domingo, 6 de maio de 2018

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






Menos educação.
Enquanto os fascistas brasileiros vão impondo lentamente a visão de uma “escola sem partido” que, no fundo, serve como propaganda do próprio fascismo; enquanto todas as limitações de investimentos sociais propagadas pelo neoliberalismo voltam ao país; enquanto cresce o número de crianças que abandonam a escola para reforçar a renda familiar, vemos o país naufragar em um violento desastre social.
Em 2014, participando em quatro ou cinco palestras em sindicatos, mostrei um quadro da educação que mostrava um horizonte mais azul para todos nós. O Brasil caminhava para ser uma referência mundial no assunto.
Eis os números que tínhamos, na época, mostrando quanto os países investiam em educação: Cuba – 13% do PIB; Timor Leste – 10,5% do PIB; Venezuela e Bolívia – 6,9% do PIB; Argentina – 6,3% do PIB; Brasil – 5,8% do PIB; França – 5,9% do PIB; Reino Unido – 5,6% do PIB; EUA – 5,5% do PIB. Em uma comparação com os países do BRICS: África do Sul – 6,6% do PIB; Rússia – 4,1% do PIB; China – 3,7% do PIB e Índia – 3,4% do PIB. Vale destacar que, pela proposta encaminhada por Dilma Rousseff ao Congresso Nacional alcançaríamos em poucos anos, usando os ganhos do pré-sal, um investimento de 10% do PIB.
Em 2017, apenas um ano após o golpe que derrubou Dilma, o investimento já havia caído para 4,7% do PIB e, em 2018, o manequim de funerária anunciou seu projeto para facilitar a privatização do ensino no país. Entre outras medidas, um Projeto de Lei para liberar até 40% do ensino médio a distância.
E as consequências? Bem, essas podem ser verificadas muito rapidamente pelos últimos estudos feitos.
Se o Brasil fosse hoje uma escola com 100 crianças no 1° ano do Ensino Fundamental, em 2020 apenas 48 delas sairiam alfabetizadas do 3° ano dessa etapa, sendo que somente 30 chegariam, em 2029, ao final do Ensino Médio com conhecimento básico em Língua Portuguesa e duas em Matemática. Esse cenário é uma possibilidade caso as tendências observadas nos dados de aprendizagem da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) e do Saeb dos últimos anos se confirmem.
Projeções baseadas em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram ainda que 24 dessas 100 crianças podem não completar a Educação Básica até os 19 anos.
Segundo o estudo, 2,5 milhões de crianças e jovens estão fora da escola; 54,7% dos alunos do 3° ano do Ensino Fundamental não estão alfabetizados em leitura; apenas 7,3% dos que chegam ao 3º ano do Ensino Médio têm conhecimento esperado em Matemática e 27,5%, em língua portuguesa, sendo que 41,5% dos jovens não conseguem concluir essa etapa até os 19 anos.
O diagnóstico é simples: se não revertermos as quedas e acelerarmos o ritmo de melhora da Educação, continuaremos a ter uma população que sofre com a desigualdade, com a falta de aprendizagem e de oportunidades para se desenvolver individualmente e como sociedade. A Educação sozinha não pode resolver todas essas questões, mas é a única política que pode formar uma Nação mais desenvolvida, mais justa, mais pacífica. É urgente que a sociedade coloque a Educação como pauta prioritária e propostas concretas - e esse ano eleitoral é um momento crucial para isso - diz Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação. (Com informações de Monitor Mercantil)
Mais armas. O Brasil desembolsou 29,3 bilhões de dólares para armamentos, em 2017 – 6,3% mais do que em 2016. O valor representa 1,7% do montante gasto pelos 15 países que encabeçam a lista (veja abaixo).
Os dados estão no relatório do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri) divulgado na segunda-feira (30/04). Segundo o relatório, tal crescimento “surpreende dada a atual turbulência econômica e política no país”. O instituto cita que em 2017 o governo brasileiro afrouxou suas metas de déficit orçamentário até 2020 e liberou recursos adicionais (4,1 bilhões de dólares) para todos os principais setores, entre eles as Forças Armadas.
No geral, os gastos aumentaram em 4,1% na América do Sul. A Argentina registrou o maior crescimento (15%), tendo desembolsado 5,7 bilhões de dólares para o setor militar em 2017.
Os gastos militares globais atingiram em 2017 o seu nível mais alto desde a Guerra Fria, com os Estados Unidos, a China e a Arábia Saudita no topo da lista, divulgou o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri) nesta quarta-feira (02/05). O Brasil registrou um aumento nos gastos militares acima da média mundial, e saltou de 13º, em 2016, para 11º no ranking dos países que mais investem no setor.
De acordo com o relatório do instituto sueco de pesquisa, os gastos militares em todo o mundo totalizaram 1,73 trilhão de dólares em 2017 – o que representa um aumento de 1,1% em relação a 2016. Isso significa que foram gastos aproximadamente 230 dólares por habitante da Terra.
Dívida pública nas alturas! Aumento foi 28 vezes maior que nos mandatos de Dilma Rousseff, segundo a matéria em Monitor Mercantil.
A Dívida Pública Federal (DPF) – que inclui o endividamento interno e externo do Brasil – teve aumento de 1,51%, para R$ 3,636 trilhões em março, R$ 54 bilhões acima de fevereiro, de acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional.
Em artigo para a RBA, o economista Marcio Pochmann critica o silêncio da mídia ante o crescimento da dívida pública sob o Governo Temer. A Dívida Líquida Consolidada do Setor Público saltou de 39,2%, em maio de 2016 (último mês do Governo Dilma), para 52% do PIB em fevereiro de 2018, uma elevação de 32,6% acumulados em 21 meses (ou 1,4% ao mês).
“Mesmo com a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público sob o receituário neoliberal aplicado pelo Governo Temer tendo sito multiplicado 28 vezes mais rapidamente que no mandato de Dilma, o tema praticamente desapareceu do noticiário nacional”, anota Pochmann.
O Brasil caminha rapidamente para a 12ª maior dívida pública do planeta, com uma das mais elevadas taxas juros reais do mundo e assumindo a quarta posição internacional de maior gasto com o pagamento de juros da dívida pública em relação ao PIB.
Emprego para quem? O governo ilegítimo continua fazendo publicidade dizendo que vem crescendo a oferta de empregos no país, mas, como já mostramos usando dados do IBGE, a notícia é falsa. Mas tem um lado ainda mais perverso nessa mentirosa “retomada do crescimento econômico”.
O fato concreto é que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho mostra que as contratações em 2018, depois da entrada em vigor da nefasta lei trabalhista de Temer, foram maiores que as demissões apenas entre os que têm salários mais baixos.
Traduzindo para nós, trabalhadores comuns, a nova lei Trabalhista está gerando empregos precários, sem direitos e com salários baixos. Em 2018, as poucas vagas formais, com carteira assinada, geradas em um mercado de trabalho cada vez mais precário, foram com salários de, no máximo, dois salários mínimos, ou R$ 1.908,00.
Os dados se referem ao primeiro trimestre deste ano e foram levantados pela Folha de S Paulo. Segundo o levantamento, foram fechadas vagas em todas as faixas com vencimento maior do que dois salários mínimos. No Norte e no Nordeste do Brasil, a situação é pior. O ano de 2018 começou com a abertura de empregos na faixa de até um salário mínimo (R$ 954).
O Ministério do Trabalho diz que os números refletem um processo de recuperação e que a expectativa é que o saldo positivo chegue aos cargos com melhor remuneração. Mas, é claro, não passa de “conversa mole para boi dormir”, pois o próprio ministério divulga aumento de vagas com contratos de trabalho intermitente e regime parcial, nos quais os trabalhadores podem receber menos até do que um salário mínimo por mês, já que só trabalharão apenas nos dias em que forem convocados pelos patrões.
