quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O BRASIL TEM SAÍDA

O Brasil tem saída

Na noite de segunda-feira (6), ocorreu em Belo Horizonte, no Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais, a palestra “O Brasil Tem Saída – caminhos para a superação da crise brasileira” proferida por Renato Rabelo e organizada pela Fundação Maurício Grabois. Mais de 160 pessoas participaram da atividade.

Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois e ex-presidente do PCdoB, destacou que no cenário internacional, a novidade mais importante é que os países que vão ascendendo ao centro da geopolítica e da geoeconomia são oriundos da periferia, como a China, a Índia, o retorno da Rússia e, até pouco tempo, o Brasil.

Destacou também que, assim como nos anos 1920 e 1930, o crescimento atual da extrema-direita da Europa resulta de um fracasso da ordem vigente em incorporar as camadas mais desprotegidas dos trabalhadores. O nacionalismo de Direita ressurge como um transbordamento para o campo político da desordem econômica e social causada pelo neoliberalismo, especialmente após o inicio da crise em 2008.

Em busca de conter o declínio relativo de sua hegemonia, os EUA passaram a agir para impedir a consolidação de um polo de poder mundial alternativo, o qual tem sua expressão mais concreta nos BRICS. É nesse quadro que se deve buscar a compreensão do sentido do golpe no Brasil patrocinado pelo Imperialismo.

O ataque orquestrado pelo aparato do judiciário e pela mídia burguesa sobre a Petrobras e a Engenharia nacional busca destruir dois importantes polos do desenvolvimento recente das forças produtivas brasileiras que apontavam para a construção de um projeto nacional de desenvolvimento. Tanto nos setores de exploração de petróleo e gás, na indústria naval quanto na exportação de serviços de engenharia, o Brasil passou a disputar espaço com grandes empresas norte-americanas e europeias. Entretanto, mais importante é o papel destacado do Brasil no período de Lula e Dilma no impulso dado aos BRICS, o que confrontava diretamente a estratégia imperialista.

Renato Rabelo afirmou também que o consórcio golpista apresenta um programa de Direita em todos os aspectos, seja na economia, na politica, na ideologia, nas políticas públicas e nos costumes. Isso demonstra a sanha de reverter todos os avanços oriundos no mais longo ciclo de governo democráticos na história de nosso país. Para tanto, é crescente a presença de um Estado de Exceção no interior do Estado de Direito.

Organizar a Resistência Democrática é, para Renato Rabelo, a tarefa mais importante do campo democrático brasileiro.

À medida que a crise econômica se prolonga, os setores populares são crescentemente atingidos. Portanto, esses setores terão mais elementos para se posicionarem diante da grave situação do país. Mas, somente será possível criar uma situação de maiores dificuldades para o campo adversário se se constituir uma ampla frente em defesa da democracia e dos direitos do povo, ou seja, um movimento que envolva todos os setores e personalidades que percebem o risco que o Brasil corre ao ser governado pelo consórcio golpista. Deste modo, a tática mais correta para a Esquerda é batalhar para a constituição da frente ampla, da qual aquela será parte ativa.


OS 15 DIAS DE LUTO QUE MORO NÃO DEU A LULA SÃO UM FAVOR AO EX-PRESIDENTE

Os 15 dias de luto que Moro não deu a Lula são um favor ao ex-presidente

Fernando Brito


Sérgio Moro, com todos os seus títulos, é um homem de sérias limitações intelectuais – talvez porque o vício de usar, toda hora, a tal “cognição sumária” para mandar prender –  o impeça de pensar com mais profundidade.

O seu pensar e o seu agir são mecânicos, movidos pela ideia fixa da vaidade e dominados pelo papel que, a seu ver, é o que o torna querido.

E o torna, mesmo, mas pelos homens e mulheres de coração mau, que por sorte da humanidade, ainda são e serão minoria.

Hoje, dia da missa de sétimo dia de Marisa Letícia, começam as audiências da defesa de Lula, que tinha o direito de estar presente e orientar seus advogados na sua inquirição.

Moro não concordou em remarcar as oitivas.

