terça-feira, 7 de maio de 2019

Reforma tributária impediria retrocessos previstos na proposta da Previdência

ALTERNATIVAS

Reforma tributária impediria retrocessos previstos na proposta da Previdência

Mudanças foram apresentas por especialistas em audiência da Comissão dos Direitos Humanos do Senado nesta segunda (6) para impedir retirada de direitos por "reforma" de Bolsonaro
por Redação RBA publicado 07/05/2019 12h43, última modificação 07/05/2019 12h45
TVT/REPRODUÇÃO
Reforma tributária audiência
Especialistas propõem reforma tributária com foco na desoneração da folha e do consumo
São Paulo – Antes da "reforma" da Previdência que tramita na Câmara dos Deputados, a reforma tributáriadeveria ser a discussão prioritária entre os poderes Executivo e Legislativo. A medida poderia impedir, por exemplo, que os direitos trabalhistas sejam negligenciados, como avaliam especialistas em audiência realizada pela Comissão de Direitos Humanos do Senado nesta segunda-feira (6). 
Com foco na desoneração da folha e do consumo, as mudanças na tributação contribuiriam para a baixa dos preços nos produtos e no aumento da demanda por consumo e empregabilidade, além de ampliar a arrecadação, segundo explica o diretor do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional), George de Souza, em entrevista ao repórter Uélson Kalinovski, do Seu Jornal, da TVT.
"Porque você terá, como dito aqui no evento, um alargamento da base e uma redução das alíquotas. Mexendo na receita, você não precisa ser tão duro na despesa como a PEC 6 (Proposta de Emenda à Constituição da "reforma" da Previdência) está fazendo, avançado sobre muitos direitos dos trabalhadores, seja do regime geral ou do regime próprio. A reforma tributária ela vem para amenizar os efeitos muito amargos dessa PEC 6", propõe o diretor do Sindifisco.
Na audiência, os especialistas citaram a informalidade como um problema que agrava as condições da seguridade social, além de questionarem o saldo negativo do sistema, apresentado pelo governo para justificar a "reforma" da Previdência e que, na prática, seria fabricado artificialmente pela Desvinculação de Receitas da União (DRU), de acordo com o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (Anfip), Floriano Martins de Sá Neto. "A seguridade social só foi necessitar de financiamento do orçamento fiscal a partir de 2016, até 2015 ela era amplamente superavitária." 

