domingo, 27 de maio de 2012

Feira de Mangaio

Clique

http://www.youtube.com/watch?v=tHk3ZEBYQGo&feature=related

Monumento a Vladimir Herzog

Clique

http://www.camara.sp.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9451:praca-ganhara-monumento-de-vladimir-herzog&catid=37:eventos&Itemid=94

Extraído de www.odiario.info

Quem foi Osama? Quem é Obama?


17.Mai.12 :: Colaboradores
O presidente dos EUA foi ao Afeganistão discursar, em comemoração do 1º aniversário da morte de Bin Laden. O discurso que proferiu é um conjunto de falsidades. O imperialismo e a “Al Qaeda” têm uma longa história em comum, na qual a CIA é protagonista principal.


Enquanto o presidente e supremo comandante dos Estados Unidos da América, Barack Hussein Obama “celebra” o primeiro aniversário da alegada morte de bin Laden, mantém-se inalterada a questão de fundo de QUEM FOI OSAMA BIN LADEN.
Cheio de mentiras e invenções, o discurso cuidadosamente elaborado do presidente Obama encerra um mundo de total fantasia, em que os “maus da fita” estão à espreita e “conspiram actos de terrorismo”. Entretanto, diz-se que os “jihadistas” estão a ameaçar a civilização ocidental.
Cada uma das afirmações do discurso de 1º de Maio de Obama na base da Força Aérea de Bagram, relativas ao papel da Al Qaeda, é uma invenção: (abaixo damos excertos das Notas de Obama. Em itálico, os comentários do autor estão indicados entre parênteses rectos [ ]):
“Foi aqui, no Afeganistão, que Osama bin Laden instalou um porto seguro para a sua organização terrorista. “
[Osama foi recrutado pela CIA, a Al Qaeda foi montada com o apoio da CIA. O porto seguro de Osama foi protegido pelos serviços secretos dos EUA].
“Foi para aqui, no Afeganistão, que a al Qaeda trouxe novos recrutas, os treinou e congeminou actos de terrorismo.”
[Os Mujahideen foram recrutados e treinados pela CIA. A Arábia Saudita, aliada da América, financiou as escolas corânicas Wahabbi, Ronald Reagan elogiou os Mujahideen como “Combatentes pela Liberdade”. Sem o público americano saber, os EUA divulgaram os ensinamentos da jihad islâmica em manuais “Made in America”, elaborados na Universidade de Nebraska ].
“Foi aqui, a partir destas fronteiras, que a Al Qaeda lançou os ataques que mataram aproximadamente 3000 homens, mulheres e crianças inocentes”.
[Obama refere-se aos ataques do 11/Set. Até hoje não há provas de que a Al Qaeda tenha estado envolvida nisso. Além disso, como confirmado pela CBS News, a 10 de Setembro de 2001, Osama bin Laden deu entrada num hospital militar paquistanês em Rawalpindi por especial favor do Paquistão, aliado da América. Terá coordenado os ataques de 11/Set a partir da sua cama no hospital?]
“E assim faz agora 10 anos, os Estados Unidos e os nossos aliados entraram em guerra para garantir que a al Qaeda nunca mais poderia usar este país para lançar os seus ataques contra nós”.
[Os ataques do 11/Set foram a justificação para a guerra no Afeganistão, com base na “auto defesa”. Dizia-se que o Afeganistão abrigava a Al Qaeda e portanto era cúmplice num descarado acto de guerra contra os EUA.
A verdade é que o governo dos talibãs por duas vezes nas semanas que se seguiram ao 11/Ser ofereceram-se (através dos canais diplomáticos) para entregar Osama bin Laden ao sistema judicial dos EU. O presidente George W. Bush recusou a oferta do governo talibã, alegando que a América “não negoceia com terroristas”.
A NATO entrou em guerra invocando o Artigo Cinco do Tratado de Washington: um acto de guerra contra um membro da NATO é considerado um acto de guerra contra todos os membros da NATO ao abrigo da doutrina da segurança colectiva].
Apesar do êxito inicial, por uma série de razões, esta guerra demorou mais do que o inicialmente previsto. Em 2002, bin Laden e os seus lugares-tenentes escaparam pela fronteira e estabeleceram um porto seguro no Paquistão. A América passou quase oito anos a travar uma outra guerra no Iraque. E os aliados extremistas da al Qaeda no seio dos talibãs travaram uma brutal insurreição.
O paradeiro de Osama bin Laden foi sempre bem conhecido dos serviços secretos dos EUA. O presidente Obama transmite a ilusão de que as forças dos EUA-NATO e os seus operacionais de informações não conseguiam encontrar bin Laden. Nas palavras do antigo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld (2002), “é como procurar uma agulha num palheiro”.]
O presidente Obama também sugere que os operacionais do Al Qaeda, equipados com mísseis Stinger e Kalashnikovs, tinham conseguido superar a máquina militar de muitos milhões de milhões de dólares dos EUA-NATO.
“Mas nos últimos três anos, a maré mudou. Quebrámos a dinâmica dos talibãs. Montámos fortes forças de segurança afegãs. Destruímos a liderança da al Qaeda, eliminando 20 dos seus 30 líderes de topo. E há um ano, a partir duma base aqui no Afeganistão, as nossas tropas lançaram a operação que matou Osama bin Laden”.
[Muito se tem escrito sobre esta questão. Não há provas quanto à identidade da pessoa que foi alegadamente morta pelas Forças Especiais SEAL. Nas palavras de Paul Craig Roberts, “A história do governo dos EUA sobre bin Laden foi tão mal cozinhada que não demorou 48 horas a ser alterada profundamente…”]
“A meta que estabeleci – derrotar a al Qaeda e impedir qualquer hipótese de ela se reconstituir – está agora ao nosso alcance”.
[Há muitos indícios de que a Al Qaeda, enquanto “trunfo secreto” patrocinado pelos EUA está “viva e a mexer-se”. Desde 11 /Set, a Al Qaeda evoluiu para uma entidade multinacional com “filiais” em diversos lugares quentes geopolíticos por todo o mundo.
Na Líbia e na Síria, brigadas da Al Qaeda são os soldados de infantaria da aliança militar EUA-NATO. Onde quer que o aparelho militar e de informações dos EUA esteja instalado, a Al Qaeda está presente:
A Al Qaeda no Iraque, a Al Qaeda na Península Arábica (AQAP), o Grupo de Combate Islâmico da Líbia (GCIL), o Al Shaabab (Somália), a Al Qaeda no Magreb Islâmico, o Jaish-e-Mohammed (JEM) (Exército de Maomé) (Paquistão), a organização Jemaah Islamiya (JI) (Indonésia), o Movimento Islâmico do Uzbequistão, etc. (Ver Organizações Terroristas Estrangeiras do Departamento de Estado dos EUA, Conselho de Segurança das Nações Unidas, Lista de indivíduos, grupos, empresas e outras entidades associadas com a Lista de Sanções Al-Qaida ).
Ironicamente, em todos estes países, os serviços de informações dos EUA coordenam abertamente as actividades dos grupos filiados da Al Qaeda. Oficialmente, o contraterrorismo consiste em combater a jihad islâmica. Não oficialmente, por meio de operações secretas, os serviços secretos ocidentais apoiam os seus “trunfos” incluindo entidades terroristas da lista do Departamento de Estado dos EUA .
Além disso, estas diversas organizações terroristas estão hoje a ser usadas em operações militares secretas EUA-NATO contra países soberanos (por ex: Líbia e Síria). Segundo fontes dos serviços de informações israelenses:
“Entretanto, na sede da NATO em Bruxelas e no supremo comando turco estão a ser traçados planos para o seu primeiro passo militar na Síria, que é armar os rebeldes com armas para combater os tanques e os helicópteros com a intenção de dissolver o contestado regime de Assad. Em vez de repetir o modelo líbio de ataques aéreos, os estrategas da NATO estão a pensar mais em termos de injectar grandes quantidades de foguetões anti-tanques e anti-aéreos e metralhadoras pesadas nos centros de protesto para vencer as forças blindadas do governo”. (DEBKAfile, NATO vai fornecer aos rebeldes armas anti-tanque, 14/Agosto/2011)]
Quem é ou era Osama?
Um “trunfo dos serviços secretos”, nomeadamente um instrumento da CIA para justificar a “Guerra Global contra o Terrorismo”.
Vale a pena recordar que a 14 de Setembro de 2001, tanto a Câmara como o Senado adoptaram a resolução histórica que autorizou o presidente a “perseguir” países que ” ajudaram os ataques terroristas [de 11/Set]”.
O presidente está autorizado a usar toda a força necessária e adequada contra as nações, organizações, ou pessoas que considerar que planearam, autorizaram, praticaram, ou ajudaram os ataques terroristas que ocorreram a 11 de Setembro de 2011, ou albergaram essas organizações ou pessoas, a fim de impedir quaisquer actos futuros de terrorismo internacional contra os Estados Unidos por essas nações, organizações ou pessoas.
Actualmente, em 2012, há amplos indícios de que:
1) A Al Qaeda não esteve por detrás dos ataques do 11/Set ao World Trade Center e ao Pentágono.
2) Também há indícios pormenorizados de que organismos do governo dos EUA e da NATO continuam a apoiar e a “albergar essas organizações” [a Al Qaeda e suas organizações filiadas]. Na Líbia, os rebeldes “pró-democracia” foram liderados por brigadas paramilitares da Al Qaeda sob a supervisão das Forças Especiais da NATO. A “Libertação” de Tripoli foi levada a efeito por “antigos” membros do Grupo de Combate Islâmico da Líbia (GCIL). Os jihadistas e a NATO trabalharam de mãos dadas. Essas “antigas” brigadas filiadas da Al Qaeda constituem a espinha dorsal da rebelião “pró-democracia “.
3) Há indícios crescentes de que as torres do WTC foram deitadas abaixo através de demolição controlada, levantando a hipótese de cumplicidade e encobrimento no seio do governo dos EU, dos serviços secretos e militares. (Ver os escritos de Richard Gage, Undisputed Facts Point to the Controlled Demolition of WTC 7 , Global Research, Março 2008. Ver também o vídeo, Richard Gage Controlled Demolitions Caused the Collapse of the World Trade Center (WTC) buildings on September 11, 2001, Global Research)
Quem é Obama?
Um mentiroso político e um criminoso de guerra.
Os discursos escritos de Obama são distorções descaradas. As realidades são viradas de pernas para o ar. Os actos de guerra são apregoados como operações de paz…
Ironicamente, o texto da resolução do Congresso de 14 de Setembro de 2001 (ver acima) não exclui acção judicial e investigação criminal dirigida contra patrocinadores dos EUA-NATO de terrorismo internacional, incluindo o presidente Obama, que utilizaram os trágicos acontecimentos do 11/Set como pretexto para travar uma “guerra sem fronteiras” ao abrigo da bandeira humanitária da “Guerra Global contra o Terrorismo”.
02/Maio/2012

Michel Chossudovsky

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Zun Tsu. A arte da guerra.

Clique

http://www.youtube.com/watch?v=JQnq2U5LgMA&NR=1&feature=endscreen

Capitalismo, privatizações, barbárie.

 Castastroika
  
 
 
O novo documentário da equipa responsável por Dividocracia chama-se Castastroika e faz um relato avassalador sobre o impacte da privatização massiva de bens públicos e sobre toda a ideologia neoliberal que está por detrás. Catastroika denuncia exemplos concretos na Rússia, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e, obviamente, na Grécia, em sectores como os transportes, a água ou a energia. Produzido através de contribuições do público, conta com o testemunho de nomes como Slavoj Žižek, Naomi Klein, Luis Sepúlveda, Ken Loach, Dean Baker e Aditya Chakrabortyy. De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos daqueles países estrangulam ou estrangularam serviços públicos fundamentais, elegendo os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável. Sacrifica-se a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos.As consequências mais devastadores registam-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate». Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para suspender a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia. O objectivo é a transferência para mãos privadas da riqueza gerada, ao longo dos tempos, pelos cidadãos. Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade que deixem a economia refém dos mecanismos da especulação e da chantagem — o que implica, como se está a ver na Grécia, o total aniquilamento das estruturas basilares da sociedade, nomeadamente as que garantem a sustentabilidade, a coesão social e níveis de vida condignos.Se a Grécia é o melhor exemplo da relação entre a dividocracia e a catastroika, ela é também, nestes dias, a prova de que as pessoas não abdicaram da responsabilidade de exigir um futuro. Cá e lá, é importante saber o que está em jogo — e Catastroika rompe com o discurso hegemónico omnipresente nos media convencionais, tornando bem claro que o desafio que temos pela frente é optar entre a luta ou a barbárie.
 