A sua atitude de negar um adiamento de meros 15 dias aos depoimentos da defesa de Lula, por conta da morte de Marisa Letícia não me espanta por falta de sentimentos humanos, porque quem persegue, prende desnecessariamente, encontra formas de arrastar às delegacias quem lá iria bastando ser chamado ou que se serve, por método, de alcaguetes para exercer o seu ofício não dá, mesmo, qualquer importância à dor humana.

Ela impressiona pela limitação de inteligência, mesmo, de alguém que não vê que o julgamento de Lula, de verdade, não se dá aí, na sua medieval Vara curitibana.

O julgamento de Lula se dá segundo a condição de animal político que têm os líderes, os homens de Estado, os que representam a população, sobretudo a mais humilde, a mais desvalida, a que pensa com a pele, com o bucho, com o dicumê dos filhos, e que ainda assim tem sentimentos humanos.

Este é o júri de Lula.

Moro tem a ilusão de que é ele, juiz monocrático, quem vai decidir o que já decidiu: que Lula é culpado.

Sua desculpa de que isso seria “suspender o processo” e suspender o processo não teria fundamento, esbarra a sua própria decisão de suspender o processo da Odebrecht – aliás pelos mesmos 15 dias – que tomo ao saber que estariam sendo negociadas delações premiadas da empreiteira em Brasília. Ficou sabendo, informalmente, porque delações são secretas até quando de sua homologação.

Seu ato mesquinho depõe contra ele próprio, não apenas no campo da humanidade, dos sentimentos.

Depõe contra ele na opinião pública e ele não se iluda que ela já se move em outra direção, fora do mundo de fanatismo das redes sociais.

Depõe contra Moro a inteligência, que lhe falta.

Falta a tal ponto que chega a ser, como foi terça-feira (7), desqualificado por um desqualificado como Eduardo Cunha, que lhe deu lições processuais, mesmo sendo um escroque.

E muito pior ainda será quando se defrontar com Lula.

De um lado sua frieza burocrática, do outro a emoção do ofendido.

O juiz gaguejará, o réu se afirmará e os tamanhos vão se evidenciar.

Um gigante no banco dos réus e um anão do trono do magistrado.

Claro que ninguém espera Justiça de Sérgio Moro, porque se trata de um juiz que não julga, condena.


E isso é o mais grave na sua existência: é alguém que firma o juízo do linchamento, da convicção pessoal no lugar das provas, do “é culpado e nem adianta provar o contrário”.

O ódio, porém, é uma nuvem e como nuvem pode cair sobre nós até não vermos outra coisa diante dos olhos.

Mas, como nuvem, também se dissipa, embora alguns, como lamentavelmente ocorreu com Marisa Letícia, não vivam tempo suficiente para ver o mal se dissolver.


NA ALEMANHA, MINISTRO ACUSADO DE PLÁGIO CAIU; NO BRASIL, GANHA UMA CADEIRA NO STF

Na Alemanha, ministro acusado de plágio caiu; no Brasil, ganha uma cadeira no STF

Kiko Nogueira


Alexandre de Moraes copiou parágrafos inteiros de “Derechos Fundamentales y Princípios Constitucionales”, do constitucionalista espanhol Francisco Rubio Llorente, em seu “Direitos Humanos Fundamentais”.

O site dos Jornalistas Livres reproduziu trechos.

Eles não estão entre aspas e não contêm crédito ou referência a Llorente.

A obra de Moraes foi publicada originalmente em 1997 e está na 11ª edição.

O professor Fernando Jayme, da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, foi quem descobriu a cópia.

“A falta das aspas é uma apropriação desonesta das ideias de outrem”, disse. Em maio do ano passado, Jayme já acusava o então recém-empossado ministro da Justiça no Facebook.

Plágio é crime segundo o Código Penal. É provável que Moraes saiba disso.

A detenção prevista é de 2 a 4 anos ou multa “se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor”.

Ele é um escritor prolífico e bem sucedido. Numa livraria especializada, contam-se mais de 20 volumes com sua assinatura.

Plagiou antes?

Alexandre de Moraes atribui à literatura parte de seu patrimônio milionário. Segundo o BuzzFeed, tem oito imóveis no valor de R$ 4,5 milhões, dois apartamentos de luxo em São Paulo e terrenos em um condomínio dentro de uma reserva ambiental.

