domingo, 11 de março de 2018

Antifascismo A intervenção no Rio de Janeiro e o avanço do fascismo no Brasil

Antifascismo

A intervenção no Rio de Janeiro e o avanço do fascismo no Brasil

Na intervenção no Rio de Janeiro, o racismo é elemento inseparável do deslocamento do inimigo público das elites para as classes populares

 
26/02/2018 18:35
Beto Barata/Presidência da República
 
A intervenção federal militar na segurança do Rio de Janeiro e sua possível extensão a outros Estados marca uma nova etapa da escalada repressiva que avança no Brasil desde o golpe de 2016, configurando tecnicamente um Estado de Exceção.

Constitucionalmente, são três os níveis de Estado de Exceção: Intervenção Federal, Estado de Defesa e Estado de Sítio. Cumprimos com esta iniciativa o primeiro nível do Estado de Exceção: até o final de 2018, o Congresso terá suas prerrogativas reduzidas e, no Rio de Janeiro, a Justiça Militar substitui em parte a Justiça Civil para assuntos de segurança pública, situação que incidirá basicamente sobre a vida das camadas populares. A intervenção federal realiza-se de maneira açodada e não atende aos requisitos constitucionais substantivos para sua realização: não há grave desordem pública no Rio de Janeiro, como demonstram os indicadores da cidade no ranking da violência no país e os que atestam a redução dos índices de criminalidade deste carnaval em relação ao de 2017.

Os objetivos reais desta operação são outros e selam um novo pacto de aliança entre o monopólio midiático e o governo Temer: trata-se, de um lado, de reorientar a agenda de combate à criminalidade, da busca de criminosos de grande porte, do andar de cima da sociedade, para os oriundos dos extratos populares, de pequeno e médio porte; e de oferecer uma alternativa eleitoral competitiva para aqueles que disputam o controle sobre o golpe de Estado na sociedade brasileira.

A politização do carnaval carioca, a ousadia do desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti, – visto por mais de 2 milhões de pessoas no YouTube e que escancarou para o Brasil e o mundo os atores do golpe de Estado, seus objetivos neocoloniais e desumanos, denunciando a Rede Globo, como manipuladora, e o Presidente da República, como um vampiro neoliberal que se alimenta do sangue do seu povo – e o aumento da popularidade do ex-Presidente Lula revelaram que a percepção popular sobre quem eram os criminosos de grande porte da sociedade brasileira estava se tornando extremamente perigosa para nossas classes dominantes. Tornou-se claro que é preciso pôr fim a esse movimento de insatisfação popular com os de cima, que se iniciou com as Manifestações de Junho de 2013, foi apropriado pelas classes dominantes com o consórcio entre a mídia empresarial e os procuradores e juízes da Operação Lava-Jato, mas reestabeleceu parcialmente sua autonomia com a fortíssima impopularidade do governo Temer e sua base de sustentação. A reorientação da agenda da segurança para baixo pela mídia empresarial pretende encerrar o seu respaldo à Operação Lava-Jato com a prisão de Lula e a cassação de seus direitos políticos e busca, a partir da fabricação de um ambiente de desordem e violência e da espetacularização da intervenção federal, redirecionar o foco das preocupações populares, abortando uma politização que se desenvolvia progressivamente.

Além disso, diante da impopularidade das contrarreformas do Golpe de Estado, da recessão e perspectivas de crescimento rastejante da economia, busca-se uma agenda que fale diretamente ao sentimento de vulnerabilidade de amplas camadas população, cujos direitos sociais garantidos pela Constituição não são minimamente atendidos pelos serviços públicos precários e limitados oferecidos pelo Estado. No mapa da desigualdade do Rio de Janeiro, leva-se de treze a quinze anos para percorrer os poucos quilômetros de distância da Gávea, onde se vivem 80 anos, até a Rocinha ou o Complexo do Alemão, onde se vivem 67 ou 65 anos.

A perspectiva de resolução dos problemas sociais pelo emprego da força máxima de Estado, que seduz as camadas populares diante do desespero em que se encontram face ao atoleiro do desemprego, da carestia e da desigualdade, revela-se ilusória. Entre outras razões, porque dirige-se para reforçá-los em benefício dos mais fortes. Entretanto, propicia combustível suficiente para tomar de Bolsonaro as bandeiras de violência e permitir a Temer sonhar com a reeleição que lhe permitiria fugir da Justiça Comum a partir do respaldo que o uso máquina do Estado e o apoio midiático podem lhe oferecer.

Entretanto, a aprofunda-se a instabilidade social e política brasileira e acumulam-se os traumas sociais. A Nova República entendida como um movimento de redemocratização lenta e gradual do país encerrou-se em 2016 e, em seu lugar, diante das debilidades e falta de autonomia da centro-esquerda petista que liderava o bloco popular, as classes dominantes impuseram uma agenda regressiva e neoconservadora. Esta agenda apresenta forte caráter fascista. O fascismo é essencialmente um regime de terror do grande capital que busca destruir as conquistas populares e impedir pelo uso da violência institucionalizada, com ou sem mobilização de massas pequeno-burguesas, a reorganização autônoma das classes trabalhadora. O fascismo pode evoluir ou não para um regime totalitário. Está para ser publicado em breve, pela editora Insular, Socialismo ou Fascismo: o dilema latino-americano e o novo caráter da dependência, de Theotonio dos Santos, inédito no Brasil, que avança muito no tratamento conceitual do tema e desmistifica as visões que só vinculam o fascismo às suas expressões extremas, negligenciando as formas históricas graduais e diversas que o fenômeno assumiu.

