domingo, 1 de setembro de 2019

Lula ao povo nordestino: "Em breve, estarei nas águas do São Francisco"

Lula ao povo nordestino: "Em breve, estarei nas águas do São Francisco"

“Hoje eu só posso estar com vocês em pensamento, mas muito em breve estarei aí em carne e osso, molhando o corpo nas águas abençoadas do velho Chico”, leu emocionado o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB) diante da multidão que acompanhou a passagem da caravana Lula Livre por Monteiro (PB)
"A grande celebração, entre Lula e o povo nordestino, da chegada das águas do rio São Francisco ao semi-árido será apontada como um pretexto para o lançamento de sua candidatura a presidente em 2018. Mais do que isso, porém, o ato de Monteiro (PB) foi uma questão de justiça histórica, que Temer tornou necessária com sua mesquinha inauguração oficial da semana passada, em que sequer mencionou o nome de seu principal realizador", diz a colunista Tereza Cruvinel; "O comparecimento maciço a um encontro com quem não mais governa, a força política da manifestação e os claros sinais da saudade de Lula sugerem que a oposição começa a sair da defensiva para tomar a dianteira, depois da derrota imposta pelo golpe de 2016"
"A grande celebração, entre Lula e o povo nordestino, da chegada das águas do rio São Francisco ao semi-árido será apontada como um pretexto para o lançamento de sua candidatura a presidente em 2018. Mais do que isso, porém, o ato de Monteiro (PB) foi uma questão de justiça histórica, que Temer tornou necessária com sua mesquinha inauguração oficial da semana passada, em que sequer mencionou o nome de seu principal realizador", diz a colunista Tereza Cruvinel; "O comparecimento maciço a um encontro com quem não mais governa, a força política da manifestação e os claros sinais da saudade de Lula sugerem que a oposição começa a sair da defensiva para tomar a dianteira, depois da derrota imposta pelo golpe de 2016" (Foto: Tereza Cruvinel)
Rede Brasil Atual - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou hoje (1) carta ao povo nordestino, que protesta contra a suspensão do bombeamento das águas do rio São Francisco pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). “Hoje eu só posso estar com vocês em pensamento, mas muito em breve estarei aí em carne e osso, molhando o corpo nas águas abençoadas do velho Chico”, leu emocionado o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB) diante da multidão que acompanhou a passagem da caravana Lula Livre por Monteiro (PB).
No ato político, Fernando Haddad criticou Bolsonaro, “um pobre coitado, um cabra ruim, que não tem empatia, não consegue se colocar no lugar de ninguém, do negro, do índio, do LGBT”. “Não consegue se colocar no lugar de um nordestino que levou 500 anos para ter um presidente olhando para cá. E não foi só para ter água. Trouxe luz, educação, universidades, escolas técnicas”.
Para Haddad, a suspensão do bombeamento traz sérias consequências à população. “O que está acontecendo aqui é tão grave quanto o que esta acontecendo na Amazônia. Temos de dizer isso para os gringos, que nós aceitamos que o mundo olhe para nós com carinho, mas que tem de olhar também para o Nordeste. O Brasil inteiro precisa de cuidado”.
Leia a íntegra da carta de Lula:
A oportunidade que me foi dada pelo povo brasileiro de governar esse país fez de mim  um homem feliz. Vocês não imaginam a alegria que eu sentia quando assinava um decreto para beneficiar milhares ou milhões de pessoas ou quando inaugurava uma universidade, uma escola técnica, uma refinaria, um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida, porque eu sabia que qualquer um  desses atos, por mais simples que fosse, estava contribuindo para a construção de um Brasil melhor e mais justo.
Poucas coisas na vida me fizeram tão feliz quanto tirar do papel um sonho de muitas gerações e tornar realidade a transposição do rio São Francisco. Uma das melhores lembranças que tenho é ainauguração popular que fizemos em 2017, aí em monteiro, com a presença da ex-presidenta Dilma, do ex-governador Ricardo Coutinho e de muitos de vocês que aí estão de novo, desta vez protestando e exigindo de volta aquela alegria que estão roubando de nós.
Ver a criançada mergulhando e o povo dançando e bebendo daquela água que o sertanejo esperava desde a época do Império. Nada disso tem preço. Não há dinheiro no mundo que pague os abraços que naquele dia eu recebi de tanta gente molhada do suor do seu trabalho e encharcada das águas do São Francisco. Tenho certeza de que aquelas cenas que vivemos, que estarão guardadas para sempre na minha memória, foram vistas com ódio pelos nossos adversários e hão de ter contribuído para que eu fosse preso sem nenhum crime cometido.
Fico imaginando a elite desse país vendo aquela felicidade toda e dizendo: temos que prender esse Lula senão ele vai ser presidente outra vez e a gente não vai poder mais tirar dinheiro do trabalhador e entregar para o mercado financeiro. Por isso me prenderam e querem a todo custo impedir que o povo volte a governar esse país. É por isso que estão tentando destruir tudo o que fizemos.
Estão queimando a Amazônia, que defendemos como nenhum outro governo, estão desmontando a construção civil que gerou milhões de empregos. Estão entregando o pré-sal, cujos recursos viriam para a saúde e a educação. Estão sufocando as universidades porque geram conhecimento e estão agora ocupadas pelas filhas e filhos do povo trabalhador.
Por isso eles não querem as águas do São Francisco correndo pelo sertão, porque não querem o povo feliz, produzindo, conquistando a sua autonomia. Naquele dia, em 2017, eu disse: nunca quis tirar nada do sul ou de São Paulo. O que eu quero é que o povo nordestino seja tratado em igualdade de condições.
Aqui tem de ter universidade, tem que ter indústria, tem que ter escola técnica, tem que ter mestres e doutores, tem que ter crianças de barriga cheia, pois eu continuo querendo e estou certo de que nós vamos desfazer cada maldade que fizeram com o Nordeste e que fizeram com o Brasil. Hoje eu só posso estar com vocês em pensamento, mas muito em breve estarei aí em carne e osso, molhando o corpo nas águas abençoadas do Velho Chico.
Um grande abraço.
Luiz Inácio Lula da Silva