Duração do vídeo: 1 hora e 27 minutos
 
Filme grego com legendas em português

  http://www.youtube.com/watch?v=Qam7h1jMIwI

Salvamento de golfinhos em Arraial do Cabo (RJ)

Clique

http://www.youtube.com/watch?v=ekmMD8oYtJ0&feature=player_embedde

Utilidade pública: observatório de inadmitidos

Clique

http://www.portalconsular.mre.gov.br/avisos/observatorio-de-inadmitidos

Conseqüências do crime de doação da Vale do Rio Doce

Lúcio Flávio Pinto: A Vale engorda. O Pará emagrece

publicado em 21 de maio de 2012 às 23:36
21.05.12 – Brasil

Vale paga ninharia de imposto. E o Pará, nem quer saber disso?
 Lúcio Flávio Pinto*, na Adital
De 1997, quando a Lei Kandir entrou em vigor, isentando de imposto a exportação de produtos semielaborados (ou não industrializados), até o ano passado, a antiga Companhia Vale do Rio Doce recolheu pouco mais de 540 milhões de reais em ICMS ao Pará pela venda ao exterior do minério de ferro de Carajás, o melhor do mundo. O ano recorde de pagamento do principal imposto estadual pela ex-estatal foi 2009, quando o valor chegou a R$ 197 milhões.
Nos 10 anos dos governos tucanos seguidos de Almir Gabriel e Simão Jatene, de 1997 a 2006, o recolhimento de ICMS somou R$ 236 milhões. Nos quatro anos de Ana Júlia Carepa, do PT, a soma foi de R$ 304 milhões.
Por incrível que possa parecer, de 1997 a 2001, a Vale contribuiu para o erário com menos de R$ 6 milhões em impostos sobre minério de ferro exportado, o principal item da pauta de exportação do Pará e do Brasil. Em 1997 a CVRD foi privatizada e, não por mera coincidência, entrou em vigor a famigerada Lei Kandir, de autoria do ex-ministro de Fernando Collor de Mello e então deputado federal por São Paulo, Antônio Kandir. O ICMS pago pela Vale foi então de R$ 18.828,37. Menos do que pagou ao tesouro estadual um supermercado da esquina.
O recolhimento deu um “enorme” salto no ano seguinte: foi para R$ 173 mil. Patinou em R$ 177 mil em 1999. Saltou para R$ 1,9 milhão em 2000 e foi multiplicado para R$ 4,5 milhões em 2001. Ou seja: em seis anos, a média anual de contribuição tributária da mineradora para o Estado foi de R$ 1,2 milhão. Parabéns ao deputado Kandir. E – provavelmente – otras cositas más para ele.
Aí a China atacou o mercado internacional com sua fome insaciável de aço. O ICMS recolhido em 2002 alcançou R$ 38 milhões. Baixou para R$ 26 milhões do ano seguinte, infletiu para R$ 38 milhões em 2004 e ficou pouco acima de R$ 60 milhões em 20005 e 2006.
Neste caso, sim, por mera circunstância quanto a políticas e realidades locais, a fatura tributária da Vale despencou para pouco abaixo de R$ 40 milhões entre 2007 e 2008, já no governo de Ana Júlia. Aparece então o fenômeno de 2009, dos R$ 197 milhões. Graças à recuperação da vitalidade da economia chinesa depois da crise financeira internacional. Mas entre 2010 e 2011 a queda voltou a ser brutal: para R$ 29 milhões e R$ 31 milhões nos dois anos, respectivamente. Nos quatro meses deste ano a conta ainda não chegou a R$ 12 milhões
O minério de ferro ainda é o grande negócio da Vale – no mundo, no Brasil e no Pará. Mas os números mudam com o avanço da mineradora sobre outras substâncias minerais depositadas no subsolo de Carajás. No mesmo período a exploração de ferro na nova mina, a de Serra Leste, subiu de R$ 6 milhões no acumulado até 2006 para R$ 299 milhões em 2001, sendo R$ 259 milhões só nesse último ano. Nesses 14 anos, a exploração do cobre da Serra do Sossego rendeu R$ 218 milhões de ICMS. A iniciante produção de níquel do Onça Puma e do Vermelho recolheu pouco mais de R$ 70 milhões.
Todo o Sistema Norte de mineração da Vale rendeu em 14 anos aproximadamente R$ 1,3 bilhão de ICMS ao Pará. A média é de menos de R$ 100 milhões por ano. O Pará vai viver disso?
Esta é a conta do povo. Agora, a contabilidade da empresa.
Em 2011 as exportações totais do Pará foram de 18,3 bilhões de dólares (em torno de R$ 33 bilhões), sendo quase US$ 17 bilhões (ou mais de 90% do total, ou mais de R$ 30 bilhões) de produtos de origem mineral, em bruto ou semielaborados – isentos de impostos, portanto.
A Vale exportou no ano passado 97 milhões de toneladas de minério de ferro de Carajás, com faturamento de 11,7 bilhões de dólares, correspondentes a quase 20 bilhões de reais. Pois bem: esses R$ 20 bilhões renderam R$ 30 milhões de ICMS. Ou 0,15%. Alíquota de desmoralizar qualquer erário; de massacrar qualquer povo. E fazer a festa de outro povo, como o chinês: desses 97 milhões de minério de ferro extraídos e exportados, 47 milhões (exatamente a metade do total) foram para a China, que pagou US$ 5,8 bilhões.
Dá uns US$ 120 por tonelada. É muito se comparado com os US$ 15/25 por tonelada do início de Carajás, na metade dos anos 1980. Mas quem possui minério igual? E quando ele acabar, não depois de 400 anos de exploração, conforme se previa inicialmente, mas em menos de um século, na escala atual de lavra? A partir de 2015 a produção passará para inacreditáveis 230 milhões de toneladas anuais?
Talvez continue a ser maravilhoso para os donos de papeis da Vale com direito a dividendos prioritários, mas e para o Brasil? E para o Estado do Pará? Quem garante? Quem sabe das coisas?
Todos deviam saber. Mas raros se interessam. O que é uma pena – e muito cara. Criei um blog (www.valeqvale.wordpress.com) justamente para conhecermos melhor essa portentosa companhia, esfinge ou cavalo de Tróia. Poucos se apresentaram.
Agora estou colocando nas ruas um dossiê especial sobre a Vale (“A Vale engorda. O Pará emagrece”, é o título da publicação, com 44 páginas).
É tentativa de provocar o debate, despertar o interesse e mobilizar a vontade dos paraenses. Mais tarde será irremediavelmente tarde. Como já está sendo. Os paraenses continuam desatentos ao movimento do maior trem de cargas do mundo, que leva o filé-mignon dos minérios de Carajás para o exterior, com destino certo: a Ásia. A história do Pará parou, como manda a dança. O trem, não.
*Lúcio Flávio Pinto é editor do Jornal Pessoal.

Perigo! Fascismo no Brasil!

Clique

http://camaraempauta.com.br/portal/artigo/ver/id/2038

Privatização é isso!

Clique


Você pensa que não tem nada a ver com isso?

Clique.
Seres humanos. Vítimas da ganância e da estupidez do bicho homem. Os bilhões gastos em guerras seriam mais que suficientes para resolver definitivamente essa vergonha que atiramos na cara das nações ricas. E tome capitalismo!

http://www.youtube.com/watch?v=LTCr82wtbXI&feature=related

Comissão da Verdade e Operação Condor. IMPERDÍVEL.

Debate na TV U, Recife, com os escritores Urariano Mota, Antonio Campos
e o cientista político Túlio Velho.
Apresentação de Stella Maris.

Parte 1 - http://www.youtube.com/watch?v=KtrsO-JWhHM

Parte 2 - http://www.youtube.com/watch?v=Ptt2EQAmpsc

Parte 3 - http://www.youtube.com/watch?v=SLRFZzS728k

Parte 4 - http://www.youtube.com/watch?v=mvdc23BgHBI

Vídeos para conhecimento e reflexão

  http://www.youtube.com/watch?v=Eo8WSZvyZMI
(Golpe de 64 e ditadura)

http://www.youtube.com/watch?v=PEpJ-HGMkdc
(Propagandas militaristas e resistência ao golpe 64)

http://www.youtube.com/watch?v=Q65Pz-sFci8
(Norte americanos tramas apoio ao Golpe de 64)

http://www.youtube.com/watch?v=KjM48ZjevmA
(Discurdo de Goulart dias antes do Golpe Militar)

http://www.youtube.com/watch?v=KjM48ZjevmA
(Discurso contra o  AI-5)

http://www.youtube.com/watch?v=KjM48ZjevmA
(Ato Institucional - 5)

http://www.youtube.com/watch?v=d4781CipW8k
(Fuga de Jango-31 de Março de 1964)

http://www.youtube.com/watch?v=A9bHU7zW5X4
(Serra e o vídeo escondido)

http://www.youtube.com/watch?v=A9bHU7zW5X4
(Passeata dos cem mil - 1968 UNE)

http://www.youtube.com/watch?v=8FLqkhfbl3M
(Passeata dos em cem mil por Ferreira Gullar)

http://www.youtube.com/watch?v=8FLqkhfbl3M
(Revolta e massacre estudantil-México 1968)

http://www.youtube.com/watch?v=xthjeYeVI8o
(Maio de 68 - França)

http://www.youtube.com/watch?v=hWJW4G_p_Pg
(Panteras Negras - EUA)

http://www.youtube.com/watch?v=ijMTS7Ayj9c
(Último discurso de Martin Luther King - 1968)

http://www.youtube.com/watch?v=2x8KgPf8Pq0
(Malcolm X - Discurso: " Qualquer meio necessário")

http://www.youtube.com/watch?v=xthjeYeVI8o
(Discurso de Che Guevara na ONU)

http://www.youtube.com/watch?v=xthjeYeVI8o
(Homenagem Che e Pancho Villa)

http://www.youtube.com/watch?v=dOTd4s5hths
(Homenagem a Zapata, Villa e Che -música de Silvio Rodrigues)

http://www.youtube.com/watch?v=dOTd4s5hths
(ùltimo discurso de Salvador Allende - 11 de Setembro de 1973 - Chile)

http://www.youtube.com/watch?v=cdh7XCynH5I
(Revolução dos Cravos - 1974 - Portugal)

http://www.youtube.com/watch?v=fVpIa9J59s0
(Manifestação Argentina - 2001)

http://www.youtube.com/watch?v=ei07SXkqKWE
(Black Block-Manifestação Anarquista em Madrid - 1 de maio de 1998)

http://www.youtube.com/watch?v=fJLv047AJOU
(Black Block-Manifestação Genova 2007-demostração de não violência)

http://www.youtube.com/watch?v=js4vtkcgESU
(Black Block- Praga (as cenas de violência são contra os NAZI e policiais) anti G8)


 http://www.youtube.com/watch?v=O_xSIHWO7MI
(Manifestações Grécia - 2010 - Partido Comunista Grego)



 http://www.youtube.com/watch?v=O_xSIHWO7MI
(Portugal - Manifestação 29/09/2010)


 http://www.youtube.com/watch?v=81tYDkgy_kI
(Música e ditadura - Brasil)

http://www.youtube.com/watch?v=k5K73tQf59c
(Entendendo o anarquismo)

http://www.youtube.com/watch?v=nJTYVWf1WVk
(O anarquismo através de imagens)

http://www.youtube.com/watch?v=-f978x-kYac
(Cancion anarquista)

http://www.youtube.com/watch?v=ADPtfZuOyR4
(Hino de la CNT - Sindicato Anarquista -  Espanha Revolucionária)

http://www.youtube.com/watch?v=_uCC-venMtU
(El pueblo unido jamas será vencido! Inti Illimani))

http://www.youtube.com/watch?v=QbKJLbs1MYc
(Tributo Che)

http://www.youtube.com/watch?v=SynVFM_6ezk
(Música: Hasta Siempre Comandante Che Guevara)
http://www.youtube.com/watch?v=po09lcDxXIA
(Hasta Siempre Comandante Guevara - Buena Vista Social Club)

http://www.youtube.com/watch?v=UU8xXNJPODM
( A INTERNACIONAL SOCIALISTA EM RAP)

http://www.youtube.com/watch?v=9ilt6snX8Lk
(A Internacional - Cena do filme "REDS" baseado na vida de Jhon Reed,
jornalista e revolucionário norte americano, participou da Revolução Russa de 1917,
escreveu o primeiro livro sobre ela: "Dez Dias que Abalaram o Mundo")

http://www.youtube.com/watch?v=k_m4RsLyHpE
(Música The Verve: Bitter Sweet Symphony... tentem buscar o clip desse som...)

http://www.youtube.com/watch?v=hKH_KVt3mUk
(Samba Makossa de Chico science por Marcelo D2)

http://www.youtube.com/watch?v=OkptAMMS6q8
(Rage gainst the Machine - Black Bloc)



















O que você tem feito para mudar isso?

