Querem que nosso continente volte a ser quintal dos EUA, afirma Frei Betto
Para escritor, há uma forte influência estadunidense na ascensão conservadora da América Latina
Guilherme Weimann
São Paulo
Para Frei Betto, governos progressistas da região erraram em não politizar o povo / José Cruz/Agência Brasil
“Os ianques farão de tudo para que o nosso continente volte a ser o quintal deles”. Para Frei Betto, uma das principais referências da história dos movimentos populares no Brasil, a ascensão conservadora no Brasil e em outros países da América Latina tem influência direta dos Estados Unidos. Ele acredita, porém, que os “governos progressistas” que chegaram ao poder no continente na última década precisam reconhecer seus erros, como o de “não cuidar da alfabetização política do povo”.
Ao longo dos seus 71 anos, o frade dominicano Carlos Alberto Libâno Christo participou da Ação Católica e enfrentou a repressão ao lado de Frei Tito e Carlos Marighella, líderes de esquerda mortos pela ditadura militar. Por conta de seu engajamento, Frei Betto foi preso duas vezes entre as décadas de 1960 e 1970.
Com a ascensão de Lula à presidência, ele coordenou o programa Fome Zero, posteriormente substituído pelo Bolsa Família. Entretanto, após dois anos, saiu do governo por críticas às mudanças ideológicas do Partido dos Trabalhadores (PT).
Ele, que é autor de mais de 60 livros, relaciona a tentativa de retirada da presidenta Dilma Rousseff aos processos que levaram à deposição dos presidentes Fernando Lugo (Paraguai) e Manuel Zelaya (Honduras). “Considero o impeachment um golpe branco”, declara, taxativamente.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato: O Brasil está dividido. Qual a sua opinião em relação aoimpeachment?
Frei Betto:Considero oimpeachmentum golpe branco, à semelhança do que ocorreu em Honduras [em 2009] e no Paraguai [2012]. Entre as vozes das ruas e as das urnas, fico com a última. Se houverimpeachment, o Brasil entrará em turbulência política permanente, pois qualquer oposição tenderá a recorrer a este recurso.
Quais as consequências de uma eventual derrubada da presidenta?
Os governos Lula e o primeiro de Dilma foram os melhores de nossa história republicana, mas cometeram erros graves: nenhuma reforma estrutural, falta de valorização dos movimentos sociais (sempre chamados na hora de apagar incêndios), estímulo ao consumismo, despolitização da nação, entre outros. Apesar disso, os mais pobres tiveram conquistas importantes: 45 milhões saíram da miséria, não houve criminalização dos movimentos sociais e a política externa foi independente. Se Dilma cair, o Brasil passará do Estado de Direito ao Estado da direita.
Independentemente do processo deimpeachment, qual o futuro do PT? Existe possibilidade de uma guinada à esquerda?
Não creio na recuperação do PT, infelizmente. Ele jogou na lata de lixo da história os três capitais simbólicos que o caracterizavam na origem: ser o partido da ética; ser o partido da organização da classe trabalhadora; ser o partido do horizonte socialista para o Brasil, o que traria mudanças estruturais. O envolvimento de alguns de seus dirigentes na corrupção ficará como uma ferida incicatrizável. O PT tem que se reinventar de outro modo. Mas antes deveria fazer uma séria autocrítica.
O senhor viveu a violência da ditadura. Como enxerga o atual momento, no qual alguns setores reivindicam a volta do regime militar?
Isso é choro de derrotados e fracassados. Felizmente, os militares estão com as barbas de molho…
Vários “governos progressistas” têm sofrido derrotas na América Latina. Existe uma conexão entre os diversos movimentos dessa ascensão conversadora no continente?
Claro, pois os Estados Unidos não dormem em serviço. Quanto mais puderem desestabilizar os governos progressistas da América Latina, mais o farão. Porém, esses governos devem também reconhecer seus erros, como o de não cuidar da alfabetização política do povo, não valorizar o mercado interno e ficar demasiadamente na dependência do [capital] externo, além de não organizar as bases populares.