Mais uma agressão fascista. No próximo dia 07 o presidente Lula completará um mês de detenção em uma cela da Polícia Federal, em Curitiba. Durante todo esse tempo o movimento social não o abandonou um só segundo e, com revezamentos ou não, permaneceu acampado na praça da cidade. Pela manhã e no final da tarde o povo se reúne na frente do prédio para gritar “Bom Dia Presidente Lula” ou “Boa Noite Presidente Lula”. Lá de dentro, segundo notícias que ele enviou, ouve o povo e sabe que não está sozinho em sua luta.
O maior desespero da direita e dos golpistas é ver que em todos os institutos de pesquisas, mesmo preso, Lula tem a preferência do eleitorado.
E isto vai irritando ainda mais os fascistas a cada dia. Na sexta-feira (04) houve novo ataque contra os manifestantes que estavam diante do prédio do PF. Um detetive, um agende público pago pelo povo, danificou o equipamento de som que é usado para apresentações musicais, palestras, discursos e mobilização dos manifestantes.
O canalha é identificado e velho conhecido nosso. Trata-se Gastão Schefer Neto, ex-diretor da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF), filiado ao Partido da República (PR) e candidato a Deputado Federal pelo Paraná. E, certamente, sua “façanha” servirá para angariar muitos votos entre a direita fascista que tem uma grande representação naquele estado.
Curioso é que ele foi retirado do local com toda a gentileza por outros agentes federais que, de quebra, o escoltaram até em casa como se fosse uma grande figura!
Reflexões em torno de um incêndio (1). Sem qualquer preocupação com a existência de mortos, feridos ou desaparecidos, muitos jornalistas amestrados pelo Brasil afora correram para fazer matérias mostrando que o incêndio no Edifício Wilton Paes e Almeida, no Largo do Paissandu (SP), poderia ser um acidente ou um descuido dos próprios moradores.
O prédio em questão estava abandonado e foi ocupado por trabalhadores. Mas não há uma data exata para a ocupação e o primeiro registro que se tem é de 2015 quando foi colocada uma faixa do Movimento Social de Luta por Moradia, o que foi confirmado pelo Ministério Público.
Reflexões em torno de um incêndio (2). A construção do edifício Wilton Paes e Almeida foi iniciada em 1961 e fazia parte de um grande projeto imobiliário no centro de São Paulo. Curiosamente, dois dos projetos na região, no mesmo período, foram destruídos por incêndios: o Edifício Joelma e o Edifício Andraus.
No prédio funcionaram várias empresas, no início. Mas, já no declínio, serviu também para instalação de um posto do INSS e até mesmo da Polícia Federal, que o abandonou em 2003. O prédio passou para a União em 2002 e foi colocado a venda em fevereiro de 2015, mas não houve procura.
Reflexões em torno de um incêndio (3). Segundo a Prefeitura de São Paulo, viviam no prédio ocupado 248 pessoas cadastradas em 92 famílias. E é nesse momento que começa o “empurra-empurra”: a União diz que cedeu o prédio para a Prefeitura que, por seu lado, diz que não havia ainda recebido e que isso dependeria de um “acordo amigável com os ocupantes”.
E este é o nosso problema. A pressa demonstrada por nossos jornais em culpar os moradores pelo incêndio é uma demonstração de que vão tentar, mais uma vez, criminalizar os movimentos sociais para encobrir toda a podridão desse Estado ladrão e ilegítimo. Os movimentos populares de moradia da cidade de São Paulo (SP) temem que a criminalização das ocupações abra precedente para uma série de ações de despejo no centro da capital paulista.
Os antigos moradores do prédio que desabou estão acampados na praça próxima ao prédio e, segundo representantes do grupo, não aceitam a oferta de albergues feita pela Prefeitura. Vão permanecer no local para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.
Prisão de banqueiros na Venezuela. Certamente que a nossa imprensa amestrada mostrou “mais uma ameaça do governo bolivariano contra a liberdade econômica”. Mas a verdade é bem diferente do que tentam mostrar para fazer propaganda contra o governo de Maduro.
O fato é que toda a direção do banco privado venezuelano Banesco foi detida pela polícia na quinta-feira (03) para investigações sobre uma denúncia de facilitar ou encobrir ataques contra a moeda do país, disse o Procurador Geral, Tarek William Saab.
Em sua declaração, disse que foram solicitadas ordens de apreensão e estão privados de liberdade os cidadãos Oscar Doval García, presidente executivo; Marco Tulio Ortega, consultor jurídico; Jesús Irausquín, vice-presidente. Além dos três, estão também detidos para averiguações outros diretores: Liz Sánchez, Carmen Teresa Lorenzo, Carlos Lorenzo López, Pedro Pernía, Belinda Omaña, Delvi Romero e Cosme Betancourt.
Ainda de acordo com a informação, a prisão só foi solicitada depois de muitas investigações feitas pela “Operação Mãos de Papel” destinada a desmantelar grupos que atacam a economia venezuelana realizando operações ilegítimas e ilícitas.
A Argentina pode ser foco de nova crise econômica? O fato é que as autoridades argentinas estão agora tentando enfrentar uma nova crise monetária de difícil solução. Atualmente, Argentina é o segundo país mais afetado pela crise que se espalhou na América Latina depois dos golpes e retorno de governos neoliberais.
Desde o início de 2018, segundo informações, a Argentina tem sofrido uma significativa desvalorização do peso. No dia 03 de maio, o Banco Central Argentino voltou a elevar a taxa de lucro, o que provocou uma abrupta queda na cotação do peso.
O Banco Central tenta conter a queda da moeda nacional, gastando reservas e elevando taxas, dizem os economistas locais. E o país convive com uma taxa de inflação muito elevada: segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, a taxa atual está em 25,4%!
Manobras militares dos EUA na Argentina. Enquanto os trabalhadores argentinos sofrem com inflação alta, desemprego crescente, reformas trabalhistas e os tarifaços de Macri, os EUA seguem com o plano de voltar a militarizar a região para preparar o golpe contra a Venezuela.
Depois dos “exercícios militares” no Brasil, Mauricio Macri autorizou o ingresso de tropas estadunidenses na Argentina para participarem de “manobras e exercícios” na quarta-feira (02).
Acontece que Macri não solicitou, como manda a Constituição, autorização do Congresso para autorizar a chegada de tropas estadunidenses que já se encontram no país. Ele usou um argumento falso dizendo que “trata-se apenas de membros da inteligência dos EUA e não de tropas”. Mas o fato é que são soldados enviados por Washington e a autorização do Congresso era necessária.
Segundo autoridades dos EUA, trata-se de exercícios com o objetivo de preparar e formar militares argentinos “contra o tráfico de armas de destruição em massa na região”! Dá para acreditar? Armas de destruição em massa na América Latina. A mesma desculpa para uma nova invasão?
Neoliberalismo e perda de direitos trabalhistas na América Latina. O retorno do neoliberalismo à nossa região está também trazendo graves prejuízos para os trabalhadores. A flexibilização do trabalho e a perda do poder aquisitivo dos trabalhadores ativos e dos inativos é uma constante em toda a região.
Comemorando o 1º de Maio, a Agência TeleSur fez um apanhado das principais consequências do avanço neoliberal sobre a classe trabalhadora.
1) Flexibilização dos contratos de trabalho – os governos neoliberais da região estão empenhados em aprovar reformas que facilitem a terceirização e a flexibilização trabalhista. Como exemplo, a matéria cita o que acontece no Brasil, na Argentina e no Peru com medidas que estão aumentando a precariedade do trabalho e facilitando a vida dos empresários que estão conseguindo maiores lucros, mesmo com a crise. Nos três casos as mulheres estão sendo as mais afetadas pelas medidas;
2) Perda da proteção trabalhista – em vários países os trabalhadores estão perdendo o direito de licenças por motivos de doenças. Os dias não trabalhados, mesmo que com comprovante médico, estão sendo descontados do salário. O exemplo mais marcante é o México, onde o governo aprovou uma nova Lei retirando a validade da “Ralação de Doenças do Trabalho” e da “Avaliação de Incapacidade Permanente para o Trabalho” da Legislação Trabalhista mexicana. Em segundo lugar nesta questão está o Paraguai, país com os mais baixos índices de proteção social na área médica;
