segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Corrupção na ditadura

FINALMENTE, AS RUAS TOMAM A PALAVRA

FINALMENTE, AS RUAS TOMAM A PALAVRA
Roberto Amaral
A carta do vice-presidente da República – pobre, patética, beirando a infantilidade – dá a justa medida do estado moral lastimável em que se encontra a política brasileira, apequenada, amesquinhada, aviltada e envilecida.
O pronunciamento das ruas grita um rotundo "não" a toda e qualquer ameaça às conquistas sociais
A ambição do impedimento da presidente Dilma é mais do que reverter o resultado das eleições de 2014 – um ano que insiste em não terminar –, jogando ao lixo, com a ordem constitucional irremediavelmente corrompida, a soberania do voto, na qual se assenta a legitimidade da democracia representativa.
O argumento forjado em torno das tais ‘pedaladas’ – e outras chicanas – é simples pretexto para justificar uma petição inepta, firmada por um ancião digno, mas manipulado, um advogado cuja importância está no sobrenome herdado, e uma ‘jurista’ sem nome e sem obra, açulados os três pelos holofotes do momento, e lamentavelmente servindo, conscientemente, de biombo a uma alcateia faminta de poder.
E aí está o cerne da questão. O mérito do pedido, mesmo para seus subscritores, torna-se, no contexto, irrelevante, pois o que importa é seu papel como detonador necessário da abertura do processo de impeachment, acuando a presidente, paralisando o governo e a vida econômica, e pondo em xeque a desarticulada e infiel e cara base governista.
Para esse efeito, portanto, o expediente já cumpriu com seu papel de espoleta, ao ensejar ao correntista suíço a abertura do procedimento jurídico que visa à cassação do mandato da presidente Dilma. O fato objetivo, portanto, é que a oposição, com a contribuição indispensável e valorosa do PMDB, e seus principais líderes, logrou acuar o governo e pôr suas lideranças na defensiva. Mas logrou também acionar o STF – uma vez mais a judicialização da política por iniciativa de partidos! – e, principalmente, trazer a discussão para a sociedade, dividida, mas mobilizada.
Mas o mesmo movimento que acuou o governo e a presidente liberou as grandes massas que retornaram às ruas em todo o País em defesa de seu mandato. O pronunciamento das ruas chamado pela Frente Brasil Popular, porém, deve ser lido em todos os significados. Ele também grita um rotundo "Não" a toda e qualquer ameaça às conquistas sociais, e ainda serve de aviso sobre a disposição de resistir à eventualidade do golpe, bem como suas consequências.
A crise, entre outros méritos, tem o de expor à luz do sol o sempre escamoteado caráter de luta de classe do conflito politico. Não é por acaso que o impeachment seja reclamado por instituições como a FIESP, e que a defesa do mandato de Dilma Rousseff seja a palavra de ordem dos trabalhadores, liderados pelas centrais sindicais e pelo MST.
A direita de hoje (é do seu DNA a incapacidade de renovar-se, pelo menos no Brasil) é a mesma que nos anos 50 não aceitava a hegemonia do trabalhismo, e que nos anos 60 rejeitava tanto a emergência das massas quanto a promessa de reformas. Reformas que, diga-se de passagem, simplesmente prometiam a construção de uma sociedade capitalista mais moderna e um pouco menos injusta. As ‘reformas de base’, ainda à espera de realização (meio século passado), detonaram João Goulart.
Esses fantasmas, com o lulismo, voltaram a assustar a Avenida Paulista. Daí a crise, daí a conspiração golpista, à plena luz do dia, da qual hoje participa, ostensivamente, o vice-presidente da República, seu primeiro beneficiário.
O que está em questão, hoje, para além das aparências, não é a maior ou menor popularidade do governo, nem seu desempenho, nem a corrupção endêmica (registre-se, entre outras, a condenação a 20 anos de cadeia de Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB), nem a distonia entre o discurso da candidata e a política econômica adotada pela presidente. Tudo que se alega não passa de meros pretextos.
Nem mesmo está em jogo o futuro do reajuste, cujo combate desavisados da esquerda privilegiam em detrimento da defesa da legalidade, como princípio, porque não sabem ou fingem não saber que o prêmio em disputa é a tomada do aparelho de Estado (o controle da política, da economia e da vida social), depois da conquista ideológica, fruto da associação fática do monopólio da informação (e nele o monopólio do discurso único ditado pela direita) com a pregação de um fundamentalismo religioso assustadoramente primitivo e retrógrado.
O que seria a sociedade pós-Dilma está anunciado com todas as letras nas palavras de ordem das passeatas de Copacabana e da Avenida Paulista.
A preservação do mandato da presidente é o dique que vem contendo, no plano institucional, a onda reacionária. Rompida essa barreira, será impossível segurar o tsunami conservador que tudo varrerá: direitos dos trabalhadores, conquistas sociais, soberania nacional, desenvolvimento, distribuição de renda, combate às desigualdades sociais e regionais. Exatamente por isso, impedir o golpe é a prioridade tática.
Não é pequeno o desafio.
A ofensiva reacionária opera em todas as frentes, seja a frente ideológica, seja a frente institucional, onde, ainda hoje – e até quando? – atua, comandando a Câmara dos Deputados como senhor de baraço e cutelo, um político com o prontuário do ainda deputado Eduardo Cunha. Mas não é, ele, o personagem único dessa trama sem mocinho.
Até há pouco agindo apenas à socapa, conduzindo os cordéis dos mamelucos a partir dos camarins, hoje se destaca no proscênio desse circo de horrores a figura lamentável de político menor que é o vice-presidente da República. Figura menor – cuja ascensão é denotativa da pobreza de nossa política –, mas ainda assim perigosa, pois tem sob seu comando, travestida de partido, uma empresa de achaques, na lapidar definição de Marcos Nobre (Valor, 14/12/2015): “O PMDB é uma empresa de fornecimento de apoio parlamentar, com cláusulas de permanente revisão do valor do contrato.”
Fazem-lhe coro envergonhado, companhia covarde, a liderança do PSDB que, ao tempo de Mario Covas e Franco Montoro, se apresentou como alternativa socialdemocrata.
Quando, superada a crise que hoje parece sem fim, o que sobrar de política e de partidos e de políticos tomará consciência da crise agônica da democracia representativa, da falência sem cura do ‘presidencialismo de coalizão’, e se entregará a uma reforma política estrutural? Ora, pedir essa reforma em ambiente hegemonizado por partidos como o PMDB e o PSDB, ou líderes partidários como Michel Temer e Aécio Neves (para ficarmos nos presidentes), é clamar no vazio, discursar para as pedras do deserto.
Fonte: Blog do Roberto Amaral, 19/12/2015