Clique.

Para reflexão e ação.

http://www.youtube.com/watch?v=ErYWnrNlw5g&feature=related


PS: Corrigir a frase final para: Esse mundo das fotos É SEU TAMBÉM.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Mais uma

A memória de José Serra

Serra, que 'não conhecia' Paulo Preto, agora nega ter nomeado Hussein Aref
Por Helena Sthephanowitz, especial para a Rede Brasil Atual


Hussain Aref Saab, o diretor responsável pela aprovação de grandes e médias construções na capital paulista durante sete anos foi nomeado para a prefeitura por José Serra, em janeiro de 2005, como mostra o Diário Oficial da Cidade de São Paulo (DOM). A nomeação foi lembrada pela Folha de S.Paulo hoje (17).

De lá pra cá, Aref Saab adquiriu 106 imóveis – enquanto sua renda declarada é de R$ 20 mil mensais. O patrimônio do funcionário inclui 118 imóveis, dos quais 24 são vagas extras de garagens (o que faz a gente pensar que ele deve ter muitos veículos).

Ainda conforme o jornal, de 2005 até 2012, Saab, de 67 anos, o valor acumulado de suas posses ultrapassa R$ 50 milhões. Suspeito de participar de esquemas de corrupção e alvo de investigações, Aref Saab deixou o cargo no mês de abril desse ano

Mas Serra nunca sabe de nada.

Apesar do registro no DOM, candidato do PSDB à prefeitura paulistana nega ter nomeado Hussein Aref Saab para o cargo que lhe deu poderes para aprovar ou desaprovar empreendimentos imobiliários na cidade. E, obviamente, também criticou a veiculação do caso.

Em 2010, Serra também negou conhecer Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, x-diretor da estatal Dersa quando ele era governador. Paulo Preto, foi acusado por líderes do seu próprio partido de desviar pelo menos R$ 4 milhões arrecadados de forma ilegal para a campanha eleitoral de Serra candidato à presidência.

O tucano só lembrou que conhecia o ex-diretor da Dersa quando Paulo Preto, numa entrevista, mandou um recado muito claro: “Não se abandona um companheiro ferido na beira da estrada”

Dá para confiar na palavra de Serra?

Comissão da verdade

Investigar “outro lado” na ditadura: seria igualar nazistas à Resistência Francesa

por Rodrigo Vianna 

Raymond Aubrac morreu no mês passado. Tinha 97 anos, viúvo. Na França, era tratado como herói. Lutou de armas na mão contra os nazistas e contra os franceses colaboracionistas, que aceitaram manter um regime fantoche em apoio a Hitler. 

Aubrac e a mulher, morta há uma década, foram líderes da Resistência Francesa. Se morassem no Brasil, parte dos comentaristas e colunistas da direita brazuca certamente diria que eles tinham sido ”terroristas”. Sim, Aubrac lançou bombas, deu tiros. Foi preso, escapou milagrosamente dos nazistas. Tinha inimigos. E lutou. E não deixou de lutar. Depois da Guerra, tornou-se amigo de Ho-Chi-Min. E na última campanha eleitoral francesa, chegou a declarar apoio a Hollande, do Partido Socialista. Ele tinha um lado. 

Um homem precisa ser “neutro” pra lutar por Justiça? Tolice. Mais que tolice. Argumento falacioso a proteger criminosos de guerra. Seja na Europa ou na América do Sul. Aqui, às vezes cola. Lá, não cola… 

No Brasil, Aubrac e a mulher talvez fossem chamados de “petralhas”. Mais que isso. Talvez aparecesse um ex-ministro tucano dizendo que “os dois lados” precisam ser investigados. Sim! Não é justo julgar (ou relatar os crimes, que seja) apenas dos pobres nazistas. E as “vítimas inocentes” do “outro lado”? Essa Resistência Francesa era “criminosa”… 

Aubrac seria exercrado, ofendido. Pela internet, circulariam e-mails idiotas chamando o sujeito de “terrorista”, talvez achassem uma foto dele com fuzil pra dizer: olha só, o “outro lado” era adepto da força bruta, não era bonzinho, também precisa ser investigado… 

Isso me lembra o título daquele livro: “Falta Alguém em Nuremberg!” Sim, para a direita brasileira (e os apavorados que se acham de esquerda e têm medo de enfrentá-la) seria preciso enviar a Resistência Francesa a julgamento! Afinal, a Resistência pegou em armas, cometeu “crimes”. 

No Brasil, por hora, nem se fala em julgamento. Mas numa simples Comissão a relatar os crimes cometidos por agentes do Estado. Crimes contra a Humanidade. Não se fala em execrar soldados, sargentos ou oficiais que, eventualmente, tenham matado guerrilheiros em combate. Da mesma forma, nunca ninguém se atreveu a “condenar” soldados alemães que lutaram nas trincheiras ou nas ruas. 

O que se pretende é relatar crimes de tortura, desaparecimento, assassinatos cometidos a sangue frio… Ah, mas estávamos numa “guerra”, dizem militares brasileiros (secundados por civis perversos, e até por gente de boa fé mas desinformada) que atacam a Comissão. Há controvérsias se aquilo que ocorreu no Brasil foi uma “guerra”… 

De todo jeito, na Europa houve “guerra”. Pra valer. Nem por isso, crimes contra a Humanidade deixaram de ser julgados. Nazistas e seus colaboradores que torturaram, assassinaram e incineraram gente indefesa foram a julgamento. A Resistência Francesa não foi a julgamento. Nem irá. 

O resto é invenção do conservadorismo mais matreiro do mundo, porque dissimulado: o conservadorismo brasileiro. Nesse debate sobre a Comissão da Verdade, é preciso derrotá-lo. Com inteligência, moderação. Mas com firmeza.

Texto retirado do blog: O Escrevinhador

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A face nazista da ditadura brasileira

11.05.12 - Brasil
A face nazista da ditadura brasileira
Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
Adital
A notícia é estarrecedora: militantes políticos envolvidos no combate à ditadura militar tiveram seus corpos incinerados no forno de uma usina de cana de açúcar em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro, entre 1970 e 1980.
O regime militar, que governou o Brasil entre 1964 e 1985, merece, agora, ser comparado ao nazismo.
A revelação é do ex-delegado do DOPS (polícia política) do Espírito Santo, Cláudio Guerra, hoje com 71 anos.
Segundo seu depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, no livro "Memórias de uma guerra suja” (Topbooks), no forno da usina Cambahyba - de propriedade de Heli Ribeiro Gomes, ex-vice-governador do Rio de Janeiro entre 1967 e 1971, já falecido -, foram incinerados Davi Capistrano, o casal Ana Rosa Kucinski Silva e Wilson Silva, João Batista Rita, Joaquim Pires Cerveira, João Massena Melo, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Eduardo Collier Filho e Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira.
Os militantes teriam sido retirados de órgãos de repressão de São Paulo – DEOPS e DOI-CODI – e do centro clandestino de tortura e assassinato conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis.
Cláudio Guerra acrescenta às suas denúncias que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, um dos mais notórios torturadores de São Paulo, teria participado, em 1981, do atentado no Riocentro, na capital carioca, na véspera do feriado de 1º. de Maio.
Se a bomba levada pelos oficiais do Exército não tivesse estourado no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, ceifando-lhe a vida, centenas de pessoas que assistiam a um show de música popular teriam sido mortas ou feridas.
O objetivo da repressão era culpar os "terroristas” pelo hediondo crime e, assim, justificar a ação perversa da ditadura.
Guerra aponta ainda os agentes que teriam participado, em 1979, da Chacina da Lapa, na capital paulista, quando três dirigentes do PCdoB foram executados. Acrescenta que a "comunidade de informação”, como eram conhecidos os serviços secretos da ditadura, espalhou panfletos da candidatura Lula à Presidência da República no local em que ficou retido o empresário Abílio Diniz, vítima de um sequestro em 1989, em São Paulo, de modo a tentar envolver o PT.
Uma das revelações mais bombásticas de Cláudio Guerra é sobre o delegado Sérgio Paranhos Fleury, o mais impiedoso torturador e assassino da regime militar, morto em 1979 por afogamento. Tido até agora como um acidente, segundo o ex-delegado, teria sido "queima de arquivo”, crime praticado pelo CENIMAR, o serviço secreto da Marinha.
Guerra assume ter assassinado o militante Nestor Veras, em 1975, alegando que apenas deu "o tiro de misericórdia” porque ele havia sido "muito torturado e estava moribundo”.
Das notícias da repressão há sempre que desconfiar. Guerra fala a verdade ou mente? Tudo indica que o ex-delegado, agora travestido de pastor adventista, não se limitou, na prática de crimes, à repressão política. Em 1982, a Justiça o condenou a 42 anos de prisão pela morte de um bicheiro, dos quais cumpriu 10 anos. Em seguida mereceu 18 anos de condenação por assassinar sua mulher, Rosa Maria Cleto, com 19 tiros, e a cunhada, no lixão de Cariacica, em 1980.
Ele alega inocência nos três casos, embora admita que matou o tenente Odilon Carlos de Souza, a quem acusa de ter liquidado sua mulher Rosa.
Espera-se que a presidente Dilma anuncie, o quanto antes,(*) os nomes dos sete integrantes da Comissão da Verdade, que deverá apurar crimes e criminosos da ditadura. E investigar as denúncias do policial capixaba. Infelizmente a comissão ainda não será da Verdade e da Justiça.
O Brasil é o único país da América Latina que se recusa a punir aqueles que cometeram crimes em nome do Estado, entre 1964 e 1985. O pretexto é a esdrúxula Lei da Anistia, consagrada pelo STF, que pretende tornar inimputáveis algozes do regime militar.
Ora, como anistiar quem nunca foi julgado e punido? Nós, as vítimas, sofremos prisões, torturas, exílios, banimentos, assassinatos e desaparecimentos. E os que provocaram tudo isso merecem o prêmio de uma lei injusta e permanecer imunes e impunes como se nada houvessem feito?
O nazismo foi derrotado há quase 70 anos, e ainda hoje novas revelações vêm à tona. Enganam-se os que julgam que a Lei da Anistia, o silêncio das Forças Armadas e a leniência dos três poderes da República haverão de transformar a anistia em amnésia. Como afirmou Walter Benjamin, a memória das vítimas jamais se apaga.
(*) os nomes foram anunciados em 10/5/12 e será instalada em 16/5/12)
Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira”(Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org - Twitter:@freibetto.