Sua assessoria afirma que o império imobiliário é fruto dos “vencimentos de promotor de Justiça, professor universitário e a venda de mais de 700 mil livros”.

O jurista Lenio Streck, num belo artigo sobre a indicação de Moraes para o Supremo, conta que “ninguém vendeu tanto como ele” e que “seu livro principal está em 99% das bancadas dos fóruns e tribunais (o que mostra que foi comprado com dinheiro público)”.
Em 2011, o ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, de 39 anos, pediu demissão depois de ter sido acusado de plágio na sua tese de doutorado.

“Sempre estive disposto a lutar, mas cheguei ao limite de minhas forças”, disse ele, que ganhou o apelido de “Barão copia-cola” e “Barão von Googleberg”.

De acordo com Streck, Moraes costuma ser “aplaudido de pé pela estudantada” nos principais congressos de direito, onde posa para selfies e dá autógrafos.

Agora esses rapazes e moças aprenderam mais uma lição fundamental: se você copiar outro escritor, pode até chegar a juiz do STF. Qual o problema, então, de colar numa prova?

O país do golpe é uma terra que manará leite e mel para as gerações vindouras. Notório saber pra quê?


MINISTRO DA JUSTIÇA NO STF: SIMULAÇÃO E PARCIALIDADE


Ministro da Justiça no STF: simulação e parcialidade

Dalmo Dallari*


O atual titular do Ministério da Justiça do governo Temer, Alexandre de Moraes, acaba de ser indicado para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Essa indicação é absolutamente infeliz, pois significa entregar um cargo da mais alta Corte do País a alguém que, por uma série de circunstâncias, sabe-se que irá usar o cargo para proteger amigos e correligionários, a partir do Presidente Michel Temer que fez sua indicação. Vem muito a propósito assinalar que o próprio indicado, Ministro Alexandre de Moraes, propôs textualmente que se aplicasse a seguinte regra proibitiva: «É vedado para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal o acesso daqueles que estiverem no exercício ou tiverem exercido cargo de confiança no Poder Executivo, mandatos eletivos, ou o cargo de Procurador Geral da República durante o mandato do Presidente da República em exercício no momento da escolha, de maneira a evitar-se a demonstração de gratidão política ou compromissos que comprometam a independência de nossa Corte Constitucional». Isso é o que consta expressamente em tese apresentada pelo agora Ministro da Justiça quando se candidatou para a obtenção do título de Doutor na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Aplicada essa regra moralizadora ele não deveria ser indicado para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Como fica mais do que evidente, aquilo que ele sustentou ser um ideal jurídico e moralizador foi agora por ele espezinhado, porque suas ambições e seus atuais compromissos falaram mais alto.
É lamentável esse procedimento do Ministro Alexandre de Moraes, pois ele é autor de obras que davam a impressão de se tratar de um jurista autêntico, defensor da moralidade pública e, especificamente, da exigência de absoluta independência, além dos demais requisitos expressamente consignados na Constituição, para que alguém possa ser indicado para o altíssimo cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Numa tentativa primária de atenuar a contradição, o Presidente Michel Temer concedeu, a pedido do interessado, uma licença de trinta dias para o Ministro da Justiça, obviamente para poder dizer que ele não está no exercício do cargo de Ministro. Isso, na realidade, chega a ser ridículo, pois mesmo estando licenciado por trinta dias, o que significa apenas estar dispensado dos encargos do Ministério durante esse tempo, Alexandre de Moraes continua a ser o titular do cargo de Ministro da Justiça, ou seja, de um cargo de confiança no governo do Presidente da República, podendo reassumir plenamente as atividades práticas do Ministério quando lhe convier. Ele é, portanto, titular de cargo de confiança do Presidente da República ora em exercício, Michel Temer. A tentativa de usar essa simulação tem, por si só, o efeito de comprometer seriamente o conceito de probidade de Alexandre de Moraes e deixa dúvidas quanto à autenticidade de suas palavras de jurista.

