quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






Guerra declarada contra os trabalhadores.
O ex-capitão do exército está apenas a poucos dias no governo, mas já ficou bem clara a sua intenção de uma guerra aberta contra os trabalhadores e contra vários segmentos da sociedade sempre discriminados pela elite.
Pode ter passado despercebido e sem qualquer comentário na grande imprensa, mas já em sua primeira reunião com os ministros ele anunciou um pacote com 50 medidas que atingem diretamente os nossos direitos e pisoteia sobre qualquer ética. Nem todas essas medidas já foram anunciadas oficialmente, mas informações vazadas mostram que há uma espécie de “cronograma do mal” a ser seguido pelos seus auxiliares mais diretos.
O que sabemos é que seu discurso para ministros reconhecidamente reacionários e ligados às grandes empresas ou a radicalismos religiosos deixou claro que “serão 50 medidas destinas a desbloquear a economia”. Exatamente o discurso que os grandes empresários querem ouvir.
Além de anunciar a redução do salário mínimo já aprovado pelo Congresso, deixou claro que pretende fazer “profunda reforma trabalhista” e “acelerar o programa de privatizações de empresas públicas”. E já anunciou que pretende ver a sua proposta de reforma da previdência votada ainda no primeiro semestre do ano.
P Ministério do Trabalho já não existe! O Ministério do Trabalho foi extinto e suas competências e atribuições foram distribuídas em quatro outros ministérios (Economia, Justiça e Segurança, Cidadania e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) com dupla finalidade. De um lado, facilitar a implementação da reforma trabalhista, inclusive em sua dimensão sindical. De outro, esvaziar o poder da fiscalização, tanto na exigência de cumprimento da legislação e das normas coletivas, quanto na elaboração e implementação das Orientações Normativas em matéria de segurança e medicina do trabalho.
O Ministério da Economia terá competência, além dos temas previdenciários, sobre os seguintes assuntos relacionados ao trabalho:  I - política e diretrizes para a modernização das relações do trabalho; II -  fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho portuário, e aplicação das sanções previstas em normas legais ou coletivas; III - política salarial; IV – política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao trabalhador; V - formação e desenvolvimento profissional; VI -  segurança e saúde no trabalho; e VII -  regulação profissional.
Todos esses temas, cuja palavra final caberá ao ministro Paulo Guedes, estão distribuídos em várias instâncias institucionais do Ministério da Economia, que incluem três secretarias especiais, cujos titulares exercem cargo de natureza especial, uma secretaria do Trabalho, duas subsecretarias, um conselho e uma fundação, observando essa ordem hierárquica para a tomada de decisão.
O homem forte do governo Bolsonaro no mundo do trabalho será o economista e relator da reforma trabalhista na Câmara dos Deputados, o ex-deputado Rogerio Marinho (PSDB/RN). Nomeado como titular da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, terá competência: I - dirigir, superintender e coordenar as atividades das secretarias e demais unidades que integram a respectiva estrutura e orientar-lhe a atuação; II  - expedir os atos normativos relacionados ao exercício de suas competências; III - supervisionar as seguintes matérias de competência do Ministério: a) previdência e legislação do trabalho; b) fiscalização e inspeção do trabalho, inclusive do trabalho portuário, e aplicação das sanções previstas em normas legais ou coletivas; c) relações do trabalho; d) política salarial; e) formação e desenvolvimento profissional; e f) segurança e saúde no trabalho; IV - assistir o Ministro de Estado na supervisão e na coordenação das atividades de órgãos colegiados e entidades vinculadas à sua área de atuação, conforme ato próprio do Ministro de Estado; V - acompanhar o cumprimento, em âmbito nacional, dos acordos e das convenções ratificados pelo Governo brasileiro junto a organismos internacionais, em especial à OIT, nos assuntos de sua área de competência? VI - supervisionar as Superintendências Regionais do Trabalho, em articulação com as demais Secretarias Especiais que utilizem a estrutura descentralizada das Superintendências; VII - editar as normas de que trata o art. 200 do Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 – CLT; VIII - acompanhar o cumprimento, em âmbito nacional, dos acordos e das convenções ratificados pelo Governo brasileiro junto a organismos internacionais, em especial à OIT, nos assuntos de sua área de competência? e IX - elaborar proposições legislativas sobre matéria previdenciária, trabalhista ou correlata.
Além disso, também ficarão vinculados aos Ministério da Economia: a) o Conselho Nacional do Trabalho e b) a Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho).
O Ministério da Justiça e da Segurança Pública, cujo titular é Sérgio Moro, tem entre suas atribuições o registro sindical e concentrará as competências relativas a imigração. Competirá à Secretaria Nacional de Justiça, cuja secretária é a procuradora do Ministério Público Maria Hilda Marsiaj, que atuou na Lava-Jato até se aposentar em 02 de janeiro de 2019, coordenar as ações relativas ao registro sindical.
