quinta-feira, 15 de março de 2018

Velório de vereadora vai virar um ato político contra intervenção

Velório de vereadora vai virar um ato político contra intervenção


Já há um grande número de pessoas diante da Câmara dos Vereadores, no centro do Rio de Janeiro, esperando para velar a vereadora Marielle Franco.
Não é difícil adivinhar que. logo mais, haverá uma multidão revoltada contra o assassinato dela e do motorista que conduzia seu carro.
E que haverá um grande ato político ali, no qual os ânimos exaltados, se os pretenderem controlar à base de tropa da choque, levará, provavelmente, a conflitos e enfrentamentos.
Na berlinda, o general Braga Netto e a intervenção que lhe coube executar.
Exatamente onde os assassinos de Marielle o queriam colocar.
O crime, no Rio de Janeiro não está, senão secundariamente, onde querem e mandam que o Exército vá buscar.
Os comentários brutais nos sites dos jornais, onde a postura de defensora dos direitos humanos da vereadora, de seu partido e da esquerda, mostram a cegueira de ódio que domina o debate sobre segurança pública e o da política.
Espera-se que os interventores tenham a lucidez de prevenir um confronto, do qual eles próprios sairão mais feridos.

As Marias Antonietas de toga

As Marias Antonietas de toga

Enquanto o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes toma conta das conversas entre as pessoas em todo o país, nos salões refrigerados dos prédios da Justiça, em todo o país, os senhores magistrados e promotores faziam sua “greve” em defesa do auxílio-moradia indiscriminado e de reajustes dos vencimentos que, nas palavras do presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Guilherme Feliciano, “hoje estariam em R$ 47 mil”.
É o escárnio escancarado em um país que tem juízes – e muitos, quase 20 mil – e não tem Justiça e  que tem outros milhares de promotores de Justiça que não a promovem, preferindo dedicar-se à uma espécie de cruzada moralista que perdeu todos os cuidados com a honra alheia e que transforma julgamentos em linchamentos.
É o deboche à inteligência humana, que se soterra ante a histeria de quem diz que uma sociedade que encarcera 700 mil pessoas, quase, tem de resolver seus problemas imensos de segurança prendendo mais gente e por mais tempo.
Poucos e raros dos “gravatinhas” que querem ganhar quase R$ 50 mil, afora “penduricalhos”, tiveram a coragem trágica de agir, com a energia devastadora que agem quando se trata de criminalizar a política quando lhes caíam às mãos, às centenas, indícios de que as corporações policiais estavam infestadas até a medula por esquemas de controle do tráfico de drogas, de armas, de contrabando, de todos os ilícitos que se possa imaginar.
Um destes casos, todos recordam, foi o da juíza Patrícia Acioli, assassinada com 21 disparos, aqui perto de casa, por ter  sido a responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio.
Se houvesse no país um Ministério Público digno deste nome, o Ministro da Justiça seria chamado a explicar-se por ter dito, com todas as letras, há seis meses, que comandantes de batalhões da PM fluminense eram “sócios do crime organizado”.
Quem pode garantir que não veio de um destes sócios o medonho comando para a morte de Marielle, que deixa pendurado no pincel o general interventor da Segurança e suas anunciadas – apenas anunciadas – intenções de moralizar a polícia. Pois não foi preciso atravessar a distância entre intenção e gesto para que lhe jogassem um cadáver aos pés.
Num caso com tudo para ter toda a imensa repercussão que está tendo aqui e lá fora e que mostra o quanto é estúpida e constrangedora a tática primária de “fichar pelo celular” os moradores desta ou daquela favela.
Os juízes gulosos, os policiais corruptos que comandam ou se associam às drogas e armas, os políticos que se associam a este jogo hipócrita de pedir mais penas e mais balas sobre os “bagrinhos do crime” e a mídia que despertou a corja de imbecis que se regojizam nos sites e redes da internet por ter sido assassinada uma mulher a quem, por defender pobres, chamavam de defensora de bandidos são todos parte do cinismo dominante da sociedade brasileira.
Eles são o caldo podre de uma cultura de repressão e de morte, cujos antídotos –  a justiça social, a educação, a polícia e o judiciário que ajam sobre as causas e não sobre o varejo das consequências da criminalidade – se tornaram “malditos”.
O crime, afinal, é um bom negócio para eles: garante-lhes os empregos, o reconhecimento dos salões, o “faz diferença”.
Portanto, que se elimine qualquer um que tente tornar este país um pouco menos dividido.
O Brasil das elites pode ser bem vestido, bem banhado, perfumado. Mas como fede.

