sábado, 27 de fevereiro de 2016

Relembrando o que a mídia esconde

Empresa da Vale cuida da cena do crime, exclui imprensa e povo, por Laura Capriglione

Imagem removida pelo remetente. O Jornal de todos Brasis
51
dom, 08/11/2015 - 13:27

Imagem removida pelo remetente.

do Jornalistas Livres

TSUNAMI DE LAMA

Drama invisível

Acusada de responsável pela tragédia, empresa da Vale cuida da cena do crime, exclui imprensa e deixa o povo de fora. Tá certo isso?

Por Laura Capriglione, especial para os Jornalistas Livres, com fotos deGustavo Ferreira, em Mariana (MG)
Arrancados de suas casas pelo tsunami gerado pelo rompimento das barragens Fundão e Santarém, repletas de lama tóxica, os moradores de Bento Rodrigues, arraial rural a 35 km do centro de Mariana, sofrem com outro tsunami: o de dúvidas, de mentiras e de dissimulação.
As barragens sinistradas pertencem à mineradora Samarco, fundada em 1977, controlada pela toda-poderosa Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton. Décima maior exportadora do país, a empresa faturou R$ 7,6 bilhões em 2014 e apresentou um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões. Apesar dessa contabilidade vistosa e de dizer em seu site na internet que preza pela vida “acima de quaisquer resultados e bens materiais”, os moradores de Bento Rodrigues reclamam que não havia nem mesmo uma simples sirene instalada e funcionando para alertar o lugarejo da ruptura das barragens. Poderia ter salvo vidas.
Agora, no rescaldo da tragédia, os habitantes de Bento Rodrigues suspeitam que a empresa esteja priorizando o salvamento de sua imagem institucional em detrimento das vidas humanas e dos animais, atropelados pelo avanço medonho da lama.
“Por que é que estão nos impedindo de entrar em Bento Rodrigues? A gente poderia ajudar na localização e no resgate dos desaparecidos e dos animais, porque conhecemos como ninguém a região, sabemos lidar com o mato. O que é que eles estão querendo esconder?”, perguntava um grupo de moradores indignados com o fato de serem mantidos à força longe de seu bairro.
“Por que não permitem que pelo menos alguns de nós entrem, para ver o que está acontecendo?” 
Imagem removida pelo remetente.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
Neste sábado, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), confirmou que 28 pessoas encontram-se “desaparecidas” após o rompimento das barragens. Dessas, 13 são funcionários da Samarco e trabalhadores de prestadoras de serviço. Outros 15 desaparecidos são moradores de Bento Rodrigues, dos quais cinco são crianças.
O prefeito também reconheceu oficialmente uma segunda morte na tragédia. O corpo de um homem, ainda não identificado, foi encontrado no município de Rio Doce, a 100 km de Mariana, à beira de um rio, na lama. A primeira vítima reconhecida oficialmente foi um morador de Bento Rodrigues, que sofreu uma parada cardíaca ao ver o desastre.
Imagem removida pelo remetente.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
Todas as vias de acesso ao subdistrito de Bento Rodrigues encontram-se fechadas. Só entra e sai quem tem carta de autorização. Dezenas de soldados da PM mineira guardam a estrada principal. A estradinha alternativa está intransitável, cenário caótico de argila, rochas, tocos de árvores e restos de vegetação espalhados. Ninguém passa por lá.
“A Samarco é acusada de um crime ambiental seríssimo, que pode ter causado dezenas de mortes, e é ela que ainda tem moral para cuidar da cena do crime? Que loucura é essa?”, reclama uma ativista ligada ao Movimento dos Atingidos por Barragens, quando um caminhão com gerador e luzes da Samarco ultrapassa tranquilamente a barreira policial que veda o ingresso dos moradores. (detalhe: na porta do caminhão, o logotipo da Samarco está tampado por um papel colado). Também camionetes e funcionários a serviço da empresa e devidamente autorizados por ela têm livre acesso ao local.
A Samarco emitiu uma nota oficial aos investidores internacionais apresentando suas supostas razões para proibir o acesso ao terreno sinistrado:
