pagasse apenas 0,5% de imposto extra sobre a sua riqueza durante uma década, 117 milhões de novos empregos em áreas sociais seriam criados. Hoje, existem pouco mais de 180 milhões de desempregados no mundo.
O informe também destaca como mulheres e meninas pobres vivem no final dessa escala de riqueza. Juntas, elas acumulam 12,5 bilhões de horas de trabalho não remunerado todos os dias. Em um ano, isso representaria US$ 10,8 trilhões por ano.
"Nossas economias falidas estão enchendo os bolsos dos bilionários e dos grandes negócios às custas dos homens e mulheres comuns", afirma o documento. "Não surpreende que as pessoas comecem a questionar se os bilionários devem sequer existir", disse o chefe da Oxfam na Índia, Amitabh Behar.
A entidade também ataca as opções econômicas de alguns governos, como o do Brasil. "A maioria dos líderes mundiais ainda está perseguindo agendas políticas que conduzem a uma maior distância entre os que têm e os que não têm", disse.
"Líderes como o Presidente Trump nos EUA e o presidente Bolsonaro no Brasil são exemplos dessa tendência. Eles estão oferecendo políticas como redução de impostos para bilionários, obstruindo medidas para enfrentar a emergência climática, ou o racismo, o sexismo e o ódio às minorias", declarou.
"Diante de líderes como esses, pessoas em todos os lugares estão se reunindo para dizer que já chega. Do Chile à Alemanha, os protestos contra a desigualdade e o caos climático são enormes. Milhões estão tomando as ruas e arriscando suas vidas para exigir o fim da desigualdade extrema e exigir um mundo mais justo e mais verde", alertam.
As críticas também se dirigem às medidas adotadas durante o governo de Michel Temer. "Os cortes governamentais também estão exercendo pressão sobre as organizações de mulheres. No Brasil, em 2017, os cortes nos gastos públicos contribuíram para uma redução de 66% do financiamento federal no orçamento inicialmente destinado em 2017 aos programas de direitos das mulheres que promovem a igualdade de gênero", diz a Oxfam.
"O fosso entre ricos e pobres não pode ser resolvido sem políticas deliberadas de combate à desigualdade", disse Behar.

Os destaques da manhã no 247

Guedes vai anunciar em Davos abertura do Brasil para empreiteiras internacionais

INSS identificou há seis meses déficit de 13,5 mil servidores e nada fez

Secretária em test-drive, Regina Duarte já defendeu cortes na cultura e atacou indíos

Moro diz que não “manipulou nada” e manda Gilmar Mendes assumir suas responsabilidades

Argumento da família de Marielle prevalece e investigação não será federalizada

OIT aponta incapacidade de Guedes e Bolsonaro em reduzir desemprego

Glenn sobre Moro no Roda Vida: poucos políticos mentem tanto quanto ele

Facebook
Twitter
Website
Instagram
YouTube