quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Papa Francisco


 Frei Betto



O papa Francisco acaba de divulgar o documento “Alegria do Evangelho”, no qual deixa claro a que veio. Sua voz profética incomodou a CNN, poderosa rede de comunicação dos EUA, que lhe concedeu a “Medalha de Papelão”, destinada àqueles que, em matéria de economia, falam bobagens...

 Quais as “bobagens” proferidas pelo papa Francisco? Julgue o leitor: “Hoje devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social.

 “Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência dessa situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída.

 “O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e, depois, lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável» que, aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são explorados, mas resíduos, sobras.”

 Em seguida, Francisco condena a lógica de que o livre mercado consegue, por si mesmo, promover inclusão social: “Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar”.

“Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe.”

 “A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.”

 O papa enfatiza que os interesses do capital não podem estar acima dos direitos humanos: “Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano.”

 “Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Êxodo 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, põe a descoberto os seus próprios desequilíbrios e, sobretudo, a grave carência de uma orientação antropológica que reduz o ser humano a apenas uma das suas necessidades: o consumo.”

 Sem citar o capitalismo, Francisco defende o papel do Estado como provedor social e condena a autonomia absoluta do livre mercado: “Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum.”

 “Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a deteriorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.”

 Enfim, um profeta que põe o dedo na ferida, pois ninguém ignora que o capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade: as 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem abaixo da linha da pobreza.


 Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.


http://beneviani.blogspot.com.br/

Por que no meio da dor os negros dançam, cantam e riem?


Por que no meio da dor os negros dançam, cantam e riem?

