terça-feira, 6 de novembro de 2018

O tamanho da nossa derrota e a montanha que temos que subir

 O tamanho da nossa  derrota e a montanha que temos que subir


O tamanho da nossa derrota e a montanha que temos de subir 

Roberto Ponciano

Leio, com estupefação, algumas “análises” da nossa derrota que me deixam seriamente preocupado. Vivemos a era da internet, da superficialidade, das fake news, da informação repassada e não digerida, de considerar que qualquer texto com mais de dez linhas é “textão”, e na crença de que a informação tem que ser “curta”, “objetiva”, “direta”, “criar empatia”, “porque, se não for, não será digerida”. Lógico que pelos tons das aspas eu sou um crítico deste consenso, toda unanimidade é burra, inclusive esta. A política vista com uma guerra virtual, decidida na internet, em que todo o restante perde a importância.

E nesta crendice supersticiosa num super mundo virtual, para além e acima das contradições do mundo real, todos e todas viram analistas políticos. Aliás, para ser analista político, nos dias de hoje, é melhor você desistir de fazer leituras de grossos livros de Ciência Política e Filosofia, Clausewitz? Marx? Sartre? Foucault? Maquiavel? Que nada, basta uma leitura de 10 minutos diários sobre a opinião de qualquer guru virtual. E aí pululam as soluções miraculosas, e os discursos otimistas.

Num texto se lê soluções mágicas de “como sobreviver ao fascismo”, com regras estrambóticas sobre “segurança virtual” e soluções muito práticas como, por exemplo, evitar abordar o fascismo de frente. Só uma coisas, se o fascismo avançar, não vai ser enterrar a cabeça na areia feito avestruz, ou trocar Marx por receita de bolo, que nos salvará da cadeia, da tortura, do exílio e da morte. Mas um texto que substitui o pó mágico do pirlimpimpim, com 8 parágrafos numerados é suficiente para “sobreviver ao fascismo”.

Pior que este texto e de muito sucesso também é um twitter ou algo parecido que diz que “foi bom os fascistas ganharem, o fascismo só se combate quando em lugar de uma ideia ele se torna uma realidade”. A imbecilidade deste pensamento é algo tão absurdo, que somente sou obrigado a comentá-lo porque a esquerda baixou tanto de nível de análise e leitura, que sim, é necessário explicar o óbvio. Num mundo onde tudo está tão confuso, temos que falar até as coisas triviais. Por este raciocínio “dialético”, e como conclusão necessária dele, foi ótimo para o mundo, por exemplo, que Hitler, Mussolini e Hiroito tenham comandado Itália< Japão e Alemanha, a segunda guerra mundial, o extermínio de comunistas, socialistas, social democratas, ciganos, testemunhas de Jeová, manchus, judeus, deficientes, prostitutas, homossexuais; porque só assim a “ideia” fascismo, que não podia ser combatida, pode, ao fim, com o custo de 50 milhões de vidas, ser combatida. 

Como diria Spinoza, ignorância não é argumento.

Outro texto muito corrente e prenhe do mesmo otimismo estilo Pollyana moça é o que diz que “não perdemos a eleição”, e conclui que a ganhamos, porque soma os brancos e nulos como prova da “rejeição de Bolsonaro”. Duas coisas nesta “análise”, pelo mesmo raciocínio nem devíamos ter assumido o poder durante os 4 mandatos que ganhamos nas urnas, nas mesmas condições, e, um argumento ainda pior, se somados os brancos e nulos está a dimensão da rejeição de Bolsonaro, deve se usar o mesmo raciocínio para nós, e nossa rejeição seria inexpugnável.

Em suma, em lugar de assumir que a luta de classes entrou em outro patamar qualitativo, que sofremos uma derrota extremamente profunda, que o fascismo ganhou corpo, forma, partidos políticos, redes de TV e mídia em geral, que penetrou no Judiciário com força, no Ministério Público e terá o auxílio para nos caçar e cassar de todos os aparelhos de Estado, trocamos a análise minuciosa da correlação de forças por frases otimistas e receitas de bolo para escapar dele.

A nossa derrota é tremenda e profunda. O fascismo que antes era uma ameaça, agora se consolida como ideologia política de Estado. Ao ponto de o juiz de primeira instância, que condenou o candidato mais forte da esquerda, sem provas, poder ser premiado com um cargo de um superministério da Justiça, com a intenção declarada de nos perseguir. E com a promessa solene inclusive de ir ao STF depois. Se um juiz de primeira instância, com parcos recursos intelectuais e quase nenhum poder, pode fazer o estrago que fez, imaginemos um STF fascistizado, inamovível, num processo de nomeação de fascistas!

