domingo, 2 de setembro de 2018

XICO SÁ: BARROSO FOI CANALHA COM CARA DE QUENGA

História O que a Liberdade significa para a memória dos negros em São Paulo?

História

O que a Liberdade significa para a memória dos negros em São Paulo?

por Giovanna Costanti — publicado 02/09/2018 00h30, última modificação 31/08/2018 11h52
Mudança do nome da estação de metrô para 'Japão-Liberdade' e situação da Capela dos Aflitos renovam a luta contra o apagamento da história do bairro
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Mudança do nome do metrô suscitou as discussões
A Liberdade, no centro de São Paulo, tem o status de maior reduto nipônico fora do Japão, o que recheia o imaginário em torno do bairro. Mas por trás da fama, está a sua origem negra. Suas ruas, onde hoje o turismo e o comércio crescem ano após ano, foram cenários da escravidão e de tortura de negros durante o período.
No dia 24 de julho, a Praça da Liberdade e a estação Liberdade do metrô receberam em seus nomes o acréscimo “Japão”, segundo decisão publicada no Diário Oficial de São Paulo após um decreto do governador Márcio França (PSB). No ano passado, um projeto de lei dos vereadores Ota (PSB) e Milton Leite (DEM) defendeu a alteração do nome. No dia 25, a estação amanheceu rebatizada de “Japão-Liberdade”. 
“Quando a gente recebeu a notícia, foi um baque gigantesco”, conta Tiago Braziel, membro da ONG Educafro, localizada a poucos quilômetros do bairro. “Me entristece muito que a administração pública ainda reproduza os mesmos hábitos de cem anos atrás. Ao trocar o nome, se faz duas coisas: primeiro, mata-se uma parte da história, depois gera-se um conflito e um desconforto desnecessário entre dois povos que ajudaram tanto para o crescimento do Brasil”, desabafa.
A situação relatada só chegou ao conhecimento de um grande número de pessoas por conta de uma publicação no Facebook, de autoria do advogado Renato Igarashi, um dia depois da mudança: “(...) Lá não vivem apenas nipo-brasileiros, havendo também um sem-número de chineses e coreanos, e seus descendentes. Mas o negócio vai mais além.”
“A memória do povo negro da Liberdade foi apagada. Praticamente hoje não há referências ao período de horrores. (...) É bem lamentável usar uma (desnecessária) homenagem a nikkeis para reforçar uma política histórica de anti negritude”, relata Igarashi.
"A história negra se faz presente em toda a cidade de São Paulo, mas é invisibilizada. Na Liberdade não é diferente", afirma o historiador Abílio Ferreira. Para ele, o apagamento da memória negra vem de uma tentativa ainda mais antiga, de apagar a herança da escravidão. O processo foi sendo reproduzido de maneiras diferentes nos séculos seguintes e desemboca na mudança do nome. 
“Essa formação da cidade tem a ver com o conflito entre quem tinha mais poder político e econômico e quem não tinha nada, os destituídos. Ainda hoje, é isso que a Liberdade representa”, afirma. “A memória é um espaço de disputa: a memória daqueles povos que têm mais influência política e econômica é sempre mais valorizada”.
Confira a reportagem em vídeo:
A Liberdade negra
Os imigrantes japoneses só chegaram ao bairro a partir de 1908, 20 anos depois do fim da escravidão dos negros no Brasil, que durou três séculos. A região tinha terras e aluguéis muito baratos e já era local de moradia de portugueses e italianos.
Assim como acontece na Liberdade, pouco se sabe que bairros paulistanos foram erguidos com a luta, o sangue e o suor do povo negro. Tiago cita como exemplos o Bixiga, onde essa memória ainda é relativamente conservada e divulgada, e até mesmo o nobre Higienópolis.
“Entendo a importância de cada povo que passou por esse País e vive nele. Mas, infelizmente, o povo negro foi excluído como parte de uma política de estado. Demos nossa vida para que fossem construídas riquezas das quais nós não tínhamos nenhum tipo de participação”, afirma o estudante.
Até a origem do nome do bairro remete ao povo negro. “Liberdade" surge por conta do enforcamento de Chaguinhas, ou Francisco José das Chagas, um militar negro que liderou uma revolta em Santos e foi punido com a pena de morte, em 20 de setembro de 1821, quase um século antes da chegada dos japoneses
