sábado, 23 de fevereiro de 2019

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






Nós, eles e a Previdência!
A proposta de Reforma da Previdência Social já foi encaminhada pelo ex-militar aposentado e será vota por políticos que se aposentam com 8 anos de mandato e, geralmente, menos de 50 de idade.
Mas será apenas isso que nos preocupa? Afinal, quem são esses parlamentares que vão decidir sobre o futuro dos trabalhadores e dos nossos filhos e netos? O que fazem, além de serem parlamentares?
Em primeiro lugar, devo dizer que é, em parte, verdade uma das notícias divulgadas por nossa imprensa dizendo que houve uma grande renovação do Congresso nas eleições de 2018. O fato concreto é que 52% dos que agora vão decidir o nosso futuro são novos, estão no primeiro mandato.
Mas isso significa um avanço? Como as bancadas vão se comportar? Votarão de acordo com a população que os elegeu ou de acordo com os interesses de seus grupos, partidos, correntes e bancadas?
Para melhor compreensão de todos, vou separar a análise. Em primeiro lugar, vamos comentar sobre a Câmara dos Deputados, depois sobre o Senado, lembrando que o projeto precisa passar pelas duas casas.
Destacando que a Câmara tem 513 deputados, já começamos nossa conversa dizendo que, dos atuais eleitos, 133 são empresários. Ou seja, pouco mais de 25% (um quarto) dos que vão votar não dependem de aposentadoria e, pelo contrário, pagam esses direitos aos seus empregados. Como vocês acham que irá votar esse grupo?
Pequeno detalhe, mas muito importante. Se a nova reforma for aprovada, o trabalhador que continuar no emprego depois da aposentadoria não vai mais ter FGTS ou o direito de 40% no caso de ser demitido. Quem vai embolsar esse dinheiro?
O outro grande grupo a ser analisado é formado por profissionais liberais. Médicos, dentistas, advogados e outros. Trabalhadores que merecem o nosso respeito, mas, em sua maioria, são donos de seus próprios escritórios, consultórios, etc.
Aqui nós temos cerca de 200 deputados eleitos, praticamente 39% da casa. Como você acredita que vai votar esse profissional se muitos não dependem de aposentadoria e tem seus planos privados para o futuro? Em geral, pagam funcionários em seus consultórios e escritórios.
Temos ainda 28 militares da ativa ou aposentados de diversas corporações, mas esses também não são atingidos pela proposta da reforma apresentada por um ex-capitão. Representam 5% dos que vão decidir o tema. Depois temos os religiosos (evangélicos ou não) que somam 21 representantes e mais 4% dos votantes. Esses também não dependem da Previdência para a aposentadoria.
Em um cálculo rápido, mais de 73% da Câmara dos Deputados não tem qualquer compromisso com a Previdência Social, não dependia disso antes e não vai depender agora que tem sua aposentadoria garantida como parlamentar.
Basta lembrar que o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, declarou aos jornais que não vê qualquer problema em um trabalhador precisar trabalhar até os 80 anos para se aposentar. Afinal, ele próprio nunca teve um emprego. Foi criado pelo pai para seguir a carreira política, assim como mais alguns que conhecemos, não é?
A melhor resposta foi dada por um operário da construção civil que fez um desfio ao presidente da Câmara. Disse ele: “se o senhor trabalhar 30 dias em uma obra eu aceito trabalhar até os 80 anos de idade”!
Agora podemos passar para o Senado é composto por 81 membros eleitos diretamente pelo povo. Só para recordar, o Rio de Janeiro elegeu dois senadores: um é o filho do ex-capitão que agora enviou a proposta de reforma; o outro é de um partido da base do governo. Como você acha que vão votar esses dois?
Para o Senado Federal, em 2018, foram eleitos 27 empresários. Isso significa 33,3% do total da casa. Como irão votar os empresários que estão ganhando muito com essa reforma?
Apesar de também ter passado por uma grande renovação, com 45% dos eleitos sendo novos, isso não significa muito porque tem uma maioria do partido governista e de outros que apoiam o governo.