Interesses norte-americanos têm alguma influência na atual situação política do país?
Está dito acima. Os ianques farão de tudo para que o nosso continente volte a ser o quintal deles.
O ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, reapareceu em público nesta quinta-feira (07/04) durante um ato em homenagem a Vilma Espín, esposa de seu irmão Raúl, falecida em 2007 e considerada uma das heroínas da revolução na ilha.
Agência Efe Fidel visitou complexo educacional que leva o nome de Vilma Espín, considerada uma das heroinas da Revolução Cubana
Fidel visitou o complexo educacional que leva o nome de Vilma na capital do país, Havana, onde participou de uma homenagem à fundadora da FMC (Federação de Mulheres Cubanas) no dia em que ela completaria 86 anos.
O líder da Revolução Cubana teve também um encontro com alunos e professores, onde falou sobre temas relacionados à educação, saúde e alimentação.
Nas imagens, exibidas pela televisão estatal de Cuba, Fidel – que completará 90 anos em agosto - aparece sentado vestindo uma jaqueta esportiva de cor branca, um boné preto e falando para um auditório cheio.
"Eu tenho certeza que em um dia como hoje Vilma estaria muito contente porque estaria vendo pelo que sacrificou sua vida", disse Fidel em referência ao trabalho de Espín. Ela foi a criadora dos chamados "círculos infantis", como se denomina os maternais em Cuba.
"Todos os que morrem lutando pela revolução vão deixando energia no caminho, vão deixando o esforço e a luta por isso", acrescentou.
Ele disse também que contar com escolas como a que visitou é um "privilégio" para Cuba, já que este tipo de centro "vai se aproximando de uma espécie de sonho".
"Eu tentava lembrar se conhecia algum lugar onde existisse uma escola como esta. Não aparece esse lugar", comentou.
Fidel Castro se afastou do poder em 2006 em consequência de uma grave doença e delegou a seu irmão Raúl a Presidência do país.
Suas aparições públicas têm sido esporádicas na última década - a última havia sido em julho de 2015 durante encontro com comandantes militares da ilha e trabalhadores que se dedicam à produção de alimentos.
O ex-presidente, no entanto, segue publicando artigos na imprensa oficial. Seu texto mais recente foi divulgado em 28 de março sobre a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à ilha. No artigo, Fidel declarou que "Cuba não precisa de presentes do império".
Manifestantes colocam pato inflável de 12 metros de altura em frente ao Congresso Nacional. A Ação faz parte da campanha contra o aumento de impostos “Não vou pagar o pato”, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Data: 01/10/2015 – Foto: Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
Dia 7 de Abril, Dia do Jornalista, jornalistas lotaram o auditório de sindicato, em São Paulo, num ato político de muita força para juntar-se ao clamor nacional de que não vai haver golpe, vai haver luta. Nesse sentido aprovaram um manifesto que foi enviado à presidenta Dilma Rousseff.
Houve consenso em torno de que o país está mergulhado em profunda crise política, que os conglomerados de comunicação estão atuando como partidos políticos e promotores do golpe para derrubar o governo; que é preciso resistir à escalada golpista, defender a legalidade e o respeito aos votos que elegeram o atual governo.
Presente ao ato, os discursos me levaram à seguinte reflexão.
Sim, vamos resistir, vai haver luta. Como?
Não será um pouco tarde para denunciar um golpe que foi perpetrado já há algum tempo? Os octogenários ali presentes se lembrarão de que de 1954 até os dias de hoje a história deste país é uma sucessão de golpes de Estado. E que há farta bibliografia dissecando os mecanismos desses golpes.