"No dia do seu enforcamento a corda arrebentou três vezes e isso gerou no imaginário popular toda uma simbologia de que a dificuldade de enforcar o Chaguinhas tinha a ver com algum poder sobrenatural que ele porventura tivesse. Como o povo gritou e clamou por Liberdade, um clamor que não foi atendido pelo Estado, o bairro ganhou esse nome.”
O enforcamento de Chaguinhas aconteceu onde hoje é a Praça da Liberdade, outrora chamada Praça da Forca. Esse era o destino final de um roteiro trágico: o cortejo começava na região onde hoje é o Parque Dom Pedro e abrigava, no século XVIII, uma prisão de escravos condenados à forca.
“O cortejo de policiais trazendo os negros seguia a ladeira, em direção à Liberdade. Os negros condenados eram levados para a forca. Antes disso, havia um momento de súplica intensa para que ele fosse perdoado. Para contemplar essa dor, chamada aflição, criaram a Capela dos Aflitos”, conta o Frei David, da ONG Educafro. Ali, na mesma época, também surgiu o primeiro cemitério público da cidade, o Cemitério dos Enforcados, que funcionou até 1858.
O Frei também conta que outras Igrejas, que hoje são parte da rota turística do Centro, também foram construídas na mesma época, pelos negros em condição de escravos. “Eles cercavam o cortejo e conseguiam convencer os soldados para que fizessem uma oração para que o condenado tivesse uma boa morte. Esse ritual foi tão forte que os negros livres construíram na Rua Tabatinguera a Igreja da Boa Morte”, conta.
“Já na praça, onde eram enforcados os negros, só restava ao povo participar com muita energia, cantando a seus orixás, para que o espírito subisse à eternidade. Ali construíram a Capela das Almas”, acrescenta Abílio.
Segundo Tiago, na Liberdade morreram mais de cinco mil negros. "Para cada dez anos de Brasil, sete foram sob escravidão. Foram 370 anos. E quando houve abolição, foi uma abolição mal resolvida”, comenta Thiago.
O comércio chega ao Beco dos Aflitos
Não só a mudança nos nomes do metrô e da praça incomodam a comunidade negra da Liberdade. Com o passar dos anos, o comércio e o turismo em constante expansão também têm feito seu trabalho na dispersão da história negra do local. 
Parte importantíssima dessa história, a Capela dos Aflitos, é exemplo disso. Escondida em um beco, na travessa com a turística Rua dos Estudantes, encontra-se uma igrejinha que, à princípio, mal parece um patrimônio tombado pelo município. “Ela representa um contraponto nesse processo da mudança do nome porque é nela onde havia o cemitério dos escravos e dos pobres que eram enforcados, os criminosos que eram considerados fora da lei naquele momento”, explica Abílio. 
O turista aficionado pela cultura japonesa mal percebe esse pedaço de história que remonta à escravidão e aquele que procura pela Capela tem dificuldades de encontrá-la. O Beco dos Aflitos hoje foi tomado pelos estacionamentos e galpões de lojas. Na rua, os postes cheios de fios dividem espaço com a decoração típica japonesa. 
“Mesmo para a gente poder falar desse assunto aqui nós temos a interferência do tráfego de caminhões, que simboliza o mercado em funcionamento, a economia em funcionamento atropelando toda essa coisa do patrimônio material e imaterial ligado a essa questão”, afirma Abílio.
Entre um cântico cristão e outro, escuta-se também os barulhos das rés dos caminhões trazendo estoques e mais estoques de mercadorias a serem vendidas. O barulho dos motores abafam a reza do terço e uma obra aos fundos prejudica - já há alguns anos - a estrutura humilde da Capela.
“Ela é um patrimônio histórico que mesmo nos tempos atuais não recebeu a devida atenção. É tombada pelo Condephaat desde 1976. Hoje,há um orçamento para fazer o restauro dela, mas isso acabou não acontecendo. O que para nós representa a falta de ação e inércia do Estado”, explica Abílio.
Uma demolição irregular em uma construção vizinha fez crescer novas rachaduras nas paredes da igreja. Frente a isso, os fiéis fundaram a Unamca, uma associação que pretende pressionar a prefeitura e os departamentos de patrimônio histórico da cidade a restaurar a construção. Um projeto foi aprovado em 2011, mas desde então os fiéis não viram nada ser feito.