Mais de 30% do Senado é composto por profissionais liberais. E aqui vale o mesmo que dissemos sobre a Câmara dos Deputados... São profissionais que merecem respeito, mas, na grande maioria, não dependem da previdência social para seus futuros. Como você acha que vão votar?
Por inacreditável que pareça, temos apenas 16 trabalhadores assalariados no Senado, sendo 7 professores e alguns funcionários públicos. Será que terão força para lutar contra a maré?
A PEC, Proposta de Emenda à Constituição, já está nas mãos da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Essa comissão tem o poder de deixar prosseguir para votação ou não. Ela analisa se a proposta fere a Constituição Federal e outras questões, mas está dominada por deputados da base do governo.
De uma forma ou de outra, estamos acompanhando atentamente e há uma resistência já formada entre alguns deputados. Muitos ameaçam não votar a proposta enquanto o ex-militar não enviar as leis complementares que ele prometeu e que explicam melhor a aplicação da reforma. Por exemplo, ele disse que a proposta para os militares ainda vai ser mandada para o Congresso e alguns deputados já anunciam que não vão votar enquanto não receberem essa parte.
A questão é simples. Pelo regimento interno da Câmara dos Deputados, para ser aprovada a proposta precisa reunir 302 votos. O partido do governo, sozinho, tem apenas 54 deputados – mesmo número do PT – e precisa de apoio de uma série de outros partidos. Não pode desagradar.
Bem, para vocês terem uma ideia do que está se passando nessa disputa, o jornal O Globo e outros publicaram matéria do próprio presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, dizendo que os deputados reeleitos do chamado “centrão” estão pedindo 10 milhões de reais, cada um, para votar a proposta.
Na entrevista feita pelo jornal, os deputados novos, em primeiro mandato, querem receber 7,5 milhões de reais para votar e mais a garantia de repasses em obras que indicarem.
De onde o governo do ex-capitão vai tirar esse dinheiro? Do nosso bolso? Será que foi para isso que tiraram 600 milhões da Previdência e transferiram para outros órgãos do governo?
P E o trabalhador ó! A classe trabalhadora não vai ao paraíso, mas os patrões vão, com certeza. Eles estarão livres de pagar a multa de 40% sobre os depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) na conta do trabalhador ou trabalhadora que se aposentar e continuar trabalhando. Eles também não precisarão mais continuar recolhendo o FGTS dos empregados aposentados.
É isso que acontecerá se o Congresso Nacional aprovar a Proposta de reforma da Previdência que o governo do ex-militar aposentado apresentou na quarta-feira (20). A PEC contém uma 'bondade' para os empresários e uma forte punição para os trabalhadores com idade e tempo de contribuição para se aposentar.
Hoje, o trabalhador se aposenta, recebe o valor que tem depositado em sua conta individual do FGTS e, se continuar trabalhando, o patrão continua depositando na sua conta porque a aposentadoria não encerra o contrato de trabalho. Quando a empresa demitir esse trabalhador, ele recebe todos os direitos trabalhistas e os 40% da multa do FGTS.
Como funciona agora? Se o trabalhador tinha R$ 100 mil na sua conta individual do FGTS quando se aposentou e, depois a empresa depositou R$ 10 mil, ele vai receber 40% dos R$ 110 mil quando for demitido. Perdendo esse “dinheirinho” o trabalhador perde o pé de meia que ele tem.
Os patrões estão batendo palmas. Vão ficar com o dinheiro da multa de 40% do FGTS e parar de depositar no Fundo do trabalhador que se aposentou e continuou trabalhando. É a lógica de garantir o lucro patronal e ignorar as condições de vida da maioria dos trabalhadores e trabalhadoras do país.
P Chama o “mito” agora! Pois é... Durante a campanha eleitoral, Haddad e Manuela marcaram um ato-comício na porta da fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo. Marcaram, mas não conseguiram falar porque os trabalhadores não permitiram a fala, vaiando os dois candidatos e gritando “mito, mito, mito”.
