terça-feira, 1 de março de 2022

Fé, agricultura familiar e alimentos saudáveis marcam Romaria da Terra do Rio Grande do Sul

ROMEIROS

Fé, agricultura familiar e alimentos saudáveis marcam Romaria da Terra do Rio Grande do Sul

Cancelado nos dois primeiros anos de pandemia, evento reuniu cerca de 1.600 fiéis em Ilópolis, no Vale do Taquari (RS)

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Chuva modificou um pouco o evento deste ano no Vale do Taquari - Valdeci Oliveira/Twitter

Depois de dois anos sem ser realizada de forma presencial devido à pandemia de covid-19, a Romaria da Terra do Rio Grande do Sul teve sua retomada marcada, nesta terça-feira (1º), por momentos de reencontros, devoção e esperança. O evento, que tradicionalmente ocorre no feriado de Carnaval, aconteceu em Ilópolis, no Vale do Taquari, reunindo cerca de 1.600 pessoas de todas as regiões do estado. Além da demonstração de fé, a defesa da agricultura familiar e da produção de alimentos saudáveis esteve em evidência nesta 44ª edição.

A romaria deste ano não teve a tradicional procissão por causa da chuva. A celebração eucarística, presidida pelo bispo diocesano Dom Aloísio Alberto Dilli, aconteceu no salão do centro cultural do município e destacou a importância dos cuidados com a terra. Dois dos principais pontos tratados foram sobre a agricultura familiar e o combate à fome no país, com defesa de uma agricultura que respeite a vida e que tenha incentivos à produção de alimentos saudáveis.

:: RS: movimentos populares e pastorais participam da Romaria da Terra nesta terça (1°) ::

Maior seca das últimas décadas

Entre os romeiros estavam o ex-governador Olívio Dutra, o presidente da Assembleia Legislativa, Valdeci Oliveira, e o deputado Edegar Pretto (PT), que começou a participar da Romaria da Terra em 1982, ainda criança. Edegar reforçou o papel da Romaria diante das dificuldades que o setor enfrenta no estado, principalmente pela maior seca das últimas décadas, em que mais de 420 municípios já decretaram situação de emergência e famílias ainda aguardam ajuda dos governos.

“A Romaria nos traz um belo momento de renovação da fé e do nosso compromisso de lutar por esses homens e mulheres que tanto precisam do poder público. A agricultura do Rio Grande do Sul pede socorro. A Romaria é também um momento de celebração e de reflexão da importância que esse setor tem, especialmente na produção de alimentos”, ressaltou Pretto, que coordena a Comissão de Representação Externa para acompanhar os impactos da estiagem no RS e a Frente Parlamentar em Defesa do Crédito Emergencial para a Agricultura Familiar, ambas instaladas pela Assembleia Legislativa.

Leia também: Coluna | Romaria da Terra: sinais de esperança


O ex-governador Olívio Dutra, o deputado Edegar Pretto (PT) e o presidente da Assembleia Legislativa, Valdeci Oliveira, na Romaria da Terra / Brayan Martins

Sementes crioulas

Conforme Oldi Jantsch, agricultora e coordenadora da CPT, o drama da estiagem e o abandono da agricultura familiar por parte dos governos motivaram as abordagens do evento. Ela explicou que é indispensável a preservação das sementes crioulas para enfrentar o atual momento de crises, bem como fazer investimentos na agricultura familiar, sobretudo para incentivar a juventude a permanecer no campo.

“Num gesto de solidariedade, nós guardamos sementes no freezer para garantir a continuidade da produção depois dessa seca horrível, em que muitos não conseguiram colher. Também debatemos com as famílias sobre a agricultura ecológica, envolvendo toda essa questão política e os maus-tratos à natureza. A CPT tem a missão de fazer com que nossos agricultores digam não aos venenos e aos transgênicos”, revelou.

A cidade de Ilópolis

Desde a sua origem, em 1978, esta é a segunda vez que o evento ocorre no Vale do Taquari – a primeira foi em 2005, em Cruzeiro do Sul. Ilópolis tem pouco mais de 4 mil habitantes e se localiza no principal polo ervateiro gaúcho.