Nossa derrota é muito mais profunda do que a perda de uma eleição. Nossa derrota aliás se perfaz na redução de nossa política a disputar eleições de 4 em 4 anos e deixar de fazer a disputa para organizar os trabalhadores na base, localmente, bairro a bairro. De disputar ideologicamente os mais pobres, que largados à própria sorte. Estes foram sugados por seitas neo-pentecostais, que, em sua grande maioria, em lugar de pregar o evangelho, organizam-se como células de partidos políticos com objetivos declarados de uma pauta reacionária e conservadora. 

Não sou um extremista, em lugar de objetivos concretos, não coloco a pauta máxima da Revolução Socialista. Mas entre a pauta máxima e o reduzir à luta popular às eleições, a transformação do aprofundamento da democracia em apenas aprofundar o tamanho da urna, esquecendo-nos de organizar o povo em geral e fazer a disputa ideológica, há uma distância incomensurável. Paramos de organizar o povo, negligenciamos o trabalho de base, trocamos a formação e a disputa ideológica pelas “batalhas de facebook e de whatsapp”. Ao contrário de todo mundo que acredita que perdemos as eleições nos “fake news” (para mim só um sintoma da nossa doença), perdemos as eleições porque paramos de nos organizar e trabalhar a consciência de classe. Como não há espaço vazio em política, as fake news tiveram terreno fértil para proliferar. Mas não, o pobre de direita não surgiu das fake news.

Alguém já observou como se organiza uma seita de extrema direita conservadora? 1. Tem organização territorial. 2. Tem reuniões periódicas (cultos, estudos, etc). 3. Tem estrutura hierárquica e disciplina interna. 4. Faz a disputa ideológica todo o tempo. A. Terraplanismo. B Criacionismo. C. Submissão da mulher ao homem. D. Homofobia. E. Conservadorismo nos costumes. Em resumo, tudo que fazíamos antes como partidos políticos a direita faz agora em seus aparelhos ideológicos de Estado.

E como reagimos a isto? “Reforçamos” nossa atuação no twitter, instagram, facebook, whatsapp, signal, etc. Não conseguimos raciocinar e pensar em como frágeis, sem projeto, sem formação política, inserção de massas são nossas organizações partidárias. Em lugar de uma crítica ao mundo real da nossa falta de organização e inserção partidária, é mais fácil creditar aos fake news a conta da nossa derrota.

A direita não tem ilusões como nós. Ela não faz apologia a um absurdo culto de uma “política do afeto” (já já falarei disto). Descuidamos dos aparelhos de Estado, no auge do sucesso do Governo Lula instigamos o povo a “consumir mais” e defendemos com unhas e dentes que o maior consumo da classe trabalhadora era o maior avanço do nosso Governo. Nossa pauta não foi nas ruas a universalização do SUS, a estatização de todos os serviços de saúde e de educação, a organização e educação das massas, na compreensão que um governo, ainda mais de coalização podia sim sofrer um forte revés. Trocamos a necessária e precisa análise da LUTA DE CLASSES, por crenças do tipo “republicanismo”, e acreditamos que havíamos chegado ao paraíso, e que nossos aliados circunstanciais deixariam de ser nossos inimigos de classes, devido às concessões que fizemos. 

Eles não tem estas ilusões. Antes mesmo de assumir, o governo fascista já anuncia uma super-Gestapo com Sérgio Moro à frente, com promessas futuras de STF, danem-se os escrúpulos e aparências, enquanto isto, brincamos de “republicanismo” e nomeamos Fux, Joaquim Barbosa, Fachin, Carmen Lúcia, dentre outros. A política é o espaço do embate e do confronto. Não entender a dinâmica de luta permanente na política, nos fez fazer concessões inadmissíveis a nossos inimigos no aparelho de Estado, em lugar de usá-los como base da luta de classe. Nosso inimigo não é tão amador.

Em lugar de análise da dinâmica da luta de classes e da correlação de forças, inclusive de tentar entender a fragilidade da falta de organização nossa no aparelho de Estado, criamos um discurso ursinhos carinhosos da “política do afeto’. Talvez esta seja a contribuição mais tosca da esquerda brasileira às bobagens que a esquerda já fez no mundo. Em 2002 dizer a esperança vai vencer o medo tinha precisamente outro sentido. O medo anticomunista cujo símbolo era Regina Duarte, tinha que ser vencido pela esperança em dias melhores. Preciso. 

Agora a tal da “política do afeto” nos invadiu, e em lugar de militantes parece que viramos um bando de telletubies ou de ursinhos carinhosos. Um valor abstrato e sem conteúdo, que em lugar de esclarecer as nossas deficiências, as mascara, com seu complemento necessário de “horizontalidade” e outros tipos de democratismos que, na verdade, só mostra como regredimos em termos de organização.