Isso aconteceu há poucos meses, antes do primeiro turno das eleições. Agora, a Ford confirmou, na terça-feira (19), que irá encerrar a produção na fábrica. Ao todo, 3.000 trabalhadores que atuam na planta, sendo mais de 2.000 no chão de fábrica
Em comunicado, a montadora afirmou que o fim da operação era esperado já que a marca irá deixar de atuar no segmento de caminhões na América do Sul. Na planta de São Bernardo, a Ford produz as linhas Cargo, F-4000, F-350 e Fiesta.
Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul, também se posicionou sobre o impacto do fechamento da linha de produção para os trabalhadores da região. “Sabemos que essa decisão terá um impacto significativo sobre os nossos funcionários de São Bernardo”.
Na verdade, a Ford é apenas a primeira grande empresa a declarar que vai deixar o país, mas sabemos que muitas outras estão desconfiando que o governo não será capaz de contornar a crise no curto prazo e não querem se arriscar.
Antes, em uma situação de crise como essa, o ministro do Trabalho iria negociar com a empresa e buscar um acordo que atendesse aos interesses do país. Mas agora não temos mais o Ministério do Trabalho e nem negociador.
P Venezuela – Especial
Companheiros. Estou escrevendo esse Informativo na tarde de sábado e acompanhando os acontecimentos na Venezuela. Muita coisa pode acontecer até o final do dia ou mesmo depois que eu enviar para vocês.
Como eu já disse algumas vezes, passo muitas horas na Internet. Acompanho cinco jornais no Brasil e doze lá de fora. Neste momento estou escrevendo e, no outro notebook, de olho nos acontecimentos porque não dá para ser diferente.
Estou escrevendo por volta das 14:30 horas e vejo as seguintes manchetes em nossos jornais: 1) O Globo dedica mais tempo e espaço às notícias, muitas mentirosas ou alarmistas. Um pouco mais cedo disse que a “ajuda humanitária” enviada pelo Brasil já tinha entrado na Venezuela para, minutos depois, dizer Guaidó anunciou que “deve entrar”; em outra matéria diz que “quatro militares venezuelanos desertaram na fronteira da Colômbia”, fato que está sendo desmentido em agências internacionais; em outra manchete diz que os militares foram sequestrados por indígenas e estão pedindo paz; o jornal anuncia também que uma caravana de políticos foi barrada na estrada perto da Colômbia; curiosamente, a foto de capa é de um terrorista com o rosto coberto (chamado de “povo”) jogando bombas na rua; 2) o Jornal do Brasil limita-se a uma matéria dizendo que Guaidó convida o povo para ir às ruas esperar pela “ajuda”; 3) o Estadão coloca foto de um grupo de vândalos incendiando pneus nas ruas e diz que “é o povo enfrenando militares”; 4) a Folha não faz muito diferente e repete as matérias já citadas.
Então, vamos aos fatos recolhidos em várias fontes externas e também em estudo que estive fazendo ao longo dos últimos meses sobre a questão da América Latina.
P Trump está mexendo em “casa de marimbondo”? Pelo visto, Trump está entrando em uma fria e levando junto seus dois “cãezinhos amestrados” – Brasil e Colômbia.
O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Geng Shuang, destacou a postura de seus país na sexta-feira (22) repudiando qualquer pressão ingerencista que possa colocar em perigo a estabilidade da Venezuela e que a suposta “ajuda humanitária” vinda dos EUA atenta contra a paz na região.
“A China está contra a ingerência militar e contra qualquer tipo de ação que provoque uma escalada de tensão na Venezuela”, disse o funcionário do governo chinês à imprensa.
Ele pediu calma e que se evite ingressar a suposta “ajuda humanitária” sem a autorização do Estado venezuelano, já que esta ação poderia ter consequências graves. Da mesma forma, destacou o papel do governo da Venezuela que garantiu a paz no país diante da pressão externa.
Vale lembrar que a China é o maior parceiro comercial do Brasil e um boicote chinês levaria nossa economia para o fundo do poço.