Os ministérios da Cidadania, cujo titular o ex-deputado Osmar Terra (PMDB/RS), e da Mulher, Família e Direitos Humanos, cuja ministra é a advogada Damares Alves, por sua vez, vão cuidar respectivamente das questões relacionadas a promoção de oportunidades de trabalho aos beneficiários do Bolsa-Família e do trabalho da mulher, da conciliação família e trabalho e do combate ao trabalho escravo. (A íntegra da matéria está no site do Diap, de autoria de Antônio Augusto de Queiroz)
P O que é bom tem que ser para todos? Circula nas redes sociais uma mensagem engraçada, mas que traz muitas verdades. O texto é muito simples e curto: “O que é bom tem que ser para todos”. Na continuidade da mensagem diz que a reforma da Previdência Social deveria servir também para juízes, militares e políticos!
Pois é... A grande maioria dos trabalhadores não tem conhecimento, mas o sistema previdenciário desses três setores da nossa sociedade não segue as mesmas normas da previdência de quem trabalha 65 anos para atingir uma aposentadoria quase sempre ridícula para quem se dedicou a produzir riquezas no país.
E a primeira pergunta que deveria nos ocorrer é: o que eles produzem de útil ou de riqueza para o país?
Mas agora veio à tona um fator ainda mais grave. Enquanto todos os “mentores” do governo golpista que já se foi e do governo do ex-militar que está chegando dizem que a reforma da Previdência é necessária e urgente porque o sistema tem um imenso rombo que só poderia ser corrigido com as mudanças, ainda que vários economistas e instituições de respeito tenham desmentido, os fatos mostram que há uma situação ainda mais grave que é escondida da população.
O rombo na previdência das Forças Armadas foi o que mais cresceu no último ano, de acordo com dados oficiais do próprio governo. A matéria no jornal O Estado de S. Paulo destaca que “o déficit na previdência dos militares até novembro de 2018 subiu 12,85% em relação ao mesmo período de 2017, de R$ 35,9 bilhões para R$ 40,5 bilhões. Nesse período, as receitas somaram R$ 2,1 bilhões, enquanto as despesas, R$ 42,614 bilhões. Enquanto isso, o déficit dos servidores civis da União somou R$ 43 bilhões até novembro do ano passado, alta de 5,22% em relação a igual período de 2017. Já o rombo no INSS subiu 7,4% na mesma base de comparação (os valores são todos nominais).”
Então prepare-se para a grande surpresa! Segundo a matéria, “militares da reserva e reformados das Forças Armadas ganham em média, por mês, R$ 13,7 mil de benefício. O gasto médio com os pensionistas militares foi de R$ 12,1 mil. Aposentados e pensionistas civis da União custaram R$ 9 mil mensais em 2018, enquanto no INSS, o benefício médio é de R$ 1,8 mil mensais. Em auditoria recente, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou que 55% dos militares das Forças Armadas se aposentam entre os 45 anos e os 50 anos de idade. O número revela grande disparidade com o INSS e até mesmo com o regime de servidores públicos civis da União, em que as concessões de aposentadoria se concentram entre 55 e 65 anos”. (Fonte: Brasil 247)
Na tarde de sexta-feira (11), o novo comandante do Exército, Edson Leal Pujol, já anunciou que é contra incluir os militares na tal reforma da previdência.
P Alguém faltou ao treino. Parece que o discurso dos auxiliares diretos do ex-militar que assumiu o governo não está bem afinado e dizem coisas diferentes. Enquanto o Paulo Guedes, ministro “todo poderoso” da economia diz que os militares deveriam ter uma previdência semelhante aos demais trabalhadores, os militares que agora estão no comando da nação demonstram discordância.
Na quarta-feira (09), durante a cerimônia de transmissão de cargo do Comando da Marinha, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, ressaltou que a reforma da Previdência deve avaliar regras diferenciadas para militares. A solenidade, no Clube Naval de Brasília, contou com a presença do ex-militar eleito presidente.
Mas, como vivemos no país da piada pronta, ao assumir o cargo o almirante Ilques Barbosa Junior discursou ressaltando que a dinâmica das relações internacionais estabeleceu um “tempo de guerra e paz” que exige a união de esforços de todas as Forças Armadas e da sociedade. “Em tempos de guerra e paz, é imperiosa uma rigorosa prontidão dos sistemas de defesa que envolvem tanto as Forças Armadas como os demais segmentos da sociedade brasileira de modo a ser alcançado o contínuo fortalecimento de todas as vertentes da soberania nacional”, disse.
Mas nos brindou com uma informação que a maioria dos historiadores e cidadãos do planeta não tinha conhecimento. Justificando a necessidade de submeter o Brasil aos interesses de Washington, o almirante disse que “o Brasil já participou de três guerras mundiais ao lado dos Estados Unidos”. A afirmação causou uma grande surpresa. Nós, aqui no Informativo, nem sabíamos que já houve uma terceira guerra mundial.
P Os primeiros dias do ex-militar que diz dirigir o país. Até hoje, pouco mais de uma semana de desgoverno, temos visto uma verdadeira salada de contradições, desmentidos, enganos e outras baboseiras do ex-capitão. Vamos fazer uma rápida resenha desses primeiros dias?
Dia 1 (terça-feira) – ele toma posse sob um esquema de segurança nunca visto no país, nem no auge do regime militar e impressionantes notícias de maus-tratos à imprensa. Seu discurso parecia um ato de campanha em praça pública, prometendo combater o “socialismo”, a “ideologia de gênero” e a cor vermelha. E a primeira dama mandou trocar todas as cadeiras do palácio que eram forradas de vermelho!