Avança hoje no Brasil, até aqui, um fascismo liberal, que guarda importantes semelhanças com o que se desenvolveu na Itália entre 1922 e 1924. Este fascismo articulou-se com a estrutura liberal, subordinando-a sem eliminá-la formalmente, mas inoculou nela deformações pela imposição de restrições legais, casuísmos e violências que tornavam a competição partidária um simulacro e limitavam o Estado de Direito. Assim, como a Marcha sobre Roma teve como consequência a derrubada do governo e a nomeação, ratificada pelo Parlamento, de Mussolini a Primeiro-Ministro; no Brasil, as marchas sobre a Avenida Atlântica e a Avenida Paulista convocadas e potencializadas pelo monopólio midiático tiveram o mesmo objetivo e consequência: a derrubada do governo eleito pelo Parlamento e o respaldo deste ao governo golpista. Se as eleições de 1924 realizaram-se sob o signo da perseguição aos socialistas e da Lei Acerbo, que dava ao Partido que conseguisse mais de 25% dos votos 2/3 do Parlamento, as eleições de 2018 no Brasil, caso se realizem, o serão sob o contexto de cassação de direitos políticos de Lula, da vigência da PEC 55, que criminaliza as políticas sociais e exige maioria de 2/3 no Parlamento para ser derrubada, da limitação da autonomia do Congresso diante do Executivo e da intervenção militar no Rio de Janeiro.

O irracionalismo que domina a política institucional brasileira – e que, para derrubar um governo eleito, transforma pedaladas fiscais em empréstimos, que para cassar o líder nas pesquisas para a Presidência da  República cria a figura jurídica inexistente da propriedade de fato, e que considera delitos de pequeno porte motivo para impor uma forma de Estado de exceção – evidencia que as versões mil vezes repetidas pelo consenso entre as diversas frações das classes dominantes se impõem sobre as expressões mínimas do estado de direito. Na intervenção no Rio de Janeiro, o racismo é elemento inseparável do deslocamento do inimigo público das elites para as classes populares. As favelas são tratadas como guetos e seus habitantes, majoritariamente pretos, mestiços ou nordestinos, segregados e suspeitos de crime. A eles exige-se subordinação e não se tolera autonomia cultural e política. A censura presidencial a Tuiuti no desfile das campeãs, exigindo a retirada da faixa presidencial do vampiro neoliberal e o esvaziamento das alas que exibiam manifestantes fantoches e carteiras de trabalho rasgada, nos leva a pensar quais retaliações seriam empregadas sobre esta comunidade num contexto de intervenção federal: ocupação militar, detenção no insalubre sistema carcerário brasileiro e genocídio?

Neste contexto de manipulação e intolerância, gerado pelo medo da ascensão econômica, política e cultural das camadas populares que elevaram historicamente seus níveis de educação e informação, o centrismo esvazia-se e são débeis as garantias constitucionais públicas e individuais. O desemprego, a recessão, a financeirização, o bloqueio da competição eleitoral, a intimidação e a violência são as vias das classes dominantes para manter nosso povo sob controle. Denunciar o caráter do regime que vai se institucionalizando e organizar a unidade das forças populares em torno ao restabelecimento da democracia e do desenvolvimento são as tarefas chaves do momento. Este caminho exige confrontação e desobediência civil. Tolerar os caminhos de uma legalidade bloqueada pelas restrições que o fascismo a ela impõe, não permitirá enfrentar a agenda neoliberal e repressiva que se estabelece pelo consenso entre as frações das classes dominantes de que é necessário controlar o povo e violar a soberania popular.

Em entrevista à Globonews, o General Augusto Heleno Ribeiro, defensor do movimento de 1964 e ex-comandante das tropas da Minustah, reivindicou, sem causar perplexidade ou embaraço entre os participantes, não apenas a lei promulgada por Temer, que deslocou para a justiça militar os crimes cometidos pelas forças armadas em operações de garantias de lei e de ordem, mas inclusive que exército tivesse o direito de atuar no Rio de Janeiro como atua na guerra, eliminando qualquer suspeito. A contraposição tímida ou mesmo adesão com que alguns quadros do campo democrático reagiram à intervenção militar no Rio de Janeiro, impactados pelo apoio popular episódico e pela intimidação que emana do pacto entre o monopólio midiático e o aparato estatal, nos faz lembrar, guardadas as diferenças da analogia, o caminho buscado por Theodor Leipart, Presidente da Confederação Geral de Sindicatos de Alemães, em 21 de março de 1933. Diante da repressão inicial dirigida pelos nazistas ao Partido Social Democrata, Leipart afastou dele os sindicatos e escreveu uma carta conciliatória a Hitler propondo a atuação sindical dentro da legalidade do novo regime. No primeiro de maio, na comemoração do dia do trabalhador, os sindicatos marcham junto com as S.A; no dia 2 de maio, as S.A. marcham sobre suas sedes.

Unidade e defesa intransigente da soberania popular são as palavras de ordem do tempo presente para aqueles que se situam dentro do campo popular e democrático.

***

Carlos Eduardo Martins é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Programa de Estudos sobre Economia Política Internacional (UFRJ), coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC/UFRJ), coordenador do Grupo de Integração e União Sul-Americana do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). É autor de Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina(2011) e um dos coordenadores da Latinoamericana: Enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe(Prêmio Jabuti de Livro do Ano de Não Ficção em 2007) e co-organizador de A América Latina e os desafios da globalização (2009), ambos publicados pela Boitempo. É colaborador do Blog da Boitempo quinzenalmente, às segundas.

Antifascismo O México também colocou o Exército nas ruas contra o tráfico: a história daquele fracasso

Antifascismo

O México também colocou o Exército nas ruas contra o tráfico: a história daquele fracasso

Mais de 11 anos depois de mandar o Exército às ruas para combater o tráfico a violência continua sangrando o país

 
28/02/2018 10:00
Carl de Souza/AFP
 
Quando o México acordou, os traficantes e o Exército nas ruas continuavam lá. Quase onze anos após Felipe Calderón decidir em seu décimo dia como presidente, em 10 de dezembro de 2006, enviar 6.500 soldados a sua Michoacán natal para sufocar a violência e a impunidade, o balanço da chamada “guerra contra o tráfico” não pode ser mais desalentador. Quase 200.000 mortos, 23.000 desaparecidos, numerosas denúncias por violações dos direitos humanos, casos emblemáticos como os 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos há quatro anos, o mês de janeiro de 2018 mais violento desde 1991 com mais de 2.000 mortos e cartéis da droga cada vez mais fragmentados e incontroláveis que todos os dias mancham de sangue a geografia mexicana.