11/12/2013 14:18
Por Leonardo Boff - do Rio de Janeiro

Milhares de pessoa em toda a África do Sul misturam choro com dança
Milhares de pessoa em toda a África do Sul misturam choro com dança
Milhares de pessoa em toda a África do Sul misturam choro com dança, festa com lamentos pela morte de Nelson Mandela. É a forma como realizam culturalmente o rito de passagem da vida deste lado para a vida do outro lado, onde estão os anciãos, os sábios e os guardiães do povo, de seus ritos e das normas éticas. Lá está agora Mandela de forma invisível mas plenamente presente acompanhando o povo que ele tant ajudou  a se libertar.
Momentos como estes nos fazem recordar de nossa mais alta ancestralidade humana. Todos temos nossas raízes na Africa, embora a grande maioria o desconheça ou não lhe dê importância. Mas é decisivo que nos reapropriemos de nossas origens, pois elas, de um modo ou de outro, na forma de informação, estão inscritas no nosso código genético e espiritual.
Refiro-me aqui tópicos de um texto que há tempos escrevi sob o título:”somos todos africanos” atualizado face à situação atual mudada. De saída importa denunciar a tragédia africana: é o continente mais esquecido e vandalizado das políticas mundiais. Somente suas terras contam. São compradas pelos grandes conglomerados mundiais e pela China para organizar imensas plantações de grãos que devem garantir a alimentação, não da Africa, mas de seus países ou negociadas no mercado especulativo. As famosas “land grabbing” possuem, juntas, a extensão de uma França inteira. Hoje a Africa é uma espécie de espelho retrovisor de como nós humanos pudemos no passado e podemos hoje ainda  ser desumanos e terríveis. A atual neocolonização é mais perversa que a dos séculos passados.
Sem olvidar esta tragédia, concentremo-nos na herança africana que se esconde em nós. Hoje é consenso entre os paleontólogos e antropólogos que a aventura da hominização se iniciou na África, cerca de sete milhões de anos atrás. Ela se acelerou passando pelo homo habilis, erectus, neanderthalense até chegar ao homo sapiens cerca de noventa mil anos atrás. Depois de ficar 4,4 milhões de anos em solo africano este se propagou para a Asia, há sessenta mil anos; para a Europa, há quarenta mil anos; e para as Américas há trinta mil anos. Quer dizer, grande parte da vida humana foi vivida na África, hoje esquecida e desprezada.
A África além de ser o lugar geográfico de nossas origens, comparece como  o arquétipo primal: o conjunto das marcas, impressas na alma de todo ser humano. Foi na África que este elaborou suas primeiras sensações, onde se articularam as crescentes conexões neurais (cerebralização), brilharam os primeiros pensamentos, irrompeu a criatividade e emergiu a complexidade social que permitiu o surgimento da linguagem e da cultura. O espírito da África, está presente em todos nós.
Identifico três eixos principais do espírito da África que  podem nos inspirar na superação da crise sistêmica que nos assola.
O primeiro é o amor à Mãe Terra, a Mama Africa. Espalhando-se pelos vastos espaços africanos, nossos ancestrais entraram em profunda comunhão com a Terra, sentindo a interconexão que todas as coisas guardam entre si, as águas, as montanhas, os animais, as florestas e as energias cósmicas. Sentiam-se parte desse todo. Precisamos nos reapropriar deste espírito da Terra para salvar Gaia, nossa Mãe e única Casa Comum.
O segundo eixo é a matriz relacional (relational matrix no dizer dos antropólogos). Os africanos usam a palavra ubuntu que singifica:”eu sou o que sou porque pertenço à comunidade” ou “eu sou o que sou através de você e você é você através de mim”. Todos precisamos uns dos outros; somos interdependentes. O que a física quântica e a nova cosmologia dizem acerca de interconexão de todos com todos é uma evidência para o espírito africano.
À essa comunidade pertencem os mortos como Mandela. Eles não vão ao céu, pois o céu não é um lugar geográfico, mas um modo de ser deste nosso mundo.  Os mortos continuam no meio do povo como conselheiros e guardiães das tradições sagradas.
O terceiro eixo são os rituais e celebrações. Ficamos admirados que se dedique um dia inteiro de orações por Mandela com missas e ritos. Eles sentem Deus na pele, nós ocidentais na cabeça. Por isso dançam e mexem todo o corpo enquanto nós ficamos frios e duros como um cabo de vassoura.
Experiências importantes da vida pessoal, social e sazonal são celebrados com ritos, danças, músicas e apresentações de máscaras. Estas representam as energias que podem ser benéficas ou maléficas. É nos rituais que ambas se equilibram e se festeja a primazia do sentido sobre o absurdo.
Notoriamente é pelas festas e ritos que a sociedade refaz suas relações e reforça a coesão social. Ademais nem tudo é trabalho e luta. Há a celebração da vida, o resgate das memórias coletivas e a recordação das vitórias sobre ameaças vividas.
Apraz-me trazer o testemunho pessoal de um dos nosos mais brilhantes jornalistas, Washington Novaes:”Há alguns anos, na África do Sul, impressionei-me ao ver que bastava se reunirem três ou quatro negros para começarem a cantar ea  dançar, com um largo sorriso. Um dia, perguntei a um jovem motorista de taxi:”Seu povo sofreu e ainda sofre muito. Mas basta se juntarem umas poucas pessoas e vocês estão dançando, cantando, rindo. De onde vem tanta força?” E ele: “Com o sofrimento, nós aprendemos que a nossa alegria não pode depender de nada fora de nós. Ela tem de ser só nossa, estar dentro de nós.”
Nossa população afrodescendente nos dá a mesma amostra de alegria que nenhum capitalismo e consumismo pode ofecer.
Leonardo Boff é teólogo e escritor. 

Fonte: Correio do Brasil

O que a Veja, o Globo, a Folha e o Estadâo e todas s rádios e TVs esconderam



O QUE a VEJA o GLOBO, a FOLHA e o ESTADÃO e TODAS AS RÁDIOS E TVs ESCONDERAM

Mandela Fidel
[Por Beto Almeida/ Telesur] Mesmo na morte de um gigante da humanidade como o revolucionário Nelson Mandela, o imperialismo não deixa de exibir sua baixeza ao buscar manipular a imagem deste líder para mostrá-lo como um conciliador abstrato. A revista Veja , que tem como acionistas empresários sul-africanos  apoiadores do apartheid, o apresenta como “o guerreiro da paz”, a quem prenderam e torturaram. Seria o segundo sequestro de Mandela,depois de 27 anos de prisão: o da sua imagem, para que não se saiba tratar-se de um dirigente comunista, revolucionário,  que apoiou a luta armada contra o regime racista da África do Sul e a revolução no mundo.
É obrigatório lembrar a posição de Mandela sobre Cuba, sempre sonegada pela mídia do capital, para mostrar seu pensamento por inteiro. Logo após Angola ter conquistado sua independência, em 1975,  foi alvo de agressão militar da África do Sul, que ocupou grande parte de seu território, com o apoio dos EUA e Inglaterra, que hoje fazem declarações hipócritas sobre Mandela. O presidente de Angola, Agostinho Neto, solicitou diretamente a Fidel Castro o apoio militar de Cuba. Imediatamente, se organizou uma das maiores operações de ajuda militar internacionalista, com 400 mil cubanos,  homens e mulheres, tendo lutado em solo angolano, ao longo de  um década, derrotando a agressão  imperialista e libertando Angola e Namíbia. A Batalha decisiva foi a de Cuito Cuanavale quando,  derrotadas, as tropas do regime racista bateram  em retirada.  Mandela a declara: “a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Nós devemos a destruição do Apartheid a Cuba!”
Hoje, Cuba, que foi o único país a se levantar em armas em defesa de Angola e Namíbia e contra o Apartheid, continua a compartilhar internacionalmente, médicos, professores, vacinas e exemplos. Com o reconhecimento e solidariedade doo revolucionário Nelson Mandela, que, neste episódio, mostrou sua integridade e grandeza!