3) Menor estabilidade e aumento das demissões – a perda da estabilidade no trabalho é um dos fatos que mais afeta a classe trabalhadora latino-americana. As demissões e a falta de criação de novos postos de trabalho permitem aumentar a exploração favorecendo as empresas. O relatório aponta Argentina e Brasil como os países que foram varridos por uma onda de demissões depois da chegada ao poder de Macri e Temer. Por enquanto, Argentina está disparada na frente;
4) Extensão da jornada de trabalho – a jornada de oito horas diárias, uma conquista histórica que custou a vida de centenas de trabalhadores (lembrar dos mártires de Chicago), vem sendo destruída na região. E o país onde mais se violentou essa conquista, realizando aumentos reais das jornadas, foi o México, seguido de perto pela Costa Rica e pelo Chile. No Brasil a ameaça é mais recente, com a reforma de Temer, mas pode colocar o Brasil entre os primeiros;
5) Pensões e idade para aposentadoria – outro direito que vem sendo violentado é o valor da pensão do trabalhador ao se aposentar. O caso mais marcante é o da Argentina onde Macri impôs uma reforma violenta no valor das pensões e levou milhares de trabalhadores às ruas, em protesto. No Brasil, Temer está aprovando sua reforma para ampliar a idade de aposentadoria dos trabalhadores, mas as medidas são semelhantes em quase todos os outros países.
Novos desafios para o sindicalismo mundial. Os empregos informais já representam mais de 60% das vagas em todo o mundo. A conclusão está no relatório “Mulheres e Homens na Economia Informal”, divulgado no sábado (30) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). No total, são mais de 2 bilhões de pessoas sem contratos fixos ou carteiras assinadas e os dados apresentados não consideram pessoas fora do mercado de trabalho. Ou seja, um enorme contingente de trabalhadores sem condições e direitos de sindicalização.
A informalidade se altera fortemente quando observadas as condições socioeconômicas dos países. Enquanto nas economias mais ricas, a média de vagas informais fica em 18,3%, nas em desenvolvimento e de menor renda o índice salta para 79%. Ou seja, um trabalhador vivendo em uma nação com economias mais frágeis tem quatro vezes mais chances de ficar em um posto informal do que aqueles em áreas com melhores indicadores.
A presença do trabalho informal é maior na África (71,9%), seguida de Ásia e Pacífico (60%), Américas (40%) e Europa e Ásia Central (25%). Na América Latina, o índice fica em 53%.
Nas zonas rurais, o emprego informal representa 80% do total, quase o dobro do índice verificado nas regiões urbanas (43,7%). Na agricultura, chega a atingir 93,6% dos trabalhadores, enquanto na indústria e nos serviços os percentuais caem, respectivamente, para 57,2% e 47,2%. A informalidade está vinculada também a determinadas modalidades de contratação. O fenômeno é mais comum em vagas de tempo parcial (44%), temporárias (60%) e na combinação dessas duas características (64%). Já em atividades de tempo integral, o índice cai para 15,7%.
Na avaliação da OIT, a informalidade traz como consequências a má qualidade do trabalho, a queda de rendimentos e proteções sociais aos trabalhadores. Mas também tem impactos no conjunto da economia, minando a sustentabilidade das empresas, tensionando negativamente a produtividade e afetando as arrecadações dos governos.
Mais um bombardeio sobre a Síria. Você sabia que os EUA – com a Austrália e o Canadá – são os únicos países onde não há comemoração do 1º de Maio? E, não tendo o que fazer resolve comemorar bombardeando outros países.
Na terça-feira (01) os EUA e seus capachos (França e Reino Unido) realizaram novo bombardeio contra a Síria deixando, pelo menos, 25 mortos. A matéria foi divulgada pela agência de notícias SANA e diz que o novo ataque aconteceu na aldeia de Al Fadil, no subúrbio de Hasaka, norte da Síria.
Dezenas de civis ficaram feridos e diversas casas foram destruídas, sengo informações da agência.
E os mísseis estadunidenses resgatados pela Rússia? No Informativo passado noticiamos que alguns mísseis do tipo Tomahawk, considerados de “última geração” por Washington, que foram lançados sobre a Síria e não explodiram foram levados para a Rússia.
Agora temos informações do Ministério de Defesa Russa que mostrou os pedaços dos mísseis e informou que estão servindo para uma minuciosa pesquisa que poderia ser usada para melhorar as armas russas. Alexéi Podberiozkin, diretor do Centro de Estudos Militares e Políticos da Universidade MGIMO, doutor em Ciências Históricas, concedeu uma entrevista onde fala do valor de estudar esse material tão rico.
“É claro que que esses mísseis serão cuidadosamente estudados e, acima de tudo, pode melhorar nossos conhecimentos e aumentar nossa capacidade de enfrentá-los”, disse o cientista. “Nossa primeira preocupação é determinar com precisão sua ação controlada pelo radar”, comentou dizendo ainda que “O segundo objetivo é esclarecer melhor seus componentes microeletrônicos e a capacidade de direção dos mísseis. Em terceiro lugar estudar o sistema de propulsão”.
Cremos que tem muito general no Pentágono que não dorme há muito tempo!
Preparam uma nova farsa? Uma fonte que preferiu não se identificar, mas que é parte do serviço de inteligência da Síria, denunciou a algumas agências de notícias que o serviço secreto dos EUA está preparando uma nova farsa de “ataque químico” próximo do campo de petróleo de Jafra, na área de Deir Ezzor, para justificar novo ataque e destruir as instalações petrolíferas no local.
“Os serviços especiais dos EUA estão tramando uma provocação com o uso de substâncias proibidas na Síria. A operação, que consiste em criar novo teatro de ataque químico contra civis e difundir na mídia internacional, está a cargo de um ex-combatente do ISIS, Mishan Idris Hamash”, disse a fonte.
O campo de petróleo encontra-se a cerca de 27 quilômetros a leste de Deir Ezzor, onde existe uma base ilegal de militares estadunidenses.
Rússia diz que EUA deseja fragmentar a Síria. A possibilidade não é novidade para os companheiros que acompanham nosso Informativo. Já anunciamos isso há algum tempo e mostramos quais os interesses em jogo e a quem serviria uma divisão do país. Mas agora a notícia vem de fontes mais altas e com maiores conhecimentos da geopolítica da região.
Os Estados Unidos estão se estabelecendo na faixa oriental do rio Eufrates, na Síria, com o objetivo de balcanizar a República Árabe, denunciou na quinta-feira (03) o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguéi Lavrov.
Ele desmente a justificativa estadunidense de que está apenas combatendo terroristas na Síria quando está, na verdade, tentando estabelecer uma área ocupada na parte oriental do Eufrates. E denuncia que Washington mantém, sem o consentimento do governo sírio, tropas e equipamentos no país. 
Preparando nova guerra? Washington confirmou a entrega de sistemas de mísseis antitanque FGM-148 Javelin para a Ucrânia. O pessoal ucraniano começou a treinar com as novas armas na quarta-feira (02).
O pacote de ajuda aprovado em março passado especificava 210 mísseis antitanque Javelin e 37 lançadores Javelin. Desde 2014, os EUA entregaram mais de US$ 850 milhões para reforçar a segurança da Ucrânia. Embora o National Defense Authorization Act para Ano Fiscal 2018 conceda apenas US$ 350 milhões para esta finalidade. Esta é a primeira vez que Washington entrega armas letais a Kiev. Embarques de rifles Barrett M107A1 farão parte da próxima remessa de novas armas.
É claro que as entregas de armamento são sempre seguidas por instrutores militares que vêm providenciar treino local. Ou seja, “instrutores” que servirão para influir no governo local.