_______________________________________________

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Solidariedade a Cuba

A Associação Cultural José Martí da Paraíba organiza a:
Convenção Paraibana de Solidariedade a Cuba
Contará com a honra da conferência intitulada "Cuba hoje, Integração Latinoamericana e Socialismo", conduzida por Rafael Hidalgo, conselheiro político e representante da Embaixada de Cuba no Brasil. Convocamos toda a militância da paraíba, intelectuais e companheiros solidários a Cuba para realizarmos este ato de apoio  à construção de uma sociedade melhor e da integração dos povos da América Latina.
1) Sexta-feira, 18 de maio de 2012, às 19:00h - Convenção Paraibana de Solidariedade a Cuba
a) Local: Fundação Casa de José Américo, situada na Av. Cabo Branco, 3336, Cabo Branco. No final do Cabo Branco, ao lado do edifício João Marques.
Divulguem entre os companheiros e demais interessados na solidariedade a Cuba.

Somos todos latinoamericanos!

Escola de cinema de Cuba oferece cursos no Brasil

__._,_.___

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O Código do agronegócio. VETA, DILMA!

13 Razões para o Veto Total ao PL 1876/99 do Código Florestal

Texto reflete exame minucioso do Projeto de Lei 1876/99, revisado pela
Câmara dos Deputados na semana passada, à luz dos compromissos da Presidenta
Dilma Rousseff assumidos em sua campanha nas eleições de 2010.

por André Lima, Raul Valle e Tasso Azevedo*




Para cumprir seu compromisso de campanha e não permitir incentivos a mais
desmatamentos, redução de área de preservação e anistia a crimes ambientais,
a Presidenta Dilma terá que reverter ou recuperar, no mínimo, os
dispositivos identificados abaixo. No entanto, a maioria dos dispositivos
são irreversíveis ou irrecuperáveis por meio de veto parcial.

A hipótese de vetos pontuais a alguns ou mesmo a todos os dispositivos aqui
comentados, além de não resolver os problemas centrais colocados por cada
dispositivo (aprovado ou rejeitado), terá como efeito a entrada em vigor de
uma legislação despida de clareza, de objetivos, de razoabilidade, de
proporcionalidade e de justiça social. Vulnerável, pois, ao provável
questionamento de sua constitucionalidade. Além disso, deixará um vazio de
proteção em temas sensíveis como as veredas na região de cerrado e os
mangues.

Para preencher os vazios fala-se da alternativa de uma Medida Provisória
concomitante com a mensagem de veto parcial. Porém esta não é uma solução,
pois devolve à bancada ruralista e à base rebelde na Câmara dos Deputados o
poder final de decidir novamente sobre a mesma matéria.  A Câmara dos
Deputados infelizmente já demonstrou por duas vezes - em menos de um ano -
não ter compromisso e responsabilidade para com o código florestal. Partidos
da base do governo como o PSD, PR, PP, PTB, PDT capitaneados pelo PMDB,
elegeram o código florestal como a "questão de honra" para derrotar
politicamente o governo por razões exóticas à matéria.

Seja por não atender ao interesse público nacional por uma legislação que
salvaguarde o equilíbrio ecológico, o uso sustentável dos recursos naturais
e a justiça social, seja por ferir frontalmente os princípios do
desenvolvimento sustentável, da função social da propriedade rural, da
precaução, do interesse público, da razoabilidade e proporcionalidade, da
isonomia e da proibição de retrocesso em matéria de direitos sociais, o
texto aprovado na Câmara dos Deputados merece ser vetado na íntegra pela
Presidenta da República.

Ato contínuo deve ser constituído uma força tarefa para elaborar uma
proposta de Política Florestal ampla para o Brasil a ser apresentada no
Senado Federal e que substitua o atual código florestal elevando o grau de
conservação das florestas e ampliando de forma decisiva as oportunidades
para aqueles que desejam fazer prosperar no Brasil uma atividade rural
sustentável que nos dê orgulho não só do que produzimos, mas da forma como
produzimos.

Enquanto esta nova lei é criada, é plenamente possível por meio da
legislação vigente e de regulamentos (decretos e resoluções do CONAMA) o
estabelecimento de mecanismos de viabilizem a regularização ambiental e a
atividade agropecuária, principalmente dos pequenos produtores rurais.



13 razões para o Veto Total

1. Supressão do artigo primeiro do texto aprovado pelo Senado que
estabelecia os princípios jurídicos de interpretação da lei que lhe garantia
a essência ambiental no caso de controvérsias judiciais ou administrativas.
Sem esse dispositivo, e considerando-se todos os demais problemas abaixo
elencado neste texto, fica explícito que o propósito da lei é simplesmente
consolidar atividades agropecuárias ilegais em áreas ambientalmente
sensíveis, ou seja, uma lei de anistia florestal.  Não há como sanar a
supressão desses princípios pelo veto.

2. Utilização de conceito incerto e genérico de pousio e supressão do
conceito de áreas abandonadas e subutilizadas. Ao definir pousio como
período de não cultivo (em tese para descanso do solo) sem limite de tempo
(Art. 3 inciso XI), o projeto permitirá novos desmatamentos em áreas de
preservação (encostas, nascentes etc.) sob a alegação de que uma floresta em
regeneração (por vezes há 10 anos ou mais) é, na verdade, uma área agrícola
"em descanso". Associado ao fato de que o conceito de áreas abandonadas ou
subutilizadas, previsto tanto na legislação hoje em vigor como no texto do
Senado, foi deliberadamente suprimido, teremos um duro golpe na
democratização do acesso e da terra, pois áreas mal-utilizadas, possuídas
apenas para fins especulativos, serão do dia para a noite terras "produtivas
em descanso". Essa brecha enorme para novos desmatamentos não pode ser
resolvida com veto.

3. Dispensa de proteção de 50 metros no entorno de veredas (inciso XI do
ART. 4º ART). Isso significa a consolidação de ocupações ilegalmente feitas
nessas áreas como também novos desmatamentos no entorno das veredas hoje
protegidas.  Pelo texto aprovado, embora as veredas continuem sendo
consideradas área de preservação, elas estarão na prática desprotegidas,
pois seu entorno imediato estará sujeito a desmatamento, assoreamento e
possivelmente a contaminação com agroquímicos. Sendo as veredas uma das
principais fontes de água do Cerrado, o prejuízo é enorme, e não é sanável
pelo veto presidencial.

4. Desproteção às áreas úmidas brasileiras. Com a mudança na forma de
cálculo das áreas de preservação ao longo dos rios (art.4o), o projeto deixa
desprotegidos, segundo cálculos do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA), 400 mil km2 de várzeas e igapós. Isso permitirá que esses
ecossistemas riquíssimos possam ser ocupados por atividades agropecuárias
intensivas, afetando não só a biodiversidade como a sobrevivência de
centenas de milhares de famílias que delas fazem uso sustentável.

5. Aumento das possibilidades legais de novos desmatamentos em APP - O novo
texto (no §6º do Art4o) autoriza novos desmatamentos indiscriminadamente em
APP para implantação de projetos de aquicultura em propriedades com até 15
mólulos fiscais (na Amazônia, propriedades com até 1500ha - na Mata
Atlântica propriedades com mais de mil hectares) e altera a definição das
áreas de topo de morro reduzindo significativamente a sua área de aplicação
(art.4º, IX). Em nenhum dos dois casos o Veto pode reverter o estrago que a
nova Lei irá causar, ampliando as áreas de desmatamento em áreas sensíveis.

6. Ampliação de forma ampla e indiscriminada do desmatamento e ocupação nos
manguezais ao separar os Apicuns e Salgados do conceito de manguezal e ao
delegar o poder de ampliar e legalizar ocupações nesses espaços aos
Zoneamentos Estaduais, sem qualquer restrição objetiva (§§ 5º e 6º do art.
12).  Os estados terão amplos poderes para legalizar e liberar novas
ocupações nessas áreas. Resultado - enorme risco de significativa perda de
área de manguezais que são cruciais para conservação da biodiversiadade e
produção marinha na zona costeira. Não tem com resgatar pelo Veto  as
condições objetivas para ocupação parcial desses espaços tão pouco o
conceito de manguezal que inclui apicuns e salgados.

7. Permite que a reserva legal na Amazônia seja diminuída mesmo para
desmatamentos futuros, ao não estabelecer, no art. 14, um limite temporal
para que o Zoneamento Ecológico Econômico autorize a redução de 80% para 50%
do imóvel. A lei atual já traz essa deficiência, que incentiva que
desmatamentos ilegais sejam feitos na expectativa de que zoneamentos futuros
venham legaliza-los, e o projeto não resolve o problema.

8. Dispensa de recomposição de APPs. O texto revisado pela Câmara ressuscita
a emenda 164 (aprovada na primeira votação na Câmara dos Deputados, contra a
orientação do governo) que consolida todas as ocupações agropecuárias
existentes às margens dos rios, algo que a ciência brasileira vem
reiteradamente dizendo ser um equívoco gigantesco. Apesar de prever a
obrigatoriedade de recomposição mínima de 15 metros para rios inferiores a
10 metros de largura, fica em aberto a obrigatoriedade de recomposição de
APPs de rios maiores, o que gera não só um possível paradoxo (só partes dos
rios seriam protegidas), como abre uma lacuna jurídica imensa, a qual só
poderá ser resolvida por via judicial, aumentando a tão indesejada
insegurança jurídica. O fim da obrigação de recuperação do dano ambiental
promovida pelo projeto condenará mais de 70% das bacias hidrográficas da
Mata Atlântica, as quais já tem mais de 85% de sua vegetação nativa
desmatada. Ademais, embora a alegação seja legalizar áreas que já estavam
"em produção" antes de supostas mudanças nos limites legais, o projeto
anistia todos os desmatamentos feitos até 2008, quando a última modificação
legal foi em 1986. Mistura-se, portanto, os que agiram de acordo com a lei
da época com os que deliberadamente desmataram áreas protegidas apostando na
impunidade (que o projeto visa garantir). Cria-se, assim, uma situação
anti-isonômica, tanto por não fazer qualquer distinção entre pequenos e
grandes proprietários em situação irregular, como por beneficiar aqueles que
desmataram ilegalmente em detrimento dos proprietários que o fizeram de
forma legal ou mantiveram suas APPs conservadas.  É flagrante, portanto, a
falta de razoabilidade e proporcionalidade da norma contida no artigo 62, e
um retrocesso monumental na proteção de nossas fontes de água.

9. Consolidação de pecuária improdutiva em encostas, bordas de chapadas,
topos de morros e áreas em altitude acima de 1800 metros (art. 64) o que
representa um grave problema ambiental principalmente na região sudeste do
País pela instabilidade das áreas (áreas de risco), inadequação e
improdutividade dessas atividades nesses espaços. No entanto, o veto pontual
a esse dispositivo inviabilizará atividades menos impactantes com espécies
arbóreas perenes (café, maçã dentre outras) em pequenas propriedades rurais,
hipóteses em que houve algum consenso no debate no Senado. O Veto parcial
resolve o problema ambiental das encostas no entanto não resolve o problema
dos pequenos produtores.

10. Ausência de mecanismos que induzam a regularização ambiental e
privilegiem o produtor que preserva em relação ao que degrada os recursos
naturais. O projeto revisado pela Câmara suprimiu o art. 78 do Senado, que
vedava o acesso ao crédito rural aos proprietários de imóveis rurais não
inscritos no Cadastro Ambiental Rural - CAR após 5 anos da publicação da
Lei. Retirou também a regra que vedava o direcionamento de subsídios
econômicos a produtores que tenham efetuado desmatamentos ilegais
posteriores a julho de 2008. Com isso, não só não haverá instrumentos que
induzam a adesão aos Programas de Regularização Ambiental, como fica
institucionalizado o incentivo perverso, que premia quem descumpre
deliberadamente a lei. Propriedades com novos desmatamentos ilegais poderão
aderir ao CAR e demandar incentivos para recomposição futura. Somando-se ao
fato de que foi retirada a obrigatoriedade de publicidade dos dados do CAR,
este perde muito de seu sentido. Um dos únicos aspectos positivos de todo
projeto foi mutilado. Essa lacuna não é sanável pelo veto. A lei perde um
dos poucos ganhos potenciais para a governança ambiental.