O ato de posse custou uma fábula aos cofres públicos, principalmente em função do esquema de segurança nunca visto, mas a imprensa “amestrada” preferiu mostrá-lo assinando o ato com uma caneta “vagabunda de 1 real”. O circo estava armado;
Dia 2 (quarta-feira) – agora mostrou suas verdadeiras intenções ao resolver que a missão de demarcar terras indígenas, principal atividade da Funai, seria transferida para o Ministério da Agricultura agora sob comando de uma das maiores representantes da bancada ruralista Teresa Cristina (DEM). Também foi repassada ao ministério a gestão das terras quilombolas.
Para não perder tempo, extinguiu uma secretaria do Ministério da Educação responsável por promover ações pró-diversidade. Todas as menções a proteção da população LGBT são retiradas das diretrizes dos Direitos Humanos.
Dia 3 (quinta-feira) – aí o “bicho pegou” de vez. Em entrevista no SBT, fala em acabar com a Justiça do Trabalho e mudanças na idade mínima na Reforma da Presidência (62 anos para homens e 57 para mulheres).
Mantém a posição entreguista da base de Alcântara e rechaça qualquer diálogo com a oposição, mas, poucas horas depois, os comandantes militares desautorizaram.
Dia 4 (sexta-feira) – o ex-militar e sua equipe econômica começam a não se entender. Em entrevista coletiva, ele anuncia aumento do IOF, mas, poucos minutos depois, é desmentido por Onyx Lorenzoni e pelo secretário Marcos Cintra.
Dia 5 (sábado) – o dia foi dedicado a participar das redes sociais, atacando Fernando Haddad e o PT.
Dia 6 (domingo) – acreditando em informações que foram passadas por “assessores”, ele critica o Ibama e é desmentido pela presidente da instituição.
As besteiras e contradições do “capetão”, suas idas e vindas em apenas alguns dias de desgoverno, já renderam uma página cômica nas redes sociais. No Facebook, por exemplo, criaram uma página chamada “Bolsonaro já recuou hoje”. Na página de pesquisas Google, a frase “Bolsonaro recua” traz mais de 100 mil resultados!
Não gostamos de escrever o nome do sacripanta, mas é o título das páginas que falam de todos os desmentidos dos ministros quando ele anuncia alguma medida. Livros didáticos, reforma agrária, base estadunidense, médicos cubanos, demarcação de terras indígenas, imagens sacras no palácio e outros “anúncios” oficiais foram alguns dos momentos hilários dessa primeira semana do ex-capitão no comando da nação.
P Washington X Nicarágua. O governo de Trump está firmemente disposto a terminar com todos os governos ainda progressistas na América Latina. Agora, em pronunciamento oficial, o “imperador” disse que está cuidando de “bloquear todos os empréstimos de instituições financeiras internacionais à Nicarágua e impor sanções econômicas contra o governo de Daniel Ortega.
A briga com a Nicarágua começou em 2007, quando Ortega chegou ao poder através do voto popular e começou a alterar completamente o modelo imposto durante os 16 anos anteriores de entrega ao neoliberalismo. Os governos “marionetes” desmontaram todo o sistema de receitas do país, privatizaram empresas e serviços básicos da população, endividaram o país e conseguiram impor uma instabilidade trabalhista.
A Nicarágua ainda tem uma direita organizada e muito bem financiada pela Casa Branca e tentou, em abril de 2018, um golpe de Estado criando distúrbios de rua que causaram prejuízos imensos à economia e ameaçando a estabilidade política. Os ataques contra centros produtivos do país, segundo organismos internacionais, fizeram o PIB despencar. A CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) havia previsto um crescimento de 5% no ano, mas o boicote à produção fez baixar para apenas 0,5%. E vale lembrar que nos cinco anos anteriores, sob a administração sandinista, o país havia crescido, em média, 5,2% ao ano.
Neste período foram criados milhares de empregos e os avanços sociais foram marcantes para a população. Daniel Ortega estabeleceu a educação e a saúde públicas e gratuitas para todos. Em 2009 a UNESCO declarou a Nicarágua como o terceiro país em nossa região “livre do analfabetismo”.
Mas, é claro, tudo isso incomoda muito o pensamento neoliberal que não quer saber de Estado forte e que se preocupe com a população. Tem que privatizar tudo e dar dinheiro para as grandes empresas, custe o que custar.
P É o segundo “aviso”! Em dezembro passado a Rússia deu o primeiro aviso ao Pentágono para não se intrometer nas questões internas da Venezuela. O envio de dois aviões bombardeiros modernos Tu-160, conhecidos como “Cisne Branco”, mostrou que há a possibilidade de deslocamento rápido de suas forças. E os aviões são dotados de armas nucleares, o que preocupou metade do planeta!
Depois das mais recentes declarações do inconsequente secretário de Trump (veja adiante) o Governo russo voltou a advertir, agora por canais diplomáticos, contra uma possível intervenção.
“Advertimos aos exaltados de Washington contra esse tipo de tentações”, diz o vice-ministro do Exterior russo, Seguéi Riabkov, em uma roda de imprensa na Índia. Ele se disse muito preocupado com a intenção estadunidense de consolidar uma frente contra a Venezuela contando com o apoio de Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Luzia. E disse que o “uso de forças militares contra a Venezuela teria consequências catastróficas”.
