sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Vem aí a Internacional Progressista

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Vem aí a Internacional Progressista

por André Barrocal — publicado 23/11/2018 01h30, última modificação 23/11/2018 22h53
O senador dos EUA Bernie Sanders, idealizador da aliança, almeja reação global ao autoritarismo pró-ricos de inspiração em Trump. Haddad foi convidado
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Vem aí a Internacional Progressista
Sanders, Haddad e Varoufakis: aliança global
O avanço da extrema-direita e de líderes autoritários pelo mundo, cujo símbolo maior é o norte-americano Donald Trump, tem feito a festa da turma do 1% mais rico, enquanto os trabalhadores enfrentam condições de vida cada vez difíceis.
Essa é a visão dos idealizadores de uma frente progressista internacional a ser lançada nos próximos dias com a provável presença do petista Fernando Haddad.
Por trás da iniciativa estão o senador dos EUA Bernie Sanders, um autodeclarado socialista ainda ativo em seus 77 anos, e o economista grego Yanis Varoufakis, ministro da Fazenda do governo de esquerda de seu país em 2015 que em vão lutou contra a ortodoxia econômica europeia.
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Varoufakis mandou dias atrás uma carta a Haddad, a convidá-lo para o lançamento da frente, em 1o de dezembro, nos Estados Unidos. Outro convidado é o presidente eleito do México, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, mas ele tomará posse em 1o de dezembro, justamente o dia marcado para o evento.
O lançamento acontecerá na sequência de uma conferência com ativistas progressistas dos EUA a ser promovida entre 27 de novembro e 1o de dezembro pelo Instituto Sanders, um think tank criado no ano passado pela esposa do senador, Jane.
O senador lançou a proposta da Internacional Progressista em setembro, em um artigo no jornal britânico The Guardian. No texto, ele aponta o surgimento de um “eixo autoritário internacional” cujo rosto principal é Trump, embora não se limite a este.
Esse eixo, segundo Sanders, caracteriza-se por governos hostis à democracia e à liberdade de imprensa, intolerantes com minorias étnicas e religiosas e a serviço de milionários e grandes corporações. 
“Os governos do mundo devem se unir para acabar com o absurdo das empresas ricas e multinacionais que armazenam mais de 21 trilhões de dólares em contas bancárias offshore para evitar pagar sua parcela justa de impostos e exigir que seus respectivos governos imponham uma agenda de austeridade às famílias trabalhadoras”, escreveu o senador.
Parceiro de Sanders, Varoufakis diz que “os financistas há muito tempo formam uma ‘irmandade’ internacional para garantir a si mesmos resgates internacionais quando suas pirâmides de papel caem”. Segundo ele, a frente pode ser o embrião de “um New Deal Internacional, um New Bretton Woods progressivo”.
“Além da hostilidade de Trump em relação às instituições democráticas, temos um presidente bilionário que, de uma maneira sem precedentes, incorporou descaradamente seus próprios interesses econômicos e os de seus comparsas nas políticas do governo”, escreveu Sanders.
Em um relatório de junho, o relator especial da ONU para pobreza extrema e direitos humanos, Philip Alston, classificou a política econômica do governo Trump de anti-pobres.
Entre as medidas trumpistas condenadas por Alston estão “isenções financeiras e ganhos sem precedentes para os ricos e as grandes corporações”, combinados com “redução de benefícios sociais” e com um “programa radical” de desregulamentação financeira, ambiental, de saúde e segurança que “elimina proteções que hoje atendem principalmente as classes médias e os pobres”.
Medidas trumpistas inspiram Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, o futuro ministro da Economia. Por exemplo: cortar impostos dos ricos e das empresas. Em 22 de outubro, dias antes de se consagrar nas urnas, Bolsonaro prometeu a industriais que apresentaria um pacote de medidas e que pretendia fazer algo semelhante a Trump para “ampliar a base de emprego”.
“Para combater eficazmente a ascensão do eixo autoritário internacional”, escreveu Sanders no Guardian, “precisamos de um movimento progressista internacional que se mobilize por trás de uma visão de prosperidade compartilhada, segurança e dignidade para todas as pessoas e que atenda à enorme desigualdade global que existe, não apenas em riqueza, mas no poder político”. 
“Para efetivamente nos opormos ao autoritarismo de direita, não podemos simplesmente voltar ao status quo fracassado das últimas décadas”, anotou o senador. “Hoje, nos Estados Unidos e em muitas outras partes do mundo, os indivíduos estão trabalhando mais horas para estagnar os salários e temem que seus filhos tenham um padrão de vida mais baixo do que eles.”
Reeleito senador em novembro com 64% dos votos em seu estado, Vermont, Sanders disputou as prévias do Partido Democrata para concorrer a Casa Branca em 2016, mas a burocracia partidária trabalhou por Hillary Clinton e ela levou a vaga, apesar de as pesquisas mostrarem-na com menos chances contra Trump.
Devido à idade, é improvável que Sanders tente a presidência de novo em 2020, mas seu apoio será decisivo na escolha do candidato democrata e empurrará o partido para a esquerda, na avaliação de Mark Langevin, cientista político especializado em Brasil da universidade George Mason.