Não é a primeira vez que o fascismo toma o poder no Brasil. O Golpe de 1964 foi fascista. E demoramos 21 anos para voltar a eleger alguém fora do status quo do golpe e 24 anos para sair da sombra dele com a CF de 88. O Golpe de 2016 e a eleição de um fascista, podem agora termina de vez com a CF de 1988, e se, não nos organizarmos de forma real, disputando bairro e bairro e rua a rua os corações e mentes das pessoas, talvez demoremos outros 20 ou 40 anos para voltar ao poder, com consequências funestas para o povo brasileiro. Democracia ou barbárie e a barbárie vai se instalando.

Não tenho nenhum otimismo, ao contrário de militontos que apontam que o atual governo fascista fará tantas cagadas que o derrotaremos em 2022, lembro aos queridos amigos que este é um governo FASCISTA! Um governo que não terá escrúpulos em cassar liberdade democráticas, em perseguir, em demitir, em prender, que se apoiará em grupos paramilitares para assassinar adversários políticos, como já o fez, num experimento controlado, com Marielle Franco, e continuou fazendo entre o primeiro e o segundo turno das eleições. Esperar as eleições de 2022 será um erro fatal.

A montanha que temos de subir é alta, íngreme, não conseguiremos escalá-la sem estrutura, formação ideológica e organização. Não a enfrentaremos nem nos escondendo ou ocultando nossas opiniões, (na era digital, com os rastros que deixamos na internet, isto é só uma babaquice); nem militando na internet nos blogs, face, zap etc (embora seja importante). Arduamente temos que voltar a organizar nossas bases. Rua a rua, bairro a bairro. Recriar as células partidárias por local de trabalho e moradia, voltar a disputar política nos corações e mentes das pessoas, organizar brigadas antifascistas, fazer o trabalho ideológico diariamente, e não só em momentos de eleição. Trocar o discurso tolo de política do afeto, pelo discurso arrojado de luta de classes, que dá ao trabalhador a dimensão de qual lado ele está e qual seu papel na disputa entre Capital e Trabalho.

Sem isto, sem retomarmos as bases da organização popular negligenciadas, o fascismo durará muito. É claro que não estamos numa situação de terra arrasada. A derrota foi dura e profunda, mas não foi total. Temos um governo fascista no qual ainda funcionam aparelhos de Estado em que podemos fazer a disputa interna contra eles. Temos organizações como os sindicatos progressistas da CUT, CTB, nos quais precisamos voltar a fazer a disputa ideológica necessária, temos o MST, o MTST, as frentes, mas, o tamanho da derrota nos sinaliza que sim, havia um vácuou, um espaço político não ocupado o qual a direita ocupou, organizou os pobres a seu favor e construiu o fascismo. Não há reversão do fascismo sem disputarmos e organizarmos os trabalhadores mais pobres. 

Este texto não tem receitas mágicas. Não tem soluções prontas. É pessimista e sombrio porque é realista. Ele em resumo diz que sim, sofremos uma derrota e um revés profundo que coloca a luta de classes em outro patamar no Brasil, avança o fascismo e nos coloca na defensiva. E que para sairmos desta situação só voltando a nos organizarmos na base, ideologicamente, a partir de uma perspectiva classista.. 

Longe de soluções mágicas ele nos coloca o desafio. Democracia de massas ou barbárie!