Assista à reportagem na íntegra


A serpente sai do ovo, por Luiz Gonzaga Belluzzo

A serpente sai do ovo, por Luiz Gonzaga Belluzzo

Sobre os fatores que geram angústia e medo social produzindo "governantes" que propõe ações contrárias ao desenvolvimento da humanidade
Luiz Gonzaga Belluzzo. Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil
Jornal GGN – Um governo que anuncia um corte de 30% no orçamento das universidades federais e, ainda, propõe a eliminação dos cursos de filosofia e sociologia dos currículos escolares estaria acometido de qual doença? Em artigo publicado nesta terça-feira (7), no jornal Valor, o professor titular do Instituto de Economia da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo procura responder a essa questão, recorrendo aos movimentos históricos que levaram a humanidade a gerar o iluminismo e, agora, a retomar visões medievais.
“Diante das misérias da vida e de uma vida de misérias, as vítimas dos deuses mundanos buscam refúgio no Incompreensível. Nos tempos de cólera, elas fogem das dúvidas e angústias que as atormentam. Adaptadas, conformadas, até mesmo confortadas e felizes preferem aceitar que sua existência é apenas uma permissão dos deuses e de seus procuradores na Terra”, reflete Belluzzo.
“Nos espaços fabricados pelas Novas Crenças não é possível manter conversações, porque neles a norma não é a argumentação, mas o exercício da animosidade sob todos os seus disfarces, a prática desbragada da agressividade a propósito de tudo e de todos, presentes ou ausentes, amigos ou inimigos”, completa.
O economista, considerado entre os 100 maiores heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists, pondera que “a angústia sem esperança”, em um mundo onde a desigualdade e a injustiça aumentam, “invoca as trevas da anti-razão”. Isso explica porque o presidente Jair Messias Bolsonaro, e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, mantém grupos de fiéis, mesmo após a exposição de várias ações políticas e de gestão pública incoerentes para seus cargos.
“Para um contingente parrudo de brasileiros, não importam os deslizes de seus Deuses e Messias. Importa, sim, que os Escolhidos insistam e persistam na afirmação das crenças, ideologias, visões do mundo, valores que refletem os ressentimentos dos súditos maltratados pelas frustrações e misérias da vida”, explica.
Ao mesmo tempo, destaca Belluzzo, aumenta a percepção das pessoas de que existem fatores políticos e decisões de governo que resultam no regresso ou progresso individual e coletivo. “Esse sentimento [de que não é uma fatalidade] é cada vez mais intenso. É a nostalgia do futuro, um sentimento que reflete as angústias que povoam as almas de homens e mulheres, pasmos diante de uma situação econômica e social que ronda ameaçadoramente suas vidas e as de seus filhos”.
A crise, assim, é absorvida nas vidas de cada indivíduo e a resposta de cada um, em grande escala, tem influência nos movimentos de entradas e saídas de governantes. Nesse ponto, o economista ressalta que as redes sociais, então prometidas como espaço de movimentos livres de ideias e opiniões, acabaram se transformando “num calabouço policialesco em que a crítica é substituída pela vigilância”.
“A vigilância deve adquirir aquela solidez própria da turba enfurecida, disposta ao linchamento. Não se trata de compreender o outro, mas de vigiá-lo. “Estranho ideal policialesco, o de ser a má consciência de alguém”, diz o filósofo Gilles Deleuze, também suspeito de patrocinar o marxismo cultural”, continua.
Aqui chegamos em um ponto em que parece que a sociedade brasileira (e em termos mundiais) parece que anda na contramão da história. Ou seria a história que mudou de mão? Nessa reflexão, Belluzzo lembra do papel do Iluminismo, movimento contrário ao absolutismo que procurou substituiu a visão teocêntrica da Europa espalhada na Idade Média por uma visão mais racional.
“O homem do Iluminismo cobrou seus direitos de dominação, reivindicando o poder de suas Luzes, abominando os obstáculos da tradição ou de tudo que lhe figurasse contrário aos princípios de uma ordem natural, desvendada e comandada pela razão”, destaca o professor.
“Para Kant [um dos filósofos do Iluminismo], a ousadia de entender por si mesmo liberta o homem, sua imatura dependência de outrem. A imaturidade é auto infligida. Não resulta da incapacidade dos homens, mas da falta de coragem para usar seu entendimento sem a guia do outro”, completa.
Na passagem para os tempos modernos que marca o avanço do Iluminismo, Belluzzo lembra que o medo universal de mudanças deu espaço para o temor da estagnação.
“A concepção de ordem revelada foi progressivamente substituída pela ideia de ordem natural, cujos fundamentos estavam à mercê da análise racional. A sociedade, enquanto aglomerado de indivíduos, sedes da razão, estava submetida a leis de funcionamento semelhantes àquelas que presidiam o reino da natureza. O impulso de perseguir os próprios interesses expunha o indivíduo ao relacionamento com os demais, e o complexo dessas relações voluntárias constituía a sociedade global e ditava as normas de seu funcionamento”, explica. Para ler o artigo de Belluzzo na íntegra, clique aqui.