No sábado (05), o senador russo Ígor Morózov denunciou que a Casa Branca prepara mais uma “revolução colorida” agora contra a Venezuela. Ele se referia aos chamados “golpes suaves” que são patrocinados pelo Pentágono ao longo do planeta como parte da intervenção estadunidense na economia mundial.
Em geral, as chamadas “revoluções coloridas” são articuladas pelo Pentágono e pela CIA usando atores do próprio país que querem desestabilizar. Com farta distribuição de dólares, convocam cidadãos dos países a se mobilizarem contra os governos eleitos que não interessam à Washington.
P A crise argentina chega às famílias. O número de matrimônios que chegaram ao fim na cidade de Buenos Aires cresceu 41% em apenas um ano. O maior aumento foi registrado entre os casamentos efetuados em 20 anos ou mais que chegou a 70%.
E a crise mostra também uma queda no número de casamentos: em 2017 a queda foi de 52%, se comparado a 1990.
Mas o governo de Macri não parece estar muito preocupado com isso. Perseguindo o seu projeto neoliberal, semelhante ao agora adotado pelo ex-militar brasileiro, haverá mais um avanço contra a população mais carente do país. Segundo a ministra de Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, está em elaboração um projeto de lei para reduzir a maioridade penal no país para 15 anos de idade, no caso de “crimes graves”. A proposta deve ser apresentada ao congresso em fevereiro. No mesmo pronunciamento a ministra prometeu um endurecimento com os migrantes que vivem na Argentina, segundo ela 20% das pessoas detidas na Argentina são estrangeiras, o que justificaria a criação de uma lista de imigrantes que serão proibidos de permanecer no país.
P Preparando o ataque? Jonathan Del Rosario, ministro de Segurança, e Eric Estrada, diretor do Sistema Nacional de Fronteiras, do Panamá confirmaram na quarta-feira (09) o que todos já sabiam e a imprensa continua escondendo: tropas militares e aviões dos EUA já estão no Panamá, em bases próximas da fronteira com a Colômbia. Basta olhar um mapa da América Central e podemos entender que os dois alvos são: Nicarágua e Venezuela.
O ministro, em uma incrível demonstração de ser um capacho consagrado, disse aos jornalistas que os helicópteros da Força Aérea que fazem manobras no país são efetivos do Comando Sul dos EUA que “de maneira muito amável se ofereceu para nos apoiar”. Segundo ele, os militares estão “ajudando” em obras de construções na fronteira!
P Bolívia denuncia o Brasil. O vice-ministro de descolonização da Bolívia, Félix Cárdenas, informou à imprensa boliviana na terça-feira (08) que o país está denunciando o Brasil à Organização das Nações Unidas (ONU) por “racismo de Estado”, após ofensas feitas pelo deputado Rodrigo Amorim, do partido do ex-militar eleito presidente.
A imprensa mundial noticiou que o tal “deputado” havia comentado a situação da Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro. “Quem gosta de índio, que vá para a Bolívia, que, além de ser comunista, ainda é presidida por um índio”, falando em tom depreciativo. E só para lembrar, o pulha é o mesmo que quebrou uma placa com o nome da ex-vereadora assassinada Marielle Franco na Praça Floriano, em frente à Câmara Municipal.
Enquanto isso, nossa imprensa “esquece” de noticiar que a Bolívia é agora o país que mais investe em educação na América do Sul, com 8% de investimento do PIB na educação. Na América Latina fica atrás apenas de Cuba. Em 2018 foram cerca de US$ 4 milhões de investimento.
P Duas notas importantes. Este ano teremos momentos decisivos na América do Sul. Eleições presidenciais estão marcadas na Argentina, no Uruguai e na Bolívia. Vamos ficar atentos, principalmente nos dois primeiros países.
Agora uma nota para desopilar um pouco, porque rir é saudável. Não sei quem ainda lembra, mas, em 2017, o governo estadunidense acusou o cubano de estar realizando “ataques sônicos” contra seus funcionários que trabalhavam no escritório de representação econômica, em Havana. Usaram esse argumento para retirar diplomatas da Ilha e denunciar o governo cubano em vários organismos internacionais.
Quase dois anos depois, um grupo de cientistas estadunidenses e canadenses contratado especialmente para analisar os tais “ataques”, concluiu que os sons que incomodavam tanto eram... grilos! Isso mesmo. Também conhecidos como Anurogryllus celerinictus, os grilos são muito comuns na América do Sul e no Caribe.
Em outras palavras: a terrível “arma cubana” contra os funcionários de Washington eram inocentes grilos... e eles ficaram “grilados”!
P EUA: a teimosia de Trump e uma crise. A situação nos EUA está se agravando com a queda de braços entre o Parlamento e a Casa Branca. O chamado “fechamento” do governo já completou mais de 20 dias e é o mais longo da história do país.
As dificuldades vão se ampliando e a paralisação já atinge mais de 25% das agências e departamentos federais. O partido Democrata insiste em não aprovar o orçamento, principalmente para a construção do muro na fronteira com o México, e não concordam com a nova legislação imposta por Trump contra os imigrantes dentro dos Estados Unidos. A data limite para aprovação dos projetos de gastos do Governo terminou no dia 21 de dezembro, mas o presidente/imperador diz que não assina qualquer projeto enquanto suas propostas não forem votadas e aceitas.