O município se destaca na atividade econômica, inclusive produzindo erva-mate orgânica. Por sua forte característica na pequena propriedade e produção de alimentos, foi escolhido para receber o evento religioso, que teve como tema “Agricultura Familiar e Agroecologia: Sinais de Esperança”. A organização foi da Regional Sul 3 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Diocese de Santa Cruz do Sul.

Ainda durante a celebração da Romaria, foram lembrados nomes de pessoas assassinadas na busca por um país mais justo e sustentável, como a vereadora Marielle Franco, o ambientalista Chico Mendes, a missionária Dorothy Stang, a trabalhadora rural sem terra Roseli Nunes, entre outros. Ao final, teve benção dos alimentos e envio dos romeiros e romeiras, que levaram para casa uma muda de erva-mate como lembrança.

 

HARMONIA COM A NATUREZA MST prepara festa da maior colheita de arroz agroecológico da América Latina

 HARMONIA COM A NATUREZA

MST prepara festa da maior colheita de arroz agroecológico da América Latina

19ª Festa da Colheita, que será realizada em 18 março por famílias assentadas do MST em Nova Santa Rita (RS), celebra maior produção do grão livre de agrotóxicos na América Latina

colheita arroz mst
As famílias camponesas estimam colher mais de 15 toneladas, cerca de 310 mil sacas de 50 quilos

São Paulo – Famílias produtoras do arroz agroecológico do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Rio Grande do Sul deram início aos preparativos da 19ª edição da Festa da Colheita, prevista para 18 de março. A celebração popular será realizada na sede da Cooperativa de Produção Agropecuária (Coopan) de Nova Santa Rita, na região metropolitana de Porto Alegre.

Desde 1º de fevereiro foram colhidos 4.200 sacas de arroz orgânico no Assentamento 30 de Maio, em Charqueadas, o que representa 1,72% do total. Já o assentamento que tem a maior área plantada é o Filhos de Sepé de Viamão. A estimativa é que se colha no local aproximadamente 124 mil sacas. Ao todo, o MST calcula a safra em cerca de 15 toneladas

O arroz orgânico, nas versões agulhinha e cateto, é o cultivo principal de 296 famílias, em 14 assentamentos distribuídos em 11 municípios gaúchos nas regiões metropolitana, sul, centro-sul e na fronteira oeste.

“Para nós, do MST, essa edição da colheita do arroz agroecológico tem uma enorme  importância. Queremos celebrar esse momento com a sociedade gaúcha e brasileira, pois essa é uma construção coletiva das cooperativas e das famílias assentadas. A nossa produção orgânica é uma alternativa, em que a vida das pessoas e o cuidado com a natureza estão acima do lucro.”. A afirmação é de Marildo Mulinari, do setor social organizativo da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap). E reafirmam o compromisso do MST com a luta dos trabalhadores e pela reforma agrária popular.

MST: maior produtor de arroz sem agrotóxicos

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) classifica o MST como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, posição ocupada há mais de 10 anos.

Martielo Webery, do setor de comercialização da Cootap, destaca que as famílias camponesas estimam colher na safra 2021/2022 cerca de 310 mil sacas de 50 quilos cultivados em aproximadamente 3.196 hectares.

Na festividade de março, que seguirá protocolos sanitários de prevenção à covid-19, integrantes do MST, de entidades parceiras, movimentos populares, sindicais e representações políticas celebrarão um dos resultados da reforma agrária: a produção, em larga escala, de um dos principais alimentos dos brasileiros sem uma gota de veneno, em equilíbrio com a natureza.