A controversa decisão de Calderón, um dos presidentes mais impopulares a sentar-se na cadeira da águia, e na qual muitos viram uma tentativa de se legitimar no poder após uma eleição apertada que venceu por poucos votos, foi como uma pedrada em uma colmeia cujas picadas mortais chegaram a toda a sociedade mexicana. Durante dois meses, quase 20.000 soldados foram recebidos como heróis por uma população cansada de violência e de massacres desde 2005 e de forças de segurança corruptas. O sonho logo acabou: abusos dos militares, que aumentaram em 600% entre 2003 e 2013 de acordo com organizações como a Anistia Internacional, falta de preparação e de um marco legal, efetivos reduzidos para territórios grandes, população rural desalojada e erupção dos chamados grupos de autodefesa em Guerrero, Oaxaca e Michoacán, no sul do país, na realidade, pessoas dispostas a fazer justiça com suas próprias mãos, muitas vezes cumprindo ordens dos traficantes.

O veneno contaminou os seis anos de mandato de Enrique Peña Nieto, do PRI, que ao assumir prometeu mudar essa estratégia, fracassada segundo todos os parâmetros, mas cuja recente e polêmica Lei de Segurança, agora na Suprema Corte de Justiça, questionada por várias ONGs, apesar de pretender dar um respaldo jurídico à ação do militares, causou um profundo mal-estar no interior das Forças Armadas que são enviadas para lutar uma guerra assimétrica para a qual não estão preparadas. Os diferentes candidatos às eleições presidenciais de 1 de julho ainda não se pronunciaram sobre o assunto por imperativo legal, mas o favorito, Andrés Manuel López Obrador, do Movimento de Regenerarão Nacional (MORENA) insinuou uma anistia aos chefes do narcotráfico que causou incômodo.

A insegurança se transformou em uma obsessão aos mexicanos que veem como, apesar da mobilização de mais de 50.000 soldados em suas cidades, a violência continua e penetra em antigos santuários de tranquilidade como a Cidade do México e as regiões turísticas de Cancún e Los Cabos onde já é comum ver tanques e turistas. O Governo de Peña Nieto se orgulha de ter prendido 101 dos 122 chefes mais procurados, entre eles, ano passado, o famoso Joaquín El Chapo Guzmán, chefe do poderoso Cartel de Sinaloa, agora preso nos Estados Unidos após várias fugas e recapturas. “Missão cumprida”, publicou à época o presidente em sua conta no Twitter. Mas como aconteceu com George W. Bush no Iraque, os números e a realidade desmentem o presidente.

De fato, muitos ‘think thanks” classificam o México como um dos países mais mortíferos do mundo, também para a imprensa (12 jornalistas mortos somente em 2017, números comparáveis aos da Síria), ao que é preciso acrescentar 63.000 mortos em seus três primeiros anos de mandato (50% a mais do que no mesmo período de Calderón). Enquanto isso, a droga continua fluindo livremente aos Estados Unidos e a estratégia seguida pelo Gabinete de Peña de atacar os cartéis e fragmentá-los, mais do que enfraquecê-los, voltou a agitar a colmeia, com grupos cada vez mais autônomos e, portanto, menos manejáveis e previsíveis. Essa é a razão pela qual muitos no México acreditam que a melhor guerra contra as drogas é fazer as pazes com os chefes do tráfico e deixar seu lucrativo negócio como está, como acontecia nos tempos do velho PRI. Porque, uma vez que você coloca o Exército nas ruas, quem o devolve aos quartéis?


Créditos da foto: Carl de Souza/AFP

O verdadeiro inimigo da classe trabalhadora


SEGUNDA-FEIRA, 5 DE MARÇO DE 2018

O verdadeiro inimigo da classe trabalhadora


Por Adilson Araújo, no site da CTB:


O editorial do Jornal Estado de São Paulo publicado nesta quarta-feira (28), com o título os "Sindicatos contra o trabalhador", é mais uma peça venenosa contra o livre direito à organização contido em nossa Constituição. O qual, pelo teor do editorial, deve ser desconhecido pelo autor do famigerado texto.

Ao afirmar que as “centrais sindicais estão aconselhando seus filiados a aprovarem, por votação em assembleia extraordinária, a manutenção da cobrança da contribuição sindical”, o Estadão esquece que tal orientação se baseia no ART. 8º da Constituição Federal, que orienta sobre a autonomia sindical, a livre organização e o direito da fixação da contribuição sindical:

É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
(***)
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;

É bem verdade que o famigerado editorial usa a lei 13.467/17, que aprovou a reforma trabalhista que entrou em vigor dia 11 de novembro de 2017. Mas, o mesmo editorial esquece que nenhuma lei está acima da nossa Constituição. 

Esse não é somente o entendimento da CTB e do conjunto da classe trabalhadora. Essa opinião é compartilhada pelo presidente do Tribunal Superior do Trabalho, João Batista Brito Pereira, que já alertou: “se houver conflito, vale o que está na Constituição”.

Além disso, é conveniente lembrar que a Lei 13.467 não exige que a autorização para o desconto da contribuição sindical seja individual.

O editorial de hoje sinaliza, por um lado, o temor dos que defenderam a reforma trabalhista de que a lei 13.467/17 torne-se letra morta, e por outro, que, diferentemente, do que foi destilado pela mídia conservadora e a gestão ilegítima de Temer, o movimento sindical não está morto e nem desorganizado.

A terceira mentira contida neste editorial é a de que as centrais estão suprimindo as liberdades da classe trabalhadora ao sugerirem o debate e a votação, em assembleia, para a aprovação do desconto da contribuição sindical anual. 

Ou Estadão acha que a classe trabalhadora não tem capacidade ou poder de decisão, ou o autor do venenoso editorial entende que o sentido de democracia deve ser aquele no qual somente os seres iluminados decidam.

Os sindicatos são entidades que representam um setor. O mesmo ocorre, por exemplo, em um clube de futebol, onde seus representantes e filiados, em assembleia, decidem os rumos do seu time, cobram resultados e posições sobre as questões candentes àquele setor. Por que no movimento sindical seria diferente?

Após 110 dias da sua entrada em vigor, está confirmado o engodo que é a reforma trabalhista. Não gerou emprego, são mais de 30 milhões de brasileiros sem emprego ou em condições precárias de trabalho -; ampliou de forma brutal o subemprego; e piorou a qualidade de vida do brasileiro, que hoje vive sob o fantasma da crise e sem direito de sonhar. O trabalhador já sabe que seu verdadeiro inimigo é o capital e é contra ele que a luta deve ser empreendida.