“Por razões de segurança, a Samarco reafirma a importância de não haver deslocamentos de pessoas no local do incidente, exceto das pessoas e equipes envolvidas no atendimento de emergência.”
Apenas a título de memória e, é claro, considerando a diferença de escala, durante as operações de busca e salvamento que se sucederam ao tsunami que varreu a Tailândia, em 2005, o trabalho corajoso e sem tréguas de centenas de voluntários, inclusive fazendo o resgate de corpos humanos e de animais e, foi imprescindível para que a desgraça não fosse ainda pior. Não se alegaram questões de segurança para impedir o trabalho da solidariedade.
“Como é possível que as vítimas sejam mantidas afastadas e o acusado entre e saia à vontade?”, pergunta Ângela, de 57 anos, que nasceu em Bento Rodrigues e agora vive em Catas Altas, vizinho, apontando para lugar nenhum, no vale entupido de lama. “Ali era a casa dos meus pais.” Só ela sabe onde.
Mas o que perturba mesmo os sobreviventes e faz aumentar a tensão na entrada de Bento Rodrigues é a movimentação de helicópteros da polícia, subindo e descendo da “zona quente”, como denominam os bombeiros a área central e mais perigosa da catástrofe.
Sem informações, proibidos de ver o que acontece no arraial, os moradores suspeitam que cadáveres humanos estejam sendo recolhidos do local e levados nas aeronaves para local ignorado. Duas testemunhas em Santa Rita Durão, localidade de Mariana que é passagem obrigatória para quem quer chegar a Bento Rodrigues, dizem ter visto viaturas do Instituto Médico Legal passando diante da delegacia em direção ao bairro sinistrado.
“Foram fazer o quê? A Defesa Civil não diz que um dos mortos oficiais foi encontrado longe e o outro já foi retirado no primeiro dia? Então, por que os carros funerários?”, indaga-se Maria do Rosário, funcionária em um comércio de alimentos.
Imagem removida pelo remetente.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
Bombeiros civis, convocados para ajudar a impedir o acesso dos moradores ao arraial, confirmam a existência de muitos animais ainda vivos no local… Mas já registram a presença pesada da morte, que se anuncia pelo cheiro adocicado e repulsivo da carne em putrefação.
Eles saem extenuados do local, depois de ajudar a deter uma moradora que, embrenhada no mato, tentava romper o cerco policial para achar a avó, desaparecida desde a quinta-feira. Segundo os bombeiros, a moça estava com o rosto e braços lanhados pela vegetação fechada, e com lama quase até o pescoço, tentando chegar à casa da parente. Ela resistiu fortemente aos que tentavam impedi-la de fazer sua busca. “Mas conseguimos retirá-la”, disse Paulo César, bombeiro civil de Nova Lima. A reportagem perguntou a ele: “E a avó dela?” O socorrista respondeu: “Infelizmente, está morta. Não tem como. Ali, é só desolação.”
Mas a gente de Bento Rodrigues acha um crime deixar morrer no desespero do atolamento bois, vacas, cachorros, cavalos e galinhas –até passarinhos em gaiolas — que ainda sobrevivem no atoleiro.
E eles existem.
Imagem removida pelo remetente.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
O passar monótono do tempo, sob sol forte e calor de 42ºC, sobe e desce de helicópteros, caminhões e camionetes entrando e saindo, nenhuma notícia, só é interrompido quando se ouve o grito: “Imprensa! Vem correndo! Aqui!”
Descendo uma pirambeira, logo se vê um grupo de moradores trazendo machucada, mas viva, uma cadela grandalhona, pelo marrom, vira-lata, deitada em um catre feito com dois paus e um lençol marrom que já foi branco. “Ela estava enfiada metade do corpo na lama”. Os homens que a carregavam conheciam o bicho. Era do açougueiro Agnaldo, que havia passado a manhã tentando entrar em Bento Rodrigues para reaver o animal. Proibiram-lhe.
“Tinha essa cachorra viva, podendo ser resgatada. Já vimos uma égua, que também está viva, enfiada até o pescoço na lama. Pode ter gente sofrendo, ainda viva, que foi arrastada pela lama pra longe”, angustia-se um dos salvadores da cadela.