Redação: Cida de Oliveira

Em novo relatório, IPCC alerta para urgência de enfrentar riscos das mudanças climáticas

 PERTO DO FIM

Em novo relatório, IPCC alerta para urgência de enfrentar riscos das mudanças climáticas

Cientistas de 195 países acendem “luz vermelha” para a preocupação com os impactos humanitários das consequências do aumento global da temperatura

ø CC0 Domínio público
inundacao
Humanidade não está preparada para os impactos que já estão ocorrendo devido às mudanças climáticas, o que já está custando vidas. Mas tudo pode ficar ainda pior, se não forem tomadas atitudes urgentes

São Paulo – O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU publicou nesta segunda-feira (28) a segunda parte de seu relatório Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, em que reafirma a necessidade urgente de a humanidade lidar com os riscos trazidos pelas mudanças climáticas. No documento, cientistas de 195 países afirmam que o aumento da temperatura global de 1,1°C que vivemos hoje já causa perdas e danos com consequências muitas vezes irreversíveis. E que, mais uma vez, as populações em situação de vulnerabilidade são as principais vítimas do agravamento dos eventos extremos.

O IPCC alerta também para a necessária mudança do sistema socioeconômico para conter a perda acelerada de vidas, biodiversidade e infraestrutura em escala planetária. E é taxativo ao concluir que só uma ação ambiciosa e acelerada, com cortes rápidos em emissões de gases de efeitos levarão o planeta a reverter os impactos das mudanças climáticas.

“Este relatório é um alerta terrível sobre as consequências da inação”, declarou o presidente do IPCC, Hoesung Lee. “As mudanças climáticas são uma ameaça grave e crescente ao nosso bem-estar e a um planeta saudável. Nossas ações hoje moldarão como as pessoas se adaptarão e como a natureza responderá às crescentes intervenções humanas no meio ambiente, com consequentes riscos climáticos”, completou.

Faltam atitudes

Na primeira parte do relatório sobre as mudanças climáticas, em agosto, o IPCC apontou quea ação humana é diretamente responsável por um aumento de 1,07°C na temperatura do planeta. A meta estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, foi limitar o aquecimento global a 2°C, com esforços para que a marca não ultrapasse os 1,5°C.

Porém, o documento divulgado hoje mostra que, até agora, o progresso nessa adaptação é desigual e ainda há “grandes lacunas” entre as medidas adotadas e as que são necessárias para lidar com os riscos das mudanças no clima.

Atualmente, cerca de 3,3 bilhões de pessoas vivem em regiões com alta vulnerabilidade à crise climática. Os impactos são maiores sobre aqueles que sofrem com questões relacionadas à desigualdade: saúde, educação, crises financeiras, falta de capacidade de governança e infraestrutura.

Devastador

Os cientistas que participaram do levantamento enumeram as consequências para cada 0,1°C de aquecimento da temperatura global. Entre as principais, mais pessoas morrem por doenças infecciosas, doenças causadas por mosquitos e fome. Além destas, aumentam as mortes causadas por problemas cardíacos e pulmonares devido à poluição do ar, e por estresse causado pelo calor, dizem os autores.

“Os riscos e impactos climáticos estão aparecendo mais rapidamente e se tornarão mais graves mais cedo”, afirma Fabiana Alves, coordenadora da campanha de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil. “Nós não estamos preparados para os impactos que estão acontecendo hoje, e isso está custando vidas. Vidas e lares foram perdidos em todo o mundo, mas em países com maior situação de vulnerabilidade, a mortalidade por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior na última década, em comparação com países com vulnerabilidade baixa”, completa a ativista.

Além disso, se o mundo aquecer apenas mais 0,9ºC a partir de agora a quantidade de terra queimada por incêndios florestais em todo o mundo aumentará em 35%. Sempre conforme o alerta do IPCC, até 2050, um bilhão de pessoas enfrentarão riscos reais de inundações costeiras devido à elevação do nível do mar.

Isso provocará um grande número de movimentos migratórios para as cidades afastadas do litoral dos países. Mais pessoas serão forçadas a deixar suas casas devido a desastres climáticos, especialmente inundações e ciclones tropicais.

Ainda é possível

O IPCC destaca ainda a necessidade da conservação efetiva e integral de florestas, mares e oceanos para reduzir os impactos das emissões de gases de efeito estufa. Isso para que as populações ainda tenham uma razoável chance de lidar com as consequências atuais das atividades socioeconômicas.