Dois exemplos, um alerta

Dois exemplos, um alerta
J. Tarcízio Fernandes*

Nos bate-papos da faculdade - no início do curso, ele já usava a tribuna do júri na defesa de correligionários no fórum de Piancó - dizia Babá Teotônio, em tom solene para a todos impressionar: “Colegas, primeiro, precisamos elucubrar para extrair corolários mais consequentes, que sejam nossa bússola no oceano do emaranhado dos fatos”.
Esta semana, lembrei-me desse querido companheiro de turma (que já se foi), porque me vi compelido a fazer o que ele recomendava. Os acontecimentos no Brasil e fora dele me induziram à meditação para tentar compreender o que se passa no Brasil de uns meses para cá.
Apontaram os corolários de minhas elucubrações para uma campanha, mal dirigida, à implantação do clima de instabilidade do país para desacreditar as instituições democráticas. O que pretende ela? Infundir no povo a descrença. Descrença nos partidos políticos, não só no PT, embora por ele tenha começado; descrença nos políticos; descrença no Poder Executivo; descrença no Poder Legislativo; descrença no Poder Judiciário, buscando inocular nas veias do povo esse alucinógeno do espírito em quase tudo, menos naqueles que sonham com os resultados dessa ruinosa campanha de fins antipatrióticos.
 Enquanto acreditarem na possibilidade de vencer eleições, os cegos opositores aceitam o jogo democrático da disputa pelo poder. Mas, quando concluírem que os votos lhes estão fugindo das mãos, aí, não há outro jeito: o golpe é o caminho. Motivos, se não há, serão criados.
Existem já evidências de que os velhos tubos de ensaio dos laboratórios de Washington descobriram novo modelo de golpe de Estado. Não mais aviões de guerra, metralhadoras e tanques nas ruas, desembarque de “marines”. Não mais  derramamento de sangue numa guerra civil induzida. Isso só em casos extremos como lá para as bandas do Oriente Médio. Na América Latina, o modelo está em plena execução. Prático, menos oneroso, politicamente menos desgastante.
Desenganados da vitória pelo voto, eles cooptam o Parlamento (duas sagazes raposas da bolorenta política partidária já presidem Câmara e Senado); cooptam ministros; cooptam a mídia – e cooptada já vive - para fazer a cabeça do povo. E pronto. O que mais falta? Apenas gerar um fato novo que viabilize o ato de força ou do “impeachment”. Mancomunam-se com os quartéis para a empreitada, onde por justiça reconhecemos haver militares dignos e de consciência política sadia como defensores da democracia e contrários a toda ingerência externa.
Honduras foi a primeira experiência de golpe institucional-congressual, a nova e apetitosa guloseima antidemocrática. Cumprindo mandado de prisão emitido pelo Judiciário, o Exército prendeu o presidente Manuel Zelaya e o deportou. A ONU condenou esse golpe. Depois, foi a vez do Paraguai. O presidente Fernando Lugo foi destituído por ato do Senado em processo de impeachment, sem direito de defesa, em pouco mais de 24 horas de duração. O lado sadio da comunidade internacional também o condenou.
Desnudam-se anseios de golpe por alguns grupos conhecidos rondando a nação. As pesquisas apontam para a reeleição de Dilma no primeiro turno. Nisso, habita o perigo. Na antevisão de perderem no voto, poderão perder a cabeça outra vez. O modelo de golpe já posto em prática lá fora pode parecer sedutor cá dentro. Mas resta-nos ainda a crença numa lição bem aprendida; e confiarmos em que as oposições brasileiras não se deixem seduzir e, seduzindo-se, possam acordar a tempo de se convencer de que somente a poucos isso compensa. Não ao povo, ao país e à democracia, como em 64.