11. Permite que imóveis de até 4 módulos fiscais não precisem recuperar sua
reserva legal (art.68), abrindo brechas para uma isenção quase generalizada.
Embora os defensores do projeto argumentem que esse dispositivo é para
permitir a sobrevivência de pequenos agricultores, que não poderiam abrir
mão de áreas produtivas para manter a reserva, o texto não traz essa
flexibilização apenas aos agricultores familiares, como seria lógico e foi
defendido ao longo do processo legislativo por organizações
socioambientalistas e camponesas. Com isso, permite que mesmo proprietários
que tenham vários imóveis menores de 4 MF -  e, portanto, tenham terra mais
que suficiente para sua sobrevivência - possam se isentar da recuperação da
RL. Ademais, abre brechas para que imóveis maiores do que esse tamanho, mas
com matrículas desmembradas, se beneficiem dessa isenção. Essa isenção fará
com que mais de 90% dos imóveis do país sejam dispensados de recuperar suas
reservas legais e jogaria uma pá de cal no objetivo de recuperação da Mata
Atlântica, pois, segundo dados do Ipea, 67% do passivo de reserva legal está
em áreas com até 4 módulos.

12. Cria abertura para discussões judiciais infindáveis sobre a necessidade
de recuperação da RL (art.69). A pretexto de deixar claro que aqueles que
respeitaram a área de reserva legal de acordo com as regras vigentes à época
estão regulares, ou seja, não precisam recuperar áreas caso ela tenha sido
aumentada posteriormente (como ocorreu em áreas de floresta na Amazônia, em
1996), o projeto diz simplesmente que não será necessário nenhuma
recuperação, e permite que a comprovação da legalidade da ocupação sejam com
"descrição de fatos históricos de ocupação da região, registros de
comercialização, dados agropecuários da atividade". Ou seja, com simples
declarações o proprietário poderá se ver livre da RL, sem ter que comprovar
com autorizações emitidas ou imagens de satélite que a área efetivamente
havia sido legalmente desmatada.

13. Desmonte do sistema de controle da exploração de florestas nativas e
transporte de madeira no País. O texto do PL aprovado permite manejo da
reserva legal para exploração florestal sem aprovação de plano de manejo
(que equivale ao licenciamento obrigatório para áreas que não estão em
reserva legal), desmonta o sistema de controle de origem de produtos
florestais (DOF - Documento de Origem Florestal) ao permitir que vários
sistemas coexistam sem integração. A Câmara rejeitou o parágrafo 5º do art.
36 do Senado o que significa a dispensa de obrigação de integração dos
sistemas estaduais com o sistema federal (DOF). Como a competência por
autorização para exploração florestal é dos estados (no caso de propriedades
privadas rurais e unidades de conservação estaduais) o governo federal perde
completamente a governança sobre o tráfico de madeira extraída ilegalmente
(inclusive dentro de Unidades de conservação federais e terras indígenas) e
de outros produtos florestais no País. Essa lacuna não é sanável pelo veto
presidencial.

Há ainda outros pontos problemáticos no texto aprovado confirmado pela
Câmara cujo veto é fundamental e que demonstram a inconsistência do texto
legal, que se não for vetado por completo resultará numa colcha de retalhos.

A todos estes pontos se somam os vícios de origem insanáveis deste PL como é
o caso da definição injustificável da data de 22 de julho de 2008 como marco
zero para consolidação e anistia de todas irregularidades cometidas contra o
código florestal em vigor desde 1965. Mesmo que fosse levado em conta a
última alteração em regras de proteção do código florestal esta data não
poderia ser posterior a 2001, isso sendo muito generoso, pois a última
alteração em regras de APP foi realizada em 1989.

Por essas razões não vemos alternativa sensata à Presidente da República se
não o Veto integral ao PL 1876/99.







* Em 02 de maio de 2012, por André Lima - Advogado, mestre em Política e
Gestão Ambiental pela UnB, Assessor de Políticas Públicas do Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Consultor Jurídico da Fundação SOS
Mata Atlântica e Sócio-fundador do Instituto Democracia e Sustentabilidade,
Raul Valle - Advogado, mestre em Direito Econômico pela Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo e Coordenador Adjunto do Instituto
Socioambiental e Tasso Azevedo - Eng. Florestal, Consultor e Empreendedor
Sociambiental, Ex-Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro.






Mais crimes da ditadura de 1964.

Jornal do Commercio - 03.05.12
 
MEMÓRIA Ex-delegado Cláudio Guerra assume ter incinerado corpos de dez ex-militantes de esquerda durante a ditadura, entre eles os de Fernando Santa Cruz e de Eduardo CollierSérgio Montenegro Filho
smontenegrofilho@gmail.com
 
A publicação de um livro de memórias do ex-delegado Cláudio Guerra – que atuou no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) durante o período do regime militar – pode causar uma reviravolta nas investigações sobre alguns desaparecidos políticos durante o regime militar. Entre eles, os pernambucanos Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier, sequestrados por agentes da ditadura, cujos corpos nunca foram localizados. Editado pela Topbooks – previsto para ser lançado em 15 dias – o livro Memórias de uma guerra suja foi escrito pelos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, a partir de depoimentos do ex-delegado colhidos nos últimos dois anos.
 
No livro, Guerra – que atuou sob comando do temido delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury na perseguição às forças de resistência no País – revela que ele próprio comandou a incineração dos corpos de dez militantes de esquerda, após terem sido torturados, num dos fornos da usina de açúcar Cambahyba, no município de Campos (RJ). A usina pertenceria, na época, ao empresário Heli Ribeiro, ex-vice-governador fluminense. Além dos dois estudantes pernambucanos, pelo menos quatro dirigentes do antigo PCB estariam entre os mortos: David Capistrano, João Massena, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho. Completam a lista João Batista e Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva.
 
Declarando-se “um matador em busca da paz”, Guerra admite, nos depoimentos, ter participado do atentado no Riocentro (RJ) – ocorrido em 1º de maio de 1981, durante show do Dia do Trabalho – e confessa seu envolvimento no assassinato de uma centena de pessoas durante a ditadura. Entre outras revelações, afirma que o delegado Sérgio Fleury foi morto por setores das próprias Forças Armadas, como “queima de arquivo”, porque estaria “fugindo ao controle”.
 
CRÉDITO
 
A notícia da publicação de Memórias de uma guerra suja causou expectativa entre os familiares dos mortos e desaparecidos, que até hoje tentam encontrar os restos mortais dos seus entes. “O depoimento do ex-delegado merece crédito, porque ele não está acusando ninguém de matar os militantes, e sim admitindo que ele mesmo os matou”, afirma Ivan Seixas, um dos dirigentes da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. Seixas foi o responsável pelo mapeamento de alguns desaparecimentos no Rio, e diz que os dez nomes dados por Guerra no livro batem com a sua lista. “Agora é esperar o livro sair para checar as informações”, explica.
 
Irmão do militante Fernando Santa Cruz, o advogado e vereador de Olinda Marcelo Santa Cruz (PT) também é cauteloso ao analisar a questão. Ele já encomendou o livro, e também recomendou ao filho de Fernando, Felipe Santa Cruz – advogado atuando no Rio – que investigue as informações. “É a primeira vez que alguém que participou das torturas e assassinatos resolve falar. Esse livro é um documento, e assim que ele sair, cabe ao Ministério Público e às famílias deflagrarem uma ampla investigação sobre mais essa monstruosidade cometida pela ditadura”, afirma Marcelo.
 
Para ele, o ex-delegado, assim como outros agentes, agiram como instrumentos da repressão, “mas o grande culpado é o Estado brasileiro”. Há informações de que Guerra estaria, inclusive, sob proteção policial. “Queremos este homem vivo. Ele tem muito a dizer”, completou.
 
 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Análise do Brasil



O BRASIL E A AMÉRICA DO SUL

As características da América do Sul – grande riqueza mineral e energética; grandes extensões de terras aráveis não utilizadas; população cada vez mais urbana em processo de estabilização demográfica; regimes políticos estáveis; inexistência e distância geográfica de áreas de conflitos intensos – tenderão a condicionar o papel da América do Sul em um cenário político mundial em que a disputa pelo acesso a recursos naturais e a alimentos será fundamental. em 2022, quer se queira ou não, devido a razões econômicas, políticas e sociais, o Brasil se encontrará inserido na América do Sul de forma muito mais intensa, complexa e profunda, tanto política quanto economicamente, do que se encontra hoje. A análise é de Samuel Pinheiro Guimarães.


Samuel Pinheiro Guimarães

1. A América do Sul é a nossa região, onde nos encontramos e de onde jamais sairemos. O futuro do Brasil depende da América do Sul e o futuro da América do Sul depende do Brasil.

2. A América do Sul é um arquipélago de sociedades e economias separadas pela distância, por obstáculos geográficos e pela herança das políticas coloniais que as isolavam cada uma das demais e que as vinculavam exclusivamente a suas metrópoles, Madri e Lisboa. A histórica e geográfica dificuldade de contatos permanece até hoje, entre os sistemas de transportes, de energia e de comunicações dos distintos países, já de si pouco integrados nacionalmente, levou a um fluxo, que ainda é reduzido, de comércio, de investimentos, de pessoas e de cultura. A dificuldade de contatos entre os países contribuiu, juntamente com as características de seu desenvolvimento e de sua inserção na economia mundial, para fazer da América do Sul esse arquipélago de sociedades subdesenvolvidas, com elevadíssima concentração de renda, com índices sociais deploráveis, muitas delas primário-exportadoras, tecnologicamente dependentes, militarmente fracas.

3. A América do Sul é um continente rico ao extremo em recursos naturais, tanto em seu solo como em seu subsolo, distribuídos de forma desigual entre os países que a integram. Países de enorme capacidade agrícola ao lado de países importadores de alimentos. Países riquíssimos em energia ao lado de países sufocados pela sua falta. Países de razoável industrialização e outros voltados para a agricultura e a mineração. Países de reduzida dimensão territorial ao lado de outros de grande extensão.

4. As reservas de minérios, as fontes de energia, as terras aráveis, a água, a biodiversidade, constituem um enorme potencial, aproveitado de forma incompleta e muitas vezes predatória. Não foi e não está ele organizado para atender estruturas produtivas avançadas e grandes mercados internos mas, sim, para suprir a demanda de mercados tradicionais, que se originaram e se formaram desde os tempos do comércio colonial e que, hoje, assumem, por vezes, formas quase neocoloniais. Mesmo naqueles países mais avançados da América do Sul a economia se encontra organizada, em grande parte, para a produção e a exportação de produtos minerais e agrícolas, às vezes processados, e de semi-manufaturados, como se constata pela presença majoritária de produtos primários ou de baixa tecnologia na pauta de exportações de cada país.

5. Sobre essas riquezas do solo e do subsolo, em um território de 18 milhões de km2, vivem e trabalham 400 milhões de sul-americanos, em permanente mestiçagem, a partir de suas origens africanas, indígenas, européias e asiáticas, com toda sua pujante cultura, com sua unidade lingüística ibérica, valor extraordinário quando refletimos sobre o desafio que representam as vinte e três línguas da União Européia, os dezenove idiomas oficiais da Índia e as onze línguas da África do Sul. Os idiomas indígenas são falados por uma pequena parcela da população da América do Sul, ainda que, em certos países, sejam eles muito importantes por representarem a expressão viva de culturas e de valores de civilizações distintas daquelas implantadas e mantidas, pela força, pelos colonizadores europeus e seus descendentes.