Prêmio Nobel da Paz para Lula!

Prêmio Nobel da Paz a Lula não seria descabido. Por Joaquim de Carvalho

 
Lula, como presidente, promoveu o maior programa de combate à miséria do século XXI, conforme reconhecimento da ONU e até do Banco Mundial
Com a campanha internacional para que receba o Nobel da Paz em 2019, Lula já se tornou o segundo brasileiro que mais se aproxima da homenagem, uma das mais importantes do mundo.
Com mais de 400 mil assinaturas em favor de sua indicação, Lula se colocou ao lado do Dom Hélder Câmara, que, nos anos 70, durante a ditadura militar, foi indicado quatro vezes para o prêmio.
Dom Hélder Câmara, que denunciou ao mundo os abusos da ditadura, como a tortura, sofreu forte oposição do governo da época para que não recebesse o Nobel.
Conforme investigação da Comissão Estadual da da Memória e Verdade, de Pernambuco, o embaixador do Brasil na Noruega à época, mandou cartas ao Itamaraty para relatar como atuava para que o Prêmio não fosse concedido ao líder religioso.
“Acredito que, cercada do maior cuidado e sigilo, esta Embaixada, embora sem efetuar qualquer gestão oficial, pôde contribuir para o afastamento, pelo menos este ano, da candidatura de Dom Helder Câmara ao Prêmio Nobel da Paz”, escreveu, em outubro de 1970, o embaixador Jayme de Souza Gomes.
De fato, em 1971, o comitê norueguês elegeu o chanceler alemão, Willy Brandt, para receber o Prêmio. Pelos relatos da comissão de memória e verdade de Pernambuco, a ditadura brasileira entendia que um prêmio a dom Hélder Câmara representaria o enfraquecimento do governo. E seria isso mesmo.
O argentino Adolfo Perez Esquivel recebeu o Nobel da Paz em 1980, depois de uma intensa participação em movimentos contra a ditadura na América do Sul, que resultou em prisões em vários países, inclusive no Brasil, onde, não fosse a intervenção de Dom Paulo Evaristo Arns, teria sido vítima de torturadores.
O Nobel da Paz a Perez Esquivel ajudou nos processos de redemocratização do continente. Hoje, Perez Esquivel lidera a campanha pela concessão do Nobel a Lula. O que o impulsionou é a prisão do ex-presidente, que considera política, mas a razão sugerida para o Prêmio é a atuação de Lula no combate à fome.
Ele lembra que, entre entre 2003 e 2010, “através de seu compromisso social, sindical e político, desenvolveu políticas públicas para superar a fome e a pobreza em seu país, uma das desigualdades mais estruturais do mundo”. Um dos dados que cita é a redução da miséria, tirado de um estudo do Banco Mundial.
“A percentagem de pessoas que vivem com menos de US$ 3,10 por dia caiu de 11% em 2003 para cerca de 4% em 2012”, escreve. Perez Esquivel destaca ainda outros dois indicadores: a desigualdade social, que caiu 0,9% ao ano entre 2003 e 2016, e a taxa de desemprego, reduzida pela metade no período do governo Lula.
O Prêmio Nobel cita ainda um trecho do discurso de posse de Lula, em 2003:
 “Vamos criar condições para que todas as pessoas em nosso país possam comer decentemente, três vezes por dia, todos os dias, sem doações de ninguém. O Brasil não pode mais coexistir com tanta desigualdade. Precisamos superar a fome, a pobreza e a exclusão social. Nossa guerra não é para matar ninguém: é para salvar vidas.”
O plano não ficou apenas em palavras, conforme lembra Perez Esquivel. “De fato, o programa Fome Zero e Bolsa Família foram levados a mais de 30 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, fazendo com que o Brasil fosse mundialmente reconhecido por organizações internacionais como a FAO, o modelo de sucesso do Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial”, diz.