“O que estamos vendo, é um processo de desenvolvimento atropelando o patrimônio histórico. Como se autoriza, hoje, a construção de uma obra desse porte ao lado de uma igreja que sequer foi restaurada?”, afirma, com indignação.
Segundo o grupo Devotos da Capela, que luta pela preservação e restauração do prédio, a Subprefeitura Regional da Sé, responsável pelo bairro da Liberdade, paralisou a obra de um conjunto comercial que estava sendo construído atrás da Capela e que estava abalando a sua estrutura, datada de 1775. “Existe um diálogo com a empresa que está construindo esse prédio para estudar a continuidade da obra desde que se restaure a Capela dos Aflitos. Mas a negociação ainda está em andamento”, afirma o historiador.
A construção a qual Abílio se refere está registrada em um documento do Condephaat, emitido pelo governo do Estado em que um terceiro solicita a aprovação do imóvel na Avenida Liberdade, 332 a 368. Segundo o pedido, “os imóveis estão situados na envoltória de 300 metros da Capela”. O destino da construção é comercial, “hotel, centro de convenções e lojas”, afirma, “em cinco lotes adjacentes que totalizam 2.707,19m²”.
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Capela dos Aflitos está escondida em um beco, espremida entre os prédios comerciais
“A nova edificação terá área construída total de 40.514,20m² e terá 36 pavimentos acima do nível da Avenida Liberdade, além de 6 pavimentos enterrados para estacionamento”, continua o documento. “Os lotes estão inseridos no perímetro da Operação Urbana Centro, a qual permite, em sua área de abrangência, a utilização de potenciais construtivos muito superiores àqueles estabelecidos para o restante da cidade”.
O documento permite a construção, afirmando que “embora a edificação proposta apresente um gabarito elevado, acreditamos que sua construção não implicará em prejuízos às visuais da Capela dos Aflitos”.
“Essas são igrejas que seguraram a história do negro e não deixam que a prefeitura apague de vez a história do povo negro. Nós queremos exigir que haja a revisão dessa atitude injusta de alguns que querem usar comercialmente a região para os seus interesses particulares e capitalistas, passando por cima do povo negro”, afirma o Frei David, reforçando que a atitude é só de uma pequena parcela dos imigrantes e que a maioria está apenas tentando construir uma vida no bairro, multifacetado como tantos outros na capital.
Outro lado
Em nota divulgada pela prefeitura de São Paulo, a  Prefeitura Regional Sé e a Associação Cultural Assistencial da Liberdade (ACAL) firmaram um termo de cooperação para conservação, manutenção dos canteiros e novo paisagismo da Praça Liberdade.
“Os cooperantes se comprometeram a atuar no local por três anos e já realizaram o jateamento do piso e a recomposição dos pisos quebrados. Como se trata de área envoltória de bem tombado, a intervenção na praça foi analisada pelo DPH. Além disso, o Largo da Pólvora também possui um termo de cooperação, firmado entre a Regional Sé, Fecap, JCI e Greenline”.
Sobre a Capela dos Aflitos, a secretaria de comunicação da cidade afirmou que “o Departamento do Patrimônio Histórico esclarece que as avarias na Capela dos Aflitos ocorreram por causa de um acidente em uma obra irregular em terreno vizinho. A obra já foi embargada pela Prefeitura Regional Sé. Os responsáveis pelo serviço também receberam uma multa no valor de 1,461 mil reais após demolição sem alvará emitido pela Prefeitura de São Paulo, conforme determina o Código de Obras do Município (Lei nº 16.642/17). A manutenção do imóvel, que é particular, é de responsabilidade do proprietário, porém por se tratar de um patrimônio tombado, a Secretaria Municipal de Cultura supervisionará o reparo”.
De acordo com o Frei David, preocupa que, nas intervenções feitas na Praça, a população negra organizada no Centro não tenha sido consultada. “É possível recuperar a história do povo negro, deixá-la registrada, e ao mesmo tempo fazer um ligação harmoniosa com a história dos japoneses. Assim como os japoneses investiram para poder colocar ali o nome Japão, queremos que façam investimento para recuperar ali a história do povo negro”, afirma. “Queremos que a prefeitura volte atrás e busque uma alternativa reconciliadora”.