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A juventude no futuro: impactos da reforma da Previdência



A juventude no futuro: impactos da reforma da Previdência

Os jovens, que já estão entrando no mercado com mais dificuldade, estarão também entrando numa vida de trabalho sem direitos

A juventude no Brasil está desalentada. Hoje, 1,8 milhão de jovens não têm mais esperança de conseguir um novo emprego, número três vezes maior do que em 2014. O desemprego afeta essa geração com o dobro de força do que o resto da população. Se o maior problema do Brasil hoje é o desemprego, persistente em 12,7% da população em idade ativa – patamar mais elevado da década – é ainda maior para as brasileiras e os brasileiros entre 16 e 24 anos, faixa em que chega a quase 30%. Dos poucos que conseguiram um primeiro emprego ano passado, apenas 1/4 têm carteira assinada. Foram cortadas quase que pela metade a abertura de vagas para quem busca o primeiro emprego e a renda também caiu: hoje, o salário médio dos jovens é 110 reais menor do que era em 2014.
Nossa juventude cresceu em um País com esperança. Quando os jovens de hoje eram crianças, o mercado de trabalho para seus futuros era cheio de empregos e possibilidades. Os jovens de hoje tiveram uma infância com direito a sonhar: aumentavam as vagas nas faculdades, que também ficavam cada vez mais acessíveis, passando a ser uma possibilidade real para todas as brasileiras e todos os brasileiros; eram criadas vagas de trabalho e o salário mínimo era valorizado, e o Brasil dos governos Lula e Dilma tinha cada vez mais direitos, emprego e educação. O Brasil de hoje em dia é muito diferente disso.
 
Desde o golpe de 2016, os direitos das brasileiras e dos brasileiros estão sendo retirados. A prometida retomada do emprego não acontece, ao mesmo tempo em que se avoluma a informalidade. As trabalhadoras e os trabalhadores estão cada vez mais com menos direitos, as escolas e as faculdades estão perdendo investimentos na medida em que os programas de financiamento da educação e as cotas sociais e raciais, que possibilitaram o acesso de tanta gente ao ensino superior, correm grande perigo com as políticas impostas pelo governo de Bolsonaro. Até mesmo a gratuidade das universidades públicas está sendo questionada.
É a maior crise que passamos em muito tempo, e que parece estar longe do fim.

Medidas recessivas

Os poderosos tentam emplacar, desde o governo Temer, que a saída para a crise é a reforma da Previdência. Com o país que vivemos hoje, é certo que isso não é verdade. O Brasil precisa de crescimento, de emprego e de renda, e não de medidas recessivas. Ainda pior, a proposta de Bolsonaro e Paulo Guedes não é uma proposta de reforma da Previdência, é uma proposta de destruição da Seguridade Social, do sistema de proteção social implantado na Constituição Federal de 1988 e que foi fruto de muitos embates e lutas para que tivéssemos a saúde, a assistência social e a previdência dentro do orçamento. Trata-se de eliminar os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, conquistados com tanta luta, preservando o lucro dos rentistas e dos especuladores. E, pelo panorama vivido pela juventude, de altos índices de desemprego e de informalidade, esse ataque atinge com o dobro de força aqueles que ainda têm uma vida de trabalho pela frente.
O que está em jogo? É a disputa pela renda. O que eles pretendem é entregar todos os fundos públicos (a Previdência, o Fundo de Garantia, o Fundo de Amparo ao Trabalhador etc) para o sistema financeiro privado. A proposta de Paulo Guedes, além disso, retira os direitos da Previdência da Constituição, acabando com qualquer garantia aos trabalhadores. Estaria de fora da Constituição o direito de se aposentar e conseguir dignidade após uma vida de trabalho, com justiça social. Estariam de fora também os direitos que a Previdência garante a quem está trabalhando: o seguro-desemprego, as pensões, a licença médica remunerada, o auxílio acidente de trabalho e outros tantos direitos.
Para as mulheres, que já sofrem com a maior vulnerabilidade no mercado de trabalho, com menores salários, têm também na Previdência o direito tão importante à licença-maternidade remunerada. Acreditem, nem isso estaria assegurado em nossa Constituição. Os jovens, que já estão entrando no mercado de trabalho com mais dificuldade e com maior grau de informalidade, estarão também entrando numa vida de trabalho sem direitos.