6. A religião predominante, em especial nos países sul-americanos hispânicos, e em suas classes mais altas, é o catolicismo, enquanto avança com grande rapidez, a influência das igrejas evangélicas nas camadas mais pobres da população e, mais recentemente, nas classes médias, em especial no Brasil. A aprovação, há poucos anos, em muitos países da região de legislação sobre o divórcio e a longa sobrevivência da vinculação entre a Igreja e o Estado revelam a importância social e política do catolicismo em quase todos os países.

7. A própria intensidade da miscigenação nas sociedades da América do Sul, fenômeno de que participam indígenas, afro-descendentes, euro-descendentes, árabes, judeus e asiáticos, torna hoje difícil a emergência de manifestações agressivas de racismo e de discriminação, assim como de conflitos de natureza religiosa mais aguda.

8. Os 400 milhões de sul-americanos se encontram predominantemente em cidades, em metrópoles grandes e médias, em cujas periferias grassam a pobreza, a mortalidade infantil, a violência, as drogas, a desintegração familiar, a subnutrição, o desemprego e o subemprego, as doenças e o analfabetismo. São essas populações, excluídas e pobres, que correspondem à enorme maioria da população de cada país, que fazem da América do Sul o continente mais desigual do planeta. A pobreza, o desemprego, os baixos salários e a violência provocam a emigração de grandes contingentes de sul-americanos que enfrentam dificuldades extremas em busca de oportunidades nos Estados Unidos e na Europa. Em contraposição às metrópoles e a suas periferias, se encontram os grandes vazios demográficos da Amazônia, dos Andes e da Patagônia onde populações dispersas têm difícil e escasso acesso a bens públicos de toda ordem, tais como hospitais, escolas, esgotos, luz e transporte.

Economia

9. Característica primeira das sociedades sul-americanas é o elevadíssimo grau de concentração de renda e de riqueza. Esta concentração pode ser medida pelo fato de que nos países da região, exclusive o Chile e o Uruguai, o número de habitantes abaixo da linha de pobreza se encontra entre 20% e 60% da população. Esses frios percentuais de concentração de renda e de riqueza correspondem a altos índices de desnutrição, de mortalidade infantil, de analfabetismo, e à ausência de saneamento, de capacitação profissional, que são a causa, mas também a conseqüência, de baixos níveis de renda per capita e de pequenos mercados para bens de maior complexidade.

10. Naqueles países sul-americanos não mineradores, a agricultura em geral se divide em quatro grandes setores: a agricultura familiar, muitas vezes de baixa produtividade, em pequenas propriedades, orientada para a subsistência e o mercado interno; a agricultura comercial em grande escala, mecanizada, voltada principalmente para o mercado internacional, e dividida em agricultura tropical e temperada; a pecuária bovina extensiva e a avicultura moderna.

11. A indústria se encontra distribuída de forma muito desigual entre os países da América do Sul. Este fato decorre, em parte, das diferentes dimensões de seus mercados internos e, em parte, da adoção de políticas comerciais neoliberais que dificultaram a emergência e sustentabilidade de processos nacionais de industrialização. Assim, em geral, os países sul-americanos não dispõem de siderurgia, metalurgia ou petroquímica significativas, e não dispõem de indústrias de bens de capital, fundamentais para um setor industrial que seja capaz de se expandir e absorver contingentes crescentes de mão de obra. Unidades de produção de bens de consumo leves e de manufaturas simples, como têxteis e calçados, são a característica de muitos desses parques industriais. A diversificação e a sofisticação competitiva da indústria e sua importância na economia de um país podem ser aferidas pela participação dos manufaturados no total das suas exportações. Na América do Sul, esta participação somente atinge valor superior a quinze por cento em quatro países. O baixo nível de consumo per capita de energia elétrica na região é um outro indicador importante do baixo nível de industrialização das economias nacionais e do reduzido consumo per capita de aparelhos eletrodomésticos.

12. Uma característica importante das economias sul-americanas é a pequena densidade e a ineficiência logística e energética dos sistemas de transporte que fazem com que as economias nacionais sejam pouco integradas e a produção se faça a custos elevados, fatos que, aliados à concentração de renda, contribuem para fazer pequeno e pouco dinâmico o mercado interno de cada país e para dificultar a exportação de manufaturados.

13. Em grande síntese, as estruturas econômicas nacionais da região se caracterizam por grandes complexos exportadores de minérios e de produtos agrícolas ao lado de setores industriais de pequena dimensão e de baixa eficiência, que se dedicam ao processamento de matérias primas locais para o mercado local, tais como têxteis e alimentos, com a exceção de situações específicas como a do Brasil e a da Argentina, que têm parques industriais amplos e complexos. Mas todos eles, dos menores aos maiores, ameaçados e atingidos periodicamente por políticas neoliberais de abertura comercial indiscriminada e radical, por políticas cambiais que utilizam as importações para controlar a inflação, e, agora, pela concorrência avassaladora da China que afeta a integração comercial regional.

Política

14. Sobre essa infraestrutura econômica e social, e com ela interagindo de forma intensa e inseparável, há uma superestrutura e uma dinâmica política, em que se entrechocam seis fenômenos: a hegemonia das elites tradicionais, os latentes ressentimentos históricos, a emergência política de movimentos indígenas, a difusa influência americana, as novas presenças espanhola e chinesa e as reiteradas tentativas de integração econômica e de coordenação política.

15. Até recentemente, ínfimas elites exerciam o controle dos sistemas políticos e econômicos nos países da América do Sul. O elevado grau de concentração de poder político e de controle do Estado se exercia, e ainda se exerce, através do sistema financeiro e da mídia, garantindo a apropriação por essas elites de grandes parcelas das rendas nacionais. Nos segmentos mais conservadores dessas elites existe uma tendência latente ao autoritarismo que emerge com força sempre que se sentem ameaçadas na posse e gozo de seus privilégios e na medida em que assistem (e resistem) à ascensão econômica e política das massas historicamente excluídas da população. Sempre que o controle do Estado (ou ainda que apenas de parte do Estado) lhes escapa, como vem ocorrendo em alguns países, sua reação é agressiva, procurando desqualificar os governos de origem popular através de campanhas midiáticas intensas, acusando-os de populistas, ineficientes, irresponsáveis, demagógicos e, afinal, autoritários.

16. Na dinâmica política da América do Sul os ressentimentos entre os Estados têm papel relevante. Sua origem se encontra em conflitos de um passado, às vezes remoto, às vezes recente, tais como a Guerra da Tríplice Aliança; os conflitos de formação dos Estados no Prata e da desintegração da Grã Colômbia; a Guerra do Pacífico; a Guerra do Chaco; e os conflitos entre Equador e Peru. Nas sociedades sul-americanas essas recordações do passado se encontram subjacentes à política interna e externa dos países e re-emergem diante de divergências do presente, aguçando-as e exacerbando-as. Esses ressentimentos e as assimetrias dificultam as iniciativas de integração comercial e ainda mais aquelas de integração econômica e de coordenação política na região.

17. A presença americana é um fator relevante na vida econômica, política, cultural e social da América do Sul. A América Latina e a América do Sul foram sempre consideradas zona de influência americana incontestável, tanto pelos Estados Unidos como pelas Grandes Potências de cada época. Esta é uma convicção arraigada na sociedade, no Estado, na academia e na política americana, desde que o Presidente James Monroe enunciou a Doutrina Monroe, em 1823.

18. Os Estados Unidos sempre pretenderam alinhar a América do Sul com suas políticas, primeiro quanto à Santa Aliança, depois em relação à influência inglesa e francesa e mais tarde na Guerra contra o Eixo. Esta zona de influência viria a receber uma estruturação política com a criação da OEA, em 1948. Ao longo da história, em especial a partir do início da liderança econômica mundial dos Estados Unidos após a Guerra de Secessão, as elites dos países sul-americanos sempre nutriram a esperança de, em troca de seu apoio político aos Estados Unidos, virem a se beneficiar do auxílio americano para o seu desenvolvimento, como ocorrera com os países europeus, inclusive inimigos, após a Segunda Guerra Mundial. A Revolução Cubana aguçou a política americana de enquadramento da América do Sul (e Latina) contra Cuba, o comunismo e o desafio à Doutrina Monroe, lançado pela União Soviética.

19. Do ângulo econômico, os Estados Unidos têm tido como um dos objetivos permanentes de sua política externa criar uma área de livre comércio das Américas. Em 1889, na I Conferência Internacional Americana, em Washington, os Estados Unidos apresentaram a proposta, que não foi aceita, de criação de uma área de livre comércio das Américas, que teria como moeda única o dólar. Em 1948, na IX Conferência Internacional Americana, que criou a OEA, foi apresentada proposta semelhante. Esta proposta de livre comércio seria retomada em diversas ocasiões e em especial pelos Presidentes Clinton e Bush.

20. Diante das dificuldades e da recusa dos principais países da América do Sul, Brasil e Argentina, em negociar a constituição de uma área de livre comércio nas condições desejadas pelos Estados Unidos, estes passaram a expandir a sua influência econômica na região através de acordos bilaterais de livre comércio, que já celebraram com o Chile, o Peru e a Colômbia. Esses acordos estabelecem limitações à execução de políticas de desenvolvimento em todas as áreas, desde os bens aos serviços, aos investimentos e à propriedade intelectual. Além de criar essas limitações, esses acordos de livre comércio têm, como uma de suas consequências, tornar impossível a formação de uma união aduaneira da América do Sul.

21. A presença americana é importante no comércio, nos investimentos, nas finanças, nos meios de comunicação e na identidade ideológica das elites tradicionais com os ideais econômicos, políticos e culturais norteamericanos. Em cada país da América do Sul a presença americana é mais intensa e forte do que a de qualquer outro país seja ele da região ou não. Permeando o ambiente social da região, há uma influência extraordinária da cultura americana, a qual se exerce através do cinema, da televisão e do rádio, meios de comunicação controlados por grandes empresas e que atingem todos os segmentos das sociedades sul-americanas.

22. Há duas crescentes presenças econômicas, e potencialmente políticas, na América do Sul: a espanhola e a chinesa. A influência espanhola se articula a partir da queda de Franco, da redemocratização e do ingresso da Espanha na União Européia. A queda de Franco extinguiu o estigma ditatorial do país, a redemocratização foi saudada como um modelo para a América Latina, e seu ingresso na União Européia lhe conferiu respeitabilidade e gerou o mito de que a Espanha seria uma porta de entrada da América Latina na Europa. As políticas de privatização criaram a oportunidade para grandes empresas espanholas se introduzirem nos mercados da América do Sul. Politicamente, a Espanha articulou o processo de criação da Iberoamérica, aproveitando as comemorações do Descobrimento e Conquista das Américas, a que chamou de Encontro de Civilizações. Sendo a Espanha um país de industrialização recente, sua influência na região, entretanto, em especial com a crise de 2008, não se tem expandido, inclusive pela sua incapacidade - por seu próprio peso na União Européia - em se tornar um porta voz eficaz das aspirações sul-americanas.

23. A presença chinesa é ainda incipiente e ocorre principalmente na área do comércio exterior, em que a China se afirma como destino de matérias primas sul-americanas e como origem de produtos manufaturados de baixo preço. Para muitos países da América do Sul, a China se tornou o primeiro ou segundo parceiro comercial. Esta presença chinesa tende a atingir de forma negativa os incipientes parques industriais da região, mesmo aqueles dos países mais industrializados, como o Brasil e a Argentina, que as normas da OMC dificultam proteger. Porém, as importações de produtos chineses de baixo preço tendem a ser consideradas importantes no combate à inflação, conduzido, por vezes, por administradores conservadores e os que os apóiam, especialmente os setores rentistas das sociedades. A presença das grandes empresas chinesas como investidoras já se expande rapidamente. A presença comercial, financeira e investidora da China na América do Sul certamente terá repercussões sobre a influência americana, política e econômica, na região.