TRAGÉDIA Com orçamento reduzido há três anos, Museu Nacional é atingido por incêndio

TRAGÉDIA

Com orçamento reduzido há três anos, Museu Nacional é atingido por incêndio

Com mais de 20 milhões de itens no acervo, Museu foi completamente tomado pelas chamas; não há vítimas

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Fogo se espalhou do térreo ao telhado / EBC
Um incêndio atingiu o Museu Nacional, em São Cristovão, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ) nesta noite de domingo (02). As chamas, que envolveram todo o prédio do museu, ainda estão sendo controladas pelos bombeiros até o fechamento dessa reportagem. A instituição, fundada por D. João VI, completou duzentos anos em 2018 e tinha em seu acervo mais de 20 milhões de ítens.
Ainda não se sabe a causa do fogo, mas a assessoria de imprensa informou que não há vítimas. O incêndio, que tomou o Museu por inteiro, começou às 19h30, após o encerramento do horário de visitas. Os quatro vigilantes que estavam dentro do prédio conseguiram sair em segurança.
Pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu funciona com orçamento reduzido há três anos. No seu acervo, encontra-se o fóssil de “Luzia”, o ser humano mais antigo já encontrado no país. Além de servir como espaço de pesquisa, o Museu guarda uma quantidade inestimável de memória nacional, com coleções de biologia, botânica, arqueologia, geologia, paleontologia, zoologia, etnologia e antropologia.
Edição: Nina Fideles

Defesa de Lula diz que decisão do TSE viola Lei das Eleições e promete ir "até o fim"


Defesa de Lula diz que decisão do TSE viola Lei das Eleições e promete ir "até o fim"

Neisser afirma que candidato poderia concorrer mesmo sob judice e promete ir ao STF contra a decisão