20 Minutos Atualidade - Por que Moro será ministro de Bolsonaro?

https://www.youtube.com/watch?v=v0V6C71jSRs

Entre o horror e a demência

Política

Opinião

Entre o horror e a demência

por Mino Carta — publicado 05/11/2018 00h10, última modificação 01/11/2018 15h25
Com um ideário furtado ao Ku Klux Klan, o bolsonarismo se afirma enquanto a Constituição jaz no fundo do lixo e a justiça tira a venda com as próprias mãos
Ulysses Guimarães3.jpg
O MDB do doutor Ulysses foi a frente democrática de que o Brasil hoje precisa
Regimes de ultradireita infelicitaram povos diversos. Para citar os mais notórios dos últimos cem anos vale citar fascismo, estalinismo, nazismo, ditadura chinesa no período mais feroz. Mas de ultradireita foram também as ditaduras sul-americanas, inclusive a nossa de 21 anos, erguida à sombra da típica hipocrisia verde-amarela, a manter aberto um Parlamento constantemente sob ameaça e um Judiciário de paus-mandados.
Mas que dizer da divisão do Oriente Médio segundo as conveniências de Grã-Bretanha e França, e das consequências deste jogo de interesses, entre eles Israel de Netanyahu? E que dizer dos EUA, inesgotavelmente inclinados a usar a força das armas com o pretexto de ministrar mundo afora pretensas lições de democracia e liberdade, do Vietnã a Granada, do Iraque ao Panamá, dos golpes latino-americanos ao Afeganistão?
O reacionarismo tem inúmeras maneiras de se manifestar e impor conforme as circunstâncias históricas. O bolsonarismo é fenômeno genuinamente brasileiro ao representar o inescapável resultado do golpe de 2016, desferido pela aliança entre os próprios Poderes da República com o fatal e maciço apoio da mídia nativa.
PUBLICIDADE
Trata-se da prepotência em estado puro, baseada em um ideário digno do Ku Klux Klan e de um neoliberalismo elevado à enésima potência a deixar pálidos de espanto os entreguistas de antanho e até os mestres de Chicago.
Seria possível algo similar ao bolsonarismo em países civilizados e democráticos? O nacional populismo de extrema-direita avança na Europa, por razões diversas das nossas, promovido pelos efeitos do neoliberalismo a provocar o enriquecimento de poucos e o empobrecimento da larga maioria.
A imigração dos foragidos de conflitos e da miséria amedronta as populações europeias e excita os políticos oportunistas. Mesmo assim, ali vigora a democracia, as Constituições são respeitadas, as Altas Cortes funcionam com independência total, até mesmo onde a ultradireita está no poder alcançado pelo voto.
O Brasil, um país em vão destinado à grandeza e ao bem-estar, está a uma distância do direitismo europeu que até as botas das 7 léguas não conseguiriam percorrer. O bolsonarismo é construído sobre o avanço tecnológico capaz de embrutecer uma população ignorante e inculta, ricos ou pobres, tanto faz.
O extremo reacionarismo bolsonarista é perfeitamente simbolizado por seu líder de tosco pensamento e fala manquitolante, herói irreparavelmente brasileiro, incapacitado à compreensão do problema central do País, o monstruoso desequilíbrio social, ou, por outra, a desigualdade.
A Europa deixara havia larguíssimo tempo de ser medieval, quando na Alemanha e na Itália surgiram, por razões diversas, ditaduras totalitárias. No Brasil da casa-grande e da senzala vivemos a treva que se seguiu à queda do Império Romano do Ocidente.
Neste Brasil sempre exposto ao risco do golpe, estamos entregues a um exército de ocupação e a uma Justiça que tirou a venda com as próprias mãos. Um terço da população deixa-se explorar de olhos marejados pelos ditos pastores evangélicos, enquanto os postes expõem cartazes de milagreiros em complexos casos de amor e de quem sabe como recuperar a carta cassada dos motoristas infratores.
Desde o impeachment de Dilma Rousseff, a Constituição de 1988 jaz no fundo do lixo e meus imprudentes botões sugerem com alguma malignidade que talvez venha a ser substituída pela Santa Bíblia. Acima de tudo, Bolsonaro coloca Deus. Pergunto-me se sabe que o Filho morreu na cruz por ter defendido a igualdade entre todos os homens.
Gostaria de repetir o poeta Renato Suttana ao falar de um romance em andamento “que, entre a farsa e a paródia, é só bufa rapsódia”. Certa vez escrevi algo parecido a respeito de momentos difíceis, desta vez, entretanto, a situação nada tem de bufo. Estamos a encarar uma perspectiva de extrema violência tanto mais em um país que aprecia brigas díspares, na proporção de 10 contra 1, o solitário inimigo.
Não sei até que ponto estará a oposição com animus bellandi, vontade de lutar. Se for possível, contudo, formar sem preconceitos uma aliança entre os frequentadores da razão, a concordância em torno do objetivo principal apontará um caminho redentor.
Agradou-me, por exemplo, a disposição de Alberto Goldman, que conheci como “vermelho” em tempos de ditadura e que se tornou nestes dias um tucano capaz de alçar voo ao votar, “pela primeira vez”, no PT. Fernando Henrique, em compensação, não sai do chão. Não fosse a ameaça de Mario Covas de abandonar o PSDB, é bom recordar, FHC teria sido chanceler de Collor.
Erros em demasia foram cometidos no chamado campo progressista para favorecer Bolsonaro. Seria a ocasião de corrigi-los em nome do propósito comum, com a devida bonomia que uma respeitável dose de autoironia há de recomendar.
Quando menino, se eu dava uma de sabichão, minha avó materna sentenciava: “Desça do cavalo de Orlando”. Pois a quem está montado, repito como apelo a admoestação da avó. Ah, sim, Orlando, o desassombrado paladino da corte franca, herói da obra-prima de Ludovico Ariosto, “Orlando Furioso”. Creiam, é oportuno descer do cavalo para repensar em tudo.
Ocorre-me lembrar o MDB do doutor Ulysses, reunia todos os opositores da ditadura. Tratou-se de fato de uma frente democrática da qual nasceu a campanha das Diretas Já, o mais importante movimento popular realizado no Brasil, e sem o apoio da Globo, ao contrário daquele pelo impeachment de Collor, quando ao som do plim plim os meninotes da cara pintada foram fazer festa.
Contra o bolsonarismo, o País precisa de uma frente democrática acima dos partidos, empenhada em chegar ao povo para leva-lo à consciência da cidadania e cumprir a tarefa que a dita esquerda nativa não soube ou não quis cumprir.
CartaCapital está onde sempre esteve na prática do jornalismo. Na minha vida de profissional foi determinante o embate contra a censura ditatorial. Compreendi então em profundidade a virtude dos homens “dispostos a contar o que acontece”, como sustenta Hannah Arendt, a serventia da profissão credenciada a deixar uma pista para os historiadores do futuro.
Não tememos o bolsonarismo: veio movido pelo propósito de impor a ORDEM, aquilo que supões ser a ordem para reduzir o País a escombros com o uso crescente da violência. Aí está a semente do seu fracasso. Inescapável, a curto ou médio prazo.
Estamos na iminência de ver Sergio Moro, o torquemadazinho endeusado pelos propagandistas midiáticos, nomeado para um ministério de grande alcance, além da Justiça, em benefício da ORDEM bolsonarista. Um caríssimo amigo de fino intelecto propõe intitular “A Confissão” este quadro da tragédia suspensa entre a demência e o horror. 