E não é apenas a China. Os EUA estão preparando perto da fronteira da Venezuela uma provocação “em grande escala”, afirmou no mesmo dia (22) o Ministério das Relações Exteriores da Rússia. “A evolução dos eventos na Venezuela se aproximou de um patamar crítico, todos o entendem. Para o dia 23 de fevereiro está agendada uma provocação perigosa em grande escala: a passagem da fronteira da Venezuela, estimulada e liderada por Washington, do chamado comboio de ajuda humanitária, que pode levar ao confronto entre apoiadores e opositores das autoridades atuais e à criação de um pretexto conveniente para uma ação militar de afastamento do poder do presidente legítimo do país”, disse a porta-voz do ministério, Maria Zakharova.
Segundo ela, os EUA estão transferindo forças especiais e equipamento militar para perto da Venezuela. “Washington está realizando preparos para uma provocação, fazendo-o conforme todas as regras da arte militar […] Foi registrada a transferência de forças especiais norte-americanas e equipamento militar para mais perto do território venezuelano”, apontou.
Além disso, Zakharova apontou que os EUA e a OTAN estão estudando a questão de entrega de armamento à oposição venezuelana.
Zakharova afirmou que as provocações dos EUA na Venezuela, caso sejam realizadas, aumentarão drasticamente o nível de tensão e o ambiente de confrontação no mundo.
P Muito além da “ajuda humanitária”. Maria Zakharova não está sendo alarmista. Há mais de um mês já estamos acompanhando os movimentos das tropas estadunidenses na região. Em 13 de fevereiro passado, Cuba já havia avisado da movimentação de aviões dos EUA sobre o Caribe. Agora sabemos que uma grande concentração de tropas e equipamentos foi deslocada para a Base Aérea de San Isidro (República Dominicana) e Aeroporto Rafael Miranda (Porto Rico). Ou seja, bem próximo de águas territoriais venezuelanas.
É claro que fontes estadunidenses correram para desmentir as notícias, mas o jornalista e especialista militar inglês Tom Rogan escreveu no jornal Washington Examiner que “os Estados Unidos silenciosamente acumulam seu poder militar perto da Venezuela”. E afirma que “Uma importante presença naval e marítima dos Estados Unidos está operando perto da Colômbia e da Venezuela. Seja por coincidência ou não, essas implantações dão à Casa Branca uma gama crescente de opções”.
Segundo Rogan, em menos de uma semana o Pentágono é capaz de mobilizar 2.200 fuzileiros navais, jatos de combate, tanques e colocar dois porta-aviões na Venezuela.
Os três pontos de apoio do Pentágono são: Caribe, Colômbia e Brasil. Não é coincidência que o almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul, tenha visitado Bogotá, Brasília e Curaçao durante as últimas semanas, sob a cobertura da suposta organização da entrega de “ajuda humanitária” à Venezuela.
Agora, há o anúncio de que a Marinha dos Estados Unidos implantou um Grupo de Ataque de Porta-Aviões (CSG) no Oceano Atlântico e na costa da Flórida.
A frota é composta pelo porta-aviões USS Abraham Lincoln (CVN-72), um cruzador de mísseis e quatro destroieres, além de uma fragata da marinha espanhola convidada a participar.
A bordo do USS Abraham Lincoln, o porta-aviões nuclear da classe Nimitz, opera o Embarked Air Squadron (CVW) 7, equipado com o Lockheed F-35C Lightning II, o mais avançado caça-bombardeiro do arsenal americano.
O grupo iniciou no dia 25 de janeiro os exercícios COMPTUEX, supostamente destinados a preparar a formação antes de um destacamento militar.
P Guerra psicológica em andamento (1). “Hoje eu tenho uma mensagem para cada oficial que ajuda a manter Maduro no poder. O mundo inteiro está olhando. Você não pode se esconder da sua escolha. Pode aceitar as generosas ofertas de anistia que Guaidó fez e viver em paz com sua família”, disse Donald Trump em seu discurso para imigrantes venezuelanos em Miami;
Ele destacou que os militares venezuelanos “não devem seguir as ordens de maduro para obstruir a chegada de ajuda humanitária” e nem mesmo têm o direito de usar a força contra “manifestantes pacíficos, líderes da oposição, membros da Assembleia Constituinte, o presidente Guaidó e sua família”.