Com a campanha em favor do Nobel da Paz a Lula, iniciada em abril, Perez Esquivel conseguiu mais de 400 mil assinaturas. É um feito e tanto, já que não é qualquer pessoa pode participar do abaixo-assinado.
É preciso preencher alguns requisitos, como ser membro de assembleias nacionais e governos nacionais, atuais chefes de Estado; membros do Tribunal Internacional de Justiça em Haia e do Tribunal Permanente de Arbitragem em Haia; membros do Institut de Droit International; professores universitários, professores eméritos e professores associados de história, ciências sociais, direito, filosofia, teologia e religião; reitores universitários e diretores de universidades; diretores de institutos de pesquisa da paz e institutos de política externa; pessoas que receberam o Prêmio Nobel da Paz; membros da diretoria principal de organizações que receberam o Prêmio Nobel da Paz; membros, ex-membros e ex-assessores do Comitê Norueguês do Nobel.
Um comitê de cinco membros escolhido pelo Parlamento Norueguês vai eleger o Prêmio Nobel, que terá seu nome divulgado em outubro do ano que vem. A candidatura de Lula, com o abaixo-assinado, será formalizada em janeiro.
A candidatura de Lula não é descabida e, mesmo que tenha relação com o combate à fome, indicaria o repúdio da comunidade internacional ao que vem ocorrendo no Brasil, que culminou com a eleição de um candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, para presidir o país nos próximos quatro anos.
O comitê de direitos humanos da ONU já indicou que acompanha de perto a situação no país. Em agosto, em caráter liminar, decidiu que o Brasil deveria respeitar os direitos políticos de Lula, decisão que o o país não acolheu. Lula era o líder nas pesquisas de intenção de voto, e sua candidatura a presidente poderia impedir a eleição de Bolsonaro.
O ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper, que foi o presidente da Unasul, a entidade que reúne chefes de Estado do continente, classificou de “viciadas” as eleições brasileiros, o que é inegável. Se o candidato favorito é retirado do pleito, como considerar justo o processo de eleição do presidente?
A Interpol também emitiu um sinal de que não aprova o que tem ocorrido no pais. Retirou o alerta vermelho que pesava contra o advogado brasileiro Rodrigo Tacla Durán, que mora hoje na Espanha, por entender que o Judiciário brasileiro não garantiu o devido processo legal. O futuro ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, é quem decretou a prisão de Tacla Durán, ao acolher denúncia do MPF, e prejulgar Tacla Durán, ao dizer, em entrevista, que ele é criminoso.
Como poderia fazer tal afirmação se nem sequer o ouviu?
Em países civilizados, juízes que agem assim são afastados. No país, Moro teve recompensa. Responsável pela condenação de Lula, se tornou superministro do rival do ex-presidente e, na pasta que dirigirá, terá poderes para decidir quem ocupará os tribunais superiores.
O combate à fome justificaria a escolha de Lula para o Nobel da Paz, mas, se o comitê norueguês decidir homenageá-lo, fará muito mais do que reconhecer a importância de políticas de combate à desigualdade social.
Transmitirá ao mundo a mensagem de que Lula é, efetivamente, um preso político, e prisões políticas são intoleráveis, o que ajudará na correção de rumos internacionais, como aconteceu em 1980, com a escolha de Perez Esquivel.

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