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Política Internacional
SEXTA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE 2019
Boletim de Política Internacional #64
Relatório exclusivo de política externa, um dos benefícios criados para quem apoia o jornalismo transparente, crítico e analítico. Os temas mais relevantes do planeta analisados por especialistas e por jornalistas de CartaCapital, com profundidade e ineditismo que você não encontra no noticiário. Sugestões de temas, críticas e outros comentários podem ser enviados para o editor Gabriel Bonis (gabriel.bonis@cartacapital.com.br).
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THE INTERCEPT_BRASIL O Rio vive em trauma de guerra

Sábado, 31 de agosto de 2019
O Rio vive em trauma de guerra

Eu cresci em uma favela da zona norte do Rio de Janeiro frequentemente invadida por operações da PM. Sempre convivi com pesadelos e flashbacks de situações de trauma. A minha visão de mundo se baseou na ideia que o perigo está por todos os lados e as pessoas são más – e, por isso, me acostumei a ficar sempre em um estado hipervigilante e evitar situações que me lembrassem os momentos de maior medo.

Foi só agora, pesquisando sobre saúde mental nas favelas, que eu descobri que isso tudo tem um nome: transtorno de estresse pós-traumático, o Tept, principal doença psiquiátrica associada à violência no mundo.

Uma pesquisa feita em 2017 pelo instituto de psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o IPUB, mostrou que eu não estou sozinho. Cerca 550 mil pessoas no estado sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, o Tept. Os dados são de 2017, mas a sensação de adoecimento da população em 2019 é bem maior.