Eu, pessoalmente, além de ter testemunhado os golpes e contragolpes no Brasil, como jornalista estive presente também em inúmeros golpes perpetrados contra governos democráticos de nossos vizinhos e outros países de Nossa América irredenta. A tal ponto, que o jornalista Newton Carlos, que publicava coluna sobre política internacional em vários jornais, editava um suplemento sobre América Latina noCorreio da Manhãe me utilizava muito como fonte, dizia alto e bom som que eu era da “esquerda demolidora”, pois onde eu estava havia golpes de Estado. Há farta literatura sobre todos esses golpes.
O que me indigna é que, com tudo isso, parece que não aprendemos nada. Como é possível que um governo se deixe encurralar sem nada fazer para estancar a escalada golpista? Onde estão os serviços de inteligência desse governo? Não viram a enxurrada de dinheiro despejada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e outras instituições nacionais e estrangeiras para financiar os golpistas e, inclusive, os movimentos de rua?
A Fiesp, todos sabemos, longe de representar uma burguesia nacional, é hoje um estamento gerencial a serviço do capital transnacional. Toda indústria dinâmica de nosso país está hoje em mãos estrangeiras. Perdemos o controle sobre os centros de decisão, sobre política monetária e fiscal, sobre os rumos da economia e do desenvolvimento. É preciso recuperar o controle sobre os centros de decisão.
Como é possível que não haja resposta a tudo isso? Onde estão os meios de comunicação institucional, que são muitos, com que conta o governo? Por que não se usa as grandes redes de televisão em cadeia nacional? Afinal, todas são concessão do Estado, é só requisitar e colocar em cadeia para defender o governo e mobilizar as pessoas.
Inexplicavelmente paralisado na defensiva todo o tempo, o governo está agora num beco sem saída. E pior, conseguiu ficar completamente isolado. Quanto somos os que estamos dispostos a realmente resistir, ir à luta?
O primeiro passo é assumir o poder e exercer o poder.
Só um fato novo poderia reverter essa situação. Uma ação capaz de empolgar as massas populares. Mas parece que não há vontade política para mudar coisa alguma. Só manter-se no poder.
A gravidade da situação me assusta. Não é o governo de Dilma ou do PT que está em risco. Mais do que a democracia e a legalidade, o que está verdadeiramente em risco é a soberania do país; é o Estado de direito; é o futuro: que país vamos deixar para nossos netos? País nenhum se não se reverter as expectativas e conseguir o apoio da massas para um Projeto Nacional.
Um pouco de história
Já octogenário, com 60 anos de jornalismo e política, de 1954 pra cá, a história do país tem sido, realmente, uma sucessão de golpes de Estado, eterna conspiração para manter o país no atraso sob a hegemonia de uma oligarquia rançosa e servil, principalmente servil, sem nenhum sentido de pátria.
1954 foi o golpe que levou Getúlio Vargas ao suicídio; morte que frustrou os golpistas, mas não conseguiu estabilizar o país. Em 1955 tentaram impedir a posse de Juscelino Kubitschek, não conseguiram e, durante seu mandato, houve mais duas tentativas de golpe. Em 1960 tivemos a farsa eleitoral que levouJânio Quadrosao poder.
Em 1961, outra tentativa de golpe, disfarçada atrás da renúncia do presidente, desta vez frustrada pela reação do governadorLeonel Brizola, que conseguiu empolgar a nação em torno da defesa de legalidade.João Goulart, trabalhista histórico e vice do presidente deposto, tomou posse, mediatizado pelo parlamentarismo, que logo foi derrubado pela vontade popular manifestada em plebiscito.
A direita não deu um minuto de paz para Goulart até que com ajuda de Washington conseguiram derrubar o governo democrático e popular e implantar uma ditadura que, conduzida por militares, durou mais de duas décadas.
Há farta bibliografia de pesquisadores que fizeram a biopsia detalhada do que foi a condução e execução do golpe contra o governo de Goulart. Mais que um golpe, como constatou o pesquisador René Dreiffuz, foi a captura do Estado pelo capital transnacional. EMoniz Bandeiranão deixou dúvidas em seus livros sobre os interesses e participação de Estados Unidos no golpe. Hoje há até filmes com avoz de Kennedydando luz verde à CIA para derrubar Jango.