Diante de tais constatações, se comprovou que, hoje, o trabalhador sozinho, sem uma entidade forte por trás de si, torna-se presa fácil para os maus patrões. Somente organizados em suas entidades representativas os trabalhadores e as trabalhadoras defenderão seus direitos e fortalecerão as negociações coletivas. É isso que está em jogo e, por sinal, é justamente contra isso que serve editoriais como o que foi publicado nesta quarta pelo Jornal Estado de São Paulo.

A classe trabalhadora já entendeu que somente com a base organizada e o Sindicato forte haverá proteção. E é com esse espírito que a CTB, em 10 anos, luta em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores e trabalhadoras de nosso Brasil.

A luta segue firme, vigilante e resistente!

* Adilson Araújo é presidente nacional da CTB.


TExto original: BLOG DO MIRO

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






Eppur si muove!
A história é muito conhecida, sendo lenda ou fato real. Diz a história que, levado diante da inquisição que o ameaçava com a fogueira caso mantivesse sua teoria sobre o sistema heliocêntrico, Galileu Galilei teria renegado todos os seus estudos para manter-se vivo. No entanto, ao terminar o julgamento, ele teria dito “Eppu si muove” (no entanto ela se move)!
Lembramos desse fato durante a semana ao ver os absurdos fatos que envolvem o governo golpista e todos os seus cúmplices, mesmo aqueles entre os quais esperávamos um pouco mais de equilíbrio ou mesmo respeito pelo conhecimento.
Um certo senhor Mendonça Filho, administrador de empresas filiado ao DEM e nomeado ministro da Educação pelo manequim de funerária resolveu mostrar toda a sua “otoridade” e ameaçou censurar e até mesmo levar à “justissa” o professor Luís Felipe Miguel, do Instituto de Ciência Política, da Universidade de Brasília (UnB) que anunciou para o primeiro semestre de 2018 a inclusão de uma nova disciplina sobre “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”. As declarações do estapafúrdio ministro provocaram uma reação surpreendente: nada menos do que 15 outras unidades federais e estaduais já decidiram incluir um curso igual ou similar em sua programação!
Entrevistado pelo Jornal do Brasil, Gaudêncio Frigotto, professor de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), disse que esse movimento pode ser ainda maior. “Se ele vai censurar um curso dessa natureza, deveria então suspender a bibliografia dele (do curso). Por isso que há uma reação em cadeia e não poderia ser diferente e vai ser ainda maior”, garante ele ao anunciar que a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) também vai aderir à disciplina.
Será que nenhum assessor do “senhor ministro” teve capacidade de alertá-lo para um documento simples e conhecido por todos desde 1988 chamado Constituição da República Federativa do Brasil? Será que o sinistro, desculpem, o ministro, mesmo tendo dois mandatos como deputado estadual, um com deputado federal e um de vice-governador nunca ouviu falar na Carta Magna?
Só para lembrar, a autonomia universitária está prevista no Artigo 207, da Constituição: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. O que significa dizer que as unidades têm autonomia para propor e aprovar conteúdos em seus órgãos colegiados. São consideradas espaços livres para o debate de ideias. “Creio que o ministro, se fosse mais prudente, deveria se preocupar mais com a política da educação do que se imiscuir na autonomia universitária”, disse Frigotto.
Para fazer suas ameaças, Mendonça usa um argumento que nos lembra a velha censura na época do regime militar brasileiro. Diz que a Universidade não pode usar recursos públicos para fazer “militância política e ideológica”. E ele chegou a essa brilhante conclusão porque há dois tópicos da grade de programação da disciplina que o incomodaram muito. “O lulismo (I): reformismo fraco” e “O lulismo (II): promoção da paz social”. Ele descobriu, sabe-se lá por que meios, que isso faz parte de uma possível apologia a Lula e ao PT.
Para quem não conhece, a disciplina do professor da UnB, que está sendo copiada pelas demais universidades, além de ser optativa, é bem abrangente e abordará desde o golpe de 1964 e a Ditadura Militar, passando pela Nova República, a chegada do PT ao poder, as jornadas de junho de 2013, as eleições de 2014, até “o golpe de 2016, a gestão Temer e a adoção do estado mínimo”.
A realidade é que o desventurado ministro, que bem poderia ser mais um personagem de Stanislaw Ponte Preta em “Festival de besteiras que assola o país”, meteu-se onde não devia e provocou uma reação que acompanhamos agora com muita atenção.
O meio acadêmico, que com o restante do país parecia ainda anestesiado com o golpe ilegítimo, parece ter saído a inércia. Ou, como diria Galileu, “Eppur si muove”!
O perigo das notícias falsas. Em um número recente do nosso Informativo escrevemos um pequeno artigo alertando sobre o risco das chamadas “fake news” em nosso cotidiano e, principalmente, com a proximidade das eleições.
Agora estamos tomando conhecimento de uma pesquisa ainda mais recente que alerta para o risco das notícias falsas. Segundo um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), as notícias consideradas falsas (“fake news”) se espalham mais facilmente na internet do que textos verdadeiros. A instituição de ensino é reconhecida mundialmente pela qualidade de cursos de ciências exatas e de áreas vinculadas à tecnologia.
Os pesquisadores Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan Aral analisaram 126 mil mensagens (não apenas notícias jornalísticas) divulgadas na rede social Twitter entre 2006 e 2017. No total, 3 milhões de pessoas publicaram ou compartilharam essas histórias 4,5 milhões de vezes. O caráter verdadeiro ou falso dos conteúdos foi definido a partir de análises realizadas por seis instituições profissionais de checagem de fatos.
Os autores estimaram que uma mensagem falsa tem 70% mais chances de ser retransmitida (retuitada, no jargão da rede social) do que uma verdadeira. As principais mensagens falsas analisadas chegaram a ser disseminadas com profundidade oito vezes maior do que as verdadeiras. O conceito de profundidade foi usado pelos autores para medir a difusão por meio dos retuítes (quando um usuário compartilha aquela publicação em sua rede).
