domingo, 17 de outubro de 2021

As investigações que importam

 

Sábado, 16 de outubro de 2021
As investigações que importam


Policiais do Rio foram denunciados pela chacina do Jacarezinho. Ainda bem que o Ministério Público decidiu investigar quem puxou o gatilho.

Em maio, policiais civis do Rio de Janeiro entraram na favela do Jacarezinho e mataram 27 pessoas, na maior chacina do estado – um policial também morreu na operação. O governo fluminense insiste que todas as vítimas eram criminosos que morreram em conflito com a polícia, mas nós mostramos em vídeo que tinha algo errado nessa narrativa. As casas e vielas da favela pareciam cena de crime bárbaro. 

Nesta quinta-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou dois policiais civis por homicídio doloso e fraude processual na operação. Os dois integram a Coordenadoria de Recursos Especiais, a Core, braço operacional da Polícia Civil, responsável pela ação no Jacarezinho.

Esse é um assunto caro para nós. Logo após a chacina, nosso editor-executivo, Leandro Demori, assinou um texto nesta mesma newsletter de sábado revelando, com base em fontes, que há um setor da Polícia Civil conhecido como “facção da Core”. Além do Jacarezinho, o grupo está envolvido no caso João Pedro (menino de 14 anos, morto durante uma operação), na chacina do Salgueiro (oito mortos) e no caso do helicóptero da Maré (oito mortos). 

A Polícia Civil decidiu abrir inquérito contra Demori. Ainda bem que o Ministério Público decidiu focar no que realmente interessa: investigar quem puxou o gatilho e não quem digitou num teclado.

Na época, recebemos uma forte onda de apoio. Muito obrigado a todos que se manifestaram contra esse absurdo.
 

***


Hoje publicamos uma história curiosa – e tensa. 

Fábio Souza Lima começou a trabalhar como cobrador de van aos 12 anos. Ele é negro, nascido no interior da Bahia, e foi criado numa favela do Rio de Janeiro. Duas décadas depois, vendeu sua startup à PagSeguro em um contrato milionário. 

Até aqui seria uma linda história de superação, daquelas que a grande imprensa adora – sobretudo nas editorias de economia e negócios, que sempre jogam confetes no universo startupeiro. Fábio tinha Steve Jobs pintado na parede do escritório. 

Mas o caldo entornou de um jeito que poucos veículos além do Intercept podem relevar.

Fábio foi preso em janeiro deste ano, dividindo uma cela superlotada de São Paulo, após dois anos de conflitos judiciais com a fintech bilionária do UOL, ligado ao Grupo Folha. 

"Minha vida se transformou num inferno", contou Fábio à repórter Julia Dolce.

A guerra entre Fábio e PagSeguro começou por desavenças contratuais que fizeram com que o empresário sonhador ficasse sem grana logo nos primeiros meses da relação com a fintech. Os milhões sumiram. 

A coisa escalou, e Fábio foi acusado de cometer coação no curso do processo, ou seja, "usar de violência ou grave ameaça com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio" contra uma testemunha de um processo aberto contra ele a partir de uma comunicação da PagSeguro. Foi aí que o empresário acabou em cana.

LEIA A REPORTAGEM AQUI. → 

Esta é uma reportagem que a gente publica com gosto. Bancos e fintechs costumam ganhar uma cobertura neutra (e até positiva) na imprensa porque são anunciantes. Aqui, graças ao seu apoio, não dependemos desse dinheiro. No caso da PagSeguro, a situação é ainda mais complicada porque é uma empresa bilionária ligada ao UOL e à Folha de S.Paulo. 

Bancos e financeiras costumam ser empresas de interesse público. Não são estatais, é claro, mas são empresas com ações na bolsa, cuja propriedade pode ser pulverizada entre milhares de CPFs diferentes, e cuja atuação afeta o destino de governos, de clientes e do país. 

Com o seu apoio, podemos seguir chafurdando nos bastidores e nos processos dessas empresas, revelando o que acontece nos becos mal iluminados do entorno da avenida Faria Lima. 

E, se tiver alguma dica, escreva para a nossa editora sênior em São Paulo: tatiana.dias@theintercept.com.
 

***


Hoje também contamos com a sua torcida. Temos duas reportagens na finalíssima do Prêmio Vladimir Herzog, considerado o mais importante do jornalismo brasileiro.

As reportagens são "Café com pólvora", da repórter Sabrina Felipe, sobre como a gigante de alimentos Maratá usou a violência para invadir terras de camponeses maranhenses, e "Os filhos esquecidos de Itaipu", do repórter Mauri König, um triste relato de como a ditadura militar comandou e até lucrou com duas décadas de prostituição em Foz do Iguaçu, tendo como resultado uma legião de mais de 12 mil crianças sem registro paterno na certidão. 

Duas reportagens difíceis e corajosas, que só podemos produzir porque – você já sabe – sustentamos o nosso jornalismo apenas com o apoio do nosso público. Muito obrigado mais uma vez.

Você pode acompanhar a premiação a partir das 14h no canal de YouTube do Prêmio Vladimir Herzog. 

Alexandre de Santi
Deputy Editor

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As principais notícias desta manhã no Brasil 247

 

Milícias exploram lanchonetes, creches e estacionamento em hospitais do Rio

 

Milícias exploram lanchonetes, creches e estacionamento em hospitais do Rio

Durante depoimento à CPI, em junho, Witzel afirmou que corre risco de morte nas mãos de milicianos que participam de uma suposta máfia da saúde no estado

 
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Senadores da CPI da Covid receberam denúncias da rede federal de Saúde do Rio de Janeiro de que milicianos estariam operando serviços dentro de hospitais da cidade.

Os senadores ficaram assombrados com a informação de que eles exploravam lanchonetes e creches vinculadas ao ministério da Saúde.

Entre os casos investigados pela Polícia Federal (PF), está o da exploração de um terreno em frente ao hospital Cardoso Fontes (foto), na Zona Oeste do Rio.

O local, conforme informação da coluna de Lauro Jardim, era usado para tratamento de água e esgoto da unidade de saúde, mas foi ocupado, sem licitação, e “passou a ser explorado comercialmente para atividade de estacionamento”, segundo a PF.

O negócio, de acordo com as denúncias, era operado por milícias com a conivência da direção da casa de saúde.

Witzel alertou a CPI

Durante o seu depoimento na CPI do Genocídio, em junho, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmou que corre risco de morte nas mãos de milicianos que participam de uma suposta máfia da saúde no estado. “Você pode ter certeza, senador Renan, que eu corro risco de vida (Sic). Eu tenho certeza, porque a máfia da saúde no Rio de Janeiro e quem está envolvido por trás… tenho certeza que tem miliciano envolvido por trás disso. Eu corro risco de vida com minha família”, disse, recebendo promessa de proteção pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

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