24. Um derradeiro, mas importante, fenômeno no cenário político sul-americano é a emergência dos povos indígenas. As populações indígenas e as populações mestiças são especialmente importantes na Bolívia, no Peru, no Equador e no Paraguai, países nos quais, em conjunto, chegam a representar mais de setenta por cento da população. Essas populações indígenas e mestiças, vítimas de um longo e cruel passado de opressão, procuram reconstruir a sua identidade cultural e participar de forma cada vez mais intensa da política, onde os regimes democráticos lhes possibilita alcançar o poder. Este fenômeno indígena se concentra nos países andinos, tem especial impacto sobre as políticas de exploração de minérios e vem a influenciar a política interna e externa de todos os países da região.

A integração econômica e a coordenação política

25. A integração comercial, econômica e política da América do Sul e da América Latina tem sido um objetivo estratégico, ainda que muitas vezes utópico e retórico, a que se contrapôs, historicamente, a idéia do pan-americanismo e da integração continental.

26. Do ângulo político, as relações entre a América anglo-saxônica e a América Latina, em especial a América Central e o Caribe, foram, durante longo tempo, conflitivas e ressentidas, na medida em que a grande expansão territorial dos Estados Unidos se fez pela conquista de metade do território mexicano e em que a expansão de sua influência política levou à intervenção militar em países do Istmo, à criação da Zona do Canal, e à guerra com a Espanha, que resultou na ocupação de Cuba e na conquista de Porto Rico.

27. A extraordinária expansão econômica e política dos Estados Unidos provocou uma reflexão sobre o atraso relativo dos países da América Latina e do Sul.

28. Após a Segunda Guerra, estudos da Comissão Econômica para a América Latina - CEPAL concluíram que as principais razões desse atraso relativo seriam a não-integração dos mercados e a não-industrialização. Demonstrou a CEPAL que a inserção tradicional das economias latino-americanas na economia (e na política) internacional não tinha propiciado o seu desenvolvimento. Seria necessário, assim, desenvolver políticas de integração física e comercial dos mercados latinoamericanos para permitir e estimular a sua industrialização.

29. A partir dessa idéia, muitas foram as iniciativas de integração. Em 1960, foi criada a Associação Latino Americana de Livre Comércio - ALALC que, em 1980, foi transformada em Associação Latino Americana de Integração - ALADI. A Comunidade Andina foi criada em 1968 e o Mercado Comum Centro Americano - MCCA em 1960. Mais tarde, em 1985, após a redemocratização na Argentina e no Brasil, iniciou-se o processo que levaria à criação do Mercosul em 1991. A criação de uma ALCSA (Área de Livre Comércio Sul-Americana) proposta pelo Brasil em 1994, tinha como objetivo a negociação de acordos entre o Mercosul e os países da CAN que permitissem construir uma área de livre comércio no continente. De outro lado, foram de importância pioneira as reuniões de Presidentes sul-americanos e a constituição da Iniciativa de Integração Regional Sul Americana - IIRSA, cujo objetivo era definir os grandes eixos de integração da infraestrutura.

30. Essas iniciativas de integração comercial dos países da América do Sul sempre foram dificultadas pela escassez de meios de transporte; pela competição entre suas exportações agrícolas e minerais; pelo baixo nível de industrialização, que limitava a pauta de produtos exportáveis; por políticas protecionistas; pela competição dos países já industrializados e, mais recentemente, pela ideologia e prática liberal de suas elites econômicas e políticas.

31. A esses esforços de integração no âmbito latino americano, vieram se sobrepor as iniciativas de integração continental. Em 1987, os Estados Unidos haviam celebrado um acordo de livre comércio com o Canadá e quando da renegociação deste acordo, em 1992, o México propôs uma negociação trilateral, que viria resultar no North America Free Trade Área, o Nafta, em 1994.

32. Este acordo teve grande importância para as negociações econômicas internacionais. Pela primeira vez um país subdesenvolvido importante negociava um acordo de livre comércio, abdicando da reivindicação de tratamento especial e diferenciado, i.e. aceitava negociar de igual para igual com parceiros desenvolvidos e muito mais poderosos. Esta drástica reorientação da política externa mexicana iria afetar o comportamento de muitos países subdesenvolvidos em suas negociações com os países desenvolvidos e iria afetar suas relações com os países sul-americanos.

33. Por outro lado, o ATPDEA (Andean Trade Promotion and Drug Eradication Act), aprovado pelo Congresso americano, concedia entrada livre de impostos para produtos dos países andinos no mercado americano em troca da execução de programas de erradicação das plantações de coca e de combate ao tráfico de drogas. Essa concessão americana, inicialmente por cinco anos, sem reciprocidade, criou em cada um dos países andinos fortes interesses comerciais no mercado americano. Ao final do prazo de vigência da lei, os Estados Unidos propuseram a negociação de acordos bilaterais de livre comércio, muito mais amplos devido à inclusão de muitos outros temas, com base no modelo do Nafta, agora, porém, com reciprocidade.

34. Na I Cúpula das Américas, em 1994, os Estados Unidos propuseram a negociação de uma Área de Livre Comércio das Américas que incluiria a livre circulação de bens; a liberalização dos serviços; a livre circulação de capitais financeiros e de investimentos diretos; a adoção de regras comuns sobre propriedade intelectual, mas que não previa o livre comércio para produtos agrícolas nem a livre circulação de pessoas.

35. Em 2004, a Venezuela lançou a ALBA – Aliança Bolivariana para a América, em contraposição à ALCA e que se propõe a celebração de acordos de comércio e de cooperação econômica entre os países que a constituem: Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Dominica, Antígua e Barbuda, Nicarágua, São Vicente e Granadinos.

36. O movimento bolivariano, cujo líder é a Venezuela, tem como um de seus objetivos rever as relações dos países sul-americanos, em especial os andinos, com os Estados Unidos, com base na diversificação de suas economias, na industrialização, em políticas de afirmação das populações indígenas. A este movimento, que corresponde a políticas mais firmes em relação às empresas multinacionais que se dedicam à exploração de recursos minerais, se opõem especialmente os países que celebraram acordos de livre comércio com os Estados Unidos, o que gera novas tensões na região.

Coordenação política

37. A coordenação política entre os países sul-americanos tem sua origem mais remota no Pacto do ABC, entre Brasil, Argentina e Chile, ao tempo do Barão do Rio Branco, renovado ao tempo de Getúlio Vargas e Perón. É preciso notar que os escassos laços físicos de transporte, a falta de ligações aéreas, o comércio reduzido e os ressentimentos históricos fizeram muito tênues, durante longo tempo, as relações entre os países da América do Sul, em especial entre os países andinos e ao Norte e os do Cone Sul e, portanto, débeis as possibilidades de coordenação.

38. Os conflitos e guerras civis na América Central fizeram surgir o Grupo de Contadora, formado por México, Venezuela, Colômbia e Panamá para propiciar as negociações de paz. Mais tarde, formou-se o Grupo de Apoio a Contadora, integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Peru. Esses oito países vieram a constituir o núcleo do futuro Grupo do Rio, até recentemente o principal mecanismo de coordenação política na América Latina e de que participavam os países da América do Sul.

39. A iniciativa mais recente de coordenação política entre os países da região é a UNASUL, União das Nações Sul-Americanas, cujo principal objetivo é a cooperação e a coordenação política. Foi criado um Conselho de Defesa e um Conselho sobre Drogas e a UNASUL demonstrou sua eficácia por ocasião da crise política interna da Bolívia. Mais recentemente, a Conferência de Chefes de Estado da América Latina e do Caribe viria a ser a primeira reunião, sem a participação de outros países, dos Presidentes latinoamericanos, um marco na história da coordenação política da América Latina.

Paradoxo

40. Um terrível, angustiante e desafiador paradoxo existe na América do Sul: um continente extremamente rico em recursos minerais, em energia, em potencial agrícola, em biodiversidade, em que se encontram sociedades que ostentam níveis extraordinários de pobreza e de exclusão, ao lado de riqueza excessiva e ostentatória.

41. Este paradoxo é um desafio. Suas causas históricas se encontram na natureza das relações entre as colônias, que se tornaram os países da América do Sul, e as metrópoles subdesenvolvidas, Portugal e Espanha, que ficaram praticamente à margem do Renascimento, do Iluminismo e da Revolução Industrial. Essas metrópoles chegaram a proibir, em benefício do monopólio comercial, os incipientes esforços de industrialização nas colônias, e organizaram os seus sistemas políticos e econômicos, com base no trabalho escravo ou servil, na mineração e no latifúndio agrícola para atender às metrópoles, e dificultaram, pela Inquisição, o progresso cultural e científico das sociedades coloniais. Os efeitos dessas relações coloniais se fazem sentir até hoje nos sistemas sociais, culturais, econômicos e políticos dos países da América do Sul.

42. As dificuldades que têm as sociedades da região em promover o desenvolvimento econômico decorrem, em grande medida, da fragilidade institucional e organizacional de seus Estados. Esta debilidade institucional tem sua causa profunda nas enormes disparidades de renda e de riqueza e na concentração de poder, o que faz com que os sistemas tributários sejam altamente regressivos, com base em impostos indiretos e aduaneiros, e de fraca incidência, o que, em muitos casos, redunda em pequena carga tributária em relação ao PIB. É importante notar que em alguns países da América do Sul só recentemente se introduziu o imposto sobre a renda. Assim, muitos Estados da região não dispõem de recursos suficientes para organizar e executar programas de construção de sua infraestrutura física e social, e de redistribuição de renda, indispensáveis para reduzir as disparidades extremas e para permitir o desenvolvimento de mercados modernos.

43. Enquanto os Estados têm escassos recursos para construir as bases do desenvolvimento econômico, o capital privado se mostra desinteressado diante da precária infraestrutura física, dos mercados reduzidos e da instabilidade social, sempre latente devido às excessivas disparidades de renda e de riqueza, e do permanente receio da ascensão política, na democracia, de movimentos populares e, portanto, ansiosos em rever as estruturas tradicionais de arrecadação e de alocação de recursos. As condições sociais e políticas instáveis estimulam os fluxos de capital privado para o exterior, em volumes extraordinários, que reduzem a poupança interna para investimento. No campo político, as grandes disparidades sociais que existem em todos os países fazem com que, em regimes democráticos, candidatos populares venham a ser eleitos ou que candidatos conservadores tenham de anunciar, em seus programas, promessas de políticas sociais importantes. Nas Assembléias Legislativas, as classes tradicionais são capazes de se fazer representar de forma mais numerosa, o que leva a permanentes tensões políticas com os Executivos e a sérias dificuldades para aprovar a legislação, programas e recursos necessários à implementação de programas sociais amplos e vigorosos.

O Brasil e a América do Sul

44. A principal característica geopolítica da América do Sul são as extraordinárias assimetrias que existem entre os doze Estados da região. Essas assimetrias são especialmente significativas entre o Brasil e cada um dos Estados sul-americanos em termos de território, de população e de atividade produtiva. O Brasil tem 50% do território da América do Sul; 50% de sua população; 50% do PIB regional; 50% do seu potencial hidrelétrico; mas também 50% dos analfabetos e 50% da população abaixo da linha de pobreza.

45. O grande desafio para a América do Sul e para o Brasil será a superação das assimetrias entre os Estados da região, promovendo o desenvolvimento daqueles mais atrasados para tornar a região uma grande área econômica, dinâmica e inovadora. Esta assimetria entre os Estados decorre em parte da assimetria territorial, em parte da assimetria demográfica e, em parte, da assimetria crescente entre as economias dos países da região, em termos de dimensão, de diversificação, de sofisticação e de integração.

46. A assimetria territorial faz com que o Brasil, por ter um território bem maior do que os territórios de cada um dos demais países, tenha uma gama mais ampla de recursos do solo e do subsolo e que, assim, tenha a possibilidade de produzir, em seu território, muitos daqueles bens minerais e agrícolas que são produzidos e exportados pelos países vizinhos. O Brasil, inclusive devido a razões de escala, pode produzir competitivamente tais produtos e muitas vezes, quando não o consegue, surgem no Brasil pressões protecionistas dos setores menos competitivos que solicitam medidas para dificultar sua importação dos países vizinhos.