Entrevista | Fátima Bezerra “A resistência tem de se dar à luz da Constituição"

Política

Entrevista | Fátima Bezerra

“A resistência tem de se dar à luz da Constituição"

por Sergio Lirio — publicado 04/11/2018 01h00, última modificação 04/11/2018 08h57
A futura governadora do Rio Grande do Norte, única mulher eleita para administrar um estado, analisa o papel da oposição a partir de 2019
Everton Dantas
fatima.jpg
Fátima Bezerra venceu a oligarquia potiguar
A petista Fátima Bezerra não apenas saiu ilesa da onda bolsonarista e da fábrica de mentiras que impulsionaram o ex-capitão e seus aliados em diversas partes do País. Única mulher eleita para governar um estado, sua vitória no Rio Grande do Norte tirou de cena velhos oligarcas da região, os senadores José Agripino Maia e Garibaldi Alves Filho, e levou ao Congresso novas lideranças progressistas.
No fim das contas, em terras potiguares, famosa pela vanguarda na atuação política feminina, o tsunami em favor de Jair Bolsonaro não passou de marola. A convincente vitória nas urnas transforma a futura governadora em uma peça importante do novo tabuleiro político. E ela não foge da responsabilidade. “O PT continuará unido na defesa da cidadania”, afirma. “É da nossa essência sermos firmes no combate ao preconceito, à discriminação e à violência”. 
CartaCapital: A senhora foi a única governadora eleita. Como se sente?
Fátima Bezerra: O simbolismo é evidente. Fui eleita em um estado que tem protagonismo na luta em prol da maior participação das mulheres na política. É a terra da Nísia Floresta e da Alzira Soriano, primeira prefeita da América Latina. No Rio Grande do Norte nasceu o voto feminino no Brasil, décadas e décadas atrás.
Ao mesmo tempo, ser a única mulher eleita para governar um estado evidencia o déficit da nossa participação na história política. E há ainda a sub-representação nos espaços legislativos. Isso deveria levar a sociedade a refletir sobre a situação. Nós, do PT, há tempos defendemos uma ampla reforma política que inclua, entre outros pontos, a paridade. Essa sub-representação feminina tem tudo a ver com a realidade do País, no qual vigora a cultura do patriarcado. 
CC: Culpa do sistema político, não?
FB: Também. Ele é cheio de distorções, anacrônico. São recentes as ações afirmativas para incentivar a participação política das mulheres. Lembre-se da polêmica causada pela regra que destinou 30% dos recursos do fundo partidário para as candidaturas femininas. 
CC: A senhora conseguiu decifrar a onda bolsonarista, da qual, em alguma medida, nem o Nordeste escapou?
FB: A onda Bolsonaro chegou no Nordeste e no Rio Grande do Norte. O meu adversário, de forma oportunista, tentou aproveitar-se, inclusive em desacordo com a orientação do seu partido, o PDT.  Fez um discurso muito forte de demonização do PT.
Na hora H, a onda refluiu. O resultado eleitoral do segundo turno no Rio Grande do Norte foi muito expressivo. Venci com 15,2 pontos percentuais de diferença.
Além disso, o projeto político que eu represento teve uma vitória inegável ainda no primeiro turno. Houve uma mudança da correlação de forças na representação no Congresso. A Zenaide Maia, senadora eleita, é totalmente alinhada ao projeto. Ela é filiada ao PHS, mas defende com muito mais afinco as nossas ideias do que muitos petistas.
Por outro lado, o José Agripino nem se arriscou a disputar o Senado. Tentou uma vaga na Câmara e perdeu. O Garibaldi Alves, senador de 1 milhão de votos em eleições passadas, obteve pouco mais de 300 mil e também ficou de fora. Das oito vagas a deputados federais, o PT conseguiu eleger dois, feito histórico. Houve um aumento da bancada progressista do Rio Grande do Norte. 
CC: Como a onda atingiu o Rio Grande do Norte?
FB: Em determinado momento, a coordenação da campanha expressou uma certa preocupação. Não escapamos do fenômeno das notícias falsas, dos boatos, das mentiras, da desonestidade.
A sorte foi que a Justiça eleitoral agiu com rapidez. Conseguimos inúmeros direitos de resposta. A militância mobilizou-se e, no fim, a população potiguar soube separar o joio do trigo. O combustível da ascensão do Bolsonaro foram as chamadas fake news
CC: A senhora teme algum tipo de retaliação do governo federal ao Nordeste? Como os governadores da região devem se articular?