Slavoj Zizek: A atualidade de Marx


Slavoj Zizek: A atualidade de Marx


É preciso responder de maneira propriamente dialética à questão sobre a continuada relevância da crítica da economia política de Marx no capitalismo global de hoje
Quando penso no bicentenário de Karl Marx comemorado este ano, logo me ocorre uma deliciosa piada soviética sobre a rádio Yerevan. Um ouvinte pergunta: “É verdade que Rabinovitch ganhou um carro novo na loteria?”. E a rádio responde: “A princípio, é verdade, sim. Só que não foi um carro novo, foi uma bicicleta velha, e ele não ganhou ela, ela lhe foi roubada.” Não seria possível dizer que algo semelhante não vale também para o destino do ensinamento de Marx hoje, 200 anos após seu nascimento?
Perguntemos à rádio Yerevan: “É verdade que Marx ainda é atual hoje?”. E já dá para adivinhar que tipo de resposta teríamos: “A princípio, sim, ele descreve maravilhosamente a dança louca das dinâmicas do capitalismo, que só atingiu seu auge hoje, mais de um século e meio depois de seus escritos, mas… Gerald A. Cohen enumerou os quatro atributos fundamentais da noção marxista clássica de classe trabalhadora: (1) ela constitui a maioria da sociedade; (2) ela produz a riqueza da sociedade; (3) ela consiste dos membros explorados da sociedade; (4) seus membros são os necessitados da sociedade. Quando combinam-se esses quatro atributos, geram-se mais dois: (5) a classe trabalhadora não tem nada a perder com uma revolução; (6) ela pode e irá iniciar uma transformação revolucionária da sociedade.¹ Não se pode dizer que os quatro primeiros atributos se aplicam à classe trabalhadora atual. É por isso que não se pode produzir os enunciados (5) e (6). (Ainda que algumas das características possam ser válidas para certas partes da sociedade atual, elas não estão mais unificadas em um único agente: os necessitados na sociedade não são mais os trabalhadores, etc.)
O impasse histórico do marxismo não repousa apenas no fato de que ele contava com a perspectiva da crise derradeira do capitalismo e portanto não podia dar conta de explicar como o capitalismo saía de cada crise fortalecido. Há um equívoco ainda mais trágico em operação no corpo clássico do marxismo, descrito de maneira muito precisa por Wolfgang Streeck: o marxismo estava certo a respeito da “crise final” do capitalismo; é evidente que estamos adentrando ela hoje, mas essa crise é simplesmente isso, um processo prolongado de corrosão e desintegração, sem que haja uma Aufhebung hegeliana fácil à vista, sem que haja nenhum agente para conferir a essa corrosão uma virada positiva e transformá-la em passagem para algum nível mais elevado de organização social:
“É um preconceito marxista – ou melhor, modernista – que o capitalismo enquanto época história somente irá se encerrar no momento em que uma sociedade nova e melhor estiver à vista, e em que houver um sujeito revolucionário disposto para implementá-la para fazer avançar a humanidade. Isso pressupõe um grau de controle político sobre nosso destino comum com o qual não podemos nem sonhar depois da destruição da autonomia coletiva (e inclusive da esperança por ela) realizada na revolução neoliberal-globalista.”²
A visão de Marx era a de uma sociedade gradualmente se aproximando de sua crise final, uma situação marcada pela simplificação da complexidade da vida social a um grande antagonismo entre os capitalistas e a maioria proletária. No entanto, até mesmo um rápido panorama das revoluções comunistas do século XX já deixa claro que essa simplificação nunca efetivamente chegou a ocorrer: os movimentos comunistas radicais sempre estiveram circunscritos a uma minoria vanguardista que, para obter hegemonia, precisava aguardar pacientemente uma crise (geralmente uma guerra) que fornecia uma estreita janela de oportunidade. Em tais situações, uma autêntica vanguarda tem a chance de pode aproveitar o momento, mobilizar o povo (ainda que não a maioria de fato) e tomar o poder. Aqui, os comunistas sempre se mostraram totalmente “não-dogmáticos”, prontos para se colarem a outras pautas: terra e paz na Rússia, libertação nacional e unidade contra a corrupção na China, por exemplo… Eles sempre tiveram plena consciência de que a mobilização acabaria logo e tratavam de preparar cuidadosamente o aparato de poder para garantir sua manutenção no poder naquele momento. (Em contraposição à Revolução de Outubro, que explicitamente tratou os camponeses como aliados secundários, a Revolução Chinesa sequer fingiu ser proletária: ela abordou diretamente os agricultores como sua base.)

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Sob as barbas de Marx

'Crise de 2008 foi causada não por falta, mas por overdose de lucro', diz biógrafo de Marx em SP

