Xadrez do elo
desconhecido entre Temer e Yunes
Qual
a razão do primeiro amigo de Michel Temer, José Yunes, ter entrado em pânico,
quando seu nome apareceu em delação de executivo da Odebrecht, a ponto de
procurar o Ministério Público Federal para uma delação sem sentido.
Luis Nassif
Aos jornalistas, José Yunes disse que
lhe foi solicitado por Elizeu Padilha – ministro-chefe licenciado da Casa Civil
– que recebesse “documentos” em seu escritório. Os tais “documentos”, na
verdade, eram propinas pagas pela Odebrecht e levadas até ele pelo notório
doleiro Lúcio Funaro.
Yunes declarou ter sido apanhado de
surpresa. E, assim que se deu conta do ocorrido, procurou o amigo Michel Temer,
que o acalmou.
Ao Ministério Público Federal, declarou
que nada disse a Temer.
De sua parte, Temer mandou informar aos
jornais que exigirá explicações de Padilha.
O que está por trás dessa dança dos
lobos, tão desesperada e tão sem nexo?
Dias atrás, o grupo Anonymous divulgou
um pacote de documentos sobre negócios de Yunes, Temer e outros sócios.
No primeiro artigo da série, mostramos
que a principal suspeita levantada – a associação de Yunes com grandes
bilionários – na verdade era uma sociedade para um condomínio a ser construído
na Bahia.
Vamos, agora, à parte perigosa revelada
pelos documentos, ajudado por comentaristas do Blog que passaram informações
centrais para fechar a narrativa.
Peça
1 – as diversas formas de lavagem de dinheiro
Por que interessa conhecer os negócios
de José Yunes, o primeiro amigo?
Primeiro, porque, após a delação do
executivo da Odebrecht, descobriu-se que ele participava dos esquemas de
captação de recursos de Michel Temer.
Depois, porque um dos modus operandi de
muitos políticos é o de receberem no exterior, através de depósitos em fundos de
investimento com aparência de legalidade.
Em vez de contas convencionais em países
estrangeiros, fundos de investimento através dos quais entram no Brasil como
investimento externo.
De certo modo, é o caso de José Serra,
conforme esmiuçado por Amaury Ribeiro Jr. no livro A privataria tucana.
O fundo de investimentos de sua filha
Verônica (de Serra) acumulou um patrimônio significativo. Em pelo menos um
caso, sabe-se que foi utilizado para troca de favores com empresas.
Foi o caso da Serasa-Experian, que, no
final do mandato de Serra como governador de São Paulo, ganhou de graça o Cadin estadual (Cadastro Informativo
dos Créditos não Quitados de Órgãos e Entidades Estaduais).
Assim que Serra deixou o governo,
Verônica intermediou para a Serasa-Experian a venda de um site de e-mail
marketing, a Virid. Na época, o mercado avaliava o preço em no máximo R$ 30
milhões. A Experian pagou R$ 104 milhões. Empresa de capital aberto na Bolsa de
Londres, manteve o valor da transação em sigilo. Para todos os efeitos, foi um
lucro legalizado do fundo de investimentos de Verônica Serra.
Sérgio Machado tinha investimentos no
exterior, através de um filho que era alto funcionário do Credit Suisse – e, ao
que consta, foi sacrificado pela gula do pai e do irmão político.
Portanto, há uma probabilidade de que as
empresas de Yunes possam ter servido para abrigar recursos políticos captados
por Temer.
Não faltará paraíso fiscal no purgatório
político em que se meteu Yunes, caso os Anjos Gabriel do Ministério Público
Federal resolvam investigar a sério.
O dossiê disponibilizado pelo grupo
Anonymous na internet traz algumas pistas que precisam ser bem investigadas,
das empresas dos Yunes.
Peça
2 – o Banco Pine
Aqui, aí se chega no elo desconhecido, o
Banco Pine, ou First Pinebank, Inc, ou FPB.
O Banco Pine é o sucessor do BMC (Banco
Mercantil de Crédito), da família Pinheiro, do Ceará, de três irmãos, Norberto,
Nelson e Jaime Pinheiro, que chegaram a montar um banco médio, bem-sucedido.
Assim como outros bancos cearenses, especializou-se em AROs (Antecipação de
Receita Orçamentária) para prefeituras e em crédito consignado para
funcionários públicos.
