segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Comitê da ONU informa que vai comunicar violação de tratado internacional do Brasil


03 DE SETEMBRO DE 2018, 21H57

Comitê da ONU informa que vai comunicar violação de tratado internacional do Brasil

Vice-presidente do Comitê de Direitos Humanos disse em entrevista que considera a decisão do TSE de barrar a candidatura de Lula como "lamentável" e que configura violação de tratado internacional

Foto: ONU
O Brasil violou um tratado internacional ao barrar a candidatura à presidência do ex-presidente Lula através da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proferida na última sexta-feira (31). Essa é a interpretação de Sarah Cleveland, vice-presidente do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em entrevista ao jornal Estadão, Cleveland afirmou que a decisão do TSE como “lamentável” e informou que o Comitê deverá comunicar o Brasil oficialmente sobre a violação.
“A ação do Brasil é muito lamentável. O Comitê de Direitos Humanos considera a falha em cumprir com as medidas cautelares como uma violação ao Protocolo Adicional e, se a situação continuar como tal, o Comitê comunicará isso ao governo em seu devido tempo”, afirmou.
A determinação do comitê da ONU para que o Brasil mantivesse os direitos políticos do ex-presidente Lula foi a principal argumentação dos advogados do PT na sessão do TSE que impugnou a candidatura.
Nesta segunda-feira (3), o candidato a vice na chapa de Lula, Fernando Haddad, informou que o PT entrará com recursos no Supremo Tribunal Federal (STF) e também na própria ONU.

MILHARES PROTESTAM NA CINELÂNDIA EM DEFESA DA CULTURA E DOS MUSEUS

Castigo merecido: é um dos que não terá paz pelo resto da vida

Luis Roberto Barroso é recebido em evento no Rio sob gritos de golpista e ‘Lula livre’

Publicado em 3 setembro, 2018 10:13 pm
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso, foi recebido sob protesto ao chegar para participar de evento no Rio na noite desta segunda-feira, 3.
Assim que saiu do carro no bairro do Leblon, na zona sul, o ministro foi reconhecido por um grupo de dez mulheres que passavam pela frente do Teatro Oi Casa Grande, onde Barroso dará palestra. O grupo, então, começou a chamá-lo de golpista e a gritar “Lula livre”.
Barroso não respondeu os protestos e entrou correndo no prédio, demonstrando desconforto com a situação. Na semana passada, o ministro votou contra a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi o relator do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
(…)
O ministro Luís Roberto Barroso, vice-presidente do TSE e integrante do STF (Foto: Carlos Moura/SCO/STF)

Museu Nacional Por que o crânio de Luzia é tão importante para a ciência?

Museu Nacional

Por que o crânio de Luzia é tão importante para a ciência?

por Deutsche Welle — publicado 03/09/2018 15h13
Fóssil de mulher, datado de mais de 11 mil anos, é uma das peças mais importantes da história natural do Brasil
Antonio Scorza/AFP
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Reconstrução do rosto de Luzia com base no crânio encontrado pelos cientistas
Por Laís Modelli
Entre os mais de 20 milhões de peças e documentos que pertenciam ao Museu Nacional – o que representa o quinto maior acervo do mundo – e que foram queimados pelo incêndio na noite deste domingo 2 está o crânio da mulher mais antiga da América de que se tem conhecimento: um fóssil de mais de 11 mil anos conhecido como Luzia.
O crânio foi encontrado na década de 1970 em Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, por uma missão francesa liderada pela arqueóloga Annette Laming-Emperaire. Luzia apresentou uma datação relativa entre 11 mil e 11,5 mil anos, o que faz do crânio um dos mais antigos do Brasil e também de todo o continente americano.
Luzia é uma das peças mais importantes da história natural da América porque representou uma revolução nos estudos sobre o povoamento do continente americano. "O crânio de Luzia mostrou que a morfologia craniana desses antigos habitantes da América, chamados paleoamericanos, é diferente da morfologia craniana dos indígenas atuais", explica o biólogo da USP Pedro da Glória.
O fóssil da mulher de olhos grandes serviu de base para o bioantropólogo Walter Neves, da USP, propor, no final da década de 1980, que os primeiros habitantes do continente tinham a morfologia craniana diferente dos habitantes atuais da América. Foi Neves também quem apelidou carinhosamente o crânio da mulher mais antiga do Brasil de Luzia.
"Neves identificou que o povo de Luzia, na região mineira da Lagoa Santa, tinha morfologia craniana similar aos africanos e aos povos da Oceania, enquanto que os habitantes atuais são mais próximos biologicamente dos habitantes da Ásia", diz Glória.
O biólogo explica que, depois dessa constatação da equipe de Neves, os crânios de Lagoa Santa viraram referência internacional para os modelos de ocupação do continente americano, sendo o crânio de Luzia um símbolo da ocupação antiga do território brasileiro.
Além de Luzia, a grande preciosidade do acervo do Museu Nacional também está na coleção de ossos humanos de Lagoa Santa, que consiste em cerca de 166 indivíduos que datam principalmente de mais de 7.000 anos. "Esses ossos são cruciais para entendermos os rituais mortuários, o estilo de vida e a origem biológica dos primeiros brasileiros e dos primeiros americanos. É um patrimônio único e de valor internacional", lamenta Glória.
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Perseguição implacável, ilegal, irracional do judiciário ao maior líder popular do Brasil