O significado da carta de Temer. Por Paulo Nogueira

O significado da carta de Temer. Por Paulo Nogueira



Postado em 08 dez 2015
Falsa vítima
Falsa vítima
A carta de Temer a Dilma é uma coisa que depõe contra ele mesmo, embora o alvo seja ela.
Algumas pessoas lembraram a carta de Getúlio aos brasileiros, antes de se matar, e aí você vê dois extremos. A carta de GV o engrandeceu para a posteridade, e a de Temer é um documento que mostra quanto minúsculo ele é.
Um sujeito que conspira, trai, envenena, alimenta os inimigos de Dilma, esse sujeito se coloca como vítima.
Os grandes sábios da humanidade recomendaram, sempre, que diante da miséria humana você deve rir, e não chorar. Em seus Ensaios, Montaigne defendeu o riso magistralmente diante do choro em situações de canalhice e patifaria.
Por isso, riamos todos do gesto de Temer.
Ele diz que foi sempre tratado como um vice decorativo.
A questão é: por que ele aceitou ser vice depois de quatro anos alegadamente tratado como, bem, como um vice?
Fosse altivo, fosse digno, teria dito o que escreveu na carta na hora certa a Dilma. Quer dizer, antes de ser oficialmente designado companheiro de chapa de Dilma.
Ninguém o obrigou a ser vice pela segunda vez. Ele agiu voluntariamente. Da primeira vez, poderia alegar, depois de algum tempo, que não imaginava que Dilma fosse o que ele disse que é na carta.
Mas e na segunda?
Considere um casamento renovável. Você casa e depois tem a oportunidade de renovar ou não o casamento. Você renova. E logo depois aponta os defeitos incríveis que, se reais, deveriam ter feito você não renovar.
Mas não.
Temer alegremente se reuniu de novo a Dilma, e desembarca apropriadamente quando enxerga a possibilidade de ser presidente.
De volta a Getúlio, este atirou no próprio coração, em nome de uma causa – a do povo contra a plutocracia. GV adiou o golpe dos plutocratas por dez anos.
Com sua carta, Temer atirou no coração de Dilma – e da democracia.
A autovitimização de Temer passará para o museu das infâmias nacionais. Um político a vida toda inexpressivo vira enfim manchete pela vileza e não por ter revelado no crepúsculo da carreira uma grandeza que ninguém percebeu.
Onde isso vai dar?
Seria uma tragédia tudo terminar com o triunfo dos golpistas. Seria a vitória de Eduardo Cunha. É dele o rosto, é dele a alma dos conspiradores.
Eduardo Cunha não é manipulado por Aécio, FHC, Serra, Temer – ou quem seja. Ele manobra a todos eles, em busca da impunidade para sua corrupção descarada, compulsiva e continuada.
São dois os lados que se enfrentam, a carta de Temer deixou claro.
Um é o lado de Eduardo Cunha e cúmplices.
O outro é o lado não de Dilma — mas da democracia.
A democracia perdeu em 1954, perdeu em 1964. Nas duas vezes, com custos formidáveis para o povo. Sangue jorrou, e o câncer nacional — a desigualdade — se espalhou.
Não é possível que a democracia perca de novo em 2015. Porque perdemos todos nós.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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