FB: Tenho mais de 30 anos de vida pública. Aprendi, desde os tempos em que era professora e dirigente sindical, a conviver com as diferenças, essência da democracia. Desenvolvi um atributo que considero importante, a capacidade de ouvir. Os entendimentos e os consensos nascem do diálogo. Se dependesse do Nordeste, Fernando Haddad seria o presidente. Ele deu uma grande contribuição à democracia. Mas precisamos encarar a vida como ela é. 
CC: E como ela será?
FB: Da mesma forma que um governador precisa respeitar o presidente, o presidente precisa respeitar um governador. E ambos devem respeitar a essência da democracia, a soberania do voto popular. Espero que o Bolsonaro seja escravo da Constituição. Em primeiro lugar, que preservem os direitos e as liberdades inscritos na Carta maior. Os governadores do Nordeste, como os demais, estão respaldados pelo voto. Vamos cobrar uma postura republicana de Brasília. 
CC: Por que não foi possível montar uma frente democrática contra a ameaça autoritária representada por Bolsonaro? Ela poderia se estabelecer a partir de agora?
FB: No momento tenho de me atentar para o meu papel institucional, de governadora. A mim cabe defender em primeiro lugar os interesses da população do Rio Grande do Norte. A partir de janeiro assumo um estado em uma situação bastante peculiar. Ao contrário dos demais da região, enfrentamos uma das piores crises fiscais e sociais da história. Não podemos esquecer que o Rio Grande do Norte ostenta o título de estado mais violento do Brasil, tem o terceiro pior Ideb do Ensino Médio e convive com a absoluta precariedade no sistema de saúde. O descontrole das contas é tão grande que nem o pagamento em dia dos salários do funcionalismo está assegurado.
No campo da segurança pública, tenho consciência de que nada será resolvido sem o apoio do governo federal. Não tem como, sozinho, o estado enfrentar o avanço do crime organizado. O desafio exige um esforço de cooperação. 
CC: E quanto à frente democrática?
FB: Os eleitores brasileiros decidiram colocar o PT na oposição. E o partido, acredito, desempenhará esse papel com muita sabedoria e responsabilidade. Nosso lugar é no campo democrático e popular. Não se pode desconhecer a importância da legenda. Elegemos a maior bancada da Câmara, estamos presentes no Senado, seremos quatro governadores. Temos inserção nos movimentos sociais. O Haddad sai dessa eleição como uma liderança nacional.
É importante uma unidade das forças democráticas e populares, o que infelizmente não aconteceu no segundo turno. Achei lamentável a postura do Ciro Gomes. Não havia como pedir ao PT para não lançar um candidato à Presidência da República depois de tudo o que o partido sofreu nos últimos anos. O impeachment sem comprovação de crime de responsabilidade... A ofensiva contra o Lula e sua condenação cujo único objetivo era retirá-lo da disputa eleitoral... A despeito de todos os ataques, continuamos a ser o partido mais reconhecido pela população. Como não considerar legítima a postulação da candidatura.
Lamento profundamente o equívoco histórico que o Ciro Gomes cometeu no segundo turno. Se fosse ele no lugar do Haddad, o PT não lhe negaria apoio explícito. No dia seguinte, estaríamos totalmente empenhados, nas ruas. A história segue. Basta lembrar o comportamento do Leonel Brizola em 1989. Ele esteve firme ao lado de Lula contra Fernando Collor, apesar da dura disputa entre os dois no primeiro turno. 
CC: O antipetismo a surpreendeu?
FB: Em certa medida. Em um determinado momento estava em curso um processo de recuperação da imagem do partido, mas o antipetismo foi novamente fabricado. Não vamos ser ingênuos. Foi um sentimento impulsionado pelas redes sociais, em especial por WhatsApp. 
CC: O quanto o resultado das eleições presidenciais dificulta a possibilidade de liberdade para o ex-presidente Lula?
FB: Temos de continuar a campanha por um julgamento justo, que é a reivindicação do ex-presidente. Há instâncias a serem percorridas. Torcemos por cautela e independência, pois a Justiça não pode ser contaminada pelo Poder Executivo. 
CC: Como deve se portar a oposição? Como enfrentar a violência do bolsonarismo?
FB: A resistência tem de se dar à luz da Constituição. O PT continuará unido na defesa da cidadania. É da nossa essência ser firme no combate ao preconceito, à discriminação e à violência.