A par desse aspecto que já é de grande relevância, justificando a recusa da aceitação de seu nome para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, há outros pontos que se somam a esse. Assim, é necessário e oportuno lembrar que o Presidente Michel Temer é acusado de corrupção na campanha eleitoral que lhe deu o mandato de Vice-Presidente da República, sendo muito provável que o processo, ora em curso no Superior Tribunal Eleitoral, chegue ao Supremo Tribunal Federal. E então o Ministro Alexandre de Moraes, se estiver integrando aquela alta Corte, será um valioso advogado dos interesses do Presidente Michel Temer para impedir a cassação de seu mandato. Acrescente-se a isso tudo que Alexandre de Moraes é militante partidário, sendo filiado ao Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB), tendo já ocorrido inúmeros pronunciamentos contrários à sua indicação para o Supremo Tribunal Federal, inclusive por vários Senadores de diferentes partidos, entre eles o Senador Cristovam Buarque, segundo quem, por seu desempenho político e administrativo passado, em vários cargos políticos que ocupou, e por sua situação atual, Alexandre de Moraes não preenche os requisitos de credibilidade e imparcialidade, qualidades intrínsecas ao conceito de « reputação ilibada», que é exigência constitucional para que alguém seja indicado para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Em defesa dos princípios e normas constitucionais e para efetivação do Estado Democrático de Direito o Presidente Michel Temer deverá rever a indicação do nome para preenchimento da vaga resultante da morte do ínclito Ministro Teori Zavascki, indicando alguém que, realmente, satisfaça, sem qualquer dúvida, as exigências constitucionais de notável saber jurídico e reputação ilibada, pois mantida a indicação do Ministro Alexandre de Moraes muito provavelmente haverá a rejeição de seu nome pelo Senado, a menos que seja feita uma negociação política que torne ainda mais lamentável sua indicação. 

* jurista

Um texto do passado para o futuro Min. Alexandre de Moraes

Quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Um texto do passado para o futuro Min. Alexandre de Moraes

Sensibilizado pela presunção de escrever tanto para o leitor e a leitora, quanto para as mesmas pessoas no futuro, este texto terá a intenção de retratar o hoje: momentos anteriores à nomeação de Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal. Para você, cara pessoa do futuro, talvez essa informação lhe pareça de menor importância, algo frívolo ante os seus anseios presentes. Já para ti, cara pessoa do presente, pode ser até que você não saiba quem seja esse cidadão.
Sabendo desses obstáculos, fiz este texto para nem eu, nem você esquecermos, embora confesse que esteja torcendo para que este escrito possivelmente perdido na hecatombe de comunicação da internet subsista ao futuro. Digo que não pretendo me acostumar jamais ao absurdo, preciso lembrar quem são “Eles” dos quais tanto falam os indignados. Preciso encontrar alguma lógica que nos diferencie da perversidade, pois não há mal absoluto que acometa todos os políticos em seres ruins.
Pelo contrário, acredito na política feita pelos que passam a vida defendendo seus ideais. De outro modo, os que aprofundam as feridas da nossa história deveriam contar com a impiedade – estes, sim, merecem serem lembrados e cobrados diariamente sobre quem são e foram. Cansado desta volatilidade da modernidade líquida, só peço que quando for a hora da lápide, a verdadeira história deste homem seja contada.