O processo de redemocratização iniciado com a década de 1980, que teve seu auge com multidões se manifestando em favor de Eleições Diretas e logo pela Constituinte, não conseguiu se consolidar. É a realidade. Não conseguiu avançar nas questões essenciais como a da reforma política, reforma do judiciário, reforma tributária, para não falar nas questões sociais como reforma agrária e reforma urbana, com saneamento básico, atendimento à educação e à saúde.
Não conseguiu algo essencial e fundamental que é a captura do Estado como centro de decisão e poder hegemônico para executar um projeto de nação e uma estratégia de desenvolvimento.
Era preciso, nesse momento, desencadear uma ação cultural para atacar o ranço do totalitarismo impresso na alma do brasileiro. Era preciso ter um projeto nacional e o único que tinha era Leonel Brizola e seu núcleo de trabalhistas, nacionalistas e socialistas. Por isso, a ditadura e a mídia fizeram tudo para demonizar a figura do líder trabalhista.
Frustrada a campanha por eleição direta, tivemos que aguentar o governo do clã de José Sarney até que a Constituinte devolvesse o poder do voto ao povo. E então, tivemos outra farsa eleitoral que, em 1989, conduziuFernando Collor de Melloao poder. O “caçador de marajás”, que ia acabar com a corrução e salvar o país do comunismo. Tratava-se, na realidade, de salvar a pele das oligarquias ameaçadas pela candidatura do trabalhista nacionalista Leonel Brizola.
Aconteceu que, junto com Collor, aumentou o poder da máfia do narcotráfico, associada a seu principal assessor e coordenador da campanha, Paulo Cesar Faria (PC Farias). Collor cumpriu seu papel, fez o Plano Collor de estabilização da moeda e abriu o mercado brasileiro para as transnacionais. Porém, há sempre um porém. A criatura já não servia mais aos criadores. Armaram então o golpe.
Brizola foi o primeiro que denunciou, em dezembro de 1992, que a derrubada do presidente era um golpe. Golpe conduzido pelos meios de comunicação, um Parlamento dócil e majoritariamente pró-oligarca, e as manifestações populares, compostas principalmente pela classe média, induzida pelos meios de comunicação, sempre sensível às denúncias de que é preciso combater a corrupção e o desgoverno.
Itamar Franco, em seu governo de transição, não teve tempo, nem força política para levar adiante um plano de governo. Ficou na intenção, mas, conseguiu realmente algo inusitado e surpreendente, que foi a aprovação do Plano Real de estabilização da moeda.
O governo entreguista
Roubando as glórias que caberia a Itamar pelo Plano Real, e com apoio total da mídia e das grandes corporações transnacionais, ou seja, com todo o dinheiro do mundo, foi eleito Fernando Henrique Cardoso. E o que mais impressiona, com o apoio de amplos setores de acadêmicos e intelectuais. Nesse sentido, a eleição de FHC foi outra farsa eleitoral.
Alçado ao poder, o sociólogo cumpriu à risca o que havia teorizado em livros, ou seja, a teoria de que um país em desenvolvimento só tem chance de se desenvolver abrindo as pernas para o capital transnacional. E eram tempos de Consenso de Washington e os meios de comunicação se renderam ao pensamento único. Do alto de sua cadeira no moribundo Ministério da Cultura, Francisco Wefort, um dos ideólogos do PT, agora convertido, proclama a morte de Marx.
Foram 12 anos de Fernandato (1990-2002 – Fernando Collor e Fernando Henrique) que arruinaram o país. Se impôs hegemonicamente a ditadura do capital financeiro e a consolidação da mídia como porta-voz do pensamento único. Jorge Soros, através de Armínio Fraga, governando o país. Processo acelerado de privatização, alienação das riquezas naturais e destruição do parque industrial e tecnológico.