Chega de fake news. Descubra o MST que você não conhece

Chega de fake news. Descubra o MST que você não conhece


Gostando ou não, você não pode ignorar o tamanho do MST, afinal, o movimento sustenta mais de 300.000 famílias no Brasil todo e está em mais de 700 municípios.
Quem não gosta do MST usa o argumento da propriedade privada. Mas a propriedade não é privada em absoluto. As terras que são improdutivas podem e devem serem desapropriadas. Pelo menos é o que diz a lei 5504. E daí dirão (como disseram): “Ah, lei escrita pelo comunista do Lula”. Qual não foi meu prazer ao anunciar que essa lei foi escrita em 1964, no seio da ditadura militar.
Nessa lei diz que a terra brasileira desempenha uma função social. Quando você mora numa casa, essa moradia exerce uma função social. Mas grandes ruralistas, as vezes compram terras apenas de reserva financeira. Acontece que o benefício dessa pessoa muito rica é incompatível em um país que passa fome. A lei passou a contemplar mais ainda o direito de ocupação de terras improdutivas em 1988, dessa vez com os artigos 184 e 186, que garantem a desapropriação de terras que não cumpram sua função social.
E se você acha que invasão continua sendo crime, mesmo para que a terra fique ali parada sem fazer nada, mesmo assim você tem que aprender sobre como o grande latifúndio rural começou.
Chacina dos Canudos
Em 1850, mesmo ano da abolição do tráfico de escravos, o Império decretou a lei conhecida como Lei de Terras, que substituiu as sesmarias. Essa lei beneficiou os grandes latifundiários, que começaram com um termo que hoje nos é bem comum, que se chama “Grilagem”
Grilagem é quando um fazendeiro falsifica documentos e torna uma área que era pública para si. É o que acontece hoje nas margens do Amazonas, que está quase extinguindo a nossa floresta. E até hoje o Brasil é um dos países com maior concentração de terras do mundo. Essa concentração de terras torna toda a nação mais pobre e uns pouquíssimos bem mais ricos. Eliminar essa concentração de terras é o único caminho para o progresso e a justiça do Brasil no campo.
Quilombo dos Palmares
A direita brasileira não se dá muito bem com a história da nossa nação. Talvez por isso julgue que os professores de história são “todos comunistas”, quando na verdade eles apenas mostram as coisas como elas foram.
A luta por um pedaço de terra vem desde a colonização,quando os indígenas lutaram e resistiram contra a escravidão. Depois tivemos um Sepé Tiaraju, os Quilombos (e o mais famoso foi o de Palmares). Tudo isso é currículo e deve ser estudado nas escolas.
E enfim chegamos ao próximo ano de 1979, no Rio Grande do Sul. Até o ano de 1981, três fazendas foram ocupadas por gente completamente miserável, camponeses que vagavam sem um lugar para plantar e no seu entorno as grandes fazendas gaúchas sem uma alma viva, nem gado, nem arroz, nada.
Ocupação da encruzilhada Natalício, em Ronda Alta/RS
A fazenda foi cercada por tropas do exército, comandadas pelo coronel Curió e tudo indicava que ia rolar um massacre. Então teve esse boletim que levou a uma grande manifestação em Porto Alegre, com mais de 15.000 pessoas. E vieram autoridades do Brasil todo e nem a censura conseguiu segurar a onda de informações e denúncias
“Nós somos mais de 500 famílias de agricultores que vivíamos nessa área (Alto Uruguai) como pequenos arrendatários, posseiros da área indígena, peões, diaristas, meeiros, agregados, parceiros, etc. Desse jeito já não conseguíamos mais viver, pois trás muita insegurança e muitas vezes não se tem o que comer. Na cidade não queremos ir, porque não sabemos trabalhar lá. Nos criamos no trabalho na lavoura e é isto que sabemos fazer.”
Hoje em Dia o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina e maior produtor de produtos orgânicos do Brasil. Pagam impostos e tornam produtivas terras que estavam improdutivas, gerando lucro para o país.
Além disso, o MST beneficia cerca de 700 municípios no Brasil, através do aumento de circulação financeira.
160 mil crianças estudam no Ensino Fundamental nas 1800 escolas públicas dos acampamentos e assentamentos, totalizando cerca de 30 mil jovens e adultos. Destes, 750 militantes do Movimento estudam em cursos universitários. 58 cursam medicina;
Mais de 200 prêmios internacionais e nacionais foram dedicados ao Movimento;
O MST tem 100 cooperativas, 96 agroindústrias e 1,9 mil associações.
Existem crimes ocorridos dentro do MST? Existem, lógico, na mesma proporção em que ocorrem em todo o Brasil. O que é diferente é o modo como a imprensa trata esses crimes, divulgando com mais energia, porque a imprensa não recebe publicidade do MST como recebem dos latifundiários (O Agro é POP, né, #Globo?)
Você pode dizer que isso é uma propaganda ao movimento, mas não conseguirá refutar estes números.
Experimente uma alimentação mais saudável. Visite uma feira ecológica. Não fique divulgando mentiras. E combata as mentiras com informação.