Ministro Alexandre, O Pequeno

O Alexandre de Moraes de hoje que está na porta do Supremo, apequenado em crises, é um profano em ascensão. Mais um abutre político que cercou a cadeira de Teori Zavascki desde o dia em que morreu. Sem gabarito intelectual, nem notável saber jurídico, sua coroação acontece em um momento em que o país está doente. A instabilidade é tamanha que o baixo clero ascendeu à Corte Suprema, pela porta da frente, sem a legitimidade de uma indicação presidencial por alguém eleito pelo povo, um sujeito contestado pela grande maioria das pessoas que está no meio jurídico.
Cara pessoa do futuro, nós do presente não temos ideia se encontraremos a democracia novamente, alguns dizem 2018, mas pressinto dizer que a cobra botou seu ovo.
Em pouco tempo devemos notar – “Michel Temer se foi e você ficou, Alexandre”. Como um presente indesejado que não podemos jogar fora. Estamos atrelados um ao outro, prendemo-nos sem querer a este pacote ingrato de um golpe que deu certo, cidadão e ministro. Um pseudo-presidente impôs para o povo um sujeito de seu DNA; algo como os patriarcas do passado que impunham filhos e filhas para manter o poder familiar, em casamentos duradouros, mas evidentemente fracassados.
O Alexandre de hoje tem origem em acordão político, conchavo nos bastidores partidários de um governo sem legitimidade política que precisa se fortalecer para sobreviver. É o fruto da árvore envenenada que impregnou suas raízes no sistema de exceção para aprofundar ainda mais a crise na democracia.
Ministro Alexandre, no presente, pelo menos, sua história não foi esquecida, todos em 2017 sabem que você é sim um poltiqueiro que se forjou de amigo em um governo de coalizão. Um tucano meteórico, entregue ao PMDB após a deposição da presidência de Dilma Rousseff. Não posso dizer que você não seja um bom jogador político; afinal, para ser apadrinhado por Gilmar Mendes você precisaria de duas qualidades: ser bom jogador e ter uma carteira de filiação do PSDB.
Me conjuro a não me perder nessa pós-verdade, típica da sociedade do espetáculo, que cria e destrói inimigos na velocidade de um boato. A sua história não será esquecida, merece ser contada na integralidade. Por isto, lembro que em sua tese de doutorado, ainda sem perspectivas de se tornar ministro, você teceu sérias críticas às indicações de políticos ao STF que estivessem ocupando cargos no Governo. Mais uma da série “Esqueçam o que escrevi”, que você tenta dizer sobre sua história acadêmica, como se fôssemos tolos.
Sim, temo que você será um ministro, mini, sem palavra, sem honra. Ao entrar em tamanha contradição com as suas próprias convicções em nome do poder, tudo isto me faz crer que no futuro insista em se forjar pequeno. Ao implorar pelo cargo no STF, não teve honradez de sustentar sua verdade intelectual na academia, nem enquanto político. E é por estas e outras que não há quem acredite na sua verdade jurídica, apesar que força vinculante originária deste cargo assolará as decisões judiciais brasileiras. Fomos rápidos em perceber quem era você antes de vestir a toga, alguns já jogaram seus livros fora, mas infelizmente não poderemos acomodar as contradições das suas futuras decisões no lixo.
Da sua atuação violenta contra estudantes secundaristas enquanto Secretário de Segurança Pública em São Paulo, até a sua bélica e autoritária gestão no Ministério da Justiça, você quase caiu pela boca. Das suas negativas de ajuda ao governo do Roraima, que acabou em palco de morte de dezenas de detentos, até a sua ação de marketing ultrapassada pela guerra às drogas, você não foi capaz de ser um líder.
Certamente se comportou como um “Deles”, mentiu e omitiu dados para jornalistas e se portou como um homem do entretenimento disfarçado de Ministro da Justiça cortando pés de maconha no Paraguai. Temos visto que discrição não é a sua marca, por isto não comprarei a sua pose de ministro. Por mais que tentem trabalhar a sua imagem de bom juiz, de um magistrado técnico, este texto me lembrará pelo menos do que você já foi e do potencial que você tem para ser menos. Este é o meu antídoto contra “Eles, e a institucionalização simbólica que tentarão fazer da sua imagem. Sei que tentarão te vender como um bom julgador, mas eu não compro.
Quando advogados tiverem que sustentar suas teses, quando réus forem sentenciados, quando a toga pesar sobre seus ombros, pode ser que você venha se deparar novamente com este texto, daí irá se lembrar da história de um homem ainda pequeno.
Mas espero sinceramente, para o nosso bem que até a sua aposentadoria em 2043, neste hiato de eternidade, você tenha amadurecido, encontrado sua vocação, deixado o ego de lado. Não há para onde ascender em carreira de ministro do STF senão em reconhecimento à sua qualidade técnica, humanidade e moralidade, ora em falta.
Desafortunadamente, creio que estas mudanças pessoais de tamanha envergadura não são tão fáceis de ocorrer e infelizmente, por isto, este texto se torna a sua sina. A profecia de um homem fadado a continuar medíocre.
André Zanardo é diretor executivo do Justificando e advogado.
Editor: Brenno Tardelli / Foto:Fabio Rodrigues Pozzebom – Agência Brasil