Depois, o banco foi vendido por R$ 800
milhões ao Bradesco e, de suas
entranhas, nasceu, em 1997, o Banco Pine, brasileiro, o First Pinebank que,
depois de uma passagem turbulenta pelos Estados Unidos, tornou-se um banco
panamenho; e a BR Partners, uma associação de Ângela Pinheiro, filha do
patriarca Jaime Pinheiro, com Ricardo Lacerda, ex-presidente da Goldman Sachs
do Brasil.
Aqui, começa nosso pequeno
quebra-cabeça:
Em 2005, o nome do Pine Bank já apareceu
associado ao doleiro Toninho Barcelona, no escândalo do Banestado (https://goo.gl/wQh4dq)
Em julho passado, a Lava-Jato já tinha
batido no Pine (https://goo.gl/opDxOv), através da Operação Caça-Fantasmas, da
32ª fase. Identificou o FPB Bank Inc. – àquela altura, um banco panamenho, mas
de propriedade de Nelson Pinheiro, um dos três irmãos sócios do BMC –, o PKB da
Suíça e o Carregosa, de Portugal, suspeitos de montarem representações
clandestinas para clientes interessados em abrir contas em paraísos fiscais.
Outro nome que apareceu no FPB foi o de Eduardo Rosa Pinheiro, também da
família Pinheiro.
A suspeita da Lava-Jato é que esse
esquema teria sido usado por doleiros e operadores de propina para esconder o
dinheiro da corrupção da Petrobras e de outras empresas públicas, investigadas
pelas operações Lava-Jato, Custo Brasil, Saqueador e Recebedor.
Os bancos tinham ligação direta com a
Mossak Fonseca. A Polícia Federal e o MPF pediram prisão preventiva dos
funcionários do banco, mas o juiz Sérgio
Moro permitiu apenas condução coercitiva. Alegou que as evidências
levantadas pela Lava-Jato apenas apontavam atuação clandestina no país.
Assim como na batida na Mossak Fonseca,
quando se constatou que não havia pistas que levassem a Lula – mas a alguns
bilionários influentes –, abafou-se a investigação e mantiveram-se em sigilo as
descobertas.
Mas outros países atuaram. No dia 10 de
fevereiro de 2017, menos de duas semanas atrás, a Superintendência Bancária do
Panamá suspendeu a licença de corretagem do Pine Bank, a partir de informações
levantadas pela Lava-Jato (https://goo.gl/KYF0gc). No Panamá, era um banco
pequeno, com US$ 134 milhões em depósitos e apenas US$ 13 milhões de
capitalização declarada.
Constatou-se que o banco recorria apenas
à Serasa para analisar sua carteira de clientes, em vez de colocar relatórios
reais das empresas. Além disso, a FPB tinha montado 44 empresas através dos
escritórios da Mossak Fonseca, provavelmente para desviar dinheiro de suborno.
Os jornais do Panamá apontavam o fato do
site do banco não informar nada sobre seus proprietários e acionistas. Sabia-se
apenas que o banco pertencia a uma família de empresas debaixo do guarda-chuva
de Brickell Group.
O jornal Panama News anotava que o FBK
tinha um presidente de nome Eduardo Pinheiro, um gerente geral chamado José
Palucci e um convidado especial para a inauguração da sede, de nome Mailson da Nóbrega.
O jornal levantou o nome da consultoria
Brickell Management Services Inc., de Miami, com apenas 6 funcionários. E
constatou que Pine Bank foi acusado pelo FED de violar vários pontos da lei
antilavagem de capitais, tendo encerrado as operações nos Estados Unidos.
Segundo o jornal, “propriedade anônima, gestão aparentemente ausente – um banco
estranho para se fazer negócios, exceto se houver algum propósito especial”.
Peça
3 – os negócios da família Yunes
Ao longo das últimas décadas, a família
de José Yunes expandiu seus negócios por vários setores. Aparentemente, tem
dois filhos bastante empreendedores, dos quais Marcos Mariz de Oliveira Yunes é
o que fica à frente dos negócios.
A principal empresa do grupo é a Yuny.
Trata-se de uma grande incorporadora
criada em 1996 (https://goo.gl/9iirmz). Em 2007 recebeu aporte de R$ 700
milhões do Golden Tree InSite Partners. Pode ser coincidência de nomes, mas há
uma Golden Tree Insite Partners no Reino Unido (https://goo.gl/0WddPa) que, em
2010, foi declarada insolvente.
Mais tarde, a VR tornou-se sócia da
Yuny. Hoje em dia, do conselho participam Abraham Szajman e Ury Rabinowitz,
este alto funcionário da Brasil Telecom nos tempos de Daniel Dantas – em
princípio, significa apenas que é um executivo requisitado. Depois, montou uma
joint-venture com a Econ Construtora, a Atua Construtora, para imóveis de baixa
renda.