“Esta é a década crítica para garantir um futuro habitável, sustentável e justo. É necessário que a mudança seja sistêmica e inclusiva. Os impactos e riscos das mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais complexos e mais difíceis de gerenciar, pois diferentes perigos ocorrem simultaneamente e interagem com múltiplos riscos criados por modelos de desenvolvimento insustentáveis e injustiça social” analisa Fabiana Alves, do Greenpeace Brasil.

Só se for agora

Por fim, Maarten van Aalst, diretor do Centro Climático da Cruz Vermelha Internacional e coordenador do relatório afirmou hoje, no lançamento, que a publicação é “uma luz vermelha piscando, um grande alarme para onde estamos atualmente. Pela primeira vez, o IPCC fala explicitamente da preocupação com os impactos humanitários das mudanças climáticas que já ocorrem”, declarou .

“Estamos sendo confrontados com riscos crescentes de desastres em muitos lugares. Mas o relatório também mostra que podemos fazer algo a respeito. Só precisamos aumentar nossa ambição dramaticamente à luz do que este relatório está mostrando que está vindo em nossa direção”, disse.

Com portal g1

Cimi afirma que discurso brasileiro na ONU é ‘descolado da realidade’ e desrespeito aos povos indígenas

 PERDAS

Cimi afirma que discurso brasileiro na ONU é ‘descolado da realidade’ e desrespeito aos povos indígenas

Segundo a entidade, governo não mostra a realidade sobre vacinação, invasão de terras e desmatamento

Guilherme Cavalli/Cimi
Na ONU
Representantes dos povos originários participam com denúncias de aumento da violência, além de dados 'descolados do real quadro de violações de direitos'

São Paulo – O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou nesta segunda-feira (28) nota de repúdio pelo discurso do governo brasileiro no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo a entidade, o pronunciamento foi distorcido e esconde o quadro de violações de direitos. De acordo com o Cimi, o discurso feito pela ministra Damares Alves “é descolado da realidade e um desrespeito aos povos indígenas”.

Os dados divulgados pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, por exemplo, traz uma “contagem limitada”, sob um “critério equivocado”, afirma o conselho. “O vírus que chegou às aldeias e provocou inúmeras mortes foi levado para dentro dos territórios indígenas, em sua grande maioria, por invasores que seguem atuando ilegalmente nestas áreas em plena pandemia, livres das ações de fiscalização e proteção do governo”, diz a nota.

O que Damares chama de “regularização fundiária”, afirma ainda a entidade, “trata-se na verdade de titulação privada de invasores de terras protegidas e de territórios indígenas, o que vem estimulando ainda mais o desmatamento na Amazônia e demais biomas”. Invasões, exploração ilegal e danos ao patrimônios cresceram sob o atual governo, que também bate recordes de desmatamento.

A sessão do Conselho de Direitos Humanos, aberta hoje, vai até 1º de abril. Representantes dos povos originários no Brasil estão participando, com denúncias sobre aumento da violência e a “política anti-indígena” do atual governo.

Leia a íntegra da nota.

O Conselho Indigenista Missionário – Cimi repudia o discurso do Brasil durante o Segmento de Alto Nível, que abre a 49ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, com dados distorcidos e descolados do real quadro de violações de direitos dos povos indígenas. O pronunciamento do estado brasileiro foi realizado pela ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, na manhã desta segunda-feira, 28 de fevereiro.

A Ministra afirmou que 85% da população indígena foi vacinada, refere-se a uma contagem limitada, sob o critério equivocado de “indígenas aldeados, ou seja, aqueles que vivem nos territórios demarcados, ignorando que seu próprio governo paralisou o processo de demarcações e os indígenas em contextos urbanos. Na verdade, o governo vem promovendo um apagão de dados sobre a Covid-19 e não pode dar certeza da porcentagem apontada. O vírus que chegou às aldeias e provocou inúmeras mortes foi levado para dentro dos territórios indígenas, em sua grande maioria, por invasores que seguem atuando ilegalmente nestas áreas em plena pandemia, livres das ações de fiscalização e proteção do governo.