Vereador aciona Doria na Justiça por apagar grafites da Avenida 23 de Maio

Quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Vereador aciona Doria na Justiça por apagar grafites da Avenida 23 de Maio

Por Rede Brasil AtualFoto: Reprodução
O vereador Toninho Vespoli (Psol-SP) protocolou na última segunda-feira (6) uma ação popular contra o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o secretário de Cultura do município André Sturm, visando o ressarcimento dos cofres públicos do valor correspondente aos danos causados ao patrimônio público artístico com o apagamento dos grafites na Avenida 23 de Maio. Segundo o vereador, a ação de Doria e Sturm se enquadra no artigo 10 da Lei 8.429/1992 e no artigo 1.º da Lei 4.717/65, que prevê punição os atos que atentam contra o patrimônio estético, histórico e cultural.
Na ação, o vereador argumenta que as obras apagadas por Doria foram produzidas por mais de 450 artistas contratados pela própria Prefeitura de São Paulo na gestão anterior, sendo que cada artista recebeu, em média, R$ 2 mil, totalizando um investimento em torno de R$ 900 mil somente com mão de obra, sem contar o valor gasto com materiais.
“A despeito do valor histórico e estético que tinham as obras em referência, o atual gestor apagou-as dos muros do município de São Paulo, causando assim, grave dano ao patrimônio público, pelo qual deve ser obrigado a indenizar e recompor o erário”, afirma Toninho Vespoli na ação popular.
No documento, o vereador destaca que o prefeito João Doria não pode se apropriar do espaço público como “se esse fosse seu quintal”. Para o parlamentar do Psol, isso significa apropriação indevida “que foge aos limites do gestor e se equipara à relação de propriedade e proprietário, o que, como se sabe, configura ato de improbidade administrativa”.
A ação requer que Doria e Sturm sejam condenados a ressarcir os cofres públicos o valor correspondente aos danos causados ao patrimônio público artístico municipal, além da condenação de ambos ao pagamento de indenização por dano moral coletivo, em valor “não inferior a três vezes o valor da condenação pelos danos causados, tendo em vista a diminuição do patrimônio artístico municipal”.

Livro recomendado: Discurso de ódio e sistema penal

Discurso de ódio e sistema penal 


Na sociedade do espetáculo, a manipulação do ódio se dá pelos meios de comunicação de massa.
Nesse contexto de imaginação manipulada e controlada, o que ninguém percebe é que o ódio que transita não lhe pertence. Assim como as pessoas vivem a repetir ideais prontas que não são suas, que são impensadas, do mesmo modo, reproduzem afetos que não são seus.  O vazio afetivo é vivido com emoções alheias, com mercadorias emocionais, daí o verdadeiro culto de emoções que vemos em estádios de futebol, em igrejas, diante das televisões e até mesmo nas ruas. O vazio emotivo, efeito de subjetividades canceladas, é vivido como anestesia insuportável. Muitas pessoas encontram o ódio nesse momento e sentem, por meio dele, uma específica sensação de força e poder. Ligado àquela sensação de autoridade, o ódio faz um sucesso impressionante nas instituições que controlam o poder.
É nesse momento que o ódio se liga ao poder penal, tema desse instigante livro de Salah H. Khaled Jr. O ódio é o que leva qualquer um à sensação da autoridade, em nossa sociedade, ele se expressa no lugar imaginário de promotor e juiz vivido por cidadãos comuns. Julgamentos e condenações são banalizados e surgem como entretenimento e até mesmo como diversão para aqueles que vivem no regime afetivo do ódio manipulado, alienados de outros afetos. O ódio é um regime afetivo e também ético-político, que causa efeitos concretos na sociedade. Em sua aliança com o poder penal, o ódio nos faz construir um outro, o criminoso como um outro. É nessa sociedade que a corrupção se torna uma espécie de “crime do outro”, como o mal a ser exorcisado.
Cegos de ódio, cidadãos comuns tornam-se incapazes de fazer perguntas. E, sobretudo, a pergunta essencial sobre o modo como se tornaram cegos. O livro de Salah Khaled nos leva de volta à dúvida amorosa e à inteligência dos afetos tão em baixa nesse momento.
Fonte: Justificando