* Advogado


Publicado em CONTRAPONTO, 06/12/2013

Até quando ficarei indiferente?


Até quando ficarei indiferente ?

7/12/2013 19:02

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As metrópolis contemporâneas, mesmo que passe o tempo, insistem em guardar similitudes com as polis gregas que as precederam .
É o caso das praças centrais, coração político das metrópolis, que buscam pontos em comum com as Ágoras do mundo pré socrático ( se é que isto seja possível ) , sendo o lugar de aglutinação das vozes do povo que reivindica.
Seguindo por este raciocínio , diria que a Cinelândia, no coração da cidade do Rio de Janeiro, é a nossa Ågora.
Impossível será conhecer a política deste cidade sem pelo menos uma vez na vida ter passado pela experiência de ouvir os clamores do povo naquela praça .
Na minha jornada política de ativista social (intensamente vivida nesta cidade ) em muitos momentos tive este privilégio : uns de vitória popular, outros de choros e ranger de dentes, advindos da ação da repressão que se abateu sobre os cariocas.
Nada, então, como retomar à Ágora , passando um dia com os professores em greve, em assembleia na Cinelândia, para se ter a dimensão exata da realidade.E foi o que fiz .
Seguindo a característica comum a outras cidades, ali é possível também se ver de uma forma bastante clara o grau de fragmentação a que está submetida a nossa sociedade nos tempos atuais : num curto espaço de tempo poderemos assistir ao desenrolar de acontecimentos sobrepostos,sem arranharem sequer um pouquinho a sua essência,mesmo sendo estes eventos de natureza completamente opostas.
É claro que isto de dá num quadro de profunda fragmentação da vida social, pois na atualidade o cidadão tem cada vez menos entendimento do mundo que o cerca.Isto é: sucumbe ao fato de que a realidade aparece para ele de forma cada vez mais fraguementada, em esferas cada vez mais separadas, um mundo que não é possível ser visto na sua dimensão total.
Separado em segmentos estanques, segue o indivíduo cada vez mais isolado no espaço onde foi confinado, totalmente dominado por um sistema que não compreende.
Resulta daí, portanto, que cada indivíduo consegue apenas ver uma parte : um universo onde a totalidade não se faz mais presente – um mundo fragmentado.
Por exemplo: uma apresentação de gala do grupo de danças Momix pode desenrola-se no Teatro Municipal, ao mesmo tempo que, na rua ao lado, bombas são jogadas pela polícia contra os performáticos Black Bloc, invadindo com seu som o amplo salão daquele magnífico teatro, sem qualquer prejuízo para o espetáculo. É como se nada estivesse acontecendo. Não estou nem aí ! Talvez, um olhadinha pela sacada!
No mesmo instante , um festival de cinema pode ocorrer no cinema Odeon enquanto a policia entra em embate contra os professores que se manifestam, ocorrendo ambos os eventos no mesmo espaço de tempo.
Certamente, uma realidade completamente esquizofrênica, que só pode ser alterada com ação de um dos elementos no espaço do outro, modicando-se o seu isolamento , quando por exemplo um manifestante ao correr da polícia abriga-se onde ocorre o festival ,criando um momento constrangedor. Ou mesmo, com a invasão da portaria do Teatro por seres ofegantes, em fuga, poluindo com suas presenças o ambiente asséptico da noite teatral (uma cena digna de Victor Hugo).
Entendo que o ocaso do sujeito, totalmente submetido ao Sistema, que o transformou num ser alienado, mero espectador do seu tempo, só pode ser resgatado para a sua plenitude humana através da ação social, no mundo real. E isto se faz quando ele toma atitudes, escolhe um lado.
Enganam-se aqueles que acham que o processo de desmonte da sociedade da mercadoria será um evento para ser visto da janela.
Mais dia, menos dias , todos, de uma forma ou de outra, serão envolvidos, e terão que escolher…
Serra da Mantiqueira, 5 de dezembro de 2013
Arlindenor Pedro