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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"Substituímos a farda pela toga. Só nos resta recorrer ao povo", avalia pesquisador. / Lula/Reprodução (via Facebook)
Após o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desta sexta-feira (31), que invalidou o registro da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, a defesa do candidato petista afirma que seguirá lutando por todos os meios para que ele possa concorrer às eleições conforme prevê a lei eleitoral que, segundo Fernando Neisser, da equipe jurídica do ex-presidente, foi violada pela decisão.
Em debate ao vivo transmitido pela internet, Neisser explicou que o julgamento aconteceu de forma apressada, ignorando os tempos do direito e que reflete um sistema de registro e campanha que favorece os partidos fisiológicos e as ilegalidades.
“Há uma regra no artigo 16 da Lei das Eleições (Lei nº 9504 de 1997) que diz que qualquer candidato que esteja respondendo à uma impugnação, mesmo já tendo sofrido julgamento da impugnação, enquanto ele estiver recorrendo, sob judice, pouca importa em qual instância, ele tem direito de fazer atos de campanha eleitoral e de ter seu nome inserido na urna”, explica Neisser, que afirma que esse dispositivo previne o fato de que “não há como voltar no tempo caso o candidato seja inocentado após as eleições”.
Segundo ele, o candidato concorre por conta e risco e caso não consiga reverter a inegibilidade após as eleições, a Justiça Federal pode anular os votos. “A reversão da inegibilidade é muito alta no Brasil. Nas últimas eleições, foram mais de 1500 casos. De 145 prefeitos que estavam inelegíveis, 75% foram absolvidos e puderam com uma liminar ser diplomados. Isso significa que o voto de milhões de brasileiros foi respeitado. Agora a gente corre o risco de ver dezenas de milhões de votos sendo jogados no lixo”, protesta.
Com a publicação da decisão do TSE neste sábado (1), os advogados irão entrar em até três dias com a defesa do ex-presidente. “Essa caminhada não acabou, [nós] vamos lutar pelo direito dele estar na urna, participar da eleição e tomar posse no dia 1º de janeiro de 2019, vamos levar a questão do TSE para o STF e vamos levar junto com essa argumentação essa força que tem por trás do presidente Lula, para tentar sensibilizar o Supremo, para que abra os olhos e respeite os direitos humanos e confira a possibilidade de mais da metade da população brasileira ter sua escolha respeitada”.
Estado de Exceção
A defesa de Lula afirmou estar “triste” com o resultado e com o fato de que os juízes ignoraram a decisão da Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, que defendia os direitos políticos de Lula. “Mostramos no julgamento que os países com maior índice democrático, são os que mais respeitam decisões desse comitê, ignorado por ditaduras e por países de democracia incipiente”, aponta Neisser.
Fernando Hideo, pesquisador de direito penal, acredita que quem ignora a decisão da ONU precisa entender melhor qual sua função. Segundo ele, o organismo ganhou força após a Segunda Guerra Mundial, devido ao fato de que “as barbaridades da Alemanha nazista foram feitas conforme o direito do país. Com isso, o mundo chega ao consenso de que o direito interno pode muito, mas não pode tudo” e que decisões como essa abrem “precedentes preocupantes”.
Hideo ressaltou que o julgamento acontece no aniversário de dois anos do afastamento de Dilma Rousseff pelo Senado e que faz parte de um processo mais amplo do que qualifica de um “Estado de exceção”, ou seja, “suspender as leis para perseguir o inimigo e depois voltar à normalidade”.
Em sua visão, o processo de Lula é repleto de ilegalidades desde o primeiro dia, e não respeita o tempo da justiça e sim o calendário eleitoral. “Quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o STF forem avaliar o recurso especial extraordinário, eles vão ter que avaliar essas ilegalidades, isso vai ser central. Ele foi condenado sem crime no caso do Triplex, por lavagem de dinheiro sem nenhuma operação em seu nome”, analisa.
O pesquisador lamenta que o país “tenha substituído a farda pela toga” e acredita que diante desse quadro, a única alternativa ao autoritarismo judicial é a resistência do povo.
“Se o sistema de justiça, que deveria ser o guardião da Constituição, é aquele que viola, a quem vamos recorrer? Fomos até a ONU e eles ignoraram. Só nos resta o povo contra a universalização do arbítrio. Nossa justiça sempre foi escravocrata, nunca abandonamos a forma escravocrata social e agora ela se volta contra o representante daqueles excluídos, porque os interesses neoliberais não vão ser implementados pela urna”, afirma Hideo.
Edição: Nina Fideles

ELEIÇÕES 2018 Haddad: 'O povo brasileiro tem profunda compreensão do que está acontecendo'


ELEIÇÕES 2018

Haddad: 'O povo brasileiro tem profunda compreensão do que está acontecendo'

Em Alagoas, Fernando Haddad defende candidatura de Lula até o final. "O povo sabe que a situação é dramática, mas que tem solução", diz, sobre o tempo curto para uma eventual transferência de votos
por Redação RBA publicado 02/09/2018 13h38, última modificação 02/09/2018 13h51
REPRODUÇÃO
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Haddad tem visitado estados do Nordeste. Depois de visitar Pernambuco, esteve hoje em Alagoas
São Paulo – Em visita a estados do Nordeste, o representante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad, voltou a defender a candidatura de Lula à Presidência da República até se esgotarem todos os recursos na Justiça.
Hoje (2), em visita a Maragogi, em Alagoas, Haddad foi questionado sobre a eventual necessidade de ter de assumir a candidatura a presidente e o pouco tempo para trabalhar na campanha a transferência dos votos de Lula. Mas demonstrou tranquilidade.
"Eu acredito que a população brasileira está acompanhando os nossos movimentos, e do presidente Lula, com muita atenção, com toda sabedoria. Eu não posso antecipar o que vai acontecer no dia 7 de outubro. Mas sei que, se Lula for registrado, ele ganha no primeiro turno. Ninguém me tira isso da cabeça", disse.
Segundo Haddad, a candidatura petista está defendendo sobretudo o voto do povo, "o seu direito de escolher o seu condutor, o seu presidente da República".
"Não é por outra razão que desde 7 de abril, quando foi preso de maneira inconstitucional, Lula só cresce nas pesquisas. Isso tem a ver com a liderança que ele exerce e também com o nosso posicionamento diante dele. Não só os petistas, como também de outros partidos e aliados de décadas. São pessoas que saíram em sua defesa, que continuam do seu lado. Isso tudo deu uma força ao projeto dele. Eu penso que o povo brasileiro tem uma compreensão profunda do que está acontecendo. E no nosso ponto de vista, as pessoas ganharam consciência de que é dramática a situação do país. E que há solução: a democracia. Não há outra".
Para ele, há que se ouvir o que as pessoas querem para o país. "Eu penso que as dificuldades foram enormes, mas o nosso amor à causa as superou até aqui. Eu espero que se conclua o processo da mesma maneira, sempre com a coragem necessária para tomar o posicionamento correto, mesmo que fosse o mais difícil". 
REPRODUÇÃOHaddad no sertão
Visita de Haddad a Pernambuco começou pela cidade natal de Lula, Garanhuns