E aí chegamos às eleições de 2002. Durante a campanha eleitoral, nos dois turnos, o que se viu foi uma farsa psicossocial. Foi uma representação induzindo ao logro, com raras exceções, assim mesmo no âmbito dos candidatos sem chance. As agências de publicidade transformaram as eleições numa disputa de marketing mercadológico. Vendeu-se ilusão, nenhum programa fundado num projeto nacional.
Apesar disso, saudei na época: “a vitória das oposições e a ascensão de Lula, um operário ao poder, após 12 anos de ditadura do capital financeiro, oferece condições para que se abra um novo ciclo na história do Brasil, caso se mantenha a coesão das forças que garantiram a vitória em outubro. A situação do Brasil não é insolúvel caso se mudem os rumos da política econômica. Mas, não há de se alimentar ilusões. Períodos difíceis terão de ser suportados pelo povo brasileiro”.
Ganharam a eleição, ocuparam o Palácio da Alvorada, mas não assumiram o poder real. E havia condições para isso, vasto apoio de amplos setores da população, cansada de tanto desgoverno da era do fernandato. O povo queria mudança.
O que vimos, no entanto, é que não houve mudança de rumo, apenas mudança de método. Na essência, o que continuava a vigorar era o pensamento único, a ditadura do capital financeiro, a presença hegemônica da mídia corporativa.
Era oportunidade para dotar o país de um Projeto Nacional; nacionalizar o pensamento nos organismos de segurança do Estado. Não se fez. Os serviços de inteligência da ditadura, bem como a Polícia Federal, desenvolvidos, treinados e equipados pelos Estados Unidos, permaneceram intactos. O povo continuou sendo o inimigo a combater pelas forças de segurança do Estado.
Passados oito anos, a nova campanha para sucessão conduziu outra farsa eleitoral. Os marqueteiros conseguiram ganhar a eleição com Dilma Rousseff, mas não conquistaram o poder. De novo havia condições para mudança, era o que o povo queria. Porém, não havia condições e sequer vontade de mudar. A ingovernabilidade era evidente dada a composição do Congresso Nacional.
E tudo isso se repetiria depois de quatro anos. E assim, chegamos à situação em que estamos: o governo num beco sem saída. Um governo que governa nada, só na defensiva. Não tem a seu favor nem o próprio governo, ou seja, os serviços de inteligência, os órgãos de defesa e segurança, um centro de pensamento e formulação de estratégias. Tem um sistema de comunicação e não o usa. Tem o poder de convocar cadeias nacionais de rádio e televisão e não o faz.
A direita e o capital transnacional, com os serviços de inteligência de vários países estão numa gigantesca maré ofensiva. Desencadearam um verdadeiro tsunami que nem eles mesmos têm condições de deter.
Só uma maré popular de maior dimensão poderia detê-los. É trabalho para muitos anos, pois é preciso uma reversão de expectativas de amplo espectro, que recupere um sentimento de pátria, que ponha a universidade a pensar o país e as lideranças a formular um projeto nacional e uma estratégia de desenvolvimento e um plano de governo com vistas a viabilizar esse projeto.
dois pontos altos NA
biografia DO RELATOR DO PROCESSO DE IMPEACHMENT DE DILMA
1) Em 2011 foi acusado pelo Ministério
Público Federal em Goiás numa ação por improbidade administrativa. Ele e o
sócio (ops, amigo) dele, o ex-gerente do INSS em Goiás, José Aparecido da
Silva, preso em 2010 após ação da Polícia Federal conhecida como “Operação
Guia”. Interceptações telefônicas revelaram a participação ativa do deputado em
esquema de trocas de favores envolvendo desde a indicação de cargos dentro do
INSS à concessão de benefícios a seus cupinchas. Em 2014 o caso foi arquivado
pelo Supremo. Ganha um doce quem adivinhar o nome do relator do caso. Ele
mesmo, Gilmar Mendes.