Ministro do TSE suspende inserções do PT com Lula na TV

Publicado em 3 setembro, 2018 10:00 pm
Reportagem de Rafael Moraes Moura no Estado de S.Paulo informa que o ministro Sérgio Banhos, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu nesta segunda-feira (3) suspender inserções televisivas veiculadas pela coligação “O povo feliz de novo” (PT/PC do B/Pros) estreladas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso e condenado no âmbito da Operação Lava Jato. Esta é a terceira derrota que o TSE impõe à propaganda do PT desde que a Corte Eleitoral decidiu barrar na madrugada do último sábado (1) a candidatura de Lula ao Palácio do Planalto sob o argumento de que o petista está enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
De acordo com a publicação, na inserção, Lula diz: O povo sabe o que aconteceu no período que nós governamos esse país. Esse povo sorria. Esse povo comia. Esse povo trabalhava”.
O candidato a vice presidente da coligação, Fernando Haddad, afirma logo em seguida: “O povo não esquece o Brasil de Lula. Aquele tempo bom, com trabalho, salário, comida na mesa. Um país com oportunidades para todos. Vem com a gente, vamos trazer o Brasil de Lula de volta”, completa o Estadão.
Lula (Foto: Mauro Pimentel / AFP)

Temer e os anos perdidos da Cultura

Política cultural

Temer e os anos perdidos da Cultura

por Jotabê Medeiros — publicado 03/09/2018 09h41
Conforme se aproxima o final do atual governo, o balanço de sua passagem pela cultura fica cada vez mais melancólico
Divulgação
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Em meio à secura de recursos, o musical O Fantasma da Ópera foi autorizado a captar 28 milhões de reais
Ao chegar, em janeiro, para ocupar o Ministério da Cultura (MinC), o ministro escolhido pelo novo presidente ou nova presidenta em outubro próximo vai topar com um cenário, no mínimo, desconfortável, cortesia dos dois anos de desgoverno da gestão Temer.
Primeiro, vai ter de desviar-se do legado de nomeações do atual ocupante do cargo, Sérgio Sá Leitão. O novo ministro vai encontrar em um dos gabinetes, por exemplo, a irmã do ex-governador Sérgio Cabral, Cláudia de Oliveira Cabral (nomeada diretora do Departamento do Sistema Nacional de Cultura em 8 de agosto por empenho pessoal do ministro Moreira Franco).
Na representação do Ministério da Cultura em São Paulo, vai se defrontar com o ex-deputado e radialista paulistano Nello Rodolpho Filho, ícone do malufismo. Haverá diretores ligados ao partido do antigo ministro Roberto Freire, o PPS de Pernambuco, caso de Renata Aparecida Pereira da Silva Araújo. Já a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Kátia Bogéa, foi indicação pessoal do ex-presidente José Sarney.
Além do espectro político contemplado na estrutura do MinC nos últimos dois anos, sobrará para o novo ministro um miasma administrativo. Ao editar um decreto criando uma nova estrutura para o Ministério da Cultura (Decreto nº 9.411/2018), o ministro Sérgio Sá Leitão “esqueceu” de incluir em seu plano a Cinemateca Brasileira, sediada em São Paulo.
Pouco tempo antes, ele tinha repassado a gestão da instituição para uma organização social, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp). O problema é que sobraram diversos servidores do MinC trabalhando na Cinemateca que não foram incorporados, não sabem o que será deles, a quem devem se reportar, onde efetivamente trabalham, se fazem parte de algum setor, ou se têm chefe.
Para completar o quadro de confusão, demitiu-se em 29 de junho a coordenadora-geral da Cinemateca, Olga Futemma (funcionária entre 1983 e 2013 e que tinha voltado ao cargo em 2016). Não houve nenhuma nomeação para o seu lugar.
O audiovisual deverá ser uma área minada após a saída do atual governo. Além de ter indicado maioria na direção atual da Agência Nacional de Cinema (Ancine), o escopo eminentemente técnico do setor foi solapado por questões políticas.
Isso culminou com a decisão, pelo ministério, de exigir do cineasta Kleber Mendonça Filho, dos premiados O Som ao Redor e Aquarius, a devolução de 2,2 milhões de reais dos recursos investidos no filme O Som ao Redor, sob a alegação de “irregularidades” na prestação de contas.
É filme de orçamento baixo, considerado um dos melhores dos últimos anos, representante do País em inúmeros festivais, e não há conclusão possível sobre a severidade com que é tratado senão a perseguição. Kleber Mendonça foi declarado inimigo do atual governo a partir do momento em que ele e seu elenco fizeram uma manifestação no Festival de Cannes, em 2016.