“Avisamos os bombeiros sobre a égua, mas eles nos disseram que não poderiam salvá-la, porque não dispunham de corda para puxá-la. É preciso correr com a ajuda, agora que o barro começou a secar. No entanto, não se viu uma só vez aquelas gaiolas penduradas nos helicópteros, ajudando nas buscas”.
Foi à tarde que os heróis anônimos conseguiram burlar a segurança e esgueirar-se pela margens do mar de lama, onde encontraram a cadela machucada. Também encontraram um crucifixo de ouro de um metro de altura, que adornava o altar da igreja de São Bento, a igreja de Bento Rodrigues
Entregue pelos homens humildes (Neimar, Leléu, Lilico, Jerry, pedreiros e mecânicos) à polícia, o crucifixo foi levado de camburão para o quartel da polícia militar de Ouro Preto. “Ficará lá à disposição das autoridades eclesiásticas”, disse o tenente Welby. Da igreja branquinha não se vê mais nem sinal. As mangueiras em torno dela estão lá ainda.
O tenente Welby passava instruções ao soldado no posto de Santa Rita Durão: para este domingo, a zona quente seria ampliada e a barreira policial seria implantada bem antes, como forma de impedir os moradores de fazer seus resgates e salvamentos. E de ver o que se quer manter invisível.
DIVULGANDO O QUE ESCREVEU MAKELY KA, no FACEBOOK
"Sobre a tragédia da barragem de rejeitos da Samarco que se rompeu em Mariana eu gostaria de dizer algumas coisas. Trabalhei ali ao lado, na mina de Timbopeba durante um ano. Ainda tenho amigos lá.
Em primeiro lugar é importante dizer que a Samarco pertence à Vale. Essa notícia em geral não aparece nas matérias que li. Aliás, a notícia é tratada na imprensa como uma catástrofe natural, como um furacão ou um terremoto. Chamadas como "Barragem se rompeu" ou "Distrito foi inundado por lama" parecem tentar encobrir a responsabilidade que é da Samarco/Vale. Na sequência virão analistas dizer que a empresa é séria e monitorava as barragens com tecnologia de ponta.
Conversa, uma barragem de rejeitos a rigor é uma bomba química prestes a explodir a qualquer momento. O acúmulo de material tóxico durante anos é um dos grandes ônus da mineração, o lixo embaixo do tapete, para além de todo o impacto ambiental decorrente das escavações das minas e do transporte do minério propriamente ditos. O que vai parar na barragem de rejeitos é o que sai dos tanques de flotação com reagentes químicos para separar o minério de ferro dos demais componentes por decantação. É lama extremamente tóxica.
Em segundo lugar, é necessário dizer que a atividade mineradora em Minas é predatória e altamente periculosa. As mineradoras não monitoram as barragens, elas empurram com a barriga. O que elas monitoram mesmo é a informação que sai quando acontece o inevitável. No período em que trabalhei na Vale em Timbopeba, que teve seu mineroduto também atingido pela lama, vi pelo menos três acidentes graves que foram abafados. Esse de Bento Rodrigues, pela dimensão e alcance não pôde ser amordaçado. Mas barragem de rejeito é isso, uma hora acaba rompendo, como tantas outras romperam e continuam rompendo todos os anos. Não existe segurança, é uma bomba relógio. A mineração em Minas devia ser interrompida e revistas as leis, porque essa exportação de commodities só gera riqueza para as empresas. Vendemos minério para a China a preço de banana e o que ganhamos com isso? Um impacto ambiental e social irreversível nas comunidades próximas; a degradação das condições de trabalho; o esgotamento do lençol freático precipitando uma crise hídrica sem precedentes e tragédias periódicas e previsíveis como o rompimento de barragens.
Enquanto isso o governador deu entrada na Assembléia Legislativa semana passada num Projeto de Lei (PL 2.946/15) em caráter de urgência propondo a reestruturação do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema) para agilizar os pedidos de licenciamento ambiental em Minas Gerais.
Estou acompanhando as notícias em busca de informações sobre as vítimas e vai dando um misto de revolta e tristeza. Toda solidariedade às famílias das vítimas fatais do acidente, à comunidade de Bento Rodrigues e Camargos e aos operários atingidos. Muitos ainda estão desaparecidos, soterrados ou ilhados pela lama. Torço para que sejam resgatados com vida!"