Em quase todos os estados tem uma feira de produtos sem agrotóxicos. Procure a feira mais próxima.

Ponte que homenageava estudante desaparecido na ditadura militar volta a dar nome a marechal

Ponte que homenageava estudante desaparecido na ditadura militar volta a dar nome a marechal

A Ponte Honestino Guimarães, que liga o bairro nobre do Lago Sul ao Plano Piloto de Brasília, vai voltar a se chamar Ponte Costa e Silva. É o que consta de decisão unânime do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) tomada nesta terça-feira (6). Cabe recurso da decisão.
Como mostra a foto acima, algum vândalo sequer esperou as providências práticas da troca e já pichou o nome do marechal da ditadura, que presidiu o Brasil entre 1967 e 1969, sobre o ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Depois de preso por seis vezes no Rio de Janeiro, Honestino desapareceu justamente durante o regime de exceção, em outubro de 1972.
Foi na gestão de Costa e Silva que foi instaurado o Ato Institucional nº 5, instrumento que deu início à fase de maior repressão da ditadura militar.

Ponte é uma das três que ligam Lago Sul ao Plano Piloto, onde ficam o Congresso e o Palácio do PlanaltoPonte é uma das três que ligam Lago Sul ao Plano Piloto, onde ficam o Congresso e o Palácio do Planalto - Fone: Tony Winston / GDF

Na decisão do colegiado do TJDFT, a lei que permitiu a mudança de nome, de 2015, foi considerada inconstitucional. O tribunal foi provocado a se manifestar em ação civil pública apresentada pela deputada federal eleita Bia Kicis (PRP), ex-procuradora do Distrito Federal apoiadora do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Uma mulher identificada como Cláudia Castro consta da ação como coautora.
"Ganhaaaaaamooooosssss!!!!! O Governo comunista do DF mudou o nome da Ponte Costa e Silva para Honestino Guimarães sem consultar a população, como determina a lei. Hoje ganhamos a ação popular que movemos. Viva a Democracia!", festejou Bia em sua conta no Twitter.

Deputada eleita festejou a decisão do TJDFT por meio de sua conta no Twitter - Foto: Reprodução / Twitter


Além da necessidade de consulta pública, a ação também alega “vício de iniciativa” na mudança de nome da ponte, uma vez que apenas o governador do Distrito Federal poderia sugerir, por meio de projeto de lei, a alteração do nome da edificação. A lei que trocou o nome da ponte, inaugurada em 1976 com o nome de Costa e Silva, foi apresentada pelo então deputado distrital Ricardo Vale (PT).
A ação popular tramitou em duas varas do TJDFT antes de chegar ao Conselho Especial, cúpula do tribunal. Desde que a ponte foi rebatizada, há cerca de três anos, a placa que a nomeia foi diversas vezes pichada e depredada.
História
Projetada por Oscar Niemeyer, a ponte de 400 metros liga a Asa Sul e o Lago Sul. Começou a ser construída em 1967, ano em que Costa e Silva assumiu a presidência da República, mas só foi concluída em 1976. Este é considerado o último monumento em homenagem a um presidente militar em Brasília.
O projeto de lei que propiciou a troca de nome foi aprovado em julho de 2015 pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Desde 1999, a Casa já havia rejeitado três propostas com o objetivo de retirar o nome de Costa e Silva da ponte.

Você agora é um assinante