 
O grande problema do marxismo ocidental (e até mesmo do marxismo como tal) era a ausência do sujeito revolucionário: como explicar que a classe trabalhadora não conclui a passagem do em-siao para-si de forma a constituir enquanto agente revolucionário? Esse problema fornecia a principal raison d’être do recurso à psicanálise, evocada no interior dessa tradição precisamente para dar conta de explicar os mecanismos libidinais inconscientes que bloqueiam o surgimento da consciência de classe inscrita no próprio ser (situação social) da classe trabalhadora. Dessa forma, salvou-se a verdade da análise socioeconômica marxista: não havia motivo para renunciar a teorias “revisionistas” sobre a ascensão das classes médias etc.
É por essa mesma razão que o marxismo ocidental também sempre se mostrou atento a outros atores sociais que poderiam desempenhar o papel de agente revolucionário, como o suplente substituindo a classe trabalhadora indisposta: campesinos do Terceiro Mundo, estudantes e intelectuais, os marginais excluídos… A versão mais recente dessa ideia recorre aos refugiados: somente um influxo de um número muito grande de refugiados seria capaz de revitalizar a esquerda radical europeia. Essa linha de pensamento é profundamente obscena e cínica. Para além do fato de que tal desdobramento certamente impulsionaria enormemente a violência contra os imigrantes, o aspecto realmente insano dessa ideia é o projeto de se preencher a lacuna dos proletários ausentes importando-os do exterior, de forma que teríamos a revolução por meio de um agente revolucionário substituto terceirizado.
É possível identificar o fracasso da classe trabalhadora enquanto sujeito revolucionário já no próprio núcleo da revolução bolchevique. A arte de Lênin foi saber detectar o “potencial de raiva” (Sloterdijk) dos camponeses insatisfeitos. A Revolução de Outubro foi vitoriosa em larga medida por conta do lema “paz, terra e pão” direcionado para a vasta maioria de camponeses, agarrando o breve momento de radical insatisfação desse setor. Lênin já estava pensando nessa linha uma década antes das Teses de Abril, e por isso temia o possível êxito das reformas agrárias de [Piotr] Stolypin que visavam criar uma nova e forte classe de camponeses independentes. Ele escreveu que se o projeto de Stolypin fosse bem sucedido, estaria perdida, por décadas, a oportunidade de uma revolução.
Todas as revoluções socialistas exitosas, da cubana à iugoslava, seguiram esse modelo: agarrou-se a oportunidade em uma situação crítica extrema, cooptando a libertação nacional ou outros “capitais de raiva”. Aqui, é claro, um partidário da lógica marxista hegemônica prontamente assinalaria que essa é justamente a lógica “normal” do processo revolucionário: é única e precisamente através de uma série de equivalências entre múltiplas demandas, sempre radicalmente contingentes e dependentes de um conjunto específico (singular, até) de circunstâncias, que atinge-se efetivamente a “massa crítica” necessária. Uma revolução nunca ocorre quando todos os antagonismos se reduzirem ao grande antagonismo, mas quando eles combinam sinergicamente suas forças.
O ponto não é apenas que a revolução perdeu o bonde da História e deixou de seguir as suas leis imanentes, pois na verdade não há História, pois a história é um processo contingente, aberto. O problema é outro: é como se houvesse uma Lei da História, uma linha mestra predominante mais ou menos clara de desenvolvimento histórico, e que nesse contexto uma revolução só poderia ocorrer nos interstícios desse processo enquanto um fenômeno “contra a corrente”. Por isso, os revolucionários precisam aguardar pacientemente surgir o momento (geralmente muito breve) em que o sistema abertamente entra em pane ou colapsa, se aproveitar da janela de oportunidade, agarrar o poder que naquele momento se apresenta como que caído no chão, suscetível a ser reivindicado, e depois logo cuidar de fortificar seu domínio sobre o poder, construindo aparatos repressivos etc. de forma que quando passar o movimento de confusão e a maioria retomar a sobriedade e se desapontar com o novo regime, já será tarde demais para se livrar dele, dado seu firme enraizamento.
Os comunistas também sempre calcularam cuidadosamente o momento certo para interromper a mobilização popular. Tomemos o caso da Revolução Cultural Chinesa, que sem dúvida continha elementos de uma utopia efetivamente encenada. Logo no seus últimos momentos, antes da agitação ser barrada pelo próprio Mao (já que ele já havia atingido seu objetivo de re-estabelecer seu pleno poder e se livrar da mais alta concorrência da nomenclatura), ocorreu a “Comuna de Shanghai”: um milhão de trabalhadores que simplesmente levaram a sério os lemas oficiais, exigindo a abolição do Estado e até mesmo do próprio partido, e queria uma organização comunal direta da sociedade. Não é à toa que foi justamente nesse momento que Mao optou por convocar o exército para intervir e restaurar a ordem. Trata-se do paradoxo do líder que suscita um levante incontrolável ao mesmo tempo em que busca exercer pleno poder pessoal: a sobreposição entre ditadura extrema e emancipação extrema das massas.
A questão da continuada relevância da crítica da economia política de Marx na nossa era atual de capitalismo global precisa portanto ser respondida de maneira propriamente dialética. Afirmemos não apenas que ainda hoje a crítica da economia política de Marx, seu raio x das dinâmicas do capital, permanece totalmente atual, mas mais do que isso, afirmemos que é apenas hoje, com o capitalismo global, que, Marx atingiu sua plena atualidade. Ou, para falar em hegelianês, apenas hoje a realidade atingiu seu conceito. Dito isso, no entanto, intervém aqui uma inversão propriamente dialética: pois é neste exato momento de plena atualidade que precisa aparecer a limitação, o momento do triunfo é também o da derrota. Depois de superar os obstáculos externos, a nova ameaça vem de dentro, assinalando a inconsistência imanente. Quando a realidade atinge plenamente seu conceito, esse conceito mesmo precisa ser transformado. Aí reside o paradoxo propriamente dialético: não se trata de dizer que Marx estava simplesmente errado, ele muitas vezes se provou acertadíssimo, mas mais literalmente do que ele imaginava.