Carta Maior


Opera Mundi

VW
 
Nº 2319
 
Para segurar preço do barril, 4 países congelam produção de petróleo a níveis de janeiro
Qatar, Arábia Saudita, Venezuela e Rússia firmaram acordo e esperam expandi-lo com Irã e Iraque; valor atual é o mais baixo em 12 anos
 
Juiz brasileiro assume presidência da Corte Interamericana de Direitos Humanos
Jurista sergipano Roberto Caldas planeja dar prioridade à divulgação das sentenças da corte entre operadores da Justiça dos países que ratificaram a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos
 
ÚLTIMAS
 
 

A lei da palmatória


Foto de Regis Soares.

REPÓRTER NARRA CASO COM FHC E EXPÕE SUA RELAÇÃO PROMÍSCUA COM MÍDIA

REPÓRTER NARRA CASO COM FHC E EXPÕE SUA RELAÇÃO PROMÍSCUA COM MÍDIA
 
 
Em entrevista à revista Brazil com Z, a jornalista Mirian Dutra Schimidt – que trabalhou 35 anos na Globo -, fala sobre o seu relacionamento com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na época, casado. Sem poupar críticas ao tucano, afirma que ele era manipulador e sorrateiro. Classificando-o como “parte da aristocracia paulistana”, que sempre viveu em um mundo “irreal”, ela revela ainda as ligações promíscuas entre FHC e a mídia.
 
   Decidida a romper com 30 anos de silêncio sobre o romance, Mirian inicia a entrevista com críticas à Globo. Segundo ela, a emissora tentou apagar a sua imagem, porque não interessava tê-la no ar. “Eles me colocaram abaixo de qualquer coisa.... Em Portugal eu fiz muita coisa, trabalhei bastante os três primeiros anos, depois eles me congelaram”, diz, definindo-se como a “última exilada”.
 
De acordo com ela, o ex-presidente teria feito um acerto com o jornalista Mário Sérgio Conti, ex-editor da Veja, para que ela mentisse sobre quem era o pai de seu filho, que sempre especulou-se ser de Fernando Henrique.
 
"Quando eu estava grávida de 7 meses do Tomas, a coisa estava para explodir. FHC me obrigou a dar uma entrevista para a Veja, dizendo que o pai do meu filho era um biólogo. (...) Foi Fernando Henrique com Mário Sérgio Conti! Isso foi um acerto feito com o diretor da Veja. Eu estava de férias e absolutamente sobre pressão, com um barrigão. A pressão? Que ia destruir a minha vida e acabar comigo!"
 
Sobre a paternidade do filho, ela afirma: “Eu tive uma relação de seis anos, fiquei grávida, decidi manter a gravidez, então é meu. Eu sou uma mulher, eu que decido isso! Se eles não querem, eles que se cuidem”.
 
Mirian relata que conheceu Fernando Henrique quando o tucano era suplente no Senado de Franco Montoro, que depois assumiu o governo de São Paulo em 1983. “Ele era muito... como é que eu vou te falar... da aristocracia de São Paulo... sabe? Irreal", ela descreve.
 
Ela comenta ainda a evolução na carreira política de Fernando Henrique. "Quando ele começou a passar de um lugar para outro, me assustou”. E completa: “Ele se achava o máximo", diz, lembrando o episódio em que FHC posou para fotografias na cadeira de prefeito de São Paulo, um dia antes da eleições. O vencedor do pleito, Jânio Quadros, depois da posse, foi até o gabinete e “desinfetou” publicamente o assento.
 
Mirian conta ainda que, quando tentou encerrar o relacionamento com o presidente, ele a perseguia. “Ele não deixava romper... ele me perseguia... quando eu ia sozinha nos lugares, ele ia atrás".
 
Na entrevista, a jornalista fala sobre o teste de DNA, que o ex-presidente teria mandado fazer e que teria dado negativo. Segunda ela, o próprio tucano teria vazado a notícia, que teria lhe prejudicado. "Ele divulgou! E isso me prejudicou muito. É o estilo dele: fazer tudo sorrateiramente e posar de bom moço", diz, deixando no ar questionamentos ao resultado do teste.
 
A jornalista afirma, que o “exílio” imposto a ela foi “muito pesado”. “Eu passei muita dificuldade, muita solidão, focada nos meus filhos, e tentando muito sempre trabalhar e pedindo pra Globo, pelo amor de Deus pra fazer alguma coisa, e eu era sempre cortada, sempre cortada", conta.
 
Mirian diz que decidiu falar sobre o assunto apenas depois de ter saído da Globo. Sem esconder a mágoa em relação à emissora da família Marinho e ao ex-amante, comenta como sua carreira foi afetada: "Meu trabalho sempre foi tão importante pra mim, isso me dói. Ter lutado tanto e de repente, por um homem completamente manipulador e por ter trabalhado em um grupo de comunicação tão... eu queria usar um verbo, mas não me permito usar esse verbo... eu fui prejudicada".