O alcance também é maior. Enquanto os conteúdos verdadeiros em geral chegam a 1.000 pessoas, as principais mensagens falsas são lidas por até 100.000 pessoas.
Os pesquisadores investigaram o perfil dos usuários para saber se estaria aí o motivo do problema. Mas, para sua própria surpresa, descobriram que os promotores desses conteúdos não são aqueles com maior número de seguidores ou mais ativos. Ao contrário, em geral são pessoas com menos seguidores, que seguem menos pessoas, com pouca frequência no uso e com menos tempo na rede social.
A pesquisa também examinou a disseminação por assunto. As mensagens sobre política circulam mais e mais rapidamente que as de outras temáticas. “Conteúdos falsos circularam significantemente mais rapidamente, mais longe e mais profundamente do que os verdadeiros em todas as categorias de informação. E esses efeitos foram mais presentes nas notícias falsas sobre política do que naquelas sobre terrorismo, desastres naturais, lendas urbanas e finanças”, constaram os autores.
Nosso Informativo já havia falado sobre isso, agora temos uma grave comprovação.
Por falar em mentiras... A matéria está em Monitor Mercantil e mostra como o governo ilegítimo “fabrica” notícias enganosas sobre a Previdência Social.
As receitas da Seguridade Social somaram R$ 657,9 bilhões em 2017, expansão de 7,2% em relação a 2016. No entanto, o Ministério do Planejamento afirma que os gastos avançaram em ritmo maior, 9%, e atingiram R$ 950,3 bilhões em 2017. Dessa forma, o governo fala que o déficit da Seguridade Social alcançou R$ 292,4 bilhões no ano passado, passando de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 para 4,4% em 2017. Tal déficit já foi desmentido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no ano passado. O consultor do Senado Luiz Alberto dos Santos estimava que, em 2017, o sistema de Seguridade Social registraria superávit de R$ 110 bilhões.
Para transformar uma conta positiva em negativa, e com isso defender a Reforma da Previdência, o governo golpista recorre a alguns estratagemas. Um deles é não colocar na conta as desonerações, incentivos fiscais e renegociação das dívidas das empresas, que retiraram do sistema cerca de R$ 150 bilhões. Essa fatura deveria vir do Orçamento da União.
Outra forma de inflar um suposto déficit é não levar em conta a Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite o remanejamento de até 30% das receitas do governo para outras áreas. O Ministério do Planejamento admite que, caso todas as receitas tivessem permanecido no sistema, o déficit cairia para R$ 192,1 bilhões em 2017, ou R$ 100 bilhões a menos do que o divulgado.
Continua a violência no campo. Ao menos seis trabalhadores sem terra foram feridos por homens armados acusados que atacaram um grupo de cerca de 120 pessoas que, desde 18 de fevereiro, ocupa fazenda Norte América em Capitão Enéas, no norte de Minas Gerais. O ataque aconteceu na tarde de quinta-feira (8).
Segundo a Polícia Militar, vários homens chegaram à fazenda a bordo de um caminhão-baú e começaram a atirar contra os camponeses. Dois integrantes da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade foram baleados, entre eles o coordenador do movimento, Thiago Coimbra Silva, de 32 anos. Atingido na cabeça e na perna, ele foi levado em estado grave para o Hospital e Santa Casa Nossa Senhora da Guia, em Capitão Enéas. Em seguida foi transferido para outro estabelecimento de Montes Claros e submetido a uma cirurgia.
Outros quatro sem terra sofreram ferimentos leves, entre eles dois adolescentes que afirmam ter sido agredidos com coronhadas na cabeça, um idoso José Felizardo Cunha, de 76 anos, e uma senhora Maria Joana Soares Ferreira, de 59 anos. Os quatro feridos receberam atendimento médico em Capitão Enéas e liberados em seguida.
Sete funcionários da Fazenda Norte América foram detidos, entre eles o motorista do caminhão, que foi encontrado a alguns quilômetros do local do ataque, com o para-brisas trincado. Os detidos são, segundo a Polícia Militar, suspeitos de participar do ataque. O advogado dos administradores da fazenda, Robson Alves Lima, compareceu voluntariamente à delegacia de Montes Claros, onde prestou informações aos investigadores.
MST ocupa Fazenda Esmeralda, ligada a Michel Temer. Na manhã de quarta-feira (7), o MST ocupou a Fazenda Esmeralda, entre Lucianópolis e Duartina-SP. Cerca de 350 Sem Terras participam da ação, que reivindica que a área seja destinada para a Reforma Agrária.
Recentemente a imprensa divulgou que a fazenda foi citada nas delações de Ricardo Saud e Joesley Batista, em âmbito do inquérito que investiga MP dos Portos. Saud e Joesley relataram conversas com o Deputado Paulinho da Força (SD), onde este afirma que a Fazenda Esmeralda é de propriedade de Michel Temer.
Oficialmente a Fazenda Esmeralda pertence a empresa Argeplan, de um “amigo pessoal” do manequim de funerária, João Batista Lima Filho, o Coronel Lima. Há pouco tempo, Temer e Lima tiveram o afastamento de seus sigilos bancários e fiscais solicitados pelo ministro Luis Roberto Barroso, relator do inquérito no STF.
O ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures, e outros dois ex-executivos da empresa Rodrimar, concessionária do porto de Santos, também tiveram seus sigilos quebrados.
“Esta é a terceira vez que o MST ocupa a fazenda Esmeralda, denunciando a ilegitimidade do governo golpista de Temer e nos posicionando contra a sua agenda de retrocessos para a classe trabalhadora”, informa a dirigente do MST, Joana Costa.
“Chumbo Grosso”? A denúncia está sendo feita pela revista Carta Capital que fala sobre a existência de um novo movimento chamado “Brasil 200”, um grupo de empresários aliados ao Movimento Brasil Livre (MBL), que está montando um plano para criar uma campanha favorável à intervenção federal decretada pelo ilegítimo no Rio de Janeiro. O projeto inclui a implantação de medidas radicais na área de segurança pública, ao menos uma delas inconstitucional, acoplada a uma campanha de comunicação “de guerrilha” pró-intervenção. As informações estão em documento divulgado na quarta-feira (7) pelo jornal Folha de S. Paulo.