Tomemos a questão do “fetichismo da mercadoria”, por exemplo. Há uma clássica piada sobre um homem que acredita ser um grão de milho e é levado a uma instituição mental em que os médicos fazem de tudo para finalmente convencê-lo de que ele não é um grão de milho mas sim um ser humano. Quando ele recebe alta (convencido de não ser um grão de milho mas sim um homem) e permitem que ele saia do hospital, ele imediatamente volta tremendo. Há uma galinha na porta e ele teme que ela irá comê-lo. “Meu caro”, diz o médico, “você sabe muito bem que você não é um grão de semente e sim um homem.” “É claro que eu sei”, responde o paciente, “mas a galinha sabe disso?” O que isso tem a ver com o conceito de fetichismo da mercadoria? Leiamos o que dizem as palavras iniciais do subcapítulo sobre o fetiche da mercadoria n’O capital, de Marx: “Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma coisa óbvia, trivial. Mas sua análise a revela como uma coisa muito intricada, plena de sutilezas metafísicas e caprichos teológicos.” (p. 146) O fetichismo da mercadoria (nossa crença de que as mercadorias são objetos mágicos dotados de poder metafísico inerente) não está situado em nossa mente, na forma distorcida pela qual percebemos a realidade, mas em nossa própria realidade social. Podemos até saber a verdade, mas agimos como se não a soubéssemos – na nossa vida real, agimos como o sujeito da piada.
É assim que a ideologia opera na nossa era de cinismo: não é preciso “crer” nela. Ninguém leva a democracia ou a justiça a sério, todos nós estamos cientes de como essas instâncias são corruptas, mas mesmo assim nós participamos delas – em outras palavras, nós demonstramos nossa crença neles – porque assumimos que elas funcionam mesmo que nós não acreditemos nelas. O mesmo vale para a religião: nós “realmente cremos” nelas, apenas seguimos (alguns dos) rituais e costumes religiosos como parte do respeito pelo “estilo de vida” da comunidade à qual pertencemos (judeus não-crentes obedecendo as regras da alimentação kosher “em respeito à tradição”, por exemplo). “No fundo, eu não acredito nisso, é só parte de minha cultura” parece ser o modo predominante da crença deslocada característica de nossos tempos. É por isso que dispensamos os crentes fundamentalistas como “bárbaros” ou “primitivos”, como anticulturais, como uma ameaça à cultura: eles ousam levar a sério suas crenças. A era cínica em que vivemos não surpreenderia em nada Marx. As teorias de Marx portanto não estão simplesmente vivas: Marx é um fantasma que continua a nos assombrar, e a única forma de mantê-lo vivo é concentrarmos nos insights deles que hoje são mais verdadeiros do que em seu próprio tempo.
Então como ficamos? Devemos descartar os textos de Marx como documentos interessantes do passado e nada mais? Em um paradoxo dialético, os próprios impasses e fracassos do comunismo do século XX, impasses que eram claramente ancorados nas limitações da visão de Marx, ao mesmo tempo comprovam sua atualidade: a solução marxista clássica fracassou, mas o problema permanece. Hoje, o comunismo não é o nome de uma solução, é o nome de um problema, o problema dos comuns em todas as suas dimensões: os comuns da natureza enquanto substância da nossa vida, o problema de nossos comuns biogenéticos, o problema de nossos comuns culturais (“propriedade intelectual”), e, last but not least, os comuns enquanto espaço universal da humanidade do qual ninguém deve ser excluído. Qualquer que seja a solução, ela terá necessariamente de enfrentar esses problemas.
Nas traduções soviéticas, o famoso comentário de Marx a seu genro Paul Lafargue, “Ce qu’il y a de certain, c’est que moi je ne suis pas marxiste”, ficou “Se isso é marxismo, então eu não sou marxista”. Esse erro de tradução transmite perfeitamente a transformação do marxismo em um discurso universitário: para o marxismo soviético, até mesmo o próprio Marx seria um marxista que participava do mesmo conhecimento universal que constitui o marxismo. O fato de que ele tenha criado o ensinamento posteriormente conhecido como “marxismo” não constitui exceção alguma de forma que a negação expressa por ele só se refere a uma versão específica equivocada que falsamente se proclamaria “marxista”. Na verdade, o que Marx queria dizer era algo mais radical: uma lacuna separa o próprio Marx – o criador que possui uma relação substancial diante de seus ensinamentos – dos “marxistas” que seguem seus ensinamentos. Há uma conhecida piada dos irmãos Marx em Os Galhofeiros (1931) que transmite bem essa lacuna. O capitão Spaulding pergunta: “Você se parece muito com o Emanuel Ravelli. Você é irmão dele?” Ao que o sujeito responde: “Mas eu sou Emanuel Ravelli.” E Spaulding simplesmente rebate: “Então não é à toa que você se parece com ele! Mas insisto, há uma semelhança.” O sujeito que é Ravelli não se parece com ele, ele simplesmente é Ravelli. E, da mesma forma, o próprio Marx não é um marxista (um dentre os marxistas); ele é o ponto de referência eximido da série. É a referência a ele que faz dos outros marxistas. E a única forma de se permanecer fiel a Marx hoje é de não ser mais um “marxista”, mas sim de repetir o gesto fundador de Marx de uma nova maneira.
Notas
1 Gerald Allan Cohen, If You’re an Egalitarian, How Come You’re So Rich?, Cambridge (MA), Harvard University Press 2001.
2 Wolfgang Streeck, How Will Capitalism End?, Londres, Verso Books, 2016, p. 57.