Na briga entre a água e a pedra quem perde é o marisco, não é? Pois atualmente há cerca de 420 mil empregados do Estado que devem continuar em seus postos de trabalho, em função da importância de suas funções, mas não recebem salários desde dezembro. Pouco mais de 380 mil funcionários foram mandados para casa. Ou seja, mais de 800 mil trabalhadores estão acumulando dívidas e não podem pagar sequer a calefação das casas (lá estão no inverno).
A situação já provocou protestos em várias cidades: Detroit, Michigan, Chicago, Illinois, além da capital estadunidense.
P Os mais pobres são os mais afetados. Trump insiste na aprovação de seu orçamento de 5,7 bilhões de dólares para a construção do muro e os democratas recusam-se a aprovar.
Para uma grande parcela da população dos EUA os efeitos dessa briga ainda não se fizeram sentir, mas já existe uma parcela muito afetada. Nada menos do que 38 milhões de estadunidenses que dependem dos vales de alimentação suplementar já estão sendo afetados pela redução ou suspensão da distribuição.
Também estão correndo risco os pacientes que vivem em lares para anciãos da rede Promise Hoealthcare Group, porque dependem do orçamento das agências.
P “Não estou nem aí!”. Já ouviu essa expressão? Pois é, agora Donald Trump diz que não está ligando para a posição dos parlamentares e, na quinta-feira (10), ameaçou declarar situação de “emergência nacional” se não for alcançado o acordo da forma que ele quer.
“Tenho o direito absoluto de declarar a emergência nacional. Os advogados aconselharam-me a fazer isso. Não estou preparado para o fazer, mas, se tiver que fazer eu farei” disse em entrevista a jornais e revistas locais.
P Seria isso uma “democracia”? Enquanto o Congresso e o Presidente não se entendem, milhares de trabalhadores ficam sem salários e os mais pobres são afetados pela crise interna, o autoritarismo de Trump está cada vez mais exacerbado.
Em uma impressionante demonstração de desrespeito à ONU e as normas internacionais de direito das nações, o secretário de Estado de Trump, o tal do Mike Pompeu, voltou a afirmar a determinação de seu governo de derrubar Nicolás Maduro, na Venezuela.
Ele disse aos veículos de comunicação que “o governo dos EUA continuará utilizando todo o peso do seu poder econômico e diplomático para pressionar uma mudança na Venezuela”! Um total desrespeito à uma democracia e um país que acaba de eleger seu presidente em processo limpo e seguro, acompanhado por agências internacionais.

O MP, que ajudou a eleger o poder, quer agora ajudar a governar? Ou: Entre a desídia e a prevaricação

CASO FLÁVIO BOLSONARO 4: O MP, que ajudou a eleger o poder, quer agora ajudar a governar? Ou: Entre a desídia e a prevaricação

Publicada: 14/01/2019 - 20:12
Não é possível que os envolvidos no caso da grana movimentada por Fabrício Queiroz não tenham, depois de tanto tempo, uma explicação plausível — desde, claro!, que ela exista. Ocorre que, nesse caso, vai se firmando a consciência de que “todo mundo sabe o que todo mundo sabe”. Só que, agora, não seria conveniente dizê-lo. Ou seja: trata-se mesmo de enfiar a mão no bolso de moralidade em nome do patriotismo. Um patriotismo que protege um grupo político.
O Ministério Público ajudou a eleger Bolsonaro quando demonizou a política. A questão é saber até onde vai com ele. É a instituição que já começa a despertar a suspeita de que atua com pesos e medidas distintos a depender de quem seja o alvo de uma possível investigação. Por enquanto, há no ar um cheiro de desídia. Espero que a coisa toda não entre para a história como prevaricação. Será que o Ministério Público que ajudou a eleger o presidente quer agora ajudar a governar?

Investigações reais podem ser devastadoras para o bolsonarismo

Investigações reais podem ser devastadoras para o Bolsonarismo

 reais podem ser devastadoras para o Bolsonarismo


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O brasileiro herdou a cultura “ibérica” do privilégio, a “indolência” do indígena e a “malandragem” do africano. Palavras do general de pijama Antonio Hamilton Mourão, vice-presidente, na eleição. Seu pupilo Rossell Mourão, não. Esse aí tem “mérito”, garante o pai. Tanto que acaba de triplicar o salário recebido com verba pública. Bastou o novo presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, assumir o cargo na segunda-feira 7, por indicação governamental, que o talento desabrochou.
16Funcionário do banco há 19 anos, Rossell embolsará 36 mil como assessor especial de Novaes, um Chicago Boy réu no passado, graças a um escândalo de 1999 que em 2005 levou à condenação do amigo banqueiro Salvatore Cacciola. Bem que um telegrama da embaixada de Tio Sam em Brasília a Washington em 1984, estertores da ditadura festejada por Mourão, descrevia um regime corrupto e de compadres e tascava: “O sistema paraestatal (empresas) é visto como um método para empregar altos oficiais militares aposentados e seus amigos”.
Mourão e Novaes saíram a pregar que Rossell, o capaz, só não tinha subido no banco há mais tempo por causa de perseguição de governos anteriores. Petistas, presumivelmente. Convenceram alguém? Certo é que agora o vice-presidente tem um filho que desgasta a imagem do governo. Igual o chefe.