2) Jovair é um aliado de valor de Cunha:
teria cobrado R$ 4 milhões apenas para apoiar a recondução ao cargo do
presidente da Agência Goiana de Meio Ambiente. Quem veiculou a denúncia? É até
engraçado, mas foi a Veja! Isso mesmo, Veja desceu o cacete no deputado em
2012, quando considerava que isso prejudicava o governo do PT. Disse a revista
na ocasião: “Num documento de 24 páginas assinado e entregue formalmente ao
Ministério Público em dezembro passado, ele diz que, quando estava de saída da
agência ambiental, ouviu uma proposta nada ortodoxa: Jovair, a quem caberia
indicar o novo presidente do órgão, pediu 4 milhões de reais para apoiar sua
recondução. ‘O deputado queria R$ 4 milhões para que o infraescrito fosse
indicado para continuar na titularidade do órgão público’, escreveu”. R$ 4
milhões só pra apoiar a recondução do presidente de uma agência estadual ao
cargo (segundo a Veja). Está tudo no link aqui, mas como Jovair agora é da famiglia dos Civita, não se sabe até
quando estará no ar.
Jovair Arantes é mesmo um parlamentar de
muito(s) valor(es).
Para não ser demitido, Moro
alega que não sabia qual telefone estava grampeado
Não se sabe se o juiz Sérgio Moro quis
dizer ao Supremo que é desidioso, irresponsável ou cara de pau.
O fato é que ele mandou ontem ao STF um
ofício dizendo que “não percebeu” que um dos telefones que mandou grampear era
o Pabx de 25 ramais do escritório do advogado de Lula – e de vários outros
profissionais e clientes .
Curiosa explicação porque, mesmo que o
MP tenha informado erroneamente, Moro recebeu dois ofícios da Telefônica com a
informação de que, entre os telefones interceptados estava o do escritório de
advocacia: um no dia 23 de fevereiro e outro a 7 de março.
Com nome, CNPJ e endereço, claríssimos.
Aliás, nos próprios ofícios a Telefônica
coloca à disposição do juízo – como deve ter feito nas centenas de
grampeamentos ordenados por Moro – o seu “Portal Jud”, que permite “via web,24
h por dia” o acesso aos dados cadastrais de qualquer telefone.
E nos cadastros da empresa, o telefone é
do escritório de advocacia.
Se Moro diz a verdade, seu Juízo está
sendo, no mínimo, desidioso, porque é providência básica, com a comunicação da
empresa de telefonia, verificar se os números grampeados são daquelas pessoas a
que foram autorizados espionar. Se houve um desvio, ou um erro ou, até, a
inclusão de um número “contrabandeado”entre os interceptados, sem conferência,
isso seria possível e impune.
Irresponsável, pois se trata de um
direito fundamental – a privacidade das comunicações – cuja violação judicial é
excepcionalíssima e obrigatoriamente cerca de todos os cuidados.
Mas a pior parte do ofício ainda está
por vir.
É aquela em que Moro diz que mesmo tendo
determinando a escuta “sem perceber”, poderia tê-lo feito, porque o advogado de
Lula é, para ele, investigado. Ora, a interceptação do terminal do escritório
do advogado foi feita antes desta ordem e, portanto, é ilegal.
Mais, Moro diz que ” não há nos
relatórios de interceptação da Polícia Federal, com a seleção dos áudios
relevantes, diálogos interceptados a partir do referido terminal” mas, logo
adiante, no ofício, ressalva que caso “eventualmente existam diálogos
interceptados no terminal x, não foram eles tornados públicos e, caso, inadvertidamente,
tenham, de fato, sido interceptados diálogos de outros advogados, que não o
investigado Roberto Teixeira, eles se submeteriam ao procedimento de
inutilização do art. 9º da Lei nº 9.434/1997.”
Como assim, Sr. Moro, há, não há ou o
senhor não sabe o que está no processo?
Pretende que o Supremo Tribunal Federal acredite
nisso, depois que ficou sabendo que o senhor intercepta Deus e o mundo e divulga, a toque de caixa, tudo aquilo que pode
gerar impacto político?