Mercosul: Depois de morte de Marielle, deputados da União Europeia pedem suspensão imediata de acordo

Depois de morte de Marielle, deputados da União Europeia pedem suspensão imediata de acordo

 Yahoo Finanças 1 hour 41 minutes ago 

'Nós seremos resistência', diz filha de Marielle Franco

'Nós seremos resistência', diz filha de Marielle Franco

Estudante de 19 anos lamentou morte da mãe em publicação nas redes sociais nesta quinta-feira (15)

'Nós seremos resistência', diz filha de Marielle Franco
Notícias ao Minuto Brasil
HÁ 28 MINS POR NOTÍCIAS AO MINUTO
BRASIL HOMENAGEM
Aestudante Luyara Santos, filha da vereadora Marielle Franco, se manifestou sobre a morte da mãe nas redes sociais na tarde desta quinta-feira (15). As informações são do G1.
Na publicação, a jovem de 19 anos fez referência ao número de votos que a Marielle recebeu na eleição de 2016, quando foi a quinta vereadora mais votada do município.
"Mataram a minha mãe e mais 46 mil eleitores! Nós seremos resistência porque você foi luta! Te amo", escreveu Luyara.
Marielle foi morta a tiros na noite desta quarta (14) na região central do Rio. O motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado e morreu. Os corpos das vítimas foram velados na tarde desta quinta na Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio.

Presidenciáveis condenam execução de Marielle

Política

Reações

Presidenciáveis condenam execução de Marielle

por Redação — publicado 15/03/2018 17h25, última modificação 15/03/2018 17h30
Bolsonaro foi o único dos concorrentes mais cotados a não comentar publicamente morte de vereadora
Mauro Pimentel/AFP
000_12L54Y.jpg
Amigos, eleitores e colegas de partido carregam caixão de Marielle na chegada ao velório
O assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSol do Rio de Janeiro, provocou uma onda de reações entre os pré-candidatos à presidência. Entre os mais cotados, o único a não se manifestar até a tarde desta quinta-feira, 15, foi Jair Bolsonaro, que tem no combate à criminalidade um dos principais pilares de discurso. 

Leia também:
A luta de Marielle: um mandato dedicado aos direitos humanos

Pelo PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou pesar pela morte e afirmou: "O Rio de Janeiro e a democracia brasileira foram atingidos por esse crime político bárbaro", afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na mesma linha, Ciro Gomes declarou que o crime é "uma situação grave que deve ser apurada rapidamente e com profundidade". 
Companheiro de partido de Marielle, líder do MTST e pré-candidato, Guilherme Boulos disse não haver dúvidas sobre a motivação política para o assassinato: "Marielle fazia da denúncia a execuções como essa o centro da sua valorosa militância". Marina Silva, da Rede, pediu uma investigação rigorosa do caso. 
Manuela D'Ávila, pré-candidata pelo PCdoB, prometeu luta em nome de Marielle. Geraldo Alckmin, do PSBD, afirmou que o assassinato é um "crime bárbaro" que "revolta o Brasil inteiro".