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O caso de Fabricio Queiroz, ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro, amigo de churrascada e pescaria de Jair Bolsonaro e dono de uma conta bancária com movimentações suspeitas entre 2016 e 2017, continua a aborrecer o presidente. E a intrigar a nação, com a possível exceção do Ministério Público, tanto o federal quanto o do estado do Rio de Janeiro.
Flávio foi chamado a depor na quinta-feira 10 ao MP do Rio, onde há uma investigação aberta em dezembro, mas até a conclusão desta reportagem, naquele dia, era incerto seu comparecimento. Ele, seus advogados e assessores recusavam-se a informar. Na antevéspera, quem não tinha dado as caras, apesar de chamadas a prestar esclarecimentos, haviam sido a esposa de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, e duas filhas dele, Nathália e Evelyn.
Contratadas em gabinetes parlamentares bolsonaristas, as três fizeram alguns depósitos em uma conta de Queiroz que deixaram desconfiado o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, órgão de combate à lavagem de dinheiro que preparou um relatório sobre a tal conta.
Queiroz já deu o cano no MP do Rio duas vezes em dezembro, dias 19 e 21, por alegadamente seu advogado não ter tido acesso à íntegra do material disponível sobre seu cliente. E não aceitou outras duas datas sugeridas, devido a problemas de saúde.
Internou-se em 30 de dezembro para a retirada de um câncer. Foi operado no dia em que Bolsonaro, seu amigo desde a década dos 1980, vestia a faixa. Teve alta do hospital Albert Einstein, em São Paulo, na terça-feira 8. Logo começará a passar por quimioterapia. Enquanto estiver em São Paulo, a família estará também, daí que ninguém irá ao Rio para depor.
No dia em que tomou bolo das filhas e da esposa de Queiroz, o MP do Rio afirmou em nota pública que o “não comparecimento voluntário e deliberado reflete, neste momento, uma opção dos envolvidos”. O texto fazia referência ainda à data “sugerida” para Flávio depor e dizia que ele, por ser parlamentar, tem a prerrogativa de escolher o dia. E deixava uma insinuação no ar: “O direito constitucional à ampla defesa também poderá ser exercido em juízo, caso necessário”.
Prenúncio de acusação na Justiça? “A prova documental encaminhada pelo Coaf”, continua a nota, “tem informações que permitem o prosseguimento das investigações, com a realização de outras diligências de natureza sigilosa, inclusive a quebra dos sigilos bancário e fiscal.”
Se é assim, por que o MP não pediu a quebra de nada até agora? Não chamou para ouvir pessoas que botaram grana na conta de Queiroz, algo tão ou mais importante do que saber a versão do correntista para os depósitos recebidos? Não pediu à Justiça para fazer buscas em endereços do amigo bolsonarista e da família dele? Não requereu a prisão do motorista, para forçá-lo a depor? Em uma entrevista ao SBT em 26 de dezembro, Queiroz disse: “Quero muito esclarecer e depor na frente do promotor, agradecê-lo por acatar, não pedir a minha prisão… Eu falei: ‘vou ser preso’…”
Com o aparente pouco empenho, o MP do Rio tem perdido os momentos mais importantes de uma investigação, que são os iniciais. Este MP é aquele que não viu nada e não fez nada nos oito anos do governador Sérgio Cabral, condenado a 183 anos de cadeia. O chefe do MP durante metade do mandato de Cabral, Cláudio Lopes, passou um mês preso, entre novembro e dezembro, acusado de receber mesada cabralina de 7,2 milhões de reais entre 2009 e 2012.
Cabral só foi investigado e sentenciado quando o Ministério Público Federal montou uma filial da Operação Lava Jato no Rio. Este mesmo MPF também não se interessa pelo caso Queiroz-Flávio Bolsonaro. Em duas notas públicas, fez questão de deixar claro que não pediu nenhum relatório ao Coaf. E lavou as mãos, ao encaminhar o material ao MP do Rio. Quando foi que por iniciativa própria o MPF abriu mão de uma investigação, por exemplo, na Lava Jato?
Desde que vieram a público as suspeitas apontadas pelo Coaf na movimentação de 1,2 milhão de reais de sua conta, em 6 de dezembro, a única coisa parecida com esclarecimentos de Queiroz foi a entrevista ao SBT, emissora que tem bajulado Bolsonaro e sido privilegiada por este, juntamente com a Record. Queiroz repetiu a versão do presidente de que depositou 24 mil reais na conta de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama, para quitar um empréstimo de 40 mil tomado por ele com o ex-capitão.
E disse que, apesar de ganhar uns 24 mil mensais, entre salário de PM e do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, tinha outras fontes de renda.
“Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro… Compro, revendo, compro carro, revendo carro… Eu gosto muito de comprar carro em seguradora…”
Essa faceta de comerciante explica os 605 mil reais que entraram em sua conta em 13 meses, de 1o de janeiro de 2016 a 31 de janeiro de 2017, conforme o relatório do Coaf? Seus salários explicam só metade. No governismo há gente insatisfeita com a versão de Queiroz. O chefe do GSI, o ministério da inteligência do Palácio do Planalto, é um deles. “Continua sendo esperada a manifestação dele com alguma coisa mais consistente. Eu não achei a manifestação dele absolutamente consistente.