Boato

Haddad classificou como "boato" informação de que nesta segunda-feira Lula repassaria a ele, de maneira oficial, a candidatura. "Lula não recebe visitas em fins de semana porque não há expediente. Na quinta, quando nos reunimos para discutir estratégias políticas e jurídicas, ainda não havia a decisão do TSE", disse.
"Na próxima visita nós vamos levar para ele o atual cenário, já que o registro não havia sido discutido na quinta passada. Se há alguma novidade, só saberemos amanhã". Haddad foi recebido pelo senador Renan Calheiros (MDB) e seu filho, Renan Filho (MDB).

Garanhuns

Neste sábado o vice de Lula esteve em Pernambuco, onde visitou Garunhuns, cidade natal do ex-presidente, e Caetés. Nos encontros com a população, ele falou sobre investimentos dos governos petistas no Nordeste, especialmente em educação.
Haddad ressaltou que Lula tem insistido que trabalho e educação serão os temas que vão marcar o governo. Um pilar, conforme reforçou, que  vem sofrendo grandes retrocessos desde o golpe de 2016, que tirou do poder a presidenta eleita Dilma Rousseff. “Mas dia 7 de outubro vamos dar uma resposta ao governo Temer. E a resposta é votar 13”, conclamou.

https://www.facebook.com/fernandoh

Santayana: Decisão do TSE foi apenas mais um passo no “longo processo de combate político” a Lula

Santayana: Decisão do TSE foi apenas mais um passo no “longo processo de combate político” a Lula