O documento é uma apresentação de PowerPoint de 24 páginas, intitulado Plano Nacional Emergencial de Segurança e Combate ao Crime. Há cinco objetivos, sendo o mais destacado deles “reduzir o impacto do crime no desenvolvimento econômico”. Há no início da apresentação um esboço do sistema de segurança público brasileiro e recomendações genéricas a respeito de mudanças que devem ser realizadas.
A maior parte do documento se dedica a defender mudanças na legislação penal e nas práticas de segurança pública. Entre as propostas estão ocupações militares por forças especiais do Exército e da Marinha no Rio de Janeiro, o fim do sigilo advogado-cliente e do Estatuto do Desarmamento, a redução da maioridade penal e o fim das medidas socioeducativas a menores infratores.
O grupo quer ainda acabar com a progressão de regime, com os indultos aos presos, com o auxílio-reclusão pago a dependentes de presos nos regimes fechado e semiaberto e com o limite de 30 anos de cadeia previsto no Código Penal, entre várias outras propostas.
A parte final do documento é dedicada a uma estratégia de comunicação que tem como objetivo “criar uma campanha de engajamento” da população do Rio de Janeiro “evocando o espírito patriótico e aumentando assim a percepção positiva da operação”.
O documento detalha uma série de iniciativas através da mídia e de redes sociais para tentar “desconstruir” as denúncias sobre as ações do Exército contra os moradores de comunidades e chega ao ponto de propor uma visita do manequim de funerária a “áreas pacificadas” para “prestigiar as tropas e inspirar patriotismo”.
O Movimento Brasil Livre é um grupo próximo a Michel Temer. O PMDB, hoje MDB, partido do presidente, foi um dos vários que financiou o MBL na campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff, como mostrou reportagem do portal UOL publicada em 27 de maio de 2016. Já no poder, em setembro de 2016, Temer pediu a consultoria do MBL para tornar as reformas trabalhista e da Previdência mais palatáveis para a população.
O Brasil 200 é formado por uma maioria de empresários, gente que “resolveu tomar o lado do Brasil e não se omitir da construção de uma agenda política que ponha a nação em primeiro lugar”.
Uma correção: no último número do Informativo cometemos um engano ao falar que o “juíz” Sergio Moro e sua esposa recebem o auxílio moradia. Na verdade, quem recebe duplamente o auxílio são os Bretas (Marcelo Bretas, juíz responsável pelos julgamentos da Operação Lava Jato, e sua esposa, também juíza). Grato ao companheiro e amigo Glauco.
Venezuela (1). Já comentamos em nosso Informativo, há algum tempo, que um dos maiores interesses estadunidenses na Venezuela é o problema do petróleo. Desde 2011 falamos sobre os descobrimentos de jazidas riquíssimas no país latino-americano.
O boletim estatístico anual da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) dizia que, em 2010, as reservas comprovadas de petróleo da Venezuela ultrapassaram as da Arábia Saudita e se tornaram as maiores do mundo. Segundo a Opep, as reservas comprovadas de petróleo da Venezuela alcançaram 296,5 bilhões de barris naquele ano, com crescimento de 40,4% no ano, enquanto as reservas sauditas ficaram em 264,5 bilhões de barris.
Especialistas no assunto dizem ainda que o petróleo venezuelano é ainda melhor e mais fino do que os que chegam aos EUA vindo do Oriente Médio, o que torna mais barato o refino.
Vale ainda lembrar que, desde 2007, o Governo Bolivariano da Venezuela nacionalizou todas as empresas petrolíferas que atuam na bacia do Orinoco e que essa receita é usada para beneficiar a população, não para enriquecer multinacionais.
Venezuela (2). No extremo norte da América do Sul, a Venezuela tem posição estratégica privilegiada na entrada do Mar do Caribe e Golfo do México, prioridade militar naval dos EUA desde o século XIX. Só para lembrar, todos os navios comerciais que se dirigem ao Canal do Panamá (ou de lá estão vindo) passam pelas costas da Venezuela. E o movimento será ainda mais intenso quando for inaugurado o canal que está em construção na Nicarágua.
Na geopolítica estadunidense, a Venezuela tem fronteiras com dois países indispensáveis: a Colômbia – com entrada para os dois oceanos (Pacífico e Atlântico), além de ser fonte importante para manter o narcotráfico internacional que alimenta quase 80% do consumo estadunidense; o Brasil – um eterno alvo de Washington não só pelas riquezas naturais e os grandes reservatórios de água, mas por seu imenso litoral que serve aos interesses estratégicos/militares.
Venezuela (3). Nas últimas semanas o governo de Washington redobrou sua atenção e suas ações para provocar uma crise e poder controlar uma possível “mudança de regime” na Venezuela.
Não faz muito tempo o próprio Trump parecida descartar uma possibilidade de intervenção militar, mas os analistas começam a achar que a alternativa não está totalmente descartada.
Um dos principais aliados estadunidenses na política venezuelana, Henri Falcán, é candidato nas eleições presidenciais, mas parece não contar mais com o apoio total de Trump que está mais inclinado a defender os “democratas” que decidiram boicotar as eleições, o que daria a desculpa que Washington precisa para provocar uma intervenção com a ajuda dos “países amestrados” (Brasil, Colômbia, Peru e outros).
Só para lembrar, Falcón é oficial do exército venezuelano, aposentado e ex-governador do estado de Lara. Algumas pesquisas o mostram liderando a preferência e isso coloca uma dúvida na cabeça dos analistas: por que os EUA estariam “rifando” esse candidato e preferindo a “oposição” que vai se esconder das eleições?
Venezuela (4). Só para lembrar, desde agosto de 2017 Trump impôs uma violenta campanha contra a Venezuela, decretando sanções financeiras e forçando os “países amigos” a boicotar qualquer relação comercial com o país de Maduro.
Por mais inacreditável que pareça, com toda a crise internacional no preço do petróleo, Trump está pensando em uma nova “arma” contra a Venezuela: vai provocar um bloqueio às vendas de petróleo venezuelano através dos seus países capachos. A medida só não foi ainda posta em prática, segundo alguns analistas, porque prejudicaria algumas empresas estadunidenses especializadas em refino que importam o petróleo venezuelano.