47. A assimetria demográfica decorre de ter o Brasil metade da população da América do Sul e de ter mais de quatro vezes a população do segundo país, em habitantes, da região. Esta maior população permite ao Brasil, em comparação com os demais países da região, ter um maior mercado interno, diversificar mais sua estrutura produtiva, atrair mais investimentos estrangeiros e ser menos vulnerável a flutuações externas fora de seu controle.

48. O nível de desenvolvimento mais elevado alcançado pelo Brasil expressa a capacidade da sociedade brasileira - de seus trabalhadores, empresários, executivos, profissionais, militares, intelectuais, administradores e políticos - de construir uma estrutura jurídica, administrativa e tributária capaz de organizar a produção e a desenvolver, com razoável sucesso, os recursos do país. Porém, se a sociedade brasileira, por um lado, é aquela que atingiu o nível mais elevado de desenvolvimento e a que apresenta maior potencial entre os Estados da América do Sul, é o Brasil, por outro lado, um dos países da região que apresenta níveis mais elevados de disparidade social.

49. A pauta de exportação de um país é um retrato de sua estrutura produtiva, daquilo que ele consegue produzir competitivamente. Em 1960, todos os países da região tinham sua pauta de exportação dominada por três produtos primários que correspondiam a mais de 70% das exportações de cada país. De 1960 a 2010 houve considerável diversificação das pautas exportadoras de todos os países, mas este fenômeno foi mais intenso no Brasil. Hoje, os três principais produtos brasileiros de exportação somam 20%. No país em melhor situação após o Brasil os três principais produtos correspondem a 40% da pauta.

50. Esta assimetria tem duas conseqüências de grande importância econômica e política. De um lado, o comércio de cada um dos países com o Brasil tende a ser cronicamente desequilibrado, devido à oferta muito maior de produtos de parte do Brasil e à dificuldade desses países de exportar para o Brasil. Em segundo lugar, as dimensões maiores da economia brasileira fizeram surgir empresas de maior dimensão, quando comparadas às empresas dos países vizinhos. Essas empresas brasileiras, muito competitivas em sua expansão natural para o exterior, se dirigem primeiro aos países vizinhos, fazendo novos investimentos ou adquirindo empresas locais e, assim, tendem a assumir uma importância cada vez maior na economia de cada Estado vizinho.

51. Pelas suas características territoriais, demográficas e econômicas, e pela sua política externa, o Brasil tem adquirido importância política crescente no cenário internacional. Assim, o Brasil é hoje ator indispensável nas negociações comerciais, tanto agrícolas como industriais; nas negociações ambientais; nas questões energéticas, nos temas de desarmamento e nas negociações de reforma financeira e de reforma política. Suas dimensões o tornaram de grande interesse para os investimentos das grandes empresas multinacionais que no Brasil estabelecem as bases para suas operações na região. Estas circunstâncias tornam a atuação do Brasil na América do Sul, em outras regiões e nas Nações Unidas de uma relevância cada vez maior, sendo o país cada vez mais chamado a participar de forma mais central em foros de negociação e de articulação política, em comparação com o que ocorre com os países vizinhos.

52. O Brasil tem fronteiras com nove dos doze Estados da região, o que nos faz o terceiro país do mundo em número de vizinhos. Esta situação é um fato, inarredável, que nos coloca, devido às características estruturais, às assimetrias, às tendências da região e às oportunidades e riscos nelas embutidas, graves desafios de política externa e interna.

53. Desafios de política externa, devido às assimetrias entre os Estados da região e aos ressentimentos históricos que, latentes, tendem a dificultar o relacionamento político e econômico entre os países, os quais procuram nos envolver, como aliado ou como mediador, em suas disputas. A assimetria atual e crescente entre o Brasil e os demais Estados da região faz surgir sempre, em certos círculos, a preocupação com uma eventual hegemonia brasileira ou a suspeita de uma vocação brasileira para o imperialismo ou para o exercício de um sub-imperialismo.

54. Esses desafios são também de política interna. O Brasil, país de dimensões continentais, durante grande parte de sua história se encontrou isolado, devido à distância e à precariedade das comunicações, dos países andinos e dos países que se encontram no litoral norte da América do Sul, ou em situação de rivalidade com aqueles países mais próximos, como os Estados do cone sul, devido à longa história de disputas coloniais entre Espanha e Portugal e suas seqüelas. Após a Independência, a organização monárquica brasileira diante das repúblicas hispano-americanas, as preocupações das repúblicas hispânicas com as iniciativas de restauração do domínio espanhol, que, supunham, poderiam ter o apoio brasileiro, e, finalmente, os vínculos do Brasil com os países líderes da economia e da política mundial, inicialmente a Inglaterra e, mais tarde, os Estados Unidos, alimentaram atitudes de alheamento, afastamento e desconfiança, recíprocas. Os preconceitos que ainda sobrevivem na sociedade brasileira em relação aos países vizinhos, decorrentes desse passado de isolamento, de rivalidade e de desconfiança, e, hoje, uma percepção indevida e descabida de superioridade, torna difícil para muitos setores da sociedade brasileira compreender plenamente a importância da América do Sul para o próprio desenvolvimento do Brasil.

55. Todavia, em 2022, quer se queira ou não, devido a razões econômicas, políticas e sociais, o Brasil se encontrará inserido na América do Sul de forma muito mais intensa, complexa e profunda, tanto política quanto economicamente, do que se encontra hoje.

56. Razões econômicas, pois à medida que se expandir e se interligar a infraestrutura física da região em termos de transportes, de energia e de comunicações, os fluxos de comércio, de investimentos e migratórios entre o Brasil e cada um dos países vizinhos tenderão a se ampliar, extraordinariamente.

57. Razões sociais, pois na medida em que as sociedades da América do Sul venham a encontrar dificuldades para superar de forma democrática, pacífica e eficiente as extraordinárias disparidades sociais que apresentam, em cuja raiz se encontram fenômenos complexos e entrelaçados, tais como a discriminação racial, a sobrevivência do latifúndio, antigo e moderno, e a pobreza histórica cumulativa, que se reproduz de geração em geração e que atinge amplos setores de suas populações, será difícil para os países da região desenvolver um mercado interno significativo e aproveitar todo seu potencial econômico.

58. Razões políticas, pois na medida em que os países tenham dificuldade em se desenvolver e ao mesmo tempo redistribuir renda e em que permanecerem situações de opressão e de discriminação em relação a grupos étnicos autóctones, a instabilidade social levará à instabilidade política, com maior ou menor grau de violência, com eventuais reflexos sobre o Brasil.

59. Por outro lado, se conseguirem vencer esses desafios econômicos, sociais e políticos as sociedades vizinhas se tornarão parceiros cada vez mais importantes para o Brasil, tanto econômica quanto politicamente.

60. É preciso notar que há, na América do Sul, dois países não-ibéricos, que são a Guiana e o Suriname, ex-colônias da Inglaterra e da Holanda, com vínculos geográficos e culturais com o Caribe anglófono, de pequenas populações e territórios, de independência recente e tênues laços com os países da América do Sul. Basta dizer que tanto no Suriname como na Guiana há embaixadas de apenas três países sul-americanos. Á medida em que a economia da América do Sul se integra e em que os esforços de coordenação política e econômica se ampliam a própria proximidade geográfica fará com que esses países venham a se integrar mais à região.

Perspectivas

61. As características da América do Sul – grande riqueza mineral e energética; grandes extensões de terras aráveis não utilizadas; população cada vez mais urbana em processo de estabilização demográfica; regimes políticos estáveis; inexistência e distância geográfica de áreas de conflitos intensos – tenderão a condicionar o papel da América do Sul em um cenário político mundial em que a disputa pelo acesso a recursos naturais e a alimentos será fundamental. De outro lado, para um grande número de países, com a concorrência chinesa e com a dificuldade de promover políticas nacionais de industrialização, será difícil agregar maior valor à produção e às exportações e diversificá-las, para reduzir a vulnerabilidade externa.

62. Em uma economia mundial em que países como a Índia e a China detêm cerca de 30% da população mundial, com índices de consumo de calorias extremamente baixos, e com economias em rápida e contínua expansão, já que a China cresceu a 10% a.a. em média nos últimos 30 anos e a Índia a 8% a.a. nos últimos dez anos, com escassez crescente de minérios e alimentos, em um contexto de acirrada disputa mundial por recursos, a América do Sul é vista como uma fonte especialmente importante desses recursos.

63. Até 2022 essas tendências tenderão a se agravar devido às tendências do sistema mundial, ao tipo de inserção da região na economia global, às resistências das elites em implantar políticas econômicas e sociais capazes de ampliar com vigor a produção e ao mesmo tempo redistribuir riqueza e renda; à escassez de capital doméstico e à dificuldade de acesso ao mercado mundial para financiar a construção da infra-estrutura; às resistências dos grupos privilegiados em cada sociedade à necessidade de transformação social e de conferir maior poder político à grande massa da população.

64. Assim, em grande número dos Estados da América do Sul, em especial naqueles de menor população e território, as tendências econômicas, sociais e políticas continuarão a ser as mesmas que hoje se apresentam enquanto que as características estruturais se manterão. Somente um esforço muito grande, em que o Brasil teria especial responsabilidade, poderá começar a reverter essa situação.

Um Plano para a América do Sul

65. Após a II Guerra Mundial, os Estados Unidos constataram que os Estados europeus não conseguiriam reestruturar suas economias destruídas por falta de capital, inclusive para adquirir as máquinas e equipamentos necessários à reconstrução. De outro lado, a desmobilização de milhões de soldados americanos, seu regresso aos Estados Unidos e a redução drástica da produção bélica ameaçavam criar uma grave situação de desemprego. Diante da ameaça soviética, do prestígio dos movimentos socialistas e comunistas, alcançado na luta contra a ocupação nazista, do desprestígio das elites colaboracionistas e da necessidade de reativar a economia americana, lançaram os Estados Unidos o Plano Marshall, vasto programa de empréstimos e de doações dos Estados Unidos aos países europeus com o objetivo principal de acelerar a formação de capital, através do financiamento das importações de máquinas e equipamentos americanos.

66. A América do Sul vive uma situação “semelhante” à da Europa após a Segunda Guerra Mundial. A histórica exclusão da enorme maioria das populações de quase todos os países, em situação de extrema pobreza, a violência contra as populações oprimidas, a mortalidade infantil, a desnutrição, a droga, fazem com que morram por ano, na América do Sul, milhões de indivíduos, em uma verdadeira “guerra”, em um continente que necessita com urgência de um programa de construção. No passado, iniciativas como a Operação Pan-Americana e a Aliança para o Progresso se revelaram insuficientes para enfrentar este desafio que, de lá para cá, se tornou maior e cada vez mais complexo.

67. Os países da região maiores e mais avançados, econômica e industrialmente, terão de articular programas de desenvolvimento econômico para estimular e financiar a transformação econômica dos países menores; abrir, sem exigir reciprocidade, seus mercados e financiar a construção da infraestrutura desses países e sua interligação continental. O Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul – FOCEM é um primeiro passo nesse sentido, ao reconhecer a especial responsabilidade dos países maiores no desenvolvimento do Mercosul e seus princípios podem servir como base para um programa, que terá de ser muito mais amplo, no âmbito sul-americano.

68. Caso o desenvolvimento de cada país da região for deixado ao sabor da demanda do mercado internacional e dos humores das estratégias de investimento das megaempresas multinacionais, as assimetrias entre os Estados da região, e dentro de cada Estado, se acentuarão assim como as tensões políticas e os ressentimentos, o que virá a afetar de forma grave as perspectivas de desenvolvimento do Brasil.

69. Muito tem sido feito pelo Brasil em termos de articulação política e de cooperação econômica nos últimos anos na América do Sul através do exercício paciente e persistente dos princípios de não intervenção, de autodeterminação e de cooperação. Mas as dimensões do desafio da América do Sul requerem esforços ainda maiores e mais persistentes, de uma duração que se deve medir por décadas.

(*) (*) Ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil.

15 de julho de 2010
Fonte: Carta Maior