Em muitas aldeias, a pandemia levou as vidas de anciões e anciãs que eram verdadeiros guardiões da cultura, da história e dos saberes de seus povos, representando uma perda cultural inestimável – não só para os povos indígenas diretamente afetados, mas para toda a humanidade. Segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), mais de 68 mil indígenas foram contaminados pela Covid-19 e pelo menos 1.283 morreram por complicações da doença até 28 de fevereiro de 2022.

A chamada “regularização fundiária” aduzida pela Ministra Damares, trata-se na verdade de titulação privada de invasores de terras protegidas e de territórios indígenas, o que vem estimulando ainda mais o desmatamento na Amazônia e demais biomas. Em 2020 proliferaram os casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio” aumentaram, em relação ao já alarmante número que havia sido registrado no primeiro ano do governo Bolsonaro. Foram 263 casos do tipo registrados em 2020 – um aumento em relação a 2019, quando foram contabilizados 256 casos, e um acréscimo de 137% em relação a 2018, quando haviam sido identificados 111 casos. Este foi o quinto aumento consecutivo registrado nos casos do tipo, que em 2020 atingiram pelo menos 201 terras indígenas, de 145 povos, em 19 estados.

Outra inverdade do discurso é o da proteção da Amazônia. O governo Bolsonaro, na realidade, bate recordes anuais consecutivos de desmatamento, desde 2019, quando assumiu o governo. Em janeiro de 2022 o desmatamento da Amazônia foi de 360 km², quatro vezes mais que o equivalente ao ano passado. As invasões e os casos de exploração de recursos naturais e de danos ao patrimônio registrados em 2020 repetem o padrão identificado no ano anterior. Os invasores, em geral, são madeireiros, garimpeiros, caçadores e pescadores ilegais, fazendeiros e grileiros, que invadem as terras indígenas para se apropriar ilegalmente da madeira, devastar rios inteiros em busca de ouro e outros minérios, além de desmatar e queimar largas áreas para a abertura de pastagens.

Em muitos casos, os invasores dividem a terra em “lotes” que são comercializados ilegalmente, inclusive em terras indígenas habitadas por povos isolados. O caso dos povos Yanomami, Ye’kwana e Munduruku exemplifica a estreita relação entre a ação dos invasores, a omissão do Estado e o agravamento da crise sanitária, com o aumento expressivo dos casos de malária e desnutrição relacionados com a presença de invasores em seus territórios. Na Terra Indígena Yanomami, onde é estimada a presença ilegal de cerca de 20 mil garimpeiros, os invasores devastam o território, provocam conflitos, praticam atos de violência contra os indígenas e, ainda, atuam como vetores do coronavírus – num território onde há também a presença de indígenas em isolamento voluntário.

Ademais, o Estado brasileiro age para enfraquecer a governança indígena e ambiental brasileira, com a propositura do Projeto de Lei 191/2020 e o apoio ao Projeto de Lei 490/2007 que legisla a tese inconstitucional do marco temporal. Também opera a iniciativa de enfraquecimento dos direitos indígenas com a Instrução Normativa (IN) 09/2020 da Fundação Nacional do Índio (Funai), a Instrução Normativa Instrução Normativa 01/2021, expedida pela Funai, em conjunto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama e a Resolução 04, de 22 de janeiro de 2021, fazendo parte de um pacote normativo que ameaça os povos indígenas e o meio ambiente.

Recentemente, o governo também publicou um Decreto estabelecendo o Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração Artesanal – Pró-Mape, que visa “estimular” a garimpagem “com vistas ao desenvolvimento sustentável”, o programa prevê um incentivo ao garimpo na região amazônica, em um momento de evidente expansão da atividade sobre os territórios indígenas com seríssimas consequências para a saúde e a vida dos povos indígenas. Além de nenhuma Terra Indígena ter sido demarcada pelo governo Bolsonaro”

O discurso do Estado brasileiro na 49ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, é descolado da realidade e um desrespeito aos povos indígenas. A versão equivocada da atual política brasileira de direitos humanos não pode prosperar nos foros multilaterais, principalmente no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O Cimi segue atento às violações dos direitos indígenas e juntos aos povos indígenas seguirá denunciando as atrocidades do atual governo.

Brasília, 28 de fevereiro de 2022.

Conselho Indigenista Missionário – Cimi