02 de setembro de 2018 às 21h26
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Justiça, lawfare, fascismo e inelegibilidade
Não há nada mais falso, depois de um assassino que mata crianças dizendo que estava cumprindo ordens, que um juiz que, com a desculpa de se ater ao estrito cumprimento da lei, finge que as consequências de seus atos e decisões não irão ultrapassar os umbrais da sala de tribunal de que toma parte.
A justiça brasileira quis dar ao mundo, no último dia de agosto, a impressão de que o que estava em jogo no TSE era o julgamento isolado da elegibilidade ou não do ex-presidente Lula.
Quando tratou-se apenas de mais um passo, talvez o definitivo, de um longo processo de combate político ao ex-presidente da República e ao seu partido que começou bem antes, quando se permitiu que fosse montada contra o PT a farsa do mensalão — urdida por pilantras que agora estão sendo investigados por outros crimes — com a inauguração da criminalização da política pela justiça brasileira e o recurso a uma retorcida, dopada e mal importada teoria do Domínio do Fato.
Logo, a justiça brasileira não pecou ontem.
Continuou a fazê-lo quando, ciega pero no mucho, aceitou, sem impedimentos, que se montasse contra Lula um processo espúrio, extremamente frágil e polêmico em provas e cheio de ilações forçadas.
Baseado em casuísmos variados e delações de conveniência, com inegáveis motivações e drásticas consequências políticas.
Que desaguou em uma condenação de segundo grau igualmente espúria, caracterizada por inéditas pressa e parcialidade, que está sendo denunciada e repudiada em todo o mundo.
Nunca é demais lembrar que, escritura por escritura — e a do triplex do Guarujá não existe nem nunca existiu com relação a Lula — há outros candidatos que foram extremamente mais bem sucedidos que o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva em seus negócios imobiliários nos últimos anos.
E ainda outros que, apesar de afirmar que irão pagar do próprio bolso sua campanha, irão fazê-lo com milhões de reais recebidos, também nos últimos anos, por serviços de consultoria prestados a empresas estrangeiras e aos seus interesses.
Tivesse o Judiciário controlado a tempo e coibido exemplar e firmemente os arroubos onipotentes e egocêntricos da Operação Lavajato e seus inúmeros atentados contra o Estado de Direito, entre eles o da ampla divulgação do conteúdo do grampo telefônico de um Presidente da República, resistindo à chantagem de uma pseudo opinião pública fascista e à pressão de uma parcela da mídia, militante e partidária, a nação não teria chegado ao julgamento de ontem, em que a justiça brasileira teve de ser confrontada com o sistema internacional de defesa dos direitos humanos.
É incrível, tragicamente irônico, cristalinamente hipócrita, que um sistema de justiça totalmente incapaz de controlar e coibir a violência policial e o abuso de autoridade — lembre-se a proporção de 36 mortos pela polícia para cada policial morto no Rio de Janeiro, o aumento de quase 40% no número de mortes pela polícia, o maior dos últimos 15 anos, e de 128% no número de chacinas no último ano — aja da forma mais empostada, prepotente, intransigente, arrogante e impiedosamente implacável contra um homem já preso e controlado fisicamente, com sua sentença ainda não transitada em julgado, impedindo-o de exercer seus direitos políticos, quando ele não foi condenado a isso e sim à pena de perda de liberdade, em um país no qual, como bem demonstrou a defesa de Lula, o mesmo Tribunal agiu de forma diferente com relação a 1500 candidatos a prefeito envolvidos com a lei da ficha limpa.
Ao impedir Lula de ser candidato, a justiça brasileira precisa ter plena consciência de que será responsabilizada pela História por assumir o risco, diríamos, quase a certeza, de levar ao poder, com a sua decisão, nesta República, o policialismo, o armamento seletivo da direita e a apologia da violência repressiva do estado.
Que levarão à criação e implementação de leis eximindo a polícia que já é a que mais mata no mundo de qualquer punição ou controle, já que quem pode mais — matar sem ser punido — também poderá menos, torturando, extorquindo, abusando de todas as formas de quem quiser — em uma sociedade em que membros das forças policiais e de eventualmente outras áreas de segurança se transformarão em cidadãos de uma casta superior e especial, com poder de vida ou morte sobre a população que paga com seus impostos seus salários, suas armas e suas balas, sem nenhum tipo de controle social ou institucional, efetivando como lei o que já ocorre de fato, vide a intenção do Comando da Intervenção no Rio de Janeiro de isentar de responsabilidade os policiais envolvidos em mortes durante as operações e a ausência de qualquer punição prática por massacres cometidos pela polícia brasileira, que impactaram historicamente o mundo inteiro, como o do Carandiru e o de Eldorado do Carajás, por exemplo.
Todo sistema autoritário procura isentar seus soldados da morte de indesejáveis ou adversários.
Muitos soldados alemães que mataram mulheres e crianças no leste da Europa exibiam o adágio Gott Mit Uns — Deus Conosco em suas fivelas.
Será que Deus estava mesmo com eles nessas ocasiões?
E que não tentem nos convencer que um Estado que irá legalizar esse tipo de coisa será um exemplo de Democracia para o mundo.
Uma “democracia” ora em estado de preservação e valorização graças à impoluta e patriótica contribuição da justiça nacional.
Porque ele será, neste país escravocrata, que deu a luz ao tronco, à palmatória, ao pau de arara, o sabiá, à jabuticaba e à chibata, e às masmorras medievais repletas de sujeitos que sequer foram julgados, na verdade e na prática — talvez até mesmo devido à ausência de absurdo semelhante em qualquer nação civilizada — o estado de exceção permanente mais violento e arbitrário do planeta.
Em caso de indagações e dúvidas dos leitores sobre o que espera a nação, respostas eventuais com o guarda da esquina ou com o soldado da blitz na hora do rush ou da onça beber água, a partir de meados do próximo ano.

Fonte: Viomundo