Publicado originalmente em Blog da Boitempo

A esquerda que quer voltar ao gueto, por Luis Nassif

A esquerda que quer voltar ao gueto, por Luis Nassif

Há dois momentos que ameaçam um grupo político: o do sucesso e o da derrota.
O sucesso tende a minimizar os riscos e os inimigos. Melhor exemplo foi o incomparável sucesso de Lula no período 2008-2010 e o de Dilma Rousseff nos dois primeiros anos, que os fez cegos aos movimentos de desestabilização que já estavam em andamento.
A derrota tende a promover a desesperança, como reação, despertar a busca de saídas mágicas. É um momento em que proliferam oportunistas, vendedores de poções mágicas do velho oeste, anunciando balas de prata aqui e acolá, que resolverão todos os problemas instantaneamente. Usam despudoramente o recurso aos fake news para oferecer informações ou análises falsas, explorando a boa fé dos que precisam se iludir para superar a decepção com os rumos do país.
Hoje em dia, os vendedores de poções e os radicais de gueto são as maiores ameaças à reconstrução de um centro-esquerda que consiga recuperar o poder.
Há dois enormes desafios pela frente: vencer as eleições e montar a governabilidade. Suponha-se, numa hipótese distante, que Lula conseguisse concorrer e vencer as eleições. Como governaria? Poderia abrir mão do PDT, do PSB, do PCdoB, de setores progressistas do PMDB, de lideranças da indústria e do trabalho? É evidente que não. E uma eleição sem Lula torna a construção de consensos uma necessidade ainda maior.
A maneira como parte da militância reage ao exercício da política, batendo em Fernando Haddad, o emissário de Lula para o pacto político, e investindo contra candidatos de outros partidos, como Ciro Gomes, é o caminho mais fácil para jogar a esquerda de volta ao gueto e aguardar algumas décadas a chegada de outro profeta para recompor a perspectiva de poder.
Nunca a negociação política foi tão crucial. O que se tem, na outra ponta não é Ciro Gomes, Haddad, Pimentel – eles são do mesmo lado de Gleisi, Lindbergh, Viana -, mas uma quadrilha que está desmontando o país, promovendo uma regressão de décadas nas políticas públicas, um partido da Justiça que avança cada vez mais sobre os direitos fundamentais. E tudo isso abrindo caminho para riscos ainda maiores, como o de Bolsonaro.
É momento que exige enorme dose de bom senso especialmente das lideranças; e realismo e compreensão da parte dos militantes e uma avaliação correta da correlação de forças.
Nesses tempos bicudos, há espaço para as posturas aguerridas, importantes para manter a chama acesa. Mas não da parte das lideranças. Há que se ter os guerreiros e os estadistas, os negociadores. A estes cabe a responsabilidade de deixar de lado mágoas, quizílias, idiossincrasias, e buscar o consenso.
Em poucos momentos da história, a presença de negociadores se fez tão necessária.