Pode ser aquilo? Pode. O que quem está de fora espera? Uma declaração: ‘Está aqui o recibo’. Uma coisa provada”, afirmou o general de pijama Augusto Heleno no dia 3, no canal GloboNews. E olha que ele não dava bola para o caso. Dizia que Bolsonaro estava limpo, pois “o que apareceu dele é irrisório, uma quantia pequena”.
Ao SBT, que logo após sua vitória desenterrara um slogan da ditadura “(Brasil, ame-o ou deixe-o) para usar em uma vinheta, o presidente disse no dia 3 que sabia “que ele (Queiroz) fazia rolos” e que não quer falar com o amigo até tudo estar explicado. E reclamou: “Quebraram o sigilo bancário dele sem autorização judicial, cometeram um erro gravíssimo. A potencialização dele em cima do meu filho foi para me atingir. Um absurdo”. Mais: “O Coaf fala em movimentação atípica, isso não quer dizer que seja ilegal, irregular, pode ser outra coisa”.
Em seu primeiro dia no poder, Bolsonaro amordaçou o Coaf. Foi no decreto que transferiu o órgão do Ministério da Fazenda para o da Justiça. Um dos dispositivos do decreto proíbe qualquer um do Coaf de “fornecer ou divulgar as informações de caráter sigiloso, conhecidas ou obtidas em decorrência do exercício de suas funções, inclusive para os seus órgãos de origem”. O decreto original do órgão, de 1998, não tinha isso. A outra assinatura no decreto é a do ministro da Justiça, Sérgio Moro, agora chefe do Coaf. Moro, recorde-se, usou e abusou de vazamentos na Lava Jato.
No domingo 6, Moro foi cobrado em um supermercado em Brasília por causa de um desses vazamentos, o mais famoso e ilegal de todos: um telefonema entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, em março de 2016. O rapaz que lhe cobra, como se vê em um vídeo disponível na web, queria saber do caso do amigo do clã Bolsonaro.
“Por que o Queiroz não é a pauta? A roubalheira do PT é pauta, a roubalheira do Queiroz, do PSL, não é pauta do governo.” “Você está sendo desagradável e mal-educado com todo mundo aqui”, queixou-se o ex-juiz.
Dura, a vida de Moro. O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é investigado pela Justiça por caixa 2, apesar de o ex-juiz tê-lo absolvido simbolicamente, pois, afinal, Lorenzoni pediu desculpas. Agora se soube, no jornal Zero Hora da terça-feira 8, que Lorenzoni contratava, com verba de gabinete de deputado, a empresa de um amigo e colaborador de campanha, pagamentos de 317 mil entre 2009 e 2018, média de 2,6 mil mensais. Esta empresa, a Oficce RS Consultoria, emitiu durante um bom tempo notas com números em sequência, o que sugere que só existia para trabalhar para Lorenzoni.
O caso do motorista e a suspeita de ele ser um “laranja da família Bolsonaro”, conforme define o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, deixa incomodados setores direitistas que veem risco de o bolsonarismo desmoralizar-se e arrastar todo mundo. É o caso do MBL, do deputado eleito Kim Kataguiri, um aspirante à Presidência da Câmara contra o candidato apoiado pelo partido de Bolsonaro, Rodrigo Maia, do DEM.
Em um texto de 20 de dezembro, o editor-chefe do MBLNews, Renan Santos, que era conhecido como Renan Rolo na faculdade, expôs os receios. Para ele, Bolsonaro valeu-se a vida inteira “de todos os privilégios” de deputado. Agora, caso haja uma “devassa nos gabinetes da família” pelo MP, “as consequências poderão ser terríveis para o clã, e terão efeito sobre o discurso moralista que impuseram sobre sua militância, com reverberações no embate narrativo travado entre a nova direita e o establishment midiático”.
E aí, MP, vai ter devassa?

A REVOLUÇÃO CUBANA COMPLETA 60 ANOS


A REVOLUÇÃO CUBANA COMPLETA 60 ANOS
Frei Betto*
1º de janeiro de 2019, 60 anos da Revolução Cubana. Quem diria? Para a soberba dos serviços de inteligência dos EUA a ousadia dos barbudos de Sierra Maestra, ao livrar Cuba da esfera de domínio de Tio Sam, era um “mau exemplo” a ser o quanto antes apagado das páginas da história. A CIA mobilizou e treinou milhares de mercenários e Kennedy mandou-os invadir Cuba (1961). Foram vergonhosamente derrotados por um povo em armas. E, de quebra, a hostilidade da Casa Branca levou Cuba a se alinhar à União Soviética. O tiro saiu pela culatra. Mexer com Cuba passou a significar aquecer a Guerra Fria, como o demonstrou a crise dos mísseis (1962).
Tio Sam não botou as barbas de molho. Transformou cubanos exilados em Miami em terroristas que derrubaram aviões, explodiram bombas, promoveram sabotagens. E investiu uma fortuna para alcançar o mais espetacular objetivo terrorista: eliminar Fidel. Foram mais de 600 atentados. Todos fracassados. Fidel faleceu na cama, cercado pela família, em 25 de novembro de 2016, pouco antes de a Revolução completar 58 anos. Havia sobrevivido a 10 ocupantes da Casa Branca que autorizaram operações terroristas contra Cuba: Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho.