Mas, para derrubar o regime bolivariano e dar uma nova lição de obediência à América Latina vale tudo, não é?
Pobre México! Viver ao lado do país mais violento do planeta e o maior incentivador do uso de armas no planeta, realmente, não é uma situação das mais fáceis. Não só o Brasil e outros países pelo mundo vivem os problemas causados pela imensa exportação de armas daquele país.
Sim, dizemos Brasil, também, porque ninguém deve se iludir sobre a origem das muitas e muitas armas que estão nas mãos dos traficantes em nosso país. De nada adianta intervenções militares artificiais decretadas pelo manequim de funerária no Rio de Janeiro se imensas quantidades de armas vindas dos EUA continuam chegando aos bandidos, muitas vezes trazidas pelos próprios militares, como comprovam recentes notícias em nossos jornais.
Mas devemos deixar a questão do Rio de Janeiro de lado e voltar os olhos para o que acontece no México, pobre México.
Segundo as notícias que estamos recebendo, em 2017 o país viveu um dos anos mais violentos de sua história, com o maior número de homicídios das últimas décadas. A maior parte dessas mortes foi provocada por armas fabricadas nos EUA ou que foram vendidas através da “grande nação”.
Os dados foram recolhidos pelo Secretariado Executivo do Sistema Nacional de Segurança Pública e mostram que o aumento do uso de armas de fogo provenientes dos EUA já é preocupante. Em 1997, o número de homicídios por armas de fogo foi de apenas 15% do total no país. Em 2007 o percentual já havia saltado para 39% e, em 2016, chegou a 61%. Em 2017 os casos registrados foram superiores a 66%!
Mas não só os homicídios viram o aumento do uso de armas de fogo. Também as estatísticas de roubos deram um salto de 58%, em 2005, para 68% no ano passado.
Um levantamento superficial realizado pela polícia mexicana diz que o total de armas de fogo em poder da população já chega a um milhão! Armas, devemos dizer mais uma vez, provenientes dos EUA.
Colômbia: FARC desiste de disputar eleições presidenciais. A Força Alternativa Revolucionária da Colômbia (FARC), partido político surgido a partir do acordo realizado entre as FARC-EP e o governo colombiano, anunciou que não vai mais disputar as eleições presidenciais no país no dia 27 de maio.
O principal motivo da retirada da candidatura é o estado de saúde do candidato Rodrigo Londoño, conhecido como comandante Timochenko, que está com problemas cardíacos e impossibilitado de participar dos muitos compromissos de campanha.
Mesmo retirando a candidatura à presidência, a FARC está mantendo seus candidatos para as eleições ao Congresso colombiano e conclama a população a votar em massa, ainda que continue denunciando que o acordo assinado não está sendo cumprido pelo governo.
Há uma completa falta de garantias eleitorais na Colômbia e a violência política contra o partido é uma realidade, com constantes assassinatos de ex-membros do grupo insurgente e de lideranças sociais.
Na Europa, mais um ataque às mulheres trabalhadoras. Muitos pensam que apenas nos países mais pobres a mulher e explorada e vai perdendo seus direitos, mas a verdade é que o ataque do sistema ao conjunto da classe trabalhadora não tem fronteiras e nem limites.
Agora estamos recebendo a notícia que se abriu uma nova janela ou uma verdadeira porteira para os patrões europeus dispostos a demitir “de forma legal” as mulheres trabalhadoras que engravidarem. Ou, como diria o canalha bostonaro, mulher tem que ganhar menos porque engravida.
O “magnífico” Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) aprovou, no dia 22 de fevereiro de 2018, uma decisão de extrema violência contra as trabalhadoras. Acredite quem quiser, mas, em resposta a uma consulta de um tribunal espanhol, o TJUE considerou “legal” a demissão, em 2013, de uma mulher grávida numa empresa espanhola, como parte das demissões em massa executados pelos empregadores. Ao mesmo tempo, com o ultrajante raciocínio de que a demissão de uma trabalhadora grávida é permissível desde que a razão declarada para a mesma não seja a sua própria gravidez, o TJUE abre o caminho para o lançamento generalizado de demissões de mulheres grávidas, o que já está sendo feito por grandes empresas.
A realidade é que, para fazer frente à crise econômica que envolve toda a Europa, as grandes empresas encontraram uma única forma: reduzir salários e demitir trabalhares/trabalhadoras.
Lá como cá. O escritório europeu de estatísticas da Eurostat confirmou que por cada euro recebido por homens trabalhadores, na União Europeia, uma mulher ganha, em média, 0,84 centavos. Os números foram recolhidos em 2016, mas a situação pode ser ainda pior.
As pesquisas mais atuais mostram que a diferença entre os salários de homens e mulheres no conjunto dos países da União Europeia é, em média, de 16%. Os números são muito diferentes: Romênia – 5,2%; Itália – 5,3%; Bélgica – 6,1%; Polônia – 7,2%; Malta – 11%; Suécia – 13,3%; Espanha – 14,2%; Dinamarca – 15%; França – 15,2%; Estônia – 25,3%; República Tcheca – 21,8%; Alemanha – 21,5% e Reino Unido – 21%.
Nosso Informativo antecipou. Será que pode haver uma reaproximação entre as duas coreias? Teria sido a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno uma porta para dar “dor de cabeça” à indústria armamentista estadunidense? Os planos de Washington para manter uma guerra permanente na região estaria naufragando?
A verdade é que o presidente estadunidense, Donald Trump, aceitou na quinta-feira (15) se reunir com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, provavelmente em maio. O local ainda não foi definido. O convite para um diálogo não é inédito, mas pela primeira vez um presidente estadunidense aceita a proposta de negociação.
Certamente que a reunião marcará dura derrota para os “falcões” que dominam a política externa dos Estados Unidos. Especialistas acreditam que, como reação, novas denúncias contra Trump surgirão na imprensa local. A decisão do presidente foi saudada pela China e pela Coreia do Sul.
Kim Jong-un admite interromper o programa nuclear de seu país se os Estados Unidos derem garantias de que a segurança da Coreia do Norte estará garantida. Este é o ponto central das negociações, que terão que envolver a presença dos EUA na Coreia do Sul.