Não poderia ser diferente. De janeiro a julho deste ano a polícia fluminense matou 1.075 pessoas, maior número de mortes cometidas pela polícia em 20 anos. Isso é quase metade das mortes violentas em todo o Rio em 2019! A população das favelas clama por paz, mas no plano de governo de Wilson Witzel só tem espaço para a guerra.

Em todos os momentos da história em que uma população se viu em guerra, foi o Tept que apareceu com mais força, como por exemplo na Guerra Civil Americana, quando foi chamado de síndrome do coração irritável, e na Primeira Guerra Mundial, em que ganhou o apelido de choque da granada.

É inegável que o Rio vive um estado de guerra e o quanto isso afeta a população, principalmente o lado mais fraco da corda – pretos, pobres e favelados –, que convivem diariamente com operações policiais em que são usados helicópteros, carros blindados como o famoso Caveirão, armamento de guerra e táticas de intimidação que não perdem em nada para conflitos escancarados ao redor do mundo. Não sei se vocês viram, mas no começo do mês um soldado do Bope aqui do Rio pendurou um crânio de cabra no uniforme. Simpático, não?

Conversando com o psiquiatra Willian Berger, professor do IPUB e responsável pelo estudo, aprendi a chamar de Tept os sintomas que senti na pele ao conviver, desde pequeno, com violência policial. Há uma sensação constante de medo e paranoia.

“A pessoa, por exemplo, se mudou para a casa de um parente distante em que não há tiroteios nem operações policiais mas continua hiper vigilante, fica preocupada o tempo todo de alguma coisa parecida pode acontecer”, explica Berger.

Existe uma ideia de que a exposição frequente a violência cria uma casca em você e isso não é verdade. Cada corte de luz, cada tiroteio, cada corpo pelo chão te marca. É como um copo que vai enchendo até transbordar. Esse preconceito, segundo Berger, está presente nos próprios moradores de favelas, que ainda enxergam o adoecimento psicológico como uma fraqueza e a saúde mental como um tabu.

Agora imaginem o efeito da convivência com essa violência nas crianças que moram nas favelas do Rio. Em sua rotina, elas são expostas desde cedo a armas de fogo, tanto nas mãos do tráfico quanto da polícia, e em alguns casos até a torturas e execuções. Quem consegue estudar quando precisa correr para se esconder de um tiroteio? Mesmo ir à escola é uma dificuldade: no ano passado uma a cada três escolas no Rio passaram ao menos um dia fechadas devido à violência.

A cidade do Rio tem 36 escolas municipais localizadas em áreas com conflitos constantes e só quatro delas (11%), segundo dados do jornal O Globo, bateram a meta de qualidade estipulada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb, que leva em conta o nível de aprendizado, a quantidade de alunos aprovados e reprovados e a evasão das salas de aula. No restante da cidade, esse percentual foi de 23%.

Há ainda a “sensação de aprisionamento” que só quem não conseguiu chegar ao trabalho ou a um compromisso porque havia um tiroteio rolando na porta de casa sabe descrever. Situações como essa, diz o pesquisador da Fiocruz Leonardo Bueno, que focou sua pesquisa em uma área conhecida como “Faixa de Gaza” devido à violência, levam os moradores das favelas cariocas com frequência ao adoecimento, tornando nomes como depressão e síndrome do pânico comuns. E se não há vagas no estado para receber quem sofreu um acidente, quiçá alguém com uma doença psíquica. A rede pública de saúde mental, incluindo a assistência psicossocial, é minúscula e não comporta as necessidades das vítimas diretas e indiretas da (para)militarização.

Manter um estado de guerra e uma parcela da população doente e com medo parecem ser alguns dos principais planos de governo de Wilson Witzel. Afinal, quem se elegeu prometendo atirar na cabeça das pessoas e já desceu de um helicóptero comemorando uma morte como quem celebra um gol não está nem aí para quem vive sob o domínio do medo.

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Estagiário de jornalismo

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