A partir dali, houve manobras para evitar a indicação de seus filmes ao Oscar e pente-fino legalista em suas contas. A vendetta é tão evidente que um cineasta tradicionalmente reservado quanto a questões polêmicas, Walter Salles, declarou sobre o imbróglio: “O questionamento que atinge o filme (O Som ao Redor) e seu diretor pode dificilmente ser dissociado de razões políticas. Estrábicas, no meu entender”.
Sombrio, alienado e apartado da classe artística, o Ministério da Cultura de Temer retrocedeu décadas em sua política republicana, mas avançou bastante na prospecção dos velhos problemas. Recentemente, o jornal Folha de S.Paulo noticiou uma autorização milionária para o musical O Fantasma da Ópera (em cartaz desde 8 de agosto no Teatro Renault) captar recursos pela Lei Rouanet, a legislação federal de incentivo por meio da renúncia fiscal.
O Fantasma da Ópera poderia buscar no mercado 28 milhões de reais com a possibilidade de desconto no Imposto de Renda para o investidor. Na verdade, a empresa T4F, produtora do musical, pediu 45 milhões de reais, mas até agora só captou 2 milhões de reais de investidores (quase todos da indústria farmacêutica).
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O ministro da cultura Sérgio Sá Leitão (Foto: Janine Moraes/Minc)
Não há ilegalidade ou irregularidade na pretensão da T4F. O problema é que 45 milhões de reais para um único musical parece um contrassenso num país em que os recursos já são tão centralizados e seletivos. O volume de recursos aprovado para captação de um só musical é maior do que os recursos da Lei Rouanet captados por estados como Bahia (11 milhões de reais), Pernambuco (18 milhões de reais), Ceará (16 milhões de reais) e Pará (6 milhões de reais). O estado de Alagoas inteiro só conseguiu captar 38 mil reais no ano passado.
Em março de 2017, o então ministro Roberto Freire tinha editado uma portaria com mudanças na legislação de incentivo. Entre elas estava a fixação de um teto de 10 milhões de reais por projeto (até o limite de 40 milhões de reais por empresa proponente). Essa portaria durou apenas oito meses. Em novembro, caiu com nova decisão do ministro que o sucedeu, Sá Leitão, que elevou esse teto para 60 milhões de reais.
Essa miríade de problemas deverá se aprofundar com um exame responsável no cartel de “realizações” da atual gestão. No dia 18 de junho, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou ao Ministério da Cultura que todos os projetos na área do audiovisual tenham as prestações de contas submetidas a integral análise, “sem a adoção do expediente de análise por amostragem”, e que sejam examinadas as prestações de contas de todos os projetos audiovisuais destinatários dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
O TCU tomou essa medida para evitar suspender os editais do programa Audiovisual Gera Futuro, de 1,2 bilhão de reais, levado a cabo pela gestão de Sá Leitão.
A decisão do TCU atendeu a pedido da Secretaria de Controle Externo do Estado do Rio de Janeiro (Secex), que teme irregularidades nas prestações de contas e possíveis danos ao Erário. A Secex anteviu os problemas nas potenciais contratações a toque de caixa decorrentes do lançamento de editais pelo MinC, por intermédio da sua Secretaria do Audiovisual (SAV).
A Ancine, que tem 400 servidores em seu quadro efetivo, informou que possui um passivo de 3 mil processos para analisar contas e não pode interromper suas ações regulares para dar conta só disso – recentemente, o atual presidente da Ancine, Christian de Castro, teve de realocar emergencialmente 30 servidores para as áreas de fomento e prestação de contas.
Em meio a esse cenário, o ministro Sá Leitão prossegue em sua cruzada internacionalizante. Tinha passagem marcada para o sábado 18 para sua 12ª viagem internacional em 12 meses de gestão, com destino ao Reino Unido.
Suas viagens já chamam atenção até do governo que integra, não exatamente habituado a fiscalizar seus integrantes. Entre 16 e 20 de julho, o Diário Oficial chegou a anunciar o afastamento do ministro, “sem ônus”, para “tratar de assuntos particulares”.
Curioso que, no mesmo dia, outro despacho autorizava o diretor de Promoção Internacional do MinC, Adam Jayme de Oliveira Muniz, a acompanhar o ministro “nas atividades de divulgação de Niterói como cidade do audiovisual junto aos estúdios e agências de talentos” de Los Angeles. Pouco tempo depois, foi corrigido o anúncio: o ministro se afastaria com “ônus parcial” para as atividades em Hollywood.
Ou seja, mesmo estando a serviço do Estado brasileiro, ele (ou algum anfitrião) arcaria com parte das suas despesas. Das duas, uma: ou a agenda era desimportante ou os negócios particulares do ministro permaneciam no foco da viagem. Talvez essa seja uma viagem da qual o País demore para achar o caminho de retorno.