A FOTO DIZ TUDO!

Essa foto que está no artigo do jornalista Eucimar Oliveira é tão expressiva que merece um destaque especial: precisa não ser humano para não dar importância à expressão de medo das crianças.


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Balas sempre; escolas, nunca

Balas sempre; escolas, nunca. Por Eucimar Oliveira

Do jornalista Eucimar Oliveira, no jornal Toda Palavra:
As marcantes paisagens do Rio de Janeiro inspiram sentimentos diversos. O Cristo, o Pão de Açúcar e praia remetem ao deslumbramento; a quantidade infindável de favelas, de sul a norte e de leste a oeste, causam indignação. São concentrações de miseráveis sem oportunidades, sem esgoto, água potável, escolas, creches, postos de saúde e áreas de lazer. A tudo isso juntou-se um outro elemento urbano: a presença ostensiva de militares, especialmente em áreas pobres. E isso, ao carioca, traz a sensação de monotonia.
Há anos, moradores, um dia sim e o outro também, cruzam com blindados e colunas de jipes e caminhões com soldados muito bem armados. E já não há espanto ou curiosidade. Operações de cerco, em especial, ocorrem com a mais absoluta frequência há tempos. E seus efeitos não são sentidos ou percebidos.
Um exemplo: a ocupação do Complexo da Maré durou mais de 12 meses. Consumiu meio bilhão de reais. E seus resultados práticos estão aí à frente de todos. Mas invisíveis.
O local continua como um dos mais violentos da cidade. E nem de um relatório superficial sobre a quantidade de armas e drogas apreendidas e criminosos presos se tem a mais vaga informação.
É um lado da lei do silêncio que funciona mal. Mas, por enquanto, há outro e que opera bem: a resistência do comandante Walter Braga de municiar jornais, rádios e emissoras de televisão com declarações belicosas e imagens de ações violentas que saciem a sede de sangue dos poderosos.
Diz o general interventor, que o Rio pode servir de laboratório para o Brasil. Indiretamente acena com outras intervenções. Há estados bem mais violentos, mas a escolha do RJ foi um laboratório político, e isto parece claro, para o estrategistas do Planalto. O Rio repercute e, mesmo que fugaz, uma sensação de maior segurança, pode resultar em alguns pontos positivos para o mais impopular governo da história. E, talvez, para ambições maiores.
Por enquanto, nada. A mais recente pesquisa (CNT/MDA) mostra a popularidade presidencial do tamanho do presidente. Retrato numérico do nanismo.
Mas todos apostam na intervenção como se fosse uma cama elástica, suficiente para levar às alturas seus idealizadores.
Está nos jornais que o ministro Moreira Franco já cogita sua candidatura ao Senado. Acredita que um suposto sucesso das baionetas lhe trará uma megasena eleitoral e urnas recheadas de votos. É uma aposta com poucas possibilidades de acerto. Dará errado se o eleitor fizer um exercício de memória. E as linhas que se seguem são um auxílio neste sentido.
Moreira governou o Rio e assumiu com uma promessa risível, mas na qual muitos acreditaram: acabar com o violência em seis meses. Um engodo. O crime não foi contido, Ao contrário, ganhou força.
Foi também na gestão moreirista que o mais audacioso programa de educação do Estado viu-sei impiedosamente abandonado. Os Cieps de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, uma chance de se derrotar a marginalidade na disputa pelos jovens, perdeu sua função. O programa pedagógico e de inclusão social que esta escola representava foi calcinado.
A Moreira, sucederam outros governadores, como Marcello Alencar, Garotinho e Rosinha, Sérgio Cabral e Pezão. No plano municipal, pela prefeitura passaram Cesar Maia, Eduardo Paes e agora o anódino Marcelo Crivella. Nenhum, absolutamente nenhum, fez o mais simples do movimento para a recuperação do projeto educacional.
Se nada fizeram pela educação, pela segurança o desastre produzido por eles não foi em escala menor. Não custa lembrar, que sob o tacão de Marcello Alencar, o Rio de Janeiro criou um dos instrumentos mais odiosos e sanguinários na área de repressão à delinquência: a chamada gratificação faroeste. Policiais fermentavam seu numerário mensal por produtividade. E entre os índices contabilizados para os ganhos estava o confronto.
Foram centenas de autos de resistência contra pobres e negros favelados. Muitos dos cadáveres com tiros pelas costas ou à queima-roupa. Dezenas destas vítimas sequer portavam antecedentes criminais. (Apenas em favor da verdade: a gratificação faroeste foi revogada no governo Garotinho. Talvez a única coisa realmente efetiva que tenha realizado na área de segurança em sua gestão.)
A solução de Marcello Alencar foi efetivada com a Secretaria de Segurança sendo ocupada por um general e a chefia de polícia (inacreditável) por um delegado ligado às forças de esquerda. Ou seja: a estupidez não tem matiz ideológico. Ela é democrática para estúpidos de qualquer coloração partidária.
Anos depois, uma nova fórmula da alquimia contra o banditismo começou a ferver no caldeirão do Palácio Guanabara, então ocupado pelo presidiário Sérgio Cabral. Deste abracadabra surgiram as Unidades de Polícia Pacificadora. Falácia. Muita polícia, e mal treinada, nas favelas, vivendo em galpões metálicos insalubres. E mais uma vez nenhuma escola, nem um posto de saúde, creche nem pensar. Esgoto e água de qualidade, uma quimera. E tudo sob os aplausos de sabujos formadores de opinião.
Cenas de hasteamento da bandeira nacional em morros, como se fossem a tomada de Monte Castelo ou de Iwo Jima, aplausos para o secretário de segurança em casas de show, capas de jornais com fotos enormes de policiais matadores glorificados marcaram o tempo recente do cotidiano do Rio.
A vida era assim. E assim só poderia se deteriorar.
Um caso emblemático para ilustrar: um detetive conhecido pelo apelido de Trovão certo dia, 24 horas após abater alguns “inimigos” numa comunidade da Zona Norte, teve um pôster seu estampado na capa de jornal. Estava numa das mais luxuosas charutarias da cidade. Na imagem, baforadas de um legítimo cubano de muitos e muitos reais. Sequer ocorreu ao repórter ou ao seu editor perguntar: o que você recebe por mês dá para custear o hábito de charutos caros? Pois bem, meses depois o tal Trovão era recolhido aos costumes por diversas acusações, uma delas ao ser pilhado em uma gravação em clandestina negociação de armamento.
Estes eram os nossos heróis.
Quais serão os próximos?