Fonte: Correio do Brasil

Mandela contra a escravidão


Mandela contra a escravidão

6/12/2013 14:27
Por Emir Sader - de São Paulo

Nelson Mandela
Nelson Mandela
A figura de Mandela permanece como a do maior líder popular africano, porque tocou no tema essencial de todo o período histórico da colonização: a escravidão.
A escravidão foi o maior crime de lesa humanidade cometido ao longo de toda a história humana. Tirar milhões de africanos dos seus países, do seu mundo, da sua família, para trazê-los para a América, para trabalhar como escravos, como  “raça inferior”, produzindo riquezas para os brancos europeus foi um crime incomensurável,  do qual nunca se compensou, sequer minimamente, a África.
O “apartheid” foi uma sobrevivência da escravidão na África do Sul. Como relata o Museu do Apartheid, em Joanesburgo, impressionante testemunho do mundo do racismo, os brancos consideravam essa politica uma “genial arquietetura” para conseguir a convivência entre brancos e negros. Nas mais escandalosas condições de discriminação, de racismo, de opressão.
Por detrás estava a super exploração da mão de obra negra nas minas sul-africanas, fornecedor essencial para os países europeus, sob comando da Holanda. As pessoas eram legalmente declaradas brancas ou negras, com todas as consequencias de direitos para uns e exclusão de direitos para os outros. Uma declaração da qual se poderia apelar todos os anos, mas que, ao mesmo tempo, se corria o risco de alguém questionar a condição de branco de qualquer outra pessoa, que poderia recair na condição de negro.
O cinismo das potências coloniais e dos próprios EUA estava na postura de não aderir ao boicote à Africa do Sul, alegando que isso isolaria ainda mais esse pais e dificultaria negociações politicas. Na verdade, a África do Sul do apartheid era um grande aliado dos EUA – junto com Israel – em todos os conflitos internacionais, alem de fornecedor de matérias primas estratégicas.
Não foi essa via de negociações que o apartheid terminou, mas pela luta, conduzida por Nelson Mandel, mesmo de dentro da cárcere, por 27 anos. Como reconheceu o próprio Mandela, o país que desde o começo apoiou ativamente, sem hesitação, a luta dos sul-africanos foi a Cuba de Fidel, o que forjou entre os dois lideres uma relação de amizade e companheirismo permanente.
A libertação de Mandela, o fim do apartheid e sua eleição como o primeiro presidente negro da Africa do Sul, foram a conclusão de décadas de lutas, de massacres, de prisões, de sacrifícios. Mandela aceitou ser eleito presidente, para concluir esse longo caminho, com a consciência de que estava longa de ser conseguida a emancipação dos sul-africanos. O país manteve a mesma inserção no sistema econômico mundial, as estruturas capitalistas de dominação não foram atingidas. A desigualdade racial foi profundamente afetada, mas não as desigualdades sociais.
Por esta via, os negros sul-africanos continuaram a ser vítimas, agora da pobreza, que os segue afetando de maneira concentrada. Os governos posteriores foram impotentes para mudar o modelo econômico e promover os direitos sociais  da massa da população. Os ideias de Mandela se realizaram, com o fim do apartheid, da discriminação racial legalmente explicitada, mas não permitiu aos negros saírem da sua condição de massa super explorada, discriminada, agora socialmente.
Mas a figura de Mandela permanece como a do maior líder popular africano, porque tocou no tema essencial de todo o período histórico da colonização – a escravidão. Ele soube combinar a resistência pacifica e violenta, para canalizar a força acumulada dentro e fora do país, para negociações que terminaram com o apartheid.
O historiador marxista britânico Perry Anderson considera Nelson Mandela e Lula como os maiores líderes populares do mundo contemporâneo, não apenas pelo sucesso das lutas a que eles se dedicaram – contra a discriminação racial e contra a fome -, mas também porque tocam em temas fundamentais das formas de exploração e de opressão do capitalismo. O apartheid terminou, fazendo com que Mandela ficasse como um dos maiores lideres do século XX. Lula projeta sua figura no novo século, na medida em que a sobrevivência do capitalismo e do neocolonialismo reproduzem a fome e a miséria no mundo.