No grupo, há outras empresas menos
transparentes.
Uma delas é a Stargate do Brasil
Estética de Produtos e Serviços.
Criada em 30 de abril de 2007, é
sociedade de José Yunes com Arlito Caires dos Santos. No Google, consegue-se
chegar próximo com um Carlito Aires dos Santos – trocando o C do sobrenome para
o nome, empresário mato-grossense de Peixoto de Azevedo, cuja empresa foi
aberta em 20 de março de 2015 (https://goo.gl/lv7cpF).
Por sua vez, a Stargate é sócia da
Golden Star, Serviços e Participações Ltda. Aparentemente, a intenção da
sociedade foi a aquisição dos bens do panamenho Kamal Mohan Mukhi Mirpuri por
Gilberto Pereira de Brito. O endereço de Kamal remete às proximidades do Trump
International Hotel em Colon, Panamá. Kamal é proprietário da Multitrade Export
Ltda, do Panamá.
Não é o único elo panamenho na nossa
história, como se viu no caso do Pinebank.
Peça
4 – as ligações do Pine com os Yunes
Como já se viu, o Banco Pine foi
apontado como um dos canais para o dinheiro da corrupção das empresas
investigadas pela Lava-Jato.
Em outros tempos, uma das maneiras de
“esquentar” dinheiro frio, depositado fora do país, era através de uma operação
cruzada. O investidor depositava seus dólares nas agências externas do banco; e
elas serviam de garantias para empréstimos que eram concedidos, aqui, para
empresas controladas por ele. Foi assim com o Banco Excel, de um membro da
família Safra, que chegou a adquirir a massa falida do Econômico, mas quebrou
quando a apreciação do real promoveu o descasamento das garantias externas com
os financiamentos internos.
No dossiê do Anonymous são inúmeras as
evidências de ligações comerciais do Pine com as empresas dos Yunes,
particularmente com a incorporadora Yuny.
Em setembro de 2010, a Atua Construtora
e Incorporadora convoca AGE para autorizar a contratação de financiamento de R$
5 milhões junto ao Banco Pine
Em dezembro de 2011, outra AGE para
autorizá-la a tomar mais R$ 5 milhões com o Pine.
Em 18 de julho de 2013, outros R$ 5
milhões (ou renovação do crédito rotativo) novamente junto ao Pine.
Peça
5 – os negócios de Temer com Yunes
Os caminhos de Michel Temer, da família
Pinheiro, do Banco Pine e da incorporadora Yuny se cruzam em vários imóveis de
Michel Temer e de sua holding Tabapuã.
Temer tem duas unidades no edifício
Lugano, na rua Pedroso Alvarenga 900, uma construção luxuosa com conjuntos
comerciais de 102 a 202 metros quadrados.
A incorporadora é a Yuny, dos Yunes.
Temer possui duas salas no edifício na Rua
Iguatemi (https://goo.gl/4XecSC), com escritórios que vão de 350 a 700 metros
quadrados. Na região, escritórios de 350 metros quadrados custam de R$ 3,5 a R$
7 milhões.
Trata-se de uma obra faustosa também da
Yuny.
Em 23 de maio de 2011, transferiu para a
Tabapuã, empresa que tem em sociedade com a filha Luciana Temer.
Quem aluga o escritório é Andréa
Pinheiros, da BR Partners, e uma das herdeiras do banco Pine, filha de Jaime
Pinheiro, o patriarca.
Conclusão
do jogo
Tem-se, então, todas as peças do jogo:
1.
O melhor amigo de
Temer, José Yunes, participava dos processos de arrecadação de propinas das empresas
investigadas pela Lava-Jato.
2.
As empresas de
Yunes tinham financiamento farto com o Banco Pine, da família Pinheiro, envolvido
com os escândalos da Lava-Jato, fechado nos Estados Unidos por acusação de
lavagem de dinheiro e, há duas semanas, fechado também no Panamá.
3.
Temer com grandes
investimentos em projetos da Yuny, a incorporadora da família Yunes, convidando
o patriarca José Yunes para assessor especial.
Dificilmente toda essa movimentação passaria
despercebida pela Lava-Jato, ainda mais depois de invadir os escritórios da
Mossak Fonseca e ter identificado o papel do Pine Bank.
Um dia se saberá ao certo a razão de
terem segurado essas informações.