Em seu discurso, ele incentiva oficiais das Forças Armadas Bolivarianas a trair o presidente Nicolás Maduro e disse que “acabar com o regime chavista abre as portas para mudar também os regimes de Cuba e Nicarágua”. No mesmo discurso ele diz que luta pelo fim do socialismo (ver adiante).
Não só imigrantes venezuelanos estavam presentes ao discurso de Trump, mas também a “comunidade cubana em Miami”, conhecida por suas várias ações terroristas contra Fidel Castro e a Ilha.
Para lançar ainda mais confusão na disputa, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que tem “informações seguras” sobre oficiais da Venezuela que estão negociando com a oposição e não ficaria surpreso se alguns declarassem apoio a Guaidó.
Parte da “guerra psicológica” é também a confusão de declarações. Trump, falando com a imprensa, disse que “todas as opções estão sobre a mesa, incluindo a ação militar”. Por seu lado, o mesmo Bolton disse que não há intenção de empregar forças militares para a entrega de “ajuda humanitária”.
P Forças Armadas da Venezuela repudiam oferta de Trump. “Não vão conseguir. Vão ter que passar sobre nossos cadáveres”, assegurou o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López.
A Força Armada Nacional Bolivariana da Venezuela (FANB) divulgou na terça-feira (19) um comunicado oficial em cadeia nacional repudiando as recentes declarações de Trump e reiterando total “obediência, subordinação e lealdade” ao Governo do presidente Nicolás Maduro.
O documento foi lido pelo próprio ministro e diz que eles reconhecem Maduro como o único Comandante em Chefe das Forças Armadas do país e que as FANB “jamais aceitarão ordens de pessoas de potências estrangeiras nem de autoridade alguma que não venha a decisão soberana do povo”!
P Guerra psicológica em andamento (2). As notícias que chegam ao povo venezuelano sobre deslocamentos de tropas nas fronteiras com Colômbia e Brasil, assim como as constantes declarações de Trump, buscam alimentar uma campanha de pressão psicológica para minar o que Washington chama de “centro do poder e da estabilidade na Venezuela”. Em particular, voltada para as Forças Armadas.
Os laboratórios de guerra psicológica dos EUA entendem que, em momentos como esses, não se pode seguir com experiências psicológicas da classe média opositora. Não desejam uma “neurose total” porque poderia afetar as ações de ruas como as desejadas e traçadas nos planos. Para a classe média a receita, agora, é outra. É alimentar com doses medianas e equilibradas um descontentamento sistemático e permanente.
Ao menos, é isso que consta dos “manuais” do Pentágono para as chamadas “revoluções coloridas”.
P Alguns problemas para Washington. Nem tudo é uma estrada aberta e limpa para as vontades de Trump. Há alguns problemas envolvidos nessa disputa com Caracas e nossa imprensa esconde.
Em primeiro lugar, Trump está apostando suas fichas em um tal de Juan Guaidó, um desconhecido até pouco tempo, mas treinado e formado pelos institutos liberais de Washington. O grande problema é que ele foi eleito para a Assembleia Constituinte pelo estado de Vargas, um território minúsculo com pouco mais de 298 mil habitantes e não tem qualquer inserção ou sequer ligação com os grandes centros decisórios do país.
O segundo ponto é que, apesar das insistentes propagandas de Trump, as Forças Armadas Bolivarianas parecem estar unidas em torno da Constituição do país e da liderança de Maduro. Gina Haspel, especialista em operações secretas, foi a grande artífice da campanha para tentar quebrar a vontade dos militares fiéis à Revolução Bolivariana. Sua meta seria organizar e alimentar um exército paralelo que já está sendo formado na Colômbia e que foi denunciado pelo governo venezuelano. Para isso, conta com amplos perfis dos oficiais que foram afastados por atos ilegais ou pouco éticos, para além de informações sobre aqueles que possuem dinheiro, familiares e propriedades fora da Venezuela. Qualquer elemento é usado como ponto de pressão.