A reação em cadeia das disciplinas sobre o golpe de 2016

Política

Educação

A reação em cadeia das disciplinas sobre o golpe de 2016

por Carolina Scorce — publicado 15/03/2018 00h15, última modificação 14/03/2018 16h49
A tentativa de censura à UnB leva universidades a oferecer outros cursos sobre o tema
Lula Marques/Agência PT
ocupacao-unb-contra-pec-241-fotos-lulamarquesagenciapt-2.jpg
A universidade reverbera a visão majoritária no Brasil: o impeachment foi golpe
ministro da Educação, Mendonça Filho, conseguiu transformar um caso isolado em uma reação em cadeia. Em 22 de fevereiro, ele dedicou parte de seu expediente para publicar mensagens em sua conta no Twitter, onde combatia o curso “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”, recém-criado pelo Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília.
Ao longo da tarde, foram 16 mensagens, entre elas a de que havia “indicativos claros de uso da universidade pública para proselitismo político e ideológico do PT”. O discurso ganhou destaque na mídia, quando o ministro declarou que a investida iria adiante e anunciou a decisão de acionar, entre outros, o Ministério Público Federal para “a apuração de improbidade administrativa por parte dos responsáveis pela criação da disciplina”. 
A investida de Mendonça Filho contra a grade de aulas surgiu do seu conceito pessoal, a partir do cargo público que exerce no governo e de dentro do grupo político que assumiu o poder, de que a destituição da ex-presidenta Dilma Rousseff do cargo para o qual foi eleita não caracteriza um golpe de Estado, e que, portanto, o tema não poderia ser discutido em sala de aula, como proposto na ementa. Em suas palavras, “não há base científica para a criação do curso, assim como a aderência do tema à realidade brasileira”.
Não é o que pensa a massiva maioria dos cientistas políticos e a comunidade acadêmica. Para o coordenador do curso na UnB, Luiz Felipe Miguel, a se entender que foi um golpe, não a mera substituição da presidenta, o debate é fundamental para compreender a natureza, a profundidade e a abrangência das transformações em curso no País. Além de obrigação dos estudos contemporâneos na ciência social e política. 
A reação da academia à investida de Mendonça Filho contra a coordenação do curso foi imediata e reacendeu o debate sobre a autonomia universitária e a liberdade de cátedra. Universidades de todo o Brasil passaram a anunciar a oferta da extensão, cujo motivo da obra é o golpe de 2016, com nome e ementas similares àquela proposta por Miguel.
A primeira a anunciar foi a Universidade Estadual de Campinas, e pelo menos outras 31 instituições confirmaram o curso em suas grades para este semestre. Entre elas, as federais da Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro, além da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual Paulista. 
Para o professor, a compreensão de que houve golpe de Estado em 2016 é amplamente majoritária na sociedade, dentro e fora das universidades, inclusive em campos populares que divergem politicamente entre si, e não uma extravagância de um pesquisador, como o ministro tentou fazer parecer. “Existem vozes que dizem que não houve ruptura democrática. Na academia são vozes minoritárias. Quem assiste ao GloboNews vai ouvir essas vozes, mas isso não é representativo. Fica claro que vetar a palavra golpe busca aprofundar esse processo de ruptura.”
Embora o ministro tenha anunciado a ofensiva, até agora não existe nenhuma representação contra a coordenação do curso na UnB, e a tendência é de que ela não saia do papel. Desde a reação das universidades e da sociedade em geral, Mendonça Filho minimizou o discurso.
Deputado federal licenciado, o demista comunicou que vai deixar o ministério em abril, para concorrer às eleições deste ano. “O ônus do recuo ficará para o seu sucessor. Ele jogou a polêmica para a plateia, o que, para nós, era seu objetivo principal. O caso vai morrer [na instância jurídica] porque não tem nenhuma base”, diz Luiz Felipe Miguel. 
O debate sobre a liberdade de pensamento, ideia seminal das universidades, foi reativado a partir do movimento de resistência da academia contra o ensaio de censura. O ministro é acusado de ferir a autonomia universitária e, nesse caso em especial, a liberdade de cátedra, que é o direito de a universidade, a partir dos seus colegiados, decidir o que e como ensinar, independentemente dos governos e de quem está no poder. Foi na Constituição de 1988, nos artigos 205, 206 e 207, que a autonomia didático-científica apareceu pela primeira vez com força de lei no Brasil. 
Segundo o professor Luiz Araújo, especialista em educação, agredir o pensamento crítico é uma tendência histórica dos grupos hegemônicos. “Eles não querem que nada mude, ou seja, que não se questionem coisas que parecem eternas. E os governos incomodam-se com a crítica que as universidades lhes podem fazer. A indústria também se comporta assim.”
Para o coordenador do curso originário da querela, a atitude do ministro está alinhada a uma ideia de que quem fala em golpe no Brasil é petista, fecundando a dualidade política a serviço dos grupos ultraconservadores.
“O que me incomoda é que eu teria o direito de ser militante e professor ao mesmo tempo, mas não sou. Tentaram me emparedar numa posição partidária que nunca foi minha, o que não significa que não tenho posicionamento político. Se tivessem se dado ao trabalho de ler alguma coisa que já escrevi, saberiam que sou bastante crítico às limitações do PT.”
O movimento das universidades provou que a academia está disposta a resistir à exposição de condições que comprometem sua própria existência, e uma vitória contra a censura e o autoritarismo. As aulas na UnB começaram como programado na segunda-feira 5 e, ao que tudo indica, o golpe de 2016 será extensivamente debatido nas universidades.