Fracassada a invasão da Baía dos Porcos, impôs-se o bloqueio a Cuba (1961). Medida criticada por três papas em visita a Havana: João Paulo II (1998), Bento XVI (2012) e Francisco (2015). Porém, a Casa Branca não escuta vozes sensatas. Prefere se isolar, ao lado de Israel, a cada ano em que a Assembleia da ONU vota o tema do bloqueio. Pela 27ª vez, em 2018, 189 países se manifestaram contra o bloqueio a Cuba.
Com a queda do Muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética (1989), os profetas da desgraça prenunciaram o fim do socialismo cubano. Não falharia a teoria do dominó... Equivocaram-se. Cuba resistiu, suportou o Período Especial (1990-1995) e se adaptou aos novos tempos de globalização.
Muitos se perguntam: por que os EUA não invadiram Cuba com tropas convencionais (já que os mercenários foram derrotados), como fez na Somália (1993), Granada (1983), Afeganistão (2001) e Iraque (2003), Líbia (2011), Síria (2017), Níger (2017), e Iêmen (2018)? A resposta é simples: uma potência bélica é capaz de ocupar um país e derrubar o seu governo. Mas não derrotar um povo. Esta lição os estadunidenses aprenderam amargamente no Vietnã, onde foram escorraçados por um povo camponês (1955-1975). Atacar Cuba significaria enfrentar uma guerra popular. Após a humilhação sofrida no Sudeste Asiático, a Casa Branca prefere não correr o risco.
Por que Cuba incomoda a tantos que associam, indevidamente, capitalismo e democracia? Porque Cuba convence as pessoas intelectualmente honestas, que não se deixam levar pela propaganda anticomunista fundada em preconceitos, e não em fatos, que, apesar de toda a campanha mundial contra a Revolução, na ilha ninguém morre de fome, anda descalço, é analfabeto com mais de 6 anos de idade, precisa ter dinheiro para ingressar na escola ou cuidar da saúde, seja uma gripe ou uma complexa cirurgia do coração ou do cérebro. No IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU, que abrange 189 países, Cuba ocupa melhor lugar (68º) que a maioria dos países da América Latina, incluído o Brasil (79º lugar).
Enquanto o capitalismo enfatiza, como valor, a competitividade, a Revolução incute no povo cubano a solidariedade. Graças a isso Cuba despachou tropas, nas décadas de 1960 e 1970, para ajudar nações africanas a se libertarem do colonialismo europeu e conquistarem sua independência. Raúl Castro foi o único chefe de Estado estrangeiro a ter direito a discursar nos funerais de Mandela, porque o governo da África do Sul reconheceu a importância da solidariedade cubana para o fim do apartheid.
Graças à solidariedade, professores e médicos cubanos se espalham por mais de 100 países, trabalhando nas áreas mais pobres e remotas. E graças aos princípios éticos da Revolução, em Cuba não se vê famílias debaixo de pontes, crianças de rua, mendigos estirados pelas calçadas, cracolândia, máfias de drogas. Os delatores da Odebrecht denunciaram todos os agentes públicos corrompidos nos países da América Latina nos quais a empresa atuou. Menos Cuba, onde ela construiu o porto de Mariel. Algum delator quis defender Cuba? Óbvio que não. Apenas nenhum cubano se deixou corromper.
O povo cubano chegou ao paraíso? Longe disso. Cuba é uma nação pobre, porém decente. Apesar do bloqueio e de todos os problemas que ele acarreta, seu povo é feliz. Por que então muitos saem de Cuba? Ora, muitos saem de qualquer país que enfrenta dificuldades. Saem da Espanha, da Grécia, da Turquia, do Brasil, da Venezuela e da Argentina. Mas quem sai? De Cuba, aqueles que, contaminados pela propaganda do consumismo capitalista, acreditam que o Eldorado fica acima do Rio Grande. Os mesmos que se regozijam com a emigração de uns poucos cubanos jamais se indagam por que nunca houve em Cuba uma manifestação popular contrária ao governo, como acaba de ocorrer na França (jalecos amarelos) e também recentemente na Tunísia (2011), Egito (2011), Turquia (2016), e anteriormente nos EUA (Seattle, 1999).
Haveria em Cuba soldados ou guardas em cada esquina? João Paulo II declarou que lhe chamou a atenção não ver veículos militares nas ruas ao visitar Havana, como observou em tantos outros países. A maior arma da resistência cubana é a consciência da população.
A Revolução Cubana comemora 60 anos!
É muito pouco para um país triplamente ilhado: pela geografia, pelo bloqueio e por ser o único da história do Ocidente a adotar o socialismo. E quando os cubanos comemoram, não olham apenas para o passado de tantas gloriosas conquistas entre muitos desafios e dificuldades. Inspirados por Martí, Che, Fidel e Raúl, os cubanos sabem que a Revolução ainda é um projeto de futuro. Não só para a Cuba, mas para toda a humanidade, até que as diferenças (idioma, cultura, sexo, religião, cor da pele etc.) não sejam mais motivo de divergências, e a desigualdade social figure nos arquivos de pesquisas apenas como uma abominável referência histórica, como é hoje a escravatura.
Longa vida à Revolução Cubana!
* Frei Betto é escritor, autor de Paraíso perdido – Viagens pelo mundo socialista (Editora Rocco), entre outros livros.

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