Ideário de Jango vive na luta de seu filho pelas reformas sociais de base


Ideário de Jango vive na luta de seu filho pelas reformas sociais de base

6/12/2013 14:22
Por Redação, com ABr - de Brasília

Restos mortais do ex-presidente Jango foram transportados de volta ao Sul do Brasil
Restos mortais do ex-presidente Jango foram transportados de volta ao Sul do Brasil
Pouco antes da partida do voo que transportou os restos mortais do ex-presidente João Goulart, nesta sexta-feira, para serem novamente enterrados – agora, com honras militares a um chefe de Estado – em São Borja, João Vicente Goulart, filho do ex-presidente, defendeu as ideias do pai. Para ele, o Brasil precisa avançar em educação e nas reformas agrária e tributária.
– Para se modernizar o país precisa avançar, precisa conduzir a reforma agrária, a reforma educacional, a reforma tributária; em vez de tributar salários, tem que tributar patrimônio. Hoje, nós da família estamos retornando com os restos mortais dele [Goulart] para sua cidade, para o seu povo, para a sua terra. Sem dúvida, além de cumprir esse papel, estamos fazendo revisionismo da vida, da luta e das propostas do João Goulart há 50 anos – afirmou.
João Vicente disse que o Brasil precisa de uma agenda que retome pontos essenciais do governo de Jango e citou as reformas de base propostas pelo político e que contribuíram para motivar o golpe militar de 1964.
– O golpe não foi dado contra o presidente, foi contra as reformas de base propostas pelo governo João Goulart e que até hoje muitas delas se fazem necessárias – disse o filho do ex-presidente que também defendeu a reforma do Estado brasileiro.
Criadas durante o governo João Goulart, as chamadas reformas de base, propunham uma série de reformas institucionais visando a atuar sobre os problemas estruturais do país, entre elas, as reformas bancária, fiscal, urbana, eleitoral, agrária e educacional.
As medidas, de apelo social e popular, não foram bem recebidas por setores conservadores ligados ao latifúndio e às indústrias. O acirramento das posições culminou com o golpe de estado, em 1º de abril de 1964, no qual os militares depuseram o então presidente.
– O ano de 2014 não é apenas o ano da Copa do Mundo, também são 50 anos do golpe de Estado e, antes da festa do futebol, a sociedade brasileira deveria refletir sobre os 50 anos do golpe para que nunca mais aconteça – disse o filho de Jango.
Os restos mortais de João Goulart serão enterrados na tarde desta sexta-feira, em São Borja. Antes, haverá uma celebração religiosa na Igreja Matriz São Francisco, onde o povo da cidade, numa atitude de resistência, velou o corpo do ex-presidente, apesar da pressão da ditadura.
Os resto mortais foram exumados em novembro a pedido da família que duvida da causa da morte do ex-presidente. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. A suspeita da família é que Jango tenha sido envenenado a mando do governo brasileiro, na chamada Operação Condor, a aliança entre as ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores além das fronteiras nacionais. A investigação é conduzida pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Palavras de Fidel a Nelson Mandela

PALAVRAS DE FIDEL A NELSON MANDELA

Querido e velho amigo,

Tenho a enorme satisfação em vê-lo reconhecido por todas as instituições políticas do mundo como símbolo de liberdade, justiça e dignidade humana.

Fizeram-te trabalhador forçado nas pedreiras, tal como aconteceu com Martí aos 17 anos.

Passei menos de dois anos no presídio, como preso político, mas foi tempo suficiente para entender o que significam 27 anos recluído à solidão de uma prisão, separado dos amigos e da família.

Nos últimos anos de teu martírio, a tua pátria sob a tirania do regime de apartheid, após a Batalha de Cuito Cuanavale, converteu-se em um instrumento de guerra contra os combatentes internacionalistas cubanos e angolanos que avançavam sobre a Namíbia ocupada. Os teus algozes não conseguiram esconder-te as notícias de solidariedade que o povo, sob tua orientação, despertava entre todas as pessoas honestas na Terra.

O inimigo, então, como agora, estava prestes a assestar um golpe nuclear contra as tropas de libertação, no seu avanço incontido contra o sistema odioso de apartheid.

Eles jamais explicaram a origem desses instrumentos de morte e para onde, depois, foram levados.

Tão logo chegastes à presidência da África do Sul, eleito pelo povo, visitastes o nosso país e prestastes solidariedade a Cuba.

Hoje, a humanidade está sob ameaça permanente do maior perigo em toda a história da espécie humana.

Exerce toda a tua imensa força moral para que a África do Sul mantenha-se longe das bases militares dos Estados Unidos e da OTAN.

Os amigos do regime de apartheid de então, competem hoje, cinicamente para simular amizade.

Para sobreviver a um desastre nuclear que se aproxima os povos da África, mais que nunca, precisam de conhecimento científico e progresso tecnológico da África do Sul.

A humanidade ainda pode ser preservada dos golpes sinistros de uma tragédia nuclear que nos ameaça e da destruição ambiental, que já é uma realidade.

Fraternalmente,

Fidel Castro Ruz


18 de julho de 2010