MPF aponta série de inconstitucionalidades no 'Pacote do Veneno'

AGROTÓXICOS

MPF aponta série de inconstitucionalidades no 'Pacote do Veneno'

Relatório do ruralista Luiz Nishimori, que deve ser votado nesta terça (8), ignora os efeitos à saúde e ao meio ambiente e permite o registro de produtos que causam câncer e malformações
por Cida de Oliveira, da RBA publicado 06/05/2018 16h32
ARQUIVO/EBC
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Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos e permite produtos proibidos em outros países
São Paulo – O subprocurador-Geral da República e coordenador da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, Nívio de Freitas Silva Filho, encaminhou ao Congresso Nacional nota técnica advertindo sobre as diversas inconstitucionalidades contidas no substitutivo da Comissão Especial sobre o Projeto de Lei 6.299/2002, que deverá ser votado nesta terça-feira (8).
Assinado pelo relator Luiz Nishimori (PR-PR), deputado que integra a bancada ruralista, o substitutivo dá parecer favorável ao PL 6.299, apresentado pelo atual ministro da Agricultura Blairo Maggi, quando era senador, e aos demais 27 PLs a ele apensados – que juntos compõem o chamado “Pacote do Veneno”, revogando a atual Lei de Agrotóxicos (Lei 7.802/1989). 
A aprovação do pacote atende aos interesses dos fabricantes de agrotóxicos e sementes transgênicas e à bancada ruralista. Financiados por esse setor produtivo, esses parlamentares ganham ainda benefícios do governo de Michel Temer, que fez dos projetos moeda de troca pelo apoio político. 
De acordo com o Ministério Público Federal, dos quatorze motivos apontados por Nishimori para defender a aprovação do pacote e alterar a atual legislação, nenhum considera os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde ou meio ambiente.
Entre as inconstitucionalidades apontadas estão a extinção da competência dos municípios de legislar sobre o uso e o armazenamento local dos agrotóxicos, seus componentes e afins; o dever de adoção, pelo poder público, de políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doenças, à proibição de registro de produtos compostos por substâncias causadoras de malformações congênitas, câncer ou que provoquem distúrbios hormonais ou danos ao sistema reprodutivo. O registro de substâncias com estas características passa a ser legal se o substitutivo for aprovado.
O MPF destaca ainda que o Pacote limita a atuação dos órgãos de saúde e de meio ambiente, como a Anvisa e o Ibama, que passam a ter o papel de homologar a avaliação de risco toxicológico e de risco ambiental apresentada pelos requerentes. O procuradores da 4ª Câmara destacam que, no caso do órgão ambiental, não é facultado nem sequer a solicitação de complementação de informações. E que a homologação é contrária a princípios importantes da administração pública, como a indisponibilidade do interesse público e a indelegabilidade do poder de polícia.
“Não pode o Estado renunciar aos seus mecanismos de avaliação e controle prévio de substâncias nocivas ao meio ambiente e à saúde, mediante sua substituição por mero ato homologatório de uma avaliação conduzida pelo particular, distante do interesse público”, destacam.
Outra inconstitucionalidade destacada é a possibilidade de utilização de agrotóxicos sem o devido receituário agronômico “em situações excepcionais”, quando já são conhecidos os riscos da utilização indiscriminada de substâncias tóxicas (clique aqui para acessar a íntegra da nota técnica do MPF).

Agroecologia

O tema foi amplamente discutido ontem (5), em seminário sobre agrotóxicos realizado na 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária do MST, em São Paulo. A professora de Geografia da USP, Larissa Bombardi, apresentou dados do atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, que demonstra de maneira clara a relação entre o uso desses produtos e o crescimento da incidência de doenças, como malformações e câncer, entre outras, que tendem a multiplicar com a aprovação do pacote  (clique aqui para acessar o atlas).
A gravidade do panorama  foi reforçada por estudo apresentado pela médica Ada Cristina Pontes Aguiar, integrante do Núcleo Tramas, da Universidade Federal do Ceará, que desenvolve pesquisas na região da Chapada do Apodi, onde a água de consumo humano está contaminada pela pulverização aérea de agrotóxicos. Segundo a pesquisadora, há forte relação entre o aumento nos casos de malformações e puberdade precoce entre crianças da população local a partir da contaminação. 
O coordenador da organização Terra de Direitos e presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), advogado Darci Frigo, destacou as manifestações da sociedade contra o pacote, entre elas do conselho que preside (clique aqui), e defendeu urgência no debate e encaminhamento de propostas para a construção de uma política nacional de agroecologia como alternativa à produção agrícola baseada no uso de agrotóxicos. O Brasil é o maior consumidor desses produtos em todo o mundo e permite o uso de substâncias proibidas em outros países – situação que tende a piorar, e muito, com a aprovação do substitutivo de Luiz Nishimori.

Assentados do MST produzem cervejas livres de transgênicos; conheça algumas delas

Assentados do MST produzem cervejas livres de transgênicos; conheça algumas delas

Entre elas, a "Fora Temer", cerveja livre de cereais não maltados, é comercializada na Jornada de Agroecologia 2017

Brasil de Fato | Lapa (PR)
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Ezequiel Porsch, militante do MST e produtor de cervejas livres de transgênicos / Marcelo Cruz /Brasil de Fato
Desde o golpe contra o governo da presidenta Dilma Rousseff, no ano passado, a Cervejaria Latinoamericana, localizada no assentamento Maria Lara, em Centenário do Sul, região Norte do Paraná, produz a cerveja "Fora Temer".
Sucesso de vendas, a bebida artesanal é livre de transgênicos e cereais não maltados, que são ingredientes de baixa qualidade, comumente utilizados na fabricação de cervejas industrializadas.
Igor de Nadai é um dos fundadores da cervejaria e integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele explica que a iniciativa começou despretensiosa, no intuito apenas de produzir bebida de qualidade para ele e os amigos. Com o tempo e as pesquisas de Igor, a qualidade da cerveja foi aumentando junto com a produção.
"Eles botam milho, arroz, vai farelo até de soja, todo tipo de grão que faz perder a qualidade da cerveja. Só por esse motivo, a nossa já é mais saudável", afirma.
A iniciativa de produção das cervejas de Igor inspirou outros assentados que, através dele, aprenderam a preparar as bebidas e criaram sua própria marca e estilo. Uma delas é a Cervejaria Campesina, de origem do assentamento Olivio Balbino, também no Paraná.
Ezequiel Evandro Porsch, membro da cervejaria, explica um pouco sobre o propósito da iniciativa. "Fazer uma cerveja dentro do assentamento, de qualidade, é o principal fator que nos motiva hoje a produzir uma cerveja acessível à classe, que esteja disponível nos bares da classe trabalhadora e não nos bares da burguesia", comenta Porsch.
Os nomes das cervejas carregam também um protesto. No caso da "Fora Temer", da Cervejaria Latinoamericana, o nome reflete o descontentamento com o presidente golpista Michel Temer (PMDB). Já a "Beba Sem Temer", da Cervejaria Campesina, também faz alusão à crítica contra Temer, bem como à qualidade da cerveja, livre de transgênicos e cereais não maltados.













 
Edição: Ednúbia Ghisi