Mas os dados mais importantes nesse tabuleiro são os próprios “aliados” encontrados por Washington e que estão servindo como marionetes dóceis.
Acontece que a Colômbia vive em guerra há mais de 50 anos. Neste momento, fracassadas as conversações com o Exército de Libertação Nacional (ELN) e com o descumprimento dos acordos de paz firmados com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o exército colombiano reconhece que deixaria grande vulnerabilidade no seu próprio território se se comprometesse num conflito fora das suas fronteiras. E devemos considerar também que a Colômbia seria o principal destino dos “deslocados” por uma possível guerra e não tem estrutura para isso!
O outro parceiro de Trump na aventura, o Brasil, tem ainda maiores problemas. Mesmo tendo na presidência um ex-militar de caráter reconhecidamente fascista, é muito fraco politicamente e depende de muitas alianças internas para se manter, além de um estado de saúde que é muito duvidoso.
Se não bastasse, a economia brasileira é fortemente dependente da China e da Rússia que já se colocaram contra o golpe na Venezuela.
P Medicamentos russos chegaram à Venezuela. “Nós temos diariamente cooperação, chamada de assistência técnica internacional, assistência humanitária. Na quarta-feira (20) chegaram 300 toneladas de ajuda e assistência humanitária da Rússia, legalmente. Chegaram pelo aeroporto de Maiquetía, no estado de Vargas, na forma de medicamentos de alto custo para ajudar o povo”, disse Maduro em um discurso para o Conselho Presidencial de Caracas.
Ele disse também que seu governo está pronto para receber apoio de outros países, desde que sejam feitos legalmente e através da ONU.
Ele afirmou que isso é um ato de dignidade e que toda a ajuda já enviada pela Rússia, pela China, pela Turquia e outros países através da ONU são bem recebidos. Mas que não aceita falsas “ajudas humanitárias” que estão fazendo propaganda da oposição e servindo também para entrada de armas para os rebeldes.
O governo da Venezuela fechou um acordo para aceitar US$ 2 bilhões em assistência técnica humanitária da União Europeia através da Organização das Nações Unidas (ONU), informou o presidente Maduro. E disse que a solução foi negociada pela vice-presidenta Delcy Rodriguez. A informação foi veiculada pelo próprio presidente durante uma transmissão realizadas no Palácio de Miraflores pelo canal estatal VTV.
A decisão foi tomada após reunião da vice-presidenta com a delegação do Grupo de Contato Internacional (ICG), liderado pela União Europeia e o Uruguai, que iniciou visita ao país na quarta-feira (20).
Maduro explicou ainda que a Venezuela solicitou o financiamento de US$ 2 bilhões e disse que tem os recursos para pagar por eles.
P Vamos aguardar. Estou encerrando a edição deste Informativo às dezoito horas e, descontando algumas manchetes alarmistas nos nossos jornais (Folha, Estadão, Globo e O Dia), o plano de fazer do dia 23 um marco para a invasão à Venezuela parece não ter andado muito.
O jornal O Dia, do Rio de Janeiro, chegou a colocar manchete dizendo que um caminhão do Brasil havia conseguido cruzar a fronteira. Usou como fonte uma mensagem no Twitter do ministro de Relações Exteriores, conhecido pulha. Mas a manchete ficou poucos minutos na Internet e foi retirada.
De concreto, pelo noticiário internacional, temos que Nicolás Maduro rompeu oficialmente relações diplomáticas e políticas com a Colômbia e deu 24 horas para todo o pessoal diplomático daquele país deixar o país. “A paciência se esgotou”, disse ele.
Em outra notícia, chegada há pouco, vimos que artistas que iriam participar de um festival musical em Caracas, o “Concerto para a Paz e Nada de Guerra”, realizado por vários artistas locais, foi atacado por grupos de extrema-direita. O ônibus em que viajavam foi atacado por fascistas.
As notícias dizem que, longe de intimidar o grupo, eles chegaram para o show ainda mais convencidos da proposta de defender a paz.