Direitos em jogo

A destruição da Previdência de Bolsonaro e Guedes propõe a mudança do regime atual, de repartição – baseado na solidariedade -, para um regime de capitalização – baseado na individualidade. No regime atual, uma parte da previdência é paga pelo trabalhador e a outra é paga pelo patrão. Já na capitalização, só o trabalhador paga, sem responsabilidade do patrão. Como Paulo Guedes disse, “quem vai entrar agora no mercado de trabalho, poderá escolher entre um mundo com direitos mas sem emprego, ou um mundo com empregos (precarizados) e sem direitos”. Esta chantagem, na verdade, não dá direito de escolha algum aos jovens.
Somado a isso, será mais barato contratar os avós, que serão isentos de pagamento de fundo de garantia pela empresa, do que os netos. Mais uma vez, buscando baratear os custos do patrão às custas das trabalhadoras e dos trabalhadores, e criando um mercado de trabalho ainda mais inacessível para a juventude. Para a juventude, uma nova dificuldade, entre as já existentes.
Para os raros empregos que ainda tiverem Previdência, a exigência de 20 anos de tempo mínimo de contribuição, em um cenário com cada vez mais vagas informais, sem contratos, e com alta rotatividade no mercado de trabalho, a população que poderá acessar a aposentadoria será muito menor. O longo tempo exigido de trabalho é uma outra forma de forçar os jovens a recorrerem cada vez mais a empregos com menos direitos que, ao fim e ao cabo, serão os únicos empregos disponíveis. Todos que não atingirem o tempo mínimo recorrerão ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), que na proposta apresentada e já prevendo uma demanda enorme na velhice, será cortado mais do que pela metade e fixado em 400 reais, não garantindo dignidade alguma ao povo que passará toda uma vida trabalhando.

Formação será mais custosa

Além disso, a entrada antecipada forçada no mercado de trabalho deixará mais custoso se dedicar à formação profissional ou acadêmica. Diferentemente dos últimos anos, em que a juventude podia se dedicar à sua formação, aumentavam as vagas nas universidades e se tornavam mais acessíveis, havia programas de financiamento para a educação e aumentavam os cursos técnicos e profissionalizantes. Com a reforma de Bolsonaro e Paulo Guedes o incentivo será para os jovens estudarem por menos tempo e, de preferência, à distância. A educação, que também está no centro dos ataques deste governo, será igualmente afetada pela reforma da Previdência. Portanto, mais um ataque à juventude.
 
A juventude brasileira, aquela que vislumbrava um futuro de possibilidades, hoje se depara com uma dura realidade em que é obrigada a enfrentar a mentira de que é necessário escolher entre direitos e empregos. Assiste a ações de um governo que não cria empregos e ainda tenta tirar nossos direitos. Apesar de hoje tentarem tirar a esperança, a juventude já viu um Brasil diferente, em que isso não era uma escolha. No Brasil de Lula, dos governos do PT, nós tínhamos empregos com direitos, tínhamos carteira assinada e salário valorizado. As brasileiras e os brasileiros sabem que é possível fazer diferente, e que um presidente não tem que fazer o povo escolher entre direitos e empregos. Em mais de 100 dias de governo Bolsonaro, ainda temos 12,7 milhões de brasileiras e brasileiros desempregados.
A Previdência Social não se restringe à aposentadoria, mas abrange uma lista de direitos de todas e todos os trabalhadores. Defendê-la é defender a dignidade do trabalho. Não podemos aceitar que o patrão não tenha nenhuma responsabilidade sobre os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores. Não há déficit que se resolva sem empregos, sem direitos, sem distribuição de renda e sem educação, ciência e tecnologia. A juventude, que ingressa agora no mercado de trabalho, será atingida com o dobro de força, pois não só enfrentará um futuro com muito mais dificuldades, como trabalhará uma vida inteira sem direitos. 1,8 milhão de jovens parecem ter perdido a esperança. É tarefa fundamental da juventude se somar na luta contra a reforma da Previdência, na defesa dos nossos direitos, pela defesa de empregos, pelo direito de estudar, pela retomada da esperança e oportunidade de voltar a sonhar.